Insanidade Central - MC Dedé

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Insanidade Central Autor: André M. (MC Dedé) (Parte1) Por entre as curvas do plano piloto Que foi erguido em meio ao sufoco Pelos candangos, não vejo seus rostos Escondidos, rapaz, “fodidos” bem lá atrás Enclausurados no Centro de Erradicação De Invasores, a cena é triste, meu irmão Vieram com a ilusão de "Brasília Dream" Ter trabalho, ter um teto confortável sim Saíram das suas casas de pau-a-pique, nordeste Pegaram “paus de arara”, sumiram pela mata Em meio ao calor infernal Rumo ao futuro congresso nacional Confesso, nada mal, teoria não faz mal Nem propaganda, viajar uma semana No caminhão que balança, sem nenhuma segurança Vale tudo pra sair do "submundo", da seca, da caatinga Se liga, você não imagina O sufoco, esforço para tirar dos esboços do Niemeyer Todos aqueles prédios monumentais Palácios governamentais Os caras que se acham os tais Banais são os operários, que cumprem horários, na cabeça da elite da época, que faz o contrário Tratam o pobre como pirralho, burro e analfabeto Que só saber fazer um simples muro de concreto Espertos, é o que eles pensam que são muito Tratando os coitados como bandidos imundos Mesmo depois de construírem toda a cidade

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Letra da música Insanidade Central, de André Mannrich (MC Dedé).

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Page 1: Insanidade Central - MC Dedé

Insanidade Central

Autor: André M. (MC Dedé)

(Parte1)

Por entre as curvas do plano piloto

Que foi erguido em meio ao sufoco

Pelos candangos, não vejo seus rostos

Escondidos, rapaz, “fodidos” bem lá atrás

Enclausurados no Centro de Erradicação

De Invasores, a cena é triste, meu irmão

Vieram com a ilusão de "Brasília Dream"

Ter trabalho, ter um teto confortável sim

Saíram das suas casas de pau-a-pique, nordeste

Pegaram “paus de arara”, sumiram pela mata

Em meio ao calor infernal

Rumo ao futuro congresso nacional

Confesso, nada mal, teoria não faz mal

Nem propaganda, viajar uma semana

No caminhão que balança, sem nenhuma segurança

Vale tudo pra sair do "submundo", da seca, da caatinga

Se liga, você não imagina

O sufoco, esforço para tirar dos esboços do Niemeyer

Todos aqueles prédios monumentais

Palácios governamentais

Os caras que se acham os tais

Banais são os operários, que cumprem horários, na cabeça da elite da

época, que faz o contrário

Tratam o pobre como pirralho, burro e analfabeto

Que só saber fazer um simples muro de concreto

Espertos, é o que eles pensam que são muito

Tratando os coitados como bandidos imundos

Mesmo depois de construírem toda a cidade

Page 2: Insanidade Central - MC Dedé

A sociedade não teve nenhuma piedade

A atividade passou a ser a construção dos barracos

Em lugar fora do mapa lá no meio do cerrado

Bem longe do lazer, prazer, das suas liberdades

Fadados ao sofrimento, moldados com voracidade

(Parte2)

Logo veio a bebida, os bares, as drogas

Com sua função destrutiva, para servir de resposta

Para os problemas existentes, primeira coisa em mente

Deixa o cara demente, totalmente impotente

Sem força, essa opção é uma forca

É o sistema fazendo mais uma vez o cara de trouxa

Sem trouxa, sem nada, perdeu tudo em seu vício

Pena que só o álcool que é vitalício

Acha que está tudo perdido? Não

Em 91 chegou essa mão amiga

São os caras de dentro, moleques maneiros

Não é mais um homem da elite, forasteiro

Que não sabe de nada, nunca esteve na “quebrada”

Você pode apostar que é uma ajuda falha

Na batalha, aqui só quem usa chapéu de palha

Quem não deixa migalhas, contra todos os canalhas

O nome desse grupo é Atitude, atuante

Em prol de mais de setecentos mil habitantes de

Ceilândia, e tem Guará, Brasilândia, Paranoá

Pode “pá”, não dá pra deixar de falar de Planaltina, Taguatinga,

Gama e Santa Maria

São Sebastião, Núcleo bandeirante, Samambaia, Sobradinho e

Cruzeiro

São lugares bem feios

Onde tudo é orgânico e quase nada é feito

Page 3: Insanidade Central - MC Dedé

Pelo estado, está ligado, isso ai está errado

Vem com a gente nesse papo, vamos mudar o barato

Eu sei que é chato, e tem o preconceito do lado

Isso é fato, mas vamos mudar esse status

De que só quem mora no avião não é macaco

De que quem está lá fora é marginalizado

É macabro, mas é uma "lândia" como outra qualquer

Aqui não é "Disneylândia", mas ser livre a gente quer ser