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INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - MG DIRETORIA DE BIODIVERSIDADE GERÊNCIA DE PROJETOS E PESQUISAS v. 4, n. 1 – Abril/Maio - 2011 ISSN 1983-3687 Distribuição Gratuita Insetos aquáticos das lagoas do Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais Avaliação da qualidade das águas da bacia do rio Paraíba do Sul através do índice “ISMR” adaptado para as comunidades de macroinvertebrados bentônicos tropicais do Brasil

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INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - MG

DIRETORIA DE BIODIVERSIDADEGERÊNCIA DE PROJETOS E PESQUISAS

v. 4, n. 1 – Abril/Maio - 2011ISSN 1983-3687Distribuição Gratuita

Insetos aquáticos das lagoas do Parque Estadual doRio Doce, Minas Gerais

Avaliação da qualidade das águas da bacia dorio Paraíba do Sul através do índice “ISMR” adaptadopara as comunidades de macroinvertebrados bentônicostropicais do Brasil

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MG.BIOTA

Boletim de divulgação científica da Diretoria de Biodiversidade/IEF que publica bimestralmentetrabalhos originais de contribuição científica para divulgar o conhecimento da biota mineira e áreasafins. O Boletim tem como política editorial manter a conduta ética em relação a seus colaboradores.

Equipe

Colaboradores deste número

Danilo RochaDayanna Fagundes Silva (estagiária)Denize Fontes NogueiraEugênia das Graças OliveiraFilipe Gusmão da CostaGilberto Nunes de PaivaIsmênia Fortunato de Sousa (estagiária)Ivan Seixas BarbosaJanaínaA. BatistaAguiarJosé Medina da FonsecaJúnia Maria LouzadaMaria Margaret de Moura Caldeira (Coordenação)Mateus Garcia de CamposPriscila MoreiraAndradeValéria Mussi Dias (Coordenação)

Cinthia Borges da Costa MilanezMary Lúcia Cândido de OlivieraSérvio Pontes Ribeiro

PUBLICAÇÃO TÉCNICAINFORMATIVAMG.BIOTA

EdiçãoTiragemDiagramação

Normalização

Corpo Editorial e Revisão

Arte da CapaFotos

ImagemFoto Contra-capaImagem

Impressão

: Bimestral: 5.000 exemplares

: Leonardo P. Pacheco / Imprensa Oficial

: Silvana deAlmeida – Biblioteca – SISEMA

:Denize Fontes Nogueira, Janaína A. Batista Aguiar,Maria , Priscila MoreiraAndrade, Valéria Mussi Dias

: / Imprensa Oficial: Francisco Barbosa, Marília V. Junqueira,

Mônica de Cássia S. Campos, Eneida M. EskinaziSant'Anna e Leandro Moreira.

:: Evandro Rodney

: Parque Estadual da Serra do Intendente.

:

Margaret de Moura Caldeira

Leonardo P. Pacheco

: Larva de sp.Mônica de Cássia S. Campos

Foto Capa Anacroneuria

Endereço:Rodovia Prefeito Américo Gianeti, s/nº Prédio Minas Bairro Serra Verde – Belo Horizonte – Minas Gerais

Brasil – CEP: 31.630-900E-mail: [email protected]

Site: www.ief.mg.gov.br

FICHA CATALOGRÁFICA

MG.Biota: Boletim Técnico Científico da Diretoria de Biodiversidade doIEF – MG. v.4, n.1 (2011) – Belo Horizonte: Instituto Estadual deFlorestas, 2011.

v.; il.BimestralISSN: 1983-36871. Biosfera – Estudo – Periódico. 2. Biosfera – Conservação. I.

Instituto Estadual de Florestas. Diretoria de Biodiversidade.

CDU: 502

Instruções para colaboradores MG.Biota

Aos autores,

Os autores deverão entregar os seus artigos diretamente à Gerência de Projetos e Pesquisas (GPROP),acompanhada de uma declaração de seu autor ou responsável, nos seguintes termos:

Adeclaração deverá conter: Local e data, nome completo, CPF, documento de identidade e endereço completo.

Transfiro para o Instituto Estadual de Florestas pormeio daDiretoria deBiodiversidade, todos os direitos sobre acontribuição (citar Título), caso seja aceita para publicação noMG.Biota, publicado pela Gerência de Projetos ePesquisas. Declaro que esta contribuição é original e de minha responsabilidade, que não está sendosubmetida a outro editor para publicação e que os direitos autorais sobre ela não foram anteriormente cedidos àoutra pessoa física ou jurídica.

EXPEDIENTE

Catalogação na Publicação – Silvana de Almeida CRB. 1018-6

MG. BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

Os pesquisadores-autores devem preparar osoriginais de seus trabalhos, conforme as orientaçõesque se seguem: NBR 6022 (ABNT, 2003).

1. Os textos deverão ser inéditos e redigidos emlíngua portuguesa:

2. Os artigos terão no máximo 25 laudas, emformato A4 (210x297mm) impresso em uma sóface, sem rasuras, fonte Arial, tamanho 12,espaço entre linhas de 1,5 e espaço duplo entreas seções do texto.

3. Os originais deverão ser entregues em duas viasimpressas e uma via em CD-ROM (digitados emWord for Windows), com a seguinte formatação:

a) Título centralizado, em negrito e apenas com aprimeira letra em maiúsculo;

b) Nome completo do(s) autor(es), seguido do nomeda instituição e titulação na nota de rodapé;

c) Resumo bilíngüe em português e inglês com nomáximo 120 palavras cada;

d) Introdução;e) Texto digitado em fonteArial, tamanho 12;f ) Espaço entre linhas de 1,5 e espaço duplo

entre as seções do texto, assim como entre otexto e as citações longas, as ilustrações, astabelas, os gráficos;

g) As ilustrações (figuras, tabelas, desenhos, gráficos,mapas, fotografias, etc.) devem ser enviadas noformatoTIFF ou EPS, com resolução mínima de 300DPIs em arquivo separado. Deve-se indicar a

disposição preferencial de inserção das ilustraçõesno texto, utilizando para isso, no local desejado, aindicação da figura e o seu número, porém acomissão editorial se reserva do direito de umarecolocaçãoparapermitirumamelhordiagramação;

h) Uso de itálico para termos estrangeiros;i ) As citações no texto e as informações recolhidas

de outros autores devem-se apresentar nodecorrer do texto, segundo a norma: NBR10520(ABNT, 2002);

• Citações textuais curtas, com 3 linhas oumenos, devem ser apresentadas nocorpo do texto entre aspas e sem itálico;

• Citações textuais longas, com mais de 3linhas, devem ser apresentadas Arial,tamanho 10, elas devem constituir umparágrafo próprio, recuado, semnecessidade de utilização de aspas;

• No tas exp l i ca t i vas devem serapresentadas em rodapé, com fonteArial, tamanho 10, enumeradas.

j ) As referências bibliográficas deverão serapresentadas no fim do texto, devendo conteras obras citadas, em ordem alfabética, semnumeração, seguindo a norma: NBR 6023(ABNT, 2002);

k) Os autores devem se responsabilizar pelacorreção ortográfica e gramatical, bem como peladigitação do texto, que será publicadoexatamente conforme enviado.

Endereço para remessa:Instituto Estadual de Florestas - IEF

Gerência de Projetos e Pesquisas – GPROPBoletim MG.Biota

Rodovia Prefeito Américo Gianeti, s/nº - Prédio Minas - Serra VerdeBelo Horizonte/MGCep: 31.630-900

email: [email protected]: (31)3915-1324;3915-1338

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INS TI TU TO ESTA DUAL DE FLO RES TAS — MGDIRE TO RIA DE BIO DI VER SI DA DE

GERÊN CIA DE PRO JE TOS E PES QUI SAS

MG.BIOTA Belo Horizonte v.4, n.1 abr./mai. 2011

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SUMÁ RIO

Editorial ..........................................................................................................................

Insetos aquáticos das lagoas do Parque Estadual do Rio Doce, Minas GeraisMaria Margarida Marques, Karine de Andrade Almeida, Liss Gato, Francisco Barbosa ..........................

Avaliação da qualidade das águas da bacia do rio Paraíba do Sul através do índice “ISMR”

adaptado para as comunidades de macroinvertebrados bentônicos tropicais do BrasilMarilia Vilela Junqueira, Günther Friedrich ................................................................................................

Em Destaque: Ecossistemas lacustres montanos: biodiversidade e grau de

vulnerabilidade à ação antrópica

Eneida Maria Eskinazi Sant’Anna, Luciana Diniz Freitas, Raquel Aparecida Moreira ..............................

3

4

13

37

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3MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

EDITORIAL

Nas últimas décadas, os ecossistemas aquáticos têm sofrido alterações em diferentes

segmentos, como consequência direta de atividades antrópicas. Quando se faz uma

avaliação da qualidade da água, os macroinvertebrados do benton são considerados, em

águas correntes, os organismos que melhor refletem esta qualidade. A preocupação

quanto aos níveis de qualidade, contaminação das águas e manutenção dos recursos

hídricos assumem uma importância fundamental, a partir do momento que a água se

tornou essencial para a sobrevivência humana.

Nesta edição, a avaliação da qualidade de água por meio da abordagem metodológica

do sistema saprobiótico na bacia do rio Paraíba do Sul mostra-se muito oportuna, ao

observar o comprometimento antrópico existente nesta bacia. Os trechos avaliados

abrangem os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, que compartilham esta bacia, na

condução de pesquisas que buscam identificar os fatores que contribuíram para a

degradação ambiental da bacia, visando à melhoria das condições ambientais e qualidade

de vida das populações.

Concluiu-se que, diante das condições observadas, ficou evidente a necessidade

urgente de implementação de medidas por parte das entidades públicas responsáveis pelo

saneamento básico nesta área, para evitar as cargas de poluição orgânica que vem sendo

lançada nesta bacia, sem nenhum tratamento prévio, o que provoca a degradação

significativa da fauna aquática, a destruição da biodiversidade nativa, torna a água

imprópria para consumo e favorecem a transmissão de doenças.

Também nesta edição, será apresentada uma abordagem sobre a importância dos

insetos aquáticos das lagoas do Parque Estadual do Rio Doce – maior fragmento de Mata

Atlântica do estado de Minas Gerais-, com a finalidade de avaliar a biodiversidade de

grupos de organismos encontrados em ambientes aquáticos e terrestres frente a duas

ações que causam impacto ao meio ambiente: o desmatamento, que causa a fragmentação

dos habitats e as invasões biológicas, com destaque para espécies de peixes, moluscos,

macrófitas aquáticas e inclusive primatas. Além de avaliar, aspectos sócio-econômicos

desta região, visando elaborar propostas de zoneamento ecológico-econômico, para

implementação de um programa de educação ambiental de forma participativa.

A pesquisa demonstrou a presença de organismos indicadores de boa qualidade de

água, o que demonstra que os corpos d’água analisados se encontram em boas condições

e que o parque – considerado um laboratório vivo – cumpre o seu papel na conservação

da biodiversidade.

José Medina da Fonseca

Engenheiro Florestal

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1 Doutora em Ecologia Conservação e Manejo de Vida Silvestre, Programa PELD/MCT/CNPq-UFMG.2 Graduanda em Ciências Biológicas, UFMG.3 Prof. Titular, Depto Biologia Geral, Laboratório de Limnologia – ICB/UFMG – Programa PELD/MCT/CNPq-UFMG.

Insetos aquáticos das lagoas do Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais

Maria Margarida Marques1, Karine de Andrade Almeida2, Liss Gato2, Francisco Barbosa3

Resumo

Analisou-se a riqueza, abundância, composição de espécies e de grupos funcionais da entomofauna de trêslagoas do Parque Estadual do Rio Doce. Realizaram-se coletas sazonais (seca e chuva) durante o período2000 - 2006, com rede manual (malha de 0,25 mm), em dois pontos litorâneos de cada lagoa. A abundânciamédia encontrada foi de 260 ind./amostra. Encontraram-se 31 famílias de insetos representando oito ordens,larvas de Chironomidae (Diptera), indicadores de ambientes degradados, foram dominantes, masregistraram-se números expressivos de indicadores de boa qualidade ambiental: ninfas de Ephemeroptera,Trichoptera e Odonata. Os grupos funcionais mostraram comunidades estruturadas, exceto na lagoaCarioca, que por ser pequena e impactada pela introdução de espécies exóticas, é a mais ameaçada.Entretanto, considerando-se a riqueza existente, conclui-se que o Parque cumpre sua função de preservaçãoda biodiversidade.

Palavras chave: comunidades, grupos funcionais, conservação, qualidade de água.

Abstract

The insect fauna of three natural lakes within the Rio Doce State Park (middle Rio Doce Valley, south-eastBrasil) was investigated, considering its species composition, richeness, abundance, and functional feedinggroups. Samplings were conducted seasonally (dry and wet periods) along the years 2000 until 2006, usinghand net of 0.25 mm mesh size, at two sampling points in the littoral region of each lake. A total of 31 Familiesrepresenting 8 Orders with an average abundance of 260 individuals per sample (ind./sample) were recorded.Chironomidae larvae, widely considered as indicators of degraded environments were dominant along themajority of the samples. However, significant numbers of nymphs of Ephemeroptera, Plecoptera andOdonata, considered as good environmental quality indicators were also recorded. The functional feedinggroups indicate well structured communities except for lake Carioca due to the fact this is a small lakeseverally impacted by the introduction of exotic fish species thus resulting in a threatened environment. Onthe other hand and considering the existing richness of distinct groups of insects it can be concluded themiddle Rio Doce lake system provides adequate conditions for the conservation and maintenance of theaquatic biodiversity.

Keywords: communities, functional feeding groups, conservation, water quality.

4 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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Introdução

Os insetos constituem um dos mais

importantes grupos faunísticos das águas

continentais. Representam, com sua

impressionante diversidade, um grande

número de estratégias adaptativas às

variadas condições do meio aquático

podendo ser encontrados, em formas

imaturas ou como adultos, em praticamente

todos os tipos de corpos d’água. Ambientes

lóticos e lênticos, naturais e artificiais,

salobros, eutrofizados por ação humana e

com grande amplitude de variação nas suas

características físicas e químicas, podem

apresentar-se como habitats adequados

para um grande número de espécies de

insetos (MERRIT & CUMMINS, 1996).

Esta assembleia tem um importante

papel no funcionamento dos ecossistemas

aquáticos continentais, notadamente em

relação à ciclagem da matéria, à dinâmica

de nutrientes e fluxo da energia pela cadeia

alimentar. A fragmentação da matéria

orgânica alóctone e o biorrevolvimento da

superfície dos substratos são exemplos de

processos fundamentais para a liberação

de nutrientes para a coluna d’água e

aeração dos sedimentos sendo a saúde e a

qualidade dos corpos d’água dependentes

de tais processos (DÉVAI, 1990; CUMMINS

et al., 1989).

Além disso, encontram-se entre as

muitas famílias de insetos aquáticos os

melhores bioindicadores de qualidade de

água. A sua ubiquidade e o grande número

de espécies envolvidas oferece um amplo

espectro de respostas aos vários tipos de

impactos ambientais, compreendendo

desde os organismos mais resistentes às

mudanças no seu habitat até aqueles mais

sensíveis. Por terem natureza

relativamente sedentária e ciclo de vida

relativamente longos são facilmente

amostrados e permitem a elucidação de

mudanças temporais causadas por

perturbações antrópicas ou naturais. Tudo

isso os têm levado a serem cada vez mais

utilizados em programas de monitoramento

e avaliação de qualidade de água

(ROSENBERG & RESH, 1993).

O entorno do Parque Estadual do Rio

Doce (PERD), maior fragmento de Mata

Atlântica do estado de Minas Gerais,

representa um microcosmo da situação

ambiental brasileira, uma vez que aí se

encontram praticamente todos os graves

problemas que envolvem a degradação do

meio e a perda de biodiversidade nativa

(PAULA et al., 1997). Entre esses

problemas destacam-se na região o

considerável desmatamento, a monocultura

de Eucaliptus spp., atividades econômicas

altamente impactantes como mineração e

siderurgia e urbanização acelerada nos

últimos 50 anos.

Ainda assim, o vale do médio Rio Doce

(MG) abriga mais de 60% da biodiversidade

da Mata Atlântica, incluindo uma

percentagem ainda maior das espécies

endêmicas a esse bioma. A Mata Atlântica e

o sistema lacustre do médio Rio Doce

(BARBOSA & MORENO, 2002, p. 69 – 81),

constituem o maior remanescente do bioma

Mata Atlântica em Minas Gerais, totalizando

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36.000 ha de florestas, em sua maior parte,

secundária, entremeadas por um sistema

lacustre com 130 lagoas nos mais variados

estágios de evolução e trofia (BARBOSA &

MORENO, 2002).

Por estas características a região foi

escolhida como um dos locais de pesquisa

do Programa de Pesquisas de Longa

Duração (PELD), cuja meta principal foi

avaliar a biodiversidade remanescente de

grupos de organismos selecionados de

ambientes terrestres e aquáticos frente a duas

ações antrópicas altamente impactantes: o

desmatamento (fragmentação de habitats) e

as invasões biológicas, notadamente

espécies de peixes, moluscos, macrófitas

aquáticas e inclusive primatas. Este

programa teve ainda o papel pioneiro de

avaliar alguns aspectos sócio-econômicos

desta região, com vistas a elaborar

propostas de um zoneamento ecológico-

econômico, juntamente com a condução de

um extenso programa de educação

ambiental com professores do ensino

fundamental e médios dos municípios da

região de estudos, programa este

elaborado de forma participativa e que

considerava os principais problemas

ambientais da região (BARBOSA &

MORENO, 2002, p. 69 – 81).

Este trabalho tem como objetivo

sintetizar o estado atual do conhecimento

sobre a entomofauna aquática das lagoas

situadas dentro do PERD que vêm sendo

sistematicamente estudadas desde janeiro

de 2000 dentro das ações do Programa de

Pesquisas Ecológicas de Longa Duração

(PELD), do Ministério da Ciência e

Tecnologia/Conselho Nacional de

Desenvolvimento – MCT/CNPq.

Materiais e métodos

Dentro dos limites do Parque Estadual

do Rio Doce, três lagoas vêm sendo

rotineiramente amostrados: Dom Helvécio,

Carioca e Gambazinho (FIG. 1).

A lagoa Dom Helvécio é o maior do

sistema (6,87 km2 de superfície e 32,5 m

de profundidade máxima) (FIG. 2). Nela, é

permitido o acesso de turistas para pesca

desportiva, banho e passeios de barco. A

lagoa Carioca (0,13 km2 de superfície e

11,8 m de profundidade máxima) (FIG. 3)

não é oficialmente aberta a visitantes e

apresenta-se bem mais preservada.

Entretanto, sua localização próxima a um

campo de pouso de aeronaves e a

existência de trilha que facilita o acesso, a

tornam potencialmente vulnerável. A lagoa

Gambazinho (0,10 km2 e profundidade

máxima de 10 m) (FIG. 4) é a única onde

ainda não há registro de espécies exóticas

de peixes ou moluscos, sendo, portanto,

considerada a única cujas comunidades

biológicas mantêm suas características

próximas das condições originais.

Desde o ano 2000, a comunidade de

macroinvertebrados bentônicos das lagoas

Dom Helvécio e Carioca foi amostrada

semestralmente, concentrando-se as

coletas nos períodos de seca (junho-

agosto) e chuvas (dezembro-fevereiro). A

lagoa Gambazinho começou a ser

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estudada a partir de 2004, com a mesma

periodicidade de coletas.

Em dois pontos aleatoriamente

escolhidos da região litorânea de cada

lagoa foram retiradas três amostras do

sedimento, utilizando-se rede manual

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FIGURA 1 - Localização das lagoas Carioca, Gambazinho e DomHelvécio, Parque Estadual do Rio Doce, MG.Fonte: EMBRAPA Escala: 1:100.000

FIGURA 2 - Lagoa Dom Helvécio, Parque Estadual do Rio Doce, MG.

Foto

: F

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sco B

arb

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FIGURA 3 - Lagoa Carioca, Parque Estadual do Rio Doce, MG.

FIGURA 4 - Lagoa Gambazinho, Parque Estadual do Rio Doce, MG.

(malha de 0,25 mm). O sedimento foi

lavado sobre uma bateria de peneiras

(malhas de 2 mm, 1 mm, 0,5 mm e 0,25

mm) e todos os organismos encontrados

foram então triados, identificados e

contados sob microscópio estereoscópio.

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Resultados e discussão

Foram coletados 4.951 indivíduos

distribuídos em oito ordens e 31 famílias

de Insecta. A tabela 1 mostra os

organismos encontrados em cada uma

das três lagoas e sua abundância total,

bem como o grupo funcional de

alimentação a que são atribuídos por

Merrit & Cummins (1996).

Em comparação com outros sistemas

lacustres de Minas Gerais, como o da

região do karste de Lagoa Santa

(SANTOS et al., 1998), onde, num

conjunto de cinco lagoas amostradas

sazonalmente durante três anos,

encontraram-se 26 famílias, é notável que

as lagoas do PERD mantêm alta riqueza

taxonômica, cumprindo sua função de

preservação das espécies aquáticas como

MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 20118

TABELA 1 Lista das famílias de insetos e sua abundância distribuída por grupo funcional de alimentação, encontrados

no Parque Estadual do Rio Doce.

seca/2000 chuva/2001 seca/2004 chuva/2005 seca/2005 chuva/2006 seca/2006 Ordem Família Grupo

CAR DOM CAR DOM CAR DOM GAM CAR DOM GAM CAR DOM GAM CAR DOM GAM CAR DOM GAM

Collembola Isotomidae C 3

Coleoptera Dytiscidae P 1 1 1

Elmidae P 1

Hydrophilidae P 1 2 6

Lampyridae P 2

Diptera Ceratopogonidae C, P 5 1 3 12 37

Chaoboridae P 2 1 1

Chironomidae C, F 23 97 117 20 90 119 76 48 409 803 122 71 292 11 706

Tanypodinae P 3 17 11 16 23 39 5 61 63 3 24 10 4 255

Culicidae F 2

Tipulidae Fr 1

Ephemeroptera Baetidae C, R 2 1 29 5 6 24 1 1

Caenidae C 2 7 1 2 5 9 28

Ephemeridae C 1

Leptophlebiidae C 2 3 1 1

Heteroptera Belostomatidae P 3 2 1 3 2

Corixidae P 4 1

Gerridae P 1 4 1

Naucoridae P 1

Nepidae P 1

Notonectidae P 5

Veliidae P 1

Lepidoptera Pyralidae Fr 1 1

Odonata Aeshnidae P 1 1 5

Coenagrionidae P 4 1 7 15 1 7 13

Corduliidae P 2

Gomphidae P 2 13 2 10 5 8 23 4 4 5

Libellulidae P 3 1 1 1 2 6 22

Trichoptera Hydrobiosidae P 1

Hydroptilidae C 1

Leptoceridae C, Fr, P 1 10 3

Limnephilidae Fr 95 4 97 12 250 24 440 57 3 Legenda: CAR - lagoa Carioca; DOM - lagoa Dom Helvécio; GAM - lagoa Gambazinho, C - coletor, P - predador, F - filtrador, R -

raspador, Fr - fragmentador.

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se espera de ambientes dentro de uma

unidade de conservação.

A lagoa Gambazinho apresentou, em

quase todos os períodos amostrados a

maior riqueza de famílias de Insecta,

corroborando a ideia de que a introdução de

espécies exóticas ocorridas nas outras duas

lagoas pode ter levado a alterações em

todos os níveis tróficos, empobrecendo e

simplificando a comunidade como um todo

(PINTO-COELHO et al., 2008). Destaca-se

para este ambiente o período de seca de

2006, quando foram registradas 17 famílias

(GRÁF. 1). A lagoa Carioca, o mais frágil dos

três ambientes pelo pequeno tamanho e

localização de fácil acesso a visitantes,

apresentou a menor riqueza, algumas vezes

não se encontrando nem um único indivíduo

nas amostras.

com aquele registrado por Marques (2004)

que, no período de vazante de 1999,

encontrou 14 famílias de insetos na zona

litorânea deste ambiente.

Na década de 80, larvas de Diptera das

famílias Chaoboridae e Chironomidae

dominavam numericamente a comunidade

zoobentônica, os primeiros alcançando

densidades de até 996 ind/m2. Além disso,

a sazonalidade interferiu, se não na

riqueza, parâmetro para o qual não se

observou diferenças significativas, na

densidade de organismos da zona litorânea

que foi expressivamente maior na maioria

dos pontos amostrados durante a estação

de maior pluviosidade. Atestando a boa

qualidade da água da lagoa Dom Helvécio

naquela época foram registrados, também

em grande densidade, organismos

considerados mais sensíveis às alterações

ambientais tais como: ninfas de

Trichoptera, Ephemeroptera (Caenidae) e

Odonata (Libellulidae).

Os baixos valores de riqueza nos anos

iniciais deste trabalho (GRÁF. 1) podem ser

atribuídos à ausência de chuvas no final do

ano de 1999 e que perdurou durante todo o

ano de 2000, conhecido como o ano do

“apagão” no Brasil. A diminuição da

pluviosidade pode ter alterado ou

interrompido o ciclo reprodutivo normal de

algumas espécies, e as populações sofreram

assim uma diminuição na sua abundância e

densidade. Tal fato indica que estes

ambientes possam ter uma maior fragilidade

frente a alterações ambientais globais, tanto

naturais quanto impostas pelo ser humano.

MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011 9

GRÁFICO 1 - Riqueza de famílias de insetos das lagoas Carioca(CAR), Gambazinho (GAM) e Dom Helvécio(DOM), Parque Estadual do Rio Doce/MG noperíodo 2000-2006.

Em trabalhos pioneiros do início da

década de 80 sobre a fauna de

macroinvertebrados aquáticos no PERD,

Fukuhara et al. (1997) registraram baixa

riqueza de Insecta na Lagoa Dom

Helvécio, onde apenas 4 famílias foram

encontradas na época de seca e 5 no

período de chuva. Tal resultado contrasta

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Não houve diferenças significativas

entre os períodos de seca e de chuvas na

riqueza e na abundância dos insetos

aquáticos (GRÁF. 2). Provavelmente as

alterações climáticas inesperadas no início

do trabalho tenham contribuído para a

ausência de um padrão sazonal. Em geral,

o período de chuvas é mais favorável ao

desenvolvimento de larvas e ninfas de

insetos aquáticos em ambientes lacustres.

A composição faunística das lagoas

apresenta alguns grupos típicos de

ambientes bem conservados e de boa

qualidade ambiental, como ninfas das

ordens Ephemeroptera e Trichoptera e

larvas de Odonata. Entretanto, destaca-se

a ubiquidade e abundância das larvas de

Chironomidae (Diptera) e sua sub-família

Tanypodinae, presentes em 80% das

amostras e que correspondem a 71% de

todos os indivíduos encontrados, sendo

que em 63% das amostras esta família

representa mais da metade de toda a fauna

encontrada. Estes resultados são

compatíveis com outros estudos e

levantamentos da fauna de

macroinvertebrados aquáticos, nos quais

esta família é frequentemente citada como

a mais comum e abundante em diversos

tipos de sistemas aquáticos continentais

(MERRIT & CUMMINS, 1996).

Em relação aos grupos funcionais de

alimentação encontrou-se que a maioria das

taxas presentes nas lagoas era de organismos

predadores (TAB. 1), principalmente das

ordens Coleoptera, Heteroptera e

Odonata. Entretanto, tal como seria

esperado em uma comunidade baseada

na cadeia de detritos, estes não são os

organismos dominantes numericamente,

mas sim os coletores e filtradores (GRÁF.

3) que se alimentam de pequenas

MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 201110

GRÁFICO 2 - Média e desvio padrão da riqueza e abundância total de famílias de insetos paraos períodos de seca e chuva.

GRÁFICO 3 – Proporção entre os grupos funcionais de alimentação encontrados nas três lagoas do Parque Estadual doRio Doce, MG.

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partículas de matéria orgânica fina em

decomposição (< 1 mm). Os fragmentadores,

responsáveis pela transformação da matéria

orgânica grossa alóctone em matéria

orgânica fina, foram representados neste

estudo por 12% do total de organismos

(GRÁF. 3), o que é um resultado

compatível com os achados de Wantzen &

Rüdiger (2006), segundo os quais em

sistemas tropicais esta função assume uma

menor importância ecológica em

comparação aos ambientes temperados,

devido principalmente às altas taxas de

decomposição as quais interferem na

qualidade nutricional das folhas. O grupo

funcional de alimentação menos expressivo,

tanto numericamente quanto em termos de

riqueza de taxa, foi o dos raspadores. Estes

organismos se alimentam da comunidade

perifítica (algas, fungos, protozoários) que

cresce associada a um substrato sólido,

como rochas e superfície de macrófitas. No

caso das lagoas do PERD, o grupo funcional

dos raspadores é representado

principalmente por moluscos gastrópodes e

não por insetos (VIDIGAL et al., 2005).

A lagoa Carioca chama a atenção por

apresentar a menor diversidade de grupos

funcionais em comparação aos outros dois

ambientes. Em três momentos (seca/2000,

seca/2005 e seca/2006), encontraram-se

somente dois grupos funcionais em toda a

entomofauna. Este pode ser um indicativo

de que os processos ecológicos foram

alterados comprometendo a estrutura da

comunidade biológica. A introdução de

espécies exóticas em um corpo d’água de

pequeno tamanho pode determinar o

desaparecimento de importantes elos da

cadeia alimentar.

Conclusão

As lagoas do Parque Estadual do Rio

Doce apresentam, em conjunto, alta

riqueza de famílias de Insecta,

demonstrando sua importância na

conservação das espécies aquáticas. Não

se encontraram padrões sazonais para a

riqueza e abundância dos insetos.

Aparentemente, a introdução de espécies

exóticas de peixes e moluscos em duas

das lagoas reduziu a riqueza das mesmas

através de efeitos em cascata na cadeia

trófica. Ainda assim, as comunidades

mostraram-se relativamente bem

estruturadas, com vários grupos

funcionais de alimentação atuando na

região litorânea. A presença de

organismos indicadores de boa qualidade

de água demonstra que os corpos d’água

analisados encontram-se ainda em boas

condições de conservação ambiental. A

única exceção foi a lagoa Carioca que

mostrou baixa diversidade de grupos

funcionais, além da pequena riqueza de

taxa, mostrando ser o ambiente mais

ameaçado, principalmente pelas

introduções de espécies exóticas,

notadamente peixes.

MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011 11

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Avaliação da qualidade das águas da bacia do rio Paraíba do Sulatravés do índice “ISMR” adaptado para as comunidades de

macroinvertebrados bentônicos tropicais do Brasil

Marilia Vilela Junqueira1, Günther Friedrich2

Resumo

Este trabalho apresenta os resultados da avaliação da qualidade das águas da Bacia do rio Paraíba do Sulsegundo uma nova adaptação do sistema saprobiótico baseada nas comunidades de macroinvertebrados dobenton de rios do Estado de Minas Gerais e Rio de Janeiro, o índice “ISMR”. O trabalho além de testar oíndice saprobiótico “ISMR”, descreve os procedimentos metodológicos para o cálculo da avaliação daqualidade das águas da bacia do rio Paraíba do Sul em 2006. A rede de amostragem demarcada na baciado rio Paraíba do Sul compreendeu 23 estações de amostragem, e as coletas foram realizadas comsubstrato artificial, para possibilitar uma comparação e quantificação padronizada das amostras em todos ostipos de habitat. Os resultados da avaliação comprovaram o grau preocupante de poluição orgânica emalguns trechos da bacia do rio Paraíba do Sul.

Palavras chave: qualidade de água, biomonitoramento de rios, índice biótico, índice saprobiótico, macrozoobentos.

Abstract

This paper presents the results of water quality assessment in rivers of the Paraiba do Sul watershedaccording a new development with adapted saprobic system on the basis of tropical macrozoobenthoscommunities from rivers in Minas Gerais and Rio de Janeiro states, the “ISMR”. The paper as well describesthe methodological procedure of calculating the ISMR and its application upon the river water quality in theParaiba do Sul catchment area in 2006. The sampling net included 23 stations and was realized by the useof artificial substrates in order to enable standardized habitats for the settlement of organisms and quantitativecomparison. The results demonstrate the intensity of the effect of organic pollution on the macroinvertebratescommunity in studied area.

Keywords: water quality, biomonitoring of rivers, biotic index, saprobic index, macrozoobenthos.

1 Bióloga. Especialista em Gestão de Qualidade de Água. Bundesanstalt für Gewässerkunde/BFG – Koblenz. Institut für Wasser Bodenund Lufthygiene des Bundesgesundheitsamtes/WABOLU - Berlin.Universität Hamburg – Institut für Hidrobiologie und Fischreiwiessenschaft /IFHW - Hamburg. Landsamt für Wasser und Abfall Nordhein Westfalen /LAWA – Düsseldorf. Alemanha. Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais CETEC – Setor de Recursos da Água SAA.

2 Biólogo. PhD rer. nat. Freien Universität Berlin. Professor an der Heinrich-Heine-Universität Düsseldorf, Alemanha.

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Introdução

A avaliação da qualidade de água de

rios por meio de bioindicadores e índices

bióticos é realizada na Europa há mais de

100 anos (SCHÄFER, 1985), e na América

do Norte (KARR, 1994), atualmente também

em regiões subtropicais como Austrália

(HAASE & NOLTE, 2007). Os índices

bióticos foram adotados como normas

técnicas padronizadas para

biomonitoramentos em rios, já há vários

anos, em alguns países europeus. No

Brasil, seu emprego é ainda reduzido,

porém há trabalhos, desde a década

passada, realizados nesta linha de pesquisa

com macrozoobentos (JUNQUEIRA, et al.,1991; 1998), (ARAÚJO, 1995), (COTA et al.,2002) e (MONTEIRO et al., 2008). Nestes

biomonitoramentos é bem conhecida a

importância dos macroinvertebrados do

benton em virtude das suas características

sésseis, ao seu ciclo de vida relativamente

longo e a sua fácil visualização

(ROSEMBERG & RESH, 1993), sendo, por

isso, considerados em águas correntes, os

organismos que melhor refletem a

qualidade das águas. Embora haja,

atualmente, na literatura científica mais de

50 variações metodológicas para avaliação

de qualidade de água através de

bioindicadores (DE PAWN & VANHOOREN,

1983), muitos, que utilizam à comunidade

bentônica fundamentam-se nos princípios

básicos do sistema saprobiótico,

desenvolvido por Kolkwitz & Marsson

(FRIEDRICH, 1990). O sistema saprobiótico

mede a carga de poluição orgânica

degradável (saprobiose) de ambientes

aquáticos de águas correntes, através do

processo natural de decomposição pelos

organismos aquáticos, que devido as suas

diferenciadas atividades vitais (seus

diferenciados hábitos alimentares e

diferenciadas necessidades de oxigênio),

povoam diferenciadamente os trechos do

curso de água com diferentes níveis de

cargas orgânicas e assim tornam-se

importantes indicadores da saprobiose da

água nos trechos do rio. O sistema

saprobiótico pode combinar indicadores

físico-químicos de água e biológicos para

fazer a caracterização desta condição

saprobiótica do ambiente.

A avaliação da qualidade de água

através desta abordagem metodológica na

bacia do Paraíba do Sul mostra-se bastante

oportuna ao se considerar o grande

comprometimento antrópico existente nesta

bacia. Nos trechos fluminense e mineiro do

rio Paraíba do Sul encontra-se instalado um

dos maiores parques industriais do país e,

apesar de sua importância para o

abastecimento público de milhões de

habitantes, não têm recebido a necessária

atenção, tendo em vista que em suas águas

são lançadas diariamente grandes

quantidades de despejos orgânicos e

tóxicos, que vêm afetando sua qualidade

ecológica (ARAUJO, 1995). Com este

trabalho pretendeu-se a avaliação da

qualidade das águas da bacia do rio Paraíba

do Sul com um índice biótico padronizado,

aplicável em toda a bacia, para possibilitar a

elaboração de trabalhos integrados na bacia

MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 201114

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do rio Paraíba do Sul e proporcionar

resultados intercomparáveis, permitindo o

aprimoramento da gestão e fiscalização das

águas entre os estados de Minas Gerais e

Rio de Janeiro, unidades federativas que

compartilham esta bacia, na condução de

pesquisas integrativas voltadas a melhoria

das condições ambientais (CETEC 2007).

Metodologia

Área de estudo

A área estudada abrangeu as três sub-

bacias hidrográficas do rio Paraíba do Sul,

que nascem em território mineiro e que

constituem os principais afluentes do rio

Paraíba do Sul e que igualmente drenam

regiões de grande importância econômica e

cultural no cenário histórico do Estado de

Minas Gerais (FIG. 1), a saber: bacia do rio

Paraibuna (estações de coleta de 1 a 9 e

FIG. 2, 3, 4, 5, 6), bacia do rio Pomba

(estações de coleta de 10 a 16 e FIG. 6, 7,

8), bacia do rio Muriaé (estações de coleta

de 17 a 21 e FIG. 10, 11, 12) e duas

estações no próprio rio Paraíba do Sul

(estações de coletas 22 e 23 e FIG. 13 e

14), cujas coordenadas de localização

constam na tabela 1.

MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011 15

FIGURA 1 – Localização da área de estudo. Mapa de qualidade das águas da Bacia do rio Paraíba do Sul MG/RJ - 2006.Fonte: Fundação Centro Tecnológico de MG – CETEC.

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MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 201116

TABELA 1 Rede de Amostragem investigada na Bacia do rio Paraíba do Sul, MG/RJ

Coordenadas (UTM) Estação Longitude Latitude Altitude (m) Curso de água

1 654498 7610636 710 rio Paraibuna 2 674998 7589813 649 rio Paraibuna 3 672074 7581360 474 rio Paraibuna 4 614238 7598940 1351 rio do Salto 5 665045 7579097 456 rio do Peixe 6 669757 7569181 450 rio Paraibuna 7 671266 7565658 385 rio Preto 8 675016 7564608 343 rio Paraibuna 9 691485 7555583 272 rio Paraibuna 10 674345 7650941 504 rio Pomba 11 725229 7642618 311 rio Xopotó 12 731711 7633529 163 rio Novo 13 733972 7634361 172 rio Pomba 14 741401 7629322 165 rio Pomba 15 735956 7624383 356 rio Pardo 16 784903 7620593 108 rio Pomba 17 765280 7659047 212 rio Muriaé 18 765468 7706687 922 rio Preto 19 776172 7662503 190 rio Glória 20 788226 7658662 180 rio Muriaé 21 811003 7686015 281 rio Carangola 22 688775 7554131 241 rio Paraiba do Sul 23 801553 7603064 75 rio Paraiba do Sul

FIGURA 2 – Estação 1 rio Paraibuna em chapéu D’Uvas, município de Juiz de Fora/MG.

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V.

Junqueira

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V.

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FIGURA 3 – Estação 3 rio Paraibuna a jusante de Juiz de Fora.

FIGURA 4 – Estação 4 rio do Salto no Parque Estadual do Ibitipoca.

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FIGURA 5 – Estação 8 rio Paraibuna, município Comendador Levy Gasparian/RJ.

FIGURA 6 – Estação 7 rio Preto afluente do Paraibuna, município Comendador Levy Gasparian/RJ.

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FIGURA 7 – Estação 10 rio Pomba, município de Mercês/MG.

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FIGURA 8 – Estação 12 rio Novo, município de Cataguases/MG.

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FIGURA 9 – Estação 16 rio Pomba em Paraoquena.

FIGURA 10 – Estação 17 rio Muriaé, município de Muriaé/MG.

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FIGURA 11 – Estação 18 rio Preto, município de Fervedouro/MG.

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FIGURA 12 – Estação 19 rio Glória, município de Muriaé/MG.

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FIGURA 13 – Estação 22 rio Paraíba do Sul, município de Três Rios/RJ.

FIGURA 14 – Estação 23 rio Paraíba do Sul em Itaocara/RJ.

Coleta de dados

A metodologia empregada neste trabalho

para avaliar a qualidade das águas na bacia

do rio Paraíba do Sul usa um índice

denominado “ISMR” – um índice saprobiótico

para Minas Gerais e Rio de Janeiro, que foi

adaptado da metodologia do sistema

saprobiótico (DIN 38 410-1, 2004) para as

comunidades macrozoobentônicas tropicais

(JUNQUEIRA, FRIDRICH & ARAUJO, 2009).

Este índice, como no sistema saprobiótico,

estabelece valências saprobióticas “s” numa

escala de 1 a 4 e pesos “G” saprobióticos em

faixas de 1 a 16 (FRIEDRICH & HERBST,

2004), para diversos táxons da fauna

macroscópica aquática do benton. Tais

valores expressam os limites de tolerância à

poluição orgânica destes organismos

conforme apresentado na tabela 2. Nesta

tabela estão também assinalados, com X, os

táxons dos organismos macrozoobentônicos

encontrados nas estações investigadas da

bacia do rio Paraíba do Sul. Alguns destes

macroinvertebrados bentônicos usados

como bioindicadores de qualidade de água

podem ser vistos nas figuras 15, 16, 17, 18,

19, 20, 21.

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TABELA 2 Relação das valências “s” e pesos saprobióticos “G” dos macrozoobentos segundo o índice Saprobiótico

“ISMR” e dos táxons coletados (X) na bacia do rio Paraíba do Sul em 2006

(Continua...) Táxons “s” “G” (X) TURBELLARIA

Dugesiidae 1.7 2 Planariidae 2.2 2 x

OLIGOCHAETA Tubificidae 3.6 4 x

Branchiura sowerbyi Beddard, 1892 2.1 8 Tubifex sp. Lamarck,1816 3.5 4 Limnodrilus sp. Claparede, 1862 3.3 4 x Limnodrilus hoffmeisteri 3.3 4 x

Naididae 3 4 x Dero sp. Oken, 1815 3 8 x Dero evelinae Marcus,1943 3 8 x Dero digitata Müller,1773 3 8 x Dero botrytis Marcus,1943 3 8 x Dero aulophorus Schmarda,1861 3 8 x Nais communis Piquet,1906 x

HIRUDINAE Erpobdellidae 2,9 4 x

Erpobdella sp. Blainville, 1918 2,9 8 x Glossiphoniidae 2,7 4 x

Placobdella sp.Blanchard,1893 2,5 4 x Helobdella sp. Linnaeus, 1758 2,7 4 x Helobdella stagnalis Linnaeus,1758 2,7 4

GASTROPODA Physidae 2,8 4 x

Physa cubensis Pfeiffer ,1839 2.8 4 x Planorbidae 2.5 4 x Biomphalaria glabrata Say, 1818 2.5 4 x

Ancylidae 1.9 4 x Lymnaeidae x Lymnaea sp. Say, 1817 1.8 2 x

Pomacea haustrum (Reeve,1856) 2.3 2 Thiaridae 2.3 4 x

Melanoides tuberculata Müller,1774 2.3 4 x BIVALVIA

Corbiculidae x Corbicula fluminea Müller, 1774 2.3 4 x

Sphaeriidae 1.9 2 Diplodon sp. Spix, 1827 1.8 8

EPHEMEROPTERA Baetidae 2 4 x

Baetodes sp.Needham&Murphy, 1924 1.9 4 Americabaetis sp. Kluge, 1992 2 4 x Camelobaetidius sp. Demoulin, 1966 1.5 8 x

Leptophlebiidae 1.6 4 x cf Meridialaris sp. Peters & Edmonds, 1972 1.5 16 Farrodes sp. Peters, 1971 1.6 4 x Thraulodes sp. Ulmer, 1920 1.5 8 Traverella sp. Edmunds, 1948 1.5 8 Hermanella sp. Needham & Murphy,1924 1.5 4 Ulmeritus sp. Traver, 1956 1.5 4 x

22 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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(Continua...) Táxons “s” “G” (X)

Leptohyphidae 1.8 4 x Leptohyphes sp. Eaton, 1882 1.5 4 x Tricorythodes sp. Ulmer, 1920 1.7 4 x Tricorythopsis sp. Traver, 1958 1.8 8 x

Caenidae 2 8 Polymitarcyidae 1.7 8 x

Asthenopus sp. Eaton, 1871 1.7 8 x PLECOPTERA

Perlidae 1.3 4 x Anacroneuria sp. Klapálek, 1909 1.3 4 x Kempnyia sp. Klapálek, 1914 1 8

Gripopterygidae 1.2 8 x Paragripopteryx sp. Enderlein,1909 1.2 8 Gripopteryx sp. Pictet, 1841 1 16 x Tupiperla sp. Froehlich, 1969 1.2 8 Tupiperla cf.gracilis Burmeister, 1839 1.2 8

ODONATA Libellulidae 1.7 4 x Aeshnidae 1.4 4 x Aeshna sp. Linnaeus (1758) 1,4 4 x Gomphidae 1.9 4 x

Aphylla sp. Selys, 1854 1.9 16 Lestidae 1.5 4 Coenagrionidae 1.8 8 x

Argia sp. Rambur, 1842 1.8 8 Calopterygidae 1.8 8 x

Hetaerina sp. Drury, 1773 1.8 16 Naucoridae x

Ambrysus sp. Stal (1862) x Pelocoris sp. Stal (1876) x

MEGALOPTERA Corydalidae 1.7 4 x

Corydalus sp. Latreille, 1802 1.7 4 x COLEOPTERA

Elmidae 1.7 4 x Chrysomelidae 2 8 Psephenidae 1.2 4 x

Psephenus sp. Dekay, 1844 1.2 4 x Hydrophilidae 1.6 4

Berosus sp. Leach 1817 1.6 2 Staphylinidae 1.9 8 Dytiscidae 1.9 4 Curculionidae 2 4 Limnichidae 1.5 8 Dryopidae 1.6 8 Gyrinidae x

CF: Dineutus sp. MacLeay (1825) x TRICHOPTERA

Hydropsychidae Curtis,1835 2.3 4 x Smicridea sp. R McLachlan,1871 2.3 4 x Leptonema sp. FE Guerin, 1843 2.2 4 x Synoestropsis sp. G Ulmer, 1905 1.4 4 Macronema sp. FJ Pictet,1836 1.5 16 x

Glossosomatidae Wallengren,1891 1.6 8 x Protoptila sp. N Banks, 1904 1.6 8 x

23MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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(Conclusão) Táxons “s” “G” (X)

Polycentropodidae G Ulmer,1903 2 4 x Polycentropus sp. J Curtis,1835 2 8 Cernotina sp. HH Ross,1938 1.7 4 x Cyrnellus sp. N Banks, 1913 1.7 8 x

Hydroptilidae JF Stephens,1836 2 4 x Leucotrichia sp. ME Mosely, 1934 1.5 4 x Alisotrichia sp. OS Flint, 1964 1.8 4 Hydroptila sp. JW Dalman, 1819 1.8 4 Ochrotrichia sp. ME Mosely, 1934 1.8 8 x Neotrichia sp. KJ Morton, 1905 1.4 4 Oxyethira sp AE Eaton, 1873 1.5 4 x

Hydrobiosidae G Ulmer,1905 1.3 4 Atopsyche sp. N Banks, 1905 1.3 4

Philopotamidae JF Stephens,1829 1.5 8 x Chimarra sp. JF Stephens, 1829 1.5 8 x

Leptoceridae WE Leach,1815 1.8 4 x Oecetis sp. R MacLachlan, 1877 1.8 8 Nectopsyche sp F Müller, 1879 1.5 4 x

Calamoceratidae G Ulmer,1905 1.2 4 Phylloicus sp. F Müller, 1880 1.2 4

Odontoceridae Wallengren,1891 1.2 16 Marilia sp. F Müller, 1880 1.2 16

Helicopsychidae G Ulmer,1906 1.4 8 x Helicopsyche sp. C von Siebold, 1856 1.4 8 x

LEPIDOPTERA Pyralidae 1.7 4 x Noctuidae 1.9 4

DIPTERA Blephariceridae 1.3 8

Rheotanytarsus sp.Thinemann&Bause,1913 2 4 Chironomidae x

Chironomus sp. Meigen,1803 3.3 4 x Chironomus decorus Johansen, 1905 3.3 4

Dixidae 1.5 4 Empidoidea 1.7 4 x Tabanidae 1.9 2 x Ceratopogonidae 1.8 4 x Psychodidae 3.4 4 x Tipulidae 1.8 4 x Simuliidae 1.7 4 x

Simulium sp. Latreille, 1802 1.7 4 x Muscidae 2 8 Athericidae 1.8 8 Stratiomyidae 3 4 Syrphidae 3.5 8

BACTERIA Sphaerotilus natans Kützing 1833 (só macro) 3.6 8

24 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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FIGURA 15 – Larva de Corydalus sp.

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FIGURA 16 – Larva de Chimarra sp.

FIGURA 17 – Larva de Smicridea sp. FIGURA 18 – Larva de Leptonema sp.

25MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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FIGURA 19 – Larva de Atopsyche sp.

FIGURA 20 – Larva de Anacroneuria sp.

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FIGURA 21 – Larva de Baetodes sp.

As amostragens dos macrozoobentos

foram realizadas no período de estiagem,

quando as condições de colonização são

mais favoráveis (FRIEDRICH et al. 1992). A

grande maioria das estações foi amostrada

no período de junho e julho de 2006,

apenas as estações 4, 12, 15, 19, 21, e 22

foram amostradas em julho e agosto do

mesmo ano. O amostrador utilizado foi um

substrato artificial do tipo “tijolo com rede”,

com uma área de 1850cm2 (FIG. 22),

adaptado do desenvolvido por Wantzen &

Pinto-Silva (2006). Os substratos artificiais

foram expostos com três réplicas junto ao

fundo dos rios (FIG. 23), durante cerca de

cinco semanas. O uso de substrato artificial

neste trabalho foi de fundamental

importância para o êxito da avaliação com

respeito à “qualidade de água”. Isto porque,

a maioria dos cursos de água da rede de

amostragem são predominantemente

lamosos ou arenosos e relativamente

profundos. Sendo assim e considerando

que, o tipo de substrato do leito tem

grande influência na composição da

comunidade bentônica, optou-se por usar,

um substrato artificial quantitativo, que

reunisse características, que possibilitasse

uma colonização mais diversificada dos

bentos e que o fator ambiental de maior

influência para a colonização fosse à

condição da qualidade de água. Além

disso, que essa padronização de

substrato, permitisse uma melhor

comparação dos resultados de qualidade

de água entre as estações.

27MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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FIGURA 22 – Substrato artificial tijolo com rede.

FIGURA 23 – Estação 18 Rio Preto com substrato artificial.

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Para complementar a avaliação

biológica foi realizada, paralelamente as

coletas biológicas, também medições físico-

químicas da água. Os parâmetros

temperatura da água, condutividade elétrica,

pH e turbidez foram medidos no campo com

um aparelho portátil de medições HORIBA U

– 10. Os demais parâmetros; demanda

bioquímica de oxigênio (DBO), nitrogênio

amoniacal (NH4), oxigênio dissolvido (OD) e

sólidos totais foram analisados no

laboratório do CETEC.

Para a identificação dos táxons dos

macroinvertebrados coletados na rede de

amostragem foram utilizadas as seguintes

chaves taxonômicas: (BRINKHURST &

MARCHESE, 1989; FROEHLICH, 1984;

DOMINGUEZ et al., 1992; HOLZENTHAL,

1998; EDMONDSON, 1959; HEC KMAN,

2002a; 2002b; LOPRETTO & TELL, 1995;

MERRIT & CUMMINS, 1996; PEREZ &

ROLDAN, 1988).

Tratamento dos dados para avaliação daqualidade das águas

Para tratar os dados biológicos obtidos

e avaliar a qualidade das águas através da

metodologia do sistema saprobiótico foi

utilizada a fórmula de Zelinka & Marvan

(1961), que determina o índice saprobiótico

da estação de amostragem “S”conforme

descrição a seguir:

onde:

Para a determinação das classes de

abundância dos macrozoobentos “A” foram

adotados 7 (sete) níveis conforme

apresentado na tabela 3 abaixo.

Considerando, que a qualidade da

avaliação não depende apenas da

presença ou ausência dos táxons

indicativos, mas também da proporção

destes táxons na amostra, a abundância

dos organismos torna-se importante para o

“S”= índice saprobiótico da estação de

amostragem

s = valência saprobiótica do taxon

G = peso saprobiótico do taxon

A = classe de abundância do taxon

TABELA 3 Classes de abundância dos macrozoobentos “A”

Classe Abundância Macrozoobentos (número de indivíduos/m2)

1 raro 1 - 2 2 muito pouco 3 - 10 3 pouco 11 - 30 4 significativo 31 - 71 5 abundante 72 - 150 6 muito abundante 151 - 360 7 excessivo > 360

G AG A sS

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29MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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cálculo do índice. Alguns táxons como, por

exemplo, Baetidae, Simuliidae, e

Trichoptera podem aparecer em grande

número numa amostra e isto estar

relacionado ao fato delas terem sido

levadas pela correnteza acidentalmente.

Outras situações desfavoráveis para os

macrozoobentos, que não sejam o teor de

carga orgânica podem também diminuir o

número e abundância dos mesmos, como

por exemplo: substâncias tóxicas na água,

erosão contínua, que provoca

movimentação do leito e muito material em

suspensão e características hidráulicas

extremas. Portanto, para o cálculo deste

índice saprobiótico alguns critérios

metodológicos tiveram que ser atendidos

para que o índice pudesse ser considerado

válido. Quais sejam:

• ocorrer na amostra da comunidade

macrozoobentônica da estação de

amostragem no mínimo de 5 (cinco)

táxons, que possuam “s”, ou seja,

valência saprobiótica;

• havendo menos de 5 (cinco) táxons

na amostra é necessário que 1 (um) ou 2

(dois) táxons tenham abundância na classe

3 ou mais;

• a soma das abundâncias dos táxons

em uma amostra precisa ser maior do que

8 (oito).

Em situações onde os critérios acima

não puderam ser atendidos, o índice

saprobiótico não pode ser calculado e os

resultados foram considerados inválidos.

Exceção: quando a estação de

amostragem for tão poluída, a ponto de só

ocorrer um táxon em grande quantidade,

como Chironomus sp., Tubifex sp. ou

Sphaerotilus natans, nestas circunstâncias

pode-se então ser usado o seu índice

saprobiótico (ex.: 3,6) ou classe 5 para

determinar a saprobidade e a qualidade de

água da estação.

Os resultados da avaliação da

qualidade das águas na bacia do rio

Paraíba do Sul foram classificados

conforme tabela 4 abaixo.

TABELA 4 Classificação da qualidade das águas segundo o índice “ISMR” (JUNQUEIRA et al., 2009)

Classe Grau de saprobidade Índice "S" Qualidade da água Padrão indicativo

1 oligosapróbio até oligo-beta-mesosapróbio 1,0 a <1,8 muito boa azul 2 betamesosapróbio 1,8 a < 2,3 boa verde 3 betamesosapróbio até alfa-mesosapróbio 2,3 a <2,7 regular amarelo 4 alfamesosapróbio 2,7 a < 3,2 ruim rosa 5 alfamesosapróbio até polisapróbio 3,2 a 4,0 muito ruim vermelho

30 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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Resultados

Com relação aos resultados das

análises físico-químicas de água obtidos

nas estações da rede de amostragem da

bacia do rio Paraíba do Sul, cabe

mencionar que, a condutividade elétrica

pode fornecer informações sobre o teor

total de sais dissolvidos na água, a sua

ausência, bem como doses

exageradamente altas, provocam efeitos

nocivos. Os valores de condutividade

elétrica encontrados na bacia do rio

Paraíba do Sul variaram de 2,6 mS/cm-1 na

estação 4, no rio do Salto, localizada no

Parque de Ibitipoca até o valor de 135

mS/cm-1 encontrado na estação 3

localizada no rio Paraibuna a jusante de

Juiz de Fora. O pH variou de 5,3

encontrado nas águas negras do rio do

Salto (estação 4) a 7,5 no rio Xopotó

(estação 11). A menor turbidez 1,23 NTU foi

encontrada na estação do rio Preto dentro

do Parque da Serra do Brigadeiro e a maior

21.1 NTU na estação 3, localizada no rio

Paraibuna.

Em relação aos dados biológicos, os

táxons de macroinvertebrados bentônicos

encontrados nos substratos artificiais

colocados nas estações da rede de

amostragem na bacia do rio Paraíba do Sul,

em 2006, são apresentados na tabela 2

assinalados com um X.

Os resultados da avaliação de

qualidade da água obtida através do índice

saprobiótico “ISMR” nas estações

estudadas na bacia do rio Paraíba do sul

em 2006 estão apresentados na tabela 5.

TABELA 5 Resultados da avaliação de qualidade de água nas estações investigadas da bacia do rio Paraíba do Sul

em 2006 obtidos através do índice saprobiótico ”ISMR”

Estação Grau de Saprobidade Índice "S" Qualidade da água 1 bms-ams 2,31 3 regular 2 ams 2,89 4 ruim 3 ams 2,81 4 ruim 4 os-bms 1,68 1 muito boa 5 os-bms 1,75 1 muito boa 6 bms-ams 2,37 3 regular 7 bms 1,95 2 boa 8 os-bms 1,78 1 muito boa 9 bms 1,98 2 boa 10 bms 2,13 2 boa 11 oms-bms 1,79 1 muito boa 12 bms 1,83 2 boa 13 bms 1,87 2 boa 14 bms 2,21 2 boa 15 os-bms 1,61 1 muito boa 16 bms 1,81 2 boa 17 bms 1,86 2 boa 18 os-bms 1,66 1 muito boa 19 os-bms 1,7 1 muito boa 20 bms 1,86 2 boa 21 bms 1,88 2 boa 22 bms 1,89 2 boa 23 bms 1,86 2 boa

31MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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Discussão e conclusão

Observando os resultados da avaliação

de qualidade das águas apresentados na

tabela 5, percebe-se, que a estação 1 no rio

Paraibuna apesar de ser a estação

localizada mais a montante na rede de

amostragem, já se encontra na classe 3,

provavelmente em consequência dos

esgotos domésticos, sem tratamento,

lançados diretamente no rio Paraibuna, a

montante da estação de coleta, na

localidade de Chapéu D’uvas. Nas

estações a jusante destas 2 e 3, também no

rio Paraibuna, ocorre um nítido aumento

nos índices saprobióticos, que atingem

valores correspondentes a fortes teores de

carga orgânica na água, ou seja, há uma

queda acentuada na qualidade das águas.

Estas estações estão localizadas cerca de

10 e 25 km respectivamente a jusante da

cidade de Juiz de Fora. Portanto, este

trecho do rio Paraibuna próximo a Juiz de

Fora é receptor de uma grande quantidade

de carga orgânica proveniente do

lançamento de esgotos domésticos desta

cidade, atualmente com 500 000

habitantes, que não são interceptados para

estações de tratamento. Dentre estas, a

estação 3, localizada a jusante da Represa

Paciência da CEMIG, registra uma pequena

melhora nas condições saprobióticas da

água em relação à estação 2 a montante,

contudo ela ainda permanece na classe 4

de qualidade de água (ruim). Na estação 6,

localizada cerca de 20 km a jusante da

estação 3 e também a jusante da

confluência com o rio do Peixe, que possui

qualidade muito boa, as águas do rio

Paraibuna se enquadram na classe 3

correspondente a uma condição regular.

Nas estações do rio Paraibuna localizadas

mais próximas a sua foz 8 e 9 há uma

melhora nas condições do rio e a estação 8

chega ao grau de saprobidade oligo-

betamesosapróbica na classe 1. Esta

recuperação, que acontece nestas

estações em relação às estações de

montante, está relacionada ao processo de

autodepuração da matéria orgânica ao

longo destes trechos do rio, que é facilitado

pelo aumento da vazão e pela ocorrência

de várias corredeiras. Todavia, o rio

Paraibuna sofre uma ligeira piora na

qualidade das águas, na estação 9, após a

desembocadura do rio Cágado. Na estação

4, situada na cabeceira do rio Paraibuna,

dentro do Parque Estadual do Ibitipoca, foi

constatado o melhor índice saprobiótico

1,68, dentre todas as estações da bacia do

rio Paraibuna, que corresponde à classe 1.

Com relação aos principais afluentes do rio

Paraibuna, ou seja, rio do Peixe (estação

5), foi registrado índice 1,75

correspondente a classe 1, indicando ter

uma qualidade de água melhor do que a do

outro afluente do rio Paraibuna, rio Preto

(estação 7), que apresentou classe 2

(betamesosapróbica).

Na bacia do rio Pomba, na estação 10,

localizada mais a montante na rede de

amostragem no rio Pomba foi encontrada

classe 2 (betamesosapróbica) e o rio

Pomba permanece nesta mesma classe de

qualidade de água nas demais estações da

bacia. Porém, na estação 14 do rio Pomba,

32 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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localizada cerca de 5 km, a jusante da

cidade de Cataguases foi detectada uma

piora nas condições saprobióticas da água

do rio em relação às estações de montante,

com índice de 2,21 em 2006. Na estação

mais a jusante da rede de amostragem no

rio Pomba, estação 16, registrou-se uma

ligeira melhora na qualidade da água em

relação às médias dos índices

saprobióticos das estações de montante,

porém esta se enquadrou como todas as

outras estações localizadas ao longo do

curso do rio Pomba, na mesma classe de

qualidade 2, correspondendo a uma boa

qualidade. Na bacia do rio Pomba a

estação 15, localizada na Reserva da

Lapinha, foi a que registrou o melhor índice

saprobiótico 1,61.

Na bacia do rio Muriaé, tanto a estação

17 localizada a montante da cidade de

Muriaé como a estação 20, localizada a

jusante em Patrocínio de Muriaé,

apresentaram classe 2 de qualidade de

água. Com relação aos afluentes do rio

Muriaé, constatou-se que, além da estação

18, localizada no Parque Estadual do

Brigadeiro, também a estação 19, no rio

Glória, apresentou índices saprobióticos na

classe 1 (oligo-betamesosapróbica). A

estação 21, localizada no rio Carangola, a

jusante da cidade de Carangola, teve

condições de água pior e enquadrou-se na

classe 2 (betamesosapróbica).

Ambas as estações localizadas no rio

Paraíba do Sul, ou seja, estação 22 e 23,

enquadraram-se na mesma classe de

qualidade 2 correspondente ao grau de

saprobidade betamesosapróbico.

Cabe ainda mencionar que foi

constatada a ocorrência de

macroinvertebrados transmissores de

doença em várias estações estudadas na

bacia do rio Paraíba do Sul, com uma

grande abundância de gastrópodes,

principalmente do gênero Physa, nas

estações 2 e 3 localizadas no rio Paraibuna,

a jusante de Juiz de Fora. Além disto,

houve uma distribuição bastante expressiva

do caramujo Biomphalaria sp. vetor da

esquistossomose mansônica na região,

que foi detectado nas estações 1, 2, 3 e 6

no rio Paraibuna, na estação 11 do rio

Xopotó, na bacia do rio Pomba e na

estação 23 no rio Paraíba do Sul, o que

torna estas estações impróprias ao uso de

balneabilidade, apesar de enquadrarem-se

em classes de qualidade muito boa e boa,

como é o caso das estações 11 e 23.

Observando o mapa de qualidade de

água da bacia do rio Paraíba do Sul

apresentado na figura 1, constata-se que

50% das estações já se encontram na

classe 2 (betamesosapróbica) na rede

estudada, correspondente a uma condição

boa. Há duas estações na classe 4 com

forte poluição orgânica, localizadas no rio

Paraibuna a jusante de Juiz de Fora e duas

(estações 1 e 6) que registraram situação

crítica na classe 3, também no mesmo rio.

Considerações finais

O uso de índices bióticos para

monitorar a qualidade das águas, além de

permitir uma avaliação da qualidade das

águas como os demais métodos analíticos

33MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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evidente a necessidade da tomada de

medidas por parte das entidades públicas

responsáveis pelo saneamento básico

nesta bacia, para evitar as cargas de

poluição orgânica, que vem sendo lançadas

sem um tratamento prévio, em diversos

trechos de cursos de água, o que provoca

uma degradação significativa da fauna

aquática, como constatado através dos

índices saprobióticos. O problema é mais

agravante principalmente nos trechos de

cursos de água a jusante de centros

urbanos, onde uma carga maior de esgotos

brutos, geralmente domésticos lançados

diretamente nos corpos de água causa a

morte dos organismos aquáticos mais

sensíveis, sobrevivendo apenas espécies

saprobiontes capazes de suportar maiores

cargas orgânicas. Portanto, a falta de

“Estações de Tratamento de Águas

Residuais – ETE” efetivas nesta bacia

acarreta a destruição da nossa

biodiversidade nativa, tornam a água

imprópria também ao uso humano e, por

fim, favorecem a transmissão de doenças

de veiculação hídrica.

Por outro, os estudos também

comprovaram a grande importância da

criação e manutenção das unidades de

conservação para a preservação da

integridade ecológica dos nossos

ecossistemas aquáticos tropicais. A

preservação das condições ecológicas

prístinas nestas unidades ambientais, em

todos os seus aspectos, não só no que diz

respeito à qualidade de água, mas também

da sua estrutura ecomorfológica e a sua

biocenose é de fundamental importância

34 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

físico- químicos, fornece também uma

avaliação das condições ambientais do

ponto de vista da sua comunidade aquática,

registrando também o seu grau de

biodiversidade e permitindo ainda detectar,

no caso dos macroinvertebrados, a

ocorrência de organismos transmissores de

doenças de veiculação hídrica,

possibilitando assim importantes

informações complementares para

determinação dos potenciais usos do

ambiente aquático.

A avaliação da qualidade das águas

obtida através de índices da metodologia

do sistema saprobiótico, possibilita uma

avaliação mais precisa em

biomonitoramentos, quando comparada os

demais métodos bióticos, que identificam

os macroinvertebrados, apenas até o nível

taxonômico de família, pois podem detectar

alterações no ambiente, durante o

monitoramento, em níveis taxonômicos

mais específicos (gênero e espécie). Por

outro lado, além de considerarem as

valências respectivas de tolerância à

poluição de cada táxon, o método do

sistema saprobiótico considera também os

seus pesos como bioindicador e a

abundância dos táxons nas estações

investigadas, o que não é levado em conta

nos outros métodos de índices bióticos. A

avaliação deste conjunto de variáveis

proporciona ao método saprobiótico uma

maior precisão na avaliação da qualidade

de água.

Frente aos resultados de qualidade das

águas obtidos através deste trabalho na

bacia do rio Paraíba do Sul ficou bastante

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35MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

para servirem de modelos de referência nas

metodologias de avaliação da qualidade

ecológica de ambientes aquáticos uma vez

que tais metodologias estão sendo

atualmente amplamente utilizadas em

âmbito internacional e também já

constituem proposta de estudo pelo Estado

de Minas Gerais com vistas a subsidiar a

gestão dos recursos hídricos de bacias

hidrográficas em consonância ao disposto

na Deliberação Normativa Conjunta

COPAM/CERH-MG Nº 1/2008.

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Agradecimentos

Agradecemos a Fundação Centro

Tecnológico de Minas Gerais (CETEC) e a

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado

de Minas Gerias (FAPEMIG), que tornaram

possível a realização deste trabalho, a

bióloga Karina C. Alves pelas identificações

taxonômicas e as operadoras de softÂngela E. Gonçalves Oliveira e Edna

Bueno pela confecção do mapa.

36 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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Page 39: INSTITUTO ESTADUAL DE FLORESTAS - MG DIRETORIA DE ... · grupos de organismos encontrados em ambientes aquáticos e terrestres frente a duas ações que causam impacto ao meio ambiente:

Em destaque:

Ecossistemas lacustres montanos:biodiversidade e grau de vulnerabilidadeà ação antrópica

Os ecossistemas aquáticos lacustres

têm sido amplamente estudados no que se

refere à biodiversidade e processos

funcionais. De maneira geral, grande parte

do arcabouço teórico descrito para lagos,

incluindo os sistemas tropicais, baseia-se

no funcionamento de lagos profundos, que

apresentam processos de estratificação

térmica (WETZEL, 2001).

Os lagos montanos são em geral rasos,

caracterizados por apresentarem

profundidade inferior a 3m e ausência de

estratificação térmica, apresentando

características ecológicas peculiares em

relação aos lagos mais profundos. Os lagos

montanos de altitude estão, em geral,

sujeitos à colonização por macrófitas, o que

modifica intensamente a sua paisagem,

aumentando a heterogeneidade ambiental e

favorecendo a criação de nichos espaciais.

A intensa interação sedimento-água e a

colonização vegetal propiciam a ocorrência

de processos ecológicos únicos, como

decomposição, ciclos peculiares de

carbono dissolvido e particulado, teias

microbianas e sedimentação. Por serem

rasos, estes lagos estão amplamente

sujeitos à ação eólica, radiação solar e às

variações climáticas, o que os torna

particularmente interessantes como

sinalizadores ecossistêmicos de processos

climáticos. Além disso, os ecossistemas

montanos são altamente vulneráveis à

deposição atmosférica de poluentes, o que

os torna ainda importantes testemunhos da

magnitude e extensão de impactos

derivados de atividades humanas.

Muito pouco se conhece sobre a

biodiversidade e processos ecológicos em

lagos de altitude no Brasil. Pela própria

singularidade topográfica, que restringe os

ecossistemas montanos a áreas

circunscritas da paisagem brasileira, e

ainda devido à incipiente diversificação de

estudos limnológicos, esses ecossistemas

singulares têm recebido pouca atenção

dos ecólogos aquáticos. Entretanto, as

lagoas de altitude podem representar

verdadeiros laboratórios evolutivos

naturais, nos quais o grau de especiação e

endemismo pode ser particularmente

expressivo (PSENNER, 2002).

Diversos lagos de altitude são

encontrados na região conhecida como

“Quadrilátero Ferrífero”, em Minas Gerais

(OLIVEIRA, ENDO & OLIVEIRA, 2005).

Historicamente, o Estado se notabilizou pela

exploração de recursos minerais,

notadamente minério de ferro e pedras

preciosas nesta região, que ainda hoje

corresponde a uma parcela expressiva da

renda per capita estadual. Essas atividades,

entretanto, foram e ainda são responsáveis

por um panorama de extinções e

devastação ambiental, que acabaram por

elevar à condição crítica de conservação

importantes biomas brasileiros como o

Cerrado e a Mata Atlântica.

Os ecossistemas montanos da região

do Quadrilátero Ferrífero, situados em

37MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

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2009 queimou toda a Lagoa Seca, um

dos lagos intermitentes do Parque,

alterando drasticamente a sua paisagem

e sua biota (FIG. 1).

Estudos iniciados em 2008 nestes lagos

rasos de altitude têm demonstrado a

singularidade da fauna de invertebrados,

com a presença abundante de organismos

exclusivamente associados a plantas,

como microcrustáceos dos gêneros Alona,

Chydorus e Simocephalus. Em uma

pesquisa que vem sendo realizada com o

zooplâncton, uma comunidade composta

por microcrustáceos, protozoários e

rotíferos, estamos obtendo informações

valiosas sobre os processos de

recomposição da biodiversidade aquática.

Os organismos do zooplâncton podem

produzir ovos especiais que resistem à

seca, chamados de “ovos de resistência”.

Atualmente, estamos averiguando se o

sincronismo entre o início do período seco

e a formação desses ovos de resistência

pode ser afetado pela abundância de

predadores naturais das populações, ou

apenas aos eventos climáticos sazonais.

Se os ovos forem produzidos apenas em

função dos períodos de seca extrema,

essas estruturas podem representar

importantes indicadores biológicos de

mudanças ecossistêmicas de larga escala.

Os dados obtidos até o momento para

lagos montanos, em todo o mundo,

apontam para o alto grau de vulnerabilidade

desses ambientes aos impactos da ação

humana, mesmo em ambientes distantes

de grandes aglomerados humanos

(MURPHY, THOMPSON & VINEBROOKE,

38 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

altitudes de aproximadamente 1500 m, estão

inseridos em uma estrutura geológica

denominada “canga”, caracterizada por

conglomerados ferruginosos superficiais,

encontrados nas montanhas formadas por

depósitos de minério de ferro, com solos

ferruginosos e geralmente ácidos. Neste

contexto, os sistemas lacustres e sua biota

estão sujeitos, além das forçantes climáticas,

aos processos seletivos desencadeados pela

estrutura geológica de entorno.

Os lagos temporários de altitude são

sistemas de extrema importância

geológica-ambiental. Em função do seu

contexto geológico e escala temporal

relativamente curta, caracterizam habitats

bastante sensíveis. Do ponto de vista

ambiental, os dados preliminares sobre a

diversidade biológica indicam a presença

de espécies ameaçadas de extinção. Os

resultados preliminares obtidos em

estudos de ecossistemas lacustres

montanos apontam, ao contrário do

descrito para vertebrados, a ocorrência

de uma fauna de invertebrados típica

desses ecossistemas e, especialmente

para alguns microcrustáceos como

copépodos, com uma alta proporção de

espécies exclusivas (BRASIL, 2002). Os

dados biológicos apresentados, aliados à

grande fragilidade do ecossistema e ao

grau de ameaça existente, justificam que

essas áreas sejam caracterizadas como

de alta prioridade de conservação. Em

um claro exemplo da vulnerabilidade

desses ambientes lacustres, um incêndio

de grandes proporções no Parque

Estadual do Itacolomi (Ouro Preto), em

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FIGURA 1 - Lagoa Seca no Parque Estadual do Itacolomi:A) Antes do incêndio de 2009;B) Depois do incêndio de 2009.

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Referências

BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE.Avaliação e identificação de áreas e açõesprioritárias para a conservação, utilizaçãosustentável e repartição dos benefícios dabiodiversidade nos biomas brasileiros. Brasília:MMA/Secretaria de Biodiversidade e Florestas2002. 404 p.

MURPHY, C.A.; THOMPSON, P.L.; VINEBROOKE,R.D. Assessing the sensitivity of alpine lakes andponds to nitrogen deposition in the Canadian RockyMountains. Hydrobiologia, v. 648, p. 83-90, 2010.(Número especial)

OLIVEIRA, N.V.; ENDO, I.; OLIVEIRA, L.G.S.Geometria sinclinal Gandarela baseada nadeconvolução Euler 2D e 3D – QuadriláteroFerrífero, MG. Revista Brasileira de Geofísica, v.23, p. 221-232, 2005.

PSENNER, R. Alpine waters in the interplay of globalchange: complex links – simple effects? In:STEININGER, K. W. & H. WECK-HANNEMANN.Global Environmental Change in Alpine Region.New Horizons in Environmental Economics.Cheltenham: Edward Eldgar, 2002. 271 p.

WETZEL, R. G. Limnology: lake and riverecosystems. 3. ed. USA: Academic Press, 2001.1006p.

40 MG.BIOTA, Belo Horizonte, v.4, n.1, abr./mai. 2011

2010). A observação de sua dinâmica e de

suas comunidades, de suas espécies-

chave e de suas interações ecológicas

pode fornecer novas e importantes

informações para a conservação desses

ambientes aquáticos singulares.

Eneida Maria Eskinazi Sant’Anna

Professora Adjunta. Universidade Federal de Ouro

Preto. Departamento de Biodiversidade, Evolução e

Meio Ambiente. Laboratório de Ecologia Aquática. E-

mail: [email protected]

Luciana Diniz Freitas

Mestranda do PPG em Ciências da Engenharia

Ambiental. Centro de Recursos Hídricos e Ecologia

Aplicada, Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo. E-mail:

[email protected]

Raquel Aparecida Moreira

Graduanda Ciências Biológicas. UFOP. DEBIO.

Laboratório de Ecologia Aquática. E-mail:

[email protected]