Colônia de pescadores Z-15: acordos de pesca em Igarapé Miri
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i
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA, CONSERVAÇÃO E
BIOLOGIA EVOLUTIVA
Efeito da poluição do igarapé do Quarenta sobre a expressão gênica e da contaminação
por cobre sobre o comportamento e o desenvolvimento larvário, dos anuros Rhinella
granulosa e Scinax ruber
Jorge Felipe Oliveira Franco de Sá
Manaus, Amazonas
Janeiro, 2015
ii
JORGE FELIPE OLIVEIRA FRANCO DE SÁ
Efeito da poluição do igarapé do Quarenta sobre a expressão gênica e da contaminação
por cobre sobre o comportamento e o desenvolvimento larvário, dos anuros Rhinella
granulosa e Scinax ruber
Orientador: Adalberto Luis Val, Dr.
Tese apresentada ao Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia como parte dos
requisitos para a obtenção do título de
Doutor em Genética, Conservação e
Biologia Evolutiva.
Manaus, Amazonas
Janeiro, 2015
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
S111 Franco de Sá, Jorge Felipe Oliveira
Efeito da poluição do igarapé do Quarenta sobre a expressão
gênica e da contaminação por cobre sobre o comportamento e o
desenvolvimento larvário, dos anuros Rhinella granulosa e Scinax
ruber / Jorge Felipe Oliveira Franco de Sá. --- Manaus: [s.n.], 2015.
91 p. : il. color.
Tese (Doutorado) --- INPA, Manaus, 2015.
Orientadores: Adalberto Luis Val.
Área de concentração : Genética.
1. Anfíbios. 2. Expressão gênica. I. Título.
CDD 597.8
Sinopse:
O descarte sem controle de poluentes nos corpos d’água tem
causado o declínio das populações de anfíbios no mundo todo. Neste
trabalho utilizamos análises ecotoxicológicas e de expressão gênica para
compreender os danos causados pelos poluentes dos igarapés de Manaus
em duas espécies de anuros, facilmente encontradas em ambientes
urbanos, Scinax ruber e Rhinella granulosa.
Palavras-chave: Anfíbios, CL50-96h, cobre, BLM, Expressão gênica.
iv
Dedico essa tese aos meus pais Jorge
Franco de Sá e Mônica O. Franco de Sá, a
minha irmã Rafaela O. Franco de Sá e a
minha noiva Fernanda Lima de Oliveira.
v
Agradecimento Institucional
Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônica (INPA), pelo apoio institucional;
Agradeço ao programa de Pós Graduação em Genética, Conservação e Biologia
Evolutiva, do INPA;
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
(Processo 573976/2008-2) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
(FAPEAM) (processo 3159/2008) pelo financiamento do projeto através INCT ADAPTA;
A FAPEAM pela concessão da bolsa de estudo durante a realização deste trabalho;
Ao Laboratório de Ecofisiologia e Evolução Molecular (LEEM) por toda a estrutura
física e suporte;
Ao Laboratório Temático de Águas do INPA, pelo apoio nas análises químicas.
vi
Agradecimentos
Ao meu orientador, Dr. Adalberto Luis Val, pelos ensinamentos, sugestões e críticas
que ajudaram em meu crescimento profissional.
A Dra. Vera Maria Fonseca de Almeida e Val, pelo apoio ao longo do trabalho.
A minha futura esposa, Fernanda Lima de Oliveira, pelo apoio que tem me dado desde
o mestrado, e por todos os sábados e domingos que ficou comigo no laboratório me ajudando
na revisão dos experimentos.
Aos meus pais Jorge Franco de Sá e Mônica O. Franco de Sá que tem me apoiado na
carreira científica desde criança, quando assistia TV cultura e Discovery Channel e
conversávamos sobre vida extraterrestre e sobre as novas descobertas da ciência.
A Dra. Eliana Feldberg, não apenas como coordenadora do programa de pós-
graduação, mas como uma amiga que tem me ajudado nos últimos 10 anos, nunca me
deixando desistir ou desanimar.
Aos meus amigos Daniel Fagundes e Renato Lemgruber pela ajuda na bancada e no
sequenciamento das amostras no SOLID.
Ao Dr. Rafael Duarte pela ajuda com as análises físico-químicas e ecotoxiológicas.
A Dra. Andrea Ghelfi pela ajuda com as análises de bioinformática.
A Maria de Nazaré Paula da Silva, Claudia Oliveira e Raimunda Brandão, pela
amizade, conselhos e pelo apoio.
Aos meus colegas de sala, Daiani Kochhann, Ramon Baptista, Marcos Prado e Helen
Sadauskas, que sempre me ajudaram quando precisei.
A todos os amigos do LEEM pela contribuição nesse trabalho. Durante esses quatro
anos tantos chegaram, e tantos saíram que seria impossível enumerar todos que merecem
meus agradecimentos.
vii
Resumo
Nos últimos anos foram registrados extinções e declínios de populações de anuros,
relacionados à poluição do ambiente, às mudanças no uso da terra e ao surgimento de
doenças. A cidade de Manaus é cortada por uma série de igarapés com características de água
preta; porém, nas últimas décadas, eles têm sido utilizados pela população e pelas indústrias
como um sistema de esgoto, alterando desse modo a composição química anteriormente
encontrada. Nosso objetivo foi avaliar a influência da poluição do igarapé do Quarenta no
comportamento e no desenvolvimento larvário de duas espécies de anuros, Rhinella
granulosa e Scinax ruber. Avaliamos os efeitos dos poluentes encontrados nesses igarapés
desde o estágio de ovo até o estágio adulto. Nas fases larvais observamos, em experimentos
laboratoriais, os efeitos de um único poluente encontrado em muitos igarapés da cidade
(Cobre) e sua ação de forma aguda (teste de CL50) e crônica no comportamento e
desenvolvimento larval. Para os adultos de Scinax ruber utilizamos a expressão gênica em
hepatócitos como ferramenta de análise fisiológica, de modo a compreender os efeitos
negativos da longa exposição aos poluentes encontrados nas margens de um igarapé
contaminado da cidade (Igarapé do Quarenta). A CL50 -96h dos girinos de Rhinella granulosa,
dos girinos de Scinax ruber e dos ovos de Scinax ruber em águas pretas da Amazônia
contaminadas com cobre foram 23,48±1,8; 36,37±5,1 e 50,02±3,6 µg/L, respectivamente. O
modelo do ligante biótico (BLM) foi usado para prever os valores de CL50 para essas duas
espécies e pode ser considerado uma ferramenta promissora para essas espécies tropicais e
para essas condições de água. Os estadios 19-21 de Gosner (relacionados ao aparecimento das
brânquias externas) são os mais vulneráveis e o estágio de ovo é o mais resistente em relação
à poluição por cobre. A concentração subletal de 30 µg/L de cobre (82,5% da CL50-96h) não
teve efeito sobre o comprimento, duração do período larvário, taxa de crescimento e massa
viii
corporal nos girinos de Scinax ruber, mesmo quando expostos por longos períodos de tempo.
A exposição prolongada aos contaminantes encontrados nas margens do igarapé do Quarenta
induziram, no fígado dos machos adultos de Scinax ruber, um aumento na expressão dos
genes envolvidos nos processos de oxirredução e um aumento de 197,7 vezes na expressão do
gene ERGIC3, de 54,7 vezes na expressão do gene IGF1R, e de 60,7 vezes na expressão do
gene PDCD6IP em relação ao controle. Esses genes estão relacionados ao crescimento,
viabilidade, migração, formação de colônias e capacidade de invasão das células tumorais.
Também foi observado um aumento de 54,7 vezes na expressão do gene FANCM no
tratamento em relação ao controle. Esse gene codifica a proteína FANCM, uma proteína
essencial no sistema de reparo de danos no DNA. Os poluentes encontrados nos igarapés do
Quarenta podem provocar sérios danos a saúde dos animais que habitam essas áreas, levando-
os à morte precoce e desse modo reduzindo o tamanho das populações locais. Nem mesmo os
animais que conseguem sobreviver até a fase adulta estão livres dos desafios e danos
biológicos causados por seus ambientes.
PALAVRAS-CHAVE: Anfíbios, CL50-96h, cobre, BLM, expressão gênica.
ix
Abstract
Populations of anurans have declined and extinctions have been recorded over the last
years, most of them related to environmental pollution, changes of land use and emerging
diseases. Streams with black water characteristics cross the city of Manaus; however, in
recent decades, the population and industries have used them as a sewer system, thereby
altering their original chemical composition. The main goal of this study was to evaluate the
effect of the pollution occurring in these streams on the anuran of the Amazon, Rhinella
granulosa and Scinax ruber. We evaluated the effects of pollutants found in these streams on
the evolution of egg to adult stage. We analyzed, under laboratory conditions, the effects of
copper, a pollutant found in many streams, on larvae behavior and development of these
species, using acute (LC50 test) and chronic tests. For Scinax ruber adults we used the gene
expression of the hepatocytes as a tool for physiological analysis, in order to understand the
negative effects of a long exposure to pollutants found on the banks of a contaminated city
stream (Igarapé do Quarenta). LC50 at 96 h of Rhinella granulosa Gosner 25, Scinax ruber
Gosner 25 and Scinax ruber eggs in black water of the Amazon contaminated with copper
were 23.48±1.8, 36.37±5.1 and 50.02±3.6 µg/L, respectively. The Biotic Ligand Model
(BLM) was used to predict the LC50 values that, based on the results, can be considered a
promising tool for these tropical species and water conditions. The Gosner stage 19-21
(related to the appearance of external gills) is the most vulnerable stage and the egg stage is
the most resistant, in relation to copper pollution. The sublethal concentration of 30 µg/L of
copper (82.5% of LC50 – 96h) had no effect on length, duration of the larvae period, growth
rate and body weight of Scinax ruber tadpoles, even when they were exposed for long period
of time. Long lasting exposure to contaminants found on the banks of the Igarapé do Quarenta
induced, in the liver of Scinax ruber adult males, an increase in the expression of genes
x
involved in oxidation-reduction processes and an increase of 197.7 times in the expression of
ERGIC3 gene, 54.7 times the IGF1R gene, and 60.7 times the PDCD6IP in relation to
control. These genes are related to growth, viability, migration, colony formation and
invasiveness of tumor cells. There was also an increase of 54.7 times in the expression of
FANCM gene relative to control. This gene codifies the FANCM protein, involved in DNA
damage repair system. The pollutants found in the city creeks can cause serious damage
animals health that inhabit these areas, leading them to an early death and thereby reducing
the size of local populations. Even the animals that survived to adulthood have to deal with
constraints and biological damage caused by their environment.
KEYWORDS: Amphibian, LC50-96h, copper, BLM, gene expression.
xi
Sumário
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1
1.1. O ambiente urbano – desafios biológicos ............................................................................... 1
1.2. Bacia do Educandos ................................................................................................................. 3
1.3. Os anuros: sensibilidade aos desafios ambientais .................................................................. 4
1.4. Expressão gênica ..................................................................................................................... 5
1.5. Espécies teste .......................................................................................................................... 7
1.5.1. Scinax ruber ..................................................................................................................... 8
1.5.2. Rhinella granulosa ................................................................................................................. 9
2. OBJETIVO GERAL ........................................................................................................................... 11
2.1. Objetivos específicos .................................................................................................................. 11
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................................... 12
3.1. Capítulo 1 ................................................................................................................................... 13
Toxicidade do cobre em Scinax ruber e Rhinella granulosa (Amphibia: Anura): Potencial do Modelo
do Ligante Biótico para predizer a toxicidade em igarapés urbanos. Aceito para publicação no
periódico Acta Amazonica em: 15/05/2014 (ID AA-2014-0038) (artigo original em anexo). ........... 13
3.1.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 13
3.1.2. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................... 15
3.1.3. RESULTADOS ....................................................................................................................... 19
3.1.4. DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 23
3.2. Capítulo 2 ................................................................................................................................... 27
Efeito crônico do cobre sobre o comportamento e desenvolvimento larvário de girinos de Scinax
ruber .................................................................................................................................................. 27
3.2.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 27
3.2.2. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................... 30
3.2.3. RESULTADOS ....................................................................................................................... 35
3.2.4. DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 38
3.3. Capítulo 3 ................................................................................................................................... 42
Identificação dos genes expressos no fígado de machos adultos de Scinax ruber (Anura Hylidae),
expostos à água do igarapé do Quarenta ......................................................................................... 42
3.3.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 42
3.3.2. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................... 44
3.3.3. RESULTADOS ....................................................................................................................... 54
3.3.4. DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 61
xii
4. CONCLUSÕES GERAIS .................................................................................................................... 68
5. REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 69
6. ANEXOS ......................................................................................................................................... 85
6.1. Artigo Aceito para publicação no periódico Acta Amazonica em: 15/05/2014 ......................... 85
xiii
Lista de figuras
Figura 1. Poluição no Igarapé do Quarenta, Manaus, Amazonas. ........................................................ 2
Figura 2. Girino no estadio 25 de Gosner (A) e adulto de Scinax ruber (B).......................................... 8
Figura 3. Desova (A) e adulto de Rhinella granulosa (B). .................................................................. 9
Capitulo 1
Figura 1.1. Classificação dos estadios de desenvolvimento dos ovos e larvas, segundo Gosner 1960.
............................................................................................................................................................... 17
Figura 1.2. Taxas de sobrevivência dos girinos em diferentes concentrações de cobre (15-94 µg/L)
diluído na água do igarapé do Barro Branco (média ± erro padrão da média). (A) 24 horas, (B) 48
horas, (C) 72 horas e (D) 96 horas de exposição. * P<0,05. ................................................................. 20
Figura 1.3. CL50 predita pelo BLM versus a CL50 observada para () ovos de Scinax ruber , ()
girinos de Rhinella granulosa e () girinos de Scinax ruber. A linha diagonal sólida corresponde a
relação de 1:1 entre o modelo e os dados. ............................................................................................. 21
Capitulo 2
Figura 2.1. Sistema de troca contínua de água e recipientes com fundo telado, utilizados durante a
exposição crônica dos girinos de Scinax ruber ao cobre. ...................................................................... 32
Figura 2.2. Girino de Scinax ruber no estadio 42 de Gosner com barra de escala de 1 cm e numeração
representando a desova e o indivíduo. Método utilizado para medir o comprimento final e inicial dos
girinos. ................................................................................................................................................... 32
Figura 2.3. Relação da identidade da desova com o comprimento final (A), duração do período
larvário (B), taxa de crescimento (C), massa corporal (D) e comprimento inicial (E). ........................ 37
Capitulo 3
Figura 3.1. Área de coleta das amostras de água. 1- Igarapé do Quarenta. 2 a 5 – Poças próximas às
áreas onde os adultos de Scinax ruber foram coletados. Fonte: Google Maps. .................................... 45
Figura 3.2. Preparo das bibliotecas de RNA-Seq (SOLID). Fonte: protocolo Whole Transcriptome
Library Preparation: Low Input for SOLiD™ ...................................................................................... 49
Figura 3.3. Representação dos 10 principais termos do GO que resultaram dos genes com aumento da
expressão (A) e com diminuição da expressão (B), para a categoria Processo Biológico, no tratamento
em relação ao controle........................................................................................................................... 58
Figura 3.4. Representação dos os 10 principais termos do GO que resultaram dos genes com aumento
da expressão (A) e com diminuição da expressão (B), para a categoria Função Molecular, no
tratamento em relação ao controle. ....................................................................................................... 59
Figura 3.5. Representação dos 10 principais termos do GO que resultaram dos genes com aumento da
expressão (A) e com diminuição da expressão (B), para a categoria Componente Celular, no
tratamento em relação ao controle. ....................................................................................................... 60
Figura 3.6. Modelo simplificado da regulação do ERGIC3 por miR-490-3p em células do
hepatocarcinoma humano (HCC). miR-490-3p regula positivamente a expressão de ERGIC3 e
xiv
estimula a proliferação celular; ERGIC3 promove o EMT, resultando na migração e invasão. Fonte:
Zhang et al. (2012) com modificações. ................................................................................................ 63
xv
Lista de tabelas
Capitulo 1
Tabela 1.1. Características físico-químicas e CL50 predita para o Igarapé do Bolívia (cidade de
Manaus, área urbana) e para o igarapé do Barro Branco (área natural). ............................................... 22
Capitulo 2
Tabela 2.1. Composição físico-química da água nos experimentos. Valores expressos como média ±
desvio padrão da média. ........................................................................................................................ 35
Capitulo 3
Tabela 3.1. Características fisico-químicas da água nos pontos de coleta. 1- Igarapé do Quarenta. 2 a
5 – Poças próximas às áreas onde os adultos de Scinax ruber foram coletados.................................... 56
1
1. INTRODUÇÃO
1.1. O ambiente urbano – desafios biológicos
Durante a implantação da Zona Franca de Manaus ocorreu um rápido crescimento da
cidade, que não foi acompanhado de políticas públicas de controle ambiental. Áreas
anteriormente florestadas foram transformadas em bairros para acomodar a população e sem
um sistema de tratamento e coleta de esgoto adequado, os igarapés acabaram sendo usados
como esgoto a céu aberto (Velloso 2002).
Até 2004, apenas 11,6% da população de Manaus possuía coleta de esgoto, sendo que
apenas 2,9% da população possuía algum tipo de tratamento de esgoto. Manaus, Belém e Rio
Branco possuem os piores índices de tratamento de esgoto de todo o Brasil (Instituto
Socioambiental 2007). Em igarapés poluídos de Manaus são encontrados altos níveis de
nitrogênio na forma amoniacal, formados pela decomposição da matéria orgânica proveniente
de esgotos e excreção direta de animais e do homem (Figura 1) (Velloso 2002).
Nos igarapés que cortam a cidade são observados os efeitos decorrentes da poluição
por esgoto doméstico e industrial, como o aumento do pH da água, diminuição do oxigênio
dissolvido e altos teores de metais de transição (Zn, Co, Cu, Fe, Ni, Mn, Cr e Pb, entre outros)
( Melo et al. 2005; Santana e Barroncas 2007; Franco de Sá et al. 2012).
3
1.2. Bacia do Educandos
A área urbana de Manaus abrange quatro bacias hidrográficas, todas contidas na
grande bacia do rio Negro. Duas bacias encontram-se integralmente dentro da cidade, a do
igarapé de São Raimundo e a do igarapé do Educandos e duas parcialmente inseridas na
malha urbana, a do igarapé do Tarumã-Açu e do Puraquequara (Velloso 2002).
A bacia do igarapé do Educandos é integrada pelo Igarapé do Quarenta, que é o
principal tributário da bacia e sua nascente está localizada no bairro Armando Mendes, na
zona leste da cidade, percorre áreas ocupadas como o Distrito Industrial da SUFRAMA e o
bairro do Japiim e recebe tanto esgoto doméstico quanto industrial; pelo Igarapé da
Cachoeirinha, que abrange os bairros Cachoeirinha, Petrópolis, Raiz e São Francisco,
atravessando vales que estão sujeitos a inundações, principalmente nos meses de janeiro a
junho; e pelo igarapé do Mestre Chico, localizado próximo à área central de Manaus, que
abrange parte do bairro da Cachoeirinha e cruza vias importantes de acesso ao centro da
cidade até desaguar no igarapé do Educandos, também estando sujeito a inundações (Velloso
2002).
No igarapé do Quarenta foram observados vários indicadores de poluição das águas
como o aumento do pH, alta condutividade, baixos teores de oxigênio dissolvido, altas
concentrações de cátions e ânions e altas concentrações de metais (Cu, Cr, Zn e Ni). Somente
na sua nascente esses valores estão em níveis considerados normais (Silva et al. 1999; Melo et
al. 2005). No Igarapé do Educandos foram encontrados metais (Fe, Ni, Mn, Cr, Pb e Cu) em
níveis acima dos recomendados pelo CONAMA e altos níveis de amônia total, decorrentes da
decomposição da matéria orgânica presente nas águas (Franco de Sá et al. 2012).
Mesmo com altos níveis de poluentes, algumas espécies, tanto vegetais quanto
animais, ainda conseguem sobreviver nessa bacia. O PROSAMIM (Programa Social e
4
Ambiental dos Igarapés de Manaus) encontrou 12 espécies de peixes ao longo da bacia do
Educandos, porém, em igarapés mais poluídos como o do Quarenta, foram encontradas
apenas espécies de peixes resistentes a ambientes poluídos como o tamoatá (Hoplosternum
littorale), a traíra (Hoplias malabaricus) e o acará-açu (Astronotus sp). Nesse igarapé também
foram encontradas espécies de peixes com altos teores de metais e com deformidades nas
nadadeiras (Prosamim 2004). Das 70 espécies de serpentes encontradas na região de Manaus,
apenas 27 foram encontradas na bacia (Prosamim 2004). Das 75 espécies de anfíbios da
região de Manaus, 32 foram registradas no igarapé do Quarenta, porém, a maioria das
espécies de anfíbios foi encontrada na área do campus da UFAM, uma área mais preservada
que o restante da bacia (Prosamim 2004).
1.3. Os anuros: sensibilidade aos desafios ambientais
Os anuros são especialmente suscetíveis aos poluentes encontrados nas áreas com
influência antrópica (metais potencialmente tóxicos, amônia, nitrato etc.), pois são
dependentes de condições ambientais específicas e, por possuírem pele permeável (Sparling et
al. 2000), há acúmulo nos seus tecidos de contaminantes químicos dissolvidos na água
(Degarady e Halbrook 2006).
No mundo existem 7259 espécies descritas de anfíbios anuros (Frost 2014); porém,
um terço das espécies de anfíbios do mundo estão ameaçadas de extinção (Amphibiaweb
2014). Consequentemente, há crescente interesse no estudo desses animais (La Marca et al.
2005). Entre as principais causas dessa ameaça estão a poluição de corpos d’água, a radiação
UV e as doenças (Amphibiaweb 2014).
Em relação aos igarapés que cortam a cidade de Manaus, já foram observados os
efeitos da poluição em girinos e ovos de Osteocephalus taurinus (Hylidae). Ao serem
expostos às águas contaminadas do igarapé do Educandos, esses animais apresentaram
5
aumento na taxa de mortalidade, aumento no tamanho corporal na metamorfose e o
aparecimento de edemas abdominais nos girinos, possivelmente causados pela presença de
nitrato na água (Franco de Sá et al. 2012).
Larvas de anfíbios anuros expostas a altos níveis de contaminantes como, por
exemplo, metais de transição, pesticidas, herbicidas e fertilizantes presentes na água, podem
apresentar malformações, diminuição do desempenho natatório (Burkhart et al. 1998;
Hopkins et al. 2000), diminuição no tamanho corporal na metamorfose, redução na taxa de
eclosão dos ovos (Karasov et al. 2005), aumento nas taxas metabólicas (Rowe et al. 1998) e
maior susceptibilidade à predação (Broomhall 2002), às doenças e às infecções (Johnson et al.
2002). Mudanças no pH da água podem diminuir a taxa de sobrevivência, o tamanho e o
tempo até a metamorfose de algumas espécies de anfíbios (Andrén et al. 1988; Warner et al.
1991; Rowe et al. 1992; Kutka 1994), afetando diretamente os parâmetros demográficos das
populações de anuros.
A intensificação da produção agrícola e industrial pode provocar o aumento de metais
potencialmente tóxicos e de outros poluentes nas águas e isso afeta as populações de anfíbios.
Esses efeitos podem ser letais ou induzir efeitos subletais como o retardo do crescimento e do
desenvolvimento e alterações comportamentais (Blausten et al. 2003). Rowe et al. (1998)
observaram que larvas de Rana catesbeiana expostas a áreas contaminadas com grande
quantidade de metais (Al, As, Ba, Cd, Cr, Cu, Fe, Hg, Mn, Ni, Se e Zn) apresentavam
deformações na região oral e diminuição na sua taxa de sobrevivência em relação às larvas de
áreas não contaminadas.
1.4. Expressão gênica
Alguns trabalhos têm mostrado um aumento nas taxas metabólicas de larvas de
anuros expostas a áreas poluídas (Rowe et al. 1998; Ward et al. 2006). Rowe et al. (1998)
6
verificaram um aumento na taxa metabólica de girinos de Rana catesbeiana expostos a uma
região poluída com metais potencialmente tóxicos em comparação com áreas não poluídas.
Uma taxa metabólica maior pode indicar um custo fisiológico maior em animais expostos a
áreas poluídas pela formação de proteínas de estresse, eliminação das toxinas do corpo ou
pelo sistema de reparo celular (Rowe et al. 1998). Se novos metabólitos (proteínas,
hormônios, enzimas) estão sendo produzidos em animais expostos a poluentes, ou se está
ocorrendo uma maior produção de determinados metabólitos, isso pode ser verificado por
meio da expressão gênica, que pode ser estudada a partir dos RNAm que estão sendo
transcritos no momento da exposição.
Uma forma de se estudar os genes que estão sendo expressos nos tecidos de um
organismo seria por meio da construção de bibliotecas de cDNA, que são coleções de
fragmentos de cDNA (DNA complementar a um RNAm), representando as sequências
expressas em um determinado tecido ou órgão, sob influência de uma determinada condição
do ambiente, num determinado momento. Ao contrário de uma biblioteca genômica, que
contém em princípio qualquer fragmento de DNA do organismo doador, a biblioteca de
cDNA contém os genes expressos no tempo e local específicos. As moléculas de RNAm
(altamente instáveis) são convertidas a cDNA para a sua clonagem e armazenamento (Malone
et al. 2006).
Girinos de Xenopus laevis (Amphibia, Anura) expostos de forma crônica a uma
concentração do pesticida atrazine apresentaram alteração na expressão de 44 genes em
machos e de 77 genes em fêmeas, que na maioria das vezes estavam relacionados ao
crescimento e metabolismo, proteólise, formação do complexo fibrinogênio e na regulação do
sistema imunológico (Langerveld et al. 2009). Em Xenopus laevis (Amphibia, Anura)
também foram observadas diferenças na expressão proteica em girinos expostos durante um
7
período de 2 a 5 dias a duas concentrações de bifenilas policloradas (PCBs), um composto
utilizado para uma série de fins industriais, como em isolantes elétricos e papéis carbono
(Gillardin et al. 2009).
Os metais de transição ao entrarem em contato com organismos vivos, estimulam a
expressão das metalotioneínas, que são proteínas pequenas, ricas em cisteína, que possuem
um papel importante em manter a homeostase intracelular do metal e na desintoxicação dos
metais de transição (Hamer 1986; Adams et al. 2002). Em anfíbios já foram realizados
estudos para entender melhor os mecanismos envolvidos na expressão dos genes relacionados
às metalotioneínas em girinos e adultos de Xenopus laevis (Amphibia, Anura) (Muller et al.
1993; Durliat et al. 1999) e Pleurodeles waltl (amphibia, Urodela) (Munaji et al. 2002).
1.5. Espécies teste
No presente trabalho utilizamos duas espécies de anuros encontradas facilmente na
região de Manaus (Scinax ruber e Rhinella granulosa). Essas espécies foram escolhidas por
serem muito comuns em áreas antropizadas e por possuírem desova composta de número
relativamente grande de ovos, já que os experimentos em laboratório necessitaram de grande
número de indivíduos.
8
1.5.1. Scinax ruber
Scinax ruber é uma espécie comum em áreas abertas, bordas e clareiras (Figura 2). É
uma espécie arborícola e noturna. Sua reprodução ocorre durante todo o ano, mas com maior
intensidade durante a estação chuvosa (novembro a maio) (Rodriguez e Duellman 1994; Lima
et al. 2006).
A desova é composta por aproximadamente 600 ovos, que ficam aderidos à vegetação
ou à margem de poças temporárias, onde os girinos se desenvolvem até completar a
metamorfose (Lima et al. 2006). A eclosão dos ovos ocorre entre 48 e 55 horas após terem
sido postos e os girinos podem alcançar até 25 mm de comprimento (Rodriguez e Duellman
1994). Exemplares dessa espécie podem ser encontrados na bacia Amazônica (Brasil, Peru,
Equador e Colômbia) e, também, na Guiana, Suriname e Guiana Francesa, leste do Panamá e
Trinidad e Tobago (Lima et al. 2006).
Figura 2. Girino no estadio 25 de Gosner (A) e adulto de Scinax ruber (B).
9
1.5.2. Rhinella granulosa
A espécie Rhinella granulosa ocorre principalmente em áreas impactadas, desde o
limite sul da Amazônia até o sul do Texas nos EUA (Figura 3). É terrestre e noturna (Lima et
al. 2006). Exemplares dessa espécie ocorrem em baixa densidade nas áreas florestadas,
porém, ocorrem em alta densidade populacional em clareiras e margens de rios que recebem
luz solar direta. A reprodução ocorre principalmente durante a estação chuvosa. A desova, de
aproximadamente 900 ovos, é depositada na superfície d’água como um cordão gelatinoso
(Figura 3A) (Lima et al. 2006). Os indivíduos de Rhinella granulosa alimentam-se de uma
grande variedade de insetos, principalmente de formiga, mas também de Coleopteras,
Ortopteras, Hemipteras e larvas de Lepidópteras (Santana e Juncá 2007).
Figura 3. Desova (A) e adulto de Rhinella granulosa (B).
Os resultados aqui apresentados representam a primeira tentativa de entender a
toxicidade do cobre para anuros amazônicos. Nossos resultados destacam as primeiras
evidências de que a exposição prolongada dos anfíbios aos poluentes da cidade de Manaus
pode estar causando danos em nível celular, incluindo a formação de tumores. Também
10
destacamos a primeira evidência de que modelo ligante biótico pode ser considerado uma
ferramenta promissora para a predição da toxicidade do cobre para efeitos de regulação nas
águas de igarapés urbanos na Amazônia.
11
2. OBJETIVO GERAL
Avaliar a influência da poluição do igarapé do Quarenta na expressão gênica e
do cobre no comportamento e no desenvolvimento larvário de Rhinella granulosa e Scinax
ruber.
2.1. Objetivos específicos
1) Estimar a concentração letal média (CL50) de cobre para girinos e ovos de Rhinella
granulosa e Scinax ruber.
2) Verificar a eficácia do Modelo do Ligante Biótico (BLM) como ferramenta para
análise da toxicidade do cobre usando girinos e ovos de Scinax ruber e Rhinella granulosa em
igarapés amazônicos.
3) Estimar os efeitos crônicos da contaminação por cobre em girinos de Scinax ruber e
Rhinella granulosa, medindo as seguintes variáveis:
(a) Sobrevivência do estágio 25 de Gosner até a metamorfose;
(b) Tempo decorrido entre a data de desova e a data de metamorfose;
(c) Taxa de crescimento do estágio 25 de Gosner até a metamorfose;
(d) Tamanho na metamorfose;
(e) Massa corporal
4) Identificar quais genes estão sendo expressos no fígado de machos adultos de
Scinax ruber expostos à poluição do Igarapé do Quarenta em comparação às áreas não
contaminadas.
12
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Capítulo 1 - Toxicidade do cobre em Scinax ruber e Rhinella granulosa
(Amphibia: Anura): Potencial do Modelo do Ligante Biótico para predizer a toxicidade em
igarapés urbanos. Publicado no periódico Acta Amazonica, doi: 10.1590/4392201400383.
3.2. Capítulo 2 - Efeito crônico do cobre sobre o comportamento e desenvolvimento
larvário de girinos de Scinax ruber.
3.3. Capítulo 3 – Identificação dos genes expressos no fígado de machos adultos de
Scinax ruber (Anura Hylidae), expostos as águas contaminadas do igarapé do Quarenta.
13
3.1. Capítulo 1
Toxicidade do cobre em Scinax ruber e Rhinella granulosa (Amphibia: Anura):
Potencial do Modelo do Ligante Biótico para predizer a toxicidade em igarapés urbanos.
Publicado no periódico Acta Amazonica, doi: 10.1590/4392201400383.
3.1.1. INTRODUÇÃO
O Brasil possui a maior diversidade de anfíbios do mundo, com um total de 956
espécies, das quais 650 são endêmicas, tornando o Brasil o primeiro em endemismo. Entre as
três ordens de anfíbios, os anuros são considerados os mais ameaçados (Amphibiaweb 2014).
Desde 1990 foram registrados declínios e extinções de populações de anuros, que estavam
relacionados com a poluição do ambiente, a mudanças no uso da terra e ao surgimento de
doenças (Blaustein e Wake 1990; Daszak et al. 1999; Houlahan et al. 2000). A cidade de
Manaus é recortada por uma série de igarapés, com predominância de águas pretas (Velloso
2002). Durante os períodos de chuva, esses igarapés transbordam formando poças nas suas
margens, que eventualmente são utilizados pelos anuros para a deposição dos ovos. As
margens desses igarapés possuem uma cobertura vegetal que mantém temperatura e umidade
relativa do ar ideais para a reprodução e o desenvolvimento dos anuros nas áreas urbanas de
Manaus.
A água preta da Amazônia possui característica físico-química muito específica, bem
diferente da água branca. Geralmente a água preta é encontrada no Rio Negro, e possui pH
baixo, baixa condutividade e baixas concentrações de cátions (Silva et al. 1999; Horbe e
Oliveira 2008). No entanto, em áreas urbanas sob intensa pressão antrópica, estas
características são alteradas, ocorrendo aumento do pH, alta turbidez, redução das
14
concentrações de oxigênio dissolvido, aumento das concentrações de cálcio, magnésio, sódio,
potássio, sulfato e bicarbonato, e altas concentrações de metais de transição (Silva et al. 1999;
Melo et al. 2005; Nascimento e Silva 2010).
A qualidade da água é um ponto central para o modelo ligante biótico (BLM), que foi
desenvolvido para prever toxicidade de metais com base na química da água (Paquin et al.
2002). As características das águas da Amazônia, tanto naturais como as de ambientes
modificados, representam condições interessantes para testar este modelo, tal como tem sido
relatado para peixes da Amazônia (Duarte et al. 2009). Até o momento não existem relatos de
testes com anfíbios. Os anuros são particularmente suscetíveis aos efeitos dos metais
potencialmente tóxicos, pois possuem pele permeável, o que facilita sua absorção. Os girinos
expostos a altas concentrações de metais podem apresentar malformações, redução no
desempenho natatório, diminuição na taxa de sobrevivência, aumento no tempo até a
metamorfose e alterações no crescimento (Lefcort 1998; Rowe et al. 1998; Chen et al. 2007;
Garcia-Munõz et al. 2009; Lance et al. 2012).
O objetivo principal do presente estudo foi determinar a sensibilidade de duas espécies
de anuros, Scinax ruber e Rhinella granulosa ao cobre. Estas espécies são encontradas
facilmente as margens dos igarapés que cortam a cidade de Manaus. Muitos desses igarapés
apresentam alta concentração de cobre, muitas vezes mais elevados do que os níveis definidos
pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) (> 9 µg/L) (Silva et al. 1999;
Santana e Barroncas 2007).
15
3.1.2. MATERIAL E MÉTODOS
3.1.2.1. Animais estudados
Três desovas de Scinax ruber e três de Rhinella granulosa foram coletadas na Reserva
Florestal Adolpho Ducke, próximo ao igarapé do Barro Branco, Manaus, AM, Brasil
(02o55'03''S; 59
o53'59''W). Os ovos foram retirados diretamente de poças temporárias e
transportados para o laboratório, onde foram mantidos em caixas individuais contendo água
do igarapé do Barro Branco em temperatura ambiente e aeração constante. Os girinos foram
alimentados uma vez por dia com ração comercial de peixes. A alimentação foi suspensa 48
horas antes do início dos experimentos a fim de reduzir as ligações dos íons cobre a matéria
orgânica dos alimentos e das fezes.
3.1.2.2. Contaminante
Cloreto de cobre (II) foi diluído em diferentes concentrações com água do igarapé
Barro Branco. A água foi coletada durante o período chuvoso na Reserva Florestal Adolpho
Ducke, Manaus, Amazonas, Brasil e as suas características principais foram: [Na+], 0,182
mg/L; [K+], 0,09 mg/L; [Ca
2+], 0,01 mg/L; [Mg
2+], 0,029 mg/L; [Cl
-] 0,15 mg/L; [SO4
2-], 1
mg/L; [COD] 6,94 mg/L; [Cu], 1,5 µg/L; alcalinidade 2,8 mg CaCO3/L; pH 5,5. Estas
características físico-químicas da água do Barro Branco são semelhantes aos dos igarapés de
água preta que cortam a cidade de Manaus. Para melhor calibrar o BLM, e a CL50, também
foram feitos experimentos usando a água do poço do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia). Esta água é caracterizada por [Na+], 0,72 mg/L; [K
+], 0,42 mg/L; [Ca
2+], 0,1
mg/L; [Mg2+
], 0,026 mg/L; [Cl-], 1,32 mg/L; [SO4
2-], 0,01 mg/L; [DOC] 1,84 mg/L; [Cu] 4
µg/L; alcalinidade 3,75 mg de CaCO3/L; pH 6,2.
16
3.1.2.3. Efeito agudo de contaminação (Teste de CL50).
A CL50 é um teste padronizado que determina a concentração de uma substância ou
de uma combinação de substâncias que causa 50% de mortalidade em um grupo de
organismos, o que permite inferir a susceptibilidade das espécies em análise, Scinax ruber e
Rhinella granulosa. Quatro testes de CL50 foram realizados, dois para girinos de Scinax ruber
(Estadio 25 de Gosner, 21 dias) na água do igarapé e na água de poço, um com ovos de Scinax
ruber e um com girinos Rhinella granulosa (estadio 25 de Gosner, 21 dias) na água do
igarapé, de acordo com a licença da Comissão de Ética no Uso de Animais do INPA
(061/2012). Os teores de cobre foram definidos de acordo com o protocolo de Sprague
(1990), ou seja, as concentrações das exposições foram aumentadas usando uma razão de 1,3.
O período total de exposição dos girinos e dos ovos ao cloreto de cobre foi de 96 horas. Três
réplicas foram definidas para cada uma das oito concentrações analisadas. Cada réplica
consistiu em um recipiente de plástico de 500 mL, com 400 mL de água com aeração
constante, contendo 10 girinos ou ovos. O mesmo número de réplicas sem cloreto de cobre foi
usada como controle. Três diferentes desovas foram utilizadas. Para os testes com girinos de
Scinax ruber em água de poço foram utilizadas cinco réplicas. A sobrevivência e o estágio de
desenvolvimento das larvas (de acordo com a tabela de Gosner, 1960) (Figura 1.1) foram
registradas em 24, 48, 72 e 96 horas. As larvas e ovos sem movimentos foram considerados
mortos quando apresentavam colorações acinzentadas, o que contrastava com os vivos.
17
Figura 1.1. Classificação dos estádios de desenvolvimento dos ovos e larvas, segundo
Gosner 1960.
3.1.2.4. Análise Química
No início de cada experimento foi coletada uma amostra de água para análise das
concentrações de Ca2+
, Mg2+
, Na+, K
+, Cl
-, alcalinidade e carbono orgânico dissolvido (COD).
O pH, a temperatura e os níveis de cobre dissolvido foram medidos diariamente. Quando
necessário, as concentrações de cobre dissolvido foram corrigidas para o valor nominal. Os
níveis de Ca2+
, Mg2+
, Na+ e K
+ foram determinados por espectrofotometria de absorção
atômica (AAnalyst 800, Perkin-Elmer, Singapura), as concentrações de Cl-
foram
determinadas pelo método colorimétrico descrito por Zall et al. (1956), usando uma
espectrofotômetro de placa (Spectra-Max Plus 384, Molecular Devices, Sunnyvale, CA,
USA). Todas as determinações foram realizadas em triplicata para cada amostra de água.
A concentração de COD das amostras foi determinada em um analisador de carbono
total (Apollo 9000, Teledyne Tekmar, Ohio, USA) usando o método de combustão
18
combinado com detecção por infravermelho, como previamente descrito pela norma
ISO/FDIS 8245 (1998). Em resumo, as amostras foram pré-filtradas em membrana de 0,45
m para remover material particulado antes da injeção e o COD foi medido em triplicatas. As
concentrações de SO42-
, S2-
e ácido húmico (AH) foram calculadas a partir de determinações
anteriores para igarapés naturais no interior da cidade de Manaus (Ertel et al. 1986; Silva et
al. 1999; Nascimento e Silva 2010).
3.1.2.5. Os cálculos e a análise estatística
A CL50-96h e seus respectivos intervalos de confiança de 95% foram calculados
usando o método Spearman-Karber (Hamilton et al. 1977). Foram utilizadas, para esse
cálculo, as médias das concentrações de cobre, medidos em triplicata.
Os valores medidos de Ca2+
, Mg2+,
Na+, K
+, Cl
-, alcalinidade, pH, COD, e temperatura
e os valores de SO42-
, S2-
da literatura foram utilizados como parâmetros de entrada para
todas as séries experimentais. O conteúdo de ácido húmico foi fixado em 40% a fim de
corresponder ao teor de ácidos húmicos do Rio Negro (Ertel et al. 1986). O BLM (versão
2.2.3 para Windows, Hydroqual, Mahwah, NJ, EUA) foi usado para prever a CL50-96h do Cu
em girinos de Scinax ruber e Rhinella granulosa, usando o modelo de Daphinia magna, e
de ovos de Scinax ruber, usando modelo da truta arco-íris. Cada réplica de cada experimento
foi introduzida no programa individualmente.
Os parâmetros físico-químicos do igarapé do Bolívia (Nascimento e Silva 2010), que
está localizado ao lado da Reserva Florestal Adolpho Ducke, foram utilizados como modelo
para os parâmetros de entrada. Como os autores não mediram as concentrações de COD, S e
AH, foi inserida uma série de valores para verificar sua influência sobre o modelo. Para S,
19
consideramos o mesmo valor encontrado para igarapés naturais, pois mesmo aumentando este
valor em 150 vezes, não observamos alterações na CL50 prevista pelo programa. Para o AH e
o COD, inserimos quatro valores diferentes, a partir das concentrações encontradas em
igarapés naturais, com aumento gradativo usando uma razão de 2. Como esses igarapés têm
altas concentrações de matéria orgânica provenientes dos esgotos domésticos, esperamos um
aumento nas concentrações de COD e AH (Tabela 1.1).
3.1.3. RESULTADOS
Os ovos apresentaram uma maior resistência ao cobre que os girinos, principalmente
nas primeiras 24 horas, quando a CL50 dos ovos foi de 73,93 µg/L (66,95 - 82,14) diminuindo
para 51,34 µg/L (45,58- 57,82) após 48 horas. Ao fim de 24 horas de exposição ao cobre os
ovos já haviam eclodido e as larvas já mostravam movimentos musculares (estadio 18-19 de
Gosner); em 48 horas evoluíram para larvas com brânquias e movimentos natatórios (estadio
21 de Gosner), exceto aqueles expostos a 56 µg/L, que permaneceram no estadio 19 de
Gosner. Em 72 horas todas as larvas vivas alcançaram o estadio 25 de Gosner.
Os girinos expostos à água do igarapé da Reserva Ducke apresentaram queda na taxa
de sobrevivência em baixas concentrações de cobre mesmo em um período de tempo
relativamente curto. Em apenas 24 horas nenhum girino de Rhinella granulosa conseguiu
sobreviver quando expostos a 33 µg de Cu/L. Em contrapartida, quase três vezes mais cobre
(94 µg de Cu/L) foi necessário para causar mortalidade total de ovos e girinos de Scinax
ruber. Não houve mortalidade significativa de qualquer espécie quando os girinos foram
expostos a concentrações abaixo de 20 µg de Cu/L (Figura 1.2).
20
Figura 1.2. Taxas de sobrevivência dos girinos em diferentes concentrações de cobre
(15-94 µg/L) diluído na água do igarapé do Barro Branco (média ± desvio padrão da média).
(A) 24 horas, (B) 48 horas, (C) 72 horas e (D) 96 horas de exposição. * P<0,05.
A CL50-96h foi de 36,37 µg/L (31,45 - 42.07) para girinos e de 50,02 µg/L (44,46 -
56.15) para ovos de Scinax ruber e de 23,48 µg/L (21,28 - 25,91) para girinos de Rhinella
granulosa expostos ao cobre dissolvido na água do igarapé da Reserva Ducke. Para os girinos
de Scinax ruber expostos ao cobre dissolvido na água do INPA, a CL50-96h foi de 15,9 µg/L
(13,4 - 19, 12).
A CL50-96h predita pelo BLM foi de 25,7 µg/L para girinos e de 90,9 µg/L para os
ovos de Scinax ruber e de 23,4 µg/L para girinos de Rhinella granulosa expostos ao cobre
dissolvido na água do igarapé da Reserva Ducke. Para girinos de Scinax ruber expostos ao
cobre dissolvido na água do INPA, a CL50-96h predita foi de 19,15 µg/L. Os valores da CL50-
21
96h preditos pelo programa estão na mesma faixa dos valores observados, indicando que o
BLM é uma ferramenta confiável para estimar a toxicidade do cobre até mesmo em igarapés
contaminados (Figura 1.3).
Figura 1.3. CL50 predita pelo BLM versus a CL50 observada para () ovos de Scinax
ruber , () girinos de Rhinella granulosa e () girinos de Scinax ruber. A linha diagonal
sólida corresponde a relação de 1:1 entre o modelo e os dados.
As condições físicas e químicas dos igarapés da cidade, contaminados por esgotos
domésticos, afetam a biodisponibilidade do cobre e, desse modo, ocorre uma redução da
toxicidade para os girinos, em comparação aos animais expostos à água pura do igarapé do
Barro Branco na Reserva Ducke ou a água do poço do INPA (tabela 1.1).
22
Tabela 1.1. Características físico-químicas e CL50 predita para o Igarapé do Bolívia (cidade
de Manaus, área urbana) e para o igarapé do Barro Branco (área natural).
Natural Contaminado
Temperatura oC 28 28
pH 5,5 6,5
CL50 (µg/L) 30,25 101,2–1498,8
COD (mg C/L) 6,94 6,9 – 55,3
AH (mg/L) 40,00 20 – 80
Ca2+
(mg/L) 0,01 2,22
Mg2+
(mg/L) 0,029 52,4
Na+ (mg/L) 0,182 11,55
K+ (mg/L) 0,09 2,54
SO42-
(mg/L) 1,00 5,67
Cl- (mg/L) 0,15 7,65
Alcalinidade (mg/L
CaCO3
2,8 4,04
S2-
(mg/L) 0,01 0,01
23
3.1.4. DISCUSSÃO
Depois de 48 horas de exposição ao cobre, foi observado uma queda brusca na
viabilidade dos ovos, em contraste com o declínio gradual na sobrevivência dos girinos. A
gelatina que recobre os ovos pode tê-los protegido da contaminação nas primeiras 24 horas de
exposição. No entanto, ao alcançarem os estadios 19, 20 e 21 de Gosner, entre 24 e 48 horas,
marcados pelo aparecimento dos filamentos branquiais externos e pelo início da atividade
cardiovascular (Gosner 1960), pode ter ocorrido um aumento da absorção do cobre e,
consequentemente, reduzido a sobrevivência das larvas (Figura 1.2). Lance et al. (2012)
observaram uma correlação entre densidade dos ovos e a toxicidade do cobre, ou seja, quanto
maior a densidade dos ovos, menor toxicidade do cobre. Eles sugeriram que o cobre se liga a
gelatina do ovo, diminuindo a biodisponibilidade do cobre na água e, assim, reduzindo sua
toxicidade. Este parece ser o caso no presente estudo também.
Franco de Sá et al. (2012) também observaram uma maior resistência dos ovos de
Osteocephalus taurinus em comparação com os girinos (primeiras 13 horas) expostos de
forma aguda à água de um igarapé contaminado na cidade de Manaus, que contém altos teores
de Fe, Mn, Ni, Cr e Pb. Como no presente trabalho, Franco de Sá et al. (2012) não
verificaram diminuições significativas na viabilidade dos ovos antes da eclosão, mas
observaram uma alta taxa de mortalidade logo após a eclosão, relacionada ao aparecimento
das brânquias externas.
Nascimento et al. (2012) realizaram um experimento similar com Osteocephalus
taurinus em dois outros igarapés de Manaus, Igarapé do Quarenta e do Mindu, e ao contrário
de Franco de Sá et al. (2012) não observaram nenhum efeito da água contaminada na
sobrevivência dos ovos e larvas durante o período de 96 horas. A diferença entre os dois
estudos pode estar relacionada com a composição química dos igarapés, o que afeta a
24
biodisponibilidade dos metais, exigindo-se assim uma análise detalhada dos locais
contaminados.
A CL50-96h foi maior para Scinax ruber do que para Rhinella granulosa,
possivelmente devido a uma maior resistência dos girinos de Scinax ruber ao cobre, a
diferenças no tamanho e na massa corporal dos girinos das duas espécies e a pequenas
variações nas características físico-químicas, das águas utilizadas nos experimentos. As águas
foram coletadas no mesmo igarapé, mas em dias diferentes para cada experimento.
Em curto prazo (48h) a exposição ao cobre causou um atraso no desenvolvimento
larvário. Um atraso no desenvolvimento dos girinos pode ter uma influência extremamente
negativa para a população. Quanto mais tempo permanecerem na poça, maiores são as
chances de serem predados e da poça secar.
Em igarapés contaminados, observamos uma redução na toxicidade do cobre, com a
CL50 predita variando entre 101,2 a 1.498 µg/L, dependendo das concentrações do COD e AH
(Tabela 1.1). As condições físico-químicas específicas dos igarapés poluídos, incluindo o
aumento COD, afetam a biorreatividade e a biodisponibilidade dos metais e podem torná-los
biologicamente indisponível para o animal, reduzindo sua toxicidade. A toxicidade dos metais
ocorre devido à ligação do metal ao ligante biótico, e a brânquia é o principal ligante. O pH
tem uma influência significativa na especiação dos metais, ou seja, o aumento do pH, como
observado nos igarapés poluídos, facilita a formação do complexo metal-COD, reduzindo
assim a ligação do metal no ligante biótico. As substâncias húmicas formam complexos
altamente estáveis com alto peso molecular e, portanto, reduzem a captação dos metais pelas
membranas biológicas (Paquin et al. 2002).
A biodisponibilidade dos metais nos igarapés naturais da Amazônia depende de
múltiplas e complexas interações físicas e químicas, tais como pH variando de muito ácido
25
para condição aproximadamente neutra, de muito baixo para níveis relativamente altos de
íons, de baixo a altos níveis de COD, e do aumento de poluentes orgânicos e inorgânicos,
como ocorre em igarapés urbanos. Essas condições determinam a toxicidade dos metais, e
assim podem causar danos em extensões diferentes para as populações de anuros que habitam
as margens dos corpos d'água.
Experimentos realizados em diferentes tipos de águas da Amazônia, incluindo branca,
preta e uma mistura de águas branca e preta, têm sugerido que o BLM é uma ferramenta
adequada para prever a toxicidade do cobre (Bevilacqua 2009) para peixes nesses tipos de
águas naturais. Bianchini et al. (2004) também demonstraram que o BLM é uma ferramenta
promissora para estimar sensibilidade de copépodes ao cobre nas águas subtropicais. O
presente estudo evidencia que o modelo ligante biótico também pode ser considerado uma
ferramenta promissora para predizer a sensibilidade dos anuros amazônicos ao cobre.
Os anfíbios estão diariamente expostos a um grande número de desafios urbanos no
interior das cidades ou perto delas. A expansão das cidades em direção às florestas provoca
desmatamento, que tem efeito direto sobre a maioria das espécies de anuros, levando ao
desaparecimento das suas populações. Entre as causas do declínio das populações de anfíbios
está o aumento das concentrações de metais na água e no solo, incluindo o cobre. Os anfíbios,
tanto as larvas quanto os adultos, possuem pele permeável, tornando-os mais vulneráveis ao
cobre dissolvido nas águas e no solo. No entanto, existem algumas espécies que podem
sobreviver a estas mudanças, como é o caso de Scinax ruber e Rhinella granulosa, espécies-
alvo do presente estudo, que têm uma preferência por áreas abertas e não necessitam de
cobertura vegetal para desovar (Lima et al. 2006).
Cerca de 70% dos anfíbios possuem ciclo de vida com larvas ou ovos aquáticos
(Sparling et al. 2000). A maioria dessas espécies não usam diretamente os igarapés, eles
26
usam as poças formadas nas margens pelas chuvas ou pelo transbordamento dos cursos
d’água. As poças passam por constantes mudanças ambientais, pois recebem continuamente
as águas poluídas dos igarapés, sofrem alterações físico-químicas causadas pela
decomposição bacteriana da matéria orgânica e passam por extremas mudanças de
temperatura, aumentando ou diminuindo os efeitos dos poluentes. Apesar disso, com o BLM
foi possível estimar a sensibilidade desses organismos ao cobre.
Em conclusão, a toxicidade do cobre depende da composição físico-química da água e
do estágio larval dos girinos. Os estádios 19, 20 e 21 de Gosner (relacionados ao
aparecimento das brânquias externas) são os mais vulneráveis e a fase de ovo é a mais
resistente. No caso de uma contaminação por cobre, os igarapés naturais devem
receber atenção especial, dado que a CL50 observada foi menor nesses ambientes. Os
resultados aqui apresentados representam a primeira tentativa de entender toxicidade do
cobre em anuros amazônicos. Nossos resultados destacam as primeiras evidências de que o
modelo ligante biótico pode ser considerado uma ferramenta promissora para a predição da
toxicidade do cobre para efeitos de regulação nas águas de igarapés urbanos na Amazônia.
27
3.2. Capítulo 2
Efeito crônico do cobre sobre o comportamento e desenvolvimento larvário de
girinos de Scinax ruber
3.2.1. INTRODUÇÃO
Atualmente, acredita-se que um terço das espécies de anfíbios do mundo estão
ameaçadas de alguma forma. Dentro da classe Amphibia há três ordens: Anura (923 espécies
brasileiras), Caudata (5 espécies brasileiras) e Gymnophiona (31 espécies brasileiras)
(Amphibiaweb 2014). Entre essas ordens a mais ameaçada é a Anura. De acordo com os
dados da IUCN, existem 503 espécies de anfíbios no Brasil classificados como pouco
preocupantes, 25 como ameaçadas, 16 como vulneráveis, 9 como criticamente em perigo, 7
em perigo e 1 como extinta. Este fato tem impulsionado estudos científicos para compreender
as causas e consequências dos declínios das populações de anfíbios no Brasil e no mundo.
A cidade de Manaus é recortada por um grande numero de igarapés, e em suas
margens encontramos varias espécies de anuros, entre elas está a Scinax ruber, uma espécie
de área aberta que utiliza as poças formadas nas margens para desovar. Durante a implantação
da Zona Franca de Manaus ocorreu um rápido crescimento da cidade, causando problemas
ambientais graves e impactando muitos corpos d'água. Áreas de florestas foram transformadas
para acomodar a grande população de trabalhadores migrantes. Sem um sistema adequado de
recolhimento e tratamento de resíduos, grande quantidade de esgoto acabou em muitos
igarapés sendo que os igarapés que atravessam a área industrial recebem, também, poluentes
orgânicos e inorgânicos, como o cobre (Velloso 2002).
28
Altas concentrações de cobre são encontradas em muitos igarapés no interior da cidade
(Silva et al. 1999; Santana e Barroncas 2007). Durante a estação chuvosa, período em que
ocorre o pico de reprodução da maioria das espécies de anuros, pode ocorrer um aumento nas
concentrações dos metais, atribuídos à entrada de efluentes industriais, esgotos domésticos e
também ao arraste pelas águas das chuvas dos resíduos sólidos e substâncias que se
encontram na superfície do solo nas margens dos igarapés (Silva et al. 1999).
O cobre é um metal essencial para o desenvolvimento e funcionamento dos
organismos, participa de vários processos fisiológicos, sendo cofator essencial para muitas
metaloproteínas; porém, quando encontrado em excesso, pode provocar uma série de danos ao
organismo, podendo levar o animal a morte.
Estudos ecotoxicológicos têm sido realizados em todo o mundo para compreender os
efeitos de poluentes em diferentes grupos de animais aquáticos, principalmente em peixes. O
cobre tem recebido certo destaque nestes estudos por ser muito utilizado como pesticida
agrícola. Ao contaminar o solo e os corpos d'água, o cobre é absorvido pelas brânquias e pele
ou ingerido através do alimento (Garcia-Munoz et al. 2009). Estudos ecotoxicológicos
utilizando anuros ainda são escassos, principalmente em regiões tropicais.
O cobre, mesmo em concentrações relativamente baixas, pode diminuir, em curto
prazo, as taxas de sobrevivência de ovos e girinos e, em longo prazo, pode aumentar as
chances dos girinos serem predados, pois interfere na sua capacidade de detectar a presença
de predadores (García-Muñoz et al. 2009). A intoxicação por cobre também aumenta o tempo
para a metamorfose, aumentando assim as possibilidades da poça secar antes que as larvas se
adaptem ao ambiente terrestre (Lance et al. 2012). Também pode reduzir o peso e o
comprimento final dos girinos, aumentando as chances deles serem predados ou estimular o
aparecimento de malformações, como barbatana dorsal ondulada, cauda flexionada, eixo do
29
corpo curvado, formação de edema e pigmentação reduzida no saco vitelínico e induzir danos
no DNA e apoptose celular (Xia et al. 2012). Todos esses fatores podem, em longo prazo,
reduzir as populações locais de anuros. A sinergia do cobre com outros fatores estressantes,
como a radiação UV (Baud e Beck 2005), tem um efeito aditivo, afetando negativamente a
sobrevivência de girinos.
O efeito no desenvolvimento larvário causado por longas exposições a poluentes
presentes nos igarapés de Manaus já foi testado por Franco de Sá et al. (2012) e por
Nascimento et al. (2012) utilizando girinos de Osteocephalus taurinos expostos às águas dos
igarapés do Educandos, do Mindu e do Quarenta, contaminados por concentrações de metais
de transição acima das naturais. Foi observado um efeito desses poluentes no tempo até a
metamorfose e no comprimento dos girinos; porém, o efeito de um único poluente
isoladamente, como o caso do cobre, ainda não havia sido testado.
Existe uma associação negativa entre a poluição por metais potencialmente tóxicos no
solo e na água e a riqueza de espécies de anuros. Os metais provenientes da poluição
industrial e de pesticidas agrícolas podem alterar a estrutura das comunidades globais de
anfíbios (Ficken e Byrne 2013).
O objetivo principal do presente estudo foi determinar os efeitos de um único poluente
de forma isolada, no caso o cobre, no desenvolvimento dos girinos de Scinax ruber, quando
expostos de forma crônica a uma concentração subletal, nas águas de um igarapé de água
preta.
30
3.2.2. MATERIAL E MÉTODOS
3.2.2.1. Animais estudados
Três desovas de Scinax ruber foram coletadas na Reserva Florestal Adolpho Ducke,
próximo ao igarapé do Barro Branco, Manaus, AM, Brasil (02o55'03''S; 59
o53'59''W). Os
ovos foram retirados diretamente de poças temporárias e transportados para o laboratório,
onde foram mantidos em caixas individuais contendo água do igarapé do Barro Branco em
temperatura ambiente e aeração constante. Os girinos foram alimentados uma vez por dia com
ração comercial de peixes. Os experimentos tiveram início quando os girinos alcançaram o
estadio 25 de Gosner, com 21 dias de vida.
3.2.2.2. Contaminante
Como contaminante foi utilizado 30 µg/L (±2,51) de cobre diluído na água do igarapé
do Barro Branco. Essa concentração foi escolhida por ser a concentração mais alta do
experimento de CL50-96h onde não ocorreu mortalidade (Capítulo 1). A água foi coletada
durante o período chuvoso na Reserva Florestal Adolpho Ducke, Manaus, Amazonas, Brasil e
as suas características principais foram: [Na+], 0,182 mg/L; [K
+], 0,09 mg/L; [Ca
2+], 0,01
mg/L; [Mg2+
], 0,029 mg/L; [Cl-] 0,15 mg/L; [SO4
2-], 1 mg/L; [DOC] 6,94 mg/L; [Cu], 1,5
µg/L; alcalinidade 2,8 mg CaCO3/L; pH 5,5. Estas características físico-químicas da água do
Barro Branco são semelhantes às dos igarapés de água preta que cortam a cidade de Manaus.
31
3.2.2.3. Efeito crônico da contaminação
Foi utilizada uma única concentração de 30 µg/L de cobre, equivalente a
82,5% da CL50-96h (Capítulo 1). Para o tratamento utilizamos 30 réplicas (10 para cada
desova), cada réplica com um indivíduo mantido em recipiente plástico de 300L com fundo
telado. Os recipientes foram colocados em grupos de 10 em tanques contendo 4L de água.
Como o fundo dos recipientes era telado, a água podia circular livremente entre eles e como
as fezes se acumulavam abaixo da tela, os girinos não entravam em contato direto com elas. O
mesmo número de réplicas foi utilizado como controle, contendo apenas água do igarapé
(Figura 2.1). A aeração foi mantida constante e os girinos foram alimentados a cada dois dias
com ração de peixe.
A troca da água foi feita de modo contínuo, sem a necessidade de manipular os
animais. Semanalmente medimos as concentrações de cobre e os valores de pH, que se
mantiveram constantes durante todo o experimento. A cada duas semanas foram feitas novas
coletas de água no igarapé do Barro Branco para alimentar o sistema. A cada coleta uma
amostra foi separada para medir os parâmetros físico-químicos. Não observamos grandes
variações em relação aos parâmetros físico-químicos durante os experimentos.
À medida que os girinos alcançavam o estadio 42 de Gosner, eles foram pesados e
fotografados com uma barra de escala e medidos utilizando o programa image J (Figura 2.2).
Antes de serem pesados, os girinos foram secados com o uso de toalhas de papel para evitar
que o excesso de água influenciasse as medidas.
32
Figura 2.1. Sistema de troca contínua de água e recipientes com fundo telado,
utilizados durante a exposição crônica dos girinos de Scinax ruber ao cobre.
Figura 2.2. Girino de Scinax ruber no estadio 42 de Gosner com barra de escala de 1
cm e numeração representando a desova e o indivíduo. Método utilizado para medir o
comprimento final e inicial dos girinos.
33
Para avaliar as respostas dos girinos ao cobre foram considerados os seguintes
parâmetros de desenvolvimento larvário:
1) Sobrevivência – número de indivíduos que sobreviveram em cada tratamento;
2) Comprimento na metamorfose – comprimento total, do focinho até o final da
cauda;
3) Duração do período larvário – número de dias desde a desova até a
metamorfose;
4) Taxa de crescimento – diferença entre o comprimento total inicial e o
comprimento total final, dividido pelo número de dias decorridos entre o início do
experimento e a data de metamorfose;
5) Massa corporal – Massa corporal dos girinos na metamorfose.
Diversos estudos (Kutka 1994; Monteiro 2004; Karasov et al. 2005, Franco de Sá et
al. 2012) indicam que esses são os principais parâmentros a serem medidos para se estudar o
efeito de contaminantes sobre o desenvolvimento de ovos e larvas de anuros.
Para avaliar as respostas dos girinos ao cobre, durante os primeiros 20 dias de
experimento, também observamos possíveis variações nos seguintes parâmetros
comportamentais:
1) Localização no aquário (Respostas = (a) confinado no fundo; (b) do meio para
cima da coluna d água; (c) na superfície da água).
2) Modo de natação (Respostas = (a) estacionário; (b) nadando de lado (c)
serpenteando; (d) frequentemente afundando e subindo).
34
3) Alimentação (Respostas = (a) resposta lenta a alimentação; (b) não responde).
4) Excitabilidade (Respostas = (a) hiperatividade; (b) letargia; (c) sem resposta).
Para testar o grau excitabilidade utilizamos um pequeno pincel para estimular uma reação no
girino.
Os dados da duração do período larvário, comprimento na metamorfose e taxa de
crescimento foram comparados entre o tratamento e o controle utilizando o teste t. A
identidade da desova foi comparada com os diferentes parâmetros medidos por meio da
análise de variância (ANOVA).
3.2.2.4. Análise Química
No início de cada experimento foi colhida uma amostra para análise das
concentrações de Ca2+
, Mg2+
, Na+, K
+, Cl
-, alcalinidade e carbono orgânico dissolvido (COD).
O pH, a temperatura e os níveis de cobre dissolvido foram medidos semanalmente. Quando
necessário, as concentrações de cobre dissolvido foram corrigidas para o valor nominal. Os
teores de Ca2+
, Mg2+
, Na+ e K
+ foram determinados por espectrofotometria de absorção
atômica (AAnalyst 800, Perkin-Elmer, Singapura), as concentrações de Cl-
foram
determinados pelo método colorimétrico descrito por Zall et al. (1956), usando um
espectrofotômetro de placa (Spectra-Max Plus 384, Molecular Devices, Sunnyvale, CA,
USA). Todas as determinações foram realizadas em triplicatas para cada amostra de água.A
concentração de COD das amostras foi determinada em um analisador de carbono total
(Apollo 9000, Teledyne Tekmar, Ohio, USA) usando o método de combustão combinado
com detecção por infravermelho, como previamente descrito pela norma ISO/FDIS 8245
(1998). Em resumo, as amostras foram pré-filtradas em membrana de 0,45 m para remover
material particulado antes da injeção e o COD foi medido em triplicatas.
35
3.2.3. RESULTADOS
Os parâmetros físico-químicos da água se mantiveram estáveis durante todo o período
experimental, conforme observados na tabela 2.1.
Tabela 2.1. Composição físico-química da água nos experimentos. Valores expressos
como média ± desvio padrão da média.
Temperatura oC 28
pH 5 ± 0,43
Cu (µg/L) 30 ± 2,52
COD (mg C/L) 6 ± 1,47
Ca2+
(mg/L) 0,1 ± 0,02
Mg2+
(mg/L) 0,03 ± 0,01
Na+ (mg/L) 0,19 ± 0,02
K+ (mg/L) 0,11 ± 0,02
Cl- (mg/L) 0,38 ± 0,23
Alcalinidade (mg/L) 2,97 ± 0,33
O cobre não provocou nenhum efeito no comportamento dos girinos, pelo menos em
relação aos parâmetros testados. Todos os girinos tanto do controle quanto do tratamento
reagiram com hiperatividade ao estímulo, sendo o modo de natação estacionário. Os girinos se
mantiveram continuamente no fundo do recipiente e não responderam a alimentação
imediatamente. Não observamos relação entre a presença do cobre e a mortalidade dos
36
girinos. A mortalidade foi de 13% no controle e de 13% no tratamento, sendo que todos
estavam no estádio 41 de Gosner quando morreram.
Também não houve diferença significativa entre o controle e o tratamento em relação
ao comprimento na metamorfose (p= 0,122), à duração do período larvário (p= 0,093), à taxa
de crescimento (p= 0,077) e à massa corporal (p= 0,39). Em média, o comprimento na
metamorfose foi de 33,08±2,76 mm no controle e de 34,24 ±2,24 mm no tratamento, a
duração do período larvário foi de 108,35 ± 28,1 dias no controle e de 95,58 ± 25,56dias no
tratamento, a taxa de crescimento foi de 0,22 ± 0,07 mm/dia no controle e de 0,25 ± 0,08
mm/dia no tratamento e a massa corporal foi de 111,44 ± 17,2 mg no controle e de 117,9 ±
25,51 mg no tratamento.
A identidade da desova teve efeito significativo em relação ao comprimento na
metamorfose (F(2,45) = 5,22; p < 0,0001), a duração do período larvário (F(2,49) = 12,77; p <
0,0001), a taxa de crescimento (F(2,45) = 50,55; p < 0,0001), a massa na metamorfose (F(2,32) =
4,46; p = 0,019) e ao comprimento inicial (F(2,45) = 17,8, p < 0,0001) (Figura 2.3).
37
Figura 2.3. Relação da identidade da desova (desovas A, B e C) com o comprimento
final (A), duração do período larvário (B), taxa de crescimento (C), massa corporal (D) e
comprimento inicial (E) (média ± desvio padrão da média).
38
3.2.4. DISCUSSÃO
Não observamos nenhum efeito negativo quando os girinos de Scinax ruber foram
expostos a uma concentração subletal de 30 µg/L de cobre diluído nas águas de um igarapé de
água preta. Acreditamos que isso se deve ao rápido crescimento dos girinos, animais maiores
e em estágios mais avançados de desenvolvimento possuem uma maior resistência ao cobre
(Aronzon et al. 2011; García-Muñoz et al. 2010; Chen et al. 2007). Desse modo, os girinos
que conseguiram sobreviver aos primeiros dias de experimento não tiveram problemas para
sobreviver até o final do período experimental. No início do experimento os girinos possuíam
em média 12 ± 2 mm de comprimento, triplicando de comprimento em 101,96 ± 27,4 dias
com um comprimento final de 34 ± 3 mm, uma taxa de crescimento de 0,24 mm por dia.
Aronzon et al. (2011) observaram um aumento gradual na resistência de girinos de
Rhinella arenarum expostos ao cobre, à medida que se aproximavam da metamorfose e Chen
et al. (2007) observaram uma maior resistência dos girinos de Rana pipens aos efeitos
teratogênicos do cobre em estágios mais avançados de desenvolvimento (25-42 de Gosner),
em comparação com os girinos de estágios mais atrasados (19-25 de Gosner).
Como no presente estudo, Chen et al. (2007) não observaram nenhum efeito
significativo em relação ao tempo até a metamorfose, velocidade de natação e tempo de
reabsorção da cauda em girinos de Rana pipens expostos de forma crônica a concentrações
subletais de cobre (5-25 µg/L). Os efeitos negativos só foram observados na concentração
mais alta (100µg/L de cobre), onde também ocorreu uma redução significativa na
sobrevivência dos girinos (Chen et al. 2007).
Xia et al. (2012) observaram uma relação entre o aumento da concentração de cobre e
o aparecimento de malformações nos girinos de Bufo gargarizans, porem isso só foi
observado nas concentrações onde ocorreu mortalidade. O aparecimento dos efeitos negativos
39
no desenvolvimento dos girinos aparentemente está relacionado também à redução na
sobrevivência, sendo assim concentrações subletais de cobre não apresentam efeitos visíveis
nos girinos expostos, pelo menos em relação aos parâmetros testados.
Utilizamos nos experimentos três desovas diferentes pertencentes à mesma população
(Reserva Florestal Adolpho Ducke) e, mesmo assim, observamos variações intrapopulacionais
significativas. O efeito da identidade da desova em relação à sobrevivência, duração do
período larvário e massa corporal na metamorfose também foi observado por Lance et al.
(2012) ao expor girinos de Lithobates sphenocephalus pertencentes a diferentes desovas a
concentrações crescentes de cobre (10-150 µg/L). Lance et al. (2013) observaram variações
inter e intrapopulacionais significativas em relação à sobrevivência das larvas de Anaxyrus
terrestris expostas de forma crônica ao cobre.
Em estudos de ecotoxicologia de anfíbios é comum a mistura de ovos provenientes de
várias desovas ou utilizar uma única desova nos experimentos. Embora essa abordagem seja
eficiente, ela pode subestimar ou superestimar os efeitos dos contaminantes, devido às
variações inter e intrapopulacionais na tolerância ao poluente. Medidas ecotoxicológicas, tais
como a CL50, seriam claramente diferentes dependendo da escolha da população em estudo. A
origem das populações utilizadas nos ensaios ecotoxicológicos de anfíbios é um ponto
importante a ser considerado; tão importante quanto o estágio da larva e a espécie em estudo
(Lance et al. 2013). Os resultados aqui apresentados reforçam a importância da utilização de
diferentes desovas nos estudos ecotoxicológicos.
Dependendo das populações expostas ao contaminante, a resposta poderá ser
diferente, visto que existem características hereditárias que podem aumentar ou diminuir a
resistência desses animais aos poluentes. As populações que habitam e que se reproduzem nas
margens dos igarapés da cidade já passaram por um processo de seleção, onde somente os
40
mais resistentes aos poluentes conseguiram sobreviver. O presente estudo simulou o primeiro
contato dos girinos ao contaminante, visto que os animais utilizados são provenientes de uma
área livre desse poluente (Reserva Florestal Adolpho Ducke).
Estudando três espécies de anuros de diferentes regiões e zonas climáticas do planeta,
Araújo et al. (2014) observaram que girinos (estadio 25 de Gosner) de Leptodactylus letrans
(América do Sul), Lithobates catesbeianus (América do norte) e Pelophylax perezi (Europa)
eram capazes de detectar e evitar concentrações subletais de cobre, afastando-se das áreas
contaminadas. A sensibilidade dessa resposta foi similar nas três espécies.
A migração das áreas poluídas só é possível para girinos que habitam corpos grandes
de água onde o cobre se distribui de forma heterogênea e para animais que são expostos a
concentrações subletais, pois altos níveis de cobre interferem na capacidade de natação dos
girinos, impedindo a fuga (Araújo et al. 2014). Tal comportamento provavelmente não ocorre
com girinos de Scinax ruber encontrados na natureza, já que essa espécie desova em pequenas
poças, o que impede a fuga do ambiente. Porém, podemos supor que os adultos possam
apresentar a mesma habilidade de detecção dos contaminantes, evitando áreas poluídas para
desovar. Mais estudos devem ser realizados para confirmar essas hipóteses, já que mesmo
com altas concentrações de poluentes, encontramos, nas margens do igarapé do Quarenta,
diferentes espécies de anuros, incluindo girinos nas poças contaminadas (Comunicação
pessoal).
Em conclusão, a concentração subletal de 30 µg/L de cobre (82,5% da CL50-96h) não
teve efeito sobre o comprimento, duração do período larvário, taxa de crescimento e massa
corporal nos girinos selvagens de Scinax ruber, expostos de forma crônica a partir do estádio
25 de Gosner. A identidade da desova foi significativa em relação a todos os parâmetros
41
testados, mostrando uma variação intrapopulacional que deve ser considerada em estudos
ecotoxicológicos, evitando super ou subestimar os efeitos do contaminante.
42
3.3. Capítulo 3
Identificação dos genes expressos no fígado de machos adultos de Scinax ruber
(Anura Hylidae), encontrados nas margens do igarapé do Quarenta.
3.3.1. INTRODUÇÃO
O Igarapé do Quarenta nasce no bairro Armando Mendes, na zona leste da cidade de
Manaus e percorre áreas ocupadas, como o Distrito Industrial e os bairros do Coroado e
Japiim. Recebe tanto esgoto doméstico quanto industrial (Velloso 2002). Nesse igarapé foram
observados vários indicadores de poluição das águas como o aumento do pH, alta
condutividade, baixos teores de oxigênio dissolvido, altas concentrações de cátions e ânions e
altas concentrações de metais (Cu, Cr, Zn e Ni). Somente na sua nascente esses valores estão
em níveis considerados normais (Silva et al. 1999; Melo et al. 2005).
Mesmo com altos níveis de poluentes, algumas espécies de anfíbios ainda conseguem
sobreviver em suas margens. O PROSAMIM (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de
Manaus) registrou 32 espécies de anfíbios vivendo as margens da sub-bacia do Quarenta,
porém, a maioria foi encontrada na área do campus da UFAM (Universidade Federal do
Amazonas), mais preservada do que o restante da bacia (Prosamim 2004).
Anfíbios expostos por longo prazo a rios contaminados podem apresentar mudanças
na contagem de glóbulos brancos (WBC) e alterações nos parâmetros hematológicos
refletindo as respostas dos organismos aos fatores ambientais. Estas variações refletem as
reações fisiológicas à presença de substâncias tóxicas no ambiente (Romanova e Egorikhina
2006; Zhelev et al. 2012; Zhelev et al. 2013).
43
Uma grande variedade de biomarcadores estão sendo testados com sucesso em anuros
a fim de se observar as reações destes animais aos ambientes contaminados, entre eles
podemos destacar algumas enzimas que tem sua concentração aumentada quando os animais
são expostos a poluentes, a GST, a P450, entre outras. Kostaropoulos et al. (2005)
observaram um aumento da concentração da GST e da P450-MO no fígado de Rana
ridibunda exposto a altas concentrações de cádmio e cromo. Essas enzimas estão relacionadas
a processos de biotransformação. Os biomarcadores enzimáticos são ferramentas úteis para
avaliar a susceptibilidade dos anuros a diferentes desafios ambientais, sendo, portanto, um
uma ferramenta importante para a conservação das espécies selvagens (Falfushinska et al.
2008).
A análise da expressão gênica é uma ferramenta muito eficiente para a detecção das
respostas fisiológicas dos organismos às alterações do ambiente, através dela podemos
identificar quais genes estão sendo sub ou superexpressos e supor quais enzimas são
expressas em determinada situação. Relacionando os genes expressos com o ambiente onde os
animais foram encontrados, podemos compreender quais estratégias os organismos utilizam
para sobreviver em diferentes ambientes. Essa abordagem tem sido utilizada para estudar as
respostas fisiológicas de peixes amazônicos aos poluentes (Lemgruber et al. 2013), para a
detecção de biomarcadores em mamíferos como resposta às citotoxinas que podem vir a
causar tumores malignos (Bianconi et al. 2012; Zhang et al. 2012; Yu et al. 2013) e para
estudar as respostas de parasitas à presença de drogas (Kessler 2010).
Utilizando RT-PCR (PCR em tempo real) para a análise da expressão gênica, Bogi et
al. (2003) observaram um aumento na expressão do gene Vg (vitelogenina) no fígado de
juvenis de Xenopus laevis expostos, a partir dos primeiros estágios larvais, a diferentes
concentrações de esgoto diluído em água de rio. Foi observada uma proporção
44
significativamente maior de fêmeas quando as larvas foram expostas ao contaminante.
Substâncias chamadas de “disruptores endócrinos” encontrados nos efluentes são capazes de
interferir com o sistema hormonal, causando assim efeitos adversos na fisiologia dos
organismos, aumentando a proporção de fêmeas em relação aos machos (Bogi et al. 2003). Os
autores utilizaram o Vg como biomarcador para detecção da exposição a estrogênio.
Langerveld et al. (2009) utilizaram as técnicas de microarray e qRT-PCR para definir as
mudanças de expressão de genes em girinos de Xenopus laevis expostos de forma crônica ao
pesticida atrazine e desse modo compreender as mudanças fisiológicas que ocorrem na
presença desse contaminante.
No presente estudo analisamos a expressão dos genes no fígado de machos adultos de
Scinax ruber encontrados nas margens do igarapé do Quarenta, com o intuito de compreender
os mecanismos utilizados por esses organismos para sobreviver nesse ambiente e encontrar os
possíveis riscos para o desenvolvimento futuro de suas populações.
3.3.2. MATERIAL E MÉTODOS
3.3.2.1. Análise físico-química das amostras de água do igarapé do Quarenta
As amostras de água foram coletadas na superfície do igarapé do Quarenta, e em
quatro poças próximas às áreas onde os animais foram coletados, no Bairro do Japiim, em
Manaus (Figura 3.1). As amostras foram armazenadas em frascos e acidificadas com ácido
nítrico.
A concentração de oxigênio dissolvido, a temperatura e o pH foram aferidos em
campo com aparelhos portáteis.Foram analisadas as concentrações de NO2-, NO3
-, NH4
+ e PO4
por espectrofotometria adaptado ao sistema de FIA (“Flow Injection Analysis” - análises por
45
injeção de fluxo) em colaboração com o Laboratório Temático de Águas do Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia (INPA). A concentração de COD das amostras foi determinada
em um analisador de carbono total (Apollo 9000, Teledyne Tekmar, Ohio, USA) usando o
método de combustão combinado com detecção por infravermelho e a concentração de cobre
foi determinada por espectrofotometria de absorção atômica (AAnalyst 800, Perkin-Elmer,
Singapura).
Figura 3.1. Área de coleta das amostras de água. 1- Igarapé do Quarenta. 2 a 5 –
Poças próximas às áreas onde os adultos de Scinax ruber foram coletados. Fonte: Google
Maps.
46
3.3.2.2. Coleta dos espécimes
Foram utilizados, no total, doze animais coletados entre os dias 10/01/2011 e
18/2/2011, medindo entre 3,4 e 3,6 cm (seis machos adultos de Scinax ruber coletados nas
margens do igarapé do Quarenta, no bairro no Japiim em Manaus e seis machos adultos
coletados na Reserva Florestal Adolpho Ducke, uma área comprovadamente livre de
poluentes, que foi usada como controle.
Os animais foram imediatamente anestesiados com gelo (técnica comumente utilizada
em ranários comerciais) e sacrificados por secção medular. Em seguida, o fígado foi retirado,
utilizando para isso tesoura cirúrgica, e guardado em microtubo criogênico, congelado em
nitrogênio líquido e armazenado até o momento da extração do RNA total. O projeto foi
aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais do INPA (061/2012).
3.3.2.3. Extração de RNA
O RNA total foi extraído de maneira individual das 12 amostras de fígado, utilizando
o protocolo TRIzol® reagent (InvitrogenTM
, Cat. No 15596-018). O processo pode ser dividido
em três etapas: na primeira foi realizada a lise celular, a dissociação das nucleoproteínas,
inativação das RNases e retirada dos debris celulares; na segunda etapa foi feita a limpeza da
solução com a retirada dos solventes orgânicos e separação da fase aquosa e, por último, a
precipitação em álcool e ressuspensão do RNA total em 20µL de água livre de nucleases.
47
3.3.2.4. Avaliação quantitativa e qualitativa do RNA
Para a quantificação do RNA extraído foi utilizado espectrofotômetro NanoDrop®
(Nanodrop 2000, Thermo Scientific, USA) conforme orientações no manual do fabricante
(NanoDrop 2000/2000c Spectrophotometer, V1.0 user manual, 2009). Por meio desse
equipamento foram determinadas a concentração de RNA total e a pureza das amostras,
análises estas baseadas nos valores de absorbância da luz nos comprimentos de onda de 260 e
280nm. A razão entre os valores das absorbâncias em 260nm e 280nm foi utilizada para
verificar o grau de contaminação nas amostras de RNA extraídas, sendo que valores próximos
de 2,0 indicam alto grau de pureza e valores abaixo de 1,8, contaminação por proteínas ou
outras substância que absorvem fortemente próximo do ou no comprimento de onda de
280nm.
A integridade do RNA extraído foi verificada por meio de eletroforese a 4 V/cm em
gel de agarose 1,0% (p/v). Para isso foi aplicado no gel aproximadamente 1000 ng de cada
amostra, adicionada de 1,0µL do front de corrida (400µL de glicerol, 600µL tampão tris-
acetato-EDTA, azul de bromofenol e 1µL de GelRed). Ao final, o gel foi visualizado em
sistema de fotodocumentação digital L.PIX (Loccus Biotecnologia, São Paulo, Brasil). Na
análise quantitativa das amostras de RNA total extraído do fígado de Scinax ruber, foram
obtidos em média 1437,28 ± 541,64 ng/µL (média ± desvio da média), com grau de pureza de
1,97 ± 0,03 (média ± desvio da média).
48
3.3.2.5. Pools de RNA total
Antes do início do protocolo que prepara as amostras para análise em série da
expressão gênica foram formados dois pools de RNA total, um para as amostras de fígado dos
animais coletados no igarapé do Quarenta e outro para os coletados na Reserva Ducke. Essa
estratégia garantiu uma quantidade adequada de RNA total para as atividades subsequentes,
além de reduzir o número de bibliotecas construídas para o sequenciamento.
3.3.2.6. Preparo das bibliotecas usando o método de RNA-Seq
O método conhecido como RNA-Seq baseia-se no isolamento de RNA celular (total
ou poli(A)+), conversão do mesmo em uma biblioteca de fragmentos de cDNA ligados a
adaptadores em ambas as extremidades e sequenciamento de cada uma das moléculas usando
uma das técnicas de sequenciamento em larga escala. Os reads resultantes são alinhados a um
genoma referência, resultando em um mapa transcricional em escala genômica que contém
informação tanto da estrutura física dos transcritos quanto do nível de expressão para cada
gene.
O preparo das amostras foi realizado segundo o protocolo Whole Transcriptome
Library Preparation: Low Input for SOLiD™ (Figura 3.2).
49
Figura 3.2. Preparo das bibliotecas de RNA-Seq (SOLID). Fonte: protocolo Whole
Transcriptome Library Preparation: Low Input for SOLiD™.
A partir de 5-25 ng de mRNA poli-A, obtido através da purificação das amostras de
RNA com kit Poly(A) PuristTM
(Applied Biosystems), procedeu-se a fragmentação por RNase
III, utilizando-se 1 μL de RNase III e 1 μL de tampão em um volume final de 10 μL. A reação
foi incubada em um termociclador a 37°C por 3 minutos e interrompida pela adição de 90 μL
de água sem nuclease. O RNA foi purificado através do produto RiboMinus Concentration
Module (Invitrogen).
50
Com o RNA fragmentado, foi feita a hibridização e ligação dos adaptadores em ambas
as extremidades dos fragmentos de RNA usando componentes do kit SOLiDTM
Total RNA-
Seq. Para tal, foram utilizados 2 μL de solução contendo adaptadores, 3 μL de solução de
hibridização e 3 μL de RNA fragmentado. O material foi colocado em um termociclador, a
65°C por 10 minutos e a 16°C por 5 minutos; concomitantemente, foram adicionados 10 μL
de tampão de ligação 2X e 2 μL da mistura da enzima ligase e deixado incubar a 16°C por 16
horas.
Após a ligação dos adaptadores, foi realizada a transcrição reversa, com o
componentes do kit SOLiDTM
Total RNA-Seq. Aos 20 μL da reação de ligação, adicionou-se
11 μL de água sem nuclease, 4 μL de tampão RT 10X, 2 μL de dNTP Mix, e 2 μL de
SOLIDTM
RT Primer, vortexou-se brevemente e incubou-se em um termociclador a 42°C por
30 minutos.
Após o término da reação de transcrição reversa, foi feita a purificação e a seleção por
tamanho do cDNA com o kit Agencourt® AMPure
® XP, onde os fragmentos foram
capturados utilizando beads, lavados e eluídos. Para melhorar a eficiência da purificação esse
processo foi repetido duas vezes, de acordo com as instruções do fabricante.
A amplificação foi realizada em um termociclador através de 18 ciclos de 95°C por 30
segundos, 62°C por 30 segundos e 72°C por 30 segundos, sucedidos por incubação a 72°C
por 7 minutos. Finalmente, o material amplificado foi purificado com o kit PureLinkTM PCR
Micro (Invitrogen) e sua concentração final foi analisada com o equipamento NanoDrop.
51
3.3.2.7. Preparo das beads para sequenciamento por PCR de emulsão
As PCRs em emulsão (ePCR) foram realizadas segundo protocolo SOLiD™ 4 System
Template Bead Preparation Guide, mais especificamente para ePCR em mini-escala. A fase
oleosa foi preparada através da mistura de 1,8 mL de estabilizador de emulsão 1, 400 μL de
estabilizador de emulsão 2 e 37,8 mL de óleo de emulsão para um volume final de 40 ml. Na
fase aquosa da emulsão foram combinadas quantidades iguais das amostras de cDNA
amplificado contendo SOLiD™ System Barcodes, para uma concentração final de 0,5 e 1 pM
de DNA molde, os reagentes para ePCR (14 mM dNTP mix, 25 mM Cloreto de Magnésio, 40
nM de ePCR primer 1, 3 μM de ePCR primer 2, 0,54U/μL de AmpliTaq Gold DNA
Polimerase e água livre de nuclease para volume final de 2720 μL) e beads revestidas com
oligo P1 (P1 DNA Bead) para amplificação nos microrreatores. As fases foram emulsificadas
por 5 minutos usando o sistema ULTRA-TURRAX® Tube Drive da IKA®, de forma a gerar
microgotículas de fase aquosa no interior da emulsão, onde ocorre a amplificação clonal do
DNA em torno da P1 DNA Bead durante a ePCR. A emulsão é otimizada para gerar
microrreatores monoclonais (somente uma bead e uma molécula de DNA molde), os quais
podem gerar beads úteis para o sequenciamento. 100 μL da emulsão foram transferidos para
cada um dos poços de uma placa de PCR, onde se seguiu a ePCR: incubação inicial à 95°C
por 5 minutos, 40 ciclos de 93°C por 15 segundos, 62°C por 30 segundos e 72°C por 75
segundos e incubação final a 72°C por 7 minutos. Durante a ePCR, cerca de 30 mil cópias
clonais do DNA molde são geradas em cada P1 DNA Bead, com o adaptador P1 ligado a
bead.
Após a ePCR, os microrreatores na emulsão foram quebrados com 2-butanol e as
beads foram lavadas para eliminar o óleo e emulsificadores. O volume total da emulsão foi
passado para um sistema SOLiD™ Emulsion Collection Tray onde foram adicionados 10 ml
52
de 2-Butanol. Após homogeneização da solução, a mistura foi transferida para um tubo de 50
mL, com 6 mL 2-Butanol e centrifugada a 2200g por 5 minutos. A fase superior foi
descartada e o pellet contendo as beads foi recuperado com 600 µL de 1X Bead Wash Buffer,
passado para tubo de 1,5 ml LoBind e lavado novamente com 1X Bead Wash Buffer e 1X
TEX Buffer.
O enriquecimento das beads foi requerido para isolar as template beads (monoclonais
e policlonais) das beads não amplificadas (não clonais). No enriquecimento foram utilizadas
beads de poliestireno com sequências adaptadoras P2 de fita simples, complementares a
região P2 do adaptador A nas template beads.
O complexo formado pelas template beads mais as beads de poliestireno foi separado
das demais beads por centrifugação em glicerol 60%, isolando na fase superior as beads de
poliestireno não ligadas; na fase intermediária, o complexo formado pelas template beads e as
beads de enriquecimento; e na fase inferior as beads não amplificadas. Este complexo foi
então extraído da solução e desnaturado para a dissociação das template beads das beads de
poliestireno. Ao final, foi retirada uma alíquota de cada amostra para leitura da absorbância
no comprimento de onda de 600nm, de modo a determinar o número de template beads totais
a serem aplicadas em cada poço da lâmina de sequenciamento.
Depois da quantificação, foi realizada uma modificação 3’ terminal para neutralizar a
região P2 das template beads destinadas ao sequenciamento. A reação ocorreu com a adição
de 2’-desoxiuridina 5’-trifosfato (dUTP) pela ação da enzima terminal transferase. Para
validar a qualidade das template beads, determinar a concentração ideal para o
sequenciamento (0,5 e/ou 1,0 pM) e quantificar a eficiência do enriquecimento, foi realizada
uma corrida prévia denominada Workflow Analysis (WFA).
53
Ao final da WFA todas as amostras foram validadas. Com base neste resultado, foram
depositadas em uma nova lâmina, destinada ao sequenciamento. Todos os procedimentos de
utilização do sequenciador SOLiD™ 4 foram realizados conforme o guia “Intrument
Operation Guide”
3.3.2.8. Análise dos dados
As análises de bioinformática foram realizadas em colaboração com o laboratório de
bioinformática da UFAM em Coari. As reads inicialmente foram “trimadas” para eliminar
resíduos de adaptadores. Foram utilizados os programas Bowtie, Thophat e Cufflinks para o
alinhamento e a montagem dos genes utilizando o genoma do Xenopus laevis como
referência. As anotações dos genes foram feitas utilizando o programa BLAST. Os dados de
contagens de reads foram normalizados e analisados para expressão diferencial usando
programa R Versão 3.0.1, considerando o nível de significância de 0,05. Além disso, foi
usado o valor de alteração absoluta Log2FC (fold-change) de 1,5 vezes como critério
biológico para seleção de genes diferencialmente expressos. Os valores do Log2FC foram
utilizados para medir o nível de expressão entre controle e tratamento, sendo que valores
negativos de Log2FC referem-se a genes subexpressos e valores positivos de Log2FC referem-
se a gene sobre-expressos.
Após as análises iniciais de bioinformática, os genes foram categorizados utilizando o
programa Gene Ontology (AmiGO, versão 1.8). O GO (www.geneontology.org) utiliza uma
nomenclatura sistemática e padronizada para a anotação de genes em vários organismos. O
GO é dividido em três categorias que refletem aspectos conservados da biologia: processos
biológicos, componentes celulares e funções moleculares. Estes vocabulários contêm uma
54
estrutura hierárquica de termos (subcategorias) designados para descrever o que o produto de
um dado gene faz e onde está localizado na célula.
Para análise dos termos de ontologia gênica (gene Ontology, GO) foram considerados
válidos apenas os genes com p ≤ 0,05 e Log2FC ≥ 1,5 (para genes com a expressão aumentada
em relação ao controle) e Log2FC ≤ -1,5 (para genes com a expressão reduzida em relação ao
controle).
3.3.3. RESULTADOS
3.3.3.1. Caracterização do ambiente
A nascente do Igarapé do Quarenta ainda apresenta características naturais para águas
pretas, como pH baixo, entre 3,2 e 5,6, oxigênio dissolvido de 7,28 mg/L, concentrações de
magnésio e de cálcio em torno de zero, concentrações de sódio em torno de 0,3 mg/L, de
potássio abaixo de 8,4 mg/L e alcalinidade menor que 3,05 mg/L (Melo et al. 2005)
Podemos observar na tabela 3.1 que, nos pontos de coleta, os valores de pH estão
acima dos encontrados em sua nascente, também podemos observar uma redução nas
concentrações de oxigênio dissolvido no igarapé e em todas as poças. A concentração de
cobre está acima da recomendada pela resolução no. 357 do CONAMA que é de 9 µg/L, com
exceção a poça numero 5.
3.3.3.2. Análise da expressão gênica
Após o alinhamento e a montagem dos genes utilizando o genoma do Xenopus laevis
como referência, obtivemos 5.067 genes (3.129 genes com aumento de expressão no
55
tratamento em relação ao controle e 1.938 genes com redução da expressão no tratamento em
relação ao controle).
Para análise dos termos de ontologia gênicas (Gene Ontology, GO) foram
considerados válidos apenas os genes com p ≤ 0,05, e Log2FC ≥ 1,5 (para genes com a
expressão aumentada em relação ao controle) e Log2FC ≤ -1,5 (para genes com a expressão
reduzida em relação ao controle), totalizando 135 genes (84 com expressão aumentada e 51
com expressão reduzida no tratamento em relação ao controle).
56
Tabela 3.1. Características fisico-químicas da água nos pontos de coleta. 1- Igarapé
do Quarenta. 2 a 5 – Poças próximas às áreas onde os adultos de Scinax ruber foram
coletados. Valores expressos como média ± desvio padrão da média.
1 2 3 4 5
Ph 7,11±0,41 6,38±0,23 6,73±0,31 6,5±0,37 7,03±0,28
Oxigênio
(mg/L)
1,02±0,09 0,72±0,03 1,65±0,07 1,25±0,1 1,57±0,06
Temperatura
(oC)
27,5±0,35 28,3±0,29 27,3±0,42 27,2±0,27 27,2±33
Fosfato
(mg/L)
0,115±0,02 1,510±0,04 0,350±0,02 0,412±0,03 0,051
Amônia
(mg/L)
0,225±0,01 0,558±0,03 0,466±0,01 0,756±0,02 0,207±0,01
Nitrato
(mg/L)
0,570±0,03 0,010 0,140±0,015 0,013 0,031
Nitrito
(mg/L)
0,44±0,04 < 0,03 0,16±0,012 <0,03 <0,03
COD (mg/L) 11,5±0,12 18,2±0,62 9,22±0,27 9,49±0,12 12,19±0,03
Cobre (µg/L) 12,56±0,9 35,14±0,54 13,09±0,32 15,27±0,20 4,95±0,63
Cada um desses genes foi analisado separadamente para encontrar uma relação do
aumento ou diminuição de sua expressão com os desafios ambientais encontrados no igarapé
do Quarenta. Observamos um aumento de 197,7 vezes na expressão do gene ERGIC3 (p=
0,0006; Log2FC = 7,6), de 54,7 vezes na expressão do gene IGF1R (p= 0,035; Log2FC = 5,8),
de 60,7 vezes na expressão do gene PDCD6IP e de 54,7 vezes na expressão do gene FANCM
(p =0,034; Log2FC =5,8) no fígado de machos adultos de Scinax ruber encontrados no igarapé
57
do Quarenta em relação aos encontrados na reserva Florestal Adolfo Ducke, uma área
comprovadamente livre de contaminantes. Esses genes estão relacionados com formação de
tumores cancerígenos e com o sistema de reparo celular.
Em relação aos termos do Gene Ontology observamos um aumento na expressão dos
genes relacionados a processos de oxidorredução e processos metabólicos (Figura 3.3A) e de
genes relacionados à membrana célula (Figura 3.5A), e uma redução na expressão de genes
relacionados à regulação da transcrição (Figura 3.3B), à ligação no DNA (Figura 3.4B) e de
genes relacionados ao núcleo (Figura 3.5B).
58
Figura 3.3. Representação dos 10 principais termos do GO que resultaram dos genes
com aumento da expressão (A) e com diminuição da expressão (B), para a categoria Processo
Biológico, no tratamento em relação ao controle.
Processos de oxidorredução;
10% Desenvolvimento
do organismo multicelular; 8%
Processos metabólicos ; 8%
Tradução; 5%
Fosforilação de proteínas; 5%
Proteólise; 5% Importação de
proteínas para o núcleo,
acoplamento; 3%
Modificação do RNAr; 3%
Processo metabólico dos
carboidratos; 3%
Transferência de elétrons; 3%
Outros ; 50%
A
Regulação da trancrição, DNA-templated; 35%
Transporte; 6%
Crescimento; 3%
Transporte de eletrons; 3%
Tradução de sinal; 3%
Organização do citoesqueleto; 3%
Processo de modificação da proteína celula; 3%
Posforilação de proteínas; 3%
Desfosforilação de proteínas; 3%
Proteólise; 3%
Outros; 32%
B
59
Figura 3.4. Representação dos os 10 principais termos do GO que resultaram dos
genes com aumento da expressão (A) e com diminuição da expressão (B), para a categoria
Função Molecular, no tratamento em relação ao controle.
Ligação ao ATP; 4%
Ligação ao nucleotideo; 4%
Ligação ao ácido nucleico; 4% Ligação ao
DNA; 4%
Atividade transdutor de
sinal; 2%
Ligação ao ínos ferro; 2%
Ligação a proteína; 2%
Ligação ao íon zinco;
2%
Atividade da ATPase;
2%
Atividade nucleosídeo-
triphosphatase ; 2%
Outros; 83%
A
Ligação ao DNA; 14%
Atividade do factor de transcrição de
ligação a sequência especifica de DNA ;
11%
Ligação ao ácido nucleico; 5%
Ligação a actina; 5%
Ligação ao ion zinco; 5% Atividade de
Oxidoredutase, atuando no NADPH; 5%
Atividade catalitica; 3%
Ligação a proteína; 3% Ligação ao ATP; 3%
Atividade reguladora da
miosina fosfatase; 3%
Outros; 45%
B
60
Figura 3.5. Representação dos 10 principais termos do GO que resultaram dos genes
com aumento da expressão (A) e com diminuição da expressão (B), para a categoria
Componente Celular, no tratamento em relação ao controle.
Membrana; 23%
Núcleo; 20%
Citoplasma; 10% Intracelular; 7%
Componente intregral da
membrana; 7%
Região extracelular; 3%
Poro nuclear; 3%
Complexo proteina G heterotrimérica;
3%
Ribossomo ; 3%
Citoesqueleto; 3%
Outros; 17%
A
Núcleo; 36%
Membrana; 6% Cromatina; 3%
Região extracelular;
3%
Intracelular; 3%
Citoplasma; 3%
Componente integral da
membrana; 3%
Complexo de proteina Kinase dependente de
calcio e calmodulina; 3%
Complexo proteína serina/treonina
fosofatase dependente de magnésio; 3%
protein serine/threonine
phosphatase complex; 3%
Outros; 8%
B
61
3.3.4. DISCUSSÃO
O aumento do pH e a redução do oxigênio dissolvido foram observados na amostra
coletada no igarapé e em todas as amostras de água coletadas nas poças, esse efeito está
relacionado à decomposição da matéria orgânica presente nos esgotos domésticos. A amostra
de água número 5 possui o menor valor de cobre, o que seria esperado, já que por sua
distância da margem ela não sofre influência do igarapé (Tabela 3.1); porém, possui baixas
concentrações de oxigênio dissolvido e pH mais alto do que os encontrados em igarapés não
contaminados, provavelmente, pela contaminação do solo onde essa poça se formou. Silva et
al. (1999) encontraram grandes concentrações de Cd, Co, Cu, Cr e Ni nos sedimentos do
igarapé do Quarenta, proveniente dos efluentes do Distrito Industrial.
Além dos contaminantes medidos no presente trabalho, uma série de outros poluentes
podem estar presentes nesse igarapé, como, por exemplo, pesticidas, remédios eliminados
diretamente nas redes de esgotos e substâncias químicas descartadas pelas indústrias. Esses e
outros compostos podem afetar de forma negativa os anuros que vivem nas margens dos
igarapés.
Os compostos químicos podem ser absorvidos pela pele e boca dos anfíbios, atingindo
a circulação sanguínea e se distribuindo pelo organismo. Após a absorção, são
biotransformados, processo por meio do qual novos compostos químicos de características
distintas do composto inicial são formados. Esses compostos secundários são mais
hidrossolúveis, facilitando a sua excreção e diminuindo sua toxicidade (Nascimento 2008).
As reações de biotransformação são catalisadas por um diversificado número de
enzimas, das quais a citocromo P450 é a mais importante. É uma superfamília de sistemas
enzimáticos, encontrada principalmente no fígado, ligada às membranas no retículo
endoplasmático liso. A citocromo P450 é uma hemoproteína que se liga tanto a xenobióticos
62
como ao oxigênio molecular e catalisa a transferência de um átomo de oxigênio ao substrato
enquanto o outro é reduzido (processo de oxido redução) (Nascimento 2008). Essas reações
explicam o aumento da expressão de genes relacionados a processos de oxidorredução e a
processos metabólicos (Figura 3.3A) e, também, o aumento da expressão dos genes
relacionados à membrana plasmática (Figura 3.5A). Resultados similares formam obtidos por
(Lemgruber et al. 2013), ao estudar peixes expostos a diferentes concentrações de
benzo(a)pireno e fenantreno. A citocromo P450 também tem papel importante na bioativação e
na inativação de substâncias cancerígenas, podendo aumentar as chances de o indivíduo
desenvolver tumores malignos (Rodriguez-Antona e Ingelman-Sundberg 2006).
No presente estudo também observamos um aumento na expressão dos genes
ERGIC3, IGF1R e PDCD6IP, no fígado dos anuros coletados nas margens do Igarapé do
Quarenta. O aumento da expressão desses genes parece estar ligado a processos que
estimulam o crescimento e a viabilidade das células tumorais. Esses efeitos têm sido relatados
em diferentes variedades de tumores cancerígenos em mamíferos, incluindo
hepatocarcinomas, câncer de pulmão e mama (Bianconi et al. 2012; Zhang et al. 2012; Yu et
al. 2013)
O ERGIC3 codifica a ERGIC3 (proteína do compartimento intermediário entre
retículo endoplasmático-Golgi 3), proteína integral da membrana que circula entre o retículo
endoplasmático e o Golgi (Otte e Barlowe 2002; Breuza et al. 2004)
Wu et al. (2013) observaram um aumento na expressão da proteína ERGIC3 em
células cancerígenas de pulmão em humanos, em comparação com células normais
adjacentes. ERGIC3 foi positiva em 89 % dos tumores testados. O aumento da expressão de
ERGIC3 promoveu a proliferação e a migração celular, eventos essenciais durante a
carcinogênese e invasão cancerosa.
63
Zhang et al. (2012) observaram que o aumento da expressão de ERGIC3 estimulou a
viabilidade celular, formação de colônia, migração e habilidade de invasão das células do
hapatocarcinoma humano, comparado com células normais adjacentes. O mecanismo por trás
desse processo pode ser observado na Figura 3.6, onde o aumento da expressão do MicroRNA
(miRNA) miR-490-3p estimulou o crescimento das células do hepatocacionoma, por meio do
aumento da expressão do ERGIC3. ERGIC3 e miR-490-3p também contribuíram para a
invasão celular através da indução da transição epitélio-mesenquimal (EMT) (Zhang et al.
2012).
Figura 3.6. Modelo simplificado da regulação do ERGIC3 por miR-490-3p em células
do hepatocarcinoma humano (HCC). miR-490-3p regula positivamente a expressão de
ERGIC3 e estimula a proliferação celular; ERGIC3 promove o EMT, resultando na migração
e invasão. Fonte: Zhang et al. (2012) com modificações.
64
Utilizando a técnica de hibridização genômica comparativa (CGH), extensivamente
utilizada para a identificação das alterações genéticas associadas ao câncer e que permite a
análise de alterações do número de cópias de DNA de todo o genoma, Brim et al. (2014)
concluíram que em células tumorais do câncer colorretal em humanos ocorreu uma
amplificação do numero de cópias de ERGIC3 refletindo em um número maior de proteínas
expressas.
O IGF1R codifica a IGF1R (receptor do fator de crescimento insulina-simile 1), uma
proteína transmembranar do receptor de tirosina-quinase, pertencente à família HER
(Mitsudomi e Yatabe 2010). O aumento da expressão do gene IGF1R parece estar
relacionado com o aumento da sobrevivência das células tumorais. Os níveis plasmáticos
elevados de IGF1R têm sido associados com o aumento do risco de câncer (Kiely et al. 2002;
Bianconi et al. 2012). Anticorpos monoclonais que se ligam especificamente a IGF1R tem
sido desenvolvidos para tratamento de câncer em humanos. Ao se ligar a IGF1R o anticorpo
inibe as funções de proliferação e sobrevivência em células cancerígenas, confirmando assim
o importante papel que esta proteína tem no desenvolvimento dos tumores (Maloney et al.
2003; Gong et al. 2009).
O gene PDCD6IP (Proteína de interação da morte celular programada 6) está
envolvido numa variedade de eventos biológicos que incluem a morfogênese, manutenção da
homeostase do tecido e eliminação de células nocivas (Sun e Peng 2009). Disfunções nessas
vias conduzem a vários tipos de cânceres. O produto do gene PDCD6IP liga-se ao produto do
gene PDCD6, uma proteína necessária para a apoptose celular, de um modo dependente de
cálcio, impedindo que ocorra a morte celular (Missotten et al. 1999). O produto desse gene se
liga a proteínas que regulam a forma da membrana celular, durante a endocitose e resulta em
vascularização citoplasmática que pode ser, em parte, responsável pela proteção contra a
65
morte celular (Chatellard-Causse et al. 2002). Em humanos, o aumento da expressão do gene
PDCD6IP esta relacionado com o aumento na probabilidade de se desenvolver
hepatocarcinomas. Essa relação foi observado por Yu et al. (2013) por meio do estudo dos
polimorfismos da região promotora em células tumorais. Em resumo, o gene PDCD6IP
quando superexpresso tem um efeito protetor nas células cancerígenas, evitando que estas
entrem em apoptose e sejam destruídas, aumentando assim as chances de propagação do
tumor.
O aumento da expressão de um determinado gene pode estar relacionado com o
aumento do número de cópias do gene dentro do genoma (Brim et al. 2014) ou com mutações
na sua região promotora (Yu et al. 2013). Mutações em diferentes regiões do genoma podem
provocar um aumento, diminuição, ativação ou desativação da expressão de um gene,
podendo levar a célula a se dividir de forma descontrolada, gerando um tumor maligno. Tais
genes quando ativados são chamados de oncogenes. As células cancerígenas vão substituindo
as normais, sendo que os tecidos invadidos vão perdendo a função, já que são menos
especializadas (Risch e Plass 2008).
Também observamos um aumento significativo na expressão do gene FANCM em
anuros encontrados nas margens do igarapé do Quarenta em relação ao controle. Esse gene
codifica a proteína FANCM (Anemina de Falconi, grupo de complementação M), uma
proteína essencial para a via de estresse replicativo (Schwab et al. 2010).
A manutenção da integridade da forquilha de replicação é de vital importância para a
divisão celular em face do estresse genotóxico causado por agentes endógenos e exógenos,
que podem conduzir a forquilha a um colapso. Lesões no DNA ou em regiões do genoma
podem bloquear ou dificultar a replicação do DNA. Em resposta à estagnação da forquilha de
replicação, a célula ativa a via de resposta ao estresse replicativo, que age para proteger a
66
forquilha do colapso, promovendo a reparação ou o desvio do bloqueio e facilitando a
retomada da síntese de DNA (Collis e Boulton 2010). Isso não só garante a replicação precisa
do DNA, mas também impede a instabilidade genômica, um fator causal reconhecido no
desenvolvimento de tumores. Em humanos, distúrbios genéticos que interferem no
funcionamento dessa via estão relacionados a uma elevada predisposição ao câncer (Deans e
West 2009; Vinciguerra e D’ Andrea 2009)
Uma série de trabalhos relatam a possível utilização do genes ERGIC3, IGF1R e
PDCD6IP como bioindicadores de tumores em mamíferos (Bianconi et al. 2012; Zhang et al.
2012; Yu et al. 2013); porém, em anfíbios não encontramos nenhum trabalho envolvendo
esses genes. A raridade do câncer espontâneo em anfíbios, e a dificuldade de induzir câncer
nestes animais, sugerem que eles possuam um sistema eficaz de resistência ao câncer. Por
esse motivo tem crescido, no meio científico, o interesse por estudos oncológicos nesse grupo
(Ruben et al. 2013). A compreensão dos mecanismos de resistência dos anfíbios ao câncer
pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos.
Diferenças nos mecanismos de apoptose e de reparo celular podem explicar a maior
resistência dos anfíbios ao câncer. O período de reparo do DNA, mais lento em anfíbios, em
comparação com os mamíferos, pode permitir uma reparação mais precisa da cadeia de DNA
e um tempo maior para que ocorram eventos apoptóticos, que, no caso dos anfíbios, ocorre de
forma mais precoce que nos humanos, chamada de apoptose direta. Esses mecanismos
evoluíram nos anfíbios como forma de auxiliar no processo de metamorfose durante o
desenvolvimento da larva em juvenil (Ruben et al. 2013).
O aumento de 54,7 vezes na expressão do gene FANCM, no fígado de anuros expostos
a um igarapé contaminado em comparação aos coletados em ambiente não contaminado, pode
estar relacionado à reparação eficaz de danos no DNA, causados por agentes exógenos ou por
67
erros durante a replicação do DNA, servindo de proteção contra a formação de células
mutantes que venham a se transformar em tumores malignos.
O aumento da expressão desses genes não significa necessariamente que os anuros
coletados no igarapé contaminado desenvolveram ou irão desenvolver tumores cancerígenos,
para isso, estudos envolvendo análises histológicas devem ser realizados. O que podemos
concluir é que o aumento da expressão dos genes ERGIC3, IGF1R e PDCD6IP tornam esses
anuros mais suscetíveis a desenvolver tumores malignos e que esse efeito pode estar sendo
provocado por agentes genotóxicos externos ou por poluentes que provoquem danos à cadeia
de DNA. O aumento da expressão do gene FANCM, e de genes relacionados a processos de
oxidorredução, demonstram uma provável ativação de sistemas de defesa celular contra
agentes externos.
68
4. CONCLUSÕES GERAIS
a) Os estadios 19, 20 e 21 de Gosner (relacionados ao aparecimento das brânquias
externas) são os mais vulneráveis ao cobre e a fase de ovo é a mais resistente.
b) A CL50 -96h dos girinos de Rhinella granulosa, dos girinos de Scinax ruber e dos
ovos de Scinax ruber em águas pretas da Amazônia, contaminadas com cobre, foram 23,48;
36,37 e 50,02 µg Cu L-1
, respectivamente.
c) No caso de contaminação por cobre, os igarapés naturais devem receber atenção
especial, dado que a CL50 observada foi menor nesses ambientes.
d) A concentração subletal de 30 µg/L de cobre (82,5% da CL50-96h) não teve efeito
sobre o comprimento, duração do período larvário, taxa de crescimento e massa corporal nos
girinos de Scinax ruber, expostos de forma crônica a partir do estádio 25 de Gosner.
e) A identidade da desova foi significativa em relação a todos os parâmetros testados,
mostrando uma variação intrapopulacional que deve ser considerada em estudos
ecotoxicológicos, evitando super ou subestimar os efeitos do contaminante.
f) A exposição prolongada aos contaminantes encontrados nas margens do igarapé do
Quarenta induziram, no fígado dos machos adultos de Scinax ruber, um aumento na expressão
dos genes envolvidos nos processos de oxidorredução e um aumento de 197,7 vezes na
expressão do gene ERGIC3, de 54,7 vezes na expressão do gene IGF1R, e de 60,7 vezes na
expressão do gene PDCD6IP em relação ao controle. Esses genes estão relacionados ao
crescimento, viabilidade, migração, formação de colônias e na capacidade de invasão das
células tumorais. Também foi observado um aumento de 54,7 vezes na expressão do gene
FANCM no tratamento em relação ao controle, esse gene codifica a proteína FANCM, uma
proteína essencial no sistema de reparo de danos no DNA.
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