Intelectuais x Marginais

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Intelectuais x Marginais Atualizado em 11 de setembro | 7:03 PM Tradicionalmente, nós, intelectuais, sempre fomos os porta vozes das demandas populares e protagonistas dos movimentos de transformação (em casos mais otimistas, da “revolução”) social na área dos projetos artísticos e literários. Hoje, parece que alguma coisa de bastante diferente está no ar e que vamos ter que repensar, com radicalidade, nosso papel como intelectuais tanto no campo social, como no acadêmico e artístico. Falo das propostas inovadoras da cultura hip hop & de tantas outras manifestações artísticas produzidas na periferia das grandes cidades e que está marcando com força total a produção cultural desse nosso início de século. Vou observar aqui, a título de exemplo, apenas a área mais low key dessa produção que é o caso da literatura. É também da tradição da série literária brasileira, o engajamento político e o compromisso social do escritor e, portanto, uma atenção significativa aos temas da miséria, da fome, das desigualdades sociais e, ultimamente, da violência urbana. Com a subida da violência 1987/88, emblematicamente datada pelos arrastões no Arpoador, o interesse da classe media sobre o assunto começa a se manifestar de maneira mais clara e recorrente Em 1993, o tema da violência atinge seu ápice, só que agora a mobilização da opinião pública é produzida no sentido inverso, o da violência policial. São deste ano, em julho, o massacre da Candelária, no qual 8 crianças entre as 50 que dormiam nas escadarias da Igreja forma mortas a tiro por policiais, seguido, em agosto, ou seja, um mês depois, pelo massacre de Vigário Geral responsável pela morte de 21 inocentes também pela polícia. Especialmente essa segunda chacina vai marcar época na nossa cultural social e política. Intelectuais, artistas e representantes da sociedade civil, unem-se e começam a articular ações concretas em torno de políticas em defesa da cidadania e dos direitos humanos. É desse momento a criação de organizações como o Viva Rio e a realização de marchas pela paz e contra a violência. Não vou me deter nisso aqui porque não é o caso, mas essas ações e, sobretudo, as articulações entre agentes da classe média e as comunidades das favelas e conjuntos habitacionais marcam o início de um tipo de produção cultural até hoje inéditas no Brasil. São produções destas comunidades que interpelam a cultura main stream e tornam-se sucesso de público e de critica. Do ponto de vista da história literária, dois livros escritos por autores de classe média inauguram uma produção que vai se desenvolver de forma autônoma e com grande força. São eles Zuenir Ventura com Cidade Partida, de 1994, que relata de forma originalíssima, entre o documental e o literário, as ações pós-massacre de Vigário Geral e Estação Carandiru de Dráuzio Varela, publicado em 1999, sobre as condições sub-humanas de vida no maior presídio da América Latina. As características propriamente narrativas desses dois livros são bastante interessantes e, sobretudo sintomáticas. Cidade Partida traz um narrador cuja posição não pode ser confundida com o que seria um livro

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Intelectuais x MarginaisAtualizado em 11 de setembro | 7:03 PMTradicionalmente, ns, intelectuais, sempre fomos os porta vozes das demandas populares e protagonistas dos movimentos de transformao (em casos mais otimistas, da revoluo) social na rea dos projetos artsticos e literrios. Hoje, parece que alguma coisa de bastante diferente est no ar e que vamos ter que repensar, com radicalidade, nosso papel como intelectuais tanto no campo social, como no acadmico e artstico. Falo das propostas inovadoras da cultura hip hop & de tantas outras manifestaes artsticas produzidas na periferia das grandes cidades e que est marcando com fora total a produo cultural desse nosso incio de sculo. Vou observar aqui, a ttulo de exemplo, apenas a rea maislow keydessa produo que o caso da literatura. tambm da tradio da srie literria brasileira, o engajamento poltico e o compromisso social do escritor e, portanto, uma ateno significativa aos temas da misria, da fome, das desigualdades sociais e, ultimamente, da violncia urbana.Com a subida da violncia 1987/88, emblematicamente datada pelos arrastes no Arpoador, o interesse da classe media sobre o assunto comea a se manifestar de maneira mais clara e recorrente Em 1993, o tema da violncia atinge seu pice, s que agora a mobilizao da opinio pblica produzida no sentido inverso, o da violncia policial. So deste ano, em julho, o massacre da Candelria, no qual 8 crianas entre as 50 que dormiam nas escadarias da Igreja forma mortas a tiro por policiais, seguido, em agosto, ou seja, um ms depois, pelo massacre de Vigrio Geral responsvel pela morte de 21 inocentes tambm pela polcia.Especialmente essa segunda chacina vai marcar poca na nossa cultural social e poltica. Intelectuais, artistas e representantes da sociedade civil, unem-se e comeam a articular aes concretas em torno de polticas em defesa da cidadania e dos direitos humanos. desse momento a criao de organizaes como o Viva Rio e a realizao de marchas pela paz e contra a violncia. No vou me deter nisso aqui porque no o caso, mas essas aes e, sobretudo, as articulaes entre agentes da classe mdia e as comunidades das favelas e conjuntos habitacionais marcam o incio de um tipo de produo cultural at hoje inditas no Brasil. So produes destas comunidades que interpelam a culturamain streame tornam-se sucesso de pblico e de critica. Do ponto de vista da histria literria, dois livros escritos por autores de classe mdia inauguram uma produo que vai se desenvolver de forma autnoma e com grande fora. So eles Zuenir Ventura comCidade Partida, de 1994, que relata de forma originalssima, entre o documental e o literrio, as aes ps-massacre de Vigrio Geral eEstao Carandirude Druzio Varela, publicado em 1999, sobre as condies sub-humanas de vida no maior presdio da Amrica Latina.As caractersticas propriamente narrativas desses dois livros so bastante interessantes e, sobretudo sintomticas.Cidade Partidatraz um narrador cuja posio no pode ser confundida com o que seria um livro de denncia social, no qual o autor se aproxima de seu objeto e atravs dele traz tona uma realidade da qual no se teria notcia seno pela posio privilegiada deste mesmo autor. Tambm no me parece refletir a objetividade necessria e caracterstica do relato jornalstico. Mesmo no sendo um autnticotestemonio,o relato de Zuenir ao longo de toda sua narrativa, mantm uma postura ambgua: opinativa e afetiva no sentido da noo de valor-afeto de Antnio Negri e ao mesmo tempo franqueia um espao de canal aberto para a fala do outro. Zuenir empresta sua voz comunidade que examina, at mesmo ao traficante Flavio Nego, um fato indito nas narrativas jornalsticas ou literrias. Pela primeira vez, o asfalto ouve as razes, os gostos e a dor de uma ampla e diversificada gama de habitantes da favela, os terrveis agentes da violncia, iniciando um processo de aproximao entre a favela e o asfalto, sem recorrer a falsas coloraes hericas ou vitimizadas.Em 1999, Druzio Varela vai percorrer um caminho parecido comCarandiru.Aqui a escuta mdica, de traos confessionais, que implicam no pressuposto da confiana entre quem relata e seu ouvinte, reproduz tambm de forma no diretamente opinativa o pensamento e o cotidiano do presos em carceragem. Essas so duas obras que, de certa forma, marcam um lugar de relativa abertura da voz da periferia para o mercado das grandes editoras. Ambas tiveram uma ampla recepo de pblico e consagraram-se como uma forte tendncia de mercado. Entretanto, dois anos antes deCarandiru, em 1997, nosso Mundo das Letras j havia sido surpreendido pela publicao de uma obra de fico que, em pouco tempo, se tornaria um dos maioresbest sellersbrasileiros dos ltimos tempos. Falo deCidade de Deus,de Paulo Lins, hoje com 18 edies e traduzido em inmeros pases.Paulo Lins nos surpreendeu com uma varivel totalmente imprevista nos nossos crculos literrios: o pobre tem voz e pode at escrever; e mais ainda: escrever um livro de sucesso de pblico e de crtica. Vou comear pelo comeo. Paulo Lins, morador do conjunto habitacional Cidade de Deus, em Jacarepagu, zona oeste do Rio de Janeiro e local conhecidamente violento da cidade, formou-se na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, trabalhou como professor de ensino mdio, poca na qual, comeou a escrever seus primeiros poemas.Em certo momento, comea a trabalhar como assistente de pesquisa, fazendo etnografias sobre a comunidade de Cidade de Deus para a Professora Alba Zaluar, que realizava um trabalho sobre a violncia urbana. Como Paulo mostrava grande dificuldade em organizar a redao de seus relatrios, Alba Zaluar sugere que ele faa uma redao literria de seus resultados de pesquisa. Nascia assim o romance inaugura de Paulo Lins,Cidade de Deus.Pela primeira vez, e a partir da convivncia estreita com as comunidades de periferia, incluindo-se a bandidos e traficantes, temos uma detalhada anatomia do cotidiano da misria e do crime no Brasil, agora com as cores da experincia vivida. J no se trata mais da favela idealizada e separada do asfalto, mas da violncia aberta e do inconformismo existentes nos novos conjuntos habitacionais, ou neo-favelas, como as identifica o autor..Com o sucesso definitivo deCidade de Deus, ficou claro que alguma coisa irreversvel havia afetado a criao e o mercado literrio. Talvez at um novo cnone (tradio) estivesse em processo de gestao.Em 2000, surge um novo livro de igual importncia ainda que de repercusso distinta da deCidade de Deus. Trata-se deCapo Pecadode Ferrz (nome de guerra de Reginaldo Ferreira da Silva).Capo Pecado, traz um to refinado quanto impactante retrato de Capo Redondo, um dos bairros de maior ndice de violncia, trfico de drogas e criminalidade de So Paulo, onde Ferrz cresceu e mora at hoje. Seus mais de 200.000 moradores no contam com redes de esgoto, nem hospitais, nem assistncia de nenhuma espcie. Capo registra a marca sangrenta de 86.39 assassinatos a cada grupo de 100.00 habitantes, muito mais que a mdia nacional que j estratosfrica para os padres europeus.Este livro mostra uma integrao bem maior com o universo hip hop do que seu antecessor,Cidade de Deus. Mesmo que no contasse com uma estrutura rtmica e musical organizada como a que encontram os rappers, Ferrz tomou como referncia, as letras dos raps, com seu misto de crnica do gheto e convocao dos manos para a ao. Pelo menos, um ponto de partida diverso do cnone letrado. No livro, temos a presena de Mano Brown (lder do grupo de rap Racionais MCs, tambm residente de Capo Redondo) que comanda as epgrafes de cada captulo do livro. Os dois juntos tornaram-se, da em diante, grandes lderes comunitrios e forte referncia para jovens sem perspectiva.O segundo livro de Ferrz,Manual Prtico do dio, mais agressivo do que o primeiro, descreve o impasse de uma gerao que no mede consequncias para buscar o que no teve (sic) Uma gerao marcada pelas sequelas deixadas pelo Estado e pela intensidade do impacto da mdia.O que surpreende nos livros de Ferrz , sobretudo, a inverso do lugar da violncia. Em vez de ser tema da narrativa, a violncia apenas o entorno, a condio de vida de personagens comuns que, como ns, tm emoes, prezam a famlia, amam, tm cimes, fazem sexo e sonham com um futuro mais tranquilo. Isso um choque para o leitor que no vive nos cenrios do crime, e termina promovendo uma forma de identificao ou, pelo menos,entendimento, do personagem agressor, ainda no conhecida na nossa literaturaEm Ferrz, torna-se mais clara uma caracterstica j presente emCidade de Deus. O autor narrativamente comprometido com o local de sua fala que se torna porosa e, portanto, excessivamente receptiva da dico local. Como se o autor dividisse a autoria da obra com o territrio da ao. Muitas vezes temos a sensao de que Capo Redondofalaatravs do autor de seu relato. um caso bem novo e interessante de autoria que por se querer hiperlocalizada traz em sua construo mesma uma das estratgias mais usadas pelas culturas locais em tempos de globalizao. O verbo glocalize j entrou para o lxico do mercado cultural destes ltimos anos. importante ainda observar que o eu-coletivo sempre foi uma alternativa eficaz de empoderamento das dices literrias das minorias de gnero e etnia. Mas no penso ser este o caso de Paulo Lins ou de Ferrz. Mesmo que tragam consigo esta tradio narrativa, no caso dos dois autores claramente a opo mais para a marcao do local como espao territorial do que como vozes coletivas como o caso da literatura de mulheres ou negros.Com o sucesso, Ferrz recebeu convite de bolsa para estudar literatura numa universidade americana. No vai. Esta recusa se estende para a oferta de um produtor norte-americano que tenta comprar os direitos deCapo Pecadopara o cinema. Ferrz em entrevista para os jornais esclarece: Escrevo para ser lido pela minha comunidade. Meu lugar aqui. Minha guerra essa.Comprometido com sua comunidade, Ferrz cria, ainda com Mano Brown, o movimento 1 DASUL, uma usina cultural que, entre outras atividades, tem um selo musical prprio e uma grife de moda chamadaIrmandade(um conceito fundamental da cultura hip hop) que hoje j ocupa um galpo de 200 m. e outras duas oficinas apenas de costureiras, produzindo uma mdia de 300 peas por dia. A grife, que se caracteriza por ilustraes que denunciam o sistema, tem uma loja no centro de SP, sua produo distribuda para sete estados brasileiros, alm de deter os direitos de distribuio das marcas de seis grupos de rap. A grifeIrmandadeconfecciona tambm cartilhas mensais para um programa contra drogas e pretende abrir uma clnica para tratamento de dependentes. No embalo, Ferrz organizou dois nmeros especiais da Revista Caros Amigos chamados Literatura Marginal com que renem e divulgam escritores da periferia, abrindo espao para nos talentos locais.Por marginal, Ferrz entende a busca de um lugar na srie literria para aqueles que vem da margem. E explica melhor: Literatura marginal aquela feita por marginais mesmo, at por cara que j roubou, aqueles que derivam de partes da sociedade que no tm espao. Mas adverte: Quando a gente consegue alguma coisa por meio da arte, no quer dizer que a vamos sossegar. Temos que organizar o nosso dio, direcion-lo para quem est nos prejudicando. Tudo o que o sistema no d, temos que tomar. Participando, em 2004, de uma mesa no Seminrio Cultura e Desenvolvimento, o Ferrz, indignado, disse: ainda que eu escreva prioritariamente para minha comunidade, no quero minha literatura no gheto. Quero entrar para o cnone, para a histria da literatura como qualquer um dos escritores novos contemporneos. E no acho tambm que minha comunidade deve se limitar minha literatura, ela tem o direto de ter acesso ao Flaubert. Foi a isso que chamei anteriormente de democratizao de expectativas para a qual talvez ns, intelectuais e artistas de classe mdia, ainda no estejamos preparados. Na nossa fantasia perversa aceitamos que o pobre sonhe com um Nike, mas no com Flaubert.Um ltimo livro que vou comentar rapidamente oCabea de Porcoque foi lanado esse ano e que tem a autoria de Luiz Eduardo Soares, Celso Athayde e MV Bill. Um socilogo, uma liderana comunitria, presidente da CUFA (Central nica de Favelas) e um rapper politicamente engajado. Bill e Celso Athayde estavam j a algum tempo fazendo uma pesquisa, com gravaes em vdeo, sobre as causas da violncia e adeso ao trfico de drogas entre jovens das favelas e uniram-se a Luiz Eduardo Soares que, alm de socilogo, j tinha sido Secretrio de Segurana no governo Garotinho e Secretrio Geral de Segurana Pblica no governo Lula, portanto com experincia e informaes bastante concretas na rea da criminalidade. Os trs propuseram ento escrever um livro a trs mos. verdade que as partes escritas por cada um so assinadas no produzindo, portanto um tipo de autoria coletiva, mas colaborativa. O livro no desafina na passagem de um autor para outro que aparecem intercalados na estrutura narrativa do livro. Um caso de saber compartilhado com igual peso para cada uma das partes, cada autor oferecendo sua dico e sua competncia especficas em p de igualdade, onde a autoria menos importante do que o conjunto polifnico do trabalho, que precisamente onde esta obra tira sua maior fora e valor. A leitura deCabea de Porco cujo sentido na favela o de uma situao da qual voc percebe sem sada uma leitura de um s flego. Sem piedade, e levado por um texto profundamente afetivo, o leitor mergulhado num universo de violncia e misria cuja experincia emocional totalmente desconhecida das classes mdia e alta. interessante lembrar da reao da platia essencialmente elitizada da ltima FLIP, apresentao deste livro com as presenas de Luiz Eduardo e MVBill. Palmas ininterruptas, assobios, gemidos. Que reao teria sido essa? De uma revelao quase religiosa? De encantamento com pop stars? Ou o qu? Neste caso em vez querer escolher uma dessas respostas minha pergunta, prefiro ficar com o grau de intensidade e no ortodoxia dessa manifestao e de sua recepo pelo pblico. Escolhi comentar esses trs livros muito diferentes entre si para pensar um pouco o papel do intelectual contemporneo.Antes disso, me permito um exemplo pessoal, bastante recente, e que demonstra minha falta de jogo de cintura para lidar com esses fenmenos: H dois meses atrs, coordenei pelo meu Programa na UFRJ, uma exposio no Centro Cultural dos Correios chamadaEsttica da Periferia. Essa exposio foi montada pelo Gringo Cardia que tem dois projetos exemplares: O Kabum e a Fbrica de espetculos que so laboratrios super equipados com tecnologia de ponta e que forma marceneiros de teatro, iluminadores, cengrafos, figurinistas, videomakers, fotgrafos e designers. O objetivo desses laboratrios a formao e a qualificao profissional de adolescentes e jovens das comunidades de baixa renda. A idia da exposio foi a de que esses jovens escolheriam as peas da exposio, portanto tinham um poder curatorial, e serviriam como assistentes do Gringo na idealizao e produo da montagem cenogrfica do evento. Bem, no sei se algum aqui viu a exposio, mas confesso que eu, uma tpica intelectual dos anos 60, com todos os nus que isso representa, fiquei altamente incomodada e surpresa com o resultado. O que eu vi foi uma exposio que passava longe do que eu considero cultura ou a esttica da periferia. Era tudo muito colorido, meiofashion, claramente estetizado. Para uma contempornea do Cinema Novo isso soou desconfortvel. Mas todas as sextas feiras dizemos uma visita no diria guiada mas meio em forma de painel de discusses com diferentes segmentos da periferia. Surpresa. Todos se reconheciam e aplaudiam o resultado alegando que esta era a primeira mostra na qual se respeitava a auto estima da periferia. Que trazia o lado positivo desta cultura e espelhava o que h de melhor nas favelas e nos conjuntos habitacionais. Ouvindo isso, tive certeza de estamos vivendo um momento bastante especial de acesso real e indito aos sentimentos,ethose demandas das classes de alto nvel de pobreza. Percebi tambm como precrio nosso poder de traduo cultural entre classes e etnias.Apesar da insegurana e (por que no? o medo que esse novo momento me traz, tenho a forte impresso de que, afinal o intelectual, apesar de todas as indicaes em contrrio, pode no estar necessariamente desempregado nesse sculo XXI. Mas alguns cuidados ele certamente vai ter que assumir para garantir sua sobrevivncia com algum sentido e positividade daqui para frente. Antes de mais nada, como nos sugeriu Beatriz Sarlo nessa ltima FLIP, inadivel uma bela e urgente autocrtica. E em seguida, testar novas formas de participao e engajamento. Quem sabe a sugesto que a periferia e os movimentos que defendem da interpelao da propriedade intelectual fechada e super protegida no modelo norte-americano com seu corolrio necessrio o investimento na noo de saber compartilhado, possa afinal dissolver velhas equaes corporativas em novas maneiras de fazer poltica.