Gustavo Hiroshi Sera - Seleção de progênies de café arábica com resistência à ferrugem
Integração e assimetrias na transmissão de preços de café arábica ...
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Universidade de So Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
Integrao e assimetrias na transmisso de preos de caf arbica no Brasil
Diana de Medeiros Baptista
Tese apresentada para obteno do ttulo de Doutora em Cincias. rea de concentrao: Economia Aplicada
Piracicaba 2015
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Diana de Medeiros Baptista Engenheira Agrnoma
Integrao e assimetrias na transmisso de preos de caf arbica no Brasil verso revisada de acordo com a resoluo CoPGr 6018 de 2011
Orientador: Prof. Dr. GERALDO SANTANA DE CAMARGO BARROS
Tese apresentada para obteno do ttulo de Doutora em Cincias. rea de concentrao: Economia Aplicada
Piracicaba 2015
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao
DIVISO DE BIBLIOTECA - DIBD/ESALQ/USP
Baptista, Diana de Medeiros Integrao e assimetrias na transmisso de preos de caf arbica no Brasil / Diana de
Medeiros Baptista. - - verso revisada de acordo com a resoluo CoPGr 6018 de 2011. - -Piracicaba, 2015.
94 p. : il.
Tese (Doutorado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
1. Mercado de caf 2. Assimetria de preo 3. Cointegrao 4. Modelo de correo de erros I. Ttulo
CDD 338.13373 B222i
Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte O autor
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DEDICATRIA
Aos presentes de Deus na minha vida: minha me Clia Regina, minha irm Helena,
Ricardo e minhas amadas sobrinhas Isabela e Graziela.
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AGRADECIMENTOS
Ao Deus da minha vida, que mais uma vez me deu foras, superao e
adestrou minhas mos para a concluso desta etapa da minha vida: Bendito seja o
Senhor, a minha Rocha, que treina as minhas mos para a guerra e os meus dedos
para a batalha. Ele o meu aliado fiel, a minha fortaleza, a minha torre de proteo
e o meu libertador, o meu escudo, aquele em quem me refugio...Salmos 144:1,2.
Te agradeo porque o Senhor o nico que conhece meu corao no ntimo
e me livra de todos os obstculos: Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes
quando me sento e quando me levanto; de longe percebes os meus pensamentos.
Sabes muito bem quando trabalho e quando descanso; todos os meus caminhos te
so bem conhecidos. Antes mesmo que a palavra me chegue lngua, tu j a
conheces inteiramente, Senhor. Tu me cercas, por trs e pela frente, e pes a tua
mo sobre mim. Tal conhecimento maravilhoso demais e est alm do meu
alcance, to elevado que no o posso atingir. Salmos 139:1-6
minha famlia, pelo amor incondicional, fora e compreenso por cada luta,
vitria e dias longe de casa. E ao meu padrasto Damaceno, pelo suporte, carinho e
incentivo de continuar crescendo acadmica e profissionalmente.
Ao professor Dr. Geraldo SantAna de Camargo Barros, pela orientao,
compreenso e por no ter me deixado desistir nos momentos mais difceis da
minha jornada.
Ao professor Dr. Werner Baer, pela ateno e oportunidade de poder
conhecer o mundo acadmico na University of Illinois at Urbana- Champaign, me
dando uma experincia de vida inimaginvel e me recebendo com muita ateno e
carinho em sua instituio.
CAPES, pelo auxlio e suporte financeiro tanto no Brasil quanto no
Programa de Doutorado Sanduche no Exterior.
s funcionrias do Programa de Ps-Graduao em Economia Aplicada da
ESALQ (PPGEA), em especial Maielli e Aline, pela ateno e pelos esclarecimentos
em todo o perodo do curso com muito amor e dedicao. secretria do CEPEA
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Luciane Scafi, pela ateno e pacincia durante todo o perodo de orientao deste
trabalho.
Aos professores Dr. Vnia Di Addario, Dr. Jos Fernandes Canziani e Dr.
Melissa Watanabe, por mais uma vez me darem direcionamento e apoio para o
crescimento da minha carreira. Seu amor e companheirismo foram imprescindveis
no meu desenvolvimento e suporte nos perodos mais difceis da minha caminhada
profissional.
amiga Karina Ferracioli, pelo suporte, companhia e ateno em todos os
momentos, bons e ruins, durante toda essa jornada! s amigas Paloma Lopes e
Nadja Heiderich, pela amizade, oraes e companheirismo inigualveis!
amiga Aniela Carrara pela pacincia e auxlio, tanto na amizade quanto na
reviso e apoio ao meu trabalho nos momentos de maior dificuldade. Ao amigo
Rafael Jacomini, pelas horas incontveis auxiliando nos programas economtricos,
alm das divertidas tardes regadas a caf e bolo de cenoura...
Aos amigos Vanclei Zanin e Angel Fachinelli, que nas horas mais
complicadas me deram apoio e auxlio para concluir a execuo deste trabalho.
Aos colegas do PPGEA, em especial a Fernanda, Roselaine, Daiana e Flvio,
pelas horas de estudo e amizade compartilhadas.
s amigas virginetes, pela amizade, companhia, suporte e horas de
descontrao, me fazendo sentir em casa nos momentos mais estressantes desta
jornada.
amiga e terapeuta Ieda Esprito Santo, pelo amor, oraes e suporte em
todos os momentos durante minha estadia em Piracicaba.
s amigas Blockheads, que vieram como um presente durante meu curso,
pelo apoio, oraes e momentos maravilhosos que compartilhamos, que com
certeza fizeram essa jornada ficar mais leve e divertida.
Aos amigos do English Corner, em Champaign Illinois, pelo acolhimento,
companhia e dedicao aos alunos estrangeiros, que como eu, chegam sozinhos
em lugar desconhecido e so recebidos com tanto amor e cuidado. Em especial, ao
pastor Aaron e famlia, Gary e Patty Umphrey, Tyler e Kellie Penn, e Melissa
Drobnak pelo amor e carinho durante a minha estadia em Illinois.
pastora Julie Dowler e aos amigos da The Wesley Student Center, em
Champaign, pelo acolhimento e divertidas horas de conversa e descontrao,
durante minha estadia em Illinois.
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Aos colegas Joo Guilherme, Joo Bernardo e Santanu que me receberam e
me auxiliaram, em Illinois, sempre me fazendo sentir acolhida e dividindo horas de
conhecimento e amizade. Ao amigo Vanclei, pela amizade e companhia nos meus
ltimos dias em Illinois.
Aos irmos e irms da Igreja Metodista Betnia, em Piracicaba, que me
acolheram e me deram suporte para esses anos de estudos.
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EPGRAFE
Talvez no tenha conseguido fazer o melhor,
mas lutei para que o melhor fosse feito.
No sou o que deveria ser, mas Graas a Deus,
no sou o que era antes.
(Marthin Luther King)
Por vezes sentimos que aquilo que fazemos
no seno uma gota de gua no mar.
Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.
(Madre Teresa de Calcut)
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SUMRIO
RESUMO................................................................................................................... 13
ABSTRACT .............................................................................................................. 15
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................. 17
LISTA DE TABELAS ................................................................................................. 19
1 INTRODUO .................................................................................................. 21
1.1 Objetivo Geral ................................................................................................... 24
2 REVISO BIBLIOGRFICA .............................................................................. 27
2.1 A produo de caf no Brasil ............................................................................ 27
2.1.1 Do convnio de Taubat at a abertura econmica .......................................... 27
2.2 Panorama mundial do mercado de caf............................................................ 34
2.2.1 Produo ........................................................................................................... 34
2.2.2 Exportao ........................................................................................................ 36
2.2.3 Consumo ........................................................................................................... 39
2.3 Panorama nacional do mercado de caf ........................................................... 40
2.4 Organizao do complexo agroindustrial do caf no Brasil............................... 43
3 TRANSMISSO DE PREOS E INTEGRAO DE MERCADOS .................. 47
3.1 Conceitos de Mercado de um bem e equilbrio de preo entre mercados ........ 47
3.2 Integrao e Transmisso de preos entre mercados ...................................... 48
3.3 Assimetria de transmisso de preos................................................................ 50
4 DADOS E METODOLOGIA .............................................................................. 53
4.1 Dados ................................................................................................................ 53
4.2 Teste de Estacionariedade ................................................................................ 55
4.2.1 Teste de Dickey Fuller Generalized Least Square (DF-GLS) ........................... 55
4.2.2 Teste KPSS ...................................................................................................... 56
4.3 Teste de Cointegrao ...................................................................................... 57
4.4 Assimetria de Transmisso de Preos atravs do Modelo de Correo de Erros
.................................................................................................................. 58
5 RESULTADOS E DISCUSSO ........................................................................ 63
5.1 Resultados dos testes de raiz unitria .............................................................. 63
5.1.1 Teste de Dickey Fuller Generalized Least Square (DF-GLS) ............................ 63
5.1.2 Teste KPSS ....................................................................................................... 63
5.2 Testes de cointegrao de Johansen ............................................................... 64
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5.3 Testes de assimetria de transmisso de preos ............................................... 65
5.3.1 Regio Cerrado de Minas Gerais ..................................................................... 65
5.3.2 Regio Sul de Minas Gerais ............................................................................. 70
5.3.3 Regio Mogiana................................................................................................ 73
5.3.4 Regio Paulista................................................................................................. 77
5.3.5 Regio Noroeste do Paran ............................................................................. 81
6 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 87
REFERNCIAS ........................................................................................................ 89
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RESUMO
Integrao e assimetrias na transmisso de preos de caf arbica no Brasil
O caf foi de extrema importncia para o desenvolvimento e a dinamizao da economia brasileira desde meados do sculo XIX, quando j ocupava a posio de principal produto da pauta exportadora brasileira, a se mantendo por quase um sculo. Nos dias atuais, apesar de ter passado por diversos momentos de instabilidade, o Brasil ainda maior produtor e exportador mundial de caf. Atualmente, com a desregulao pelo Estado , h uma mais organizao estratgica e maior cooperao entre os agentes. Como o caf um produto tpico de exportao, seu preo nas diferentes regies do pas est ligado aos preos internacionais. Teoricamente, os mercados estando interligados, devem ser observadas tendncias temporais muito prximas entre as sries no longo prazo. Posto isso, o objetivo do presente trabalho avaliar a integrao e a transmisso de preos do caf arbica negociado na bolsa ICE Futures US, em Nova York, para as regies produtoras de caf arbica dentro dos estados de So Paulo (Mogiana e Paulista), Paran (Noroeste) e Minas Gerais (Cerrado e Sul). Para analisar a relao de assimetria entre os preos de caf das bolsas e do mercado fsico utiliza-se o modelo descrito por Cnedo-Pinheiro (2012) para o mercado de leo diesel no Brasil e por Cunha e Wander (2014) para o mercado de feijo no Estado de So Paulo. Como resultados, observou-se a presena de integrao entre as sries de preos nas regies estudadas com os preos da bolsa ICE Futures US, tanto no curto como no longo prazo. Todas as sries apresentaram elasticidade de transmisso de preos maior do que a unidade. A assimetria de transmisso de preos foi verificada em todas as regies estudadas, ou seja, redues de preo no mercado internacional so repassadas com maior intensidade para o produtor do que aumentos, exceto no caso do Sul de Minas Gerais, onde os ajustes foram simtricos. Apesar da existncia de assimetria no curto prazo, o estudo verificou que no longo prazo, para todas as regies, a assimetria tende a se inverter e mesmo desaparecer, dependendo do perodo. No curto prazo, os ajustes de queda so repassados mais rapidamente que os aumentos, enquanto que no longo prazo a velocidade de ajustamento para os aumentos de preos maior do que para redues, com exceo da regio Mogiana. Palavras-chave: Mercado de caf; Assimetria de preo; Cointegrao; Modelo de
correo de erros
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ABSTRACT
Integration and asymmetries in Arabica coffee prices transmission in Brazil
Coffee was one of the most important products for the development and dynamism of the Brazilian economy since the mid-nineteenth century, when it held the first position of Brazilian exports, and kept as first for nearly a century. Nowadays, despite of having gone through several moments of instability, Brazil is still the largest coffee producer and exporter in the world. Currently, with the deregulation of the state, there is a more strategic organization and greater cooperation among agents. Because coffee is a typical export product, its price in different regions of the country is linked to international prices. Therefore, the price series have the same long term tendency, for being linked. The objective of this study is to evaluate the integration and price transmission of arabica coffee, traded on ICE Futures US in New York, to the producing regions of arabica coffee in the states of So Paulo (Mogiana and Paulista), Paran (Northeast) and Minas Gerais (Cerrado and South). In order to analyze the asymmetric price transmission between international coffee prices and Brazilian markets, the rule model for the diesel fuel market in Brazil, was the one described by Canedo-Pinheiro (2012), and for the dry bean market in the state of Sao Paulo, the model used by Cunha and Wander (2014). The findings confirm the presence of integration between the price series in the regions studied and the prices of ICE Futures US in both short and long term. All series had elasticity transmission rates greater than unity. The asymmetry in price transmission was present in all regions studied, ie price reductions in the international market are passed on with greater intensity for the producer than the increases, except in South of Minas Gerais, where adjustments were symmetrical. Even though there is short-term asymmetry, the study found that in the long run, asymmetry tends to reverse and even disappear, depending on the period, for all producer regions. Although the drop settings are passed on faster than the increases in the short term, in the long-term the speed adjustment for price increases is greater than for reductions, except Mogiana region.
Keywords: Coffee market; Price asymmetry; Cointegration; Error correction model
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Relao entre os preos deflacionados de caf arbica para as regies
selecionada e da Bolsa ICE Futures US, em dlares/sc. ................ ....... 23
Figura 2 Evoluo da produo mundial de caf, em milhes de sacas 60 Kg, e
evoluo do nmero de contratos de caf negociados na bolsa ICE
Futures US, em milhes de unidades, no perodo de 2005 a 2014. ........ 38
Figura 3 O sistema agroindustrial do caf no Brasil................................................ 44
Figura 4 Comrcio entre duas regies produtoras sem custo de transferncia. ..... 48
Figura 5 Dados dirios dos preos de caf arbica da regio Cerrado de Minas
Gerais e da Bolsa ICE Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc
................................................................................................................. 66
Figura 6 Disperso dos preos de caf arbica da regio Cerrado de Minas Gerais
e da Bolsa ICE Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc, e
representao do vetor de cointegrao .................................................. 67
Figura 7 Impacto acumulado, aps variao de 1% no preo da bolsa ICE Futures,
para a regio Cerrado de Minas Gerais ................................................... 69
Figura 8 Dados dirios dos preos de caf arbica da regio Sul de Minas Gerais e
da Bolsa ICE Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc. ............ 70
Figura 9 Disperso dos preos de caf arbica da regio Sul de Minas Gerais e da
Bolsa ICE Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc, e
representao do vetor de cointegrao .................................................. 71
Figura 10 Impacto acumulado, aps variao de 1% no preo da bolsa ICE
Futures, para a regio Sul de Minas Gerais ............................................. 73
Figura 11 Dados dirios dos preos de caf arbica da regio Mogiana e da Bolsa
ICE Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc ......................... 74
Figura 12 Disperso dos preos de caf arbica da regio Mogiana e da Bolsa ICE
Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc, e representao do
vetor de cointegrao ............................................................................. 75
Figura 13 Impacto acumulado, aps variao de 1% no preo da bolsa ICE
Futures, para a regio Mogiana .......................................................... 77
Figura 14 Dados dirios dos preos de caf arbica da regio Paulista e da Bolsa
ICE Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc .......................... 78
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Figura 15 Disperso dos preos de caf arbica da regio Paulista e da Bolsa ICE
Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc, e representao do
vetor de cointegrao ............................................................................ 79
Figura 16 Impacto acumulado, aps variao de 1% no preo da bolsa ICE
Futures, para a regio Paulista ........................................................... 81
Figura 17 Dados dirios dos preos de caf arbica da regio Noroeste do Paran
e da Bolsa ICE Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc ....... 82
Figura 18 Disperso dos preos de caf arbica da regio Noroeste do Paran e
da Bolsa ICE Futures US, em logaritmo do preo em dlares/sc, e
representao do vetor de cointegrao............................................... 83
Figura 19 Impacto acumulado, aps variao de 1% no preo da bolsa ICE
Futures, para a regio Noroeste do Paran ........................................ 85
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Evoluo da produo mundial de caf da safra 2008/09 safra 2013/14,
em milhes de sacas, e a participao percentual dos principais pases
produtores. ............................................................................................... 35
Tabela 2 - Evoluo da produo mundial de caf arbica da safra 2008/09 safra
2013/14, em milhes de sacas, e a participao percentual dos principais
pases produtores. .................................................................................... 36
Tabela 3 - Quantidade exportada de caf por pas da safra 2008/09 2013/14 em
milhes de sacas e a participao percentual de cada pas na safra
2013/14 .................................................................................................... 37
Tabela 4 - Principais pases consumidores de caf das safras 2008/09 2013/14, em
milhes de sacas, e sua participao percentual na safra 2013/14 ......... 40
Tabela 5 Produo nacional anual de caf (arbica e robusta), por estado entre
2009 e 2014 e porcentagem da produo do ano de 2014, em milhes de
sacas beneficiadas (60 Kg) ...................................................................... 41
Tabela 6 Produo de caf arbica por estado entre 2009 e 2014 e porcentagem
da produo do ano de 2014, em milhes de sacas beneficiadas (60 Kg)
............................................................................................................... 41
Tabela 7 Produo de caf arbica nas mesorregies geogrficas selecionadas
para o estudo, entre 2008 e 2013 e porcentagem da produo do ano de
2013 (em mil toneladas de caf em gro) ................................................ 43
Tabela 8 Descrio das variveis utilizadas na anlise de assimetria de
transmisso de preos ............................................................................. 54
Tabela 9 Resultados dos testes de raiz unitria Elliot-Rothenberg-Stock (DF-GLS)
para as sries de preo em logaritmo ...................................................... 63
Tabela 10 Resultados dos testes de raiz unitria KPSS para as sries de preo em
logaritmo ................................................................................................... 64
Tabela 11 Resultados dos testes de cointegrao de Johansen para as regies
pesquisadas em relao srie de preos internacional de caf arbica
da bolsa ICE Futures de Nova York ......................................................... 65
Tabela 12 Vetores de Cointegrao ( 's ) para o logaritmo das sries dirias de
preos de caf arbica, no perodo selecionado da pesquisa. ................. 65
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20
Tabela 13 Equao 4.4.5 estimada para a regio Cerrado de Minas Gerais pelo
modelo de correo de erros, para os dados em logaritmo natural ......... 68
Tabela 14 Equao 4.4.5 estimada para a regio Sul de Minas Gerais pelo modelo
de correo de erros, para dados em logaritmo natural .......................... 72
Tabela 15 Equao 4.4.5 estimada para a regio Mogiana (SP) pelo modelo de
correo de erros, para dados em logaritmo natural ............................... 76
Tabela 16 Equao 4.4.5 estimada para a regio Paulista (SP) pelo modelo de
correo de erros, para dados em logaritmo natural ............................... 80
Tabela 17 Equao 4.4.5 estimada para a regio Noroeste do Paran pelo modelo
de correo de erros, para dados em logaritmo natural .......................... 84
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21
1 INTRODUO
O caf foi o produto que impulsionou a economia brasileira desde o incio
do sculo XIX, sendo o principal produto de exportao do pas durante quase 100
anos. A importncia do Brasil no mercado internacional do caf foi crescente desde
a metade do sculo XIX, atingindo seu pice no incio do sculo XX, quando a
produo do pas chegou a 70% do total mundial (PRADO JNIOR, 2008). Porm
aps este perodo, o setor cafeeiro passou por diversos momentos de instabilidade,
sendo um dos principais, aquele gerado pela crise da Bolsa de Valores de Nova
York, em outubro de 1929, crise esta que provocou a queima de milhares de sacas
de caf, na tentativa de conter a queda dos preos de tal gro (MIRANDA;
FERNANDES; SILVA, 2010).
Diante dos diversos perodos de instabilidade, o caf acabou perdendo ao
longo dos anos parte da sua relevncia para a economia brasileira. Mas
independente disso, nos dias atuais, de acordo com dados da Companhia Nacional
de Abastecimento - CONAB (2014), o Brasil responsvel por um tero da produo
mundial de caf. Logo, apesar dos percalos, pode-se considerar, assim como
fazem Miranda, Fernandes e Silva (2010), que a cultura cafeeira sempre teve grande
importncia dentro do cenrio econmico brasileiro, contribuindo para a dinamizao
de diversos setores da economia, sempre com participao de destaque nas
receitas cambiais, na formao de capital do setor agrcola e na transferncia de
renda para outros setores.
Desde a insero da cultura cafeeira em solo brasileiro, tanto a produo e a
comercializao de caf, bem como as polticas a elas relacionadas, passaram por
diversas fases/processos, sendo que algumas foram de suma importncia para a
configurao do setor cafeeiro brasileiro tal qual ele atualmente. Como exemplo,
pode-se citar o processo de desregulamentao da cafeicultura brasileira, que se
deu dentro do cenrio de liberalizao econmica pelo qual a economia passou na
dcada de 90 e que foi marcado pelo fim dos Acordos Internacionais do Caf e do
Instituto Brasileiro do Caf (IBC), alm do trmino do Tabelamento de preos do caf
no mercado brasileiro (SALGUEIRO, 2013).
Tal desregulamentao do setor do caf foi o primeiro passo para a definio
da configurao deste setor, tal qual ele hoje. Por este motivo, h atualmente uma
exigncia maior no que diz respeito organizao estratgica do setor, bem como
-
22
uma maior cooperao entre seus agentes, com a criao de organizaes de
interesses.
Para Nogueira (2005), o setor cafeeiro est disposto em uma espcie de rede
constituda por produtores, processadores, traders e consumidores que se
relacionam mutuamente e se influenciam, respeitando os limites impostos pelas
relaes de mercado. Tais relaes e influncias mtuas acabam por refletir na
integrao e na eficincia do setor.
A integrao benfica na medida em que, segundo Goodwin e Schroeder
(1991), mercados integrados contm informaes mais precisas e ajustam-se, de
modo mais rpido, s mudanas na economia. Alm disso, favorecem a
especializao e as decises de comercializao dos produtores, contribuindo para
a movimentao eficiente de produtos (CUNHA et al., 2010). Os mercados so
interdependentes, o que significa que as mudanas nos preos em um mercado so
transmitidas aos preos dos demais (NOGUEIRA; AGUIAR; LIMA, 2005).
O mercado futuro de caf relativamente pequeno comparado aos mercados
futuros de outras commodities agrcolas, como por exemplo, a soja. Parte dos
agentes do mercado acredita que uma parcela das flutuaes de preo do caf
provocada por especulaes das bolsas de futuros devidas a alteraes bruscas de
posies.
Admite-se, assim, que boatos ou expectativas sobre o clima, muitas vezes
sem respaldo tcnico-cientfico, podem refletir em flutuaes substanciais das
cotaes nas bolsas de Nova York ou Londres, podendo acarretar grandes
mudanas na renda dos produtores, j que a bolsa de futuros a referncia para a
venda a termo. Para honrar seus compromissos, os produtores podem ter de realizar
seus negcios sem esperar possvel melhora dos preos (NUNES et al., 2004).
Um bom exemplo da relao entre os preos nacionais do caf e da ligao
destes com os preos de negociao do caf nas Bolsas Internacionais de
Mercadorias e Futuros apresentado pela Figura 1, que traz as mdias mensais dos
preos deflacionados1 do caf em dlares por saca para as diferentes regies
produtoras brasileiras (Cerrado, Mogiana, Regio Paulista, Noroeste do Paran e
1 Os preos em dlares/saca 60Kg foram deflacionados pelo ndice de preos ao produtor para
todas as commodities (Producer Price Indexes all commodities) disponibilizado pelo Bureau de Estatsticas de Trabalho do Ministrio do Trabalho dos Estados Unidos (Bureau Labor Statistics/United States Department of Labor). Foram utilizadas as mdias mensais obtidas pelas cotaes dirias de cada regio.
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23
Sul de Minas Gerais) e as mdias mensais dos preos deflacionados na Bolsa ICE
futures US.
Figura 1 Relao entre os preos deflacionados de caf arbica para as regies
selecionadas e da Bolsa ICE Futures US, em dlares/sc
Fonte: Elaborada pela autora com dados de CEPEA e ICE Futures US (2015)
Por meio da Figura 1 possvel perceber que os preos nas diversas regies
produtoras brasileiras seguem uma trajetria parecida, que tambm semelhante
quela seguida pelo preo do caf na Bolsa ICE Futures US. So evidncias iniciais
a respeito da relao entre tais preos do caf, o que fornece suporte para
avaliaes mais robustas, que podem ponderar com mais preciso a integrao e a
velocidade de transmisso entre tais preos.
Sendo assim, a integrao existente no setor cafeeiro e a relao/transmisso
entre os preos nacionais e internacionais do caf arbica constituem o foco
principal da anlise que se prope a fazer no presente trabalho, considerando os
preos nas principais regies produtoras de caf arbica do Brasil em relao
principal Bolsa Internacional de Mercadorias e Futuros que negocia o produto.
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24
Por fim, importante ressaltar que diversos trabalhos sobre a transmisso de
preos do caf arbica foram publicados recentemente, porm seus focos de estudo
foram no perodo aps a desregulamentao do mercado, com dados at o ano de
2007. Cunha et al. (2010) estudou a transmisso de preos do caf da Bolsa em
Nova York para pases produtores da Amrica Latina e seu efeito entre os pases.
Brunetti e Bittencourt (2007) focaram na integrao dos preos entre os estados
brasileiros produtores. Lee e Gmez (2013) estudaram a transmisso entre o preo
internacional e os preos do varejo de caf arbica nos mercados da Frana,
Alemanha e Estados Unidos.
1.1 Objetivo Geral
Este trabalho tem por objetivo analisar a integrao e a transmisso de
preos do caf arbica negociado na bolsa ICE Futures US, em Nova York, para as
regies produtoras de caf arbica dentro dos estados de So Paulo, Minas Gerais
e Paran, para cotaes dirias de 04 de setembro de 2002 29 de agosto de 2014.
Como objetivos especficos tm-se:
Analisar a existncia de integrao nos preos do caf
arbica da bolsa ICE Futures US com as principais microrregies
produtoras de caf arbica Cerrado e Sul de Minas Gerais, Mogiana e
Paulista do estado de So Paulo e regio noroeste do estado do
Paran, para o caf tipo exportao;
Verificar a existncia de assimetria de transmisso de
preos entre as cotaes da bolsa ICE Futures US e as microrregies
produtoras estudadas;
Verificar e calcular a existncia de relao de curto e
longo prazo entre as variveis e analisar sua convergncia em
separado;
Mostrar a intensidade e o perodo de tempo necessrio
para uma variao no preo do caf arbica na ICE Futures US ser
transmitida nos mercados estudados;
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Evidenciar como as alteraes nos preos do caf arbica
negociado na bolsa ICE Futures US afetam as negociaes de preo
para o produtor brasileiro.
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2 REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 A produo de caf no Brasil
Segundo pesquisas, o caf tem sua origem na frica na regio da Etipia
Central. A cultura foi difundida pelo mundo a partir dos comerciantes rabes,
atingindo os pases europeus, onde seu consumo se popularizou durante o sculo
XVII (BARBOSA, 2012). A partir da Europa, o cultivo do caf foi difundido no mundo
pelos colonizadores europeus e chegou ao Brasil em 1727, pela Guiana Holandesa.
Seu cultivo se iniciou no Norte do pas (primeiro em Belm e em seguida no
Maranho) e, a partir dessa regio, se difundiu pelo pas at atingir a regio do Vale
do Paraba e interior paulista, onde se tornou a principal atividade no sculo XIX.
De acordo com Bragana (2003), em meados do sculo XIX, o setor cafeeiro
concentrava praticamente toda a riqueza brasileira, sendo que a influncia do caf
no se deu apenas no mbito econmico, segundo o autor acima, o caf tambm
exerceu grande influncia no cenrio social e poltico do pas.
Pode-se considerar que o caf proporcionou um considervel progresso
economia e ao desenvolvimento do pas, j que fomentou a criao de centros
urbanos, a expanso da rede ferroviria, a criao de novos portos, dentre outros
fatores que dinamizaram o pas. Ainda pode-se ressaltar que o caf tambm
proporcionou a insero do Brasil no comrcio externo (MIRANDA; FERNANDES;
SILVA, 2010), que foi muito importante para o aumento da demandada de tal
produto, como deixa claro Ribeiro (2011).
O surgimento durante o sculo XIX, dos centros urbanos industriais nos
Estados Unidos, aliado ao estreitamento do comrcio entre pases permitido pelos
navios a vapor, fez com que o comrcio de caf aumentasse em torno de 70% entre
os ltimos anos do sculo XIX e o incio do sculo XX.
Divergncias entre demanda e oferta de caf foram temas que, por dcadas e
dcadas, estiveram no centro de polticas e acordos com vistas a regular estas duas
foras, tanto internamente quanto no mercado internacional.
2.1.1 Do convnio de Taubat at a abertura econmica
Saes (1995) mostra que, devido elevao do consumo de caf no final do
sculo XIX e incio do XX e o no acompanhamento deste por parte da oferta,
-
28
verificou-se uma tendncia de alta de preo durante a ltima metade do sculo XIX,
que, posteriormente, fez com que a quantidade de caf ofertada no mercado
mundial tambm se elevasse. Esse aumento da oferta acabou por ocasionar
excedentes de produo, mantendo-se, porm, contnuos lucros.2 Silva (1976)
ressalta que j em 1882 a produo mundial de caf j era maior do que o seu
consumo mundial.
Porm, os lucros dos cafeicultores no se mantiveram em patamares
elevados porque a partir de 1896, o preo internacional do caf se desvalorizou em
proporo maior do que a moeda brasileira, o que fez com que o preo interno do
caf se reduzisse. Silva (1976) pontua que a cotao mdia no ano de 1893 do saco
de 60Kg de caf era 4,09 libras, valor este que caiu para 2,91 libras em 1896,
chegando a 1,48 libras em 1899.
Alm disso, neste perodo foi verificada uma estagnao da demanda por
caf, principalmente por parte do mercado estadunidense, que segundo Silva (1976)
era o principal mercado consumidor de caf brasileiro. A conjuno destes fatores
aliada superproduo, fez com que em 1906 fosse firmado o Convnio de Taubat
(SAES, 1995; RIBEIRO,2011).
O convnio de Taubat foi institudo pelos governadores dos estados de So
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, determinando o preo mnimo do caf em
moeda corrente taxa de cmbio que vigorava da data de operao (MAIA et al.,
2014).
Ainda de acordo com Maia (2014, p. 136-137) a compra do caf ao preo
determinado deveria acontecer da seguinte maneira:
A compra ao preo estabelecido seria realizada com recursos oriundos de um fundo lastreado em um emprstimo externo de 15 milhes de libras esterlinas. O emprstimo, por sua vez, seria garantido por um imposto cobrado (em divisa-ouro) sobre a saca de caf exportado.
Ou seja, o financiamento para a aquisio do excesso de oferta de caf e
para a formao de estoques, com emprstimos recebidos de bancos internacionais,
era o principal mecanismo do convnio aqui em questo. Aliado a este mecanismo
principal, tambm estavam as cobranas de impostos sobre a exportao do caf,
2 Delfim Neto (1993) acredita que o que propiciava os lucros dos produtores de caf era a
desvalorizao cambial brasileira, fruto da expanso monetria ocorrida no incio de 1890 e no os preos internacionais do caf.
-
29
que contribuam para abater os custos dos emprstimos citados acima, alm de
medidas que buscavam conter a expanso da produo cafeeira (SAES, 1995).
J Silva (1976), citando Celso Furtado, resume os objetivos do Convnio de
Taubat em quatro pontos principais: i) compra do excesso da produo cafeeira, de
modo a retomar o equilbrio entre oferta e demanda; ii) tal compra seria financiada
por emprstimos estrangeiros; iii) cobrana de impostos sobre as exportaes de
caf para fazer frente aos servios da dvida adquirida por conta dos emprstimos
tomados; iv) desestmulo do aumento da produo de caf.
O Convnio de Taubat no foi uma unanimidade no pas, nem fora dele.
Saes (1995) mostra que tanto os estados que no tinham a cultura cafeeira como
motor de sua economia, bem como instituies financeiras da Inglaterra, temiam que
tal poltica afetasse as finanas do Tesouro Nacional brasileiro.
Maia et al. (2014) consideram tal convnio como o marco inicial da
interveno do Estado na formao de preos do mercado cafeeiro, alm de ser o
incio da poltica de valorizao, como salientam Silva (1976) e Saes (1995). Alis,
Saes (1995) pondera que tal processo de valorizao trazido pelo Convnio de
Taubat foi bem-sucedido, no s devido aos mritos polticos, mas a diversos
fatores, como, por exemplo, as geadas, que reduziram consideravelmente a
produo, diminuindo a oferta em alguns anos. Tal sucesso fez com que o governo
federal passasse a tratar a valorizao como uma poltica nacional e, assim, foram
implementados mais dois planos consecutivos de defesa do caf, que contriburam
para que, mesmo em momentos de instabilidade, os lucros da comercializao do
gro permanecessem dentro da economia brasileira, ao invs de ficarem com
comerciantes estrangeiros (SAES, 1995).
Assim, tem-se que desde que foi implementada a primeira interveno do
estado na comercializao do caf, com vistas a proteger os preos, seguiu-se um
padro de valorizao que surtiu efeitos positivos por um perodo considervel (de
1906 a 1929), cujo o marco inicial/principal foi a instituio do Convnio de Taubat,
com a posterior instituio da Defesa Permanente que visava utilizar a posio do
Brasil de quase-monopolista do mercado cafeeiro para produzir grandes lucros e
manter os preos do caf acima de suas mdias. Isso incentivou o aumento da
produo, que, por sua vez, contribua para reforar a disparidade entre a oferta e a
demanda (SAES, 1995).
-
30
Porm, a partir da crise de 1929, a regulamentao do mercado cafeeiro por
parte do estado sofreu mudanas, uma vez que as medidas que vinham sendo
implementadas at ento no eram suficientes para suplantar os efeitos negativos
da crise no setor e, alm disso, os conflitos de interesses entre diferentes setores da
sociedade, tais como comerciantes, banqueiros, dentre outros, se tornaram mais
proeminentes no cenrio poltico nacional. Logo a interveno governamental da
forma como estava sendo feita foi substituda pela criao de rgos reguladores
que visavam a contemplar as necessidades dos cafeicultores daquele perodo
(SAES,1995).
Saes (1995) considera o perodo que vai de 1931 a 1933 como um perodo de
mudana na conduo da poltica de apoio ao caf. Em 1931 foi criado o Conselho
Nacional do Caf (CNC), que, em 1933, foi substitudo pelo Departamento Nacional
do caf (DNC), subordinado ao Ministrio da Fazenda, cujo o objetivo principal era
reduzir a oferta de caf, que desde o perodo anterior a crise de 1929, j se
mostrava de grande monta. Porm o DCN no teve vida longa, sendo extinto em 30
de junho de 1946, devido presso de diversos setores da cafeicultura que estavam
insatisfeitos, por acreditarem que a queda excessiva da produo de caf provocada
pelas polticas da DNC era a origem de seus prejuzos financeiros.
Ainda segundo Saes (1995) da extino do DNC at 1952, apesar de existir
um consenso entre os cafeicultores de que era necessrio um rgo capaz de unir,
sintetizar e organizar os interesses do setor, a comercializao do caf passou por
um momento liberal, com pouca participao do Estado devido ao bom momento do
mercado internacional do caf que apresentava preos crescentes. Porm, esta
situao se inverte j no incio da Guerra da Coria e tambm devido a poltica de
congelamento de salrios e preos no mercado estadunidense. Em dezembro de
1952, por meio da Lei n1779 foi criado o Instituto Brasileiro do Caf (IBC)
(SAES,1995).
Segundo Salgueiro (2013) o IBC era constitudo primordialmente por
cafeicultores e, de acordo com Bragana (2003), entre as suas atribuies,
fiscalizava os estoques por meio de um sistema de garantias de preos,
determinando tambm o preo mnimo de exportao.
Saes e Nakazone (2002) ressaltam o desestimulo qualidade da produo
originada pela poltica de preos praticada pelo IBC, que, segundo os autores, era
baseada na variao da produo, ao invs de levar em considerao a qualidade.
-
31
Inicialmente a interveno do IBC era focada apenas na comercializao do
caf; porm, a superproduo cafeeira dos anos 60 e os estoques, que j eram duas
vezes maiores do que sua demanda mundial, fizeram com que o Estado assumisse
o papel de coordenador e planejador de todas as atividades do setor cafeeiro, tais
como a agrcola, a da indstria de transformao, a da distribuio, bem como o
consumo (SAES; 1995; SAES; NAKAZONE, 2002).
Saes e Nakazone (2002) apontam a campanha para aumento do consumo de
caf, o incentivo para a criao da indstria de caf solvel e a proibio da entrada
de empresas estrangeiras no mercado brasileiro, como algumas das medidas
tomadas pelo Estado para reduzir os custos dos estoques de caf e para manter a
poltica de valorizao no mercado externo.
Foi institudo em 1962 o primeiro Acordo Internacional do Caf (AIC), na
esfera da Organizao Internacional do Caf (OIC), firmado entre 42 pases
exportadores e 25 pases consumidores (SAES; NAKAZONE, 2002). Consolidado
entre os pases produtores de caf, este acordo, segundo Nogueira (2005) tinha
basicamente como objetivo regulamentar/sustentar os preos e a oferta mundial de
caf. Alm disso, o AIC tambm visava a estimular o consumo de caf, fazer frente
aos principais problemas mundiais em sua comercializao, melhorar o padro de
vida e as condies de trabalho dentro do setor, entre outros (SAES, 1995).
Saes (1995) ressalta que tal acordo vigorou entre os perodos de 1965 a
1972, de 1981 a 1985 e de 1988 a 1989, sendo que em 1972 o acordo foi
descontinuado devido ao Canad e aos Estados Unidos no concordarem em
ajustar o preo do caf de acordo com a desvalorizao do dlar e nos anos de
1986 e 1987 o acordo no vigorou, pois segundo Bragana (2003), nestes anos
houve a quebra da safra brasileira, tornando assim sem necessidade a regulao.
Bragana (2003) salienta a mudana que o AIC representou no panorama
internacional do setor do caf, j que a estabilizao dos preos internacionais deste
produto era feita atravs do controle da oferta de cada pas produtor por meio de
cotas de exportao.
No que tange especificamente ao mercado brasileiro, Bragana (2003) pontua
que a estratgia praticada pelo Brasil durante a vigncia do AIC possivelmente foi o
que provocou a queda na participao do seu caf no mercado mundial. Isso porque
de acordo com Saes e Nakazone (2002) em vrias situaes dentro dos acordos, o
Brasil tinha um papel de regulador, uma vez que o pas aceitava reduzir sua
-
32
participao, atuando como ofertante residual, e assim detendo estoques, j que sua
exportao ficava limitada pela diferena entre a demanda mundial, considerando o
nvel de preos determinados pela poltica definida pelos membros da AIC, e a
produo dos demais pases exportadores. Logo o Brasil teve um papel crucial no
sucesso das polticas do AIC. Por outro lado, acabou por sacrificar sua participao
no mercado internacional de caf. Saes e Nakazone (2002) apresentam dados que
mostram que, no incio do sculo XX, a participao do Brasil no mercado mundial
de caf estava por volta de 80%; j na dcada de 80 esta participao reduziu para
25%.
Saes (1995) mostra que a perda de mercado internacional do caf brasileiro
s no foi maior no incio da dcada de 70 devido estratgia de comercializao
implementada pelo IBC, que negociava seus estoques com grandes torrefadoras
internacionais, o que contribua para a exportao do caf brasileiro. O problema
que estes negcios eram feitos para o caf de qualidade inferior (caf do grupo II), o
que ajudou a construir uma imagem negativa do caf brasileiro no exterior.
Os acordos do AIC se sucederam durantes vrios anos, passando por
algumas interrupes, porm as presses originadas pela vontade de aumentar a
participao no mercado mundial de caf, por parte dos produtores, e o
descontentamento dos pases consumidores com as distores dos preos em
relao a oferta e a diferena de preos e qualidade entre os pases membros e no
membros3, fizeram com que a manuteno dos acordos do AIC se tornassem
impraticveis. Aliado a isso, tambm j existia uma tendncia mundial que desejava
a liberalizao econmica de um modo geral (SAES, 1995). Logo, a conjuno
destes fatos fez com que em julho de 1989 fosse decretado o fim do AIC.
Nogueira (2005) acrescenta aos fatores listados acima como causadores do
fim do AIC, a busca pela qualidade do gro do caf, especialmente por parte do
setor cafeeiro estadunidense, o que de certa forma prejudicou a soberania do caf
brasileiro. Bragana (2003), por sua vez, cita certa resistncia do setor cafeeiro
brasileiro em fornecer caf de seus estoques para assim cumprir sua meta, como
tendo tambm contribudo para a derrocada do AIC.
3 Bragana (2003) salienta que os pases que no eram membros AIC compravam ou vendiam caf
por um preo menor ao estipulado pelos pases que faziam parte da AIC, e assim faziam uso da vantagem de mercado.
-
33
A partir do fim do AIC observa-se um cenrio pautado na liberalizao do
mercado e em mudanas institucionais, com o trmino das regulamentaes
internacionais seguido pela desregulamentao da comercializao no mbito
nacional com a extino do IBC em 1990 (MESQUITA et al., 2000). importante
lembrar, Nogueira e Aguiar (2011), do papel primordial que o IBC exerceu para o
desenvolvimento do setor cafeeiro brasileiro, pelo menos at o final da dcada de
80, mediante sua orientao poltica para o setor e ao tabelamento de preos no
mercado nacional. Porm, h que se destacar, mais uma vez, que esta
regulamentao no incentivava a melhoria na qualidade do caf, uma vez que os
gros de melhor qualidade no recebiam remunerao maior, j que o preo era fixo
para todos. O trmino do Tabelamento de preos do caf no mercado brasileiro
aconteceu em 1992 (Salgueiro, 2013).
Deve ser reforado que todo o processo de desregulamentao do caf no
Brasil estava inserido no bojo da abertura comercial e da concomitante
desregulamentao econmica pela qual a economia brasileira como um todo
atravessava no incio da dcada de 90 (NOGUEIRA, 2005).
Nogueira e Aguiar (2011) e Saes e Nakazone (2002) mostram que ainda
houve uma tentativa de retomar o sistema de cotas por parte dos pases produtores
de caf, com a criao da Associao dos Pases Produtores de Caf (APPC) em
1993, devido ao excesso de oferta mundial aliado aos preos decrescentes; porm,
tal associao no se mostrou efetiva e se dissolveu em 2001.
Saes e Nakazone (2002), ao analisarem o legado adquirido pelo setor
cafeeiro brasileiro, aps 50 anos de regulamentao da oferta, concluem que o caf
brasileiro ficou com uma imagem no mercado internacional de caf de mdia
qualidade, cuja finalidade apenas de constituir blends4.
Neste novo cenrio de maior liberalizao, Nogueira e Aguiar (2011) avaliam
que os agentes econmicos ganharam mais liberdade para tomar suas decises, a
concorrncia se tornou mais forte e os ganhos de competitividade comearam a
surgir. Ainda segundo os autores acima, os agentes inseridos dentro deste novo
panorama da cafeicultura tiveram que se adaptar nova realidade:
4 Blend um mix de diversas variedades de gros, que feito com o objetivo de dar bebida as
qualidades desejadas por um certo nicho de consumidores.
-
34
...empresrios dos vrios segmentos da cadeia produtiva de caf precisaram aprimorar seus mecanismos de obteno e anlise de informaes visando tomar decises mais eficientes, tanto sob o aspecto quantitativo quanto qualitativo. Informaes sobre preos, oferta e demanda, rea plantada, estoques, clima, entre outras, tornaram-se mais disponveis, sendo que muitas dessas informaes se concentraram em torno das operaes de compra e venda de contratos futuros na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), em So Paulo, e na New York Board of Trade (NYBOT), em Nova Iorque. Neste contexto, os vrios mercados regionais devem ter se tornado mais integrados uns aos outros, aumentando a eficincia da cadeia produtiva de caf (NOGUEIRA; AGUIAR, 2011, p. 50).
Pereira et al. (2010) reforam que, nesta nova conjuntura, o risco que era
tomado pelo governo foi transferido para os agentes da cadeia. Alm disso, sem a
participao do IBC, a qualidade do gro passou a ter muito mais importncia. O
produtor incentivado a buscar ganhos de produtividade e uma otimizao de seus
recursos por meio de melhorias em seus arranjos de produo e comercializao,
visando sempre reduzir seus custos e aumentar a qualidade de sua produo e, por
conseguinte, elevar seus lucros.
Por fim, o que se percebe com este breve relato a respeito da
regulamentao e a posterior desregulamentao do setor cafeeiro brasileiro, que
enquanto o caf era um item de suma importncia para a economia nacional, havia
uma forte ligao entre o Estado e o setor privado, cujo objetivo era manter a
vitalidade e a pujana deste segmento. A medida que o caf deixou de ser o ator
principal da economia brasileira, suas regulamentaes ficaram a cargo do setor
privado, seguindo tambm uma tendncia geral de maior liberalizao econmica.
Tal desvinculao do setor cafeeiro do Estado, que se v atualmente, exige uma
maior organizao estratgica do setor, bem como uma maior cooperao entre
seus agentes, com a criao de organizaes de interesses, como por exemplo v-
se atualmente com a Associao Brasileira da Industria de Caf (ABIC).
2.2 Panorama mundial do mercado de caf
2.2.1 Produo
Entre os tipos de caf cultivados no mundo, h duas espcies que mais se
destacam: arbica (Coffea arabica) e conilon ou robusta (Coffea canephora). Por
possurem propriedades organolpticas distintas, o mercado do produto acaba por
diferenciar sua demanda atravs do preo. Segundo Nogueira (2005), o caf arbica
-
35
considerado como tendo uma bebida de melhor qualidade, sendo utilizado na
formao dos blends, o que torna seu preo superior. O caf robusta, por sua vez,
muito utilizado na indstria de caf solvel, mesmo apresentando sabor menos
encorpado.
Apesar da reduo da participao do Brasil na produo de caf, o pas
continua sendo o maior produtor mundial com 54,7 milhes de sacas produzidas na
safra 2013/14, segundo o Servio Exterior de Agricultura do Departamento de
Agricultura dos Estados Unidos (FAS/USDA, 2015). Este valor corresponde a 35,7%
da produo mundial de caf na referente safra. Seus principais concorrentes so o
Vietn e a Colmbia, com 19,6% e 7,9% da produo mundial, respectivamente,
conforme a Tabela 1 abaixo.
Tabela 1 - Evoluo da produo mundial de caf da safra 2008/09 safra 2013/14,
em milhes de sacas, e a participao percentual dos principais pases
produtores
Pas / Safra 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 %Prod 2013/14
Brasil 53,3 44,8 54,5 49,2 57,6 54,5 35,7
Vietn 17,0 18,5 19,4 26,0 26,5 29,8 19,6
Colmbia 8,7 8,1 8,5 7,7 9,9 12,1 7,9
Indonsia 10,0 10,5 9,3 8,3 10,5 9,5 6,2
Etipia 5,5 6,0 6,1 6,3 6,3 6,3 4,2
ndia 4,4 4,8 5,0 5,2 5,3 5,1 3,3
Honduras 3,2 3,6 4,0 5,6 4,7 4,4 2,9
Uganda 3,3 2,9 3,2 3,1 3,6 3,9 2,5
Mxico 4,6 4,2 4,0 4,3 4,7 3,8 2,5
Guatemala 4,0 4,0 4,0 4,4 4,0 3,4 2,2
Outros 22,4 21,3 22,3 23,8 21,7 19,7 12,9
Mundo 136,2 128,6 140,4 143,9 154,8 152,5 -
Fonte: Elaborada pela autora com dados de FAS/USDA (2015)
No que tange ao caf da variedade arbica, o Brasil continua sendo o maior
produtor mundial, tendo na safra 2013/14 batido a marca de 39,5 milhes de sacas
produzidas. Seu principal concorrente a Colmbia, no em volume de produo,
como pode ser visualizado na Tabela 2, mas pelo marketing em relao a qualidade
da bebida oferecida.
-
36
Tabela 2 - Evoluo da produo mundial de caf arbica da safra 2008/09 safra
2013/14, em milhes de sacas, e a participao percentual dos principais
pases produtores
Pas / Safra 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 %Prod 2013/14
Brasil 40,5 33,0 41,8 34,7 42,1 39,5 45,1
Colmbia 8,7 8,1 8,5 7,7 9,9 12,1 13,8
Etipia 5,5 6,0 6,1 6,3 6,3 6,3 7,2
Honduras 3,2 3,6 4,0 5,6 4,7 4,4 5,0
Peru 4,0 3,3 4,1 5,2 4,3 4,3 4,8
Mxico 4,3 4,0 3,8 4,1 4,5 3,6 4,1
Guatemala 4,0 4,0 4,0 4,4 4,0 3,4 3,9
Nicargua 1,7 1,9 1,7 2,1 1,9 1,9 2,1
ndia 1,3 1,6 1,6 1,7 1,6 1,7 1,9
Indonsia 1,3 1,5 1,4 1,3 1,7 1,7 1,9
Outros 10,7 9,7 10,1 10,4 9,8 8,9 10,1
Mundo 85,1 76,6 87,1 83,4 90,9 87,7 -
Fonte: Elaborada pela autora com dados de FAS/USDA (2015)
2.2.2 Exportao
O Brasil continua sendo o maior exportador de caf do mundo. A principal
diferena entre o Brasil e os demais produtores/exportadores que o pas consegue
ter um volume elevado e um produto diferenciado tanto para atender os mercados
exigentes de caf fino, quanto atender a demanda de robusta das indstrias de
solvel e ainda escoar a produo para o mercado domstico. A evoluo da
quantidade exportada de caf nos ltimos anos pode ser observada na Tabela 3.
-
37
Tabela 3 - Quantidade exportada de caf por pas da safra 2008/09 a 2013/14 em
milhes de sacas e a participao percentual de cada pas na safra
2013/14
Pas / Safra 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 % Exp
2013/14
Brasil 31,5 29,8 35,0 29,8 30,7 34,1 28,7
Vietn 15,6 18,7 18,6 24,5 24,6 26,8 22,5
Colmbia 8,9 7,4 8,4 7,4 8,9 11,0 9,3
Indonsia 7,7 8,8 9,7 7,5 8,9 7,8 6,6
ndia 3,0 4,3 5,5 5,2 4,9 4,8 4,0
Peru 3,8 3,2 3,9 5,1 4,1 4,1 3,4
Honduras 3,1 3,2 3,9 5,3 4,5 3,9 3,3
Uganda 3,1 2,7 3,2 3,0 3,6 3,6 3,0
Etipia 3,0 3,3 3,2 3,1 3,3 3,3 2,8
Guatemala 3,8 3,9 3,7 3,8 3,8 3,2 2,7
Outros 17,5 17,8 18,2 19,6 19,4 16,4 13,8
Mundo 100,9 102,9 113,4 114,4 116,5 119,0 -
Fonte: Elaborada pela autora com dados de FAS/USDA (2015)
Aps a desregulamentao do mercado internacional de caf, com o fim das
cotas de exportao determinadas pelo Acordo Internacional do Caf (AIC), em
1989, os preos domsticos passaram a apresentar uma elevada interdependncia
dos preos internacionais do produto, segundo Cunha et al. (2011). Somado a isso,
observou-se aumento do poder de influncia no mercado por parte dos grandes
grupos empresariais do setor como, por exemplo, Nestl, Sara Lee, Starbucks e
Kraft Foods, que atuam em vrios pases, combinando as variedades na confeco
de seus blends e controlando o sabor da bebida nos mercados consumidores.
Devido a isto, estas empresas tm muito mais habilidade e recursos para causar
mudanas no mercado do que os pases produtores (CUNHA et al., 2011, p. 532).
Outra mudana verificada no mercado do caf foi o fenmeno de
financeirizao dos mercados de commodities. Este fenmeno estaria associado
grande atuao de bancos e fundos que utilizam derivativos sobre commodities em
suas carteiras de investimento com o objetivo de diversificar o risco, dado que a
formao dos preos destes papis bastante distinta dos ttulos de renda fixa e
das aes, alm de ser possvel garantir hedge contra a inflao (FRICK; SILVEIRA,
2012).
-
38
A liberalizao e concentrao do mercado, o aumento da competitividade
dos produtores brasileiros em relao a outros pases, a maior incidncia de eventos
climticos extremos, e a financeirizao das commodities aumentou a busca pelos
profissionais por proteo contra os riscos de preo atuando no mercado futuro.
A figura 2 mostra a evoluo do nmero de contratos futuros de caf
negociados na bolsa ICE Futures US nos ltimos 10 anos em comparao com a
evoluo da produo mundial de caf levantada pelo USDA (2015). No perodo de
2005 a 2014 houve um aumento de 76,8% no nmero de contratos negociados na
referida bolsa, enquanto que a produo mundial do caf aumentou apenas 25,4%
no mesmo perodo.
Figura 2 Evoluo da produo mundial de caf, em milhes de sacas 60 Kg, e
evoluo do nmero de contratos de caf negociados na bolsa ICE
Futures US, em milhes de unidades, no perodo de 2005 a 2014.
Fonte: Elaborada pela autora com dados de FAS/USDA e ICE Futures US (2015).
Portanto a escolha da utilizao dos preos da bolsa ICE Futures US como
referncia para o preo dos cafs arbica se justifica para o presente trabalho.
-
39
2.2.3 Consumo
O consumo mundial de caf tem apresentado um crescimento anual tanto nos
pases desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Nos ltimos 10 anos, o
crescimento mdio foi de 2,2% ao ano. Levando em conta que esse crescimento foi
maior que a produo, os estoques recuaram significativamente nos ltimos 10
anos5. J para a safra de 2015/2016 a expectativa que o consumo global de caf
fique prximo a 149,87 milhes de sacas, maior volume j registrado (CONAB, 2014;
USDA, 2015).
exceo do Brasil, os principais consumidores do mundo so pases
desenvolvidos, importadores do gro. O consumo brasileiro cresceu 54% em 10
anos e hoje est prximo do pas maior consumidor mundial: os Estados Unidos.
Como Bloco, os 27 pases da Unio Europeia lideram o consumo de caf com uma
mdia anual de 43,9 milhes de sacas nos ltimos 8 anos (Tabela 4).
5 De acordo com Queiroz (2014) nos ltimos oito anos foi constatado uma divergncia entre a
produo e o consumo mundial de caf, uma vez que enquanto a produo vem crescendo a uma taxa mdia de 1,35% ao ano, a demanda mundial vem apresentando elevao mdia anual de 1,46%.
-
40
Tabela 4 - Principais pases consumidores de caf das safras 2008/09 2013/14,
em milhes de sacas, e sua participao percentual na safra 2013/14
Pas / Safra 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 % Cons 2013/14
Unio Europeia 40,0 50,0 42,2 46,2 44,3 42,6 29,9
Estados Unidos 22,6 22,0 22,8 23,4 23,4 24,4 17,1
Brasil 18,0 18,8 19,4 20,0 20,1 20,1 14,1
Japo 6,9 6,8 6,9 6,9 7,4 7,6 5,3
Rssia 3,2 3,8 4,2 3,7 4,1 4,1 2,9
Canad 2,9 3,2 3,4 3,4 3,6 3,9 2,7
Filipinas 1,7 2,2 2,8 3,7 4,4 3,8 2,6
Etipia 2,5 2,8 2,9 3,1 3,1 3,1 2,2
Indonsia 1,9 1,9 1,7 2,4 2,7 2,8 2,0
Algria 2,1 2,1 1,8 2,3 1,9 2,3 1,6
Outros 23,2 24,2 26,0 26,7 27,2 27,8 19,5
Mundo 125,0 137,7 134,1 141,6 142,0 142,4 -
Fonte: Elaborada pela autora com dados de FAS/USDA (2015).
2.3 Panorama nacional do mercado de caf
O Brasil responsvel por um tero de toda a produo de caf mundial, logo
qualquer evento positivo ou negativo que acontea no mercado cafeeiro nacional
ter reflexo no resto do mundo (CONAB, 2014).
A produo do caf no territrio brasileiro realizada em regies bem
diversas, sob diferentes condies climticas e de altitude (desde 400 at 2.000m).
Segundo Brando (2000), as reas mais altas so ocupadas pelo caf arbica,
enquanto que as reas mais baixas, mais quentes e midas, so ocupadas pela
variedade robusta.
Dentre os estados produtores, Minas Gerais o maior estado produtor e
responde por quase 50% da produo nacional, com cultivo predominante de caf
arbica. O Esprito Santo, segundo maior estado produtor, cultiva
predominantemente o caf conilon, com quase 80% da safra brasileira desta espcie
(CONAB, 2015). Os principais estados produtores e suas respectivas produes nos
ltimos 6 anos esto listados na Tabela 5.
-
41
Tabela 5 Produo nacional anual de caf (arbica e robusta), por estado entre
2009 e 2014 e porcentagem da produo do ano de 2014, em milhes
de sacas beneficiadas (60 Kg)
Estados 2009 2010 2011 2012 2013 2014 % Prod 2014
Minas Gerais 19,9 25,2 22,2 26,9 27,7 22,6 49,9
Esprito Santo 10,2 10,1 11,6 12,5 11,7 12,8 28,2
So Paulo 3,4 4,7 3,1 5,4 4,0 4,6 10,1
Bahia 1,9 2,3 2,3 2,1 1,8 2,4 5,2
Rondnia 1,5 2,4 1,4 1,4 1,4 1,5 3,3
Paran 1,5 2,3 1,8 1,6 1,7 0,6 1,2
Outros 1,1 1,2 1,1 0,9 1,0 0,9 2,0
Brasil 39,5 48,1 43,5 50,8 49,2 45,3
Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2015)
Para a variedade arbica, o estado de Minas Gerais responsvel por quase
70% da produo nacional, com 22,3 milhes de sacas de 60 Kg beneficiadas no
ano de 2014 (Tabela 6). Do total colhido no estado, mais da metade proveniente
das regies Sul e do Centro-Oeste Mineiro. A maior produtividade, porm,
observada na regio que inclui o Cerrado Mineiro, que conta com um elevado
padro tecnolgico, como irrigao (CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS EM
ECONOMIA APLICADA - CEPEA, 2012).
Tabela 6 Produo de caf arbica por estado entre 2009 e 2014 e porcentagem
da produo do ano de 2014, em milhes de sacas beneficiadas (60 Kg)
Estados 2009 2010 2011 2012 2013 2014 % Prod
2014
Minas Gerais 19,6 24,9 21,9 26,6 27,4 22,3 69,2
So Paulo 3,4 4,7 3,1 5,4 4,0 4,6 14,2
Esprito Santo 2,6 2,8 3,1 2,8 3,5 2,9 8,8
Bahia 1,3 1,7 1,5 1,3 1,1 1,3 4,1
Paran 1,5 2,3 1,8 1,6 1,7 0,6 1,7
Rio de Janeiro 0,3 0,2 0,2 0,3 0,3 0,3 0,9
Outros 0,2 0,2 0,5 0,4 0,4 0,3 1,0
Brasil 28,9 36,8 32,2 38,3 38,3 32,3
Fonte: Elaborado pela autora com dados da CONAB (2015)
A escolha das regies a serem estudadas no se baseia nas regies de maior
produo ou maior produtividade, mas, sim, nas regies cuja qualidade do caf
referncia nacional.
-
42
O Sul de Minas Gerais a maior regio produtora de caf arbica do pas e
concorre em qualidade com o Cerrado/MG. Juntas, as regies foram responsveis
por mais de 30% da produo nacional de arbica no ano de 2013, conforme Tabela
7. Como caractersticas especficas, o Sul de Minas uma regio em que a
variedade arbica plantada em montanha, e em pequenas propriedades, cuja
bebida conhecida pela doura e corpo pronunciados (BRANDO, 2000).
A regio do Cerrado de Minas Gerais apresenta plats elevados, com
estaes bem definidas que propiciam uma maturao muito uniforme dos frutos. O
padro tecnolgico o mais elevado entre as regies escolhidas, caracterizado por
grandes fazendas com mecanizao intensa e irrigao. A qualidade da bebida
elevada e do tipo requerido para exportao (BRANDO, 2000).
Do estado de So Paulo, segundo maior produtor do pas, foram selecionadas
as regies Mogiana e Paulista. Segundo Brando (2000), a regio Mogiana apresenta
clima semelhante ao da regio Sul de Minas, podendo ser dividida em duas partes: a
rea sul, com relevo mais montanhoso e uso intensivo de mo-de-obra, e a rea
norte, mais plana e mecanizada. A qualidade da bebida semelhante dos cafs do
Sul de Minas e se sobressai por sua doura natural. J a regio Paulista se encontra
no centro-oeste do estado e sua topografia ondulada. A produo se d em
fazendas mdias a grandes, e a qualidade da bebida inferior em relao s
regies anteriores.
J na regio Noroeste do Paran, segundo Brando (2000), o cultivo do caf
arbica se d com alta densidade de plantio, variedades especialmente adaptadas e
em pequenas propriedades (menores que 8 hectares). Um dos motivos desta
estrutura a viabilizao da cultura em reas com risco de geadas pela latitude. A
bebida considerada de qualidade inferior produzida em So Paulo ou Minas
Gerais.
A evoluo da produo de cada regio escolhida para o estudo pode ser
visualizada na Tabela 7.
-
43
Tabela 7 Produo de caf arbica nas mesorregies geogrficas selecionadas
para o estudo, entre 2008 e 2013 e porcentagem da produo do ano
de 2013 (em mil toneladas de caf em gro)
Mesorregies geogrficas
2008 2009 2010 2011 2012 2013 % Prod 2013
Sul/Sudoeste - MG
651,6
461,3
646,3
519,9
673,8
633,2 21,4
Cerrado - MG
240,3
223,8
308,2
228,7
333,2
289,2 9,8
Mogiana - SP
105,3
76,2
100,6
65,7
86,0
97,4 3,3
Paulista - SP
31,2
10,2
38,1
32,9
35,3
33,1 1,1
Noroeste PR
11,3
4,1
8,5
6,5
3,4
4,5 0,2 Demais regies
1.768,5
1.668,6
1.814,0
1.853,3
1.909,3
1.911,6 64,5
Total Brasil
2.796,9
2.440,1
2.907,3
2.700,5
3.037,5
2.964,5 -
Fonte: Elaborado pela autora com dados do SIDRA/IBGE (2015)
2.4 Organizao do complexo agroindustrial do caf no Brasil
Seguindo Saes e Nakazone (2002) os principais segmentos do setor cafeeiro
brasileiro so os seguintes: i) fornecedores de mquina, equipamentos e insumos; ii)
produo primria; iii) primeiro processamento (maquinistas e cooperativas); iv)
segundo processamento (empresas de moagem e torrefao, cooperativas e
empresas de solvel); v) vendedores nacionais (atacadistas, cooperativas e
exportadores); vi) compradores internacionais (empresas de solvel, empresas de
torrefao e dealers) e vii) varejo nacional e internacional (pequeno varejo, mercado
institucional, supermercados, lojas de caf e bares e restaurantes. Tais segmentos
e o sentido de suas relaes so bem ilustrados pela Figura 3 que tambm
exposta por Saes e Nakazone (2002).
-
44
Figura 3 - O sistema agroindustrial do caf no Brasil
Fonte: Saes e Nakazone (2002)
A cadeia do caf tida como de fcil entendimento, j que dividida em
apenas trs segmentos principais: i) produo de gros; ii) indstria de torrefao e
moagem e iii) indstrias produtoras de caf solvel (Federao das Indstrias do
Estado do Paran - FIEPR, 2015). Para Saes e Nakazone (2002), as relaes entre
tais segmentos complexa.
De acordo com Nogueira (2005), como mostra a Figura 3, a transao inicial
do complexo agroindustrial do caf ocorre entre os fornecedores de insumos e os
produtores do gro, incluindo equipamentos, tais como colheitadeiras, secadores,
separadores de gros, dentre outros que so adequados a essa cultura. Nesta fase
inicial as cooperativas tm um papel importante, principalmente no que tange a
aquisio de equipamentos, j que o produtor cooperado consegue vantagens na
compra e no pagamento de tais insumos.
Em seguida, produo inicial vem o processamento, que abastecido por
meio de venda direta dos produtores para as indstrias processadoras, ou por meio
de venda intermediada pelas cooperativas - que tambm exercem a funo de
-
45
armazenadores - por meio de prestadores de servios, como maquinistas6,
corretores7 e/ou exportadores. Pode ocorrer mediante integrao nas cooperativas.
Aps o processamento, o caf comercializado tanto para o mercado
nacional quanto para o mercado internacional, com sua chegada - j industrializado
e pronto para o consumo - ao mercado varejista nacional e internacional
(NOGUEIRA, 2005).
De acordo Saes e Nakazone (2002) grande parte da produo da indstria de
moagem e de torrefao escoada para o varejo nacional, sendo que apenas uma
parte nfima vai para o mercado externo. O inverso se d na indstria de caf
solvel, em que grande parte da produo vai para o mercado internacional. De
acordo com dados da Associao Brasileira da Indstria de Caf ABIC (2015) no
ano de 2014, foram exportadas 3.245.407 sacas de caf solvel8, contra apenas
31.456 sacas de caf torrado.
Logo, de maneira resumida, pode-se dizer que o caf colhido pelo produtor,
pode tomar diversos caminhos, ou seja, pode ser exportado ainda em gro pelo
prprio produtor ou por cooperativas, ou ainda por corretores. Caso no seja
exportado, o gro beneficiado e assim utilizado nas indstrias de moagem, de
torrefao9 ou de caf solvel e assim seguir rumo ao mercado varejista nacional ou
internacional (FIEPR, 2015).
Conforme Bragana (2003), o caf pode ser comercializado antes ou depois
de ser industrializado, sendo que o caf no industrializado conhecido como caf
verde (tanto o arbica quanto o robusta). J o caf industrializado compreende o
torrado e modo e o solvel, sendo que estes produtos ainda podem ser
transformados em outros subprodutos como mostram Saes e Nakazone (2002), tais
6 De acordo com Saes e Nakazone (2002) os servios dos maquinistas tm sido cada vez menos
utilizados, j que uma parte cada vez maior dos produtores tem beneficiado seu caf atravs das cooperativas ou com maquinrio prprio. 7 Nogueira (2005) cita Saes e Jayo (2000) para mostrar que a participao do corretor na
comercializao do caf tende a diminuir, pois a informao a respeito do mercado de caf est cada vez mais acessvel aos produtores e aos demais agentes do sistema cafeeiro, logo, a informao que apenas o corretor detinha a tempos atrs, atualmente est disponvel a todos, e assim a importncia de tal agente vem diminuindo. 8 As sacas de caf solvel so calculadas pela converso: (peso lquido*2,6*1000)/60, sendo sua
medida equivalente em caf em gro (ABIC, 2015). 9 Segundo Fiepr (2015) nas indstrias de torrefao o caf torrado e modo e vendido ao
consumidor final tanto no mbito nacional como no internacional,sendo que nesta indstria existem poucas barreiras a entradas de novas firmas uma vez que as restries tecnolgicas so poucas e o capital exigido pequeno, isso segundo Bragana (2003). J a indstria especializada em solveis produz o caf grnulos e em p, sendo o seu foco o mercado externo, esta indstria caracterizada por poucas empresas de grande porte inseridas em uma estrutura oligopolizada (FIEPR,2015).
-
46
como cappuccinos, soft-drinks, balas, dentre outros que so direcionados ao
consumidor final.
importante ressaltar o papel crucial das cooperativas, que podem
armazenar e beneficiar o caf, alm de escoar a produo para o mercado nacional
e internacional. Existem casos em que a cooperativa participa no processamento.
Elas possuem uma relevante participao na comercializao do caf, o que
segundo Vegro (1994) pode agregar competitividade ao setor (NOGUEIRA, 2005).
Porm, tambm existem casos em que o prprio produtor beneficia o caf e
depois comercializa no mercado nacional ou internacional, sem que sua produo
passe por uma cooperativa (NOGUEIRA, 2005). No mercado externo, observam-se
variados tipos de riscos, tais como cmbio, oferta, qualidade do gro, polticas
agrcolas, que podem comprometer o bom desempenho dos exportadores, que, por
sua vez, tentam mitigar uma parte destes riscos se protegendo da variao nos
preos no mercado futuro.
Saes e Nakazone (2002) ressaltam que a regulamentao que existiu no
mercado cafeeiro brasileiro por vrias dcadas tolhia a capacidade de criar e buscar
oportunidades de mercado. Com o seu fim, foi possvel a criao e/ou fortalecimento
de grupos estratgicos dentro do setor cafeeiro, na forma de agrupamentos de
empresas inseridos dentro de um segmento que adotam um mesmo padro de
concorrncia e incorrem em determinados ativos similares.
-
47
3 TRANSMISSO DE PREOS E INTEGRAO DE MERCADOS
3.1 Conceitos de Mercado de um bem e equilbrio de preo entre mercados10
Segundo Bressler e King (1970), um mercado pode ser definido como uma
rea ou ambiente em que produtores e consumidores esto em comunicao com
outros, do lado da oferta e da demanda, havendo a transferncia de titularidade.
Neste ambiente pode-se observar ou no o movimento efetivo das mercadorias no
espao ou no tempo. Neste processo de comunicao, os preos so fixados, se
elevando ou reduzindo em resposta a alteraes nas foras da oferta e da procura
locais.
Considerando-se duas regies produtoras que possuem ofertas e demandas
diferentes, o comrcio entre elas ser lucrativo se os preos de equilbrio de cada
uma em isolamento forem diferentes, havendo um fluxo do bem da regio que
apresenta preo menor para a regio de maior preo, condicionado ao custo de
transferncia.
Na figura 4, antes de haver comrcio entre as regies, os preos do bem so
xP na regio X e yP na regio Y. Estes preos foram determinados pelas condies
de oferta e demanda locais. Considerando que haja comrcio entre as regies e
ignorando o custo de transferncia do produto, ser lucrativo transferir o produto de
Y para X, uma vez que x yP P . A tendncia ser de que o fluxo do produto de Y
para X continue at que o suprimento do produto em X aumente (e o de Y caia) o
suficiente para os preos em ambas as regies se igualarem.
Pode-se efetuar a soma horizontal tanto das duas curvas de demanda como
das duas curvas de oferta, chegando-se s curvas de demanda e oferta
combinadas, respectivamente. O cruzamento dessas duas curvas determina o preo
*P comum s duas regies, considerando nulo o custo de transferncia, e o volume
total produzido nas duas regies conjuntamente ( *''O Q ). Projetando esse nvel de
preo *P esquerda de modo a alcanar os dois grficos correspondentes a cada
regio, determina-se nas curvas de oferta regional a quantidade produzida em cada
regio e nas curvas de demanda regional a quantidade demandada em cada regio.
Percebe-se que com o comrcio inter-regional, na regio X se demandar um total
10
Esse texto foi baseado em Barros (2012).
-
48
de Ob de produto e produzir Oa , ficando um dficit de ab a ser coberto pelo fluxo
procedente de Y. Na regio Y, ser demandado 'O c e produzido 'O d , com um
supervit de produto correspondente a cd . Pelo mtodo empregado, resulta que
ab cd .
Figura 4 Comrcio entre duas regies produtoras sem custo de transferncia
Fonte: Bressler e King (1970) apud Barros (2012)
A partir desse modelo, pode-se considerar o custo de transporte (CT) por
unidade entre as regies X e Y (ADAMI; MIRANDA, 2011). Como resultado da
incorporao do custo de transporte tem-se:
Com comrcio, a diferena de preos entre duas regies tende a diminuir,
tendo como limite o custo de transferncia (transporte).
Quanto maior o custo de transferncia entre as regies, maior a diferena de
preos entre regies e menor a quantidade comercializada.
3.2 Integrao e Transmisso de preos entre mercados11
Segundo Fackler e Goodwin (2001), os mercados so considerados
integrados ao longo do tempo quando apresentam uma interdependncia de seus
preos, envolvendo as condies de oferta e demanda local e das de oferta e
11
Esse item foi baseado em Nogueira (2005), Brunetti e Bittencourt (2004), Cunha et al. (2010) e Cnedo-Pinheiro (2012).
-
49
demanda das demais localidades, havendo compartilhamento das mesmas
informaes de longo prazo. Esse conceito chamado de integrao espacial de
mercados.
A teoria de integrao dos mercados se baseia na Lei do Preo nico,
segundo a qual em que um mesmo produto (no caso uma commodity), vendido, sob
concorrncia perfeita, em diferentes localidades, deve possuir o mesmo preo
(cotados na mesma moeda), desconsiderando-se os custos de transporte e barreiras
comerciais, em que seus preos so cotados em termos de uma mesma moeda
(KRUGMAN; OBSTFELD, 2001). Quando h divergncia de preos, eles tendem a
ser corrigidos no curto prazo por operaes de arbitragem.
A Lei do Preo nico possui um modelo terico desenvolvido por Mundlak e
Larson (1992) (apud BRUNETTI; BITTENCOURT, 2004) em que o preo no
mercado interno corresponde ao preo no mercado internacional multiplicado pela
taxa de cmbio nominal, ou seja:
ittitRt PEPP ** (3.2.1)
ou
* *RtRt it
t
PP P
E (3.2.2)
em que: RtP = preo interno em reais no momento t
*itP = preo internacional em dlares em t
tE = taxa nominal (reais/ dlar) de cmbio
*
RtP = preo interno convertido e em dlares
Reescrevendo a (3.2.1) na forma logartmica e incluindo-se um erro aleatrio:
* *ln lnRt it tP P u (3.2.3)
Em que: o termo de erro considerado normal e independentemente distribudo
(com mdia e varincia constantes), sendo tambm no correlacionado com a
varivel explicativa, ou seja, ),(~ 2NIDut e 0)*( tit uPE .
-
50
Pode-se expressar a relao (3.2.3) numa forma mais geral:
Rt itP e P
(3.2.4)
e, logo, incluindo-se o erro aleatrio:
ln lnRt it tP P u (3.2.5)
em que: = constante que por hiptese teria valor igual a zero
= coeficiente que por hiptese teria valor igual unidade.
Este coeficiente a elasticidade de transmisso do preo
internacional em relao ao preo domstico. Quando 1 , variaes no preo
internacional so proporcionalmente transmitidas aos preos domsticos. Se 0 ,
significa que essa provavelmente uma economia fechada e que no h
relacionamento de preo com o resto do mundo. Consequentemente, se o
coeficiente tem valores entre 0 e 1, significa que o mercado aberto, com trocas
com o resto do mundo, porm existem empecilhos ao livre comrcio, sendo este
caso mais compatvel com o os padres observados no comrcio de bens no
mundo.
A integrao espacial de mercados mede o grau de co-movimentao dos
preos de um bem em diferentes locais atravs da medida da correlao entre seus
preos. As variaes de preo podem ser transmitidas direta ou indiretamente
atravs de uma rede de comrcio. Assim, a integrao espacial de mercados uma
medida do grau pelo qual choques de demanda e oferta que ocorrem em uma regio
so transmitidos outra (FACKLER; GOODWIN, 2001).
3.3 Assimetria de transmisso de preos
Silva Neto e Parr (2012) pontuam que a Assimetria de Transmisso de
Preos (ATP) acontece quando os preos praticados por diferentes agentes
econmicos tm reaes de maneiras, magnitudes e velocidades diferentes quando
esses preos passam por aumento ou diminuio.
-
51
Sob a hiptese da ATP elevaes nos preos, por exemplo, so repassadas
aos consumidores com maior rapidez e com maior intensidade do que as redues.
Von Cramon-Taubadel (1998) pondera que o termo assimetria quer dizer
que a reao de um preo em um nvel da cadeia de comercializao a uma
mudana de preo que tenha ocorrido em outro nvel, depende se a mudana inicial
positiva ou negativa, sendo que tanto a rapidez, quanto a reao, bem como a
magnitude da mudana no preo, pode ser assimtrica.
Seguindo a mesma linha, Aguiar (2011) argumenta que a transmisso de
preos considerada assimtrica quando acrscimos de preos so transmitidos de
forma diferente dos decrscimos. Essa diferena pode ocorrer tanto em relao
intensidade (quando a elasticidade de transmisso de acrscimos maior, ou
menor, que a elasticidade de transmisso dos decrscimos) quanto em relao
velocidade (quando os acrscimos so transmitidos mais rapidamente, ou
lentamente, do que os decrscimos). Portanto, a assimetria pode ser analisada sob
duas ticas: a da elasticidade total (longo prazo) e a da elasticidade de curto prazo,
conforme descrito em Aguiar (2011):
A elasticidade total mostra como as transmisses de acrscimos de preos podem ser diferentes das transmisses de decrscimos em intensidade depois de o mercado se ajustar completamente, enquanto que a elasticidade de curto prazo mostra se as transmisses dos acrscimos de preos podem diferir das dos decrscimos no s em intensidade, como tambm em termos de perodo de transmisso (AGUIAR, 2011, p. 4-5.)
Segundo Meyer e Von Cramon-Taubabel (2004), uma das questes
importantes de se constatar a assimetria relaciona-se com a teoria econmica
convencional, pois esta no prev e nem explica a sua existncia. A possibilidade da
existncia de assimetria normalmente atribuda a falhas de mercado, como o
exerccio de poder de monoplio por intermedirios. Se a assimetria fosse uma
regra, e no uma exceo, as predies decorrentes da teoria econmica seriam
passveis de contestao (AGUIAR, 2011). Deste modo, estimativas de elasticidades
de transmisso de preos que no levassem em conta a possibilidade de assimetria
estariam gerando previses errneas sobre os impactos de variaes de preos.
Peltzman (2000) ao estudar 282 produtos, entre eles 120 produtos agrcolas ou
alimentos, conclui que a transmisso assimtrica de preos uma regra e no uma
exceo.
-
52
Para Von Cramon-Taubadel (1998) so diversos os fatores que podem levar a
respostas assimtricas de preos, como por exemplo: i) as firmas podem reagir de
maneira diferente a ajustamentos dos custos, dependendo se os preos esto
subindo ou caindo; ii) pode haver poder de mercado, de modo a proporcionar
reaes diferentes a mudanas dos preos, uma vez que oligopolistas podem reagir
mais rapidamente a choques que diminuem suas margens, provocando desta forma,
uma transmisso assimtrica de curto prazo; iii) podem existir intervenes
governamentais que provocam assimetria, como polticas de apoio a determinados
preos. Por fim, Silva et al. (2011) ainda citam como possveis causas para a
assimetria de preos a assimetria de informaes e o gerenciamento de estoques.
Verificando-se a literatura examinada, nota-se que a questo da assimetria de
transmisso de preos apresenta-se numa circunstncia um tanto desconfortvel.
Por um lado, no encontra respaldo na teoria econmica lastreada nos princpios de
otimizao de lucro ou utilidade dos agentes econmicos. Por outro, por uma
questo de lgica, a assimetria no poderia perdurar no longo prazo, posto que
redundaria no afastamento por tempo indefinido dos nveis de preos praticados
pelos agentes estudados. Por fim, a assimetria trata-se de um fenmeno que vem
sendo largamente observado nos estudos empricos. Parece, mais prudente,
portanto, considerar a assimetria de curto prazo como mais consistente, resultando
do uso do poder de mercado para retardar mudanas desfavorveis ao agente que
detm esse poder. Porm, no longo prazo, ou seja, dado tempo suficiente, a
assimetria tenderia a desaparecer. A ocorrncia de assimetria de longo prazo ,
portanto, uma observao emprica necessitando de um suporte terico mais
rigoroso.
-
53
4 DADOS E METODOLOGIA
A anlise do mercado de caf envolve o estudo da cointegrao e da
assimetria de transmisso de preos entre o mercado internacional, representado
pela bolsa ICE Futures US para o caf arbica e os mercados fsicos do Brasil. Para
isso, so avaliados os mercados nos estados de maior importncia nacional: para o
caf arbica sero Minas Gerais, So Paulo e Paran. A hiptese da nulidade a ser
testada que esses mercados sejam cointegrados e que prevalea a simetria na
transmisso de preos.
4.1 Dados
Os dados de cotao de caf arbica so analisados com a periodicidade
diria, no perodo de 04 de setembro de 2002 a 29 de agosto de 2014, tendo como
fonte as cotaes dirias das seguintes origens:
Bolsa ICE Futures US cotao diria de caf arbica, em primeiro
vencimento, do contrato C, em dlares/libra peso;
Cotao diria do mercado fsico de caf arbica, para os estados
brasileiros de Minas Gerais, So Paulo e Paran, levantados pelo
Centro de Estudos Avanados em Economia Aplicada ESALQ/USP,
em reais/saca 60 Kg, de classificao bica corrida, tipo 6, bebida dura
para melhor.
Os preos da bolsa so convertidos de dlares/libra peso para a cotao de
dlares/saca 60 Kg. Os preos dirios do mercado fsico no Brasil de caf arbica
so convertidos de reais/saca 60 Kg para dlares/saca 60 Kg pela cotao do dlar
comercial mdia para venda, divulgada pelo Banco Central do Brasil, acessada no
site do IPEADATA.
Por serem provenientes de pases diferentes, as sries apresentam lacunas
devido ao desencontro dos feriados. Para preencher essas lacunas, os dados
completados corrigidos atravs de interpolao, utilizando-se uma regresso com
tendncia polinomial e