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INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO
Mestrado em Ciências Empresariais
Avaliação da eficácia dos Sistemas de Recompensa na
motivação dos colaboradores: O caso de Cabo Verde
Aluno: Liliana Lopes Araújo
Orientador: Professor Doutor Paulo Lopes Henriques
RESUMO
O presente trabalho procurou estudar a eficácia dos
sistemas de recompensas utilizadas pelas empresas em Cabo
Verde na motivação dos colaboradores, utilizando o modelo
teórico proposto por Nadler e Lawler (1977). Três variáveis
(expectativa esforço - desempenho, expectativa desempenho -
resultado e valência) foram consideradas como variáveis
explicativas da motivação pelas recompensas. Os
procedimentos metodológicos foram de natureza descritiva e
análise dos dados foi feita de forma quantitativa.
Participaram no estudo 105 indivíduos de sete empresas de
diferentes sectores de actividades e os resultados obtidos
confirmaram (com alguma fragilidade estatística) as
hipóteses propostas, isto é, os sistemas de recompensas
motivam os colaboradores.
Palavras – chave: sistema de recompensas; motivação;
expectativas; desempenho; valência.
2
I – Introdução
As organizações utilizam as recompensas para atrair,
motivar, reter, punir, etc. os seus colaboradores. Isso faz
da recompensa um instrumento motivador, cujo significado
atribuído pelas pessoas importa conhecer, não só pelo que
representa para o seu bem – estar, mas também pela
influência exercida sobre o seu comportamento.
É reconhecido, universalmente, que um sistema de
remuneração baseado na performance aumenta a motivação dos
trabalhadores e, maior parte das empresas desenvolvem
complexos sistemas com o objectivo de determinar qual a
remuneração que devem dar aos seus colaboradores (Vroom,
1984).
No entanto, tal como observa Armstrong (2005), grande
parte das empresas têm desenvolvido sistemas de recompensas
que ignoram as pesquisas desenvolvidas na área da motivação
humana. Essas pesquisas são vastas e apontam para várias
direcções.
Algumas pressupõem que os indivíduos são motivados por
factores internos e, acentuam a importância das diferenças
individuais, a primazia dos esforços para a satisfação das
necessidades de sobrevivência, em detrimento das diferenças
inter e intra individual em termos de necessidades e
desejos (Neves, 2001). Outras, enfatizam o como e por que
objectivos as pessoas se motivam, e fazem uso da
3
racionalidade para fazer escolhas entre alternativas
diferentes.
Outras ainda sistematizam de forma integradora as
várias abordagens à problemática da motivação no trabalho e
estão ancoradas no modelo da expectativa.
Com este trabalho procura-se estudar, na realidade de
Cabo Verde, o impacto do sistema de recompensas na
motivação dos colaboradores. Deste modo através do teste de
3 hipóteses, procura-se determinar o impacto referido.
Esta pesquisa vai ter em conta o modelo proposto por
Nadler e Lawler (1977) segundo o qual o conjunto das
relações entre expectativa esforço – desempenho,
expectativa desempenho – resultado e valência dos
resultados é que avalia se as recompensas são ou não
motivadores. Os resultados obtidos suportam o modelo de
Nadler e Lawler (1977).
O trabalho está dividido em vários capítulos, no
capítulo I será feita a introdução; o capítulo II apresenta
uma revisão da literatura; o capítulo III apresenta uma
breve caracterização de Cabo Verde; no capítulo IV abordam-
se as etapas adoptadas para a realização deste trabalho,
dados e procedimentos para a recolha de dados nas empresas;
no capítulo V serão apresentados os resultados; no capítulo
VI será feita a discussão dos resultados e no capítulo VII
apresentadas as conclusões.
4
II – Revisão da literatura
II.1 – Sistemas de recompensas
O termo recompensas é usado para identificar os
sistemas de pagamento, que constituem um dos eixos
fundamentais na gestão de recursos humanos.
Tão importante como definir a estratégia e
caracterizar a concorrência, é imprescindível que as
organizações definam o respectivo sistema de compensações
(Fernandes, 2002).
Bilhim (2006) definiu o sistema de recompensas como um
conjunto de contrapartidas materiais e não materiais que os
empregados auferem em virtude da sua avaliação de funções,
da qualidade do seu desempenho e da sua identificação com a
cultura e estratégia organizacional.
Na mesma linha de pensamento Câmara (2000) definiu o
sistema de recompensas como “um conjunto de instrumentos
coerentes e alinhados com a estratégia da empresa, de
natureza material e imaterial que constituem a
contrapartida da contribuição prestada pelo empregado aos
resultados do negócio, através do seu desempenho
profissional e se destinam a reforçar a sua motivação e
produtividade”.
5
Os sistemas de recompensas são portanto constituídos
por uma vertente financeira e uma vertente não a
financeira. A vertente não financeira focaliza-se nas
necessidades que todas as pessoas têm, embora em diferentes
graus, tais como reconhecimento pelo trabalho realizado,
crescimento profissional ou progressão na carreira,
oportunidade de desenvolvimento pessoal (por exemplo,
possibilidades de aprendizagem proporcionados pela
empresa), responsabilidades (Armstrong e Murlis, 2005).
Esta vertente não será abordada no presente trabalho.
II.1.1 Objectivos dos Sistemas de Recompensas
Para Milkovich e Newman (2005), os sistemas de
recompensas devem ter os seguintes objectivos: eficiência,
justiça e concordância com as leis e regulamentos. A
eficiência está relacionada com o aumento da qualidade,
incremento do desempenho, satisfação dos clientes e
accionistas e com o controlo de custos. A justiça significa
tratar de forma justa todos os colaboradores reconhecendo
não só a sua contribuição (por exemplo, pagar mais aqueles
que têm melhor desempenho, experiência ou formação), mas
também as suas necessidades. A concordância com as leis e
regulamentos implica que os sistemas de recompensas devem
ser ajustados à legislação em vigor.
6
Armstrong e Murlis (2005), indo na mesma linha de
pensamento consideram que a principal finalidade da gestão
dos sistemas é desenvolver e implementar políticas
processos e práticas de recompensas requeridas para
permitir que uma organização alcance os objectivos de
negócio.
Segundo estes autores, os seus objectivos específicos
devem ser os seguintes: criar um processo de recompensas
que esteja baseado em crenças relativamente aos valores da
organização e no que ela quer atingir; alinhar as práticas
de recompensas com os objectivos do negócio e com os
valores dos colaboradores; recompensar as coisas certas,
para enviar a mensagem correcta sobre aquilo que é
importante em termos de comportamento esperado e
resultados.
II.1.2 Impacto nas Organizações
De acordo com Lawler (2003), estes sistemas têm seis
impactos diferentes da organização, os quais podem afectar
a eficiência da mesma.
O primeiro impacto é na atracção e retenção de
colaboradores. De um modo geral, as organizações que dão
melhores recompensas, tendem a atrair e reter mais pessoas.
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O segundo impacto dos sistemas de recompensas é na
motivação para o desempenho dos colaboradores.
Para além de motivar a melhoria do desempenho, as
recompensas têm também impacto no desenvolvimento de
capacidades dos indivíduos.
Os sistemas de recompensas também têm um impacto na
cultura e clima de uma organização. Dependendo da forma
como eles são desenvolvidos e geridos, podem ajudar na
criação e manutenção de uma cultura participativa,
burocrática, inovadora, orientada para os recursos humanos,
etc. O efeito dos sistemas de recompensas na cultura
organizacional advém da sua importante influência na
motivação, satisfação e compromisso com a organização por
parte dos colaboradores.
OS sistemas de recompensas têm também impacto na
definição da estrutura organizacional, na medida em que
ajudam a compreender a posição hierárquica dos
colaboradores, o grau segundo o qual as pessoas nas
posições técnicas influenciam os gestores e como é que as
decisões são tomadas.
Por fim, Lawler (2003) refere o impacto na estrutura
dos custos de uma organização que estes sistemas possuem,
podendo representar mais de 50% dos custos operacionais.
Assim sendo, devem ser avaliados na perspectiva de custos –
benefícios para a organização devendo ser identificados os
8
factores críticos de sucesso e conceber o sistema de
recompensas alinhados com eles.
II.1.3 Estrutura dos Sistemas de Recompensas
Os elementos constituintes dos sistemas de recompensas
podem ser vários servindo não só para apoiar os objectivos
organizacionais, mas também para encorajar as atitudes e
acções dos colaboradores. Incluem normalmente o pagamento
recebido directamente em dinheiro (salário base,
incentivos, pagamento por mérito) ou indirectamente (pensão
de reforma, seguro de saúde).
Os sistemas de recompensas podem ser desenhados de
várias formas e, um único colaborador de uma organização
utilizar mais do que um esquema salarial (Milkovich e
Newman 2005). Estes elementos podem ser de três tipos:
salário base, componente fixa e componente variável
(Torringhton, Hall & Taylor, 2008).
O salário base é de acordo com Câmara (2006) “ o
montante em dinheiro ou em espécie, que o empregado recebe,
de forma regular e periódica, como contrapartida do seu
trabalho”. Em muitos casos não tem nenhum outro elemento
adicional e, pode depender das aptidões e formação dos
colaboradores (Milkovich e Newman 2005). Noutros casos,
pode ser acrescido por um conjunto de subsídios, de
9
carácter regular e periódico, como por exemplo, o subsídio
de alimentação, o subsídio de turno, subsídio de risco,
entre outros.
Analisando esta definição, pode-se encontrar três
requisitos aos quais o salário base deve obedecer: (1) ser
uma contrapartida ao trabalho prestado; (2) ter carácter
regular e periódico; (3) ser pago em dinheiro ou em espécie
(Câmara, 2006).
A componente fixa caracteriza-se por ser regular,
raramente variável e estar contemplada no contrato de
trabalho. Os benefícios (seguro de saúde, seguro de vida,
complemento para a reforma, etc.) são exemplos da
componente fixa da recompensa (Torringhton, Hall & Taylor,
2008).
Apesar de existir uma certa dificuldade em definir de
forma clara o que são os benefícios, devido à sua grande
abrangência, possuem segundo Câmara (2006) alguns traços em
comum:
(a)ser uma componente da retribuição, o que dificulta
a sua revogação uma vez implementados;
(b) serem pagos normalmente em bens;
(c) se destinarem a cobrir não só necessidades de
curto e longo prazo, mas também riscos não ligados ao
trabalho;
10
(d) terem como objectivo responder a necessidades de
carácter social (primárias ou de segurança) dos empregados.
A componente variável caracteriza-se por ser de
carácter irregular e de valor variável, estando a sua
atribuição dependente do empregado alcançar determinados
resultados de negócio (Torringhton et al, 2008;
Altmansberger, 1999). Estão portanto ligados a objectivos
específicos e representam uma forma eficiente de comunicar
as prioridades do negócio (Kressler, 2003).
Dentro da componente variável dos sistemas de
recompensas, destacam-se os incentivos, que podem ser
definidos como de acordo com Câmara (2006) “recompensar o
atingimento ou superação de um conjunto de objectivos
previamente fixados entre a empresa e o empregado”.
Os planos de incentivos têm grande popularidade
nalguns países, visando não só reconhecer o desempenho
superior dos colaboradores mas também modificar de forma
duradoira os comportamentos dos empregados.
No entanto, devem ser geridos de forma cuidadosa,
devido aos problemas que podem trazer para uma organização.
Kressler (2003) apontam três problemas geralmente
enfrentados pelos gestores em relação aos planos de
incentivos: o primeiro tem a ver com a eventual inadequação
dos planos de incentivos para o tamanho de uma organização
se comparados com a taxa de retorno que propiciam. Segundo,
11
o desempenho de curto prazo pode ser enfatizado às custas
do desenvolvimento estratégico de longo prazo. Terceiro, os
incentivos podem ser associados a índices contábeis, como o
lucro por acção ou retorno de investimentos que não
reflectem acuradamente a criação de valor para os
accionistas.
Alguns autores têm argumentado que não existe uma
forma ideal de construir um sistema de recompensas, que
seja bem sucedido em todas as circunstâncias (Galbraith,
1977). A sua eficácia depende de vários factores,
nomeadamente o tipo de produto ou serviço da organização, o
tipo de tecnologia utilizada, os comportamentos desejados e
as características dos colaboradores e do mercado
(Galbraith, 1977).
Com a globalização, a grande fluidez e competitividade
dos mercados as organizações têm procurado vantagens
competitivas, a nível tecnológico, financeiro e,
principalmente ao nível das capacidades e competências dos
seus colaboradores.
Esta procura de maior eficácia organizacional é que
tem levado as empresas a procurarem gerir de forma
estratégica os sistemas de recompensas (Kressler, 2003). Em
resultado disso, os veículos, os objectivos e as
ferramentas utilizadas na gestão das recompensas também se
alteram (Wolf, 1999).
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A tendência actual tem sido a utilização de forma
combinada de várias ferramentas (por exemplo, baseadas nas
competências, mas procurando em simultâneo a equidade
externa) e com o objectivo de não só procurar a equidade
interna com base nos objectivos que cada um atinge, mas
também o seu valor no mercado (Kressler, 2003)
13
II.2 – Motivação
O termo motivação deriva da palavra latina "movere",
que significa mover e, tem sido utilizada numa grande
variedade de situações, pelo que não existe uma definição
única e explícita do que é motivação.
No entanto, vários estudos nos orientam no sentido de
a considerar como o resultado da interacção entre o sujeito
e a situação e, todos eles tendem a incluir um elemento de
estimulação (forças energéticas responsáveis pelo
despoletar do comportamento), um elemento de acção e
esforço (o comportamento observado), um elemento de
movimento e persistência (o prolongamento no tempo do
comportamento motivado) e um elemento de recompensa (o
reforço das acções anteriores).
Neves (2001) definiu-a como “o resultado da interacção
entre o indivíduo e a situação, o que ajuda desde logo a
entender as origens individual e situacional dos estados
motivacionais”.
Vroom (1984) definiu-a como “um processo que governa a
escolha feita pelos indivíduos e outros seres vivos entre
várias alternativas de actividade voluntária”.
As definições apresentadas pelos psicólogos têm
geralmente três elementos em comum, que podem ser
14
considerados característicos do fenómeno da motivação
(Mitchell e Daniels, 2003): (1) O que energiza o
comportamento humano; (2) O que direcciona ou canaliza tais
comportamentos; (3) Como é que os comportamentos são
mantidos.
Cada um destes componentes representa, na opinião dos
autores acima referidos um importante factor para
compreender a motivação no contexto do trabalho.
Em 1º lugar, esta conceitualização aponta para forças
energéticas presentes no indivíduo que o levam a ter um
determinado comportamento.
Em 2º lugar, existe a noção de orientação para
resultados por parte dos indivíduos, ou seja os seus
comportamentos estão orientados nalgum sentido.
Em 3º lugar, a motivação contém um sistema de
orientação, ou seja, leva em consideração as forças
presentes nos indivíduos e no seu meio envolvente que lhe
dão feedback no sentido de reforçar a intensidade e
direcção da sua energia ou de dissuadi-los do seu curso de
acções e redireccionar os seus esforços.
II.2.1 Teorias da Motivação
Existem várias teorias para explicar a motivação nas
organizações e, podem ser agrupadas em duas categorias
15
gerais (Mitchell e Daniels, 2003): teorias de conteúdo, que
se concentram no objecto da motivação e, as teorias de
processo que abordam como se exprime a motivação.
As teorias de conteúdo assumem que existem factores
intrínsecos aos indivíduos que energizam, dirigem e
sustentam o seu comportamento. Os defensores desta teoria,
procuram identificar os elementos internos mais importantes
e como é que estes elementos são priorizados pelos
indivíduos.
Neste grupo de teorias, destacam-se duas: hierarquia
da Maslow e teoria dos factores higiénicos de Herzberg.
II.2.2- Hierarquia das necessidades de Maslow
A hierarquia das necessidades de Maslow é
provavelmente a teoria mais conhecida que relaciona as
necessidades individuais à motivação.
Segundo Maslow (1970), as necessidades influenciam as
actividades das pessoas até que elas sejam satisfeitas.
Para além disso, as necessidades individuais encontram-se
hierarquizadas, indo das mais básicas (por exemplo, comida)
às mais avançadas (auto-realização). O autor afirma que, as
diferenças individuais são menores no patamar das
necessidades primárias, do que no patamar das necessidades
secundárias, e que o ciclo motivacional do primeiro patamar
16
é mais rápido em termos temporais do que o do segundo
patamar.
Os indivíduos satisfazem as suas necessidades de forma
sequencial indo das que se encontram na base da hierarquia,
a aquelas que se encontram no topo, isto é, as necessidades
básicas têm que estar satisfeitas antes que aquelas que se
encontram no nível hierárquico superior sejam
suficientemente fortes para motivarem o comportamento. Para
além disso, somente as necessidades insatisfeitas é que
influenciam o comportamento; aquelas que estão satisfeitas
não são motivadoras.
Estas necessidades foram divididas em cinco
categorias: necessidades fisiológicas (alimento, agua,
sexo), necessidades de seguranças (implica a auto -
preservação através do evitamento da ameaça, do perigo e da
privação); necessidades sociais (desejo de pertença, de
amizade, de aceitação); necessidades de auto estima (têm a
ver com a autoconfiança, o reconhecimento, a apreciação); e
necessidades de auto realização (implica a competência, a
concretização do potencial individual).
Não existem claras evidências que indicam que as
necessidades humanas podem ser classificadas em cinco
categorias distintas, e que estas categorias estejam
estruturadas de forma hierárquica (Mitchell e Daniels,
2003; Neves, 2001). Parece ser igualmente questionável a
17
ideia que a satisfação das necessidades de um nível activem
necessidades de um nível superior (Mitchell e Daniels,
2003).
II.2.3 – Teoria dos factores higiénicos de Herzberg
A teoria dos factores higiénicos de Herzberg, é talvez
uma das mais controversas teorias acerca da motivação no
contexto laboral. A pesquisa realizada por Herzberg e
colegas que foi inicialmente publicada em 1959 (Herzberg,
Mausner e Snyderman, 1997), concluiu que os colaboradores
quando descrevem sentimentos de satisfação em relação com o
seu trabalho, referem-se frequentemente a factores
intrínsecos ao conteúdo da sua função. Estes factores foram
designados de "motivadores" e referem-se a variáveis como o
reconhecimento pelo trabalho realizado, crescimento
profissional e responsabilidade. Inversamente, quando os
sentimentos de insatisfação foram relatados, estavam
associados a factores denominados "higiénicos", resultantes
de aspectos extrínsecos ao trabalho em si, tais como
politicas salarias das empresas, práticas administrativas,
relacionamento com os colegas e superiores hierárquicos e
segurança no trabalho.
Com base nestes resultados, Herzberg concluiu que a
eliminação das causas da insatisfação (através dos factores
higiénicos) não conduz à satisfação, mas sim a um estado
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denominado neutro. A satisfação (e motivação) somente
ocorre com a utilização de motivadores.
Um dos impactos mais importantes que a teoria de
Herzberg teve foi a estimulação da pesquisa e investigação
da motivação no contexto laboral. O seu trabalho contribui
para aumentar a percepção da importância da motivação nas
organizações. Para além disso, a utilização de uma
linguagem simples e acessível, bem como a utilização de
recomendações específicas, facilitou a compreensão por
parte dos gestores da importância da motivação no trabalho
(Mitchell e Daniels, 2003).
Ficou no entanto por explicar a importância da
variabilidade individual em termos de comportamentos para
dar resposta a tais necessidades, bem como a influência de
causas externas aos indivíduos na definição dos seus
comportamentos de resposta á satisfação das necessidades
(Neves, 2001).
As teorias de processo tentam explicar como é que o
comportamento é energizado, dirigido e sustentado. Os
estudiosos destas teorias focalizam-se em determinados
processos mentais subjacentes às acções, enfatizando a
descrição do funcionamento dos sistemas de decisão
relacionados com o comportamento.
Uma das teorias mais importantes deste grupo é a
teoria das expectativas de Vroom.
19
II.2.4 – Teoria das expectativas de Vroom
Vroom (1984) foi o primeiro a formular uma teoria
sistemática da expectativa aplicada especificamente ao
contexto do trabalho. A sua teoria assume que os
indivíduos, no seu contexto de trabalho escolhem os seus
comportamentos de forma consciente e racional. Ou seja, os
colaboradores avaliam de forma racional os vários
comportamentos possíveis (por exemplo, trabalhar horas
extraordinárias ou não) e escolhem aquele que acreditam que
lhes poderá trazer a recompensa que mais valorizam.
Os conceitos que funcionam como os pilares desta
teoria são os seguintes: (1) valência que se refere ao grau
de atractividade que o resultado representa para o
individuo. Por exemplo, se um colaborador deseja muito uma
promoção, esta terá uma valência positiva para ele. É de
salientar que a valência das recompensas está condicionada
pela experiência e, pode variar ao longo do tempo à medida
que as necessidades antigas são satisfeitas e novas
necessidades emergem; (2) expectativa, que traduz a relação
percebida entre o esforço e o desempenho, no sentido de
estimar em termos de probabilidades se quanto maior for o
esforço, maior será o desempenho; (3) resultados, que são
os resultados tangíveis e intangíveis que a organização
proporciona aos colaboradores em contrapartida do seu
20
trabalho; (4) força, que constitui a quantidade de esforço
ou de tensão existente no interior da pessoa capaz de a
motivar.
Este modelo explica que os colaboradores não agem
unicamente devido a factores internos, necessidades não
satisfeitas ou a utilização de recompensas e punições. Em
vez disso, defende que as pessoas devem ser consideradas
individualmente, cujas crenças, percepções e probabilidades
estimadas têm uma influencia poderosa no seu comportamento.
Neste sentido, Neves (2001) considera a teoria de
grande utilidade, uma vez que tem grande capacidade
preditora em termos motivacionais a nível individual.
No entanto, esta teoria apresenta algumas limitações,
segundo Kipnis & Worthy (1989), uma vez que não explica
muito bem a que situação é que se aplica, e principalmente
as situações às quais não se aplica. Para alem disso, estes
autores consideram que devem ser desenvolvidos instrumentos
mais fidedignos para medir alguns dos pilares fundamentais
do modelo (valência, expectativa).
A teoria é também criticada pelo facto dos indivíduos
nem sempre estarem conscientes dos seus motivos e
expectativas (Mitchell e Daniels, 2003).
Existem numerosos estudos dedicados a esta temática e,
de acordo com Armstrong & Murlis (2005) a principal
preocupação das teorias da motivação é explicar as
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seguintes questões: como é que o comportamento é iniciado
pela necessidade e expectativas para permitir que os
objectivos sejam atingidos e permitam a satisfação dessas
mesmas necessidades; como é que o alcance dos objectivos
reforça comportamentos bem sucedidos; e como é que a crença
na habilidade dos indivíduos em realizar tarefas
específicas poderá accionar comportamentos que são tidos
como adequados para realizar essas tarefas.
II.3 – Motivação e sistemas de recompensa
Existe uma literatura vasta sobre a motivação que
suporta a ideia que as recompensas (por exemplo, o
salário), tem um impacto significativo nos indivíduos
(Lawler, 1990). O mesmo autor afirma que existem vários
estudos que demonstram que a existência de um sistema de
recompensas eficaz, pode aumentar a motivação dos
indivíduos para melhorarem o seu desempenho em 40%.
No capítulo anterior foram descritas algumas teorias
que servem de quadro conceptual para estudar a motivação no
trabalho.
Das teorias apresentadas destacamos a “Teoria das
Expectativas” de Vroom (1964) que relaciona a recompensa
com a motivação e que tem sido objecto de numerosos estudos
ao longo dos anos.
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Esta teoria foi ampliada e refinada por Porter e
Lawler (1968) e transformou-se numa das teorias de processo
mais conhecidas.
II.3.1- Modelo de Porter e Lawler
O modelo de Porter e Lawler (1968) propõe uma
explicação do processo que conduz a uma determinada
recompensa, de tal forma que a remuneração se torna
motivante.
Constitui assim uma referência no estudo das recompensas no
trabalho (Roussel, 1996).
Estes autores concordam com Vroom (1964) que o esforço
é determinado pela valência que os indivíduos atribuem a
determinados resultados e a sua crença de que os seus
esforços os levarão à obtenção das recompensas (Mithell e
Daniels, 2003). No entanto, Porter e Lawler (1968) chamam a
atenção para o facto do esforço não se traduzir
necessariamente em melhor desempenho. Para alem disso,
segundo os mesmos autores a relação entre valência e
expectativa por um lado e, esforço e resultado por outro
lado é mais complicado do que o modelo de Vroom sugere.
Para eles, o esforço pode não levar necessariamente a
um melhor desempenho por duas razões principais:
primeiramente porque o indivíduo pode não ter a habilidade
necessária para desempenhar as suas funções, pelo que mesmo
23
que ele esteja altamente motivado (isto é, despende muito
esforço), o desempenho poderá não ser o desejado.
Em segundo lugar, o indivíduo poderá não compreender
claramente a tarefa a ser desempenhada. Neste caso, a
motivação poderá não resultar num bom desempenho se o
colaborador não tiver a noção clara para onde o seu esforço
deverá ser direccionado.
II.3.2 - Modelo de Nadler e Lawler
Nadler e Lawler (1977) também desenvolveram um modelo
de motivação no trabalho a partir dos estudos de Vroom
(1964).
Estes autores puseram em evidência três conceitos –
chaves da teoria das expectativas que serão utilizadas como
variáveis explicativas no presente trabalho: expectativa
esforço – desempenho; expectativa desempenho – resultado e
valência.
A motivação no trabalho pode ser explicada por estas
três variáveis que interagem (figura 1) e é dependente de:
(1) expectativa esforço – desempenho (E D) que
representa por um lado a percepção do esforço que é
necessário despender para atingir um certo nível de
desempenho e, por outro lado, a probabilidade subjectiva
que o esforço dispendido permite atingir este desempenho
24
(expectativa). Esta probabilidade subjectiva é fortemente
influenciada pelo tipo de trabalho desenvolvido e pelas
experiências anteriores;
(2) expectativa desempenho – resultado ( D R) que
se refere à combinação de numerosas crenças relativamente
ao resultado do desempenho;
(3) valência – cada resultado tem uma
“valência”( valor, grau de atractividade) para cada
indivíduo. Este valor reflecte as necessidades e percepções
dos diferentes indivíduos. Por exemplo, um colaborador pode
valorizar as oportunidades de promoção devido à sua
necessidade de poder, enquanto que outro pode não desejar
uma promoção por não querer deixar o seu grupo de trabalho,
se tiver uma forte necessidade de filiação.
Em termos gerais, o modelo descreve a motivação como
uma força que leva o indivíduo a despender esforços. Assim,
o principal indicador da motivação é o esforço, isto é a
energia física e intelectual que uma pessoa despende na
realização do seu trabalho (Roussel, 1996).
No entanto, o esforço por si só não é suficiente. O
desempenho resulta de uma combinação entre o esforço e as
habilidades (formação, informação, competências, etc.) que
se possui. Na decorrência dos esforços, pode-se obter
determinados resultados (Nadler e Lawler 1977).
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A motivação das pessoas é em função de:
a. expectativa esforço - desempenho
b. expectativa desempenho – resultado
c. valência percepcionada dos resultados
Figura 1: Fonte: Nadler e Lawler, 1977,pg 69
Em relação ao modelo de Nadler e Lawler, Roussel
(1996) considera que as expectativas e a valência positiva
são as condições necessárias para que um elemento do
sistema de recompensas seja considerado motivante. Para
alem disso, a valência atribuída à recompensa será positiva
se o indivíduo percepciona que o resultado de um melhor
desempenho do seu trabalho lhe trará mais vantagens que
inconvenientes (Roussel, 1996).
Os indivíduos comparam estas vantagens com as suas
numerosas necessidades físicas e psicológicas e com os
inconvenientes do seu trabalho (por exemplo, a fadiga
suplementar, o stress, as más relações com os colegas). Se
as vantagens forem percepcionadas como menores que os
inconvenientes, então a valência atribuída à recompensa
será negativa (Nadler e Lawler, 1977).
26
Motivation Effort Performance Outcomes(rewards)
Ability
O modelo de Nadler e Lawler (1977), que é adoptado no
presente trabalho descreve os três indicadores da variável
motivação na remuneração da seguinte forma:
(a) os colaboradores de um organização acreditam que
são capazes de desenvolver esforços para obter um nível de
desempenho desejado. Essa percepção é denominada
“expectativa esforço – desempenho”;
(b)os colaboradores acreditam que o seu comportamento,
decorrente dos seus esforços conduzirá a certos resultados
(recompensas). Esta percepção é denominada “expectativa
desempenho – resultado. Os resultados estudados neste
trabalho são as recompensas financeiras.
(c) os colaboradores consideram que estes resultados
são atractivos, isto é atribuem-lhe um valor positivo. Esta
percepção é denominada “valência”.
A avaliação conjunta da relação esforço – desempenho,
desempenho – resultado e valência será estudado para
avaliar se os colaboradores se sentem motivados pelas
recompensas financeiras que recebem, motivação essa que
será relacionada com a motivação no trabalho, afim de
avaliar a eficácia dos diferentes elementos do sistema de
recompensas na variável a explicar (motivação).
Á luz das teorias apresentadas, colocam-se as
seguintes hipóteses:
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(a) as expectativas que o esforço conduz à realização
do desempenho, influencia positivamente a motivação;
(b) a expectativa que o desempenho conduz à obtenção
de resultados em termos de recompensas influencia
positivamente a motivação no trabalho;
(c) a valência atribuída a cada componente do sistema
de recompensas influencia positivamente a motivação no
trabalho.
28
III – Panorama Sócio-Económico de Cabo Verde
III.1 – Informações Gerais
Cabo verde é um pequeno país insular, situado a Norte
do Oceano Atlântico e a cerca de 500km da Costa Ocidental
Africana.
O arquipélago é composto por dez ilhas (mais 8
ilhéus), todas de origem vulcânica, sendo que uma delas não
é habitada.
As suas principais cidades são Praia (Ilha de
Santiago), onde fica situada a sede do Governo e Mindelo
(ilha de São Vicente).
A ilha de Santiago e a ilha de São Vicente são as
principais ilhas do país e é onde se concentra a maioria da
população, representando Santiago cerca de 50.38% da
população total residente no país, e São Vicente
representando cerca de 15.53%.
A sua superfície total é de 4.033km e a sua população
residente em 2002 era de aproximadamente 470.678 mil
habitantes, de acordo com o INE (Instituto Nacional de
Estatística).
29
III.2 – Situação Económica
A economia de Cabo Verde sofre com um conjunto de
constrangimento estruturais, como a falta de recursos
naturais, reduzida dimensão territorial, insularidade,
descontinuidade territorial, escassez de recursos hídricos,
secas prolongadas, reduzido potencial de terra cultivável,
o que coloca muitas dificuldades ao seu desenvolvimento e
torna a economia dependente essencialmente de sectores como
o comércio, o turismo e ajuda externa, bem como das
remessas dos emigrantes.
Apesar destes constrangimentos, o país tem tido um bom
desempenho económico, passando de acordo com as Nações
Unidas de País Menos Avançado (PMA) para País de Rendimento
Médio (PRM) em 2008.
O crescimento do turismo contribuiu significativamente
para o bom desempenho económico de Cabo Verde, respondendo
por 15.9% do PIB total em 2008 e por 14.000 postos de
trabalho, correspondentes a 14.6% do emprego total. Apesar
do duro golpe provocado pelo arrefecimento da economia
global em 2009, os dirigentes cabo-verdianos permanecem
optimistas, prevendo um crescimento anual da indústria do
turismo ao longo da próxima década seja de 5.8%.
O investimento na agricultura tem sido mínimo e a
produtividade permanece muito baixa. Só 10% das terras são
30
cultiváveis devido ao clima árido e aos solos pobres em
nutrientes. Em 2008 a agricultura contribui apenas para
aproximadamente 7% do PIB e, o país necessitou de importar
80% dos géneros alimentares indispensáveis para a
satisfação das suas necessidades.
Os recursos do mar são potencialmente importantes, mas
o seu aproveitamento é ainda pouco significativo.
Os principais sectores e subsectores da economia Cabo-
verdiana são o do sector terciário, em particular o
Comércio (pelo seu peso no PIB), os Serviços Governamentais
(pelo seu impacto); as Comunicações (pela sua dinâmica); a
Construção Civil (pelo seu impacto); e a Agricultura (pelo
seu peso e importância estratégica na criação de emprego,
fixação das populações e redução da pobreza) apesar de
escassez das chuvas (Figura 2).
31
Fonte: www.africaneconomiclook.org
As previsões apontam ainda que o crescimento real do PIB
registe um abrandamento em 2009 para 3.9%,com reflexos nas
principais componentes da procura interna. É igualmente
esperada uma desaceleração do crescimento do investimento
privado 7%, contra 14% em 2008. Também é esperado que o
consumo global registe um crescimento mais lento em 2009,
mas superior em 2010 devido à recuperação económica.
III.3 – Situação Social
Cabo Verde é um dos países bem encaminhados para
atingir mais rapidamente os Objectivos de Desenvolvimento
do Milénio (ODM) das Nações Unidas, tendo já atingido 4 dos
8 objectivos previstos. O primeiro ODM deverá ser atingido
em 2015, com os dados governamentais a indicarem uma quebra
32
de 10% entre 2002 e 2008 do nível de pobreza, passando de
36% para 26% da população.
Apesar do forte crescimento económico da última
década, o INE indica que em 2007 26.6% da população vivia
ainda na pobreza, embora decrescendo, já que em 2001 estava
em 36.7%.
A taxa escolarização é de aproximadamente 96% e o
sector da educação recebe 20% dos recursos orçamentais do
país.
O desemprego constitui uma das principais prioridades
económicas do país, registando uma taxa de 17.8% em 2008.
Afecta mais as mulheres (28%) do que os homens ( 15%) e, é
particularmente prevalente entre os jovens.
33
IV – METODOLOGIA
Segundo Gil (1996) uma pesquisa é um procedimento
racional e sistemático, que tem como objectivo proporcionar
respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é
desenvolvida mediante o recurso a conhecimentos disponíveis
e a utilização de métodos, técnicas e outros procedimentos
científicos (Gil, 1996; Remenyi, Williams, Money & Swartz,
1998).
Existem diferentes estratégias para realizar uma
pesquisa, cada uma com vantagens e desvantagens, dependendo
de três condições (Yin, 2003): (a) do tipo de pesquisa em
questão; (b) do controlo que o investigador tem sobre os
eventos actuais, e (c) do foco da pesquisa ser em fenómenos
contemporâneos ou históricos.
HUSSEY & HUSSEY (1997) consideram que os diferentes
tipos de investigação podem ser classificados de acordo
com:
(1) O propósito da investigação, isto é, a razão pelo
qual ela é conduzida;
(2) O processo de investigação, isto é a maneira pela
qual os dados irão ser recolhidos e analisados;
(3) A lógica da investigação, isto é, se o
investigador move do geral para o particular ou vice-versa
e;
34
(4) O resultado da investigação, ou seja, se o
investigador está á procura de resolver um problema
específico ou a dar uma contribuição geral para o
conhecimento existente.
Em relação ao propósito de investigação, o presente
trabalho é uma pesquisa descritiva, que segundo Ruane
(2005) e Hussey & Hussey (1997) é utilizada para
identificar e obter informação relativamente às
características de um problema particular ou de um assunto.
A recolha de dados é feita de maneira geral de forma
quantitativa e são utilizadas técnicas estatísticas para
sumariar a informação.
Para fazer a recolha dos dados sobre a população em
estudo e descrever as suas características, utilizou-se
como técnica o questionário, que é considerado por Lakatos
e Marconi (2002) apresenta muitas vantagens, nomeadamente
na economia de tempo, obtenção de grande número de dados,
atingindo um maior número de pessoas simultaneamente
obtenção de respostas rápidas e precisas e maior liberdade
nas respostas, em razão do anonimato.
A análise dos dados foi feita de forma quantitativa,
isto é, foi feito o processamento de dados numéricos, com o
objectivo de se chegar a inferências que emergem da
compreensão das relações entre as variáveis (Gunther, 2006;
Leedy, 1993). A análise quantitativa está focalizada na
35
acumulação de factos e nas causas dos acontecimentos e, a
sua utilização permite aos investigadores manipular
variáveis e “controlar” fenómenos naturais. São construídas
hipóteses que são comparadas com os factos reais (Leedy,
1993).
IV.1 – Instrumento de recolha de dados
O questionário utilizado neste trabalho denomina-se
QRMT (Questionnaire de Rémuneration et de Motivation au
Travail) que foi desenvolvido por Roussel (1996), tendo
sido feita a sua tradução para Português e que tem como
principal objectivo medir o processo de motivação no
trabalho. É composto por 20 questões fechadas de auto –
aplicação sem identificação do respondente. Este
questionário é composto por quatro escalas: escala de
esforço, escala de expectativa esforço – desempenho, escala
de valência e escala de expectativa desempenho – resultado.
A escala de esforço (para a variável dependente) é o
indicador da motivação no trabalho. Possui quatro itens
cujas opções de resposta variam entre “não concordo “ e
“concordo totalmente” e um item cuja opção de resposta
varia entre “diminuiu muito” e “aumentou muito”.
As escalas de expectativa esforço – desempenho,
valência e expectativa desempenho – resultado (para as
variáveis independentes) possuem opções de resposta
36
variáveis entre “Muito pouca importância” e “ muito forte
importância”.
Foram também incluídas algumas questões para
verificação do perfil do colaborador (sexo, idade, tempo de
trabalho na empresa).
IV.2 – Amostra
A população deste estudo envolveu 105 colaboradores de
sete empresas privadas de Cabo Verde dos seguintes
sectores: sector petrolífero (1), sector farmacêutico (1),
sector bancário (2), sector têxtil (1) e sector alimentar
(2).
IV.3 – Recolha de dados
Da pesquisa teórica resultou o corpo de teoria
inserido neste trabalho e também o questionário que está na
base do trabalho de campo. Tal questionário foi objecto de
tradução de Francês para Português, por um tradutor fluente
nos dois idiomas. Para depois ser aplicado a um grupo de
seis colaboradores de uma empresa do sector das
telecomunicações, com o objectivo de avaliar o seu
entendimento em relação às questões. Este trabalho
37
possibilitou a afinação do questionário no que concerne à
linguagem utilizada.
A recolha dos dados foi depois efectuada da seguinte
forma:
Foi feito um levantamento das empresas do sector
privado existente em Cabo Verde possuidoras de um
sistema de recompensas estruturado por diversas
formas: Internet, publicações nacionais e
contacto telefónico com os respectivos
departamentos dos Recursos humanos;
das 25 empresas pré – seleccionadas em todas as
ilhas, 7 viriam a participar neste estudo, sendo
uma da ilha de São Vicente e as restantes da Ilha
de Santiago, às quais foram posteriormente
explicadas o decorrer de todo o processo;
após confirmada a participação no estudo, eram
novamente contactadas (via e-mail) para o envio
do plano genérico do estudo e o modelo do
questionário a ser utilizado para que os
responsáveis dos Recursos Humanos avaliassem as
questões que estavam a ser estudas na pesquisa;
num terceiro contacto foram entregues os
questionários para os responsáveis dos Recursos
Humanos fizessem a distribuição aos
38
colaboradores, ficando combinada uma data para
se fazer a recolha dos mesmos;
as empresas participantes revelaram atitudes de
cooperação e disponibilidade por parte dos
responsáveis dos recursos humanos, havendo no
entanto na maioria dos casos resistência dos
colaboradores no preenchimento dos questionários.
V – Apresentação e Análise dos Resultados
Neste capítulo vão ser apresentados e analisados os
dados que foram recolhidos através do questionário, o que
permitiu traçar o perfil da amostra bem como fazer a
correlação entre as variáveis em estudo. Para o efeito,
recorreu-se ao software SPSS versão 15.0.
O perfil da amostra foi traçado a partir dos dados
biográficos recolhidos (idade, sexo, tempo a trabalhar na
empresa) que foram utilizados como variáveis de controlo na
análise dos resultados e estão apresentados nas tabelas que
se seguem.
Tabela 1 - Sexo dos Inquiridos
39
Frequency Percent Valid PercentCumulative
PercentValid Feminino 51 48,6 49,0 49,0
Masculino 53 50,5 51,0 100,0Total 104 99,0 100,0
Missing NS/NR 1 1,0Total 105 100,0
Os questionários revelaram, tal como se pode ver na tabela
1, que 48,6 % são do sexo feminino e 50,5% do sexo
masculino.
Os questionários também indicaram que a faixa etária
predominante do estudo foi a de 31 a 35 anos (23,8%),
seguida da faixa etária entre os 26 e 30 os anos (21,9%). A
tabela que se segue apresenta estes dados.
Tabela 2: Faixa etária dos inquiridos
Frequency Percent Valid PercentCumulative
PercentValid Até 25 anos 14 13,3 13,3 13,3
De 26 a 30 anos 23 21,9 21,9 35,2De 31 a 35 anos 25 23,8 23,8 59,0De 36 a 40 anos 13 12,4 12,4 71,4De 41 a 45 anos 14 13,3 13,3 84,8De 46 a 50 anos 6 5,7 5,7 90,5De 51 a 55 anos 5 4,8 4,8 95,2Mais de 55 anos 5 4,8 4,8 100,0Total 105 100,0 100,0
Os dados recolhidos também permitiram caracterizar a
amostra relativamente ao tempo de trabalho na respectiva
empresa (Tabela 3). Assim, tal como se pode verificar 44,8%
40
dos inquiridos estão há menos de 5 anos na organização e
24,8% estão entre 6 a 10 anos na respectiva organização.
Tabela 3: Nº de anos a trabalhar na empresa
Frequency Percent Valid PercentCumulative
PercentValid Menos de 5 anos 47 44,8 45,6 45,6
De 6 a 10 anos 26 24,8 25,2 70,9De 11 a 15 anos 11 10,5 10,7 81,6Mais de 16 anos 19 18,1 18,4 100,0Total 103 98,1 100,0
Missing NS/NR 2 1,9Total 105 100,0
A análise dos dados permitiu também avaliar o grau de
associação entre as variáveis do estudo a partir da análise
da correlação e confirmar (ou não) as hipóteses propostas.
A primeira hipótese apresentada foi a seguinte: “as
expectativas que o esforço conduz à realização do
desempenho influencia positivamente a motivação”. Esta
hipótese foi confirmada na medida em que a expectativa
esforço – desempenho está significativa e positivamente
correlacionada com a motivação. Esta conclusão foi possível
após a análise do coeficiente de correlação de Spearman,
podendo-se verificar a existência de uma correlação linear,
que apesar de evidente não é muito forte, pois resultou
41
próximo de zero (r = 0,244). A tabela 4 a segui apresentada
mostra esses resultados.
Tabela 4: Coeficiente de Correlação de Spearman Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).
Esforço – Motivação
(Média)
Esforço – Desempenho
(Média)Spearman's rho Esforço – Motivação
(Média)Correlation Coefficient 1,000 , 244(*)
Sig. (2-tailed) . , 012N 105 105
Esforço – Desempenho (Média)
Correlation Coefficient , 244(*) 1,000
Sig. (2-tailed) , 012 .N 105 105
A segunda hipótese proposta foi: “a expectativa que o
desempenho conduz à obtenção de resultados em termos de
recompensas influencia positivamente a motivação”.
Analisando o coeficiente de correlação de Pearson, não se
obteve uma correlação significativa (a significância foi
maior que 0,05). Apesar de ser positiva, foi uma correlação
baixa e não significativa, tal com se pode observar na
tabela 5.
42
Tabela 5 : Coeficiente de Correlação de Pearson
Esforço - Motivação
(Soma)Desempenho -
Resultado (Soma)Esforço - Motivação (Soma)
Pearson Correlation 1 ,152Sig. (2-tailed) ,126N 105 103
Desempenho - Resultado (Soma)
Pearson Correlation ,152 1Sig. (2-tailed) ,126N 103 103
No entanto, importa referir que utilizando a
correlação de Spearman, com as variáveis nominais (média
arredondada a número inteiro) obteve-se uma correlação
significativa (significância menor que 0,05), que apesar de
ser positiva foi uma correlação baixa (r = 0,264). Estes
resultados estão apresentados na tabela 6 que se segue.
Esforço - Motivação
(Média)
Desempenho - Resultado
(Média)Spearman's rho Esforço –
Motivação (Média)Correlation Coefficient 1,000 , 254(**)Sig. (2-tailed) . , 010N 105 103
Desempenho - Resultado (Média)
Correlation Coefficient , 254(**) 1,000Sig. (2-tailed) , 010 .N 103 103
Tabela 6: Coeficiente de Correlação de Spearman
** Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed)
A terceira hipótese proposta neste estudo foi “a
valência atribuída a cada componente do sistema de
recompensas influencia positivamente a motivação no
trabalho”. Esta hipótese foi confirmada, uma vez que a
43
valência dos resultados está positiva e significativamente
correlacionada com a motivação no trabalho. Esta conclusão
foi possível graças à análise do coeficiente de correlação
de Spearman que é significativa e positiva (r = 0,22)
apesar de ser considerada baixa (Tabela 7).
Tabela 7: Coeficiente de Correlação de Spearman
*
Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).
Esforço - Motivação
(Média)Valência (Média)
Spearman's rho Esforço - Motivação (Média)
Correlation Coefficient 1,000 , 200(*)Sig. (2-tailed) . , 042N 105 104
Valência (Média) Correlation Coefficient , 200(*) 1,000Sig. (2-tailed) ,042 .N 104 104
44
VI - Discussão dos resultados
Os resultados encontrados nesta pesquisa validam o
modelo de Nadler e Lawler (1977), relativamente à motivação
no trabalho. Ou seja, houve por parte dos sujeitos que
participaram neste estudo a percepção que existe relação
entre os seus esforços, o seu desempenho e as suas
recompensas por um lado e, foi atribuído um valor positivo
a essas recompensas, por outro lado.
Todas as três hipóteses em estudo tiveram confirmação,
embora a correlação entre as variáveis em estudo tenha sido
considerada baixa, indicando que o número de sujeitos que
participaram no estudo não tenha sido suficiente, pelo que
os dados não são suficientes para se fazer a generalização
dos resultados obtidos.
Embora com fragilidade estatística os resultados
obtidos contradizem a posição de Herzberg e colegas (1997)
de que os factores resultantes de aspectos extrínsecos ao
trabalho (como por exemplo as recompensas financeiras) não
conduzirem à motivação no trabalho. Estes factores foram
denominados “higiénicos” e teriam um efeito neutro na
motivação.
Muitos são os estudos que apontam para o efeito pouco
duradoiro das recompensas financeiras nos indivíduos
(Neves, 2001).
45
Estes resultados também sugerem que poderão existir
outros factores com peso relevante na motivação dos
colaboradores, tais como as recompensas não financeiras e
que derivam do conteúdo do próprio trabalho. Essas
recompensas não financeiras têm um efeito prolongado e
duradoiro na motivação e está relacionada com a
responsabilidade (sentir que o trabalho é importante), a
liberdade de acção, a oportunidade de usar e desenvolver
capacidades e os desafios (Armstrong & Murlis, 2005).
VII – Conclusão
Este trabalho teve como objectivo avaliar a eficácia
dos sistemas de recompensas em motivar os colaboradores em
Cabo Verde, esperando que contribua para chamar a atenção
dos gestores em Cabo Verde da complexidade do processo
motivacional dos indivíduos, que por ser resultante de
numerosos factores, tais como necessidades e aspirações
individuais (que são amplamente variáveis), das
expectativas das pessoas (que são variáveis de acordo com
experiências anteriores), da motivação intrínseca e
extrínseca, das atribuições (explicações atribuídas pelas
pessoas aos sucessos e fracassos) e do contexto social -
produz uma grande variedade de forças motivacionais
difíceis de prever e de gerir. Não existe por isso uma
46
solução simplista para incrementar a motivação nas
organizações (Armstrong & Murlis, 2005), nem um modelo
ideal de sistema de recompensas que seja sempre eficaz.
VII.1 - Limitações do estudo
Importa ainda salientar as principais limitações desta
pesquisa. A primeira tem a ver com a falta de
representatividade da amostra, que foi constituída por 105
indivíduos, pelo que as conclusões não são passíveis de
generalização. A segunda limitação prende-se com a baixa
representatividade da faixa etária acima do 46 anos e a
terceira é a ausência de empresas pertencentes a todos os
sectores de actividade existentes em Cabo Verde.
VII.2 – Orientações para trabalhos futuros
Os desenvolvimentos futuros desta pesquisa, pode
seguir várias direcções. Pode ser feita uma pesquisa
transcultural, comparando o efeito dos sistemas de
recompensas na motivação de colaboradores de diferentes
países. Pode-se também comparar a eficácia do sistema de
recompensas na motivação de trabalhadores com contrato a
prazo ou não e ainda, estudar que componentes do sistema de
47
recompensas (componente fixa, variável, incentivos ou
benefícios) têm maior poder para motivar os indivíduos.
48
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