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INSTINTOS E HÁBITOS DE PENSAMENTO COMO FATORES DE DESENVOLVIMENTO: RELEITURA A PARTIR DE THORSTEIN VEBLEN Ana Carolina Moura (UFSM): [email protected] Maríndia Brites (UFSM): [email protected] Vanessa Zucco (UFSM): [email protected] Solange Regina Marin (UFSM): [email protected],br Área Temática: Temas Especiais Resumo: Nos recentes trabalhos sobre crescimento e desenvolvimento econômico tem-se destacado a importância das instituições. O Antigo institucionalismo norte-americano foi uma das escolas pioneiras que trouxe fatores imateriais para a análise socioeconômica. Thorstein Veblen (1957-1929), foi o precursor e a grande inspiração intelectual dessa escola de pensamento, portanto espera-se encontrar as contribuições mais originais do antigo institucionalismo na obra de Veblen. Dessa forma é necessário entender os conceitos centrais de Veblen, instituições e comportamento humano, para chegar-se no conceito de desenvolvimento. Veblen escreve a sua crítica à economia da época- utilitarista e marginalista- no período em que a economia está se profissionalizando como ciência, nos EUA. Veblen constrói sua própria metodologia a partir da crítica das ideias e dos sistemas de economia política da sua época. Uma de suas principais críticas era que a economia permaneceu teleológica enquanto as demais ciências haviam abandonado esse caráter. Assim ele estabelece sua própria “economia evolucionária”, influenciado pela Teoria Evolucionária de Charles Darwin e também pela psicologia instinto-hábito de William James. Um dos principais pressupostos a ser discutido é a concepção de natureza humana. Para Veblen, o comportamento humano é formado por instintos e hábitos que se influenciam mutualmente. Com isso, o homem de Veblen se afasta do homo economicus neoclássico, pois além de sofrer a influência desses instintos e hábitos, seu comportamento também é moldado pelo ambiente social, ou seja, o comportamento humano está intimamente ligado as instituições. Para Veble, as instituições são um conjunto de hábitos mentais dos indivíduos que se tornam sociais. Essas instituições podem estar internalizadas nas pessoas, na forma de hábitos de pensamento, ou ocorrerem por pressões sociais para serem cumpridas. As instituições que tem-se hoje são formadas de hábitos herdados de uma época anterior e estão adaptadas a circunstâncias passadas. Dessa forma, elas não estão de pleno acordo com as exigências que os indivíduos têm no presente. É desse conflito que nasce o conceito de desenvolvimento para Veblen. Para ele o desenvolvimento de uma sociedade é o mesmo que o desenvolvimento de suas instituições. A estrutura social sofre mudanças, sendo capaz de evoluir e adaptar-se a situações geradas pela mudança de hábitos mentais da maioria dos indivíduos que compõe a comunidade. Palavras-chave: Thorstein Veblen, Comportamento Humano; Desenvolvimento

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INSTINTOS E HÁBITOS DE PENSAMENTO COMO FATORES DE

DESENVOLVIMENTO: RELEITURA A PARTIR DE THORSTEIN VEBLEN

Ana Carolina Moura (UFSM): [email protected]

Maríndia Brites (UFSM): [email protected]

Vanessa Zucco (UFSM): [email protected]

Solange Regina Marin (UFSM): [email protected],br

Área Temática: Temas Especiais

Resumo:

Nos recentes trabalhos sobre crescimento e desenvolvimento econômico tem-se destacado a

importância das instituições. O Antigo institucionalismo norte-americano foi uma das escolas

pioneiras que trouxe fatores imateriais para a análise socioeconômica. Thorstein Veblen

(1957-1929), foi o precursor e a grande inspiração intelectual dessa escola de pensamento,

portanto espera-se encontrar as contribuições mais originais do antigo institucionalismo na

obra de Veblen. Dessa forma é necessário entender os conceitos centrais de Veblen,

instituições e comportamento humano, para chegar-se no conceito de desenvolvimento.

Veblen escreve a sua crítica à economia da época- utilitarista e marginalista- no período em

que a economia está se profissionalizando como ciência, nos EUA. Veblen constrói sua

própria metodologia a partir da crítica das ideias e dos sistemas de economia política da sua

época. Uma de suas principais críticas era que a economia permaneceu teleológica enquanto

as demais ciências haviam abandonado esse caráter. Assim ele estabelece sua própria

“economia evolucionária”, influenciado pela Teoria Evolucionária de Charles Darwin e

também pela psicologia instinto-hábito de William James. Um dos principais pressupostos a

ser discutido é a concepção de natureza humana. Para Veblen, o comportamento humano é

formado por instintos e hábitos que se influenciam mutualmente. Com isso, o homem de

Veblen se afasta do homo economicus neoclássico, pois além de sofrer a influência desses

instintos e hábitos, seu comportamento também é moldado pelo ambiente social, ou seja, o

comportamento humano está intimamente ligado as instituições. Para Veble, as instituições

são um conjunto de hábitos mentais dos indivíduos que se tornam sociais. Essas instituições

podem estar internalizadas nas pessoas, na forma de hábitos de pensamento, ou ocorrerem por

pressões sociais para serem cumpridas. As instituições que tem-se hoje são formadas de

hábitos herdados de uma época anterior e estão adaptadas a circunstâncias passadas. Dessa

forma, elas não estão de pleno acordo com as exigências que os indivíduos têm no presente. É

desse conflito que nasce o conceito de desenvolvimento para Veblen. Para ele o

desenvolvimento de uma sociedade é o mesmo que o desenvolvimento de suas instituições. A

estrutura social sofre mudanças, sendo capaz de evoluir e adaptar-se a situações geradas pela

mudança de hábitos mentais da maioria dos indivíduos que compõe a comunidade.

Palavras-chave: Thorstein Veblen, Comportamento Humano; Desenvolvimento

INTRODUÇÃO

O uso do termo “economia institucional” surgiu entre os anos de 1916 e 1918, quando a

escola institucionalista era apresentada como uma inovação, cujas ideias incluíam outras áreas

da economia, como a psicologia, além de dar relevância para a política social e de reforma. A

partir da década de 30, a economia institucionalista começa a demostrar seus pontos fracos e

os primeiros sinais de decadência, diminuição de seu caráter interdisciplinar, da divergência

entre os próprios economistas institucionalistas e principalmente pela Depressão de 1929, que

consagra as ideias de Keynes e levanta dúvidas quanto a análise da economia institucional

(Rutherford, 2000).

Hodgson (2007) ressalta que é na década de 90 que as institucionalistas e evolucionárias

ressurgem nas discussões econômicas, explicando a existência de algumas instituições

jurídicas, sociais ou políticas e o comportamento do indivíduo para os modelos econômicos.

Pessali e Dalton (2010) afirmam que nos recentes debates sobre o desenvolvimento

econômico tem se destacado a categoria das instituições, como engrenagens desse processo.

Elas ganham destaque também como uma das medidas de desenvolvimento. Para os autores a

concepção de instituições gira em torno de duas visões. A primeira define-se essencialmente

como estrutura social que delimita o comportamento humano. A segunda visão é mais ampla,

pois, além de incorporar o caráter limitador, incorpora também o caráter motivador e

informativo das instituições como estruturas sociais que conduzem e tornam o indivíduo

capaz de tomar certas ações.

As instituições são fundamentais também para compreender as diferentes trajetórias de

crescimento econômico, tanto em um nível macroeconômico, quanto microeconômico.

Portanto, é necessário defini-las, o que não é uma tarefa fácil. A definição de instituições é

complexa e muitas vezes ambígua (CONCEIÇÃO, 2002)

Segundo Monastério (1998), o antigo institucionalismo norte-americano foi uma das

primeiras escolas de pensamento econômico que trouxe elementos que não são encontrados

diretamente na realidade material, ou seja, fatores imateriais que influenciam a esfera

socioeconômica.

Thorsthein Veblen (1857-1929), John R. Commons (1862-1945) e Wesley C. Mitchel

(1874-1948) compõem a matriz da escola institucionalista norte-americana que segundo

Hodgson (1998, apud Conceição 2001) é uma linha de pensamento oposta ao neoclassicismo1.

Para Conceição (2001), a matriz do pensamento institucionalista tem como núcleo os

conceitos de instituições, hábitos, regras e suas evoluções, estabelecendo vínculo com

especificidades históricas e com a abordagem evolucionária.

Os estudiosos do institucionalismo apontam Thorstein Veblen como precursor desta

escola de pensamento, portanto se espera que as contribuições mais originais do antigo

institucionalismo sejam encontradas em suas obras. Mesmo que não se tenha dados concretos,

é um fato que as obras de Veblen são citadas com maior frequência pelos que estudam o

institucionalismo, tendo ele mais destaque que todos os seus seguidores imediatos

(MONASTÉRIO, 1998). Provavelmente é mais exato dizer que Veblen forneceu grande parte

da inspiração intelectual para o Antigo Institucionalismo embora as outras influências

forneceram contribuições de grande importância (RUTHERFORD, 2001)

Fernandez e Pessali (2006) argumentam que Veblen comunga com a Escola histórica

alemã, com a filosofia pragmatista americana e com o evolucionismo de Charles Darwin para

confrontar a prática marginalista de, por exemplo, explicar como a firma produz bens via uma

função de produção. Além disso, Camic; Hodgson (2011) argumentam que Veblen adotou a

psicologia – conceitos de instintos e hábitos – de William James. Disso, a necessidade de

entender os conceitos centrais – instituições e comportamento humano, especialmente a

importância dos instintos e dos hábitos – da obra de Veblen para a compreensão do conceito

de desenvolvimento. O argumento defendido é o de que o conceito de desenvolvimento para

Veblen depende da sua construção do homem a partir de seus instintos e hábitos – diferente

do homo economicus – e da coexistência desse homem com o ambiente institucional.

O artigo está dividido em quatro além da introdução. A segunda apresenta uma

biografia da vida e obra de Veblen; terceira e quarta seções tratam respectivamente da: teoria

do comportamento humano de Veblen, dos conceitos de instituições e do entendimento do

desenvolvimento para o autor. Por fim, algumas considerações.

1. THORSTEIN VEBLEN: UMA BREVE BIOGRAFIA

1 Segundo Hodgson (1998, p. 169), o termo economia neoclássica, originalmente cunhado por Veblen, pode ser

convenientemente definido como uma abordagem que: 1. Assume comportamento racional e maximizador dos

agentes e funções de preferência dadas e estáveis, 2. Tem o foco em alcançar ou de movimentos para a situação

de equilíbrio e 3. Exclui problemas de informações.

Para poder compreender de forma mais ampla a metodologia, economia política e o

próprio pensamento de Thorstein Veblen (1857-1929), é necessário fazer uma análise

contextual sobre o período histórico no qual o autor estava inserido e a sucessão de fatos em

sua vida. Assim como Cavalieri (2013) pressupõe, é necessário fazer uma investigação sobre

os fomentos que a conjuntura cultural instiga sobre o autor.

Nascido em 1857, Thorstein Bunde Veblen era um dos filhos de uma humilde família

de imigrantes noruegueses que se estabeleceram, Wisconsin, no centro-norte dos Estados

Unidos. Assim como grande parte dos imigrantes que se estabeleceram no interior dos

Estados Unidos, a comunidade em que Veblen estava inserido, conservou os costumes e

tradições de suas origens, dentre os quais se incluíam a religião luterana e os idiomas nórdicos

(MONASTÉRIO, 1998).

Aos 17 anos Veblen foi enviado ao Carleton Collage Academy, onde o forte era o

ensino da Teologia, sua família mantinha a esperança que ele seguisse a carreira clerical. Foi

nesse período que pode desenvolver seus conhecimentos, até então superficiais, em língua

inglesa2. No Carleton Collage, Veblen sofreu grande influência intelectual de John Bates

Clarck, professor de economia política e história (VEBLEN, 1983; MONASTÉRIO 1998).

Após graduar-se em Carleton, Veblen ingressou na Universidade de Yale, onde estudou

filosofia. Em Yale, Veblen aprofundou seu conhecimento em Kant, Darwin e Spencer, autores

que tiveram notável influência em seus trabalhos, e obteve o título de doutorado em 1884,

com a tese “Os Fundamentos Éticos da Doutrina da Redistribuição” (VEBLEN, 1983).

Em 1892, Veblen aceitou o convite de seu ex-professor Laurence Laughlin (1850-1933)

para lecionar na Universidade de Chicago. Assim como Monastério (1998) destaca, os mais

de dez anos que Veblen viveu em Chicago resultam no período de maior importância em

termos de produção intelectual. “Os artigos publicados durante este intervalo de tempo

contêm, por vezes em forma apenas embrionária, as ideias principais que nortearam toda a sua

obra” (Monastério, 1998, p. 15).

2 Em sua seção sobre a retórica de Veblen, Monastério (1998) relata a dificuldade que o estilo do autor reflete

sobre quem se aventura em suas obras, incluindo aqueles que dominam o inglês. Esse fato acaba promovendo

consequências negativas à Veblen como o desestímulo e afastamento de leitores, a má formulação de críticas aos

seus trabalhos e seu isolamento no meio acadêmico. É possível que exista uma relação entre a presença, de certa

forma, tardia do idioma inglês na vida de Veblen, e seus traços linguísticos característicos, com seu estilo de

difícil compreensão. Onde a construção do modo de expressão e da própria retórica que Veblen desenvolveu

deram-se sob base da estrutura dos idiomas nórdicos.

Segundo Cavalieri (2012), de 1892 a 1909, Veblen publicou mais de 40 resenhas e

quase 30 artigos em sua maioria no Journal of Political Economy, onde foi editor até 19063.

São desse período as obras A Teoria da Classe Ociosa (1899) e The Theory of Business

Enterprise (1904). Monastério (1998) afirma que a publicação da Teoria da Classe Ociosa foi

um marco na carreira de Veblen e o transformou em uma celebridade entre os intelectuais

norte-americanos.

Entre 1899 e 1900, Veblen Publica no Quarterly Journal of Economics uma série de

artigos onde faz críticas aos clássicos – especialmente Smith, J. S. Mill e Cairner – e seus

predecessores fisiocratas. Nesse mesmo periódico, Veblen analisa a economia de Marx e seus

seguidores em 1906 e 1907. Porém, foi no Journal of Political Economy que ele publicou The

Limitations of Marginal Utility, em 1909 (CAVALIERI, 2013). Cavalieri (2012) ressalta que

o período que Veblen estava veiculando as suas críticas nesses dois periódicos, foi o mesmo

momento de profissionalização da economia como ciência nos EUA.

Em 1914, Veblen lança a obra The Instinct of Workmanship and the State of Industrial

Arts. Segundo Cavalieri (2013), nesta obra o autor apresenta de maneira mais clara e bem

estruturada a sua metodologia e pretende esclarecer qual era o sentido da palavra instinto,

peça chave na construção de sua teoria, bem como a maneira que ela seria usada. Veblen

considerava essa obra a mais importante entre todas (MONASTÉRIO, 1998; CAVALIERI,

2013).

Veblen segue publicando diversas obras até aposentar-se da vida acadêmica, em 1927.

Ele era descontente com a teoria econômica de seu tempo (Utilitarista e Marginalista),

especialmente os pensadores marginalistas, como William Stanley Jevons, Alfred Marshall e

John Bates Clark, seu trabalho parte da crítica dessas ideais e dos sistemas de economia

política propostos na sua época. A partir disso Veblen constrói sua própria metodologia e sua

concepção de ciência pós-evolucionária (CAVALIERI, 2013). O objetivo dessa breve

biografia foi apresentar Thorstein Veblen e contextualiza o período em que o autor estava

escrevendo, bem como apresentar as suas mais famosas obras.

As próximas seções pretendem expor seus conceitos chave e como se dá a construção

do desenvolvimento institucional, para isso o ponto de partida é o comportamento humano.

3 O fato de Veblen publicar em revistas com audiências variadas, como a The American Journal of Sociology

(AJS), é um dos argumentos usados para afastar o autor das Ciências Econômicas

2. O COMPORTAMENTO HUMANO EM VEBLEN

Uma das principais críticas de Veblen (1898a; 1906) era que a Economia permaneceu

teleológica enquanto que a maioria das ciências, sobretudo as naturais, haviam deixado seu

caráter teleológico. Segundo o autor “while knowledge is construed in teleological terms, in

terms of personal interest and attention, this teleological amplitude is itself reducible to a

product of unteleological natural selection” (Veblen, 1906, p.589). Para Veblen, o

Darwinismo envolve a rejeição da razão teleológica em favor de uma análise detalhada das

causas e efeitos. (HODGSON, 2012).

Ao afirmar que a Economia permanecia estática, Veblen estabelece sua própria

“economia evolucionária” como uma alternativa à economia neoclássica. Na elaboração, o

autor é altamente influenciado pela Teoria Evolucionária de Charles Darwin

(MONASTÉRIO, 1998). Também recebe influência da psicologia instinto-hábito de William

James. Por isso, um dos principais pressupostos a serem discutidos é a concepção de natureza

humana que estava norteando as análises da economia dentro da ótica marginalista e

austríaca. Veblen (1989a) afirma a necessidade de pensar sobre o caráter passivo e imutável

da natureza humana presente nos herdeiros de Menger ou dos austríacos. “...the human

material with the inquiry is concerned is conceived in hedonistic terms, that is to say, in terms

of a passive and substantially inert and immutably given human nature” (Veblen, 1898a, p.

411).

Para tratar do comportamento humano em Veblen é necessário entender a posição que

ele tomava com relação ao homo economicus – uma definição que considerava ultrapassada

(Monastério, 2005). Para Steingraber e Fernandez (2013), o conceito de homo economicus

surgiu a partir da necessidade de matematizar o comportamento dos indivíduos, sob a forma

de generalizações e pressupostos básicos que assumiram um comportamento padrão, sem

falhas ou imperfeições de conhecimento para o agente econômico.

Veblen tinha uma postura crítica em relação à economia neoclássica, especialmente os

pensadores marginalistas, como William Stanley Jevons, Alfred Marshall e John Bates Clark

(Cavalieri, 2013). Para Veblen (1909), as limitações da economia da utilidade marginal são

características. É uma doutrina sobre valor, e na forma e método é uma teoria da avaliação. A

escola da utilidade marginal é convergente com a economia clássica do século XIX, ambas

são teleológicas e não conseguem tratar teoricamente com os fenômenos de mudança. A

teoria da utilidade marginal concebe e interpreta a conduta humana como uma resposta

racional as exigências das situações que os indivíduos se deparam. A conduta econômica

também é uma resposta reacional aos estímulos de prazer.

Ainda segundo Cavalieri (2013), a crítica principal aos marginalistas era que estes

consideram a teleologia como característica proeminente, além de adotarem uma concepção

errada sobre a natureza humana. Para Monastério (2006), os neoclássicos defendiam uma

concepção restritiva do ser humano, não consideravam a existência dos fatos institucionais,

por exemplo.

Se não fosse pelo fato de que a eficiência pecuniária é um conjunto incompatível com eficiência

industrial, a ação seletiva de todas as ocupações tenderia para o domínio irrestrito do

temperamento pecuniário. O resultado seria a instalação daquilo que se conhece por “o homem

econômico” como tipo normal e definitivo da natureza humana. Mas o “homem econômico”, cujo

único interesse é egoísta, cujo único traço humano consiste na prudência, é inútil para os

propósitos da indústria moderna (Veblen, 1983 p. 109).

Monastério (2006) sintetiza a crítica de Veblen ao homo economicus formulada pelos

neoclássicos em quatro tópicos. A primeira objeção refere-se a concepção hedonista do

indivíduo maximizador e da visão que afirma que os indivíduos são perspicazes e dotados do

poder da previsão, ou seja, Veblen faz uma restrição quanto à eficiência da racionalidade.

Segundo Hodgson (2012), a teoria da racionalidade erra pela busca incessante na

generalização, que em casos específicos o seu poder explicativo é drasticamente reduzido,

além de excluir da sua análise as características históricas, culturas e institucionais.

Segundo Steingraber e Fernandez (2013), os institucionalistas nunca puderam assumir a

racionalidade como verdadeira, pois consideram que os indivíduos não agem exclusivamente

por seus interesses e que o ambiente institucional é muito mais complexo e sujeito a mais

restrições do que as puramente econômicas.

A segunda crítica é com relação a postura passiva do homem, que afirma que o

comportamento humano é sempre resultado pela busca da satisfação, onde o homem não faz o

gesto inicial, mas se ajusta de acordo com as forças que agem sobre o sua postura. Para

Veblen (1906), a ação inicial é característica do homem e parte do processo.

(...) human conduct is conceived of and interpreted as a rational response to the exigencies of the

situation in which mankind is placed; as regards economic conduct it is such a rational and

unprejudiced response to the stimulus of anticipated pleasure and pain being, typically and

in the main, a response to the promptings of antic pated pleasure, for the hedonists of the

nineteenth century and of the marginal-utility school are in the main of an optimistic

temper. Mankind is, on the whole and normally, (conceived to be) clearsighted and

farsighted in its appreciation of future sensuous gains and losses, although there may be

some (inconsiderable) difference between men in this respect. Men's activities differ,

therefore, (inconsiderably) in respect of the alertness of the response and the nicety of

adjustment of irksome pain-cost to apprehended future sensuous gain; but, on the whole, no

other ground or line or guidance of conduct than this rationalistic calculus falls properly

within the cognizance of the economic hedonists (Veblen, 1906, p. 234-235).

O terceiro ponto de crítica de Veblen, conforme Monastério (2006), combate à ideia de

imutabilidade do homem diante de pressões externas; o indivíduo não tem uma história de

vida. Se uma força pressionar o indivíduo, este sempre voltará ao ponto de equilíbrio inicial.

He has neither antecedent nor consequent. He is an isolated, definitive human datum, in stable

equilibrium except for the buffets of the impinging forces that displace him in one direction

or another. Self-imposed in elemental space, he spins symmetrically about his own spiritual

axis until the parallelogram of forces bears down upon him, whereupon he follows the line

of the resultant. When the force of the impact is spent, he comes to rest, a self contained

globule of desire as before. Spiritually, the hedonistic man is not a prime mover. He is not

the seat of a process of living, except in the sense that he is subject to a series of

permutations enforced upon him by circumstances external and alien to him (Veblen, 1906,

p. 73-74).

Por último, Veblen (1914) acredita ser inadequado pensar em uma teoria de conduta

humana considerando apenas as características individuais; é preciso levar em conta os

fenômenos que ocorrem dentro de um grupo ou sociedade. “The state of the industrial arts is a

fact of group life, not of individual or private initiative or innovation. It is an affair of the

collectivity, not a creative achievement of individuals working self-sufficiently in severalty or

in isolation” (Veblen, 1914, p. 103). Veblen (1898a) defende uma outra visão de homem que

implica “the change is always in the last resort a change in habits of thought (p. 412).

Para Veblen (1898a), os economistas que aceitam os preconceitos hedonísticos sobre a

natureza/ação humana e concepção de interesse econômico com psicologia hedonista:

…does not afford material for a theory of the development of human nature. Under hedonism the

economic interest is not conceived in terms of action. It is therefore not readily apprehended or

appreciated in terms of a cumulative growth of habits of thought, and does not provoke, even if did

lend itself to, treatment by the evolutionary method (Veblen, 1898a, p. 413).

De acordo com Monastério (1998), a análise do comportamento humano em Veblen

deve incorporar os conceitos de “razão suficiente” e “causa eficiente” que, de forma

equivalente, significa que a conduta humana é motivada conjuntamente por fatores racionais e

habituais. A “razão suficiente” e a “causa eficiente” são os dois fundamentos básicos do

conhecimento teórico.

O primeiro trata de como os acontecimentos futuros determinam os atos presentes e,

ao considerar que a Economia trata da conduta humana e enfoca nos indivíduos capazes de

refletir, qualquer teoria econômica faz uso desse fundamento básico. Para Monastério (2006),

Veblen critica a economia neoclássica, pois esta só inclui nas ações dos indivíduos

características restritas.

Porém, Monastério (1998) ressalta que a economia não deve fazer uso somente da

racionalidade suficiente, mas também da causa eficiente. A causa eficiente é impessoal,

objetiva e determinística, sendo o contrário da primeira. O seu conceito é oriundo da relação

de causa e efeito, onde não há reflexão do agente, ou seja, é o comportamento habitual; não

leva em conta o resultado das ações.

Além dos hábitos de pensamento, as instituições guardam relação com a causa eficiente,

pois nesta não há espaço para reflexão por parte do agente, enquanto a razão suficiente é

identificada com atividades deliberadamente racionais. Portanto, as relações de causa

eficiente participam da conduta humana sob a forma dos hábitos e exigências convencionais.

(MONASTÉRIO, 1998).

(...) though the degree in which intelligence is engaged may vary widely from one instinctive

disposition to another, and it may even fall into an extremely automatic shape in the case of some

of the simpler instincts, whose functional content is of a patently physiological character (Veblen,

1914, p. 30)

Segundo Hodgson (2000), Veblen argumenta que as instituições são o resultado do

comportamento individual e habitual bem como as instituições também afetam os indivíduos.

Under the discipline of habituation this logic and apparatus of ways and means falls into

conventional lines, acquires the consistency of custom and prescription, and so takes on an

institutional character and force. The accustomed ways of doing and thinking not only become an

habitual matter of course, easy and obvious, but they come likewise to be sanctioned by social

convention, and so become right and proper and give rise to principles of conduct. By use and

wont they are incorporated into the current scheme of common sense. As elements of the approved

scheme of conduct and pursuit these conventional ways and means take their place as proximate

ends of endeavor (Veblen, 1914, p. 7).

De acordo com Monastério (1998), para Veblen o agente tem seu comportamento

moldado pelas normas em vigor, ao buscar a aceitação em determinado grupo social no qual

está inserido. As instituições são fatores decisivos na modelagem da conduta humana4

(HOMAN, 1971 apud GÓMEZ, 2012). Mas, Camic; Hodgson (2011) enfatizam que a

explicação do fenômeno social não poderia ser reduzida nem para instituição, estrutura,

cultura ou individuo. Veblen entende instituições sociais e agência individual como

mutuamente constitutivos. Ambos (instituições e indivíduos) são necessários para as

explicações dos fenômenos sociais.

Quanto aos desejos, Monastério (1998) argumenta que Veblen percebe que estes são o

resultado das características inatas do indivíduo e da sua experiência vital, que se realizam

dentro de uma malha institucional e de circunstâncias materiais. Instituições, portanto,

4 Para uma discussão sobre comportamento humano e questões metodológicas em Veblen,, ver Camic; Hodgson

(2011), Hodgson (2007).

formam preferências e influenciam a formação dos desejos do indivíduo, através desse caráter

endógeno das preferências (MONASTÉRIO, 1998).

A instituição de uma classe ociosa afeta não apenas a estrutura social, mas também o caráter

individual dos membros da sociedade. Logo que determinada propensão ou determinado ponto de

vista for aceitas como padrão ou norma de vida autorizados, estes reagirão no caráter dos membros

da sociedade que os aceitarão, e até certo ponto, modelarão seus hábitos mentais e exercerão uma

vigilância seletiva no desenvolvimento das aptidões e das inclinações do homem. O efeito é em

parte conseguido por uma adaptação educacional coercitiva dos hábitos de todos os indivíduos, em

parte pela eliminação dos indivíduos inadaptados e suas descendências (Veblen, 1983, p. 97)

Segundo Monastério (1998), para Veblen, o homem não tem postura passiva e

características individualistas, o homem vebleniano é considerado mais complexo que o homo

economicus neoclássico. Este tem escalas de preferências, o de Veblen tem propensões

instintivas contraditórias; os objetivos sugeridos pelo instinto predatório e de trabalho eficaz

estão em evidente conflito. Essas contradições são uma “irracionalidade” estrutural dos

indivíduos, que para Veblen são conflitos internos que não se mostram para a consciência

dos indivíduos, e as ações seriam um fenômeno superficial influenciado por esses

processos ocultos. Tais atos têm de ser mediados por algum esquema teórico para que

adquiram significado, por si só, eles pouco informam acerca dos objetivos últimos

dos agentes. O quadro 1 apresenta as principais diferenças entre o homo economicus, da

teoria neoclássica, e o homem vebleniano.

Veblen estava insatisfeito com a teoria econômica de sua época e realizou críticas das

ideias e dos sistemas de economia política (CAVALIERI, 2013). Para Conceição (2001), uma

das críticas de Veblen ao pensamento neoclássico é sobre o pressuposto de uma falsa

concepção da natureza humana. O indivíduo é visto em termos hedonísticos, sendo um ser

socialmente passivo, inerte e imutável. Assim, a abordagem de Veblen está focada em três

pontos:

A inadequação da teoria neoclássica em tratar as inovações, supondo-as como dadas, e, portanto,

desconsiderando as condições de sua implantação; a preocupação, não com o “equilíbrio estável”,

mas em como se dá a mudança e o consequente crescimento; e a ênfase no processo de evolução

econômica e transformação tecnológica (Conceição, 2001, p.28).

Dessa análise sobre as alterações da conduta humana devido às instituições, é possível

notar que Veblen se afasta mais ainda do homo economicus. O quadro 1 apresenta as

principais diferenças entre o homo economicus, da teoria neoclássica, e o homo vebleniano,

Quadro 1 – Principais diferenças entre o homo economicus e o homo vebleniano

Homo economicus Homem vebleniano

Racionalidades Racionalidades e Irracionalidades

Postura Passiva Postura Ativa

Ênfase na Teleologia Ênfase no Processo

Escalas de preferência Instintos

Imutabilidade Evolucionário

Características individuais Características individuais e do grupo

Previsão perfeita Previsão falha Fonte: elaborado pelos autores.

Segundo Hodgson (2012), os valores e normas morais ou são desconsiderados na

abordagem neoclássica, ou eles são submetidos ao cálculo utilitário dos indivíduos em busca

de satisfação. De qualquer forma, o seu significado motivacional é esquecido. O valor

monetário é utilizado como o principal incentivo. Supõe-se que a tudo, incluindo valores

morais e estáticos, possa se dado um preço.

Para Hodgson (2013), para ter o entendimento sobre agentes humanos e suas

instituições é necessário resgatar as motivações morais. Ele argumenta que existem estudos

evolucionários recentes que podem ajudar preencher essa lacuna. Ao adotar a teoria darwiana

para tratar dessa questão, Hodgson (2013) afirma recordar o exemplo de Veblen de trazer

princípios darwinianos para as ciências sociais para entender as origens e funções de um

fenômeno social específico. Para Hodgson, Veblen compreendeu que nossas suposições sobre

natureza humana tinham que ser consistentes com nosso entendimento de evolução humana.

Além disso, “Veblen appreciated more than anyone the challenge that this meant for

mainstream economics” (Hodgson, 2013, p. xiii)5.

Os instintos e os hábitos ocupam um papel de destaque no comportamento humano

segundo Veblen e são conceitos de extrema importância na teoria do autor. A subseção a

seguir apresenta os conceitos de instintos e hábitos para Veblen.

3.1 O Papel dos Instintos e dos Hábitos no comportamento humano

Os hábitos são a chave para se entender o conceito de instituições segundo Veblen,

contudo para entender como os hábitos surgem na sociedade é necessário compreender o que

são os instintos.

5 Hodgson (2013) argumenta pela necessidade de ir além do que Veblen e outros destacaram sobre o papel da

moralidade em sustentar instituições and enhancing social cohesion in any society.

Para Veblen (1914), os instintos são os motores do comportamento do homem, que

determinam a vida do indivíduo, ou seja, a sua conduta. Os instintos propõem um objetivo

final, porém o que difere um instinto do outro é que cada um estabelece um objetivo ou objeto

final específico a ser atingido e são diferentes entre si. Veblen (1914) argumenta que os

instintos são interdependentes e, também, traços hereditários.

Segundo Conceição (2007), Veblen (1914) destaca três diferentes tipos de instintos: o

“instinto para o artesanato” (instinct of workmanship), o “instinto para o esporte” (instinct of

sportsmanship) e o instinto propensão emulativa. O instinct of workmanship seria a

propensão que o indivíduo tem de realizar uma ocupação útil e que possa identificá-lo dentro

de um determinado grupo social. O propósito das tarefas motivadas por este instinto é a

provisão material necessária para a sobrevivência da comunidade. Este instinto de cooperação

industrial permite ao ser humano ter uma percepção para identificar e desaprovar o

desperdício (CONCEIÇÃO, 2007).

[...] men’s common sense speaks unequivocally under the guidance of the instinct of

workmanship. They like to see others spend their life to some purpose, and they like to reflect that

their own life is of some use. All men have this quasi-aesthetic sense of economic or industrial

merit, and to this sense of economic merit futility and inefficiency are distasteful. In its positive

expression it is an impulse or instinct of workmanship; negatively it expresses itself in a

deprecation of waste (Veblen, 1898b, p.3).

Se por um lado, o instinct of workmanship seria um instinto coletivo, por outro lado o

instinct of sportmanship é um instinto individualista do ser humano. Segundo Conceição

(2007), ele pode não ser útil para a sociedade, como um todo, no entanto podem ter alguma

utilidade para o indivíduo. Este instinto caracteriza, por exemplo, a prática de guerras. Por ele,

os homens procuram se comparar uns com os outros na busca de possíveis superioridades,

como por exemplo, a procura contínua pela acumulação de recursos financeiros, o consumo

conspícuo6 das classes mais abastadas, etc.

The history of mankind, as conventionally written, has been a narrative of predatory exploits, and

this history is not commonly felt to be one-sided or misinformed. And a sportsmanlike inclination

to warfare is also to be found in nearly all modern communities. Similarly, the sense of honor, so-

called, whether it is individual or national honor, is also an expression of sportsmanship (Veblen,

1898b, p.4).

Por último, a propensão emulativa é resultado da natureza social do ser humano. O

homem, assim como outras espécies sociais, busca comportar-se de modo que seja aceito

pelos demais membros do grupo. A propensão emulativa faz com que o homem procure

reproduzir as atitudes que a comunidade em que está inserido julgue honoríficas ou meritórias

e evite atitudes que são vistas como inferiores. A propensão emulativa permite ao homem ter

6 Ver capítulo quatro da Teoria da Classe Ociosa (1983).

uma percepção das atitudes que seriam bem aceitas na sociedade onde está inserido, como

também a percepção das que seriam desaprovadas socialmente (CONCEIÇÃO, 2007).

Para Conceição (2007), a propensão emulativa vai depender do grau dos instintos “of

workmanship” e “of sportmanship”, pois o primeiro representa a interação coletiva dos

indivíduos, o outro representa o individualismo7, logo uma sociedade mais coletiva terá uma

propensão emulativa diferente de uma mais individualista, o que influenciará diretamente os

hábitos desta sociedade, e com isso as instituições.

Under the guidance of this taste for good work, men are compared with one another and with the

accepted ideals of efficiency, […] The visible achievement of one man is, therefore, compared

with that of another, and the award of esteem comes habitually to rest on an invidious comparison

of persons instead of on the immediate bearing of the given line of conduct upon the approved end

of action (Veblen, 1898b, p.8 e 9).

Os instintos determinam a conduta de um individuo, sendo que em cada indivíduo se

manifestam de uma forma em uma diversidade que parece interminável. Para Veblen (1914),

as propensões instintivas determinam os extremos da vida, ou objetivos finais, mas as formas

(meios) para se alcançar esses fins são através da inteligência, característica exclusiva do

homem.

O conjunto de formas e meios disponíveis para se alcançar os objetivos é uma questão

de tradição, um legado de hábitos de pensamento acumulados pelas experiências das gerações

passadas (VEBLEN, 1914). Segundo Monastério (1998), os padrões de comportamento são

criados pelos homens e especificam os meios a serem utilizados para se atingir os fins. Assim,

surgem os hábitos de vida que fazem com que o ser humano aja de acordo com um padrão de

comportamento sempre que for exposto a situações semelhantes. Para Veblen (1914),

diferente dos instintos, os hábitos são uma propensão que é moldada pelo ambiente e são

transmitidos pela cultura e não pelos genes.

Na visão de Veblen tanto instintos quanto hábitos são importantes. Mas, segundo

Hodgson (2004), Veblen acredita que os hábitos são uma propensão ou disposição. O

7 Segundo Bruno (2005), o método individualista que foi adotado pela Ciência Econômica tradicional pressupõe

que as propriedades dos sistemas ou estruturas são “derivações lógicas e necessárias das propriedades de suas

partes componentes” (Bruno, 2005, p.346), os indivíduos ou as firmas. Essa metodologia acarreta um

determinismo econômico unilateral, que atua a partir do princípio da racionalidade substantiva dos agentes

indivíduas em um ambiente social essencialmente organizado pela lógica do mercado.

Bruno (2005) afirma que o método holista ou estruturalista fechado produz, proporcionalmente ao

individualismo metodológico, um padrão determinista rígido e inflexível. “Na prática trata-se de suprimir os

sistemas de interação, convertendo-os em simples sistemas de papéis que serão ocupados por indivíduos ou

agentes que necessariamente se adequarão às imposições, frequentemente inescapáveis das estruturas e

organizações” (Bruno, 2005, p.346-347). Ao anular o ambiente para a ação criadora e transformadora dos

homens, anula-se juntamente o conteúdo histórico-dialético do aspecto humano na sociedade. “Em

consequência, a emergência de novas estruturas e formas de organização tem sua origem completamente

independente da ação humana, ou então é influenciada por esta última, mas de uma maneira inteiramente

mecânica e inconsciente” (Bruno, 2005, p.347).

significado de hábito adotado por Veblen é uma propensão adquirida, que pode ou não ser

expressa no comportamento atual. O comportamento repetido é importante para estabelecer

um hábito mas, não necessariamente esse hábito irá ser usado o tempo todo. Por ser uma

propensão, se comporta de maneira particular em determinadas situações.

Para Hodsgon (2004), instintos são essencialmente simples e dirigidos para algum fim

objetivo concreto. Hábitos são meios a partir dos quais a busca por esses fins poderiam ser

adaptadas a circunstâncias particulares. Em comparação com o instinto, o hábito é um meio

relativamente flexível de adaptação à complexidade, perturbação e mudança imprevisível.

Instintos são modelados e selecionados por milhares de anos e não refletem circunstâncias

transitórias. Já os hábitos são adquiridos por meio da imitação e permite um aprendizado

muito mais rápido, às vezes relacionado às circunstâncias desconhecidas (HODGSON, 2004).

A interpretação de Hodsgon (2004) é a de que a linha de argumentação de Veblen

mostra que os seres humanos se deparam com problemas diversos e em processo de mudança

em sua evolução e isso ajuda a formação de um mecanismo sofisticado de hábitos. É possível

argumentar que a capacidade para a formação de hábitos sofisticados e crescimento cultural

surgiu entre os seres humanos para lidar com a mudança, ambiente climático e imprevistos

naturais (HODGSON, 2004).

Além disso, para Hodgson (2004), a habituação é um mecanismo social, que

normalmente envolve a imitação de outros, ou resulta de um comportamento que é

repetidamente restringido por outros. Hábitos, em suma, são intimamente ligados com as

instituições sociais.

Segundo Veblen (1914), os hábitos são aqueles que se propagam na sociedade, se

tornam comuns, generalizam-se e acabam se enraizando no ambiente, vindo a constituir as

formas de instituições políticas, sociais e econômicas, ou seja, os hábitos se incorporam as

ações dos indivíduos e dentro de um mesmo ambiente passam a ser de prática comum e

socialmente aceitos, reforçando a existência de instituições. Para Hodgson (2004), na

perspectiva institucionalista, os hábitos são fundamentais para todo o pensamento e

comportamento. Todas as deliberações, incluindo a otimização racional, apoia-se nos hábitos.

Pode-se afirmar que os hábitos mais antigos que governam a vida das pessoas, os que

afetam a sua existência, são os mais persistentes e difíceis de mudar e quanto mais um hábito

coincidir com os costumes mais ele se fixará na conduta dos indivíduos (VEBLEN, 1983).

Monastério (1998) ressalta que a teoria do comportamento habitual não foi extensivamente

abordada por Veblen como foi feito com os instintos.

Sob a regência da habituação, as formas e meios encaixam-se em linhas convencionais,

adquirem o aspecto de costumes e tradição, e então tomam um caráter institucional

(VEBLEN, 1914). Lopes (2013) afirma que os hábitos são uma tendência de comportamento,

moldados pelas circunstâncias ambientais e transmitidos culturalmente. Sendo desenvolvidos

quando os indivíduos se relacionam em sociedade e buscam alcançar determinados objetivos

e estão ligados a comportamentos repetidos.

Veblen (1983) destaca a influência da tecnologia e dos meios de produção na formação

dos hábitos, considera que é possível a formação destes de acordo com o padrão tecnológico

vigente. A tecnologia da mecanização reforça os hábitos que já estão vigentes ao mesmo

tempo em que abre espaço para novas perspectivas que possuem potencial de transformação.

Para Bush (1987), a tecnologia para Veblen era um processo que surge da propensão humana

ao workmanship e do exercício da curiosidade intelectual.

It was embodied in the tool-skill nexus of problem-solving activities. The essence of technological

change, therefore, was the change in “prevalent habits of thought” associated with a given state of

arts and sciences. Veblen saw technological change as a process of “cumulative causation”. The

problem-solving processes of the community generate innovations in the ways of bringing

materials things to account, thereby changing the industrial environment in which the community

works; and this changed environment produces further changes in prevalent habits of thought

about how to conduct the community´s affairs (BUSH, 1987, p. 1087).

Segundo Lopes (2013), para que o hábito se constitua como uma regra ele precisa

adquirir características de um conteúdo normativo e ser potencialmente codificável. Sua

forma de manifestação ocorre por meio de um mecanismo psicológico que guia o

comportamento humano a seguir determinadas regras de aceitação geral.

No esquema evolucionário de Veblen existe um processo de “seleção institucional” em

conjunto com um processo de seleção natural. Indivíduos que possuem certos hábitos mais

bem aceitos serão positivamente selecionados, outros, serão isolados e até eliminados, por não

possuírem excelência de certos hábitos (CRUZ, 2014).

O comportamento humano, para Veblen, é formado pelos instintos, hábitos e

racionalidade integrados que se influenciam mutuamente. O homem vebleniano é dotado de

uma carga de instintos, hábitos, instituições e uma história pessoal que o diferencia do homo

economicus. Pode-se defender, seguindo Hodgson (2004), que partimos do entendimento do

comportamento humano por meio da interação de instintos herdados e hábitos adquiridos. Os

instintos sozinhos não podem explicar os resultados. O que pode ser destacado é que o

comportamento humano em Veblen é formado por instintos e hábitos, que sofrem influência e

são moldados pelo ambiente social. Isso difere da análise neoclássica e possui uma grande

relação com as instituições, porém o que são as instituições segundo Veblen? Discutiremos

sobre esse conceito a seguir.

4. O CONCEITO DE INSTITUIÇÕES SEGUNDO VEBLEN

Para Veblen (1983), as instituições são um conjunto de hábitos mentais dos indivíduos

que se tornam sociais, ou seja, se tornam hábitos, costumes da comunidade, em outras

palavras, as instituições são hábitos individuais que se institucionalizam. São resultados de

processos seletivos e adaptativos que moldam os tipos prevalecentes e dominantes de

“atitudes e aptidões espirituais” dentro de uma sociedade. “São, ao mesmo tempo, métodos

especiais de vida e de relações humanas, e constituem, por sua vez, fatores eficientes de

seleção” (Veblen, 1983, p.87). Para Monastério (1998), Veblen ressalta que as instituições

podem estar internalizadas nos indivíduos na forma de hábitos de pensamento ou ocorrem por

pressão social para que sejam cumpridas, enfatizando a primeira situação, onde a

internalização estaria em detrimento da coerção das instituições.

“A evolução da estrutura social foi um processo de seleção natural das instituições. O progresso

que se fez e que se vai fazendo nas instituições humanas e no caráter humano pode ser

considerado, de um modo geral, uma seleção natural dos hábitos mentais mais aptos e um processo

de adaptação forçada dos indivíduos a um hambiente que vem mudando progressivamente

mediante o desenvolvimento da comunidade e a mudança das instituições sob as quais o homem

vive” (Veblen, 1983 p. 87).

Portanto, as instituições são o resultado de um processo de seleção e adaptação que

molda os tipos dominantes de atitudes e aptidões espirituais. São, ao mesmo tempo, o método

de vida e relações humanas e constituem os fatores de seleção. “Mas além da seleção, bem

como entre tipos relativamente estáveis de caráter, e hábitos mentais, há ainda,

simultaneamente, um processo de adaptação seletiva de hábitos mentais, dentro da ordem de

aptidões, características e do tipo étnico (os) predominante.” (Veblen, 1983 p. 87-88).

Segundo Gómez (2012), Veblen apresenta a ideia de instituições como contrapartida de

hábitos que com o decorrer do tempo se enraízam em um ambiente, tornando-se amplamente

praticados e, portanto de aceitação geral, estes hábitos podem ser hábitos de pensamento e

formas de agir instintivas.

Cruz (2014) afirma que as instituições, quanto mais enraizadas, passam a constituir a

“maneira normal” de agir ou de se comportar e, também, podem significar a “única maneira

correta”. Muitas acabam se transformando em leis e decretos, mas as mais fortes são aquelas

habituações que estão presentes na cultura de uma comunidade como sendo óbvias, evidentes,

normais, sem qualquer necessidade de uma prescrição legal-autoritária para a sua execução.

As situações que se vive hoje delinearão as instituições do futuro, ou seja, as

instituições ou os hábitos mentais que se tem hoje foram herdados de uma época anterior. As

instituições são o resultado de processos passados e estão adaptadas a circunstâncias passadas

e, assim, não estão de pleno acordo com as exigências que se tem hoje, no presente

(VEBLEN, 1983).

Esse processo de adaptação seletiva não pode jamais emparelhar-se com a situação

progressivamente cambiante na qual a sociedade se encontra em qualquer época; pois o ambiente,

a situação, as exigências de vida que obrigam à adaptação e ao exercício da seleção mudam de dia

para dia; e cada sucessiva situação da comunidade tende por sua vez para o arcaísmo, nem bem foi

adotada. (Veblen, 1983, p.88).

Dessa forma, Veblen (1983) aponta que as instituições que vigoram hoje não estão

inteiramente adaptadas às situações atuais. Isso incita a evolução social, que segundo o autor,

é um processo de adaptação de hábitos mentais que parte dos indivíduos que sofrem pressão

de novas circunstâncias que já não admitem hábitos formados por circunstâncias que

pertencem ao passado.

A Figura 1 tenta esquematizar o conceito de Veblen sobre instituições. Para Veblen

(1983), as propensões instintivas formam os hábitos de pensamento dos indivíduos. Quando

esses hábitos individuais se tornam sociais eles se convertem em instituições. Essas

instituições também atuam restritivamente sobre o comportamento dos indivíduos para

moldá-lo.

Figura 1- O conceito de instituições segundo Veblen. Fonte: Elaborado pelos autores

As instituições para Veblen são um conjunto de hábitos mentais dos indivíduos que se

institucionalizam, ou seja, convertem-se em normas sociais. Elas são resultado e constituem

fatores dos processos de seleção e de adaptação e as situações vividas hoje moldarão as

instituições do futuro. As novas circunstâncias exigem do indivíduo que haja uma adaptação

de hábitos mentais; os hábitos que vinham vigorando já não são capazes de satisfazer as

necessidades trazidas pelas novas circunstâncias. É a partir desse conflito, de instituições

formadas numa época anterior e indivíduos que necessitam de uma mudança de hábitos para

ter suas novas exigências sociais correspondidas que o autor define o que é desenvolvimento

social, que será exposto na próxima seção.

5. O CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO DE VEBLEN

Para Veblen (1983), o desenvolvimento de uma sociedade é o mesmo que o

desenvolvimento das suas instituições. As instituições devem mudar com a mudança das

circunstâncias, uma vez que é da natureza de seu método habitual responder aos estímulos que

essas circunstâncias variáveis lhes proporcionam. O próprio desenvolvimento constitui uma

mudança que exige adaptação, e portanto torna-se a origem de um novo passo rumo ao

ajustamento e essa situação é repetida interminavelmente (VEBLEN, 1983).

As instituições de uma sociedade que vigoram em uma determinada época são produtos

de hábitos oriundos de um tempo anterior a essa época, ou seja, estão adaptadas às

circunstâncias passadas, dessa forma nunca estão em pleno acordo com as exigências do

presente. “Deve-se portanto notar (embora isso seja um tedioso truísmo) que as instituições de

hoje – o esquema de vida aceito hoje – não se adaptam inteiramente à situação atual” (Veblen,

1983, p.88). Essas instituições herdadas de hábitos antigos são fatores de inércia social,

psicológica e conservadorismo (VEBLEN,1983).

Veblen (1983) argumenta que a estrutura social sofre mudanças, sendo capaz de evoluir

e adaptar-se a situações geradas pela mudança de hábitos mentais das várias classes da

comunidade ou a mudança de hábitos da maioria dos indivíduos que a compõe. O

desenvolvimento é visto como evolução e é um processo de adaptação mental que parte dos

indivíduos, que sofrem pressão de novas circunstâncias e cujos hábitos mentais, formados no

passado, não são mais capazes de corresponder a essas circunstâncias. Hodgson (1998) afirma

que Veblen foi o primeiro autor que tentou desenvolver uma teoria da evolução econômica e

institucional seguindo uma linha essencialmente darwiniana.

O ambiente em mudança exerce uma pressão sobre o grupo, comunidade ou sociedade e

favorece o reajustamento do esquema de vida. Essa pressão é, muitas vezes, na forma de

exigências pecuniárias, ou seja, as forças externas são em grande parte oriundas de exigências

econômicas. É devido a esse fato que se pode afirmar que as forças que contam na direção de

um reajustamento das instituições nas modernas comunidades industriais são principalmente

forças econômicas, ou mais especificamente, pressão pecuniária (VEBLEN, 1983).

Segundo Veblen (1983), é empiricamente evidente que a classe rica, ou nas suas

palavras, classe ociosa, é conservadora, pelo fato de ela ser “instintivamente” avessa a

mudança de seu modo de vida; seu interesse é na conservação das condições vigentes. Toda e

qualquer mudança de hábitos de vida e pensamento é vista como incômoda. A classe rica não

cede as exigências de inovação com a mesma facilidade que os homens que compõe as classes

abaixo dela, porque não é pressionada a isso. Esse conservadorismo dos membros da classe

rica é um traço visível e já chegou a ser considerado um sinal de respeitabilidade, o que deu

respaldo de naturalidade aos hábitos conservadores. O conservadorismo, por ser uma

característica da classe mais rica, é considerado respeitável, enquanto a inovação é vista como

vulgar, pois é um fenômeno atribuído a classe mais baixa.

Os usos, ações e ideias da classe ociosa adquirem caráter de regra normativa e conduta

para o resto da sociedade, isso agrega ainda mais importância a influência conservadora dessa

classe. As pessoas que desejam ser consideradas respeitáveis são induzidas a seguir o

exemplo de pensamento da classe abastada, desse modo, ela exerce uma força retardadora do

processo de desenvolvimento, estimula que as demais classes sociais sejam resistentes a

inovação e consolidam a preferência dos indivíduos pelas “boas instituições”, que são as

instituições herdadas da geração anterior (VEBLEN,1983).

Veblen (1983) argumenta que as instituições da classe rica retiram tanto quanto for

possível os meios de subsistência das classes mais baixas, reduzem o seu consumo e, também

a sua energia disponível, ao ponto de torná-las incapazes de exercer o esforço necessário para

aprender e adotar novos hábitos mentais. A acumulação de riqueza na extremidade mais alta

da sociedade implica em privações na extremidade mais baixa dessa sociedade e uma

considerável privação da grande massa popular é um sério obstáculo à inovação. O resultado

disso é o fortalecimento da atitude conservadora da comunidade, o que dificulta o processo de

desenvolvimento.

A classe ociosa, na natureza das coisas, atua consistentemente no sentido de retardar o ajustamento

ao ambiente ao qual se chama progresso social, ou desenvolvimento. A atitude característica da

classe pode resumir-se na seguinte máxima: “Aquilo que é está certo”; enquanto a lei da seleção

natural, em sua aplicação as instituições humanas, resulta no seguinte axioma: “Aquilo que é esta

errado”. (Veblen, 1983, p.95).

Em contraste, quando se trata do crescimento de instituições que beneficiem a classe

mais abastada, como as instituições econômicas, pecuniárias ou industriais, ela possui um

vasto interesse. O efeito que o interesse e o hábito mental pecuniário têm sobre o

desenvolvimento pode ser percebido nos decretos e convenções que contribuem para a

segurança da propriedade, execução de contratos, facilidade das transações financeiras e

interesses adquiridos. Indiretamente, essas convenções econômicas geram graves

consequências para o processo industrial e para a vida da comunidade. No decorrer do

processo de desenvolvimento institucional nesse setor, as classes pecuniárias exercem um

papel de grande importância para a comunidade, não apenas para a conservação do esquema

social adotado, mas também na formação do processo industrial (VEBLEN, 1983).

A Figura 2 traz um esquema representativo do desenvolvimento social segundo Veblen.

Figura 2- O desenvolvimento segundo Veblen. Fonte: Elaborada pelos autores.

O desenvolvimento social para Veblen é um processo de adaptação seletiva de hábitos

mentais, ou seja, instituições, que são pressionadas a mudar pelas novas exigências de vida

em sociedade e não conseguem mais se adaptar as instituições formadas por hábitos oriundos

do passado. O desenvolvimento social é o desenvolvimento das instituições que estão

presentes na comunidade. A classe rica atua nesse processo como uma força retardadora e

incentivadora. Incentiva apenas o desenvolvimento das instituições de seu interesse, que são

as instituições econômicas, e exerce uma pressão conservadora, a fim de manter os hábitos

mentais que a favorecem.

Os hábitos conservadores da classe rica são vistos pelas demais classes como

respeitáveis, honoríficos. Os indivíduos das classes mais baixas tentam copiar esses hábitos na

tentativa de também serem julgados como respeitáveis. Isso contribui para que o

conservadorismo da classe rica seja espalhado por toda a sociedade. As instituições da classe

rica atuam para retirar as possibilidades de mudança de hábitos mentais nas classes inferiores

a ela.

O conceito de desenvolvimento em Veblen, parte da integração entre instituições,

indivíduos e a vida em sociedade. Isso permite concluir que o desenvolvimento para Veblen é

um processo complexo onde são de extrema importância os elementos de uma análise

psicológica do indivíduo (seus instintos hábitos) e as instituições. Veblen se afasta dos

pensadores neoclássicos de sua época, pois sua análise do comportamento humano, ou seja, a

construção de seu homem vebleniano, incorpora mais elementos, como instintos e hábitos de

pensamento, do que o homo econumicus neoclássico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo procurou provar que o conceito de desenvolvimento em veblen, parte da

construção do comportamento humano para o autor (especialmente a influência dos instintos e

hábitos de pensamento) e de como as instituições interagem no comportamento desse homem

vebleniano.

Veblen é apontado como o precursor do antigo institucionalismo e insere-se em um

contexto de pluralismo teórico, publica seus trabalhos em diferentes revistas, grande parte

concentrados no QJE. Possuia uma postura crítica em relação a economia neoclássica,

especialmente aos pressupostos de individuo auto-interessado e maximizador de utilidade e

uma análise estática que preconiza a soberania de uma situação de equilíbrio. Sua obra recebe

influencia de desenvolvimentos na psicologia instinto-hábito e na biologia evolucionista de

Darwin.

A construção do comportamento humano em Veblen se dá a partir da crítica ao homo

economicus da teoria neoclássica, especialmente por essa não considerar a a influência de

fatores psicológicos e institucionais. É possível encontrar quatro principais críticas ao homo

economicus: a primeira refere-se a considerar o indivíduo como maximizador e dotado de

capacidade preditiva. A segunda critica diz respeito a postura passiva do indivíduo; para

Veblen, a ação faz parte do indivíduo e este é influenciado pelas normas sociais. A terceira e

quarta objeções dizem respeito, respectivamente, ao caráter imutável do indivíduo diante dos

fatos; e a consideração apenas das características individuais, sem considerar a comunidade

em que o indivíduo está inserido.

Veblen incorpora os conceitos de razão suficiente e causa eficiente para ressaltar que o

comportamento humano é influenciado tanto por fatores racionais, quanto por fatores

habituais. As instituições se relacionam com a causa eficiente; participam da conduta humana

sob a forma dos hábitos e exigências convencionais, enquanto a razão suficiente é identificada

com as atividades racionais. O comportamento humano para Veblen é constituído pelos

hábitos, instintos e racionalidade associados que se influenciam mutuamente. O homem

vebleniano é composto por seus instintos, por instituições e por sua história pessoal, o que o

diferencia do homo economicus.

As instituições podem ser conceituadas como um conjunto de hábitos de pensamento,

que são hábitos dos indivíduos que se tornam sociais. Esses hábitos são o resultado de um

contexto atual que influencia o futuro, através de um processo de seleção, de forma que o

ponto de vista do homem se altera ou se reafirma. Assim, as instituições de hoje foram

herdadas de uma época anterior, tendo, portanto, um processo incessante de evolução

conforme os hábitos da sociedade se modificam.

Para Veblen, o desenvolviemnto social é o mesmo que o desenvolvimento das

instituições que são forçadas a mudar por pressão das circunstancias presentes que já não

conseguem interagir com hábitos formados no passado. Os indivíduos são influenciados a

mudar seus hábitos mentais por novas exigências do cenário social, gerando uma evolução

nas instituições. A classe rica exerce uma força retardadora no processo de desenvolvimento,

pois ela não tem interesse que a sua situação mude, influenciando as classes sociais abaixo

dela a ter os mesmos hábitos de pensamento e, portanto, atua para a conservação de

instituições enraizadas em hábitos de gerações passadas.

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