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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020
O Uso do Audiovisual nos Jornais Diario de Pernambuco, Folha de Pernambuco e
Jornal do Commercio no Instagram 1
João Gabriel da SILVA 2
Lorena Silva de AGUIAR 3
Maria Letícia Rocha Travassos SARINHO 4
Aline Maria Grego LINS 5
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE RESUMO
Este artigo traz uma análise da produção de conteúdos audiovisuais no Instagram dos principais jornais pernambucanos: Diario de Pernambuco (DP), Folha de Pernambuco e Jornal do Commercio (JC). Gabriella Viana Leão, Mariana Piza, André Luz, Karina Woitowicz, entre outros autores ancoraram o referencial teórico da pesquisa, que adotou a revisão bibliográfica sobre o uso da rede social no jornalismo. Também verificou-se os materiais publicados pelo três jornais durante dois períodos: de 15 a 25 de dezembro de 2019 e de 20 a 26 de abril de 2020, já em plena pandemia da Covid-19. Pelos resultados obtidos, constatou-se que os jornais possuem diferentes comportamentos na plataforma. Enquanto no DP predominaram as transmissões ao vivo (lives), na Folha, prevaleceu o uso dos stories. Já o JC preferiu compartilhar vídeos no feed. PALAVRAS-CHAVE: redes sociais; Instagram; audiovisual; jornal impresso INTRODUÇÃO
Tendo como principal objetivo o compartilhamento de momentos e experiências
através de fotos e vídeos, o Instagram foi criado, em 2010, pelos engenheiros de
programação Kevin Systrom e Mike Krieger. Segundo eles, a intenção era “resgatar a
nostalgia do instantâneo” (PIZA, 2012, p. 7). Seu crescimento foi logo percebido por
Mike Zuckerberg, CEO do Facebook, que o comprou por US$1 bilhão, em 2012. A
partir de então, a rede social foi ganhando novas ferramentas, que proporcionaram ao
usuário maior interatividade.
1 Trabalho apresentado no IJ01 – Jornalismo, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação; 2 Estudante de Graduação 8º. semestre do Curso de Jornalismo da UNICAP, e-mail: [email protected]; 3 Estudante de Graduação 7º. semestre do Curso de Jornalismo da UNICAP, e-mail: [email protected]; 4 Estudante de Graduação 7º semestre do Curso de Jornalismo da UNICAP, e-mail: [email protected]; 5 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo da UNICAP, e-mail: [email protected].
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O Instagram é um aplicativo que se diferencia por ser usado necessariamente
através de um telefone celular. “Os indivíduos podem fazer uma foto com o próprio
celular, aproveitar alguma imagem que já esteja salva no arquivamento do aparelho, ou
puxar fotografias realizadas com outros dispositivos” (PIZA, 2012, p. 8), a exemplo das
câmeras fotográficas digitais. A rede social também possui uma versão para
computador, mas esta não dispõe de todas as ferramentas disponíveis no smartphone.
Na plataforma, é possível publicar fotos e vídeos por dois modos: no feed, que
mostra as postagens mais recentes, e nos stories, que permite que as pessoas
compartilhem “todos os momentos do seu dia, e não apenas aqueles que deseja manter
no perfil. Ao compartilhar várias fotos e vídeos, eles aparecem juntos em um formato de
apresentação de slides, sua história” (RODRIGUES; ROCHA; RODRIGUES, 2017, p.
4), ficando disponíveis por, no máximo, 24 horas. Há também as transmissões ao vivo
(lives), que, assim como os stories, podem ser visualizados no mesmo período.
O jornalismo online tem suas especificidades de produção, com foco na
instantaneidade e interatividade com o público. Há ainda que considerar a mobilidade,
que também exige nos conteúdos uma adaptação. Segundo o relatório da Pesquisa
Brasileira de Mídia de 2016, realizada pela Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República (Secom) e pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e
Estatística (IBOPE),
A internet é o segundo meio de comunicação pelo qual a população mais se informa, citada por 49% dos entrevistados na pesquisa, atrás apenas pela televisão (89%). (...) Os aparelhos celulares são o dispositivo mais utilizado para acessar a internet e a média de tempo de acesso diário da população é de mais de 4h e 30m. (RODRIGUES; ROCHA; RODRIGUES, 2018, p. 2)
Nesse quesito, as mídias sociais são grandes detentoras no modo de fazer e
divulgar informação. “O Instagram é fruto de uma revolução não só tecnológica, mas
também das constantes mudanças no contexto da rede” (PIZA, 2012, p. 19). Notando a
popularidade que ele veio ganhando nos últimos anos, o jornalismo sentiu que precisava
se inserir nesse meio e, assim, estar mais próximo da sociedade.
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A necessidade dessa unificação pode ser verificada pela quantidade de jornais
impressos que migraram seus conteúdos também para a rede social. Temos de exemplo
veículos como Folha de S.Paulo e Estadão (São Paulo), O Globo (Rio de Janeiro) e,
regionalmente, os três principais jornais pernambucanos: Diario de Pernambuco, Folha
de Pernambuco e Jornal do Commercio. Inicialmente, o uso do Instagram por esses
veículos era limitado a postagens no feed, com um texto de legenda, tendo como
intenção a busca por curtidas e comentários. Mas, isso foi mudando conforme a chegada
de novas ferramentas no aplicativo.
No cenário atual, devido a vasta quantidade de informações que podem ser
encontradas na internet, faz-se necessário o que Leão e Lins (2019) chamam de
curadoria da informação. Nela, “quem passa a informação, passa a informar a direção
ou no que prestar atenção em meio a tantos dados”, recebendo, segundo as autoras, “o
status de curador, sendo este o indivíduo que irá filtrar, organizar e produzir um novo
conteúdo para ser entregue ao seu público” (LEÃO; LINS, 2019, p. 2). O mesmo ocorre
na rede social, onde critérios de noticiabilidade determinam o que vai ser publicado ou
não.
O jornalismo tem buscado desenvolver formas de apropriação e interação no ambiente das redes digitais. Estes espaços de construção de identidade, formação e fortalecimento de laços, se tornou também um forte espaço de circulação de informações, a partir das funcionalidades neles embutidas de compartilhamento de imagens, textos e links. (ARAGÃO, 2012, p. 4 apud BOYD; ELLISON, 2006)
Tendo em vista esses conceitos, esta pesquisa busca trazer análises,
comparações, questionamentos e tentativas de compreensões sobre narrativas
audiovisuais que tenham como foco as diferentes formas e modelos de produção
jornalística, mas empregados em veículos originalmente impressos. Durante dois
períodos distintos da pesquisa, final de 2019 e início de 2020, verificamos como os
jornais pernambucanos Diario de Pernambuco, Folha de Pernambuco e Jornal do
Commercio se apropriam do Instagram no que tange a produção de conteúdo em vídeo.
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Para fundamentar nossa análise, recorremos a produções que buscam
compreender o desenvolvimento do Instagram e seu funcionamento. Também foram
realizadas leituras de estudos de caso similares, tais como os produzidos com o jornal
cearense O Povo, publicado em 2018, e com o Cultura Plural, um projeto de extensão
da Universidade Federal de Ponta Grossa, no Paraná, divulgado em 2017 (LUZ;
WOITOWICZ, 2017). Observamos como são produzidos vídeos para o perfil do
Instagram e, em especial, para os stories.
CONTEXTUALIZAÇÃO DOS OBJETOS
Investigar e analisar criticamente o modo como os principais jornais
pernambucanos — Diario de Pernambuco, Folha de Pernambuco e Jornal do
Commercio — se dispõem a produzir e circular conteúdos audiovisuais para seus
Instagram é, como já foi dito, o principal objetivo deste artigo.
Inicialmente, recorremos a autores que têm se dedicado ao estudo do
desenvolvimento do Instagram e seu funcionamento, tanto em termos de conteúdo
quanto operacionais. Também foi realizada uma revisão bibliográfica e de pesquisa na
internet para identificar estudos semelhantes ou próximos aos objetos da nossa
pesquisa. Foi possível observar como são produzidos vídeos para a plataforma, em
especial, para os stories.
Em seguida, partimos para a primeira pesquisa de campo, isto é, selecionar e
coletar material audiovisual produzido pelos jornais pernambucanos para o Instagram.
Escolheu-se analisar o período de 15 a 25 de dezembro de 2019 a fim de verificar não
apenas postagens cotidianas, mas também os conteúdos especiais elaborados no período
natalino. Após o mapeamento, partimos para a comparação das amostras coletadas nos
três jornais.
Devido à pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, a
rotina de toda a sociedade sofreu mudanças drásticas, inclusive na nossa pesquisa, uma
vez que a previsão inicial de análise era de um único período. Para combater a
contaminação pelo vírus, foi necessário as autoridades estaduais e municipais em saúde
determinarem o isolamento social, o que provocou um novo comportamento não só nas
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relações sociais mas também na produção de conteúdos jornalísticos. Assim,
resolvemos também analisar esse período.
Independentemente de como os profissionais de comunicação se adaptaram para
exercer suas funções nesse período, seja no modelo home office ou ainda diretamente
das redações, os veículos se tornaram indispensáveis em contar o que vinha ocorrendo
no Brasil e no mundo. Além disso, se mostraram portadores de serviços e dicas sobre o
que fazer em casa durante a quarentena, iniciada em março de 2020.
Percebendo a gravidade da situação, decidimos fazer uma segunda coleta de
dados a fim de verificar como os jornais abordaram, através de conteúdos audiovisuais,
o contexto da pandemia em suas contas do Instagram. A nova pesquisa de campo
aconteceu entre 20 e 26 de abril de 2020, uma vez que havia a hipótese de que os
poderes públicos, em especial o Governo de Pernambuco e a Prefeitura do Recife,
divulgariam novas medidas de restrição para o mês de maio entre esses dias.
Os dados coletados durante os dois períodos de observações foram catalogados
em duas tabelas, planilhas construídas no Excel. Nelas, foram inseridas as seguintes
observações:
- Os elementos de identificação da notícia: a data de publicação, o título e o link
que leva o usuário para o site do veículo;
- As principais características da notícia: narrativa, fontes, personagens,
objetivo, mecanismos de aproximação e interação e a repercussão na internet;
- As interseções e rupturas dessas narrativas, comparando os modelos utilizados
pelo jornal para o Instagram, com os modelos utilizados no site, no Facebook e, quando
foi o caso, no canal do Youtube ou na televisão;
- Aspectos técnicos: cuidados com a produção e exibição do audiovisual,
conexão entre texto e áudio, qualidade das imagens, ritmo de edição, tempo e se o vídeo
apresentava coerência com o tema proposto.
Os objetos da análise foram os perfis no Instagram dos principais jornais
pernambucanos — Diario de Pernambuco (@diariodepernambuco), Folha de
Pernambuco (@folhape) e Jornal do Commercio (@jc_pe) —, cujas matrizes estão no
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Recife. Todos apresentam um selo de verificação na rede social indicando que se tratam
de contas oficiais.
O primeiro veículo que tratamos aqui é o Diario de Pernambuco (DP), o mais
antigo em circulação na América Latina, fundado em 7 de novembro de 1825. No
segundo semestre do ano de 2020, o jornal atingiu a marca de 1 milhão de seguidores no
Instagram, o que é um reflexo da sua atuação na rede durante a crise da Covid-19.
Em seguida, apresentamos a análise da Folha de Pernambuco, pertencente ao
grupo empreendedor EQM, que, entre outros setores, atua também na área de
comunicação. O jornal foi fundado em 3 de abril de 1998 e, atualmente, além do
impresso, possui também o portal online (folhape.com.br) e a Rádio Folha 96,7 FM.
Por fim, temos o Jornal do Commercio (JC). A publicação centenária foi
fundada por F. Pessoa de Queiroz em 3 de abril de 1919 e, hoje, faz parte do grupo
empresarial Paes Mendonça, que não só resgatou o jornal da grave crise que enfrentava
no final dos anos de 1980, como também recuperou a emissora de televisão, a TV
Jornal, e as rádios, também pertencentes ao mesmo grupo.
Tendo isso em vista, as principais informações observadas durante os períodos
de coleta e análise de dados sobre como acontece a movimentação no perfil de cada
veículo na plataforma, no que diz respeito a conteúdo audiovisual, são detalhadas no
tópico a seguir. Dessa forma, procuramos atender ao que se propõe este artigo, ou seja,
analisar, comparar e compreender como as narrativas audiovisuais, de cunho
jornalístico, são colocadas em prática na rede social Instagram de jornais impressos de
Pernambuco.
DESCRIÇÃO DOS DADOS ENCONTRADOS
DIARIO DE PERNAMBUCO
Na primeira análise de dados, realizada entre os dias 15 e 25 de dezembro de
2019, percebeu-se que o Instagram do Diario de Pernambuco fez uso constante dos
stories. Dos 34 vídeos apurados nesse período, 20 foram postados nessa ferramenta. Os
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conteúdos foram diversos, desde divulgações e coberturas de eventos a gravações de
confraternizações da própria empresa.
O mesmo procedimento foi adotado na segunda fase de observações, entre os
dias 20 e 26 de abril de 2020. Porém, dessa vez, observou-se que jornal também
investiu na produção de lives, com participação de cantores, psicólogos, atores, entre
outros, proporcionando momentos de distração e leveza em meio ao período de
quarentena imposto pela pandemia do novo coronavírus.
Concomitantemente, foi possível perceber que o Diario apostou em vídeos
informativos, fazendo balanços dos novos casos da Covid-19 no Brasil. A colaboração
dos internautas também foi um destaque no jornal que, além de apresentar fatos,
permitiu que eles também tivessem uma participação reflexiva sobre os fatos e impactos
do que era noticiado.
Imagem 1: Vídeo publicado no feed do Instagram do Diario de Pernabuco, no dia 21 de abril de 2020, abordando o contexto da pandemia do novo coronavírus. Crédito dos autores.
Durante as análises, identificou-se que as partes técnicas dos vídeos, como
qualidade do áudio e das imagens e a edição variaram de “rotineiras” ou “normais”.
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Foram poucos os vídeos identificados com qualidade baixa, sendo, em geral, conteúdos
reaproveitados ou de reprodução na internet.
Vale destacar ainda que, no primeiro período de análise, verificou-se apenas
uma live realizada pelo DP para transmitir o Baile do Menino Deus, um musical teatral
natalino de autoria de Ronaldo Correia de Brito e Francisco Assis Lima, com músicas
de Antônio Madureira. Na ocasião, foi possível perceber que o repórter tenta criar uma
interação e aproximação com as pessoas que estavam assistindo e comentando de forma
positiva o espetáculo. Já no segundo período observado, foram identificadas 11 lives.
Observamos que a maneira como os repórteres se portam durante as coberturas
e, também, a exteriorização de eventos internos, ajudam a criar um ambiente mais leve.
O aspecto contribui na construção de uma nova linguagem online, caracterizada por
uma maior informalidade.
Outra cobertura que ocorreu no primeiro período de observação, nos stories, foi
o velório do artista plástico pernambucano Francisco Brennand. Devido a importância e
seriedade do momento, o repórter se portou de forma mais compenetrada, lembrando
reportagens de TV sobre o artista. Mesmo assim, um teor mais livre e intimista é criado.
Afinal, ver tudo acontecendo, naquele exato momento, pelo celular, é uma forma
diferenciada da construção audiovisual. Porém, por mais que a intimidade seja uma das
grandes chaves dos stories, o DP não permitiu que o público interaja respondendo seus
vídeos postados nessa ferramenta.
FOLHA DE PERNAMBUCO
Durante a primeira fase de observações, de 15 a 25 de dezembro de 2019, foi
possível perceber que o foco da Folha de Pernambuco, no que diz respeito a conteúdo
audiovisual no Instagram, é voltado para o stories. Dos 67 vídeos identificados, 63
foram postados nessa ferramenta, enquanto apenas quatro foram postados no feed. Vale
ressaltar que os conteúdos divulgados no feed também apareceram no stories. Entre as
63 postagens identificadas, apenas 18 não levavam para o site do jornal.
Dentre os produtos analisados, a maioria mostrava acontecimentos gravados
pelos próprios repórteres da Folha de Pernambuco, ou vídeos cedidos ao jornal por uma
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fonte externa, como um leitor e/ou seguidor. Apenas 10 produções audiovisuais fugiram
a esse padrão e foram feitos por meio de artes e design pensados a partir de uma edição
prévia. Apenas em dois casos, o jornal fez uso do recurso “Caixa de Perguntas”
disponível no stories para interação com o público.
Foram recorrentes os textos curtos no stories. Quanto ao áudio, a maioria
possuía som ambiente, juntamente com o áudio específico do assunto em questão
(entrevista, palestra, apresentação, show etc.) e apenas 7 vídeos foram postados sem
som ou com áudio desconexo. A qualidade das imagens variou significativamente, de
forma que algumas tinham maior estabilidade e resolução, enquanto outras não se
preocupavam com enquadramentos e balanços de câmera.
A duração das gravações também foi distinta: em certos casos, fez-se o uso de
apenas um stories (vídeo de até 15 segundos). Já outros juntavam diversos deles. Assim,
a narrativa total da maioria dos temas ficou com até 30 segundos, sendo uma junção de
dois stories. Quanto às postagens no perfil, os vídeos variaram entre 20 segundos e 2
minutos.
Na segunda fase de observações, de 20 a 26 de abril de 2020, feita no período da
pandemia da Covid-19 e no contexto de isolamento social, foram postados 37 stories,
havendo, assim, uma baixa em relação ao primeiro período analisado. 10 deles foram o
mesmo vídeo, que mostraram a alternativa à qual a empresa recorreu para continuar
mantendo o leitor atualizado de forma segura após o fechamento — durante o
isolamento social — de pontos de comércio onde o jornal é vendido. Já o número de
posts audiovisuais no perfil teve um pequeno aumento: 6 vídeos, ou seja, dois a mais em
relação à primeira leva de dados.
Constatou-se que o conteúdo postado se manteve majoritariamente ligado ao
contexto da doença: apenas 8 stories não tinham relação com a Covid-19, sendo 3 deles
de teor político, outro assunto em alta durante o período devido às polêmicas da gestão
governamental federal. Quanto às postagens no feed, apenas uma não tinha relação com
o novo coronavírus. As demais ficaram restritas a pronunciamentos do Governador de
Pernambuco, Paulo Câmara, e às medidas adotadas pelo próprio jornal para continuar
fornecendo informações com segurança.
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Imagem 2: Storie publicado no Instagram da Folha de Pernambuco abordando os números da pandemia do novo coronavírus no dia 24 de abril de 2020. Crédito dos autores.
A exemplo da primeira fase de análises, foi mantida a predominância de stories
com textos curtos e fáceis de serem compreendidos. Quanto ao áudio, observou-se que a
maioria era ou instrumental ou a fala da pessoa presente no vídeo. Em relação à
duração, a média das narrativas foi de até 30 segundos. Já os vídeos do feed ficaram
entre 59 segundos e aproximadamente três minutos.
Foram catalogados 17 stories com a presença de alguma arte. Nos casos das
postagens com atualização dos números da Covid-19, a arte era sempre a mesma, só
sendo atualizada de acordo com as mudanças diárias. Os demais stories pareceram ser
gravados por meio do celular e, pelo menos 10 deles, foram feitos em modo selfie,
quando a pessoa grava a si mesmo, usando a câmera frontal do smartphone; nesses
casos, não foi perceptível nenhum elemento que indicasse que o personagem/repórter
estava na redação do jornal. Quanto às publicações no feed, a maioria apresentava alta
qualidade de imagem.
Por fim, entre o total de vídeos no stories, cerca de 12 não tinham link que
direcionassem o leitor para o site do veículo. Foi possível observar que o jornal não
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utilizou o recurso “Caixa de Perguntas” para interagir com o público; manteve apenas o
uso constante de hashtags, em sua maioria sobre assuntos relacionado à Covid-19.
JORNAL DO COMMERCIO
No Jornal do Commercio (JC), percebeu-se uma expressiva diferença na
quantidade de postagens entre as duas análises. Na primeira, realizada entre os dias 15 e
25 de dezembro de 2019, foram identificados apenas 4 vídeos no perfil, sendo dois
deles funcionando como making off das produções das charges publicadas nas versões
impressa e online do JC; um apresentando uma mensagem de natal com uma música de
fundo; e um sendo uma reprodução de câmeras da Companhia Brasileira de Trens
Urbanos (CBTU) cuja publicação denunciava crianças se pendurando na dianteira do
metrô do Recife. Todos tinham menos de um minuto de duração.
Sobre o stories, o JC não compartilhou nenhum conteúdo audiovisual dentro do
primeiro período de análise. O jornal publicou apenas imagens estáticas das notícias,
que também foram postadas no perfil, com um título no canto inferior. Abaixo das
frases, havia uma seta que, se arrastada para cima, levava para a notícia completa no
portal do veículo. Também na função, foram publicadas, diariamente, imagens estáticas
da tábua das marés e os números sorteados na loteria da Caixa Econômica Federal.
Em relação às lives, ou seja, transmissões ao vivo, no Instagram, o Jornal do
Commercio não realizou nenhuma durante os 10 dias de coleta de dados. Ao fim da
primeira análise, o veículo somava 397,7 mil seguidores e 29,1 mil postagens.
Já no segundo levantamento, realizado entre os dias 20 e 26 de abril de 2020,
foram contabilizados 15 vídeos no perfil do JC, um aumento de 375% em relação ao
período destacado anteriormente. Em 8 publicações, o conteúdo estava relacionado à
pandemia do novo coronavírus ou sobre o que fazer em casa durante o isolamento
social; 4 continham dicas para o dia a dia; e 3 eram sobre um fato que ocorreu no dia. 9
dos 15 vídeos foram compartilhados através do IGTV por durarem mais de um minuto.
Sobre o engajamento, 10 das 15 publicações tiveram mais de 10 mil visualizações,
enquanto apenas 6 tiveram mais de mil curtidas.
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Imagem 3: Vídeo publicado no feed do Instagram do Jornal do Commercio, no dia 23 de abril de 2020, abordando o contexto da pandemia do novo coronavírus. Crédito dos autores.
Nos stories, além das imagens estáticas, dessa vez, foi publicado apenas um
conteúdo audiovisual, no dia 24 de abril. O público que o visualizou foi convidado a
acompanhar as transmissões musicais ao vivo que estavam ocorrendo via internet. Na
ocasião, o jornal mostrou a live da cantora carioca Ludmilla. Novamente, o JC não
realizou lives na própria conta do Instagram dentro desse segundo período de análises.
No final da segunda análise, o jornal apresentou 478,9 mil seguidores e 30,6 mil
postagens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos dados mapeados e catalogados percebeu-se que, durante a primeira
fase de observação, o foco dos jornais Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio
não foi o conteúdo audiovisual, visto que o DP, nos dias 17, 21 e 22 de dezembro de
2019 não postou nenhum produto em vídeo e, no JC, foram identificadas apenas quatro
publicações nesse formato durante todo o período analisado. Diferentemente desse
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comportamento, a Folha apresentou uma movimentação intensa no seu perfil, com um
total de 63 vídeos, tendo sido apenas quatro postados no feed. Assim, percebe-se que o
perfil da Folha, no Instagram, investe na instantaneidade e em um formato mais
espontâneo, características do stories.
Já na segunda análise, a situação foi invertida: enquanto a quantidade de
postagens de audiovisual no perfil da Folha diminuiu em relação ao primeiro período, as
atividades do Diario e do JC aumentaram. No DP, a preocupação foi não somente com
as notícias sobre a Covid-19, mas também com a criação de conteúdos diferentes, como
lives e vídeos maiores publicados por meio do IGTV, abordando variados temas, a
exemplo de resumos semanais e relatos de pernambucanos que estavam no exterior
durante a pandemia. No JC, observou-se um aumento expressivo na quantidade de
publicações em vídeo, mesmo que ainda não houvesse grande movimentação no stories.
Já a Folha investiu no uso de stories previamente editados, o que é compreensível face à
impossibilidade de trabalho presencial dos jornalistas devido à pandemia.
Vale ressaltar que um ponto forte do Diario foi a realização de lives no período
de coleta de dados durante a pandemia. Por outro lado, os outros dois jornais não
utilizaram esse recurso em nenhuma das observações, o que é curioso, visto a crescente
quantidade de usuários e até mesmo de outros veículos aderindo a essa iniciativa
durante o período de isolamento social.
Foi perceptível que nos três veículos há uma variância nos conteúdos e a
priorização do uso de uma linguagem simples no stories, por ser um tipo de produção
marcado pela rapidez e instantaneidade. Além disso, muitas vezes há a intenção de fazer
do stories um espaço de menor informalidade, o que é perceptível pela forma como os
repórteres se portam.
Contudo, foi unânime na observação dos jornais que nenhum deles priorizou a
interação com os seguidores, o que parece uma contradição, uma vez que essa é uma
característica forte das redes sociais. No Instagram, por exemplo, há ferramentas como
“Caixa de Perguntas” e “Enquete” para incentivar a troca entre o perfil e os usuários.
“Os desenvolvedores do Instagram acreditam que o aplicativo abriu portas para um
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mundo que permitiu ser mostrado com transparência e com conexões mais próximas”
(PIZA, 2012, p. 14).
Outro fator relevante no Instagram é a quantidade de seguidores que o perfil dos
jornais possuem. Em agosto de 2020, o Diario de Pernambuco chegou à marca de 1
milhão de seguidores, destacando-se dos demais jornais. Atrás dele, com pouco mais da
metade, encontra-se o Jornal do Commercio com 536 mil e, por fim, a Folha, com 289
mil pessoas acompanhando sua rede.
Nesse cenário, fica visível como os três jornais trabalham de forma distinta em
relação ao audiovisual, considerando, inclusive, o período atípico de pandemia.
Constatamos que o investimento no Instagram é peça fundamental no jornalismo atual,
pois foi uma maneira de se manter no mercado, mesmo com o decrescente uso do
impresso.
É possível afirmar, pelo que percebemos na pesquisa, que os veículos locais vêm
se reinventando e apostando mais na plataforma Instagram, como pode-se comprovar
com o considerável aumento de seguidores na conta do DP, em decorrência da sua forte
atuação jornalística e cultural durante o período de pandemia. Mesmo que os demais
jornais não tenham tido a mesma desenvoltura, o uso do audiovisual em todos eles,
apesar de ainda não ser o foco central, caminha para uma conjuntura em que trabalhar
com imagens e áudios parece cada vez mais necessário e promissor para os veículos,
tanto no que diz respeito a popularidade, quanto à presença no mercado.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Sônia. Redes sociais na internet: desafios à pesquisa. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 30., 2007, Santos. Disponível em: http://www.sitedaescola.com/downloads/portal_aluno/Maio/Redes%20sociais%20na%20internet-%20desafios%20%E0%20pesquisa.pdf . Acesso em 17 fev. 2020; ARAGÃO, Rodrigo Martins. Usos jornalísticos do Instagram: aproximações a partir do JC Imagem. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE, 14., 2012, Recife. Anais… Recife: Intercom, 2012. Disponível em: https://tinyurl.com/y2al8s3h. Acessado em set. 2019;
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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020
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