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INSERÇÃO DA LINGUAGEM VIRTUAL “O INTERNETÊS” ARTICULADO COM A LÍNGUA PORTUGUESA FORMAL, NO COTIDIANO E PRÁTICA ESCOLAR DOS PROFESSORES: uma proposta de formação continuada
Claudiney da Silva Benatti¹ Profª Dra. Sueli de Jesus Monteiro²
RESUMO:
O presente artigo apresenta e reflete sobre o desenvolvimento do Projeto de Intervenção realizado durante o PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional, da SEED – Secretaria de Estado da Educação do Paraná, turma 2012, intitulado “Inserção da linguagem virtual “o Internetês” articulado com a Língua Portuguesa formal, no cotidiano e prática escolar dos professores: uma proposta de formação continuada” e de sua execução no Colégio Estadual Floripa Teixeira de Faria – EFM, em Almirante Tamandaré, junto aos professores de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental e Médio, com a intenção de estudo de forma continuada, tendo como foco a influência da linguagem virtual na rotina dos professores e nas suas práticas pedagógicas. Durante a implementação, a formação teve como objetivo propiciar reflexão e avanço no estudo sobre o gênero Internetês como nova modalidade de linguagem, da necessidade da busca constante de aperfeiçoamento quanto ao tema e a percepção dos professores como usuários da linguagem virtual na sua vida particular, profissional e na sua prática escolar. O estudo das unidades contidas no Caderno Temático contribuiu para ampliação do conhecimento sobre a nova variação linguística e a conscientização quanto à mudança frente a sua prática pedagógica, aumentando sua visão da importância das novas linguagens nos ambientes escolares, legitimando o ensino inovador na formação de cidadãos emancipados.
Palavras-chave: Linguagem virtual; Internetês; Formação do professor.
___________________________¹ Especialização em Magistério de 1º e 2º Graus com concentração em
Metodologia do Ensino pelo IBPEX/UNIBEM, Professor da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná – e-mail [email protected]
² Doutora em Literatura Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC, Professora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina/UEL nas Áreas de Literatura Portuguesa e Teoria Literária.
INTRODUÇÃO
No mundo contemporâneo, a presença da tecnologia e da informática no
cotidiano da sociedade atual aponta-se como a principal forma de comunicação
utilizada por milhares de pessoas, sejam na resolução de problemas cotidianos ou
para simples contato social, por meio de e-mails, chats, conversas de msn,
comentários blogs e fotologs, twitter, scraps de orkut, facebook, instagram,
whatsapp, skype entre outros que estão em expansão.
Com a globalização cresceu a oportunidade de acesso às tecnologias.
Dessa forma todo cidadão tem testemunhado a invasão crescente do cotidiano por
novas tecnologias de computação e de comunicação que causam mudanças
drásticas no papel, na quantidade, na qualidade e na velocidade de informação
ligadas ao dia-a-dia. Hoje é possível articular a comunicação e a informação, em
tempo real, entre pessoas que estejam distantes, via telefones, celulares,
computadores, televisores, satélites, tablet e outros. As novidades do computador
afetam cada vez mais os aspectos da vida profissional e cotidiana: editoração
eletrônica, jogos, diversão e entretenimento via computador, telefone pela Internet,
correio eletrônico, distribuição e aquisição de software, navegação pela rede mundial
e obtenção de informações de qualquer tipo. Pelas transformações que se
apresentam na atualidade, marcadas, principalmente, pelo avanço científico e
tecnológico, trazem novas perspectivas ao campo educacional.
Reforçando tais afirmações, Soares esclarece que:
O avanço tecnológico que atingiu a sociedade nas últimas décadas no mundo e no Brasil caracteriza a mudança de comportamentos nas relações interpessoais e do mundo do trabalho alterado em seus processos, incorporando novas rotinas e exigindo uma nova comunicação entre as pessoas e as atividades que as integram, refletindo novas relações de conhecimento individual e coletivo. [...] Dentre os desafios que enfrentam hoje as universidades para o desenvolvimento da prática de ensino via tecnologias de informação e comunicação na internet, destacam-se a mudança de paradigma didático [...] (2006, p. 25-34).
Sendo assim, temos o computador por meio da internet, como ponto
principal nas relações da sociedade contemporânea, proporcionando uma linguagem
mais acessível à compreensão humana, em tempo real e que atende às
necessidades atuais. Neste contexto, a sociolinguística é uma das subáreas da
linguística, que destina ao estudo da língua e sua repercussão social, tem
demonstrado grande interesse pela linguagem virtual por estar sendo veiculada
entre jovens da geração virtual e que expõem pessoas de diferentes partes do
mundo.
Na sociedade e na educação atual ainda encontramos divergências quanto
a utilização do computador e suas ferramentas para busca do conhecimento,
principalmente, na escola, na sala de aula.
Por um lado, temos os professores que atuam com práticas de aulas
convencionais que resistem quanto ao uso desse novo recurso tecnológico para
busca e construção do conhecimento, muitas vezes pela insegurança e a pouca
familiarização com o computador e seus aplicativos, pela dificuldade de adaptar os
programas e conteúdos a serem trabalhados buscando atender às necessidades
dos alunos que trazem do cotidiano, aprendizado e vivência em informática e
internet e, principalmente, pelo medo de parecer que não está “dando aula”, pois
com a prática do ensino e aprendizagem colaborativa pode parecer que suas aulas
se transformaram numa “grande bagunça”e podemos citar a grande resistência de
docentes com práticas mais conservadoras.
Do outro lado, temos educandos com expectativas de que com o uso do
computador e a internet as soluções de atividades e aprendizagem virão de forma
mais rápida. Assim, encontramos alunos em laboratórios, bibliotecas e salas de
aulas conectadas buscando respostas simples, sínteses curtas e resultados
imediatos sem nenhuma preocupação de investigação e aprofundamento no
conteúdo estudado, dando a impressão de que os alunos querem tudo mastigado.
Outra dificuldade ainda apresentada nas escolas está relacionada ao uso
dos laboratórios de informática em períodos ou aulas que servem apenas para sanar
a curiosidade ou entretenimento dos alunos, tornando-se aulas evasivas e sem o
propósito de cumprir o programa da disciplina.
Com a expansão acelerada das tecnologias da informação e comunicação,
principalmente, a informática, o mundo contemporâneo está diante de uma
“revolução virtual”, onde as pessoas utilizam o computador na resolução de
problemas cotidianos, para simples contato social, no exercício profissional e para
fins de aprendizagem e conhecimento, por isso todo sistema educacional deve estar
preparado para oferecer um ensino inovador capaz de formar cidadãos
emancipados, para conviverem e participarem nesta sociedade moderna.
Tanto o estudo como a implementação pedagógica teve como uma das
justificativas a percepção generalizada de que a escrita se altera quando usada em
ambiente virtual, que tanto educador quanto o aluno são usuários da linguagem
advinda da internet, mas que detém visão equivocada da sua aplicação, portanto,
vale a pena investigar qual seria a influência que textos escritos em internetês
podem causar na escrita e na leitura, não simplesmente criticar, banir ou impedir o
uso desse tipo de texto.
Diante dos recursos de informática disponíveis nos espaços escolares, os
quais facilitam para que os professores proponham novas práticas pedagógicas,
utilizando computadores na sala de aula, o que propicia reflexão sobre a mais
recente variação lingüistica, o Internetês, como nova modalidade de linguagem,
além de avançar no estudo sobre esse e outros fenômenos causados pela difusão
da interação via internet, perceber-se, enfim, como usuário do gênero internetês no
seu cotidiano, na vida profissional e na sua prática escolar.
Considerando o objeto deste estudo, a influência da linguagem virtual
Internetês na rotina do professor por meios tecnológicos, a pesquisa teve caráter
descritivo e de abordagem qualitativa, a pesquisa-ação, por estar associada a uma
linha de ação coletiva, com finalidade de atingir os objetivos capazes de causar uma
transformação pessoal e profissional na vida do educador, enquanto pesquisador,
uma vez que, como refere Richardson (1989), ela é reconhecida para estudos de
natureza social.
O presente artigo discute incialmente as concepções teóricas, pautadas em
autores como Vigotsky (2009), Kenski (2007), Bisognin (2009), Bagno (2007), Braga
(2007), Caiado (2007), Libâneo (2011), Moran (2000), Soares (2006), Silva (2011) e
outros, visando conceitualizar a Internet, a modalidade de linguagem virtual "o
Internetês" , suas variantes, compreender a sua repercussão social, sua utilização
como escrita e até onde interfere na linguagem formal e a necessidade de formação
do professor frente ao uso do computador e da Internet como recurso tecnológico e
pedagógico. Posteriormente, são apresentadas as principais ações levadas a efeito
no âmbito do PDE, quando são discutidas as estratégias e resultados obtidos junto
aos professores de Língua onde o Projeto de Intervenção se efetivou.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As tecnologias de informação e comunicação advindas do processo de
integração mundial, a globalização, tão presentes na sociedade atual, não se
apresentam no tempo de forma estática, ao contrário, ambas modificam-se à medida
que o homem, tanto no aspecto político, no social, no econômico e, principalmente,
no cultural, também se transformam. Com a mudança da sociedade, diante das
complexidades da vida, as práticas do homem devem estar de acordo com tais
alterações.
As constantes transformações que se apresentam na atualidade nas mais
diversas áreas, marcadas, principalmente, pelos avanços dos sistemas eletrônicos
de comunicação e informação, trazem novas perspectivas quanto ao uso da
linguagem, fazendo com que surja a necessidade de entender os aspectos
linguísticos utilizados nesses sistemas para comunicação entre seres humanos.
Para Vigotsky a linguagem tem a função de comunicar, sendo um meio de
comunicação social, de enunciação e compreensão. Aponta ainda que:
[...] A comunicação, estabelecida com base em compreensão racional e na intenção de transmitir idêias e vivências, exige necessariamente um sistema de meios cujo protótipo foi, é e continuara sendo a linguagem humana, que surgiu da necessidade de comunicação no processo de trabalho (2009, p.11).
Por fazer uso constante da linguagem para efetivar a comunicação e a
expressão no meio que está inserido, o homem convive com um contexto de
diversidade linguística, onde surgem frequentemente diversas formas e
possibilidades de comunicação carregadas de variações, que podem ocorrer por
regiões geográficas ou por estratos sociais. Para caracterizar essa variação,
Bisognin nos afirma:
[...] As línguas mudam porque não estão feitas, mas fazem-se continuamente pela atividade linguística, ou seja, mudam porque são faladas. Quem fala é um indivíduo, e por ser este indivíduo histórico, não muda totalmente sua expressão, utiliza-se de modelos anteriores. As línguas mudam porque é inerente à natureza delas que elas mudem, pois fatores externos exercem influência sobre elas. Se assim não fosse, as línguas estariam fadadas a uma estabilidade eterna, já que somente as línguas abstratas não mudam (2009, p. 38).
Com base nas referências acima, fica claro que a linguagem em sua função
comunicativa torna-se o principal instrumento de interação social, pelo qual se dá a
socialização do indivíduo.
Segundo Kenski (2007) a forma mais antiga de expressão entre o homem, a
linguagem oral, é uma construção e apresentava as particularidades de cada grupo,
que se davam por meio de signos comuns de voz, que eram compreendidos pelos
membros de um mesmo grupo, veículo pelas quais as pessoas se comunicavam e
aprendiam. A fala, essa oralidade primária, requeria a proximidade entre os
interlocutores. Para a pesquisadora, na atualidade, a linguagem oral é a principal
forma de comunicação e de troca de informações e, nesta nova sociedade oral, dá-
se também pelo apelo à afetividade, mais do que a razão, que se pretende fixar
informações.
As diferenças entre linguagem oral e escrita ficam bem definidas, a fala é
espontânea, informal e interativa, que depende do contexto situacional, a escrita,
planejada, organizada e durável.
Vigotsky, quanto à diferença de fala e escrita confirma:
O discurso escrito é um discurso feito na ausência de interlocutor. Por isso é um discurso desenvolvido ao máximo, nele a decomposição sintática atinge o apogeu. Ali, graças à divisão dos interlocutores, raramente são possíveis à compreensão de meias palavras e os juízos predicativos. Na linguagem escrita, os interlocutores estão em diferentes situações, o que exclui a possibilidade de existência de um sujeito comum em seus pensamentos. Por isso, comparado ao discurso falado, o escrito é, neste sentido, maximamente desenvolvido e uma forma de discurso sintaticamente complexa na qual, para enunciar cada pensamento isolado, precisamos empregar muito mais palavras do que faz com a linguagem falada (2009, p. 452).
É importante observar que:
A convergência das tecnologias de informação e de comunicação para a configuração de uma nova tecnologia, a digital, provocou mudanças
radicais. Por meio das tecnologias digitais é possível representar e processar qualquer tipo de informação. Nos ambientes digitais reúnem-se a computação (a informática e suas aplicações), as comunicações (transmissão e recepção de dados, imagens, sons etc.) e os mais diversos tipos, formas e suportes em que estão disponíveis os conteúdos (livros, filmes, fotos, músicas e textos). É possível articular telefones celulares, computadores, televisores, satélites etc. e, por eles, fazer circular as mais diferenciadas formas de informação. Também é possível a comunicação em tempo real, ou seja, a comunicação simultânea, entre pessoas que estejam distantes, em outras cidades, em outros países ou mesmo viajando no espaço (KENSKI, 2007, p. 33).
Pela Internet, ocorre o mecanismo da interatividade, ou seja, todo indivíduo
se estabelece como produtor/receptor da informação, interferindo nos conteúdos, no
meio e na própria mediação. Sendo um sistema multimídia que integra linguagens e
formatos de outros meios e padrões próprios, a Internet torna-se um novo padrão de
comunicação, uma prática social.
Segundo Moran :
“nosso desafio maior é caminhar para um ensino e uma educação de qualidade, que integre todas as dimensões do ser humano. Para isso precisamos de pessoas que façam essa integração em si mesmas no que concerne aos aspectos sensorial, intelectual, emocional, ético e tecnológico, que transitem de forma fácil entre o pessoal e o social, e expressem nas palavras e ações que estão sempre evoluindo, mudando, avançando”.(2000.p.15)
Por ser o computador, via internet, o veículo que repassa a informação e a
comunicação de forma mais rápida, principalmente, entre os jovens, nossos alunos,
têm utilizado de forma assustadora esse recurso. Daí observa-se a criação de um
novo padrão de linguagem: a virtual, sendo mais uma das variantes do uso da
língua.
Como aborda Kenski:
A terceira linguagem articula-se com as tecnologias eletrônicas de informação e comunicação. A linguagem digital é simples, baseada em códigos binários, por meio dos quais é possível informar, comunicar, interagir e aprender. É uma linguagem de síntese, que engloba aspectos da oralidade e da escrita em novos contextos. A narrativa digital rompe com as formas narrativas circulares e repetidas da oralidade e com o encaminhamento contínuo e sequencial da escrita e se apresenta como um fenômeno descontínuo, fragmentado e, ao mesmo tempo, dinâmico, aberto e veloz. Deixa de lado a estrutura serial e hierárquica na articulação dos
conhecimentos e se abre para o estabelecimento de novas relações entre conteúdos, espaços, tempos e pessoas diferentes (2007, p.31-32).
Conforme Caiado (2007, p 39), “podemos afirmar que o meio digital traz
novos entendimentos sobre a escrita, especificamente, dos adolescentes”, onde
palavras e expressões não seguem uma forma rígida nem a norma padrão, mas
tentam reproduzir a linguagem falada. Assim, tendo vistas na oralidade, apresentam
características como entonação, pausa e hesitação. Ao abreviar palavras, usar
símbolos, sinais e utilizar características da oralidade nas redes sociais os usuários
criam um estilo de discurso e desenvolvem habilidades específicas para
comunicação entre determinados grupos ou categorias.
Segundo Bisognin a linguagem virtual:
[...] “é apenas mais uma forma da língua portuguesa. O problema estaria em os jovens dominarem apenas o Internetês, o que parece ser pouco viável porque ninguém se alfabetiza nessa modalidade linguística. Nenhum jovem interage com o mundo apenas na língua da Internet, ao contrário, ele precisa dominar duas formas da língua. A primeira é a oficial, com sua norma culta, que lhe dá o poder de expressar-se com competência, de forma clara e organizada, como cidadão. A segunda é a adaptada às necessidades da Internet, que lhe dá o poder de se inserir no mundo digital e no grupo característico de sua faixa etária. Essa forma linguística é empregada num ambiente em que seus usuários não veem a obrigatoriedade de utilizar a escrita da norma culta”.(2009,p.22-23- grifos do autor)
Conforme afirma Bagno (2007) do ponto de vista dos usuários da língua,
podemos dizer que é bom, porque dá provas de vitalidade e capacidade de
adaptação às exigências da vida moderna, referindo-se a esta nova maneira de
expressão e comunicação.
Já Bisognin ressalta que:
O corpo social de quem emprega o internetês é restrito, é língua dos que
utilizam a internet (salientamos ser uma língua de jovens, porque nem todo
internauta utiliza tal linguagem). Mesmo restrita à comunicação entre jovens,
um leitor contumaz consegue decifrar tal escrita oralizada, visto que ela se
caracteriza, à primeira vista, por alterar significativamente apenas a grafia das
palavras”. [...] “jovem usuário de internetês entende jovem usuário de
internetês”. Ainda acrescenta, [...] “antes de utilizar essa nova modalidade de
escrita, o internauta já dominava a língua, por isso pode agora fazer as
alterações para adaptar-se ao novo meio de comunicação ( 2009, p. 23).
Enfim, qualquer usuário da escrita na Internet, para empregar o Internetês,
antes de tudo, tem que conhecer e ter domínio da língua portuguesa.
Na linguagem Internetês, os recursos de abreviações das palavras, outras
escritas com acréscimo de letras tornando mais complexa, o uso de símbolos,
ícones, estrangeirismo, neologismo, siglas, sinais de pontuação, acentuação,
desenhos (os emoticons ou caracterata), que dentro de um contexto tem os seus
significados, jamais poderão ser analisados de forma isolada, pois servem para
representar: nasalização, expressividade, representação de gestos, entonação de
voz, substituição de palavras, emoções, ações, traços de subjetividade e de
identidade dentre outras, apresentando assim, normas utilizadas pelos usuários,
para esta linguagem utilizada em rede.
Como a comunicação é constante e o uso do Internetês frequente, este já
apresenta variações, é o miguxês como Bisognin (2009, p. 58) nos aponta: "[...]
Como as alterações na língua são inevitáveis, até o Internetês já têm variações. É o
miguxês, termo proveniente de miguxa, variante de “amiga”, forma carinhosa usada
no tratamento entre duas adolescentes [...]".
Bisognin (2009, p. 58) trata o miguxês como uma linguagem que identifica os
participantes de um determinado grupo, para que os outros não os entendam, nele a
palavras são ornamentadas com substituição de letras, dando a elas um aspecto
mais infantil e delicado, mas torna a mensagem mais longa e dificulta o
entendimento de quem não participa no contexto. Para digitar em miguxês torna-se
mais demorado do que em português da norma culta.
Estas novas variantes do Internetês ainda não apresentam indícios seguros
para tratá-las como linguagem, nem pesquisas divulgadas, como é o caso da
variante geek chic ou leet que usa na sua escrita uma mescla de variados
caracteres, letras e números. Tem sua origem na palavra “elite” em inglês e
determina que seu usuário, faz parte de uma elite dentro da comunidade.
Essas variações advindas da variação Internetês, o miguxês ou fofolês, o
geek chic são parecidos pois os usuários buscam ser únicos na comunidade, de
maneira individual e coletivo, ambas as linguagens tem suas regularidades e
proporcionam a comunicação.
Com relação a autores que tratam da língua utilizada na Internet, Bisognin
comenta:
A maioria dos autores que escrevem sobre a língua da Internet se refere a ela como um fenômeno dos tempos pós-modernos. Aceitam a legitimidade de sua existência e a veem, em situações específicas de comunicação, adaptada ao teclar, à tela do computador, às mudanças da sociedade, enfim [...] ( 2009, p 52 – grifos do autor).
Os jovens, no seu cotidiano, são os usuários de maior acesso a Internet
mais do que a língua padrão, e que de uma forma ou outra, estão entusiasmados
com a facilidade de se comunicar pela rede, criando, produzindo e escrevendo
textos, mas em geral, sofrem vários preconceitos, sendo taxados de iletrados e de
produzirem uma linguagem que deturpa, ou até mesmo modificando a língua formal
(culta).
Neste sentido, o Internetês, por estar em conflito com a norma oficial da
Língua Portuguesa, sendo por alguns especialistas em linguística, pesquisadores e
estudiosos não ser considerado como língua, o que é real, quando pensamos na
criação de algo novo no âmbito da língua portuguesa, mas ela torna-se real quando
pensamos na linguagem utilizada numa ferramenta digital como também numa
forma de expressão e comunicação.
Para Bisognin, deve levar em consideração que:
Parece-nos um exagero tais afirmações. Os jovens não utilizam o computador o tempo todo, nem estão todo o tempo em contato com tal tipo de linguagem. Há situações e situações. Qualquer ser pensante sabe distinguir, em tese, quais são as ocasiões em que se pode ou não fazer determinadas coisas. Assim, os jovens saberão que na comunicação entre eles na rede mundial de computadores é possível usar um código simplificado, típico de determinada faixa etária na comunicação informal. Se tal linguagem for empregada em situações que requeiram o nível padrão, mais errados do que os jovens serão aqueles que não os orientaram sobre isso ou que aceitam tal forma inadequada de escrita para aquele contexto (2009, p. 53).
Assim, o grau de adequação à situação de uso da língua e a aceitabilidade
por parte dos interlocutores e o contexto são imprescindíveis para análise dos
benefícios e os malefícios do português escrito na Internet. Para Bisognin (2009, p.
142 – grifos do autor) “o problema é levar tal forma de escrita para outros contextos.
Aí entra o papel da Escola e da sociedade como um todo, ensinando que, como
sempre, tudo depende de quem diz o que, a quem, como, quando, onde, por
que e visando que efeito”.
Enquanto na escola, professores continuam ainda tímidos na discussão de
defesa ou rejeição quanto ao uso do Internetês, se este novo dialeto ameaça ou não
a língua portuguesa padrão, percebe-se professores reagindo com muita
naturalidade à inserção da nova escrita virtual introduzida aos poucos pelos
jovens/alunos, nos espaços escolares, admitindo e utilizando essa escrita particular
e específica eles mesmos quando estão conectados, aceitando como uma variedade
da língua, usada em situações específicas, os interlocutores envolvidos e o contexto.
Libâneo admite que:
[...] “existe lugar para a escola na sociedade tecnológica e da informação,
porque ela tem um papel que nenhuma outra instância cumpre. É verdade
que essa escola precisa ser repensada. E um dos aspectos mais importantes
a considerar é o de que a escola não detém sozinha o monopólio do saber
[...] . [...] a escola precisa articular sua capacidade de receber e interpretar
informação com a de produzi-la, a partir do aluno como sujeito do seu próprio
conhecimento (2011, p. 27-28).
Neste novo contexto da sociedade da informação, tais circunstâncias
conduzem à necessidade do educador repensar a sua prática pedagógica, apontam
ao educador uma nova postura diante da “revolução virtual” e a sua formação, já que
é importante que a escola se posicione adequadamente frente às novidades
advindas da rede de computadores.
Braga (2007) considerou que os professores [...] já enfrentavam dificuldades
nos ensino da leitura e escrita tradicional, confrontam-se hoje com a necessidade de
preparar seus alunos para as práticas digitais cada vez mais presentes em contextos
cotidianos.
Enquanto Brito defende que:
Ensinar Língua Portuguesa hoje, significa pensar numa realidade que permeia todos os nossos cotidianos, ou seja, pensar na realidade da linguagem. Teremos então que proporcionar o desenvolvimento de um trabalho com linguagens, que leve os alunos a observar, perceber, inferir, descobrir e refletir sobre o mundo e, como seres no mundo, interagir com seus pares, fazendo um uso funcional da linguagem corrente (2009, p. 03).
Na escola, o professor ainda detém o principal papel, o qual deve assumir o
ensino como mediação e buscar formação pessoal para esta nova abordagem
pedagógica frente as novas tecnologias, principalmente quanto ao uso do
computador, a Internet e as novas linguagens, buscando estratégias mais eficientes
de expor e explicar conceitos e de organizar a informação, preparando os alunos
para usar criticamente as mais variadas formas de linguagens e de maneira
adequada. Nesta nova perspectiva da função do professor, Libâneo afirma:
O novo professor precisaria, no mínimo, de adquirir sólida cultura geral, capacidade de aprender a aprender, competência para saber agir na sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem informacional e dos meios de informação, habilidade de articular as aulas com as mídias e multimídias (2011, p. 30).
Silva conclui que:
O professor poderá redimensionar sua autoria, modificando a base comunicacional potencializada pelas tecnologias digitais. Precisará modificar o modelo centrado no falar-ditar do mestre, passando a disponibilizar ao aprendiz autoria em meio a conteúdos de aprendizagem o
mais variado possível [...] . [...] O professor não se posiciona como o detentor do monopólio do saber, mas como aquele que dispõe teias, cria possibilidades de envolvimento, oferece ocasião de engendramentos, de agenciamentos e estimula a intervenção como coautores da aprendizagem” [...] (2011, p. 82-83 – grifos do autor).
Percebe-se que na educação surge a implantação de novas políticas que
contemplam as necessidades da sociedade virtual contemporânea, a escola busca
atender a demanda de usuários do computador pela Internet através de inovações
frente às novas tecnologias e os educadores buscam informação, formação e
qualificação tecnológica para incrementar suas ações e práticas pedagógicas na
sala de aula, mas de acordo com Moran (2000, p. 17) “as mudanças na educação
dependem também dos alunos. Alunos curiosos e motivados facilitam enormemente
processo, estimulam as melhores qualidades do professor, tornam-se interlocutores
lúcidos e parceiros de caminhada do professor-educador”.
PROJETO DE INTERVENÇÃO COM FORMAÇÃO DO PROFESSOR FRENTE A
VARIAÇÃO LINGUISTICA DA INTERNET “O INTERNETÊS”
Para o cumprimento de uma das etapas do Programa de Desenvolvimento
Educacional, turma 2012, o Projeto de Intervenção junto ao Colégio Estadual Floripa
Teixeira de Faria – Ensino Fundamental e Médio,do município de Almirante Tamandaré,
região metropolitana de Curitiba, estado do Paraná, teve sua aplicação no período de
09 de fevereiro a 01 de julho de 2013. O trabalho envolveu o gestor do colégio, a equipe
pedagógica e o público alvo, docentes da disciplina de Língua Portuguesa do ensino
fundamental e médio.
O material didático-pedagógico para conduzir as discussões e atividades foi
selecionado e definido para elaboração do caderno temático no segundo semestre de
2012, onde foram produzidos textos para o desenvolvimento da parte teórica, seleção
de vídeos, seleção de textos de outros autores, atividades para realização de tarefas e
organização dos procedimentos avaliativos dos professores.
Como a implementação do projeto na escola foi realizado junto aos
professores de Língua Portuguesa, como proposta de formação continuada, os
estudos, discussões e atividades tiveram como embasamento textos produzidos
para o Caderno Temático, que fora dividido em unidades e teve como propósito
aprofundar o conhecimento sobre a linguagem virtual, a influência da variedade
linguística Internetês na rotina do professor por meios tecnológicos, por meio de uma
linha de ação coletiva com finalidade de causar uma transformação pessoal e
profissional na vida do educador.
A cada unidade estudada foram elaboradas atividades que serviram para que
o professor realizasse novas pesquisas, discussões, troca de experiências entre os
mesmos, com as informações obtidas através da leitura e sua prática docente,
através de grupo de estudos. A avaliação das atividades levou em conta a
participação do professor no momento das discussões, na produção e apresentação
dos temas trabalhados.
Na unidade 1 o texto tratou de breves concepções sobre a Internet, sua nova
modalidade de linguagem e escrita “ o Internetês” e suas variantes; na unidade 2 o
tema se referiu a formação do professor frente ao uso do computador e da Internet
como recurso tecnológico e a unidade 3 apresentou as principais características,
expressões e palavras encontradas na linguagem do ambiente virtual. Os textos
apresentados serviram para estudo, embasamento e fundamentação ao professor,
que através da leitura ampliaram o conhecimento sobre o tema.
No desenvolvimento da unidade 1, composta por concepções sobre a Internet
e sua nova modalidade de linguagem e escrita e sua variantes, constatou-se que os
professores raramente tinham ouvido falar, minoria realizaram leitura ligada ao tema,
muitos confirmaram já terem utilizado tal escrita no ambiente virtual, mas ainda não
tinham participado de nenhum estudo para ampliação do conhecimento referente a
tal variedade linguística específica utilizada em rede.
No mundo contemporâneo, a presença da tecnologia e da informática no
cotidiano das pessoas aponta-se como a principal forma de comunicação, mas o
grande destaque do momento é a utilização, nos mais diversos serviços oferecidos
pela educação, para a busca do conhecimento, o que faz com que a procura por
atualização aos avanços, pesquisas e novas tecnologias sejam constantes.
Com o avanço acelerado das tecnologias da informação e comunicação,
principalmente, a informática, a sociedade atual está diante de uma revolução virtual,
onde as pessoas utilizam o computador na resolução de problemas cotidianos, para
simples contato social, no exercício profissional e para fins de aprendizagem e
conhecimento, por isso todo sistema educacional deve estar preparado para
oferecer um ensino inovador capaz de formar cidadãos emancipados, para
conviverem e participarem nesta sociedade moderna.
Para Kenski, é pertinente considerar que:
A educação também é um mecanismo poderoso de articulação das relações entre poder, conhecimento e tecnologias. Desde pequena, a criança é educada em um determinado meio cultural familiar, onde adquire conhecimentos, hábitos, atitudes, habilidades e valores que definem a sua identidade social. A forma como se expressa oralmente,como se alimenta e se veste, como se comporta dentro e fora de casa são resultados do poder educacional da família e do meio em que vive.Da mesma forma, a escola também exerce o seu poder em relação aos conhecimentos e ao uso das tecnologias que farão a mediação entre professores, alunos e os conteúdos a serem aprendidos (2007, p. 18 -19).
Na unidade 2 o texto tratou sobre a formação do professor frente ao uso do
computador e da internet como recurso tecnológico e pedagógico, levando aos
docentes participantes no grupo de intervenção a importância de estar atualizado
no que respeito aos recursos virtuais, os quais podem ser utilizados nas práticas
pedagógicas de sala de aula, pois com a utilização de tais recursos, principalmente,
os da informática via computador e Internet pelas escolas, são necessárias novas
formas de práticas didático-pedagógicas, bem como a formação do professor de
forma continuada para o uso dessas novas ferramentas no processo de ensino
aprendizagem.
Conforme relatórios das tarefas realizadas nesta unidade, observou-se que o
computador e a Internet ainda são utilizados sem a preocupação de refletir como estes
instrumentos podem trazer qualidade na busca de conhecimento e também a devida
importância das informações obtidas. É fundamental que o professor faça uso das
mídias na sua prática de sala de aula tendo clareza quanto aos objetivos didáticos
e os conteúdos a serem desenvolvidos, deixando de ser apenas um recurso auxiliar,
como também perceber suas novas tarefas e responsabilidades, assumindo novos
conhecimentos, posturas e práticas buscando constante formação, pois tais recursos
virtuais ainda não são manipulados por todos os docentes por falta de informações e
prática quanto ao seu uso.
Durante as discussões entre os professores apresentaram divergências,
expectativas, dificuldades e ainda a falta de preparo de alguns na utilização do
ambiente virtual em sua prática pedagógica, pois os cursos de formação até agora
oferecidos na tem dado conta de atender as necessidades específicas e as diferenças
de acordo com a experiência. Eles afirmam que os cursos devem ser planejados de
acordo com a clientela, dando ênfase a atitudes pedagógicas inovadoras e ações
interdisciplinares, possibilitando a análise e conhecimento do computador e da internet
como ferramenta pedagógica no processo de ensino aprendizagem.
Quanto à organização do planejamento para curso de formação de
educadores tem que ser levado em conta que na sociedade e na educação atual
ainda se encontram divergências quanto à utilização do computador e suas
ferramentas para busca do conhecimento, principalmente, na escola, na sala de
aula.
O professor, após uma formação em tecnologias, terá condições de realizar
uma análise do computador e da Internet, ligada a sua experiência e domínio de
conteúdos os quais permitem observar o impacto da tecnologia na sociedade, na
educação e na vantagem de seu uso e a prática que irá fundamentar sua inserção na
escola e em sua ação docente.
A formação continuada do professor deve ser um processo que dê condições
ao mesmo de construir conhecimentos relacionados às novas tecnologias,
principalmente os de ambiente virtual, dando a ele apoio teórico, técnico e
metodológico para vivenciar novas práticas e experiências diante da atual realidade
de ensino aprendizagem voltado para nova sociedade do conhecimento, informação
comunicação, tornando estas as prioridades de instituições, sistemas e profissionais
da educação.
Dado os avanços e a necessidade da utilização dos ambientes virtuais nas
escolas, a formação do professor deve ser imediata e permanente, uma vez que a
linguagem da Internet evolui e encanta seus usuários, proporcionando a estes um
meio rápido de se comunicar e receber informações sem nenhum cuidado
pedagógico, transforma-se em aprendizagem e conhecimento. Quando na sala de
aula é utilizada a prática da Internet com o aluno, o professor tem nele um objeto de
estudo que oferece recursos para interpretá-lo e analisá-lo criticamente, permitindo
a compreensão e a constante avaliação da linguagem da Internet no ambiente
escolar. Cabe então ao professor preparar o aluno para utilizar as diversas
ferramentas da Internet, como também as formas de linguagem e a maneira mais
apropriada de usá-las.
Na escola, o professor ainda detém o papel principal, o qual deve ser
protagonista de uma nova postura assumindo o ensino como mediação e buscar
constantemente formação pessoal para esta nova abordagem pedagógica frente às
novas tecnologias, principalmente, quanto ao uso do computador, a Internet e as
novas linguagens, buscando estratégias mais eficientes de expor e explicar conceitos
e de organizar a informação.
Para concluir o caderno temático, na unidade 3, o texto para ser desenvolvido
junto aos professores apresentou as principais características, expressões e palavras
encontradas na linguagem do ambiente virtual. O destaque na produção desse
material foi a organização de um pequeno dicionário com expressões e palavras em
Internetês, miguxês, geek chic e os emoticons, o que despertou o interesse dos
professores pois, sendo usuários em pequeno potencial de palavras, depararam com
outras que ainda não conheciam. Como proposta de atividade, após o estudo dessa
unidade, acrescentaram-se mais palavras e expressões novas da linguagem virtual e
que ainda não faziam parte do dicionário apresentado.
Como atividade final os professores reuniram-se em duplas e conectados em
ambiente da Internet, produziram uma conversa, bate-papo utilizando novas palavras
acrescentadas em seus vocabulário. Em seguida, transcreveram o texto e
apresentaram ao grande grupo.
Durante o estudo das unidades foram indicadas referências bibliográficas de
textos complementares para leitura e vídeos que proporcionaram aos professores
ampliação do conhecimento com relação à linguagem escrita na Internet e a reflexão
sobre as possibilidades de aplicação dos conhecimentos na sua própria realidade.
CONCLUSÃO
O Projeto de Intervenção realizado no Colégio Estadual Floripa Teixeira de
Faria – Ensino Fundamental e Médio possibilitou ao professor repensar sua ação e
formação docente, tendo o uso do computador e da internet como ferramenta
pedagógica e também a inserção da variação linguística que surgiu com a escrita
dos usuários desses recursos.
Ao se tratar da nova linguagem, é possível afirmar que a variedade linguística
Internetês, a qual tem sido tema constante de pesquisas, em conversas informais,
em reportagens na mídia e atualmente de forma ainda moderada, sendo aplicada
como conteúdo em cursos de formação para professores, principalmente, de Língua
Portuguesa. É de suma importância que tal discussão seja colocada em pauta
pelos profissionais da educação por se tratar de uma linguagem permanente no
cotidiano das pessoas e atualmente no espaço escolar, buscando tratá-la
pedagogicamente para ser aplicada ao aluno, pois a mesma tem sido interpretada e
mal compreendida por parte da sociedade, mas que aponta certa receptividade pelos
docentes da área.
A ideia de que a utilização desse novo dialeto pelos alunos ou por quem quer
que seja pudesse deturpar ou ameaçar a língua formal, os princípios gramaticais e
da escrita, já deixou de ser tratada radicalmente pelos docentes, muitos não
guardam quaisquer reservas contra a nova linguagem da internet, tratando-a
apenas como mais uma invenção linguística derivada da necessidade de
comunicação por meio das tecnologias que possibilitaram o surgimento desse
modo diferente e de organizar os recursos linguísticos na tela do computador,
tablet, telefone celular e afins. Há professores, até mesmo de Língua Portuguesa,
que tratam a chegada do Internetês com tanta naturalidade que até empregam,
eles mesmos, nos chats, e-mails, sites de relacionamento, blogs e outros, nos mais
diversos gêneros digitais em que esta linguagem tem se fixado.
O professor estando consciente e articulado com as linguagens múltiplas, com
a expansão das tecnologias, de frases e de expressões e as diferentes lógicas de
articulação poderá integrar e interagir com toda a comunidade escolar, através da
sua prática pedagógica, auxiliando, conduzindo e garantindo a todos a livre
expressão e inserindo nova metodologia na construção da conversação humana
dentro de um contexto da linguagem de norma culta.
Não cabe ao professor ignorar ou criar restrições ao adaptar ou integrar na
proposta curricular da escola a língua da grande rede. Como tanto educador quanto
aluno utilizam-se a nova variação linguística denominada Internetês e também as
variações dentro dessa própria língua, ela deve ser tratada como um instrumento de
reflexão e aplicação da língua, que apresenta características diferentes mas efetiva
entendimento e comunicação entre os usuários. A função do professor será mostrar ao
aluno a existência do domínio das duas línguas: que a utilizada em rede serve para
comunicação junto a determinados grupos, em momentos específicos e de maneira mais
informal e a língua padrão utilizada por todos, por todos os meios de comunicação, por
tratar-se de uma forma de linguagem reconhecida e padronizada.
O principal objetivo que orientou a proposta de intervenção foi o de propiciar junto
ao professor a reflexão sobre o Internetês, como nova modalidade de linguagem, além
de avançar no estudo sobre esse fenômeno causado pela difusão da interação via
internet, perceber-se, enfim como usuário e inserir esse gênero no seu cotidiano, na vida
profissional e na sua prática pedagógica em sala de aula. Fica evidente a necessidade
da inserção do Internetês como conteúdo na disciplina de Língua Portuguesa por quatro
motivos: o primeiro por ser uma variação linguística adaptada da língua materna, o
segundo por tratar-se de uma linguagem quase que universal entre os jovens, terceiro
pela rapidez com a qual está sendo disseminada e quarto por perceber que a mesma
não está sendo usada como linguagem acadêmica, apenas na rede da internet .
Por fim, com os subsídios dados aos professores por meio dessa intervenção, a
continuação dessa formação e inserção dessa variação linguística na proposta curricular
do colégio, fará com que se desenvolvam novas metodologias de modo a integrar o
aprendizado ao mundo onde professor e aluno encontram-se inseridos.
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