Modelos de sistemas agroflorestais com fins apícolas para o ...
INOVAÇÃO EM PROCESSOS APÍCOLAS: A EXPERIÊNCIA DE...
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INOVAÇÃO EM PROCESSOS
APÍCOLAS: A EXPERIÊNCIA DE UM
APICULTOR DO SÍTIO CACIMBINHA
NO MUNICÍPIO DE RAFAEL GODEIRO-
RN
Antonio Jaem Estigarriga Menescal Neto (UFERSA)
Kaliany Dias de Freitas (UFERSA)
JULIO FRANCISCO DANTAS DE REZENDE (UFRN)
Jose Marcione da Costa (IFRN)
Atualmente, com toda a concorrência existente no mercado, faz-se
necessário aos pequenos produtores, a procura por alternativas
inovadoras que possam trazer ganhos ou melhorias para produção de
seus bens ou serviços e ainda garantir a sustentabilidade de seus
negócios. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo geral
relatar um caso de uma inovação de processos aplicada por um
apicultor na comunidade rural Sítio Cacimbinhas, localizada no
município de Rafael Godeiro no estado do Rio Grande do Norte (RN).
No que diz respeito aos aspectos metodológicos, realizou-se
primeiramente uma pesquisa bibliográfica sobre a temática tratada no
artigo, quanto ao método este estudo caracteriza-se como um estudo de
caso e, além disso, foi realizada uma visita “in loco” e entrevista
semiestruturada como meios de coleta dos dados. Por meio da análise
da visita e da entrevista com o apicultor pesquisado pode-se identificar
que houveram várias melhorias tanto na produtividade como na
qualidade do mel colhido pelo apicultor. Além disso, destaca-se os
benefícios adquiridos no item segurança por meio do uso dos EPI’s
adequados que também foram instrumentos implantados no processo
de inovação do apicultor. Quanto as sugestões, destaca-se a
possibilidade de adoção de novos tipos de inovação além da inovação
de processos como, por exemplo, a de marketing por meio da criação
de um rótulo do produto que agregaria valor ao bem.
Palavras-chave: Inovação; Processos; Apicultura.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
No Rio Grande do Norte, a apicultura tem aumentado a importância do seu papel como fonte
alternativa de renda para a agricultura familiar. Os agricultores, com o objetivo de
aumentarem os seus ganhos pecuniários mensais, adotaram-na como atividade produtiva
complementar.
Vários fatores atuam como estímulo à atividade entre os agricultores familiares. Matos (2005)
aponta que as características da atividade apícola que são favoráveis e compatíveis com as
condições de trabalho e capital do pequeno produtor, sendo elas: pode ser executada como
uma atividade secundária sem danos à atividade principal da propriedade; não necessita de
uma área muito grande para instalação; o investimento inicial não chega a ser relativamente
alto; aumenta a produtividade da agricultura por meio da polinização; a mão de obra é baixa;
e tem uma variabilidade da produção de vários produtos (mel, própolis, cera, pólen, geléia
real, apitoxina, abelhas rainhas, enxames e crias e serviços de polinização) para os quais o
mercado vem crescendo a cada dia tanto o interno quanto externamente para exportação.
Além disso, a localização do estado do Rio Grande do Norte é bastante propícia ao bom
desempenho da apicultura. O estado se encontra dentro do semiárido, sendo assim, uma
região que oferece um clima favorável e apresenta excelentes condições para a exploração da
atividade apícola.
E não é só o clima que ajuda essa atividade a se desenvolver, além disso, existe também a
riqueza nectarífera de sua vegetação. Nas áreas semiáridas, onde predominam o cajueiro e a
algarobeira, a importância da apicultura é ainda maior, uma vez que essas plantas são
altamente melíferas, sendo muito apreciadas pelas abelhas e florescem na época mais seca do
ano (outubro/novembro), quando a quase totalidade da vegetação nativa está sem folhas e
frutos.
Dada que a produtividade está atrelada à adoção de inovações nos métodos de produção,
torna-se relevante a constante busca, por parte dos apicultores, de novos meios de produção
que aumentem não só a quantidade produzida como também o nível de eficácia da produção,
para que assim, se tornem mais competitivos no mercado.
Assim, diante do exposto, o presente artigo tem como objetivo principal relatar um caso de
uma inovação de processos aplicada por um apicultor na comunidade rural Cacimbinhas,
localizada no município de Rafael Godeiro no estado do Rio Grande do Norte (RN). Buscou-
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se também de forma específica, identificar as principais dificuldades enfrentadas pelo
apicultor no processo produtivo do mel em sua região, e caracterizar o processo de colheita do
mel após a adoção das inovações implantadas na produção.
Este artigo está estruturado em seis etapas principais além desta introdução. Na primeira tem-
se o referencial teórico que em seu primeiro tópico abordou a questão da apicultura e
produção de mel no mundo e no Brasil, o segundo tópico tratou de apresentar a cadeia
produtiva do mel e, no terceiro e último tópico, apresentou alguns conceitos de inovação e
também os tipos de inovação existentes na teoria relativa à temática tratada. A segunda etapa
são apresentados os principais aspectos metodológicos utilizados no estudo. Em seguida, é
apresentada a localização do estudo, bem como algumas características geográficas da
localidade onde a pesquisa foi realizada. Na quarta etapa, são apresentados os resultados
obtidos por meio da visita e da entrevista feita com o apicultor pesquisado. Posteriormente são
apresentadas as considerações finais do estudo e, por fim, as referências utilizadas no
trabalho.
2. Referencial Teórico
2.1 Breve Contexto da Apicultura e Produção de Mel no Brasil e no Mundo
A apicultura é uma atividade desenvolvida há muitos anos, constituindo o produto advindo de
sua atividade, no caso o mel, um alimento de grande relevância para a saúde humana.
No Brasil, a apicultura começou e se desenvolver a partir de meados de 1956 com a
introdução das abelhas africanas. Porém, desde o período da colonização já existia a produção
de mel em pequenas quantidades, tendo se iniciado essa atividade por meio de enxames
trazidos pelos imigrantes (SOARES, 2004 apud NETO e NETO, 2005).
No mundo, até o ano de 2004, os principais produtores de mel eram a China com uma
produção de 276.000 mil toneladas, sendo ela responsável por 21,12% do total produzido no
mundo, em segundo lugar os Estados Unidos com 82.000 mil toneladas e 6,28% da produção
total e em terceiro lugar a Argentina com 80.000 mil toneladas produzidas e 6,12% da total
produzido no mundo. O Brasil aparece na 15ª posição com uma produção de mel em 2004 de
24.500 mil toneladas, representado 1,88 da produção total no mundo (FAOSTAT, 2005 apud
NETO e NETO, 2005).
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No Brasil, a região com o maior percentual de produção é o Sul com 48,59% do total. O
Nordeste aparece em segundo com 22,74% do total produzido, sendo que, desses 22,74%, o
estado do Piauí é o que mais produz, com 8,33% do total, seguido de Bahia e Ceará com um
percentual de produção de 4,78% e 4,60% respectivamente. O Rio Grande do Norte aparece
na 5ª posição, sendo responsável por 1,22% da produção de mel no Nordeste, o que
corresponde ao valor de R$1.968.152,00 (IBGE, 2004 apud NETO e NETO, 2005).
Entretanto, apesar das condições de mercado favoráveis à produtividade de mel no Brasil, a
produção ainda é relativamente pequena se comparada a países como China (50 a 100
kg/colméia/ano), Argentina (30 a 35 kg/colméia/ano), EUA (32 kg/colméia/ano) e México (31
kg/colméia/ano) (SEBRAE, 2009a). Esta baixa produtividade brasileira se explica pela pouca
utilização de recursos e inovações tecnológicas durante os processos produtivos e é mais
grave entre os agricultores familiares, pois a apicultura na maioria das vezes não é o produto
ou mercado principal do agricultor fazendo com que estes tenham dificuldades para competir
com as grandes empresas apícolas.
Porém, apesar desse contexto relativamente desfavorável se comparado com o mercado
externo, nota-se ainda que, o mercado interno ainda tem muito a crescer. Dados da FAO
(Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) mostram que, em 2005, o
consumo per capita de mel e seus derivados no Brasil foi de 14,6g enquanto na Suíça e
Alemanha foi de 1,18 kg e de 1,08 kg, respectivamente, logo o a tendência é o aumento
gradativo do consumo interno. Em relação ao mercado externo, embora com uma participação
ainda pequena na pauta de exportações, o mel de abelha apresenta-se como um produto
promissor.
Quanto à destinação do mel brasileiro, os principais mercados são o americano e o europeu.
Embora a apicultura esteja passando por uma fase de grande desenvolvimento a partir do
início das exportações em 2001, ainda existe um grande potencial apícola (flora e clima) a ser
explorado e grande possibilidade de se maximizar a produção, com a melhoria das práticas de
manejo e produção, de forma a melhorar a produtividade.
Por fim, apresenta-se aqui a importância da atividade apícola dentro do contexto da
sustentabilidade. A apicultura preenche todos os requisitos necessários à sustentabilidade:
essa atividade produtiva é capaz de causar impactos positivos no âmbito social, econômico e
ambiental. No aspecto econômico e social, ela se destaca como uma alternativa de geração de
renda e ocupação do homem no campo, uma vez que a sua cadeia produtiva propicia a criação
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de postos de trabalho e fluxos de renda durante todo o ano, contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida e fixação do homem no meio rural. Quanto ao aspecto ecológico, a
apicultura também contribui para a manutenção e preservação do meio ambiente devido à
importante atuação das abelhas como polinizadores naturais de espécies nativas, favorecendo
o equilíbrio do ecossistema e a manutenção da biodiversidade (PAXTON,
1995 apud FREITAS, 2003).
2.2 Cadeia Produtiva do Mel
A cadeia produtiva do mel vai desde a extração da matéria-prima até a comercialização do
produto final ao consumidor. A maior parte dos negócios apícolas são familiares e informais,
prestando serviços simples e com pouca tecnologia disponível. A figura abaixo demonstra o
processo da cadeia produtiva do mel.
Figura 1: Cadeia produtiva do mel
Fonte: MSCA (2005 apud SEBRAE, 2009b)
A cadeia produtiva da apicultura propicia a geração de inúmeros postos de trabalho, empregos
e fluxo de renda, principalmente no ambiente da agricultura familiar, sendo, dessa forma,
determinante na melhoria da qualidade de vida e fixação do homem no meio rural. O Brasil
apresenta características especiais de flora e clima que, aliado a presença da abelha
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africanizada, lhe conferem um potencial fabuloso para a atividade apícola, ainda pouco
explorado.
Existem elos que irão determinar o fluxo da cadeia produtiva. VILELA (2000, p.134-166)
explicita os seguintes tópicos:
I – Qualificação, assistência e extensão rural;
II – Agente financeiro;
III – Indústria de insumos, máquinas e equipamentos;
IV – Pesquisa agropecuária;
V – Flora;
VI – Entidades representantes dos apicultores;
VII – Inspeção sanitária; e
VIII – Mercado interno e externo.
A apicultura permite a oferta de diversos produtos e derivados com expressão econômica,
sendo o mel o seu principal produto. Os produtos apícolas, especialmente o mel e a própolis,
são consumidos em quase todos os países do mundo, com a produção mundial de mel
oscilando por volta de 1.000.000 toneladas / ano e alcançando cerca de 1.250.000 toneladas
no ano de 2001 (ICEPA, 2002).
A qualidade do mel durante a extração e decantação se faz com a utilização de equipamentos
de aço inox e devem ser feitas em lugares apropriados para assegurar que as normas de
higiene e dos procedimentos sejam atendidas para evitar riscos de contaminação.
2.3 Inovação: Conceitos e Tipos
Atualmente, com toda a concorrência existente no mercado, faz-se necessário tanto as grandes
organizações quanto aos pequenos produtores, a procura por alternativas inovadoras que
possam trazer ganhos ou melhorias para produção de seus bens ou serviços e ainda garantir a
sustentabilidade de seus negócios.
De acordo com o Manual de Oslo
“uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou
significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing,
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ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do
local de trabalho ou nas relações externas” (OCDE, 2005, p. 55).
Assim, pode-se constatar que inovar não significa necessariamente inventar um bem ou um
serviço novo, mas também, aplicar métodos que tragam melhorias e inovações significativas
aos processos de produção já existentes.
A Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) apresenta quatro
tipos distintos de inovação, que são eles:
“Inovações de produto envolvem mudanças significativas nas potencialidades de
produtos e serviços. Incluem-se bens e serviços totalmente novos e
aperfeiçoamentos importantes para produtos existentes. Inovações de processo
representam mudanças significativas nos métodos de produção e de distribuição. As
inovações organizacionais referem-se à implementação de novos métodos
organizacionais, tais como mudanças em práticas de negócios, na organização do
local de trabalho ou nas relações externas da empresa. As inovações de marketing
envolvem a implementação de novos métodos de marketing, incluindo mudanças no
design do produto e na embalagem, na promoção do produto e sua colocação, e em
métodos de estabelecimento de preços de bens e de serviços” (OCDE, 2005, p. 23).
Apesar de elencados esses diversos tipos de inovações existentes, o presente estudo limitar-se-
á a verificar a inovação de processos, que é a identificada no caso analisado tendo em vista ter
ocorrido mudanças nos métodos de produção do mel.
3. Metodologia
Quanto aos procedimentos metodológicos, realizou-se primeiramente uma pesquisa
bibliográfica sobre apicultura e inovação. Quanto a esse tipo de pesquisa, Gil (2002, p. 44) diz
que ela “é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de
livros e artigos científicos”.
Em relação ao método de pesquisa, realizou-se um estudo de caso que de acordo com
Acevedo e Nohara (2007, p. 50) “caracteriza-se pela análise em profundidade de um objeto ou
grupo de objetos, que podem ser indivíduos ou organizações.” Neste caso, a análise em
profundidade foi realizada com o apicultor pesquisado.
Além disso, foi realizada uma visita “in loco” para verificar os equipamentos utilizados na
produção do mel, tendo sido os mesmos registrados por meio da utilização de câmera
fotográfica, bem como para fazer uma entrevista semiestruturada com o apicultor Raimundo
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Maria da Costa que desenvolve suas atividades apícolas no sítio Cacimbinha, município de
Rafael Godeiro-RN com o fim de levantar informações inerentes à sua inovação.
4. Características da Localização do Estudo – Município de Rafael Godeiro - RN
Quanto ao município de Rafael Godeiro-RN, ele foi fundado no dia 19 de dezembro de 1964,
é localizado na mesorregião Oeste Potiguar, mais especificamente na microrregião de
Umarizal, contando atualmente com uma população de 3.063 habitantes e uma área com cerca
de 100km², sendo localizado a 342 km da capital do estado (IBGE, 2013). A figura abaixo
situa o município dentro do contexto territorial estadual e nacional:
Figura 2: Localização do município de Rafael Godeiro-RN
Fonte: Wikipedia (2015)
No que diz respeito à comunidade rural Sítio Cacimbinha, tem-se que é um pequeno povoado
pertencente ao município Rafael Godeiro-RN onde moram cerca de 15 a 17 famílias, que se
sustentam basicamente da agropecuária, apicultura e os salários dos aposentados e
pensionistas.
5. Resultados
5.1 Breve Perfil do Entrevistado
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Fazendo uma breve caracterização do perfil do apicultor pesquisado, o mesmo chama-se
Raimundo Maria da Costa, tem 66 anos de idade e sempre residiu na comunidade rural Sítio
Cacimbinha.
Segundo o entrevistado, a atividade apícola sempre serviu como uma fonte de renda
complementar, tendo em vista que as atividades principais executadas pelo entrevistado em
sua propriedade eram a agricultura e a pecuária.
De acordo com o entrevistado, a introdução das máquinas, das colmeias, das melgueiras e dos
Equipamentos de Proteção Individual – EPI’s adequados à produção de mel se deu no ano
2000. Antes disso, o mel era colhido de forma completamente artesanal, sendo o mesmo
espremido a mão pelo apicultor e sem a utilização dos EPI’s adequados, fato que
comprometia a própria segurança do produtor.
5.2 A Introdução dos Novos Processos na Produção de Mel
No que se refere à utilização de EPI’s, a seguir, apresenta-se as palavras do apicultor quanto a
questão da segurança:
“Pra mim foi uma melhoria muito grande. Com os equipamento antigo a gente não
tinha nenhuma proteção. Agora com esses ficou bem melhor. A gente fica mais
protegido”. (ENTREVISTADO, 2015)
A seguir são vistos alguns desses equipamentos (no dia da pesquisa os EPI’s não estavam nas
proximidades do local da conversa com o apicultor para que fosse possível tirar fotografias.
Portanto, a imagem abaixo é meramente ilustrativa):
Figura 3: Equipamentos de Proteção Individual – EPI’s
Fonte: SENAR, 2010
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Segundo o entrevistado, a utilização dos EPI’s é de grande importância para colher o mel
devido à agressividade das abelhas africanizadas.
Já a utilização das máquinas, colmeias e melgueiras adequadas para a produção trouxeram
ganhos de qualidade devido ao fato de não se ter o contato direto com o mel e também ganhos
de produtividade, tendo o apicultor colhido no ano de 2002 mais de 1.300 litros de mel sendo
que antes da inserção das máquinas no processo produtivo, o quantitativo total da produção
jamais excedeu os 100 litros, e também ganhos de rapidez no processo de colheita do mel. A
seguir podem ser vistas algumas dessas máquinas e colmeias:
Figura 4: Centrífuga, Melgueiras, Mesa Desoperculadora e Decantador
Fonte: Os autores, 2015
Na ocasião, o apicultor ainda descreveu as etapas existentes na colheita do mel. Segundo ele,
primeiramente se reúne o material necessário para a colheita (macacão, luvas, botas,
fumegador, etc.), em seguida os apicultores se vestem e se deslocam para os apiários. Ao
chegar ao local a tampa da melgueira é retirada e aplicado fumaça para que as abelhas se
dispersem do local. As melgueiras são batidas para retirar o excesso de abelhas e, em seguida,
levadas até o local de beneficiamento. Nesta etapa, os quadros das melgueiras são
desoperculados e colocados na centrífuga. Após isso, o mel é filtrado e aparado em
vasilhames para, logo após, ser colocado no decantador onde são retiradas eventuais
impurezas que ainda permaneçam no mel.
De forma simples, o novo processo de colheita do mel pode ser resumido conforme a imagem
a seguir:
Figura 5: Processo de produção do mel
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Fonte: Elaborado pelos autores (2015)
O apicultor relata que as inovações inseridas no processo de produção trouxeram várias
vantagens:
“Com essas máquinas novas pra tirar o mel eu consegui aumentar
muito à produção. Antes eu passava a noite toda espremendo as capas
de mel pra no final tirar 20, 30 litros. Hoje em dia eu tiro 200, 300
litros de mel quando as caixas tão boas. Sem falar que o mel é muito
bom.” (ENTREVISTADO, 2015)
Assim, diante essa afirmação percebe-se a importação da inovação de processos para
eficiência da produção, fato que é comprovado pela diferença da quantidade de mel que era
tirada antes do uso das novas máquinas e a quantidade atual.
5.3 Dificuldades Enfrentadas pelo Apicultor
Por fim, o apicultor ainda relatou algumas dificuldades enfrentadas na criação de abelhas no
estado do Rio Grande do Norte, especificamente no alto-oeste Potiguar, sendo a principal
delas, a falta de chuva por longos períodos do ano, já que, para que haja o desenvolvimento
das atividades apícolas é necessário que exista a flora das árvores, fato que não é constante na
região em que o apicultor possui seus apiários.
6. Considerações Finais
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Primeiramente retomando a questão central da pesquisa, o presente artigo teve como objetivo
geral apresentar o caso de uma inovação de processos aplicada por um apicultor na
comunidade rural Sítio Cacimbinha, localizada no município de Rafael Godeiro no estado do
Rio Grande do Norte (RN).
Portanto, de acordo com a experiência relatada, vê-se a importância da inovação para a
sustentabilidade dos negócios, sejam eles grandes ou pequenos sempre é necessário à busca
pela implementação de novas formas de trabalho que possam trazer ganhos produtivos a
atividade.
Viu-se ainda que a adoção dos novos métodos de trabalho desenvolvidos pelo apicultor
trouxeram ganhos na qualidade, na produtividade e ganhos de rapidez dos processos
desenvolvidos na atividade apícola.
O presente estudo possibilitou também, o conhecimento sobre as práticas e processos
utilizados na colheita do mel de abelhas africanizadas, mostrando as etapas do processo e
algumas dificuldades enfrentadas pelo apicultor.
E, por fim, sugere-se a busca e implantação de novas formas de inovações para serem
desenvolvidas pelo apicultor, como por exemplo, inovação de marketing com a introdução de
um rótulo e de uma marca que identifique o seu mel e que agregue valor aos produtos
advindos da atividade.
REFERÊNCIAS
ACEVEDO, Claudia Rosa; NOHARA, Jouliana Jordan. Monografia no Curso de Administração: guia
completo de conteúdo e forma. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2007.
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2013. Disponível em:
<http://cidades.ibge.gov.br/painel/painel.php?lang=&codmun=241060&search=rio-grande-do-norte|rafael-
godeiro|infograficos:-dados-gerais-do-municipio> Acesso em: 06 mar. 2015.
ICEPA. Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina de 2001-2002. Florianópolis: Ed. ICEPA/SEDRA, 2002.
NETO, F. L. P.; NETO, R. M. A.. Principais Mercados Apícolas Mundiais e a Apicultura Brasileira. Banco
do Nordeste do Brasil. Fortaleza. Ceará. Revista Mensagem Doce nº 84, p.1-20, APACAME, SP, Nov. 2005,
Disponível em: <http://www.apacame.org.br/mensagemdoce/84/artigo.htm>. Acesso em: 03 mar. 2015.
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Manual de Oslo: proposta de
diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação tecnológica. Tradução: FINEP. 3. Ed., 2005.
Disponível em: <http://www.mct.gov.br/upd_blob/0026/26032.pdf>. Acesso em: 03 mai. 2013.
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RAFAEL GODEIRO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2015. Disponível
em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Rafael_Godeiro&oldid=41315191>. Acesso em: 3 maio 2015.
SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE). Apicultura: uma
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Acesso em: 03 de março de 2015.
________________. Informação de mercado sobre mel e derivados de colmeia. 2009b. Disponível em
<http://201.2.114.147/bds/BDS.nsf/D136F240209339148325727D004F3E9C/$File/NT00035052.pdf>. Acesso
em: 04 de março de 2015.
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. MEL: manejo de apiário para produção do mel. 2ª ed.
Brasília: SENAR, 2010. Disponível em: <http://wp.ufpel.edu.br/apicultura/files/2010/05/Manejo-do-Mel.pdf>.
Acesso em: 05 mar. 2013.
VILELA, S. L.de O (org.). Cadeia Produtiva do mel no Estado do Piauí. Teresina: Embrapa Meio-Norte,
2000, 121 p.