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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
INTERAÇÕES ENTRE FORMIGAS E DIÁSPOROS DE
ESPÉCIES VEGETAIS DA MATA ATLÂNTICA NA RESERVA
BIOLÓGICA DO TINGUÁ, NOVA IGUAÇU, RJ, BRASIL.
GUILHERME ORSOLON DE SOUZA
Prof. Dr. Antonio José Mayhé Nunes Orientador
Prof. Dr. Jarbas Marçal de Queiroz Co-Orientador
Dissertação submetida como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre
em Ciências, no Programa de Pós-
Graduação em Biologia Animal.
Seropédica, RJ
Março de 2007
595.796098153 S731i T
Souza, Guilherme Orsolon de, 1976- Interações entre formigas e diásporos de espécies vegetais da Mata Atlântica na Reserva Biológica do Tinguá, Nova Iguaçu, RJ, Brasil / Guilherme Orsolon de Souza. – 2007. 43 f. : il. Orientador: Antonio José Mayhé Nunes. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de Biologia. Bibliografia: f. 33-38. 1. Formigas – Tinguá (Nova Iguaçu, RJ) – Habitat - Teses. 2. Diversidade biológica – Tinguá (Nova Iguaçu, RJ) - Teses. 3. Sementes – Dispersão – Tinguá (Nova Iguaçu, RJ) – Teses. I. Nunes, Antonio José Mayhé, 1959. II. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto de Biologia. III. Título.
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
GUILHERME ORSOLON DE SOUZA
Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências, no Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, área de concentração em Zoologia. DISSERTAÇÃO APROVADA EM 23/03/2007.
_________________________________________________ Prof. Dr. Antonio José Mayhé Nunes – UFRRJ.
Orientador
________________________________________________ Profª. Drª. Adriana Maria de Aquino – EMBRABA.
________________________________________________ Prof. Dr. Roberto de Xerez – UFRRJ.
________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Racca Filho – UFRRJ.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao meu amigo e orientador Prof. Dr. Antonio José Mayhé Nunes pela amizade, paciência, competência em me guiar na vida acadêmica (e por ter aceitado essa empreitada!). Ao meu amigo e orientador Prof. Dr. Jarbas Marçal de Queiroz pela competência, atenção e dedicação me mostrando qual o melhor caminho a ser seguido em todos os momentos (e não só atrás das formigas!). Aos amigos MSc André Barbosa Vargas, MSc. Elaine Folly Ramos e MSc.Sergio Veiga Ferreira pela ajuda física, psicológica e emocional, pelo bom humor e pelas boas piadas. Aos amigos Biólogos Sâmara Salamene e Michel, ao Eng. Florestal Marcos Paulo dos Santos Pereira, (DCA- IF); ao Biólogo Rafael Indicatti e ao amigos do Laboratório de Mirmecologia, Marcel, Bruno, Caroline, e Igor (DBA – IB) pelo convívio e amizade. A todos os meus amigos por todos os momentos, principalmente, por terem suportado o meu mau humor. A minha família por também ter suportado o meu mau humor quase freqüente. Ao Sr. Valter pela amizade, por ter me guiado e me mostrado a floresta e, sem dúvida por ter ilustrado horas de campo com histórias de “macucos, onças, tatus e jaguatiricas”. A Srª Terezinha pela acolhida, atenção e boa prosa. Ao programa de Pós-Graduação em Biologia Animal da UFRRJ e a todos os funcionários pela atenção e atendimento. Ao IBAMA pela licença concedida para a execução dos trabalhos de campo na Reserva Biológica do Tinguá. A CAPES pela bolsa concedida auxiliando-me enormemente na execução da pesquisa. Aos diretores da Reserva Biológica do Tinguá pelo auxilio, atenção e pela autorização para permanência nas dependências da Reserva. Ao Departamento de Botânica da UFRRJ pelo ajuda, atenção e o pronto atendimento, principalmente, pela identificação das espécies vegetais utilizadas neste trabalho. Aos Professores e funcionários do Departamento de Botânica pela ajuda e auxílio na identificação dos espécimes vegetais.
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BIOGRAFIA Nascido em 11 de maio de 1976 em Mendes – cidade do interior do Estado do Rio de
Janeiro -, Guilherme Orsolon de Souza concluiu em 1990 o 1º grau no Colégio
Cenecista Marechal Rondon e em 1993 o 2º grau no Colégio Estadual Professor Aragão
Gomes, onde se formou em Técnico em Contabilidade. Aprovado para o cargo de
Agente Administrativo no concurso público para Prefeitura Municipal de Queimados;
inicia em 1996 sua experiência em administração escolar pública atuando na Escola
Municipal Waldick Cunegundes Pereira. Em 2001 ingressou na Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro onde cursou Licenciatura em Ciências Biológicas. Em 2002
iniciou seus primeiros trabalhos como aluno estagiário do Laboratório de Mirmecologia
do Instituto de Biologia da UFRRJ coordenado pelo Prof. DSc Antonio José Mayhé
Nunes, de quem recebera orientação. Alguns meses depois, em parceria com o
Laboratório de Ecologia e Conservação do Departamento de Ciências Ambientais do
Instituto de Floresta da UFRRJ coordenado pelo Prof. DSc Jarbas Marçal de Queiroz,
de quem também recebera orientação, esboçou os primeiros de muitos trabalhos sobre
ecologia de formigas (Hymenoptera: Formicidae). Formou-se em 2005 e, neste mesmo
ano, licenciou-se da Prefeitura Municipal de Queimados para ingressar no Programa de
Pós-Graduação em Biologia Animal da UFRRJ como mestrando bolsista da CAPES.
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RESUMO SOUZA, Guilherme Orsolon de. Interações entre formigas e diásporos de espécies vegetais da Mata Atlântica na Reserva Biológica do Tinguá, Nova Iguaçu, RJ, Brasil. 2007. 45p Dissertação (Mestrado em Biologia Animal). Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. A diversidade de vida existente no planeta é fruto não só de milhões de anos de evolução, mas também é o resultado das interações entre as espécies. Assim, a “biodiversidade interativa” pode ser influenciada tanto pela própria diversidade biológica quanto por fatores ambientais, além de variar no tempo e no espaço. Foram estabelecidos, em dois ambientes distintos da ReBio Tinguá (situados nas regiões Submontana e Montana), dois transectos de 1 Km cada, sendo um transecto para cada ambiente. Ao se encontrar indivíduos frutificando, foram observadas as interações entre formigas e diásporos através de uma estação de observação que consistiu em um pedaço de papel filtro (6 x 6 cm) onde os diásporos foram colocados, facilitando a visualização das formigas. Registrou-se ainda, os seguintes parâmetros: (1) as espécies envolvidas (vegetal e animal) e (2) o comportamento das formigas em relação ao diásporo. Foi registrado o total de 460 interações entre formigas e diásporos. Deste total, 242 e 218 interações formaram aproximadamente 66% e 61% de interações não repetidas. O gênero Pheidole foi mais interativo, com total de 73 e 64 interações, sendo 64,4% e 59,4% de interações não repetidas; seguido do gênero Solenopsis, com 61 e 53 interações totais, sendo 59% e 51% de interações não repetidas para as áreas de Submontana e Montana da ReBio Tinguá, respectivamente. A análise de fatores ambientais revelou diferença significativa para as variáveis: profundidade de serapilheira e umidade relativa do solo (Teste t; p<0,05), marginalmente para temperatura do solo (p=0,069) e sem diferença para luminosidade (p>0,05) para as áreas de Submontana e Montana. Entretanto, ao comparar os dois locais observados através da formicifauna coletada, foi encontrado 65% de similaridade pelo Índice de Jaccard e 78,8% pelo Índice de Sorenson. As adaptações dos Índices de Diversidade de Espécies (Índice de Shanonn – Wienner e Simpson) mostraram que as interações variaram de acordo com os eventos de frutificação sem, entretanto, apresentar diferenças estacionais significativas. Não houve correlação para as variáveis ambientais, a diversidade de interações e a conectância (p>0,05). Os valores de conectância mensais não mostraram um padrão, variaram no tempo e no espaço, porém o nível da conectância geral foi de 20,4% (obtido nos 12 meses de observação na ReBio Tinguá). Palavras-chaves: Conectância, Correlação e Índice de Diversidade de Interações.
vii
ABSTRACT SOUZA, Guilherme Orsolon de. Interactions between ants and diapores of Atlantical Rain forest plants in the Reserva Biológica do Tinguá, Nova Iguaçu, RJ, Brasil. 2007. 45p Dissertation (Master Science in Animal Biology). Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. The life diversity in our planet is the result not only of millions years of evolution but either of species interactions. Therefore, “interactive biodiversity” may be influenced as much by the own biological diversity as by environmental variables, over to vary in time and space. We established, in two differentes places in the ReBio Tinguá (placed in Submontana and Montana regions), two transects with 1 Km, being one transect for each place. When we found plants specimes with fruits, we observed the interactions between ants and diaspores through the observation station that consisted in a piece of white paper (6 x 6 cm) where the diaspores were deposited for faciliting ants visualizations. We either recorded two parameters: (1) the species envolved (plants and animal) and (2) the behavior of ants with the diaspores. We recorded a total of 460 interactions between ants and diaspores. From this number, 242 and 218 interactions formed approximately 66% and 61% of not repeated interactions. The genus Pheidole was more interactive, with a total of 73 and 64 interactions, being 64,4% and 59,4% of interactions not repeated, followed by the genus Solenopsis, with 61 and 53 total interactions, being 59% and 51% of interactions not repeated for the Submontana and Montana places of ReBio Tinguá, respectively. The environmental variables analises revealed significative difference for the variables: depth litter and relative ground humidity (t Test; p<0,05), edgely for ground temperature (p=0,069) and without difference for luminosity (p>0,05) for Submontana and Montana areas. However, comparing the two places observed through the myrmeco-fauna collected, we found 65% of similarity by the Jaccard Index and 78,8% by the Sorenson Index. The adaptations of species diversity indexes (Índice de Shanonn – Wienner and Simpson Indexes) showed us the the interactions varyed in agreement with de frutification events without, however, to presente significantes seasonal differences. There wasn´t correlation for the environmental variables, the interactions diversity and the conectance (p>0,05). The month conectance values not showed a pattern, they varyed in time and space, however, the general conectance level was 20,4% (recorded in 12 months of observations in the ReBio Tinguá). Key-words: Conectance, Correlations and Interactions diversity Index.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Área de abrangência da Reserva Biológica do Tinguá, Rio de Janeiro ......... 08
Figura 2: Região Submontana (50 – 500m) da ReBio Tinguá. Visualização do transecto
no canto direito inferior ................................................................................................. 10
Figura 3: Região de Montana (500 – 1.300 m) da ReBio Tinguá. Visualização do
transecto à esquerda ........................................................................................................11
Figura 4: Interação entre Megalomyrmex sp 1 (Myrmicinae) e Ingá sp 1 (Leguminosa –
Mimosoideae), na Região de Submontana da ReBio Tinguá. A - Visão geral da estação
de observação; B - Utilização do elaiossomo..................................................................12
Figura 5: Profundidade de serapilheira (cm) comparada em regiões Submontana e
Montana da ReBio Tinguá, RJ........................................................................................19
Figura 6: Umidade Relativa do solo (%) comparada em regiões Submontana e Montana
da ReBio Tinguá, RJ........................................................................................................19
Figura 7: Temperatura do solo (ºC) comparada em regiões Submontana e Montana da
ReBio Tinguá, RJ............................................................................................................20
Figura 8: Luminosidade (lux – x 10) comparada em regiões Submontana e Montana da
ReBio Tinguá, RJ............................................................................................................20
Figura 9: Diagrama representativo das interações observadas na região de Submontana
da ReBio Tinguá. Setembro/2005 – outubro/2006. Nota: as espécies de formigas com
asterisco foram registradas apenas nesta região..............................................................23
Figura 10: Diagrama representativo das interações observadas na região de Montana da
ReBio Tinguá. Setembro/2005 – outubro/2006. Nota: as espécies de formigas com
asterisco foram registradas apenas nesta região..............................................................24
ix
Figura 11: Índice de Diversidade de Interações adaptado do Índice de Diversidade de
Espécies (Índice de Shannon – Winner).........................................................................26
Figura 12: Índice de Diversidade de Interações adaptado do Índice de Diversidade de
Espécies (Índice de Simpson)..........................................................................................26
Figura 13: Conectância mensal registrada na ReBio Tinguá...........................................28
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Comparação da conectância entre diferentes ecossistemas. M= período de
observação (meses); F = número de espécies de formigas; P = número de espécies de
plantas; S= tamanho da rede (F x P); L= interações observadas; C= conectância..........28
Sumário
Dedicatória.......................................................................................................................iii
Agradecimentos................................................................................................................iv
Biografia............................................................................................................................v
Resumo.............................................................................................................................vi
Abstract...........................................................................................................................vii
Índice de figuras.............................................................................................................viii
Índice de tabelas................................................................................................................x
1-.Introdução......................................................................................................................1
2- Objetivos.......................................................................................................................4
3- Revisão de Literatura....................................................................................................5
3.1- Formigas e plantas, um relacionamento inevitável....................................................5
3.2- O ambiente mensurado através da conectância e de índices de diversidade biológica
...........................................................................................................................................7
4. Material e métodos......................................................................................................10
4.1- Área de Estudo.........................................................................................................10
4.2- Experimento.............................................................................................................11
4.3- Coleta, triagem, identificação e tombamento...........................................................11
4.3.1- Formigas................................................................................................................11
4.3.2- Flora......................................................................................................................12
4.4- Análise de dados .....................................................................................................15
4.4.1- Coeficientes de Similaridade.................................................................................16
4.4.2- Índices de diversidade...........................................................................................17
4.4.3- Conectância...........................................................................................................19
5. Resultados e Discussão................................................................................................20
6. Conclusões...................................................................................................................32
7. Referências Bibliográficas...........................................................................................33
8- Anexos 1 e 2................................................................................................................39
1
1- INTRODUÇÃO
Milhões de anos de evolução geraram a maior parte da diversidade de vida
existente no planeta. Entretanto, deve-se levar em consideração que as espécies não
estavam sozinhas, mas interagiram entre si. Como mostrado por FUTUYMA (1992), o
aumento da diversidade, a longo prazo, pode ser a conseqüência da exploração de um
maior número de recursos, em parte talvez porque espécies constituiriam recursos para
outras espécies. Logo, não basta apenas conhecer ou reconhecer esta ou aquela espécie,
mas trata-se do entendimento de como as espécies relacionam-se.
A biodiversidade ou a diversidade biológica tem sido o foco de estudos em
diferentes habitats ao redor do mundo. O consenso de que a biodiversidade é parte
integrante e inerente à estruturação e manutenção dos ecossistemas traz à tona novas
discussões. Se a biodiversidade é um grande mosaico de formas de vida, como estas
vidas apresentam-se no ambiente? Chega-se facilmente a conclusão de que estas ou
mesmo todas elas estão, em algum grau, relacionadas entre si e com os constituintes
ambientais.
Na perspectiva de se lançar um novo olhar sobre a diversidade biológica
THOMPSON (1996), propôs que a diversidade da vida é o resultado tanto da
diversificação das espécies quanto das interações entre elas, ou seja, biodiversidade de
espécies e biodiversidade de interações. Assim, ao se estudar não somente quem são,
mas também como estão as espécies, surgem outras informações relevantes como a
história de vida, fisiologia e morfologia dos organismos (THOMPSON, 1996), as quais
em algumas vezes podem estar relacionadas a processos co-evolutivos (FUTUYMA,
1992).
Assim, é possível avaliar agora que os mais diversificados organismos, e
certamente as interações, não estão ordenadamente distribuídos pelo planeta.
THOMPSON (1999) propôs que o resultado mais fundamental dos estudos sobre
interações dentro de comunidades naturais é que entre pares ou grupos de espécies as
interações podem diferir grandemente através da paisagem. Por outro lado, seja a
paisagem, o habitat ou todo o ecossistema estão todos passivos de serem influenciados
pelos fatores ambientais. Neste contexto, RICO-GRAY et al. (2004) apresentaram
resultados onde as interações inter-específicas variaram em suas possibilidades de
ocorrência em um gradiente ambiental, sobre diferentes regimes de perturbação, entre
habitats, além de exibir variação temporal significante.
2
Dessa forma, se por um lado a biodiversidade pode revelar informações
relevantes sobre os ecossistemas mundiais; por outro, o estudo da diversidade biológica
não é muito simples. Necessita-se, então, de um ou de um conjunto de organismos que
se apresentem aos componentes da biodiversidade como a riqueza e abundância relativa,
associado a um ou mais protocolos de coletas bem estruturados para que estes
componentes sejam bem avaliados (ROMERO & JAFFÉ,1989 e PARR & CHOWN,
2001). Pode-se elaborar agora uma segunda questão: quais são os organismos mais
representativos ou apropriados para estudos de interações da biodiversidade? Sem
dúvida, as formigas enquadram-se facilmente nestas características.
Este grupo de insetos apresenta algumas particularidades: são organismos
cosmopolitas, apresentam altas abundância e riqueza, podem influenciar a estrutura e os
processos edáficos, assim como o fluxo de energia e de materiais nos ecossistemas
(SILVA & BRANDÃO, 1999), além de apresentar boa base bibliográfica para sua
identificação taxonômica. Da mesma forma, BROWN (1997) corroborou para esta
caracterização selecionando as formigas como um dos grupos de insetos com melhor
performance para indicação e monitoramento ambientais em Floresta Atlântica.
Assim, através de suas múltiplas e importantes funções exercidas nos
ecossistemas destacadas por HÖLLDOBLER & WILSON (1990), as interações entre
formigas e vegetais receberam maior atenção da comunidade científica. Neste cenário,
estudos recentes investigaram as formigas como dispersoras de sementes (PIZO &
OLIVEIRA, 2000, 2001; PASSOS & OLIVEIRA, 2003 e LEAL, 2003a), como
herbívoros (WIRTH et al., 1997, 2002), em sistemas formigas – plantas – herbívoros
(DEL-CLARO, 2004) ou as relacionaram à complexidade da vegetação (LEAL, 2003b),
ao grau de perturbação ambiental (VASCONCELOS, 1998), além da associação dos
habitats e da paisagem às interações (URBAS, 2004).
Adicionam-se, aos estudos das interações entre formigas e plantas, as propostas
de classificação das formigas de serapilheria em guildas, caracterizando mais um passo
no entendimento de como a biodiversidade, através de suas características de
forageamento, alimentação e nidificação, podem se apresentar no ambiente (DELABIE
et al., 2000; SILVESTRE et al., 2003). Dessa forma, as informações resultantes destes
modelos são relevantes para novos entendimentos de como a biodiversidade relaciona-
se em seus habitats.
Portanto, se a biodiversidade pode ser influenciada tanto pela própria
diversidade biológica quanto por fatores ambientais, além de variar no tempo e no
3
espaço, formigas e plantas podem ser um bom modelo não só para estudos de
conservação de comunidades e ecossistemas, mas também para mensurar o que
THOMPSON (1999) denominou de “biodiversidade interativa”.
4
2- OBJETIVOS
Adaptar índices de diversidade de espécies para índices de diversidade de
interações para avaliar e monitorar variações temporais e espaciais das interações.
Visualizar redes de interações entre formigas e diásporos.
Correlacionar os índices de diversidade de interações com fatores abióticos e
conectância.
Caracterizar e conhecer espécies de formigas e vegetais mais interativas entre si.
5
3- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1- Formigas e plantas, um relacionamento inevitável.
EHRLICH & WILSON (1991) apresentaram a importância da manutenção da
biodiversidade principalmente em relação à ameaça da perda da qualidade estética do
mundo, oportunidades econômicas e serviços ecológicos vitais e a necessidade de
políticas públicas efetivas dentro da biologia da conservação. Dentro deste contexto, os
programas de conservação focavam primariamente a manutenção da diversidade de
espécies e, por conseguinte, na preservação da variação genética das populações.
Por outro lado, um novo cenário se apresentou para estudos de biodiversidade.
Para THOMPSON (1996), a história da evolução e da biodiversidade é
fundamentalmente a história da evolução das interações entre as espécies. Portanto, a
manutenção da biodiversidade ao nível de espécies pode tornar-se altamente ameaçada
caso não haja manutenção ao nível da biodiversidade de interações (THOMPSON,
1999). Para este autor espécies puramente isoladas não fazem sentido.
Neste quadro surge a necessidade de uma visão menos superficial, porém mais
recente e realista da biodiversidade, principalmente no que tange a extrema riqueza das
relações entre animais e plantas e suas variações no tempo e no espaço, e não somente
para casos específicos ou para a compreensão e solução de problemas emergenciais, por
conta de pressões públicas e políticas (EHRLICH & WILSON, 1991; DEL-CLARO,
2004; RICO-GRAY et al., 2004).
HÖLLDOLBLER & WILSON (1990) consideraram as formigas como um grupo
dominante em florestas tropicais e sua biodiversidade, através de suas interações com os
constituintes ambientais, influencia processos ecológicos essenciais nestes ecossistemas.
Estes autores aprofundaram-se nesta perspectiva e consideraram como mutualística
algumas interações entre formigas e plantas, relacionado-as a processos ecológicos
importantes para a dinâmica florestal, como a reorganização da distribuição vegetal
local.
Dessa forma, os estudos sobre interações entre formigas e plantas começaram a
tornar-se mais específicos e, de certa forma, ficou possível observar o que THOMPSON
(1999) denominou de “mosaico geográfico da produção de interações”. Corroborando
esta idéia, RICO-GRAY et al. (2004) e THOMPSON & FERNANDEZ (2006)
discutiram a importância de ser levado em consideração escalas espaciais e temporais
6
para os estudos das interações entre formigas e plantas, visto que estas variam nestes
dois parâmetros ecológicos.
Assim, cada uma das porções que compõem este grande mosaico de interações
apresenta características particulares. WIRTH et al. (1997) propuseram que formigas
cortadeiras (Myrmicinae, tribo Attini) representam um dos principais herbívoros de
florestas neotropicais ao removerem até 16% da produção primária de folhas, inclusive
modificando a disponibilidade de luz em uma floresta (WIRTH et al., 2002). LEAL &
OLIVEIRA (2000) observaram variação estacional e na utilização de material vegetal
de 53 espécies vegetais de cerrado como substrato para fungos, além de fezes e
cadáveres de insetos por formigas do grupo Attini.
Estudando as interações entre formigas, plantas e lepidópteros herbívoros em
áreas de cerrado brasileiro, OLIVEIRA & FREITAS (2004) indicaram que em sistemas
de tripla interação (formigas, plantas e lepidópteros herbívoros) as formigas podem, ao
buscarem exudados de nectários extraflorais ou de homópteros, promover severos
impactos à sobrevivência tanto das larvas, quanto dos adultos de lepidópteros, além de
terem importante participação na estruturação das comunidades de artrópodes de dossel.
Nesta mesma perspectiva, DEL-CLARO (2004) propôs que estes sistemas
triplos podem ser apontados como um bom modelo para um melhor entendimento das
interações da biodiversidade e para a manutenção de comunidades. RICO-GRAY et al.
(2004) sugeriram que interações entre formigas e nectários extra-florais podem variar
entre habitats e que esta variação está relacionada a parâmetros ambientais e à riqueza
na heterogeneidade de habitats.
Por outro lado, mas não menos importante, as interações entre formigas e
diásporos (qualquer semente, fruto ou infrutescência que constitua uma unidade vegetal
passiva ou não de dispersão) ganharam espaço no cenário da biodiversidade interativa.
PIZO & OLIVEIRA (2001) mostraram, através de testes de germinação com diásporos
que tiveram a polpa ou o arilo removidos por formigas, um aumento no sucesso de
germinação em Virola oleifera (Schott) A.C.Sm. (Myristicaceae), Cabralea canjerana
(Meliaceae), Citharexylum myrianthum Cham. (Verbenaceae) e Alchornea glandulosa
(Euphorbiaceae), em uma região de Mata Atlântica no sul do Estado de São Paulo.
PASSOS & OLIVEIRA (2003) verificaram aumento germinativo em Alchornea
triplinervia (Spreng.) Müll. Arg. (Euphorbiaceae), Myrcia bicarinata (O. Berg) D.
Legrand, e M. rostrata DC (Myrtaceae), Ocotea pulchella Mart. (Lauraceae), Schinus
terebinthifolius Raddi (Anacardiaceae), Siphoneugenia guilfoyleiana C. Proença
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(Myrtaceae), Ternstroemia brasiliensis Cambess. (Theaceae), ao terem a polpa ou o
arilo removidos por formigas em área de restinga.
LEAL (2003a) demonstrou a grande relevância das relações entre as formigas e
as espécies vegetais mais abundantes da caatinga brasileira, representadas pelas famílias
Euphorbiaceae, Cactaceae e Anacardiaceae, no que tange a dispersão e a diversidade de
paisagem. SOUZA et al. (2005) compararam as interações entre formigas e diásporos de
Ricinus communis L. (Euphorbiaceae) em plantações de Eucaliptus urophylla
(Myrtaceae) e em remanescentes de Mata Atlântica da baixada fluminense.
3.2- O ambiente mensurado através da conectância e de índices de
diversidade biológica.
A biodiversidade tem recebido maior atenção a partir da segunda metade do
último século. Neste contexto, os pesquisadores têm buscado várias unidades de estudo,
incluindo comunidades ecológicas, classificação cladística, composição hierárquica de
diferentes níveis de organização, além de grupos de espécies taxonomicamente
relacionados (DEL-CLARO, 2004). MATOS et al. (1999) definiram diversidade como
uma organização biológica que vai do nível molecular ao global; além de ser passiva de
mensurações em seus diferentes níveis de complexidade, ou seja, diversidade genética,
de espécies ou de ecossistemas.
Apesar da preocupação dos pesquisadores, o estudo da biodiversidade não é
muito simples. É necessário levar em consideração dois componentes principais: a
variedade e a abundância relativa das espécies (MAGURRAN, 1988). LONGINO et al.
(2002) apresentaram a riqueza de espécies como uma característica importante da
estrutura de comunidades e GASTON (1996) a sugeriu como indicador fundamental
para estudo e avaliação da biodiversidade.
MAGURRAN (1988), apresentou o Índice de Simpson como um índice que leva
em consideração a riqueza e a abundância relativa das espécies; entretanto mostrou sua
maior sensibilidade à abundância e insensibilidade à riqueza de espécies. ODUM (1988)
exemplificou o Índice de Simpson mostrando a concentração da dominância em poucas
espécies. Para MATOS et al. (1999) quanto maior o valor do Índice de Simpson, maior
a dominância em uma ou poucas espécies.
Portanto, na perspectiva de mensurar a diversidade de uma determinada área, são
indicados índices que consideram a uniformidade (ou abundância relativa) e a riqueza
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de espécies. Assim, estes índices são denominados como heterogêneos
(MAGURRAN,1988).
Dessa forma, derivado de sistemas informatizados onde era possível avaliar a
complexidade e o conteúdo informático de todos os tipos de sistema (ODUM, 1988), o
Índice de Shannon, ou ainda, o Índice de Shannon-Wiener é o índice de diversidade
mais conhecido, aceito e utilizado, que analisa ambos os parâmetros (abundância e
riqueza de espécies).
Segundo MAGURRAN (1988), este Índice “assume que os indivíduos são
amostrados aleatoriamente em uma população indefinidamente grande ou também pode
assumir que todas as espécies estão representadas na amostra”. Assim, a autora o
considerou como índice com base na abundância proporcional das espécies, o qual
torna-se uma alternativa para mensurações da diversidade que vão desde habitats até
ecossistemas.
Por outro lado, não é tão simples caracterizar como as comunidades relacionam-
se em um determinado habitat. Para tanto, a conectância, definida como a “proporção ou
porcentagem entre todas as interações possíveis e aquelas realmente observadas dentro
de um sistema (teia ou rede alimentar)”, foi utilizada por MARTINEZ (1991) e
MELIÁN & BACOMPTE (2004) para a avaliação destas relações.
Assim, a aplicação do modelo de conectância para insetos sociais foi bem
elaborado por BIESMEIJER et al. (2005), que relacionaram abelhas sociais e plantas de
diferentes ecossistemas como Cerrado, Caatinga, dunas e Mata Atlântica; observando
que a conectância foi influenciada pelo habitat. MURTAUGH & KOLLATH (1997)
investigaram as associações tróficas e conectância com o número de espécies de uma
rede alimentar, sugerindo que pode ser difícil identificar leis que governem as
propriedades de redes alimentares. Entretanto, estes autores não apresentaram estudos
que relacionassem o grau de conectância entre as comunidades de formigas e vegetais.
9
4- MATERIAL E MÉTODOS
4.1- Área de Estudo
As amostragens foram feitas na Reserva Biológica do Tinguá, localizada na
Serra do Mar, no Rio de Janeiro (22º 28’ – 22º 39’ S / 43º 13’ - 43º 34’ W), ocupando
parte dos municípios de Duque de Caxias, Petrópolis, Miguel Pereira e Nova Iguaçu,
onde se encontra sua maior área de abrangência. Totaliza uma área de aproximadamente
26.000 ha, com altitude máxima de 1.600 m (figura 1). O clima da micro-região da
ReBio Tinguá enquadra-se como Am (KOEPPEN, 1948), tropical úmido. Sendo
dezembro a março o período mais quente (29.8 ºC a 30.7 ºC) e maio a julho o mais frios
(22,8 ºC a 25,2 ºC) com precipitação anual média de 2.099,3 mm (IBAMA, 1996).
A cobertura vegetal da ReBio Tinguá está classificada como Floresta Ombrófila
Densa (IBGE, 1993). As coletas foram feitas em altitudes que variaram de acordo com
as formações vegetais de Floresta Submontana (de 50 a 500 m) e Montana (de 500 a
1.300 m) conforme VELOSO et al. (1991).
Unidades Conservação do Estado do Rio de Janeiro
Figura 1: Área de abrangência da Reserva Biológica do Tinguá, Rio de Janeiro.
10
4.2- Experimento
Para a realização dos experimentos foram realizadas expedições mensais durante
12 meses, de setembro/2005 a agosto/2006, com duração de dois dias de observações
por expedição. Foram adotados os métodos de PIZO & OLIVEIRA (2000) e LEAL
(2003a) para descrever as relações entre formigas e diásporos, os quais foram de fácil
obtenção na flora da ReBio Tinguá.
Assim, foram estabelecidos, em dois ambientes distintos da ReBio Tinguá
(situados nas regiões Submontana e Montana), dois transectos de 1 Km cada, sendo um
transecto para cada ambiente (figuras 2 e 3). Ao se encontrar indivíduos frutificando,
foram observadas as interações entre formigas e diásporos através de uma estação de
observação que consistiu em um pedaço de papel filtro (6 x 6 cm) onde os diásporos
foram colocados, facilitando a visualização das formigas (figura 4). Registrou-se ainda,
os seguintes parâmetros: (1) as espécies envolvidas (vegetal e animal) e (2) o
comportamento das formigas em relação ao diásporo.
4.3- Coleta, Triagem, Identificação e Tombamento.
4.3.1- Formigas
Os espécimes de formigas coletados nas estações de observações, através de
coleta manual com auxílio de pinças entomológicas, foram armazenados em potes
rotulados contendo álcool 70% e levados para o laboratório de Mirmecologia - IB –
UFRRJ. Após triagem, os gêneros de formigas foram identificados com base na chave
de BOLTON (1994) e as espécies foram identificadas, quando possível, pelas chaves
contidas em revisões taxonômicas. Foi adotada, ainda, a nova proposta de classificação
de subfamílias, conforme BOLTON (2003). De cada espécie capturada foram montados
espécimes em via seca que foram depositados na Coleção Entomológica Costa Lima
(CECL) do Instituto de Biologia da UFRRJ. Duplicatas dos espécimes coletados foram
guardados em álcool a 70% devidamente rotulados armazenados no Laboratório de
Mirmecologia – IB – UFRRJ.
11
4.3.2- Flora
Foram coletadas partes vegetativas e, quando possível, reprodutivas das espécies
vegetais utilizadas para os experimentos de interação, visando a identificação do
material. Assim, os espécimes vegetais estudados no presente trabalho foram
identificados com o auxílio do Herbário da UFRRJ e dos dados obtidos através do
“Relatório Técnico-Científico – Paisagem e Flora da Reserva Biológica do Tinguá:
subsídios ao monitoramento da vegetação”, elaborado pelo Departamento de Botânica
da UFRRJ em parceria com o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Os espécimes foram
depositados no Herbário da UFRRJ.
Figura 2: Vista parcial do transecto instalado na Região Submontana (50 ~ 500m) da ReBio Tinguá. Outubro/2005.
12
Figura 3: Vista parcial do transecto instalado na Região de Montana (500 ~ 1.300 m) da ReBio Tinguá. Outubro/2005.
13
Figura 4: Interação entre Megalomyrmex sp 1 (Myrmicinae) e Ingá sp 1 (Leguminosa – Mimosoideae), na Região de Submontana da ReBio Tinguá. A - Visão geral da estação de observação; B - Utilização do elaiossomo (estrutura externa nutritiva para formigas, normalmente rica em lipídeos e glicídios conforme PIZO & OLIVEIRA (2001).
A
B
14
4.4- Análise de Dados
Foram registrados os seguintes dados abióticos:
1- a luminosidade através de luxímetro exposto a um metro de altura das
estações de observação;
2- a profundidade de serapilheira utilizou-se régua graduada em milímetros;
3- a temperatura e a umidade do solo foram registradas através de
termohigrometro onde o sensor permaneceu por cinco minutos enterrado no solo
próximo as estações de observações.
Assim, os dados abióticos citados acima juntamente com a conectância e o
índice de diversidade de interações sofreram análise de correlação e Teste t de Student
com auxílio do programa Systat® versão 8.0. Os dados sofreram transformações (ou
seja, dados em porcentagens ou proporções foram transformados em arcocoseno) para
adequação às características da estatística paramétrica.
4.4.1- Coeficientes de Similaridade
No intuito de investigar o quão similares eram os locais observados em relação à
fauna de formigas, foram utilizados os Coeficientes de Jaccard e Sorenson. Por serem
largamente usados e pela sua simplicidade (visto que utilizam apenas a presença ou a
ausência das espécies) é possível acessar rapidamente informação sobre diversidade
beta. (MAGURRAN, 1988).
Coeficiente de Jaccard
Cj = N / (A + B – N)
Coeficiente de Sorenson
Cs = 2N / (A + B)
Onde:
N= número de espécies registradas nos locais 1 e 2.
A= número de espécies registradas no local 1.
B= número de espécies registradas no local 2.
15
4.4.2- Índices de Diversidade
Como base para mensuração da diversidade biológica foi utilizado o Índice de
Diversidade de Shanonn-Wiener, devido sua característica ao analisar a relação entre a
dominância e o número de indivíduos presentes no universo amostral, conforme a
equação:
Para a análise dos dados propriamente dita, foi utilizado o Índice de Diversidade
de Interações (IDI), ou seja, a partir da necessidade de mensurar a biodiversidade
interativa foi realizada uma adaptação do Índice de Shanonn–Wiener, com a finalidade
de acompanhar e avaliar as variações espaciais e temporais das interações em cada
habitat, conforme a equação abaixo:
H’ = - ∑ pi ln pi
Onde:
pi = ni / N
Onde:
ni = número de indivíduos por espécie.
N = número de indivíduos total.
Ha = - ∑ pa ln pa
Onde:
pa = na / N
Onde:
na = número da freqüência de interações em relação aos eventos de frutificação.
N = número de interações totais.
16
Foi adaptado ainda o Índice de Simpson, o qual também é considerado um
índice heterogêneo, entretanto, mais sensível à abundância do que à riqueza de espécies
(MAGURRAN, 1988; ODUM, 1988), conforme a equação:
Corroborando para análise da diversidade de interações, o Índice de Diversidade
de Simpson (1/D) para comunidades infinitas foi selecionado uma vez que as
comunidades estudadas representam porções de um todo maior. Logo a equação
representa:
D” = 1/D
Onde:
D = Σ pi2
Onde:
pi = ni / N
Onde:
ni = número de indivíduos de uma dada espécie.
N = número total de indivíduos.
Da = 1/D
Onde:
D = Σ pi2
Onde:
pi = na/N
Onde:
na = número da freqüência de interações em relação aos eventos de frutificação.
N = número de interações totais.
17
4.4.3- Conectância
Para o cálculo de conectância utilizou-se as interações obtidas nos dois locais de
estudo, regiões de Submontana e Montana da ReBio Tinguá. Assim, caracteriza-se
como a relação, ou seja, a proporção entre todas a interações possíveis (calculada pela
multiplicação entre o número final de espécies de formigas e de plantas registradas
neste estudo) e daquelas que foram realmente registradas no período de observação (12
meses), de acordo com MARTINEZ, (1991) e MELIÁN & BACOMPTE (2004),
conforme equação abaixo:
Para a análise, L é o número de relações observadas em uma rede ou teia e S é o
número máximo de relações possíveis desta rede, excluindo canibalismo e predação
mútua (MARTINEZ, 1991; BIESMEIJER et al., 2005).
C = 100 (L / S)
18
5- RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletadas 60 espécies de formigas utilizando diásporos (anexos 1 e 2),
sendo 14 exclusivas para o local 1 (Submontana) e sete para o local 2 (Montana) e 39
comuns aos dois locais. De um total de 53 espécies coletadas no local 1 e 46 espécies no
local 2, Myrmicinae apresentou maior número de espécies (34 e 21, respectivamente),
seguida das subfamílias Ponerinae (seis e cinco), Formicinae (cinco e seis),
Ectatomminae (quatro e três), Dolichoderinae (dois e um) e Cerapachyinae (apenas um
para o local 1)
De fato, a subfamília Myrmicinae é a mais diversificada dentro dos Formicidae,
seguida por Ponerinae, Formicinae, Dolichoderinae, Pseudomyrmecinae e Ecitoninae,
sendo as duas últimas não registradas no presente trabalho (HÖLLDOBLER &
WILSON 1990, BOLTON, 1994).
Foram identificadas 22 espécies de plantas, sendo quatro registros comuns aos
dois locais, 10 para o local 1 e oito para o local 2. Myrtaceae apresentou dois gêneros
para cada local. Lauraceae apresentou um gênero para o local 1 e dois gêneros para o
local 2, seguida de Sapindaceae (dois e um gêneros, respectivamente), Monimiaceae
(um gênero para cada local) e Moraceae (mesma espécie para os dois locais).
A família Leguminosa apresentou dois gêneros para o local 1 seguida de,
Anacardiaceae, Anonaceae, Bignoniaceae, Lacistemataceae e Sapotaceae que
apresentaram apenas um gênero. Arecaceae apresentou dois gêneros seguida de
Apocynaceae, Malpighiaceae e Myristicaceae as quais apresentaram um gênero cada
para o local 2.
Comparativamente a este trabalho, LEAL (2003a) também registrou interações
entre formigas e diásporos representantes das famílias Anonaceae, Apocynaceae,
Anacardiaceae e Euphorbiaceae, as duas últimas muito abundantes na caatinga
brasileira. Já PIZO & OLIVEIRA (2000) registraram representantes das famílias
Anonaceae, Euphorbiaceae, Lauraceae, Leguminosa, Moraceae, Sapindaceae,
Myrtaceae (mais freqüente) e Myristicaceae interagindo com formigas na Mata
Atlântica. PASSOS & OLIVEIRA (2003) registraram 40 gêneros de 26 famílias
vegetais onde as interações entre formigas e diásporos de Myrtaceae e Rubiaceae foram
mais representadas em ecossistema de restinga da costa de São Paulo.
A análise de fatores abióticos realizados neste trabalho mostrou que a região de
Submontana (local 1) apresentou maiores valores de profundidade de serapilheira e
19
umidade relativa do solo (figuras 5 e 6), enquanto que a região de Montana (local 2)
apresentou maiores valores de temperatura do solo e luminosidades (figuras 7 e 8). Por
outro lado, a análise revelou diferença significativa para as variáveis: profundidade de
serapilheira e umidade relativa do solo (Teste t; p<0,05), marginalmente para
temperatura do solo (p=0,069) e sem diferença para luminosidade (p>0,05). Estes
resultados corroboram a caracterização realizada por VELOSO et al. (1991) para
Floresta Ombrófila Densa, onde os autores descreveram quatro formações vegetais
distintas (Campos de altitude, Alto – Montana, Montana e Submontana) com base em
fatores abióticos e na presença ou na ausência de espécies vegetais mais abundantes
nestas formações.
Entretanto, ao comparar os dois locais observados através da formicifauna
coletada, foi encontrada 65% de similaridade pelo Índice de Jaccard e 78,8% pelo
Índice de Sorensen. Esta pequena discrepância entre os índices pode estar relacionada
ao maior peso dado às espécies comuns pelo Índice de Sorenson. Assim, a similaridade
da comunidade de formigas pode estar relacionada às próprias características deste
grupo de insetos como riqueza de espécies, hábitos generalistas e altas distribuição e
abundância local (SILVA & BRANDÃO, 1999). Associado ainda, a possibilidade de
um maior número de nichos ecológicos presentes e as características inerentes a
serapilheira de áreas de Floresta Ombrófila Densa.
20
0
0,25
0,5
0,75
1
1,25
1,5
1,75
2
2,25
set out nov dez jan fev mar abr maio jun jul ago
meses (2005-2006)
Prof
undi
dade
de
sera
pilh
eira
- cm
local 1 submontana
local 2 montana
Figura 5: Profundidade de serapilheira (cm) comparada em regiões Submontana e Montana da ReBio Tinguá, RJ.
40
50,15
60,3
70,45
80,6
90,75
set out nov dez jan fev mar abr maio jun jul ago
meses (2005-2006)
Um
idad
e R
elat
iva
do s
olo
- %
local 1 submontana
local 2 montana
Figura 6: Umidade Relativa do solo (%) comparada em regiões Submontana e Montana da ReBio Tinguá, RJ.
21
20
21
22
23
24
25
26
27
set out nov dez jan fev mar abr maio jun jul ago
meses (2005-2006)
Tem
pera
tura
do
solo
- ºC
local 1 submontana
local 2 montana
Figura 7: Temperatura do solo (ºC) comparada em regiões Submontana e Montana da ReBio Tinguá, RJ.
400
515
630
745
860
975
1090
1205
set out nov dez jan fev mar abr maio jun jul ago
meses ( 2 0 0 5- 2 0 0 6 )
local 1 submontanalocal 2 montana
Figura 8: Luminosidade (lux – x 10) comparada em regiões Submontana e Montana da ReBio Tinguá, RJ.
22
Foi registrado o total de 460 interações entre formigas e diásporos. Deste total,
242 e 218 interações formaram aproximadamente 66% e 61% de interações não
repetidas para os locais 1 e 2 , respectivamente. Dois gêneros mostraram-se interativos
com todas as espécies vegetais registradas e foram bem representados neste estudo. O
gênero Pheidole foi mais interativo, com total de 73 e 64 interações, sendo 64,4% e
59,4% de interações não repetidas para os locais 1 e 2. Seguido do gênero Solenopsis,
com 61 e 53 interações totais, sendo 59% e 51% de interações não repetidas (figuras 9 e
10). WILSON (1976) os considerou, juntamente com os gêneros Camponotus e
Crematogaster (também amostrados), mundialmente prevalentes, devido a: diversidade
de espécies, extensão da distribuição geográfica, diversidade de adaptações e
abundância local.
A tribo Attini foi representada com menor número de registro quando
comparada as tribos Pheidolini e Solenopsidini. O gênero Sericomyrmex apresentou 16
e 15 interações totais para os locais 1 e 2 respectivamente, seguido de Acromyrmex
(nove e dez), Trachymyrmex (seis e três), Micocepurus (uma em cada local) e
Apterostigma (apenas um registro no local 2). Outros gêneros bem representados foram
Brachymyrmex (17 e 14) e Wasmannia (13 e 20) (figuras 9 e 10).
PIZO & OLIVEIRA (2000) ao estudarem o uso de diásporos por formigas,
também apresentaram registros significativos para Pheidole e Solenopsis os quais
somaram 64,1% das interações. Neste mesmo ecossistema, PIZO & OLIVEIRA (2001),
ao avaliarem tamanho e conteúdo lipídico de espécies não-mirmecocórica da Mata
Atlântica, apresentaram registros significativos para interações com os gêneros Pheidole
e Solenopsis, mas não tão significativo para Crematogaster.
PASSOS & OLIVEIRA (2004) ao estudarem as relações entre Guapira opposita
(Vell.) Reitz (Nyctaginaceae) e formigas em área de restinga na costa sul de São Paulo,
encontraram significativas porcentagens de interações para Odontomachus chelifer e
Pachycondila striata (27,8% cada), entretanto, também foi registrada porcentagem
significativa para a subfamília Myrmicinae, principalmente, para o gênero Pheidole
(16,6%), seguido de Acromyrmex (11,1%), mas por outro lado, porcentagem não
significativa para Solenopsis (2,8%). Já para a flora da caatinga, LEAL (2003a),
registrou 34,8% de interações para o gênero Pheidole seguido dos gêneros Dorymyrmex
(14%), Solenopsis (13,4%) e menos expressivo para a tribo Attini visto que o total dos
gêneros desta tribo somaram 13,4%. PASSOS & OLIVEIRA (2003) registraram as
interações entre formigas e espécies vegetais de restinga do sudeste brasileiro.
23
Pachycondyla striata apresentou 25,9% das interações, seguida do gênero Pheidole
(22,24%), Solenopsis (12,27%), Acromyrmex (11,74%) e Odontomachus (10%).
Caracteristicamente, foi observado neste estudo que pequenos mirmicíneos
(gêneros Pheidole e Solenopsis) promoveram grande recrutamento de indivíduos para o
diásporo onde a polpa ou o arilo foram consumidos no local. Este comportamento foi
relacionado à redução do ataque por fungos e ao aumento do sucesso de germinação de
algumas espécies vegetais em diferentes ecossistemas (LEAL & OLIVEIRA 1998,
PIZO & OLIVEIRA 1998 PASSOS & OLIVEIRA, 2003). Da mesma forma, PASSOS
& OLIVEIRA (2002) mostraram que alguns mirmicíneos (principalmente o gênero
Pheidole), por serem granívoros, podem remover os diásporos após a retirada da polpa
ou do arilo. LEVEY & BYRNE (1993) sugeriram que este comportamento contribui
positivamente para a biologia da semente.
Por outro lado, PASSOS & OLIVEIRA (2002, 2003) e PIZO & OLIVERIA
(1998, 2000) mostraram a importância de poneríneos (Odontomachus e Pachycondyla)
como vetores de sementes no solo florestas tropicais. Entretanto, este grupo, apesar de
presente, representa apenas 4,4% de todas as interações observadas neste estudo.
Os registros realizados neste trabalho para os gêneros de formigas do grupo
Attini, comparativamente a todos os outros gêneros registrados, não se apresentaram
com um grupo expressivo nas interações entre formigas e diásporos para a flora da
ReBio Tinguá, corroborando os resultados de PASSOS & OLIVEIRA (2002) e PIZO &
OLIVEIRA (2000, 2001). Entretanto, este grupo tem importância e expressividade em
ecossistemas mais áridos, conforme LEAL & OLIVEIRA (1998, 2000). Assim, as
diferenças e as semelhanças observadas em relação ao maior ou ao menor registro de
um dado gênero ou mesmo de uma dada interação, nos ecossistemas estudados acima,
podem estar relacionadas ou influenciadas a padrões de adaptação, variação e
organização das comunidades avaliadas (RICO-GRAY et al., 2004).
24
Subfamilia
Cerapachynae
Tribo Cylindromyrmecini
Cylindromyrmex sp 1*
Linepithema sp 1 Subfamilia Dolichoderinae
Tribo Dolichoderini
Linepithema sp 2*
Ectatomma edentatum Roger, 1863
Ectatomma permagnun Forel, 1908
Gnamptogenys sp 1
Subfamilia Ectatomminae
Tribo Ectatommini
Gnamptogenys sp 2*
Brachymyrmex sp 1
Brachymyrmex sp 2
Brachymyrmex sp 3*
Brachymyrmex sp 4
Subfamilia Formicinae
Tribo Plagiolepidini
Paratrechyna sp 1
Acromyrmex aspersus (F. Smith, 1858)
Acromyrmex subterraneus brunneus Forel, 1911
Acromyrmex niger (Fr. Smith, 1858)
Cyphomyrmex (gr rimosus)*
Mycocepurus sp 1*
Sericomyrmex sp 1
Sericomyrmex sp 3*
Sericomyrmex sp 4
Trachymyrmex (gr. Cornetzi)
Trachymyrmex oetkeri Forel, 1908*
Trachymyrmex sp 1
Tribo Attini
Trachymyrmex sp 2* Tribo Blepharidattini Wasmannia sp 1
Crematogaster sp 1 Tribo Crematogastrini
Crematogaster sp 2* Tribo Dacetini Strumigenys sp 1
Pheidole (gr scrobifera)*
Pheidole sp 1
Pheidole sp 2
Pheidole sp 3
Pheidole sp 4
Pheidole sp 5
Pheidole sp 6
Pheidole sp 7*
Pheidole sp 8
Pheidole sp 9
Tribo Pheidolini
Pheidole sp 10
Megalonmymex sp 1
Carebara urichi (Wheeler, 1922)
Solenopsis sp 1
Solenopsis sp 2
Solenopsis sp 3*
Solenopsis sp 4
Solenopsis sp 5
Subfamilia Myrmicinae
Tribo Solenopsidini
Solenopsis sp 6
Odontomachus chelifer (Latreille 1802)*
Odontomachus meinerti Forel 1905
Pachycondyla apicalis (Latreille 1802) Pachycondyla harpax (Fabricius 1804)*
Pachycondyla sp 1
Subfamilia Ponerinae
Tribo Ponerini
Pachycondyla sp 2
Anacardiaceae
Spondias venulosa Mart. ex Engl.
Anonaceae Rollinia sp
Bignoniaceae Tabebuia sp
Lacistemaceae
Lacistema pubescens Mart.
Lauraceae Nectandra membranacea (Swartz) Griseb
Leguminosae-Mimosoideae
Inga sp 1
Leguminosae cambuí
Monimiaceae Siparuna sp 1
Moraceae Ficus sp 1
Myrtaceae
Gomidesia spectabilis (D.C.) O. Berg
Myrtaceae Myrceugenia sp
Sapindaceae
Cupania oblongifolia Mart.
Sapindaceae Cupania sp
Sapotaceae
Pouteria torta (Mart.) Radlk.
Figura 9: Diagrama representativo das interações observadas na região de Submontana da ReBio Tinguá. Setembro/2005 – outubro/2006. Nota: as espécies de formigas com asterisco foram registradas apenas nesta região. A cor vermelha indica as espécies mais interativas.
Freqüência de interações em relação aos eventos de frutificação
1
2
3
4
5
Espécies Vegetais
25
Subfamília Dolichoderinae
Tribo Dolichoderini
Linepithema sp 1
Ectatomma edentatum Roger, 1863
Ectatomma permagnun Forel, 1908
Subfamília Ectatomminae
Tribo Ectatommini
Gnamptogenys sp 1
Camponotus seriseiventris Guérin-Méneville, 1838* Tribo Camponotini
Camponotus sp 2*
Brachymyrmex sp 1
Brachymyrmex sp 2
Brachymyrmex sp 4
Subfamília Formicinae
Tribo Plagiolepidini
Paratrechyna sp 1
Acromyrmex aspersus (F. Smith, 1858)
Acromyrmex subterraneus brunneus Forel, 1911
Acromyrmex niger (Fr. Smith, 1858)
Apterostigma sp 1*
Cyphomyrmex (gr striatus)*
Mycocepurus smithi Forel, 1893*
Sericomyrmex sp 1
Sericomyrmex sp 4
Trachymyrmex (gr. Cornetzi)
Tribo Attini
Trachymyrmex sp 1 Tribo Blepharidattini Wasmannia sp 1 Tribo Crematogastrini Crematogaster sp 1 Tribo Dacetini Strumigenys sp 1
Pheidole sp 1
Pheidole sp 2
Pheidole sp 3
Pheidole sp 4
Pheidole sp 5
Pheidole sp 6
Pheidole sp 8
Pheidole sp 9
Tribo Pheidolini
Pheidole sp 10
Megalonmymex sp 1
Carebara urichi (Wheeler, 1922)
Solenopsis sp 1
Solenopsis sp 2
Solenopsis sp 3
Solenopsis sp 4
Solenopsis sp 5
Solenopsis sp 6
Subfamilia Myrmicinae
Tribo Solenopsidini
Solenopsis sp 7*
Odontomachus meinerti Forel, 1905 Pachycondyla apicalis (Latreille 1802)
Pachycondyla venusta Forel, 1912.*
Pachycondyla sp 1
Subfamília Ponerinae
Tribo Ponerini
Pachycondyla sp 2
Apocynaceae
Peschiera sp 1
Arecaceae (Palmae) Astrocaryum aculeatissimun (Schott) Burret
Arecaceae (Palmae) Euterpes edulis Mart.
Lauraceae
Nectandra membranacea (Swartz) Griseb
Lauraceae Ocotea sp
Malpighiaceae
Byrsonima laxiflora Griseb 1839
Monimiaceae Mollinedia sp
Moraceae
Ficus sp 1
Myristicaceae Virola oleifera (Schott) A. C. Sm.
Myrtaceae
Gomidesia spectabilis (D.C.) O. Berg
Myrtaceae Myrceugenia sp
Sapindaceae
Cupania racemosa (Vell.) Radlk
Freqüência de interações em relação aos eventos de frutificação
1
2
3
4
5
Figura 10: Diagrama representativo das interações observadas na região de Montana da ReBio Tinguá. Setembro/2005 – outubro/2006. Nota: as espécies de formigas com asterisco foram registradas apenas nesta região. A cor vermelha indica as espécies mais interativas.
Espécies de Formigas
EspéciesVegetais
26
A aplicação do índice de diversidade de interações não apresentou diferenças
estacionais e espaciais significativas neste trabalho. Entretanto, VARGAS et al. (2007),
ao aplicar o índice de diversidade de espécies, observaram diferenças significativas
entre verão e inverno e entre duas fisionomias vegetais distintas para a restinga
fluminense. Semelhantemente, LEAL (2003b) relacionou a diversidade de formigas à
complexidade vegetacional da caatinga. Da mesma forma que os autores citados
utilizaram o índice de diversidade de espécies para objetivos diferentes, a adaptação
para índice de diversidade de interação permitiu novas possibilidades no estudo das
interações inter-específicas, fornecendo novas ferramentas para elaboração de
estratégias para a manutenção de comunidades viáveis (OLIVEIRA & DEL-CLARO,
2005).
Assim, os aumentos e as quedas nos índices de diversidade de interações (Índice
de Shannon–Winner e de Simpson adaptados) estão intimamente relacionadas à
abundância relativa dos eventos de frutificação, os quais foram bem diferenciados em
cada um dos meses de observação no período de amostragem (figuras 11 e 12), além de
ser um dos parâmetros utilizados para o cálculo dos mesmos. Logo, quanto mais ou
menos fontes de recursos, tão mais ou menos diversas foram as interações. Estes
resultados corroboram a teoria de que interações entre formigas e plantas variam em
suas probabilidades de ocorrência ao longo de um gradiente ambiental, sobre diferentes
regimes de perturbação e através de escala temporal (DEL-CLARO, 2004; RICO-
GRAY et al., 2004). Assim, as variações das interações, tanto no mesmo quanto entre
locais, seguiram estas duas dimensões relevantes para estudos de interações
interespecíficas, além de mensurar o que THOMPSON (1999) denominou de
“biodiversidade interativa”.
27
0,8
0,91
1,02
1,13
1,24
1,35
1,46
set
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Figura 11: Índice de Diversidade de Interações adaptado do Índice de Diversidade de Espécies (Índice de Shannon – Winner).
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Figura 12: Índice de Diversidade de Interações adaptado do Índice de Diversidade de Espécies. (Índice de Simpson).
28
Não houve correlação para as variáveis ambientais, a diversidade de interações e
a conectância (p>0,05). Assim, apesar dos valores de conectância mensais não
mostrarem um padrão (figura 13), ao analisar a conectância geral (obtida nos 12 meses
de observação na ReBio Tinguá) o nível de conectância encontrado (C=20,4%, tabela 1)
equivale a metade da conectância encontrada a partir do resultados de PIZO &
OLIVERIA (2000) em seus 24 meses de observação, também em ecossistema de Mata
Atlântica.Vale ressaltar que, no trabalho de PIZO & OLIVERIA (2000), para fins de
cálculo e sistematização da análise de conectância, foram excluídas cinco espécies de
formigas e 12 espécies de plantas que foram coletadas aleatoriamente e não no
transecto.
Por outro lado, ao analisar os resultados de PASSO & OLIVERIA (2003), a
conectância para área de restinga apresenta nível intermediário, levando-se em
consideração os 24 meses de observações e a estrutura vegetacional deste ecossistema.
Ao analisar os resultados de LEAL (2003a), encontrou-se conectância
comparativamente maior para as interações entre formigas e diásporos vegetais nos
cinco meses observados (tabela 1). Provavelmente, por se tratar de ecossistema de
Caatinga, os recursos podem ser mais escassos e por isso, as espécies estarem mais
interligadas do que em ambiente onde há maiores períodos de disponibilidade e fontes
de recursos. Estes resultados corroboram os de BIESMEIJER et al. (2005), que também
encontraram níveis altos de conectância para áreas mais secas. Entretanto, estes autores
utilizaram meta-análise (ou seja, uma análise estatística a partir dos resultados de vários
trabalhos com metodologia muito semelhantes) e não experimentação para as interações
entre abelhas sociais e plantas, o que comparativamente às interações entre formigas e
diásporos, mostraram níveis de conectância mais baixos para ecossistemas de floresta
tropical, levando-se em consideração que abelhas, como as formigas, também são
consideradas generalistas.
29
Tabela 1: Comparação da conectância entre diferentes ecossistemas. M= período de observação (meses); F = número de espécies de formigas; P = número de espécies de plantas; S= tamanho da rede (F x P); L= interações observadas; C= conectância;
Estudo Habitat M F P S L C Presente trabalho Floresta ombrófila densa 12 60 22 1320 272 20.6
PASSOS & OLIVEIRA (2003) Restinga 24 48 44 2112 562 26.6 LEAL (2002) Caatinga 5 18 27 486 164 33.75
PIZO & OLIVEIRA (2000) Floresta ombrófila densa 24 55 36 1980 781 39.44
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jun jul
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meses (2005-2006)
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local 1 submontanalocal 2 montana
Figura 13: Conectância mensal registrada na ReBio Tinguá.
30
5- CONCLUSÕES
O número de registros de espécies de formigas e de plantas variou de acordo
com a área de Submontana ou de Montana observadas.
As regiões Submontana e Montana foram muito similares quando se utilizou a
formicifauna como parâmetro para análise de similaridade entre estes dois locais.
Locais mais úmidos e com maior profundidade de serapilheira promoveram
maiores possibilidades de interações.
Não houve diferença estacional quando aplicados os índices de diversidade de
interações para formigas e plantas da ReBio Tinguá.
As interações entre formigas e diásporos promovem valores de conectância
relativamente mais altos quando comparado a interações entre os outros insetos sociais,
no caso abelhas sociais, e plantas.
A conectância variou de acordo com o ecossistema, o habitat, o espaço e o
tempo observados.
31
6- REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS
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37
ANEXOS
Anexo 1: Registro da freqüência das interações entre formigas e plantas da região Submontana da ReBioTinguá – de setembro/2005 – outubro/2006. Nota: as espécies de formigas com asterisco foram registradas apenas nesta região.
Anexo 2: Registro da freqüência das interações entre formigas e plantas da região Montana da ReBioTinguá – de setembro/2005 – outubro/2006. Nota: as espécies de formigas com asterisco foram registradas apenas nesta região.
1
Anexo 1: Registro da freqüência das interações entre formigas e plantas da região Submontana da ReBioTinguá – de setembro/2005 – outubro/2006. Nota: as espécies de formigas com asterisco foram registradas apenas nesta região.
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1 Acromyrmex aspersus (F. Smith, 1858) 1 1
2 Acromyrmex niger (Fr. Smith, 1858) 2 1 1 4
3 Acromyrmex subterraneus brunneus Forel, 1911 1 2 1 4
4 Brachymyrmex sp 1 1 3 1 1 2 8
5 Brachymyrmex sp 2 1 1
6 Brachymyrmex sp 3* 1 1 2
7 Brachymyrmex sp 4 1 2 1 2 6
8 Crematogaster sp 1 1 1
9 Crematogaster sp 2* 2 2
10 Cylindromyrmex sp 1* 1 1
11 Cyphomyrmex (gr rimosus)* 1 1
12 Ectatomma edentatum Roger, 1863 1 1
13 Ectatomma permagnun Forel, 1908 1 2 1 1 1 6
14 Gnamptogenys sp 1 1 2 3
15 Gnamptogenys sp 2* 1 1
16 Linepithema sp 1 1 1 2
17 Linepithema sp 2* 1 1
18 Megalonmymex sp 1 1 1 2 1 2 7
19 Mycocepurus sp 1 (conferir)* 1 1
20 Odontomachus chelifer (Latreille 1802) * 2 2
21 Odontomachus meinerti Forel 1905 1 1
22 Oligomyrmex ou carebara 1 2 3
23 Pachycondyla apicalis (Latreille 1802) 1 1
24 Pachycondyla harpax (Fabricius 1804)* 1 1
25 Pachycondyla sp 1 2 2 1 2 1 8
26 Pachycondyla sp 2 1 1
27 Paratrechyna sp 1 2 2 continua
39
2
Anexo 1: continuação.
continuação
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28 Pheidole (gr scrobifera)* 1 1
29 Pheidole sp 1 2 2 1 3 2 1 2 2 5 2 3 25
30 Pheidole sp 2 3 2 1 2 1 9
31 Pheidole sp 3 2 1 1 1 1 3 1 2 1 13
32 Pheidole sp 4 1 1 1 1 1 5
33 Pheidole sp 5 1 2 1 3 2 9
34 Pheidole sp 6 1 1 1 1 4
35 Pheidole sp 7* 1 1 2
36 Pheidole sp 8 1 1 2
37 Pheidole sp 9 1 1 2
38 Pheidole sp 10 1 1
39 Sericomyrmex sp 1 2 1 1 1 2 1 2 3 13
40 Sericomyrmex sp 3* 1 1
41 Sericomyrmex sp 4 2 2
42 Solenopsis sp 1 3 2 1 2 1 2 2 1 1 1 1 2 19
43 Solenopsis sp 2 4 3 2 2 2 1 1 15
44 Solenopsis sp 3 3 1 1 1 6
45 Solenopsis sp 4 3 3 2 1 2 2 1 14
46 Solenopsis sp 5 1 1 1 3
47 Solenopsis sp 6 1 1 2 4
48 Strumigenys sp 1 1 1
49 Trachymyrmex (gr. Cornetzi) 1 1 2
50 Trachymyrmex oetkeri Forel, 1908* 1 1
51 Trachymyrmex sp 1 1 1 2
52 Trachymyrmex sp 2* 1 1
53 Wasmannia sp 1 1 1 1 2 3 1 4 13
Total geral de interações 21 7 3 19 6 5 23 22 23 8 43 12 21 29 242 40
3
Anexo 2: Registro da freqüência das interações entre formigas e plantas da região Montana da ReBioTinguá – de setembro/2005 – outubro/2006. Nota: as espécies de formigas com asterisco foram registradas apenas nesta região.
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.
1 Acromyrmex aspersus (F. Smith, 1858) 1 1 2 4
2 Acromyrmex niger (Fr. Smith, 1858) 1 1 2 4
3 Acromyrmex subterraneus brunneus Forel, 1911 1 1 2
4 Apterostigma sp 1* 1 1
5 Brachymyrmex sp 1 1 1 1 2 3 2 10
6 Brachymyrmex sp 2 2 2
7 Brachymyrmex sp 4 1 1 2
8 Camponotus seriseiventris Guérin-Méneville, 1838* 1 1
9 Camponotus sp 2* 1 1
10 Crematogaster sp 1 1 1
11 Cyphomyrmex (gr striatus)* 1 1
12 Ectatomma edentatum Roger, 1863 1 1
13 Ectatomma permagnun Forel, 1908 2 1 1 3 2 1 10
14 Gnamptogenys sp 1 1 1 2
15 Linepithema sp 1 1 1 2
16 Megalonmymex sp 1 2 1 3 6
17 Mycocepurus smithi Forel, 1893* 1 1
18 Odontomachus meinerti Forel, 1905 1 1
19 Oligomyrmex ou carebara 2 1 3
20 Pachycondyla apicalis (Latreille 1802) 1 1
21 Pachycondyla venusta Forel, 1912.* 1 1
22 Pachycondyla sp 1 2 2
23 Pachycondyla sp 2 1 1
24 Paratrechyna sp 1 1 1
continua 41
4
Anexo 2: continuação.
continuação
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25 Pheidole sp 1 1 3 1 4 3 1 13
26 Pheidole sp 2 1 1 1 1 3 2 1 10
27 Pheidole sp 3 1 1 1 2 1 3 9
28 Pheidole sp 4 2 2 1 3 1 9
29 Pheidole sp 5 2 2 4
30 Pheidole sp 6 1 3 1 5
31 Pheidole sp 8 2 2
32 Pheidole sp 9 1 1 4 1 7
33 Pheidole sp 10 1 2 1 1 5
34 Sericomyrmex sp 1 1 1 4 2 1 1 2 12
35 Sericomyrmex sp 4 1 1 1 3
36 Solenopsis sp 1 2 2 3 3 10
37 Solenopsis sp 2 2 3 4 2 2 13
38 Solenopsis sp 3 2 1 3
39 Solenopsis sp 4 2 1 1 3 7
40 Solenopsis sp 5 1 1 1 2 5
41 Solenopsis sp 6 1 2 2 3 2 1 11
42 Solenopsis sp 7* 1 3 4
43 Strumigenys sp 1 2 2
44 Trachymyrmex (gr. Cornetzi) 1 1 2
45 Trachymyrmex sp 1 1 1
46 Wasmannia sp 1 1 2 2 2 3 3 2 3 2 20
Total geral de interações 10 12 15 1 12 37 24 26 25 17 28 11 218
42