Interação droga nutriente (nutricionistas)
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Interação droga nutriente sob a ótica de nutricionistas da cidade de João
Pessoa – PB
Vitória Regina Feitosa da Silva¹; Gabriela de Oliveira Zírpoli¹; Luiza Sonia Rios
Asciutti¹; Cybelle Pereira de Oliveira²; Naédina da Silva Gomes¹
¹Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, Curso de Nutrição. Praça Dom Ulrico, 56,
João Pessoa, Paraíba. ²Universidade Federal de Campina Grande, Unidade Acadêmica de
Agronomia e Tecnologia de Alimentos. Campus de Pombal - Rua Jairo Vieira Feitosa,
S/N, Bairro dos Pereiros, CEP 58.840-000 Pombal –PB. Correspondência
para/Correspondence to: V.R.F. Silva. E-mail: <[email protected]>
Resumo
A interação droga-nutriente é um evento que ocorre: quando se produz desequilíbrio de
nutrientes por ação medicamentosa; quando o efeito farmacológico é alterado pela
ingestão de nutrientes ou estado nutricional do paciente; ou quando há reação adversa
produzida pela ingestão concomitante da droga com determinado nutriente. Este estudo
tem o objetivo de pesquisar o nível de conhecimento sobre o tema, seu uso na prática
diária e a faixa etária dos clientes para os quais esse conhecimento pode ser aplicado,
focalizando as informações dos nutricionistas da área clínica. Pesquisaram-se trinta
profissionais atuantes em consultórios particulares, hospitais públicos e privados, de
ambos os sexos, com 25 a 60 anos idade, escolhidos aleatoriamente. Verificou-se que 70%
dos nutricionistas não tiveram a disciplina de Interação Droga-Nutriente durante sua
Graduação em Nutrição; 86,7% demonstraram que “às vezes” fazem uso do seu
conhecimento durante as consultas; 53,3% classificaram seu conhecimento como regular;
83,3% informaram buscar atualizações a respeito, e, as fontes utilizadas são sites (63,3%).
O grupo de pacientes em que o profissional mais aplica os conhecimentos é o de
diabéticos (50%) e a faixa etária é a de idosos (56,7%). Em conclusão, a abordagem
Interação Droga-Nutriente em cursos de Nutrição é recente justificando o frágil
conhecimento dos profissionais com tempo maior de graduação, porém, existe o cuidado
em direcionar a dieta dos pacientes de forma a evitar possíveis interações decorrentes do
uso de medicamentos.
Palavras-chave: interação droga-nutriente; nutricionistas; fármacos x nutrientes;
aplicação dos conhecimentos.
Introdução
Compreende-se que o alimento é um fator essencial e indispensável à manutenção
e à ordem da saúde, pois ele fornece ao corpo humano, nutrientes necessários à
manutenção de funções específicas como a reguladora e a energética, mantendo assim a
integridade estrutural e funcional do organismo.
Por outro lado, os nutrientes são também capazes de interagir com fármacos, sendo
um problema de grande relevância na prática clínica, devido às alterações na relação
risco/benefício do uso do medicamento e da utilização dos nutrientes. Estes podem
modificar os efeitos dos fármacos por interferirem em processos farmacocinéticos, como
absorção, distribuição, biotransformação e excreção, acarretando prejuízo terapêutico 1, 2
.
Assim, a interação fármaco-nutriente se constitui em uma nova abordagem em
instituições de ensino superior da área de saúde, havendo por isso escassez de material
didático impresso, elaborado a partir das pesquisas realizadas na área, o que pode
dificultar a atuação dos profissionais. Este estudo apresenta-se, portanto, com o objetivo
de pesquisar o nível de conhecimento sobre o tema, a utilização desse conhecimento na
prática diária, a informação das interações aos pacientes/clientes, o interesse destes sobre o
tema e a faixa etária desses clientes com a qual os conhecimentos sobre interação droga-
nutriente podem ser utilizados, focalizando as informações dos profissionais nutricionistas
da área clínica de hospitais e consultórios particulares.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa, realizada com
um total de trinta profissionais da área, atuantes em consultórios particulares, hospitais
públicos e privados da cidade de João Pessoa, de ambos os sexos, com idade
compreendida entre 25 e 60 anos, escolhidos aleatoriamente. O projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, protocolo de
nº 013.
Os dados foram tratados no programa estatístico SPSS para Windows, versão 18,0,
para cálculo de frequências das respostas de cada pergunta do questionário, e os resultados
apresentados sob a forma de gráficos. Todos os resultados referem-se ao total de sujeitos
de ambos os gêneros e de todas as faixas etárias.
Resultados e Discussão
Foram considerados, através da análise dos trinta questionários aplicados com
nutricionistas atuantes na área clínica, os resultados específicos para cada questão
respondida.
No que se refere à inclusão da disciplina “Interação Droga
Nutriente/Farmacologia” na grade curricular dos entrevistados, verificou-se que 70% dos
nutricionistas não realizaram essa disciplina durante o seu curso de Graduação em
Nutrição (Figura 1), comprovando assim, que a interação droga nutriente é uma
abordagem nova nas instituições de ensino superior. A cidade de João Pessoa – PB, até o
ano de 2011, comporta quatro instituições que ministram o Curso de Graduação em
Nutrição, e apenas uma delas apresenta em sua grade curricular a disciplina “Interação
Droga Nutriente”.
Para a pergunta “Você utiliza o seu conhecimento de Interação Droga-Nutriente
nas consultas?”, obteve-se um percentual de apenas 13,3% dos nutricionistas respondendo
que “sempre” usa seu conhecimento durante as consultas aos pacientes. A maioria (86,7%)
respondeu que “às vezes” faz uso do seu conhecimento, e nenhum marcou a opção
“nunca” (Figura 2).
Na Figura 3, verifica-se que a maioria (83,3%), busca atualizar seus conhecimentos
sobre Farmacologia-Interação Droga-Nutriente, ainda que “às vezes”, demonstrando o
interesse do profissional e a sua consciência sobre a importância do tema na sua prática,
embora tenha sido registrado um número irrisório daqueles que “nunca” procuram se
atualizar neste assunto. Esta atualização é realizada mais precisamente em sites (63,3%),
em livros (23,3%) e em artigos científicos (13,3%), quanto à fonte mais procurada para
seus estudos (Figura 4).
Na Figura 5 foram estabelecidos grupos de pacientes com diferentes patologias,
para que o profissional determinasse em qual desses grupos ele conseguia aplicar mais seu
conhecimento sobre Interação Droga-Nutriente. Os resultados encontrados foram os
seguintes: 50% para diabéticos; 26,7% para cardíacos; 23,3% para hipertensos e nenhum
número para dislipidêmicos. Há muito já foi constatado que as doenças crônicas e
patologias degenerativas levam a uma maior demanda por medicamentos3,4,5
, fato que
pode gerar interações destes com os alimentos.
A faixa etária dos pacientes na qual eram mais aplicados os conhecimentos sobre
Interação Droga-Nutriente, foi a de idosos, a partir do relato de 56,7% dos nutricionistas;
36,7% responderam que eram os adultos; 6,7%, crianças e nenhum profissional fez
referência aos adolescentes (Figura 6).
A idade é uma variável preditora do uso de medicamentos e seu efeito se produz
mesmo antes dos 60 anos, pois a chance de usar medicamentos aumenta desde a quarta
década de vida6,7
. Em estudo publicado por Carvalho8, no qual foram avaliados 2.143
idosos no município de São Paulo, foi demonstrado que 31,5% dos idosos questionados
apresentavam polifarmácia, ou seja, faziam uso de quatro ou mais medicamentos.
Conclusões
Os resultados apresentados comprovam que a Interação Droga-Nutriente é uma
abordagem nova em cursos de Graduação em Nutrição, justificando assim, o frágil
conhecimento dos profissionais da área, porém, existe um cuidado do profissional, em
direcionar a dieta dos pacientes com possíveis interações decorrentes do uso de
medicamentos. Ainda foi possível observar que a quantidade de pacientes que demonstram
interesse sobre Interação Droga-Nutriente é escassa, dificultando assim a conduta do
profissional. Os idosos se encontram entre a faixa etária que mais se aplica conhecimentos
de Interação Droga-Nutriente, por ser o grupo de pacientes que mais utiliza medicamentos,
necessitando assim, de uma atenção especial.
Figura 1 Questão: Na sua grade curricular
estava inserida a disciplina de
Farmacologia/Interação Droga-Nutriente?
Figura 2 Questão: Você utiliza o seu
conhecimento de Interação Droga-
Nutriente nas consultas?
Figura 3 Questão: Você busca atualização
sobre Farmacologia/Interação Droga-
Nutriente?
Figura 4 Questão: Onde Você busca
atualização sobre Farmacologia/Interação
Droga-Nutriente?
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Sim
Não
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
100,00%
Sempre
Nunca
As vezes
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
Sempre
Nunca
As vezes
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%Livros
Artigos Científicos
Sites
Congressos
Figura 5 Questão: Em quais grupos de
pacientes você consegue aplicar mais seu
conhecimento sobre Interação Droga-
Nutriente?
Figura 6 Questão: Em qual faixa etária
mais se aplica o seu conhecimento sobre
Interação Droga-Nutriente
Agradecimentos
Aos profissionais que colaboraram e aos autores pela efetiva dedicação.
Referências
1. Oliveira GG. A Interação fármaco-nutriente sua importância na terapêutica. A Folha
Med., 1991, 102(4):137-142.
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Routledge, 1988.
4. Landahl S. Drug treatment in 70-82-year-old persons: a longitudinal study. Acta Medica
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1902 in Umeä, Sweden: a longitudinal population study. Drugs & Aging. 1991, 1:477-
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6. Loyola Filho AI, Uchoa E, Lima-Costa MF. Estudo epidemiológico de base
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7. Bardel A, Wallander M, Svärdsudd K. Reported current use of prescription drugs and
some of its determinants among 35 to 65-year-old women in mid-Sweden: a population-
based study. J Clin Epid. 2000, 53:637-643.
8. Carvalho MFC. A polifarmácia em idosos no município de São Paulo - Estudo SABE -
Saúde, Bem-estar e Envelhecimento [Dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo,
Faculdade de Saúde Pública; 2007.
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
Hipertensos
Diabéticos
Dislipidêmicos
Cardíacos
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
Crianças
Adolescentes
Adultos
Idosos