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Interdisciplinar o designJoão Borges é licenciado em Design de Comunicação pela Faculdade de

Belas-Artes de Lisboa mas a aprendizagem é tão extensa como o trabalho que tem vindo a fazer ao longo de uma carreira invejável. Acumula

prémios em concursos, reputação e ainda lhe sobra tempo e inspiração para trabalhos mais pessoais que lhe dão asas à liberdade artística.

Texto: Sofia PiresFotos: Direitos de autor

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“O design é uma disciplina que pede para estu-dar, que obriga a entender para

que nós consigamos interpretar aquilo que nos pedem.”

João Borges já tem mais de vinte anos de carreira e um currículo interminável de experiência e obra feita. É designer, formador, artista plástico, investigador e editor nas áreas do design, literatura e de história. É membro da Associação Portuguesa de Museologia e está ligado, particularmente, àquilo que é

a museografia. “A comunicação e o tratamento dado à linguagem mu-seológica é fundamental para cati-var os públicos mas também para ilustrar, da melhor forma, aquilo que é a linguagem de um determina-do museu e de uma determinada exposição”, refere o designer que acrescenta que “o design veio trazer um potencial enorme à comunica-ção daquilo que é a museologia”. Saindo do que é uma exposição tradicional do espólio de um museu, João Borges tem trabalhado numa museologia em que “se cria um espólio a partir de um tema” e em que o design cria “um segundo ou

terceiro nível de informação para-lela àquilo que as pessoas estão a ver”. São histórias e temas asso-ciados aos objetos ilustrados pelo design que, por sua vez, veio “trazer uma nova forma mais alegórica e mais lúdica de se frequentarem e se lerem os museus”. E foi o que João Borges fez, o ano passado, ao desenhar a exposição dos 200 anos das Invasões Francesas e é o que vai fazer, este ano, com a exposi-ção das Marcas do Vinho no Porto patente no Arquivo Histórico da cidade, desde o dia 16 de Junho até finais de Setembro. Esta iniciativa ocorre para comemorar o centená-

rio da Ferreirinha e “visa mostrar de que forma é que o vinho e a cultura do vinho contribuíram para o crescimento e para a imagem da cidade do Porto”. Ao mesmo tempo, o designer de comunicação lança um livro com o mesmo título da exposição e um folheto para “ guiar” a Rota Urbana do Vinho “em que vão ser assinalados perto de vinte edifícios ligados à cultura do vinho” e construídos graças aos impostos cobrados sobre este néctar, um emblema portuense. Esta rota é permanente e está “virada para o cidadão, mas também muito virada para o turismo”.

Hoje em dia os museus sabem que precisam das exposições temáticas e temporárias para além de mos-trarem o espólio permanente.“O design de comunicação começou, de certa forma, a impor-se como um recurso essencial para a comu-nicação nos museus e João Borges trabalha, afincadamente, para fazer com que as pessoas possam partir para outros conhecimentos e outros pontos de interesse dentro dos museus.O designer considera que “uma das características do design é ajudar a potenciar uma expressão, uma ideia e também ajudar a interpretá-la”. E,

por isso, aprecia a versatilidade e a força do design gráfico por permitir “muitas formas de transmitir uma ideia” fazendo chegar a mensagem a pessoas diferentes e a diferentes meios sociais. João Borges acredita que o papel do designer acaba por ser muito importante já que “de uma forma atrativa, de uma forma lúdica, às vezes, de uma forma agressiva, outras vezes, de uma for-ma mais serena, consegue, graças à versatilidade, fazer passar mensa-gens que passariam despercebidas às pessoas que passam na rua e que veem esses grafismos”.

João Borges é um dos 10 vencedores num total de 200 concorrentes no âmbito do concurso internacional, “Fight Poverty”, promovido pela Associação Italiana para a Comunicação Visual.

João Borges a trabalhar em “Cosmologias”.

Instalação sobre Jazz.

Com o Presidente da República quando foi proclamado uma das

“Personalidades do Ano 2009/2010”.© Foto: site Presidência da República”

Lançamento da “World Urban Campaign”, no Rio de Janeiro.

Cartaz para a exposição YAKU exibida em Lima, no Peru.

Cartaz para o concurso “Fight Poverty”.

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numa palestra a lógica do logo. Logo a seguir, a 10 de Junho de 2010, em Faro, foi distinguido pelo Presidente da República como uma das “Personalidades do Ano 2009/2010”, no âmbito das “Co-memorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”.No âmbito do concurso interna-cional “Fight Poverty”- Utilità Ma-nifesta - Design for Social 2010, João Borges foi um dos vence-dores ex-equo na área de design gráfico. Para esta campanha de promoção e defesa dos Direitos Humanos, o designer de comu-nicação criou “dois garfos que de

certa forma dialogam com duas mãos que estão, graficamente, construídas quase da mesma maneira”. A racionalidade no con-sumo foi a mensagem apresen-tada por João Borges num cartaz muito óbvio, simples e, de certa forma, muito direto e explícito. “Com o mesmo elemento gráfico” o designer criou algo ligado ao desperdício e ao consumo, tal como era pedido no briefing. “Ra-cionalizar o consumo tem a ver com este fator de desperdício e o facto de ser necessário consumir de uma forma racional para que não seja necessário produzir em excesso, porque essa produção

em excesso de uma parte, é so-negada à outra parte.” Para além da campanha ter sido difundida e exposta em Lugano e Milão, em meados de Maio deste ano, foi editado um catálogo para, de certa forma, “tornar mais etéreo este momento”.João Borges é, também, um dos 160 designers selecionados, entre 1500 de todo o mundo, para integrar a exposição YAKU exibida em Lima no Peru. Este projeto, patrocinado pela Universidade de St. Ingacio de Loyola, debruça-se sobre o tema da água, bem como os problemas inerentes.

ConcursosOlhando aos concursos em que participa percebe-se que João Borges acredita numa espécie de responsabilidade social dos designers por serem poderosos instrumentos na produção de ideias. Assim, o designer gosta de se envolver em campanhas de cariz social para “ajudar a que as ideias sejam lançadas com mais sucesso e com mais força”. É por este motivo que o designer de comunicação tem uma certa incli-nação para concorrer a concursos ligados à solidariedade social.Em 2010, ganhou o concurso internacional para a criação

do logo para a “World Urban Campaign” que visa o mundo urbano sustentável. Para esta campanha mundial, patrocinada pelas Nações Unidas (UN-Habi-tat), João Borges criou “um globo feito por pequenas quadrículas, todas diferentes umas das outras, que se sobrepõem e se movem como se fossem uma malha urbana, uma espécie de fotogra-fia aérea de uma cidade em que se vê as quadrículas das retas e das interseções das ruas.” Este logótipo, eleito por unanimida-de do júri, representa uma ideia gráfica de quarteirão incluído numa forma redonda e onde as

cores, que vão desde o vermelho ao verde, são muito fortes e estão ligadas àquilo que é o ambiente, ligadas a uma atmosfera viva e positiva”, explica o designer. João Borges quis potenciar diferentes leituras associadas às ideias de comunidade, conjunto, unidade, força, energia e satisfação. Estas campanhas vivem da colaboração e do voluntariado das pessoas e das organizações e “as pequenas partes no logo potenciam uma unidade na diversidade”. A “World Urban Campaign”, lançada a 26 de Março do ano passado, no Rio de Janeiro, contou com a presen-ça de João Borges para explicar

O logótipo de João Borges para a “World Urban Campaign”, foi escolhido entre 201 trabalhos de artistas provenientes de 51 países.

World Urban Campaign Pensar o “mundo urbano” como um mundo de particularidades

the logo story

Design by João Borges

Pensar o “mundo urbano” como partes de um todo

Pensar um mundo feito de elementos comuns mas com características diferentes

Pensar o “mundo urbano” como uma ideia de convergência

Logótipo final

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quis criar pré-músicas, “o desenho que estimula a criação de música”, que se pudessem ver e, ao mesmo tempo, inconscientemente, produ-zissem uma emoção musical.Em 2009, João Borges editou um projeto de fusão música-design, intitulado “Cosmolodias” – músicas gráficas - em parceria com o com-positor Mário Laginha. Para este projeto o designer desenvolveu partituras sem notas, uma espécie

de storyboard, e o compositor a partir dos desenhos criou um tema musical. “Depois do Mário criar os temas musicais, devolveu-me as músicas e eu a partir das músicas criadas pelo pré-desenho animei os desenhos”. Foram criados videogramas que “incorporam a mútua influência entre a música e o design, entre o desenho e a me-lodia”. João Borges e Mário Laginha deram um concerto animado – pia-

no e computador - na Biblioteca Municipal de Matosinhos. Além disso, foi editado um Booklet que comporta um DVD com o projeto na forma de videogramas, cuja edi-ção foi toda adquirida pela Fnac. O designer espera poder criar, a curto prazo, um novo projeto dentro deste conceito, não só com música, mas também com outras disciplinas como o teatro e a escultura.

Projetos pessoaisJoão Borges não consegue ver “o designer como um artista” porque considera que “nunca é possível partir de uma liberdade total” devido aos requisitos colocados, quer pelo cliente quer pelo trabalho em si. O designer de comunicação colmata esta falta de liberdade ar-tística nos trabalhos profissionais com projetos mais pessoais onde pode dar largas à criatividade. Para

além da vasta obra concebida para clientes institucionais e particu-lares através do Atelier de Design João Borges, o designer tem vindo a dar mostras de uma vocação pessoal em projetos interdiscipli-nares impregnados de expressão artística. Desde novo e pelo facto de ter um pai violinista que cantava no coro, o designer teve uma formação musical e sempre foi apaixonado

pela música. Chegou a ter uma banda na adolescência, mas não seguiu essa carreira porque o design apresentou-se como uma paixão, bastante, mais forte. “Mais ou menos, desde 2004 tenho dese-nhado partituras musicais, aquilo a que chamo músicas gráficas e isso é um dos objetos das minhas investigações: como é que se podem criar desenhos com sons?”, questiona o designer. João Borges

No projeto Cosmologias os desenhos iniciais em duas dimensões influenciaram a composição do tema musical que por sua vez influenciou a animação e a criação dos videogramas.

Com Mário Laginha a trabalhar em “Cosmologias”.

Concerto de “Cosmolgoias” na Biblioteca Municipal de Matosinhos.

Boocklet “Cosmologias”

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Ainda este ano será editado o quarto livro de poesia a que João Borges chama “Cartazes Poéticos”. Escrever é uma das necessidades expressivas do designer e a prosa poética neste projeto é comple-mentada com cartazes figurativos.João Borges é assim apresentado como “o homem dos sete ofícios”

porque não tem mãos a medir nos projetos em que se envolve. Para este designer é importante que “as pessoas vivam intensamente aquilo que fazem e que se apaixo-nem e investiguem e não fiquem apenas pelo mero produzir o que se lhes pede”. Apesar do mau momento que atravessa o país,

“o design como disciplina nunca deve ser esquecido” e continua a ser essencial para os designers “o gosto que põem nos trabalhos que devem ser sempre acompanhado por satisfação e pela procura de, tecnicamente, conseguirem evoluir e serem melhores”. Aqui fica um bom conselho.

Lágrimas”, um dos três livros de poesia, escrito

por João Borges

Exemplo de “Cartazes Poéticos” editados em livro ainda este ano.

Instalação sobre Jazz.

Exemplos de trabalhos do Atelier de Design

João Borges