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INSPER Programa de Mestrado Profissional em Administração Eduardo Wille Folly O que Afeta a Propensão a Doar? Uma Análise Experimental São Paulo 2015

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INSPER

Programa de Mestrado Profissional em Administração

Eduardo Wille Folly

O que Afeta a Propensão a Doar? Uma Análise Experimental

São Paulo

2015

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Eduardo Wille Folly

O que Afeta a Propensão a Doar? Uma Análise Experimental

Dissertação de Mestrado, com o objetivo

de obtenção do título de mestre, no Insper.

Administração com ênfase em Estratégia.

Orientador: Prof. Ph.D. Sérgio Giovanetti

Lazzarini

São Paulo

2015

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Folly, Eduardo Wille.

O que Afeta a Propensão a Doar? Uma Análise

Experimental. /

Eduardo Wille Folly – São Paulo. 2015. n.f.

Dissertação de Mestrado – Insper, 2015.

Orientador: Prof. Ph.D. Sérgio Giovanetti Lazzarini

1. Filantropia 2. Organização Não Governamental

3. Assimetria de Informação 4. Identidade Moral

I. Eduardo Wille Folly. II. O que Afeta a Propensão a Doar? Uma

Análise Experimental.

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Eduardo Wille Folly

O que Afeta a Propensão a Doar? Uma Análise Experimental

Dissertação de Mestrado, com o

objetivo de obtenção do título de

mestre, no Insper. Administração

com ênfase em Estratégia.

Orientador: Prof. Ph.D. Sérgio

Giovanetti Lazzarini

DATA DE APROVAÇÃO: 28 / 07 / 2015

BANCA EXAMINADORA

——————————————

DANNY PIMENTEL CLARO

Ph.D. EM ADMINISTRAÇÃO

INSPER

——————————————

GRAZIELLA MARIA COMINI

DOUTORA EM ADMINISTRAÇÃO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

——————————————

SÉRGIO GIOVANETTI LAZZARINI

Ph.D. EM ADMINISTRAÇÃO

INSPER

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Em primeiro lugar, dedico à “inteligência suprema,

causa primária de todas as coisas” (KARDEC,

2005, p. 45), sem Sua vontade, nada haveria.

Também dedico à minha família, base de

sustentação para minha vida. Minha esposa,

Débora Cavalheiro Chaves Folly qυе, de forma

especial е carinhosa, dеυ-me força е coragem,

apoiando-me nos momentos de dificuldades e

dando o suporte necessário no dia a dia, ao longo

desses dois anos de estudos intensos. Meu filho,

Felipe Cavalheiro Folly que sempre esteve

disponível com seu amor e carinho,

incondicionais, na relação pai e filho. Aos meus

pais, Paulo Roberto de Mattos Folly e Luiza Maria

Wille Folly que, cada um à sua maneira, deram-

me a vida, amor, educação e ajudaram-me a ser

quem sou. E aos meus irmãos, Luciana Wille Folly

e Leandro Wille Folly que, apesar da distância

física, formamos um porto seguro do qual sempre

podemos contar uns com os outros.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Professor Sérgio Giovanetti Lazarinni pela orientação, total

apoio, confiança e empenho dedicado à elaboração deste trabalho.

Aos professores Graziella Maria Comini e Danny Pimentel Claro que, mesmo em

período de férias, mui gentilmente aceitaram fazer parte da banca de defesa e, com

isso, adicionar nova visão e conteúdo ao trabalho.

À Cleize Belloto, Valeska Vieira, Isa Dias Degaspari, Rosana Rodrigues, Saulo

de Tarso Viana Mendonça por todo o apoio e confiança ao abrirem as portas das

Instituições Casa de David e APAE DE SÃO PAULO para a realização do experimento.

Ao professor Charles Kirschbaum, coordenador do Mestrado em Administração

do Insper, pela constante presença, disponibilidade e direcionamento ao longo do curso.

A todos os professores que tive a oportunidade de encontrar ao longo do curso.

Sem exceção, todos foram de grande importância e relevância na constituição de um

novo saber, elevando meu patamar de conhecimentos.

Ao professor Guy Cliquet do Amaral Filho pela grande ajuda no processo de

submissão do experimento ao Comitê de Ética do Insper.

Aos professores Luciana Yung, Tatiana Iwai, Priscila Claro, Guy Cliquet do

Amaral Filho, Auro Key Honda, Ângelo Corsetti, Adalto Barbaceia Gonçalves, Renato

Anauate, Marcos Rodrigues de Lara e Luiz Francisco Modenese Vieira, que abriram

espaço em suas aulas na Graduação e Pós-Graduação do Insper para que eu pudesse

recrutar participantes para o experimento.

Aos professores que participaram do Comitê de Ética do Insper pela correta

instrução e confiança depositada no experimento.

Aos colegas (agora amigos) da turma MPA07 que, graças à união e apoio mútuo,

tornaram essa jornada mais leve e prazerosa.

Aos profissionais da Biblioteca Telles, todos sempre muito solícitos, ajudaram-

me na pesquisa de artigos, formatação do trabalho e diversas outras atividades

fundamentais ao bom andamento da pesquisa.

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Ao Renato Bognar, Rafael Estevam, Diego Bassani de Souza e Edgar Gubiotti

pela ajuda no desenvolvimento e implantação do aplicativo móvel, portal Doadores de

Impacto e dos sites de divulgação das ONGs.

A todos que participaram do experimento, quer seja doando cupons, quer seja

divulgando o aplicativo e colaboração na busca pelo conhecimento.

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RESUMO

O objetivo desse estudo é examinar os determinantes de doações individuais

para entidades filantrópicas com o uso de metodologia experimental de campo para

testar hipóteses derivadas de duas perspectivas teóricas distintas. Com base na teoria

de assimetria informacional, buscou-se testar a influência da divulgação de informações,

acerca do que as ONGs fazem com os recursos recebidos, sobre o comportamento de

doação. De outro lado, baseado no modelo de identidade moral, testou-se a influência

do reconhecimento público no comportamento de doação do indivíduo. O experimento

utiliza o contexto de incentivos do Programa da Nota Fiscal Paulista, que permite aos

indivíduos doar seus créditos fiscais para ONGs de sua escolha. Foi criado um aplicativo

para dispositivos móveis (Smartphones e Tablets) para permitir a realização do

experimento, cujo objetivo foi verificar o comportamento do doador quando submetido

aos tratamentos relacionados à assimetria de informação e à identidade moral. Os

tratamentos envolveram apresentar informações sobre a ONG e oferecer a publicação

de uma foto com o nome do doador em um Portal na Internet como reconhecimento

público. Foi encontrado apenas efeito consistentemente significativo no caso do

tratamento envolvendo agradecimento público, logo gerando suporte à teoria de

identidade moral.

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ABSTRACT

The aim of this study is to examine the determinants of individual donations to

charities, using field experimental methodology to test hypotheses derived from two

different theoretical perspectives. Based on the information asymmetry theory, this study

tested the influence of dissemination of information about NGOs’ investments that

derives from funds received on donation. On the other hand, based on moral identity

model, this study tested the influence of public recognition in the donor behavior. The

experiment uses the context of incentives of Programa da Nota Fiscal Paulista, which

allows individuals to donate their tax credits to NGOs of their choice. An application,

created for mobile devices (Smartphones and Tablets), allowed the experiment to verify

the donor's behavior when submitted to stimulus related to asymmetric information and

moral identity. The treatments involved presenting information about NGO and offer to

publish a donor's picture and name on an Internet Portal as public recognition. The study

found consistently significant effect only in the treatment involving public recognition,

generating support to moral identity theory.

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SUMÁRIO EXECUTIVO

No Estado de São Paulo, em 2007, foi promulgada a lei 12.685/2007 que permite

a devolução, ao contribuinte, de parte do ICMS por ele pago. Para isso, no momento da

emissão do cupom fiscal, deve ser informado o número de CPF, em caso de pessoa

física, ou o CNPJ, para pessoa jurídica. O consumidor pode optar por não informar o

seu número de identificação fiscal, nessa situação, a lei permite que o cupom seja doado

para uma instituição sem fins lucrativos. Desde 2011, o percentual de cupons que

recebem o número do CPF/CNPJ parece ter estabilizado entre 32% e 34%. Porém, o

percentual de cupons doados para as Organizações Não Governamentais não

ultrapassou 5%, ou seja, mais de 60% dos cupons ficais do Estado de São Paulo não

recebem CPF/CNPJ e ainda assim não são doados às entidades filantrópicas. Levando-

se em consideração que a própria população consumidora pode ser diretamente

beneficiada pelas ações sociais desenvolvidas pelas ONGs, surgem perguntas como:

por que o percentual de cupons doados para essas entidades é tão baixo? O que motiva

o ser humano a doar?

Para responder às questões, buscou-se entender o comportamento humano no

que se refere às doações. Foram estudadas duas teorias sobre o assunto. A primeira

discorre sobre a necessidade de se equalizar as informações entre as partes. O doador

precisa saber qual o destino do dinheiro arrecadado pela ONG, bem como os benefícios

gerados pela doação. A segunda aborda o tema sob o aspecto de se prover

reconhecimento público a quem faz as doações.

Para verificar esse comportamento no dia a dia das pessoas, foi desenvolvido

um experimento de campo suportado por um aplicativo para dispositivos móveis (APP)

que, ao longo de 79 dias, capturou o comportamento dos doadores quando submetidos

aos tratamentos relacionados às teorias acima descritas. Através do aplicativo foi

permitido aos participantes do experimento fotografar seus cupons fiscais sem a

inclusão do CPF/CNPJ para serem doados para duas ONGs: APAE DE SÃO PAULO e

CASA DE DAVID. Após o envio, através do próprio APP, os participantes receberam os

tratamentos conforme sorteio aleatório.

Findo o período do experimento, constatou-se que estimular os doadores com

reconhecimento público apresenta boa relevância estatística, apesar de o modelo ter

apresentado grande variância nas respostas não explicadas pelos tratamentos. Ou seja,

isoladamente, o reconhecimento público não é suficiente como elemento motivador,

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mas associado a outros fatores, fará com que doadores aumentem suas doações para

instituições sem fins lucrativos.

Dessa forma, instituições sem fins lucrativos que desejarem um processo de

captação de recursos bem estruturado, com recebimentos recorrentes, buscando

garantir estabilidade financeira, devem atentar para a estruturação do reconhecimento

público de seus doadores, nunca os obrigando a aceitar a publicidade das ações, mas

sim oferecendo-lhes tal possibilidade.

Outro ponto de grande relevância está relacionado à redução de barreiras no

processo de doação. No experimento realizado, foi utilizado um aplicativo para

dispositivos móveis objetivando tornar o processo de doação de cupons algo simples e

prático, com alcance imediato e que apresentasse a credibilidade necessária para os

doadores. Já na primeira tela do aplicativo era possível fazer a doação, economizando

tempo e reduzindo o abandono pela demora em função de processos complicados.

Também foi descartada qualquer obrigação de preenchimento de cadastros, que

pudesse relacionar diretamente o doador com o montante doado e, com isso, quebrando

o sigilo, por alguns desejado. E por fim, a apresentação de tratamentos que fizessem o

doador voltar a doar e divulgar para seus contatos na rede social denominada Facebook.

Esse aplicativo foi disponibilizado para aparelhos com sistemas operacionais Android,

IOS e Windows Phone, as três maiores plataformas atualmente disponíveis no Mercado,

que juntas somam 99% de participação do mercado, segundo o IDC (2015).

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SUMÁRIO

RESUMO ...................................................................................................................... 8

ABSTRACT .................................................................................................................. 9

SUMÁRIO EXECUTIVO ............................................................................................. 10

SUMÁRIO ................................................................................................................... 12

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12

2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 15

2.1 O TERCEIRO SETOR ............................................................................................................ 15

2.2 DOAÇÕES ........................................................................................................................... 16

2.3 DETERMINANTES DE DOAÇÕES ......................................................................................... 18

2.3.1 O PAPEL DO INFLUENCIADOR NO PROCESSO DE DOAÇÃO........................................ 19

2.3.2 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO ................................................................................... 19

2.3.3 MODELO DE IDENTIDADE MORAL .............................................................................. 20

3. CONTEXTO EMPÍRICO E HIPÓTESES ................................................................. 21

3.1 PROGRAMA DA NOTA FISCAL PAULISTA ........................................................................... 21

3.2 HIPÓTESES ......................................................................................................................... 24

4 METODOLOGIA ...................................................................................................... 26

4.1. EXPERIMENTO DE CAMPO ............................................................................................... 26

4.2 O DESENHO DO EXPERIMENTO ......................................................................................... 26

4.2.1 INFLUENCIADOR E O FACEBOOK ................................................................................ 26

4.2.2 O APLICATIVO PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS (APP) .................................................... 27

4.2.3 AS ONGS PARTICIPANTES DO EXPERIMENTO ............................................................ 27

4.2.4 AMOSTRA DE PARTICIPANTES .................................................................................... 30

4.3 PROCEDIMENTOS DO EXPERIMENTO ............................................................................... 30

4.3.1 RECRUTAMENTO DOS PARTICIPANTES ...................................................................... 30

4.3.2 SORTEIO DO TRATAMENTO ........................................................................................ 33

4.3.4 DURAÇÃO DO EXPERIMENTO ..................................................................................... 36

4.3.5 DADOS COLETADOS .................................................................................................... 36

5 RESULTADO DO EXPERIMENTO .......................................................................... 37

5.1 ANÁLISE DESCRITIVA ......................................................................................................... 37

5.2 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS RESPOSTA .................................................................................. 40

5.3 ASSIMETRIA DAS OBSERVAÇÕES ....................................................................................... 42

5.4 REGRESSÕES ...................................................................................................................... 44

5.5 ANÁLISE DE RESULTADOS ADICIONAIS ............................................................................. 45

6 CONCLUSÕES ........................................................................................................ 47

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6.1 CONTRIBUIÇÕES PARA A TEORIA ...................................................................................... 47

6.2 CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA .................................................................................... 48

6.3 LIMITAÇÕES ....................................................................................................................... 49

6.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ........................................................................... 49

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 51

APÊNDICE A – PANFLETO EXPLICATIVO SOBRE INSTALAÇÃO DO APP ............ 54

APÊNDICE B – MURAL DOS DOADORES DE IMPACTO ......................................... 55

ANEXO A – IMAGEM DO E-MAIL MARKETING DA APAE DE SÃO PAULO ............. 56

ANEXO B – IMAGEM DA CAMPANHA NO FACEBOOK DA APAE DE SÃO PAULO 57

ANEXO C – IMAGEM DO BANNER NO PORTAL DA APAE DE SÃO PAULO .......... 58

ANEXO D – IMAGEM DO E-MAIL MARKETING DA CASA DE DAVID ...................... 59

ANEXO E – IMAGEM DA DIVULGAÇÃO NO SITE DA CASA DE DAVID .................. 60

ANEXO F – IMAGEM DA REPORTAGEM NO JORNAL METRO ............................... 61

ANEXO G – IMAGEM DA REPORTAGEM NO PORTAL RAZÕES PARA ACREDITAR

................................................................................................................................... 62

ANEXO H – AUTORIZAÇÃO – APAE DE SÃO PAULO ............................................. 63

ANEXO I – AUTORIZAÇÃO CASA DE DAVID ........................................................... 65

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1 INTRODUÇÃO

Organizações não governamentais (ONGs) são um híbrido entre empresas

privadas e governo. Ao contrário das organizações com fins lucrativos, as entidades

sem fins lucrativos não têm proprietários a quem distribuir seus lucros. Ao contrário do

governo, ONGs devem aumentar os seus fundos numa base voluntária; eles não gozam

dos poderes de tributação obrigatória (JAMES, 1983). Para Cacija (2013), ONGs

precisam de recursos para atingir as metas organizacionais e cumprirem suas missões,

bem como para crescerem e desenvolverem suas atividades. Andrade (2002) ressalta

que, no Brasil, a sustentabilidade a médio e longo prazos das ONGs – também

chamadas de entidades do terceiro setor – é um grande desafio. Por isso, elas têm

buscado alternativas de geração de renda e de diversificação de fontes de recursos.

O presente estudo, em particular, se vale de uma mudança institucional no Brasil

que criou uma nova fonte de recursos para as ONGs. Em agosto de 2007, foi

promulgada a lei nº 12.685, que “dispõe sobre criação do Programa de Estímulo à

Cidadania Fiscal do Estado de São Paulo”. Em seu artigo Quarto, item IV, a lei permite

(...) que entidades paulistas de assistência social, sem fins

lucrativos, cadastradas na Secretaria da Fazenda, sejam

indicadas como favorecidas pelo crédito previsto no artigo

2º, no caso de o Documento Fiscal Eletrônico não indicar

o nome do consumidor.(SÃO PAULO, 2007).

O consumidor que não informar o seu CPF ou CNPJ para receber os créditos de

ICMS previstos no programa do governo, poderá doar o seu cupom fiscal para ONGs

que estejam cadastradas no programa, para que estas recebam o crédito em seu lugar.

Além de representar mais uma oportunidade de arrecadação para as ONGs, a nova lei

trouxe a inovação de também permitir à sociedade decidir sobre como parte do ICMS

será destinado para projetos sociais. Porém, passados mais de sete anos da

promulgação da lei, segundo dados de 2013, a arrecadação via essa nova fonte não

evoluiu muito.

De acordo com dados obtidos da Secretaria de Fazenda do Estado de São Paulo

(SAVIOLLI, 2013), entre janeiro de 2013 e outubro de 2013, cerca de 3.991 ONGs

receberam o montante de aproximadamente R$ 95,6 milhões, ou seja, uma média de

quase R$ 24 mil por ONG, o que representa menos que R$ 2,4 mil por mês. Esse valor

pode ainda ser considerado baixo frente à necessidade de captação de muitas dessas

organizações.

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Segundo dados do Governo Estadual (SECRETARIA DA FAZENDA DO

ESTADO DE SÃO PAULO, 2014), só no ano de 2013 foram processados 6,5 bilhões de

cupons fiscais, sendo que desses, 2,2 bilhões continham o número do CPF ou CNPJ do

consumidor para recebimento dos créditos. Assim sendo, 4,3 bilhões de cupons (que

não receberam nem CPF nem CNPJ) poderiam ter sido doados às ONGs; porém, ainda

segundo dados do governo, apenas 220 milhões (3%) ajudaram a financiá-las. Desta

forma, parece ainda ser possível aumentar o valor arrecadado pelas ONGs paulistas

com a mobilização da sociedade civil.

Nesse sentido, valendo-se do contexto dessa lei, este estudo pretende entender

o que mobiliza as pessoas no processo de doação. A questão geral de pesquisa é: quais

fatores individuais aumentam a propensão das pessoas para doar? No contexto

empírico do trabalho, intentou-se analisar quais fatores aumentam a propensão dos

indivíduos em destinar cupons fiscais para ONGs paulistas. Foram estabelecidas

hipóteses baseadas em teorias ligadas à assimetria de informação (AKERLOF, 1970)

e ao comportamento humano, principalmente relacionado a conduta baseada na

identidade moral (AQUINO; REED II, 2002; HART; ATKINS; FORD, 1998; WINTERICH;

MITTAL; AQUINO, 2013).

Para testar as hipóteses, foi construído um experimento de campo para verificar

o comportamento das pessoas quando estimuladas a doar seus cupons fiscais e o

processo de recorrência da doação. Em particular, foi utilizado um sistema (APP) para

dispositivos móveis (smartphones ou tablets). Esse APP permitiu que os participantes

do experimento pudessem tirar fotos dos cupons fiscais com a finalidade de realizar

doações para as ONGs. Após a doação inicial de cada cupom fiscal, foram

apresentados aos doadores dois tratamentos para que estes voltassem a utilizar o APP

para doar novos cupons fiscais. Com base na teoria de assimetria informacional,

implementou-se para um grupo de indivíduos um tratamento onde foram informadas as

atividades da ONG e resultados junto à sua comunidade alvo. Espera-se que esse

tratamento reduza a assimetria de informação entre o doador e a ONG, logo,

aumentando a propensão a doar. Por sua vez, baseado no modelo de identidade moral,

estabeleceu-se um tratamento onde o indivíduo poderia incluir uma foto (“selfie”) e seu

nome em um portal aberto ao público (http://www.doadoresdeimpacto.com.br). No

portal, os doadores foram apresentados em ordem decrescente de quantidade de

cupons doados. Com base no estudos de Winterich, Mittal e Aquino (2013) relacionados

ao modelo de identidade moral, espera-se que essa oportunidade de reconhecimento

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público aumente a propensão a doar nos indivíduos que apresentam baixa identidade

moral internalizada e alta identidade moral simbólica.

Como contribuição do estudo, objetiva-se explorar a relação entre a motivação

das pessoas com as causas sociais e o processo de doação e, com isso, auxiliar as

ONGs a desenvolver e a implantar soluções para estímulo às doações e sua

recorrência. Além disso, o estudo deve contribuir para o conhecimento sobre a

propensão dos indivíduos em fazer doações de forma geral.

A dissertação é estruturada da seguinte forma: a próxima seção apresenta uma

revisão de literatura, na seção seguinte, o contexto é empírico e estabelece as hipóteses

a serem testadas. Em seguida, descreve-se o experimento, como ele foi realizado,

quem foram os participantes e quais informações foram coletadas. Por fim, apresenta-

se os resultados do experimento bem como a conclusão do estudo.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Nessa seção, será apresentado um resumo da literatura referente ao terceiro

setor, dos tipos e motivos de doações recebidas pelas ONGs e das determinantes de

doações.

2.1 O TERCEIRO SETOR

De acordo com o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (2012), o terceiro

setor surge da iniciativa privada em função de preocupações com questões da

sociedade. Essa iniciativa ocorre através dos cidadãos integrados em organizações

sociais e com objetivo final de gerar serviços de caráter público. Adiciona ainda que, em

função de ser um setor distinto ao primeiro setor (Governo) e segundo setor (iniciativa

privada) e pelo desinteresse pelo lucro, estas ONGs são apoiadas em conceitos que

transcendem valores utilitários, tendo como princípio a busca consistente das formas

tradicionais de solidariedade social.

Em consonância com o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Fischer

(2002, p. 45) ainda acrescenta que o

Terceiro Setor é a denominação adotada para o espaço

composto por organizações privadas, sem fins lucrativos,

cuja atuação é dirigida a finalidades coletivas ou públicas.

Sua presença no cenário brasileiro é ampla e diversificada,

constituída por organizações não-governamentais,

fundações de direito privado, entidades de assistência

social e de benemerência, entidades religiosas,

associações culturais, educacionais, as quais

desempenham papéis que não diferem significativamente

do padrão conhecido de atuação de organizações

análogas em países desenvolvidos. Essas organizações

variam em tamanho, grau de formalização, volume de

recursos, objetivo institucional e forma de atuação. Tal

diversidade é resultante da riqueza e pluralidade da

sociedade brasileira e dos diferentes marcos históricos

que definiram os arranjos institucionais nas relações entre

Estado e o Mercado.

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Já James (1983), focando no aspecto financeiro, descreve as Organizações Não

Governamentais (ONGs) como um híbrido entre empresas privadas e governo. Ao

contrário das organizações com fins lucrativos, a entidade sem fins lucrativos não tem

proprietários a quem distribuir seus lucros. Diferente do governo, ONGs devem

aumentar os seus fundos numa base voluntária, pois não gozam dos poderes de

tributação obrigatória.

Ainda com relação ao modelo de financiamento, o Tribunal de Contas do Estado

de São Paulo (2012) destaca o estilo institucional característico das ONGs e reforça o

desafio pela busca de sustentabilidade financeira. Tais Instituições devem ofertar

projetos interessantes a financiadores potenciais de tal sorte a obterem os recursos

necessários para realizá-los. Ficam, assim, sob avaliação da própria sociedade em

relação ao profissionalismo e eficiência institucional, devendo ser transparentes e ter

responsabilidade pública. Objetivam, desta forma, aumentar a qualidade de vida da

população e a obtenção de novos financiamentos.

Tal visão se apresenta bastante alinhada com a de Cacija (2013) que defende

que as ONGs precisam de recursos para atingir as metas organizacionais e cumprirem

suas missões, bem como para crescerem e desenvolverem suas atividades. Andrade

(2002) também ressalta que, no Brasil, a sustentabilidade a médio e longo prazos das

ONGs – também chamadas de entidades do terceiro setor – é um grande desafio. Por

isso, elas têm buscado alternativas de geração de renda e de diversificação de fontes

de recursos.

Nessa busca por recursos, Estraviz (2011) é enfático na importância que o

doador individual tem para a ONG não só como fonte de recurso, mas também como

um aliado que dará cada vez mais legitimidade para a ONG. Por isso, esclarece ser

importante o envolvimento dele não só como financiador, mas também como

participante.

2.2 DOAÇÕES

Sob uma ótica estritamente econômica, a propensão a doar não é facilmente

explicável somente com base em auto interesse. Contudo, Andreoni (2006) sugere cinco

explicações para a filantropia:

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a) A doação pode não ser totalmente desinteressada. Como exemplo, ao doar

para uma instituição de pesquisas médicas, o doador pode, algum dia, ser

beneficiado pelas descobertas;

b) Auto interesse esclarecido: uma pessoa confortavelmente empregada pode

doar para a redução da pobreza, a fim de manter as Instituições no lugar,

evitando um evento raro onde ele próprio pode vir a empobrecer algum dia;

c) Altruísmo: as doações maximizam a função utilidade que inclui benefícios

para outros ou para a sociedade em geral;

d) Quando o objeto da doação é grande em escala e diversos são os doadores,

sendo de difícil a mensuração do impacto dessas doações, algumas pessoas

podem querer se aproveitar desse processo para se abrilhantarem com o ato

da doação;

e) Humanos são seres morais e talvez o seu comportamento siga um código de

conduta moral a ponto de fazerem escolhas não explicáveis puramente por

auto interesse.

Em conformidade com a leitura de Andreoni (2006) sobre a dificuldade que a

ciência econômica tem de acomodar facilmente o desinteresse pessoal sobre atos de

doação, Dawson (1988) havia identificado que idosos ricos são público alvo para

obtenção de doações para pesquisas médicas, pois eles têm maior propensão a doar

do que os demais. Determinantes de doação para esse público alvo estão relacionadas

à obtenção de benefícios fiscais, reciprocidade (por exemplo, indivíduos reportam

doações porque haviam recebido benefícios vindos de atividades de caridade) e

promoção pessoal.

List (2011) também identificou que há majoração no percentual das famílias que

doam conforme o aumento dos seus ganhos e também conforme a melhora do nível de

escolaridade. Mas, de forma intrigante, o percentual doado pelas famílias apresenta um

gráfico em forma de “U”, onde famílias que ganham entre US$ 20 mil e US$ 40 mil doam

cinco por cento dos seus ganhos para caridade. Quando os ganhos familiares atingem

US$ 75 mil, o percentual doado cai para dois por cento, subindo ligeiramente para três

por cento, dos ganhos familiares. Famílias com patrimônio líquido entre US$ 1 milhão e

US$ 5 milhões doaram em 2005 uma média superior a cinco por cento dos seus ganhos

(CENTER ON PHILANTHROPY, 2007b apud LIST, 2011).

Como explicação para o gráfico em formato de “U”, List (2011) identificou que as

famílias mais pobres tendem a doar maior percentual de seus ganhos para causas

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religiosas. Além disso, jovens com rendimentos atuais menores também acreditam que

seus salários irão crescer no futuro, fazendo com que o dom da caridade atual seja mais

acessível. Outra explicação identificada está relacionada à doação feita por pessoas

com alto patrimônio, mas com baixos ganhos anuais, por exemplo, aposentados.

Nesses casos as doações vêm da riqueza acumulada e não da baixa renda atual

(JAMES E SHARPE, 2007 apud LIST, 2011).

No Brasil, Cruz e Estraviz (2003, p. 26–27) apontam que em uma pesquisa

realizada com 44 empresários, foram priorizados, de uma lista, os três maiores motivos

para doação, chegando-se no seguinte resultado:

a) Credibilidade na instituição e nos seus propósitos (93,02%);

b) Acreditar na importância das necessidades em questão (74,41%);

c) Isenções fiscais (39,53%);

d) Promoção institucional (30,23%);

e) Amizade e respeito pelos que pedem a doação (18,60%);

f) Sentimento de lealdade, gratidão, afeição e solidariedade (18,60%);

g) Orgulho de pertencer ou ter pertencido à instituição (16,27%).

Acrescentam ainda outros motivos, a saber:

a) Responsabilidade comunitária/orgulho civil/ganho social;

b) Obrigação;

c) Identidade com a causa;

d) Imortalidade;

e) Reconhecimento público.

Não excluindo outras possibilidades, mas com base na literatura citada, conclui-

se que benefícios passados ou futuros, exposição social ou promoção pessoal,

benefícios fiscais, a crença em causas religiosas e o desejo de fazer o bem ao próximo

ou para a sociedade – altruísmo, são fatores importantes no processo de decisão de

caridade.

2.3 DETERMINANTES DE DOAÇÕES

Dentro das variadas possibilidades pesquisadas, este estudo limita-se a analisar

o papel de influenciadores no processo de doação e busca entender a importância da

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19

redução da assimetria de informação e do reconhecimento público como forma de

aumentar as doações.

2.3.1 O PAPEL DO INFLUENCIADOR NO PROCESSO DE DOAÇÃO

Como resultado de sua pesquisa empírica, Andrade (2002, p. 96–97) identificou

que o relacionamento pessoal é a base da captação de recursos pelas ONGs. Assim

como List (2011), também identificou que a Igreja é grande influenciador no processo

de doação, pois, ela procura “despertar nos seus fiéis uma preocupação em participar

da solução dos problemas da comunidade.”. Esses resultados aparentam aderência a

alguns estudos relacionados ao comportamento do ser humano no processo de doação,

pois, quando se trata desse assunto, influenciadores (ou líderes) possuem papel de

grande importância. Setenta e sete por cento das doações acontecem quando alguém

bastante conhecido faz uma solicitação de doação para outra pessoa (INDEPENDENT

SECTOR, 1999 apud REINSTEIN; RIENER, 2012). Adicionalmente, quando

participando de um grupo social, a maioria dos seres humanos aumenta sua

colaboração individual sempre que percebe que a média de colaboração do grupo como

um todo aumenta, tal fenômeno é identificado como colaboração condicional (FEHR;

FISCHBACHER, 2004).

O poder de influência parece não se limitar ao mundo físico. Segundo Wu e

Wang (2012), uma comunidade on-line altamente interativa é uma extensão das

interações sociais que ocorrem no mundo real. Acrescentam ainda, que a condição mais

importante e fundamental para as relações interpessoais é a confiança e isso se aplica

tanto nas interações reais quanto nas interações virtuais. Jeong e Lee (2013) sugerem

que a oportunidade de transmitir uma imagem desejada a amigos pode ser um forte

motivador para adesão a uma causa através de sites de redes sociais, como por

exemplo o Facebook.

2.3.2 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÃO

Em seu estudo seminal sobre o mercado de carros usados, Akerlof (1970) já

descrevia o problema transacional gerado por assimetria de informação. O autor

destaca que em uma relação negocial, onde uma parte detém mais informação do que

a outra parte, a incerteza exige um custo adicional para as partes conhecerem sobre o

produto ou serviço transacionado. No limite, a assimetria informacional pode até mesmo

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inviabilizar a transação. Por exemplo, um vendedor pode tentar reportar características

que o seu produto em realidade não tem, o que gera substancial risco para o comprador.

Esse aspecto é particularmente relevante no contexto de doações para ONGs.

Andrade (2002, p. 18), por exemplo, identifica a importância da reputação da ONG, pois

“a continuidade do trabalho das organizações do terceiro setor se baseia na legitimidade

de suas ações e na confiabilidade que lhe votam o grupo atendido e a sociedade como

um todo”.

Saxton, Neely e Guo (2014) concluíram que existe uma relação positiva entre o

nível de informação disponível nos websites das ONGs com o montante arrecadado em

doações. Apesar disso, o desempenho e divulgação de relatório anual são mais

importantes que a divulgação financeira, e a divulgação de desempenho tem o maior

impacto em organizações que são menos dependentes de doações. Zainon, Atan e Wah

(2012) identificaram ainda que os doadores querem ter a opção de investir onde seu

dinheiro tenha alta performance de caridade e não seja desperdiçado. Por isso, dão

mais importância às informações de desempenho e eficiência do que às informações

que as ONGs são obrigadas por lei a fornecer.

Em conformidade com os achados de Dawson (1988), Andrade (2002), Andreoni

(2006), List (2011), Zainon, Atan e Wah (2012) e Saxton, Neely e Guo (2014), onde

alguns dos motivadores do comportamento de doação estão ligados aos benefícios

esperados pelo doador em função da doação realizada, conhecer o impacto que a ONG

causa, aparenta ser um grande motivador para o processo de doação.

2.3.3 MODELO DE IDENTIDADE MORAL

Mesmo que existam informações mais completas sobre as atividades de uma

entidade recebendo doações, é possível que outros aspectos comportamentais

influenciem a propensão a doar, como por exemplo questões relacionadas à identidade

moral.

Hart, Atkins e Ford (1998) definem identidade moral como um compromisso

pessoal consistente com linhas de ação que promovem ou protegem o bem-estar dos

outros.

Avançando sobre o argumento, Aquino e Reed (2002) identificaram que a

mensuração explícita da identidade moral desenvolvida possui duas dimensões: a)

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privada ou internalizada; b) pública ou simbólica. A dimensão privada parece incidir

diretamente na auto importância das características morais, ou seja, nessa dimensão,

o indivíduo tem consciência da importância de suas ações morais. Por outro lado, a

dimensão pública indica uma identidade moral associada a um objeto social, cujas

ações precisam ser transmitidas ao mundo, de forma que quem possua tais

características ou tenha realizado tais ações, possa ser reconhecido. Assim, nessa

dimensão, o indivíduo precisa de reconhecimento público.

Winterich, Mittal e Aquino (2013) adicionaram a intensidade nas identidades

morais pública e privada, ou seja, os indivíduos podem ter separadamente, identidade

moral privada alta ou baixa, ocorrendo o mesmo com a identidade moral pública. No

caso de um indivíduo possuir identidade moral privada baixa, significa dizer que o

mesmo não se preocupa em levar em consideração características morais. Por outro

lado, se esse mesmo indivíduo possuir identidade moral pública alta, os autores indicam

que o reconhecimento público é necessário, pois este fornece reforço social para o

comportamento de caridade.

Em conformidade com os achados de Dawson (1988), Hart, Atkins e Ford (1998),

Aquino e Reed (2002), Andreoni (2006), List (2011) e Winterich, Mittal e Aquino (2013)

em que alguns dos motivadores do comportamento de doação estão ligados à

exposição social, a publicidade da doação realizada pelo indivíduo, aparenta ser um

grande agente motivador.

3. CONTEXTO EMPÍRICO E HIPÓTESES

Nesta seção será detalhado o contexto do Programa da Nota Fiscal Paulista e

serão formuladas as hipóteses do estudo.

3.1 PROGRAMA DA NOTA FISCAL PAULISTA

Em 2007, o Governo do Estado de São Paulo lançou o programa da nota fiscal

paulista que permite ao cidadão atuar como fiscal dos estabelecimentos comerciais,

exigindo a emissão da nota fiscal e, consequentemente, o pagamento dos tributos. Além

disso, o programa também permite que o cidadão destine parte do ICMS, por ele pago,

a uma entidade do terceiro setor das áreas de Educação, Saúde, Assistência Social e

Defesa e Proteção Animal. Conforme artigo 4º, item IV, a lei 12.685 de 28 de agosto de

2007, permite a indicação das entidades paulistas de assistência social, sem fins

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lucrativos e cadastradas na Secretaria da Fazenda, pela “pessoa natural ou jurídica que

adquirir mercadorias, bens ou serviços de transporte interestadual e intermunicipal de

estabelecimento fornecedor localizado no Estado de São Paulo” e, desde que não

tenham informado seus respectivos CPF e CNPJ nos cupons fiscais (SÃO PAULO,

2007).

Apesar de ter sido promulgada a lei no ano de 2007, apenas em 2009 as ONGs

começaram a receber cupons fiscais como doação e a arrecadarem os recursos

provenientes do ICMS.

No Quadro 1, que foi desenvolvido com informações coletadas no site da

Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (2015), pode-se identificar a evolução

da adesão das pessoas naturais, bem como das empresas ao Programa do Governo do

Estado de São Paulo. Do ano de 2011 até 2014, parece haver uma estabilização da

solicitação de inclusão do CPF/CNPJ nos cupons fiscais em torno de 32% a 34%. Isso

significa, que mais de 65% dos cupons fiscais podem ser doados às ONGs. Porém, no

mesmo Quadro 1, percebe-se que as ONGs não conseguiram ultrapassar 5% de doação

dos cupons fiscais. Isso sugere uma oportunidade para as ONGs se posicionarem

estratégica e taticamente de tal sorte a obterem doações de recursos advindos dos

cupons fiscais que estão sendo desperdiçados, com o fim de financiar seus projetos

sociais.

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Quadro 1 - Resultado do Programa Nota Fiscal Paulista

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Valores Distribuídos

(R$/1000)

Total 554.383 1.269.258 1.607.639 1.804.047 1.984.459 2.059.798 2.228.956

PF+PJ Cupons 542.083 1.113.364 1.371.643 1.541.160 1.699.422 1.749.653 1.897.385

Sorteios 12.300 143.804 191.177 200.205 205.186 198.951 195.199

ONGs Cupons - 4.594 29.696 56.588 78.738 103.845 125.271

Sorteios - 7.496 15.123 6.095 1.114 7.349 11.101

Documentos

Processados

(unidades/1000)

Total 1.736.071 3.895.867 4.932.146 5.561.899 6.033.563 6.467.629 6.806.310

PF+PJ QTD 246.010 755.851 1.424.241 1.812.093 2.043.647 2.206.065 2.329.185

% 14,2% 19,4% 28,9% 32,6% 33,9% 34,1% 34,2%

ONGs QTD - 8.263 49.777 94.831 148.854 220.210 319.493

% 0,0% 0,2% 1,0% 1,7% 2,5% 3,4% 4,7%

Desperdiçados QTD 1.490.062 3.131.753 3.458.127 3.654.975 3.841.063 4.041.354 4.157.632

% 85,8% 80,4% 70,1% 65,7% 63,7% 62,5% 61,1%

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados extraídos do site da Secretaria da Fazenda do Governo de São Paulo (2015).

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3.2 HIPÓTESES

Com base em teorias que ajudam a explicar a propensão a doar, serão

apresentadas hipóteses testáveis aplicadas ao contexto empírico dos incentivos fiscais

discutido acima.

A teoria de assimetria informacional estabelece que a incerteza gerada em

função da diferença de informação entre duas ou mais partes, exige um custo adicional

para as partes conhecerem sobre o produto ou serviço transacionado. No limite, essa

assimetria informacional pode até mesmo inviabilizar a transação. E no caso do Terceiro

Setor, a reputação da ONG é de extrema importância para que ela consiga receber

doações. Logo, espera-se que a propensão a doar para ONGs aumente quando

informações acerca do que a ONG faz com os recursos recebidos são disponibilizadas

para os doadores. Considerando-se que os doadores nem sempre estão próximos das

ONGs a ponto de conhecerem de fato o resultado das ações sociais desenvolvidas com

os recursos por eles doados, tal divulgação, faz-se fundamental.

Hipótese 1. Um aumento de informações recebidas pelo potencial doador sobre

as atividades e resultados da ONG irá aumentar a sua propensão a doar.

O modelo de identidade moral estabelece que pessoas com baixa identidade

moral internalizada e alta identidade moral simbólica estão mais propensas a doar

quando recebem reconhecimento público, pois este fornece reforço social para o

comportamento de caridade. Então, espera-se que a propensão a doar para ONGs

aumente quando os doadores forem reconhecidos publicamente pelas Instituições que

receberem suas doações.

Hipótese 2. A divulgação pública da doação e do doador irá aumentar a

propensão a doar para a ONG.

A diferença de comportamento e desejos dos indivíduos pode fazer com que

determinado tratamento seja feito para pessoas que não sofrem impacto com o mesmo.

Por exemplo, existem pessoas que não desejam reconhecimento público ao fazer

caridade e outras que não se importam com o resultado obtido através de sua doação.

Assim sendo, doadores poderão aumentar sua propensão a doar se receberem o

tratamento correto. Com isso, a realização dos dois tratamentos para um mesmo

doador, tende a causar impactos em mais pessoas. Indivíduos também podem se sentir

menos propensos à exposição através de um reconhecimento público de uma Instituição

que não conhecem. No caso inverso, a presença das informações acerca do trabalho

realizado pela ONG pode aumentar o efeito marginal do reconhecimento. Por exemplo,

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a pessoa só irá buscar reconhecimento quando tiver mais certeza de que a ONG tem

feito um bom trabalho, aumentando seu nível de satisfação à exposição pública.

Hipótese 3: Um aumento de informações recebidas pelo potencial doador sobre

as atividades e resultados da ONG aumentará o efeito da divulgação pública da

doação e vice-versa, resultando em maior propensão a doar para a ONG.

+

+

+

+

H2

H1

Reconhecimento

Público da doação e do

doador

Aumento na

propensão a Doar

Cupons Fiscais

Informações sobre

atividades e resultados

para o doador

Figura 1 - Modelo das Hipóteses

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

H3 +

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4 METODOLOGIA

Nessa seção, será detalhado o experimento de campo no que tange ao

Programa da Nota Fiscal Paulista e os procedimentos adotados para a obtenção de

informações que refletem o comportamento de um indivíduo, no seu dia a dia. Essa

análise aproximada do cotidiano dos doadores pode nos revelar até que ponto a teoria

se faz presente na vida real.

4.1. EXPERIMENTO DE CAMPO

Para testar as hipóteses decorrentes das duas teorias, foi desenhado um

experimento de campo. Trata-se de metodologia que tem recebido cada vez mais

atenção pela possibilidade de conciliar maior rigor na análise de efeitos causais e maior

aderência à realidade, uma vez que os dados são coletados em campo e não em

laboratório e, com isso, captura importantes características do mundo real (LIST, 2008).

Um aspecto a considerar, entretanto, é que no experimento as pessoas

escolheram se instalariam ou não o aplicativo utilizado. Assim, o grupo efetivo de

participantes pode estar enviesado com indivíduos mais inclinados às causas sociais

(muito embora, dentro desse grupo, a distribuição dos tratamentos tenha sido aleatória).

4.2 O DESENHO DO EXPERIMENTO

O experimento de campo foi desenhado para testar, no cotidiano das pessoas,

as duas hipóteses, anteriormente descritas: 1) Um aumento de informações recebidas

pelo potencial doador sobre as atividades e resultados da ONG irá aumentar a sua

propensão a doar; 2) A divulgação pública da doação e do doador irá aumentar a

propensão a doar para a ONG.

4.2.1 INFLUENCIADOR E O FACEBOOK

Como o papel do influenciador é de grande relevância no processo de doação e

as redes sociais digitais (como o Facebook) são comparadas às redes sociais não-

digitais, principalmente no que se relaciona ao poder de influência pessoal, ofertou-se

livremente aos participantes o Facebook como ferramenta para atração de novos

doadores. Partindo dessa premissa, influenciadores poderiam, pelo próprio APP,

convidar seus contatos a instalar e doar cupons digitais, compartilhando um convite pelo

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Facebook. Outra forma que pôde ser utilizada por influenciadores para envio de

convites, foi através da própria rede social digital com a utilização da ferramenta de

compartilhamento. Ressalta-se que não fez parte do estudo a identificação nem

reconhecimento dos influenciadores.

4.2.2 O APLICATIVO PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS (APP)

Como ferramenta para o experimento, utilizamos um APP desenvolvido

especificamente para o propósito do experimento. Sua função básica era permitir aos

participantes doar seus cupons fiscais sem CPF para duas ONGs regularmente inscritas

no Programa da Nota Fiscal Paulista1. Ao final da doação, o APP apresentava

tratamento ao qual o participante fora associado.

O APP pôde ser instalado por qualquer pessoa que possuísse um smartphone

ou tablet, com acesso a rede wifi e/ou Plano de Dados Móvel (3G/4G) e o sistema

operacional fosse Android, IOS ou Windows Phone – as três plataformas dominantes

atualmente no Mercado Mobile.

Apesar de possuírem exatamente a mesma funcionalidade, cada ONG recebeu

um APP próprio. O que distingue um APP do outro são as informações pertinentes a

cada ONG.

4.2.3 AS ONGS PARTICIPANTES DO EXPERIMENTO

Considerando que o objetivo do estudo é identificar o comportamento do doador

no processo de doação, a definição das ONGs que participaram do experimento foi de

importância secundária. De todas as ONGs que estão habilitadas pelo Estado a fazerem

parte do Programa da Nota Fiscal Paulista, duas delas foram convidadas para participar

do experimento, com a única ressalva de possuírem o mesmo objetivo (assistência

social às pessoas com deficiência intelectual):

1 O Programa da Nota Fiscal Paulista permite que pessoas doem cupons fiscais, sem o CPF, para

ONGs. Assim estas podem receber créditos do ICMS, conforme legislação em vigor.

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a) ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS DE SÃO PAULO

- APAE SÃO PAULO – SP – CNPJ: 60.502.242/0001-05;

‘ Sobre a Organização

Fundada em 1961, a APAE DE SÃO PAULO é uma

Organização da sociedade civil sem fins lucrativos, que

promove a prevenção e a inclusão da pessoa com

Deficiência Intelectual produzindo e difundindo

conhecimento. Atua em todas as fases da vida, da infância

ao processo de envelhecimento. Pioneira em introduzir o

Teste do Pezinho no Brasil, a Organização possui o maior

laboratório do País especializado na área e credenciado

pelo Ministério da Saúde como Serviço de Referência em

Triagem Neonatal. Desde 2001, já foram realizados mais

de 13 milhões de testes em bebês brasileiros. Ainda como

prevenção da Deficiência Intelectual, a Organização

promove e apoia pesquisas, produz e difunde

conhecimento científico, trabalha pela defesa e garantia de

direitos da pessoa com Deficiência Intelectual. Além disso,

promove a inclusão social da pessoa com Deficiência

Intelectual estimulando o desenvolvimento de habilidades

e potencialidades que favoreçam e escolaridade e a vida

produtiva laboral, bem como, oferecendo atendimento

jurídico aos atendidos e familiares acerca dos direitos e

deveres da pessoa com deficiência.

Prevenção

Temos uma equipe de profissionais altamente

qualificados, equipamentos de última geração e

conhecimento especializado, o que nos torna referência na

prevenção da Deficiência Intelectual.

Inclusão

O artigo 19 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência assegura “vida independente e inclusão

na sociedade” para todos. Por isso, a APAE DE SÃO

PAULO busca a inclusão integral às pessoas com

deficiência intelectual, garantindo a cidadania de cada

indivíduo.

Difusão do conhecimento

A difusão do conhecimento é um importante meio de

prestação de serviço à sociedade, sendo um instrumento

de mudança para todos.

APAE Brasil e UniAPAE

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A APAE DE SÃO PAULO participa de um movimento de

mais de 2 mil unidades no Brasil, liderado pela Federação

Nacional das APAEs.A missão da federação é promover e

articular ações de defesa dos direitos das pessoas com

Deficiência Intelectual e representar o movimento perante

os organismos nacionais e internacionais para a melhoria

da qualidade dos serviços prestados pelas APAEs, na

perspectiva da inclusão social de seus usuários. (APAE

DE SÃO PAULO, 2015)

b) CASA DE DAVID TABERNÁCULO ESPÍRITA PARA EXCEPCIONAIS –

CNPJ: 61.957.627/0001-20.

Nossa História

A Casa de David, instituição sem fins lucrativos, é

referência em abrigar e cuidar de pessoas com deficiência

intelectual, física e com autismo. Realiza um trabalho de

extrema humanidade, dedicando seus esforços a seres

humanos que necessitam de apoio permanente.

Foi fundada em 1962 por Marlene Simoni Soares, uma

mulher caridosa que sempre buscou ajudar o próximo e

transformou um sonho em realidade...

...Em 1962, já com 45 crianças acolhidas, a Casa foi

transferida para o bairro do Tremembé e posteriormente

para um sítio doado na rodovia Fernão Dias, onde hoje

está localizada a Unidade Sede da instituição e que assiste

á 330 pessoas com deficiência intelectual, física e com

autismo.

Em 2014, inaugurou sua segunda unidade, na cidade em

Atibaia (SP) para atendimento específico de 108 autistas.

(CASA DE DAVID, 2015a)

Nosso Trabalho

Cuidamos e atendemos 438 pessoas carentes, em nossas

duas unidades, com deficiência intelectual (leve,

moderada e severa), com deficiência física e autismo, na

sua maioria abandonada pelas suas famílias.

O atendimento é realizado em regime de internação de

longa permanência, assemelhando-se a um hospital, com

funcionamento de 24 horas/dia. Contamos com uma

equipe de especialistas nas áreas da saúde, assistência

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30

social, educação, além da área administrativa.(CASA DE

DAVID, 2015b)

4.2.4 AMOSTRA DE PARTICIPANTES

O público-alvo foi constituído por qualquer pessoa que possuísse um

Smartphone ou Tablet com sistema operacional IOS, Android ou Windows

Phone, plano de dados (3G/4G) e/ou acesso wifi. O acesso ao Facebook não foi

critério de inclusão ou exclusão dos participantes.

4.3 PROCEDIMENTOS DO EXPERIMENTO

Após a publicação dos APPs nas lojas APP Store (Apple), Google Play (Google)

e Windows Phone Store (Microsoft), iniciou-se o experimento. Assim, ele contou com

procedimentos relacionados ao recrutamento dos participantes, sorteio do tratamento

para cada um desses participantes, atividades de cada tratamento e coleta dos dados.

4.3.1 RECRUTAMENTO DOS PARTICIPANTES

O recrutamento de participantes ocorreu de três formas:

a) Após obterem a autorização do pesquisador para início do experimento, cada

ONG fez uma campanha de divulgação do seu APP da forma como melhor

lhes conviesse, não tendo havido influência por parte do pesquisador:

a. A ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS DE

SÃO PAULO - APAE SÃO PAULO fez a seguinte campanha de

marketing:

i. Nos dias 27/05/2015 e 23/06/2015 foram enviados um total de

617.626 e-mail, sendo que destes, 8.022 pessoas abriram o

e-mail (vide Anexo A);

ii. Foi lançada uma campanha no Facebook no dia 03/06/2015

e até o dia 16/06/2015 houve visualização de 2.116 pessoas.

Quarenta e oito deram cliques na opção curtir e vinte e nove

compartilharam com suas redes de contato (Vide Anexo B);

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31

iii. Foi colocado um banner no site da APAE DE SÃO PAULO

que gerou 170 acessos à página que explicava sobre a

campanha e o APP (Vide Anexo C).

Apesar de ter sido liberado o início do experimento e divulgação

simultaneamente para as duas ONGs, a APAE DE SÃO PAULO, por

motivos de priorizações internas, começou sua divulgação tardiamente,

acarretando em prejuízo na adesão de participantes afins com a

instituição.

b. A CASA DE DAVID TABERNÁCULO ESPÍRITA PARA

EXCEPCIONAIS fez a seguinte campanha de marketing:

i. No dia 13/04/2015 enviou e-mail para 5.000 pessoas;

ii. Nos dias 13/04/2015, 14/04/2015, 16/04/2015, 29/04/2015,

13/05/2015, 28/05/2015, 01/06/2015, 12/06/2015 e

19/06/2015 foram feitas campanhas no Facebook, tendo

alcançado um público total de 5.986 pessoas;

iii. Enviou, junto aos boletos bancários, uma mensagem

divulgando o APP para seus doadores recorrentes;

iv. Divulgou reportagem de Cruz (2015), através do Jornal Metro

do dia 11/05/2015;

b) Os próprios participantes puderam convidar seus contatos do Facebook

através da opção de compartilhamento da campanha, disponível no APP ou

diretamente na rede social digital. Para compartilharem usando o APP, os

doadores precisaram dar acesso à ferramenta a sua conta do Facebook.

Esse acesso foi completamente voluntário.

c) O pesquisador divulgou o experimento da seguinte forma:

a. Através do Portal Razões para Acreditar em 27/05/2015 (CARVALHO

et al., 2015).

b. Através de uma “Fan Page” criada para a Casa de David no Facebook

(FOLLY, 2015a).

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32

c. Foram enviados 772 e-mails para amigos e conhecidos nos dias

18/04/2015, 19/04/2015, 20/04/2015, 03/05/2015 e 04/05/2015;

d. Foram feitas diversas postagens no Facebook convidando os

usuários da rede social virtual a participarem da campanha de doação

de cupons fiscais para as duas ONGs – dias 19/04/2015, 28/04/2015,

05/05/2015 e 16/05/2015;

e. No dia 20/05/2015 foi investido US$ 20,00 (vinte dólares) na

divulgação de uma postagem no Facebook. O alcance (quantidade

de pessoas que visualizou a campanha) foi de 12.811 pessoas,

sendo que houve 383 cliques únicos e 408 cliques totais;

f. Entre os dias 20/05/2015 e 27/05/2015 foi investido o total de US$

34,98 (trinta e quatro dólares e noventa e oito centavos de dólar) na

divulgação do site de divulgação da Casa de David no Facebook. O

alcance foi de 49.125 pessoas, sendo que destas, 517 clicaram no

link, sendo remetidas para o site de divulgação da Casa de David. A

opção por investir exclusivamente na Casa de David se deu em

função da falta de definição, por parte da APAE DE SÃO PAULO, do

momento em que iniciaria sua campanha;

g. Nos dias 21/05/2015 e 02/06/2015 foram feitas postagens da notícia

veiculada no Jornal Metro;

h. No dia 02/06/2015 foi feita uma postagem no Facebook da

reportagem veiculada no Portal Razões para Acreditar;

i. No dia 03/06/2015 foi compartilhado uma postagem da APAE DE

SÃO PAULO;

j. Nos dias 20/05/2015, 02/06/2015, 03/06/2015, 09/06/2015 e

13/06/2015 alunos da graduação e da pós-graduação de algumas

salas de aula do Insper foram convidados a participar do experimento

– esses alunos receberam um panfleto explicando como instalar o

APP;

k. Foram distribuídos aproximadamente 1.200 panfletos explicativos

sobre como instalar o APP (Vide Apêndice A).

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33

Como forma de garantir total lisura ao processo, foi publicado no Portal

Doadores de Impacto (FOLLY, 2015b) uma política de privacidade que

obrigatoriamente foi aceita por todos os participantes antes de realizarem

qualquer operação nos APPs. Caso o participante não concordasse com a

Política de Privacidade, ficaria impedido de seguir adiante na aplicação. Nessa

Política de Privacidade, além de outros pontos de interesse, o participante era

alertado que se tratava de um experimento acadêmico.

4.3.2 SORTEIO DO TRATAMENTO

O APP foi desenvolvido para distribuir, de forma completamente aleatória, os

participantes em cinco grupos distintos. Cada grupo com um tratamento diferente:

a) Grupo de Controle;

b) Tratamento 1 – Informação. Esse tratamento buscou testar a hipótese

baseada na teoria de assimetria de informação;

c) Tratamento 2 – “Selfie”. Esse tratamento buscou testar a hipótese baseada

na teoria de identidade moral;

d) Tratamento 3 – “Selfie” + Informação. Esse tratamento buscou verificar se a

junção das duas teorias traria algum ganho adicional – hipótese 3;

e) Tratamento 4 – Informação + “Selfie”. Embora não seja feita nenhuma

hipótese específica a respeito da ordem de introdução de cada tratamento,

será verificada se existe algum efeito da ordem em uma análise do tipo post-

hoc

4.3.3 ATIVIDADES DE CADA TRATAMENTO

Todos os tratamentos iniciavam com a aceitação da Política de Privacidade, a

captura da foto do cupom fiscal e o envio para a ONG. Da mesma forma, todos os

tratamentos terminavam com um breve agradecimento, além de um pedido de

compartilhamento no Facebook. O que difere um tratamento dos demais são os

seguintes passos:

a) Grupo de Controle – Não há tratamento algum. Os doadores aqui alocados

seguiram o básico conforme descrito logo acima.

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34

b) Tratamento 1 – Informação – os doadores receberam, como tratamento,

informações acerca dos trabalhos sociais realizados pela ONG (Figuras 2 e 3).

Esse tratamento procurou testar a hipótese baseada na teoria de assimetria de

informação.

c) Tratamento 2 – “Selfie“ – os doadores receberam, como tratamento, o convite

para tirar uma foto própria (“Selfie”) e informar o seu nome. Essas informações

foram registradas no Portal Doadores de Impacto (FOLLY, 2015b) sob a forma

de agradecimento público. Quanto mais cupons doados, melhor posicionado no

Mural dos Doadores do Portal (Vide Apêndice B). Esse tratamento teve a

finalidade de testar a hipótese baseada na teoria de identidade moral.

d) Tratamento 3 – Informação + “Selfie“ – os doadores receberam os dois

tratamentos (Informação e “Selfie”). Esse tratamento objetivou verificar se a

junção das duas teorias traria algum ganho adicional, ou seja, um aumento de

informações recebidas pelo potencial doador sobre as atividades e resultados da

ONG aumenta o efeito da divulgação pública da doação e vice-versa, resultando

em maior propensão a doar para a ONG.

e) Tratamento 4 – “Selfie“ + Informação – como no tratamento anterior, os doadores

receberam os dois tratamentos (“Selfie” e Informação) mas na ordem invertida.

Esse tratamento buscou verificar se a ordem de apresentação dos tratamentos

traria algum ganho adicional. Embora não seja feita nenhuma hipótese

específica a respeito da ordem de introdução de cada tratamento, será verificada

se existe algum efeito da ordem em uma análise do tipo post-hoc.

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35

Figura 2 - Informações APAE DE SÃO PAULO

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

Figura 3 - Informações CASA DE DAVID

Fonte: Elaborado pelo próprio autor

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36

4.3.4 DURAÇÃO DO EXPERIMENTO

O experimento iniciou-se no dia 12/04/2015 e os dados foram coletados até o

dia 30/06/2016, ou seja, o experimento foi realizado ao longo de 79 dias.

4.3.5 DADOS COLETADOS

Levando-se em consideração que no contexto empírico do trabalho buscou-se

analisar quais fatores aumentam a propensão dos indivíduos em destinar cupons fiscais

para ONGs paulistas, a variável dependente coletada no experimento é a quantidade

de cupons fiscais doados por participante. Uma segunda variável dependente analisada

foi o valor total dos cupons doados. Por fim, optou-se por criar uma terceira variável

dependente “dummy”, de nome doou após tratamento, cujo objetivo era saber se o

participante havia feito alguma outra doação após ter recebido o tratamento. Como o

estudo procurou identificar determinantes de doação em duas teorias distintas, o tipo de

tratamento designado aleatoriamente ao participante é a variável independente, pois ela

fornecerá subsídios para determinar a existência ou não de relação, estatisticamente

válida, entre o tratamento fornecido e a quantidade e/ou valor total dos cupons doados.

Além das variáveis dependentes e independentes, obteve-se outra que serviu de

controle para o experimento:

a) A ONG para qual fez as doações (APAE ou Casa de David);

Outras duas variáveis de controle dos doadores foram capturadas, mas apenas

dos participantes que deram acesso às suas contas do Facebook ao APP:

a) Sexo;

b) Quantidade total de amigos no Facebook;

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37

5 RESULTADO DO EXPERIMENTO

Nesta seção serão apresentados os resultados obtidos durante o experimento

de campo.

5.1 ANÁLISE DESCRITIVA

Os Gráficos 1 e 2 demonstram, respectivamente, a evolução diária das

instalações dos APPs pelos participantes e a doação de cupons fiscais, acrescidos de

informações referentes às ações de divulgação da campanha nos dias em que

aconteceram.

O Quadro 2 apresenta a quantidade de participantes, o somatório de cupons e

somatório do valor dos cupons doados, agrupados por tratamento. Apesar de terem sido

registrados no banco de dados da aplicação 308 instalações do APP em dispositivos

móveis, 119 foram eliminados por não terem enviado nenhuma imagem através do

aplicativo. Da mesma forma, 225 imagens foram descartadas, do total de 2.223

recebidas, por não estarem legíveis ou não serem efetivamente cupons fiscais. Com

isso, mais 14 participantes foram descartados por não terem enviado imagens válidas.

Assim sendo, foram mantidos no estudo um total de 175 participantes e 1.998 cupons

fiscais que possuíam, pelo menos o valor legível. Ressalta-se que o somatório do valor

dos cupons doados não corresponde ao montante que as ONGs receberão, mas sim o

total consumido pelos participantes.

O Quadro 3 apresenta as mesmas informações que as contidas no Quadro 2,

excluindo-se o primeiro cupom fiscal doado de cada um dos participantes. Isto deve-se

ao fato de o primeiro cupom fiscal não ter sofrido qualquer tratamento. Como se pode

observar no item 4.3 PROCEDIMENTOS DO EXPERIMENTO, os tratamentos foram

introduzidos logo após a doação de cada cupom fiscal. Dado que 46 participantes

doaram apenas um cupom cada, o Quadro 3 apresenta apenas 129 participantes.

Igualmente, a quantidade total de cupons foi reduzida em 175, passando a ser 1.823.

A funcionalidade de compartilhar no Facebook informações sobre a campanha

de doação de cupons para as ONGs permitia ao APP acesso às informações sexo e

quantidade de amigos (contatos) no Facebook do participante. Apenas 31 participantes

(10%) utilizaram a funcionalidade, com isso, dada a baixa adesão, as informações sobre

sexo e quantidade de amigos foram descartadas do estudo.

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38

Gráfico 1 – Quantidade de Instalações Diárias

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

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39

Gráfico 2 – Quantidade de Doações Diárias

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

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40

Quadro 2 - Distribuição dos Participantes nos Tratamentos

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

Quadro 3 - Distribuição dos Participantes nos Tratamentos

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

No Tratamento 4 foi identificado um participante que realizou uma doação total

de 686 cupons, correspondendo a R$ 17.011,19. Esse participante foi considerado um

caso de observação extrema (outlier), tendo em vista que o segundo maior doador fez

uma doação total de 80 cupons (R$ 6.413,92).

5.2 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS RESPOSTA

O estudo foi feito com base na avaliação de três variáveis dependentes, a saber:

a) Quantidade de cupons doados;

b) Valor total dos cupons doados;

c) Doou após tratamento (dicotômica – pode ter valores zero ou um).

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41

Esta última variável foi desenvolvida a partir da quantidade de cupons doados

pelos participantes. Se a quantidade de cupons doados foi igual a um, então a variável

recebeu valor zero. Se a quantidade de cupons doados foi superior a um, então a

variável recebeu o valor um. Isto porque o tratamento só era realizado após a primeira

doação. Nesse caso, significa dizer que se a variável tiver valor zero, o doador não doou

após o tratamento, se o valor foi igual a um, significa que houve doação após o

tratamento.

O Quadro 4 apresenta o comportamento das duas primeiras variáveis em função

do tratamento aplicado, já desconsiderando o primeiro cupom de cada participante.

Quadro 4 - Comportamento das variáveis em função do tratamento

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

Por causa do participante cuja doação foi considerada extrema, optou-se por

executar a função “winsorizing” que elimina valores extremos sem eliminar a observação

da amostra. Isto porque a função aproxima valores extremos aos demais valores. No

caso em questão, o valor extremo foi trazido à 99% da amostra.

Com isso, o Quadro 5 revela o comportamento das variáveis em função do

tratamento, mas já com a observação extrema ajustada (winsorized).

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42

Quadro 5 - Comportamento das variáveis em função do tratamento

(winsorized)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

No Quadro 5, embora exista muita variância, constata-se que as médias dos

tratamentos são maiores que as do grupo de controle. Posteriormente, será feito teste

estatístico.

5.3 ASSIMETRIA DAS OBSERVAÇÕES

A análise do comportamento de doação identificou um alto número de

participantes que, após terem sido estimulados nos tratamentos, ainda assim não

voltaram a doar cupons, perfazendo um total de 46 participantes, ou seja, 26% da

amostra.

Por outro lado, outro grupo de 20 participantes teve um comportamento de

doação bastante superior aos demais, tendo doado 68% dos cupons. Isto tornou a

amostra bastante assimétrica. Os gráficos 3 – Histograma (Winsonrized) e 4 – Box Plot

(Winsorized) mostram o comportamento dos dados:

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43

Gráfico 2 – Histograma (Winsorized)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

Gráfico 3 - Box Plot (Winsorized)

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

Com o objetivo de reduzir esta assimetria, aplicou-se as seguintes soluções

estatísticas:

a) Calculou-se o logaritmo natural das variáveis dependentes “quantidades de

cupons doados” e “valor total dos cupons doados”;

b) Utilizou-se a variável de controle ONG, pois há diferenças importantes nos

dados entre as ONGs;

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44

c) Calculou-se as regressões multivariadas pelos métodos probit e tobit.

Ao calcular o logaritmo natural das variáveis buscou-se reduzir o efeito viés

provavelmente ocorrido no experimento. E com a variável de controle capturou-se a

heterogeneidade entre as ONGs. Uma possível explicação para a diferença entre os

resultados obtidos pelas ONGs está relacionada à iniciação tardia da ONG APAE DE

SÃO PAULO no experimento (vide no item 4.3.1, observação após descrição das ações

de divulgação da APAE DE SÃO PAULO).

Ambos os métodos probit e tobit são regressões logísticas, multivariadas, cujo

objetivo é identificar a probabilidade de ocorrência de uma determinada situação. O

modelo tobit permite melhor implementação em modelos com excesso de zeros acima

do esperado. No caso em questão, há um alto percentual de doadores que não voltaram

a doar após o tratamento.

5.4 REGRESSÕES

No Quadro 6 são apresentados os resultados das três regressões, uma para

cada variável dependente. As três regressões foram calculadas com as variáveis

independentes “dummies” de cada um dos quatro tratamentos, além da variável de

controle ONG.

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45

Quadro 6 – Regressões

Fonte: Elaborado pelo próprio autor com dados obtidos no experimento

Como visto pelo indicador de pseudo R2, muito embora algumas variáveis

tenham sido estatisticamente significantes, o ajuste total do modelo foi relativamente

baixo. Isso significa que há muita variância nas respostas não explicada pelos

tratamentos.

Os dois tratamentos que apresentaram relevância estatística foram o 2, onde

apenas a “Selfie” é oferecida e o 3 onde a “Selfie” é oferecida primeiro seguida de

informações sobre a ONG.

5.5 ANÁLISE DE RESULTADOS ADICIONAIS

a) Aceitação de Reconhecimento Público

Mesmo tendo apresentado relevância estatística, o reconhecimento público não

foi unanimidade entre os participantes que receberam tal estímulo: houve um percentual

considerável que optou por não o receber por completo. Conforme dados registrados no

banco de dados, 33 (28,2%) participantes optaram por não mostrar nem suas “Selfies”

nem seus nomes, 16 (13,7%) optaram por não mostrar a “Selfie” mostrando apenas

Especificação:

Amostra:

Modelos de Regressão e

Variável Dependente

Tobit "ln(Quantidade de

Cupons Doados)"

Tobit "ln(Valor Total dos

Cupons Doados)"

Probit "Doou após

Tratamento"

(1) (2) (3)

Variáveis independentes

0.2603 0.5809 0.0328

(0.2951) (0.5314) (0.1726)

0.4551 0.5998 0.1851

(0.0624)** (0.0366)** (0.0551)**

0.3656 0.6189 0.1471

(0.1571)* (0.2918)* (0.0494)**

0.2217 0.8207 0.1048

(0.3216) (0.4606) (0.4088)

-0.6281 -0.6088 -0.5000

(0.0267)** (0.0206)** (0.0204)**

1.0649 4.5983 0.7465

(0.1714)** (0.2606)** (0.1570)**

Pseudo R2 0.0150 0.0127 0.0305

N N = 175 N = 175 N = 175

Tratamento 3 - Reconhecimento

Público + Informação

Tratamento 4 - Informação +

Reconhecimento Público

APAE

Todas as regressões consideram erros-padrão robustos, centrados em cada ONG.

* Significante a 5%; ** Significante a 1%

Dados coletados durante experimento entre 12/04/2015 e 30/06/2015

Regressões Multivariadas

Constante

Tratamento 1 - Informação

Tratamento 2 - Reconhecimento

Público

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seus nomes, três (2,6%) optaram por mostrar a “Selfie” mas não mostrar o nome e 65

(55,6%) desejaram apresentar as duas informações.

b) Engajamento nas Redes Sociais

A análise do comportamento na rede social digital Facebook, mostra que entre

os dias 20/05/2015 e 27/05/2015, foram investidos um total de US$ 54,98 (cinquenta e

quatro dólares e noventa e oito centavos) e obteve-se um alcance de 61.936 pessoas,

sendo que 925 destas clicaram nas campanhas e foram direcionadas para o site de

divulgação da Casa de David (Figura 4). Nesse mesmo período, 44 novos participantes

instalaram o APP. Ou seja, 1,5% dos que viram o anúncio acessaram a página e com

isso, no máximo, 0,07% dos que foram impactados foram convertidos em doadores.

Somando-se a isso, a postagem no Facebook da reportagem veiculada no Portal

Razões para Acreditar, feito no dia 02/06/2015, recebeu 112 curtidas (“Likes”), 31

comentários e foram compartilhados por cinco pessoas. Se for considerado um período

de sete dias de impacto dessa ação – 02/05/2015 e 09/05/2015, 32 pessoas instalaram

o APP.

Figura 4 – Site de divulgação Casa de David

Fonte: (FOLLY, 2015c)

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47

6 CONCLUSÕES

Nesta seção serão apresentadas conclusões e contribuições tanto para a teoria

quanto para a prática dos assuntos relativos ao tema, além de apresentadas as

limitações e sugestões para estudos futuros.

6.1 CONTRIBUIÇÕES PARA A TEORIA

Apesar da literatura estudada indicar possível influência do efeito assimetria de

informação e necessidade de reconhecimento público como determinantes de doação,

o experimento de campo executado nas condições já explicitadas, mostrou que o ajuste

total do modelo foi relativamente baixo, apresentando grande variância nas respostas

não explicadas pelos tratamentos. Porém, os coeficientes de alguns tratamentos foram

significativos, apesar do baixo poder explicativo do modelo como um todo.

Os estudos relacionados à assimetria de informação (AKERLOF, 1970) e

identidade moral simbólica (WINTERICH; MITTAL; AQUINO, 2013), quando

experimentados em campo, apresentaram resultados que dão mais suporte à teoria de

identidade moral do que à teoria de assimetria informacional, mesmo tendo pouco mais

de 55% das pessoas aceitado totalmente o reconhecimento público (selfie e nome).

Dessa forma, o que aparenta importar realmente é o desenvolvimento da percepção de

reconhecimento público no doador. Já a disponibilização de informação a respeito das

atividades que as ONGs realizam, parece ter importado pouco para que os doadores

continuassem no processo de doação.

Apesar de Jeong e Lee (2013) sugerirem que a oportunidade de transmitir uma

imagem desejada a amigos pode ser um forte motivador para adesão a uma causa

através de sites de redes sociais, este estudo identificou que, aparentemente, houve

pouca geração de compromisso e engajamento. O fato de um indivíduo gostar de uma

publicação na rede social digital, ao clicar em “curtir”, não significa necessariamente que

o mesmo se engajará na causa, mesmo sendo esta também no formato digital.

Logo, os resultados sugerem que maior esforço de desenvolvimento teórico

possa ser devotado para identificar fatores morais que possam suportar aumento nas

doações e sua recorrência.

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48

6.2 CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA

O presente estudo apresenta para as ONGs a importância de se estimular os

doadores objetivando aumento na recorrência das doações. Instituições sem fins

lucrativos que desejarem um processo de captação de recursos bem estruturado, com

recebimentos recorrentes, buscando garantir estabilidade financeira, devem atentar

para a estruturação do reconhecimento público de seus doadores, nunca os obrigando

a aceitar a publicidade das ações, mas sim oferecendo tal possibilidade.

Outro ponto de grande relevância está relacionado à redução de barreiras no

processo de doação. No experimento realizado, foi utilizado um aplicativo para

dispositivos móveis com o objetivo de tornar o processo de doação de cupons algo

simples e prático, com alcance imediato e que apresentasse a credibilidade necessária

para os doadores. Já na primeira tela do aplicativo era possível fazer a doação,

economizando tempo e reduzindo o abandono pela demora em função de processos

complicados. Também foi descartada qualquer obrigação de preenchimento de

cadastros, que pudesse relacionar diretamente o doador com o montante doado e, com

isso, quebrando o sigilo, por alguns desejado. E, por fim, a apresentação de tratamentos

que fizessem o doador voltar a doar e divulgar para seus contatos na rede social

denominada Facebook. Esse aplicativo foi disponibilizado para aparelhos com sistemas

operacionais Android, IOS e Windows Phone, as três maiores plataformas atualmente

disponíveis no Mercado, que juntas somam 99% de participação do mercado, segundo

o IDC (2015).

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6.3 LIMITAÇÕES

O presente estudo foi realizado com base no Programa da Nota Fiscal Paulista

e, por isso, limitado ao Estado de São Paulo. Contou com a ajuda de duas ONGs, de

um universo superior a três mil, regularmente inscritas no programa acima mencionado.

A participação dessas duas ONGs pode ter enviesado o estudo no sentido de reduzir o

efeito informacional, por serem as mesmas bastante conhecidas pelo público

participante. Além disso, as informações apresentadas sobre as ONGs foram genéricas.

Se, por exemplo, o aplicativo detalhasse mais os dados com depoimentos, o resultado

poderia ter se apresentado diferente.

O fato da instalação do aplicativo ter sido voluntária também pode ter permitido

uma auto seleção de pessoas mais inclinadas para questões sociais e de doação. Em

outras palavras, há limite para obter informação sobre qual seria o efeito dos

tratamentos onde, por exemplo, um grupo de pessoas escolhidas aleatoriamente tivesse

acesso ao aplicativo.

O experimento foi realizado entre os dias 12 de abril de 2015 e 30 de junho de

2015, ou seja, por 79 dias, ensejando identificar apenas dois possíveis comportamentos

humanos determinantes para a doação.

6.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

No experimento realizado, procurou-se aproveitar potenciais influenciadores

para a solicitação da primeira doação de cupom fiscal através da rede social virtual

Facebook. Porém, o volume de participantes que se propôs a realizar tal tarefa mostrou-

se com potencial de crescimento. Dessa forma, sugere-se que pesquisas futuras

busquem entender através de experimentos o que de fato faz com que um determinado

indivíduo seja um influenciador em rede social virtual. Seriam essas características

natas, possíveis de se desenvolver ou possíveis de se influenciar?

Há uma oportunidade para se identificar o motivo pelo qual o cidadão não decide

para onde parte de seus impostos serão investidos pelo Governo, mesmo que tais

investimentos possam impactar diretamente nele próprio. Tal intento permite a

possibilidade de se buscar entender quais são as prioridades atuais dos indivíduos de

uma determinada sociedade, a ponto de relegar a um segundo plano, questões de

relevância social.

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Como descrito nas limitações, a auto seleção pôde ter causado viés no

tratamento das informações sobre as ONGs. Dessa forma, um novo experimento em

que os participantes possam ser escolhidos aleatoriamente, inclusive levando em

consideração o desconhecimento das ONGs, possa reduzir o efeito viés e apresentar

resultados diferentes dos aqui encontrados.

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51

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A – PANFLETO EXPLICATIVO SOBRE INSTALAÇÃO DO APP

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APÊNDICE B – MURAL DOS DOADORES DE IMPACTO

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ANEXO A – IMAGEM DO E-MAIL MARKETING DA APAE DE SÃO PAULO

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ANEXO B – IMAGEM DA CAMPANHA NO FACEBOOK DA APAE DE SÃO PAULO

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ANEXO C – IMAGEM DO BANNER NO PORTAL DA APAE DE SÃO PAULO

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ANEXO D – IMAGEM DO E-MAIL MARKETING DA CASA DE DAVID

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ANEXO E – IMAGEM DA DIVULGAÇÃO NO SITE DA CASA DE DAVID

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ANEXO F – IMAGEM DA REPORTAGEM NO JORNAL METRO

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ANEXO G – IMAGEM DA REPORTAGEM NO PORTAL RAZÕES PARA

ACREDITAR

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ANEXO H – AUTORIZAÇÃO – APAE DE SÃO PAULO

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ANEXO I – AUTORIZAÇÃO CASA DE DAVID

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