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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
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INICIAÇÃO CIENTÍFICA E PESQUISA ACADÊMICA: TEORIA E
PRÁTICA NA CONSTRUÇÃO DO SABER TURÍSTICO
DROPA, Márcia Maria (UEPG)
OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva (UEPG)
Introdução
Muitas são as justificativas sobre a formação adequada do profissional de
turismo, uma vez que no processo constante de mudanças que ocorrem na sociedade, ou
então aquilo que comumente denominamos de pós-modernidade, somente a
competência e qualificação manterá o bacharel no mercado de trabalho. Sendo assim, o
papel da educação passa a ser fundamental neste contexto, seja por meio dos conteúdos
transmitidos nas diversas disciplinas que fazem parte da grade dos cursos de turismo,
seja pela atividade nos campos do estágio curricular.
Porém, uma questão que merece referência é a necessidade crescente de
investigações (pesquisas), pautadas em questões metodológicas científicas, que levem o
acadêmico a questionamentos e reestruturação de conceitos sacralizados, como afirma
Moesch (2002), as implicações epistemológicas para a construção de uma teoria do
turismo, sob uma concepção interdisciplinar, requerem a superação de paradigmas
fossilizados em muitos discursos acadêmicos, institucionais e profissionais.
E essa superação somente ocorre com a investigação crítica, a reflexão e
discussão do fenômeno turístico, pautada na pesquisa científica que envolva uma
relação entre teoria e a prática. Nesse sentido, um dos objetivos do Projeto Pedagógico
de Turismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa, desde o início do Curso, foi de
que os acadêmicos elaborassem suas pesquisas, seus Trabalhos de Conclusão de Curso
– TCCs -, baseados em critérios científicos, com análise e construção teórica
consistentes, partindo de uma fundamentação metodológica. Pesquisas quantitativas e
qualitativas com o objetivo de desvelamento e entendimento de teorias já conhecidas e
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construção de conceitos, baseados na análise do fenômeno turístico com todas as suas
implicações políticas, econômicas, sociais e culturais.
Buscou-se desenvolver o interesse pela pesquisa não somente como exigência
das disciplinas pedagógicas, mas o gosto pela experiência da descoberta ou então do
entendimento de conceitos pré-definidos ou cristalizados, buscando seus
desdobramentos e por que não dizer, questionando-os em suas verdades absolutas. Tudo
isso leva o aluno a compreender a importância de estudos mais profundos e não somente
a aceitação de pré-definições, quer dizer, os profissionais da área, além de conhecerem e
entenderem o fenômeno, precisam também de conhecimentos gerais (nível intelectual) e
isso pode ser proporcionado por meio da investigação.
A construção dessa tradição de pesquisa pautou-se no envolvimento mais direto
dos acadêmicos com as experiências de pesquisa dos docentes e o posterior
comprometimento com a construção e elaboração de objetos e problematizações de
estudo, que propiciassem o entendimento de que os resultados de pesquisa só aparecem
se forem referenciados com critérios de análise crítica da realidade.
Todas essas questões norteiam o pensamento de que a pesquisa não acaba em si,
mas pelo contrário, abre novas possibilidades de continuidade, de surgimento de novas
indagações, que acabam originando novos objetos de investigação. A constante reflexão
sobre “o que é turismo”, faz com que surjam respostas que criam novas dúvidas, num
círculo que contribui efetivamente no pensar e no saber-fazer turístico.
Nesse sentido, o desenvolvimento da pesquisa acadêmica nas Universidades e no
caso específico do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade Estadual de
Ponta Grossa, tem como parâmetros buscar novas verdades, aprofundar os estudos,
respeitar as diferenças, conhecer as especificidades, discutir os caminhos, identificar nas
diversidades as diferentes identidades culturais, desenvolver o livre pensamento,
questionar o consenso, quebrar pré-conceitos e buscar o crescimento econômico.
Portanto, destaca Moesch (2000, p.26), que “o saber turístico deve conduzir a
ideais, a uma ética de responsabilidade, pois enquanto pensamento complexo, conforme
Morin (1998), permite ao pesquisador apropriar-se globalmente do fenômeno
conduzindo à explicações e compreensões possíveis, diminuindo a distância entre os
não-saberes, permitindo a criatividade das incertezas”.
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Convém destacar que esse avanço para o saber-fazer turístico, que em nossa
opinião deve se fortalecer por meio da pesquisa, desenvolve também nos acadêmicos o
processo de organicidade de tarefas, uma vez que “a questão do método em turismo
segue a dinâmica das ciências na qual o turismo é objeto de estudo.” (DENCKER, 1998,
p.27). A definição da metodologia de trabalho passa, necessariamente, pela reflexão de
se estabelecer o que fazer e como fazer, em busca de resultados efetivos, que propiciem
uma discussão na construção do instrumental teórico necessário, para conhecer, avaliar,
organizar e planejar a atividade turística, visando o crescimento e desenvolvimento do
setor, crescimento esse qualitativo ligado à questão de aumento da qualidade de vida.
Durante o desenvolvimento da prática da pesquisa no Curso, sempre se levou em
consideração a abordagem interdisciplinar, destacando a afirmação de Dencker (1998),
de que o turismo não é uma disciplina e sim um objeto de estudo pertencente a várias
disciplinas, porém, avançando no sentido de troca, de cooperação e de comunicação das
várias disciplinas afins ao fenômeno turístico, buscando uma maior aproximação com
novas “categorias de análise”, que favorecem o desenvolvimento da pesquisa científica.
Sendo o objetivo desse artigo a apresentação da produção acadêmica do Curso e
sua contribuição para a reflexão teórica sobre o fenômeno turístico, nossa participação e
observação efetiva em todo o processo, fundamentou a análise que ora se apresenta.
Destaca-se que a introdução da pesquisa nos primeiros anos de funcionamento do curso
visou, fundamentalmente, a realização de trabalhos que levassem os acadêmicos à
pesquisa científica, pautada na discussão teórica e na busca de resultados que
alimentassem o processo ensino-aprendizagem, visando o desenvolvimento de TCCs
mais consistentes e, que contribuíssem na discussão acerca do entendimento do turismo
em sua complexidade de fenômeno decorrente de práticas sociais.
A Política Pedagógica de Pesquisa
O engajamento do curso no processo de pesquisa institucional possui uma
trajetória interessante, que envolveu diretamente docentes e discentes, comprometidos
com o crescimento e fortalecimento do mesmo, como veremos.
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O curso foi criado em 1998 e, já no ano de 2000 e 2001, teve seus primeiros
acadêmicos envolvidos no Programa de Iniciação Científica e, pela falta de estrutura
departamental, recorreu-se à outras unidades, no caso a orientação foi realizada por
professores do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino, sendo as temáticas
desenvolvidas pela pesquisa, vinculadas à educação, com os projetos intitulados:
Educação Patrimonial: uma proposta para a criação do programa guias mirins” e
“Turismo e Educação: elementos para a atuação no ensino fundamental e médio”.
Com a criação do Departamento de Turismo e seu fortalecimento com a
agregação de novos professores, iniciou-se a formatação dos critérios para a elaboração
dos Trabalhos de Conclusão de Curso – TCCs - que resultou no primeiro Regulamento
de Pesquisa do Curso e propiciou condições de:
I - oportunizar ao acadêmico a iniciação à pesquisa;
II - sistematizar o conhecimento adquirido no decorrer do curso;
III - garantir a abordagem científica de temas relacionados à prática profissional,
inserida na dinâmica da realidade local, regional e nacional;
IV - subsidiar o processo de ensino, contribuindo para a realimentação dos conteúdos
programáticos das disciplinas integrantes do currículo;
V - estimular, através do ensino/pesquisa, o desenvolvimento do interesse dos alunos
para a atividade de iniciação científica;
VI - possibilitar a articulação entre a produção científico-acadêmica e as linhas de
pesquisa do Departamento de Turismo;
VII - propiciar embasamento teórico que leve o aluno a refletir sobre o turismo, tanto
nas questões de planejamento e gerenciamento, como de produção, distribuição e
circulação.
Evidencia-se pelos objetivos apresentados que o incentivo à pesquisa tornou-se
fundamental também na composição curricular. A experiência das primeiras orientações
docentes e das primeiras defesas discentes, propiciou um novo questionamento entre os
professores, que seria envolver os acadêmicos na pesquisa e nas discussões da atividade
turística (não somente na elaboração dos TCCs), mas a partir da 1ª série. Sendo assim, a
alternativa foi dar início ao desenvolvimento de Projetos de Extensão. Esses projetos
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foram fundamentais, pois ocorreu uma aproximação entre acadêmicos e professores nas
discussões acerca de Comunidade Local, Patrimônio Cultural e Turismo, favorecendo o
desenvolvimento de vários eixos de pesquisa, nas áreas de Turismo Cultural, Turismo
Religioso, Turismo Rural, Turismo de Eventos, entre outros.
O desenvolvimento dos dois projetos extensionistas evidenciou um universo de
indagações maior que o esperado, criando assim, um campo fértil para o
desenvolvimento de pesquisas individuais. Foram criadas, então, no departamento, as
condições necessárias (interesse docente/discente) para o desenvolvimento da Iniciação
Científica. Campos de investigação foram abertos e os questionamentos multiplicaram-
se. Categorias conceituais tiveram que ser analisadas e discutidas, ampliando o
universo de indagações como veremos a seguir.
A construção das categorias conceituais e sua relação com o Turismo
Com relação as pesquisas decorrentes das categorias Patrimônio – Cultura -
Identidade – Memória – Cidade - Bairro e Imagens e sua relação com o Turismo,
buscou-se fundamentos teóricos em diversos autores, o que demonstrou o caráter e a
abrangência interdisciplinar da Iniciação Científica. A partir da leitura de Gastal (2000,
p. 121), afirmando que o “elemento cultural tem sido minimizado nas reflexões
turísticas”, fundamentou-se nas questões relativas à “bem cultural”, trabalhados por
Meneses (1992), referentes à interesse público e privado do bem cultural. Não se deve
deixar de lado a questão de que, quando se fala em Patrimônio Cultural e Turismo, fala-
se fundamentalmente de valores, e que esses valores são permanentemente imputados a
ele. Por isso, para falar de valores culturais (de maneira ampla), deve-se conhecer todo o
processo de como o bem foi elaborado, de como ele circulou na sociedade, bem como
os atributos a ele referenciados.
Os bens culturais foram discutidos como toda a produção material e imaterial do
homem bem como o conjunto desses bens, produzidos num processo social
determinado. Destaca-se que os bens que compõe o patrimônio cultural, não são apenas
"signos que constituem discursos do presente com o passado (...) eles devem ser
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interpretados como signos novos, articulados em linguagem de hoje e constitutivos de
práticas sociais atuais" (ARANTES, 1987, p.53).
Por sua vez as discussões acerca de cultura, tiveram suporte teórico a partir de
Geertz (1978), que afirma “acreditando como Max Weber, que o homem é um animal
amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo
essas teias e sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis,
mas como uma ciência interpretativa, à procura de significado”. Essa afirmação
propiciou reflexões acerca do turismo em busca de seus significados, seja como troca,
intercâmbio, seja na busca de suportes teóricos.
Não é mais somente perceber que existem diferenças entre a cultura dominante,
erudita, oficial e a popular, folclórica, subalterna; é entender que elas diferem "quanto à
linguagem, temas, graus de elaboração, esferas de circulação, alcance, aceitação. As
diferenças básicas entre as produções culturais decorrem do modo pelo qual os grupos e
as classes sociais situam-se na sociedade" (IANNI, 1992, p.62). Sendo assim, a cultura
além de ser entendida dentro de suas diferenças, tem que ser conquistada, surgindo
aquilo que se convencionou chamar de Cidadania Cultural. Por isso ela não é um
simples fato, mas um referencial de valor e uma avaliação que as pessoas fazem de seu
próprio mundo, de sua própria comunidade.
Neste sentido, contribuiu para a discussão acerca da Cultura, Política cultural e
Turismo, as considerações de Chauí (1993) ao definirmos a política cultural como
Cidadania Cultural e a cultura como direito, estamos operando com os dois sentidos da
cultura: como um fato ao qual temos direito como agentes ou sujeitos históricos; como
valor ao qual todos tem direito numa sociedade de classes que exclui parte de seus
cidadãos do direito à criação e à fruição das obras de pensamento e das obras de arte.
Vincular essas afirmações com o turismo, a partir do pressuposto de que a
comunidade muitas vezes não pode usufruir de seus espaços culturais, leva a indagações
no sentido de discutir então como ela participará do planejamento da atividade turística.
Por isso se faz necessário, no processo de pensar o mercado turístico, buscar sempre o
desvendamento dos mistérios do patrimônio cultural e apresentá-los à comunidade,
para uma leitura mais crítica do contexto em que vivem, assim o turismo estará
contribuindo para o efetivo exercício da cidadania cultural
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A construção conceitual e a análise sobre patrimônio pautaram-se em entender o
Patrimônio Cultural como toda a ação humana na prática da convivência na sociedade e
constatar que a diversidade patrimonial das comunidades podem ser fontes novas e
inesgotáveis na elaboração de novas concepções de turismo, que está em permanente
evolução, foram e são muito estimulantes.
Por isso a idéia de Patrimônio Cultural e Turismo, proposta como análise de
discussão, foi de que é possível, por meio da leitura da cidade e do ambiente natural,
descobrir aquilo que comumente chamamos de personalidade, identidade, num contexto
de permanente valorização do bem cultural. Entendendo cultura como um conjunto de
inúmeras interações que o homem cria para si, além das coisas que ele necessita para
sustentar essas relações que estão presentes no seu patrimônio. Mas preservar esse
patrimônio, como já foi comentado, só se justifica se o mesmo continuar
freqüentemente a explicar essas relações comuns em sua vida.
Rodrigues (2001), afirma que é necessário encontrar um ponto de equilíbrio
entre as diferentes finalidades que muitas vezes são atribuídas ao patrimônio, de um
lado ele é configurado como um suporte de identidade da comunidade onde está
inserido e por outro lado ele deve por meio da atividade turística tornar-se fonte de
divisas, e entendê-lo nas suas múltiplas facetas culturais amplia as discussões
acadêmicas e por isso foi interessante o trabalho de Choay (2001, p. 211), quando
afirma “ por sua vez os patrimônios históricos adquirem dupla função – obras que
propiciam saber e prazer, postas à disposição de todos; mas também produtos culturais
fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos”. A indagação constante
de qual seria o papel ou função do turismo em relação à essa gama diversificada do
nosso Patrimônio Cultural, fundamentou algumas análises desenvolvidas.
As questões relativas à memória buscaram, em um primeiro momento, suporte
na problemática dos lugares proposta por Pierre Nora, que desenvolveu a concepção de
“lugares de memória”. Defende a idéia de que aumenta a curiosidade pelos lugares onde
a memória se cristaliza (patrimônios) e que esses locais devem existir, pois, na
realidade, não existem mais meios de memória, sendo assim a memória se enraíza no
concreto, no espaço, no gesto, na imagem e no objeto. Por sua vez, afirma De Decca
(1992) se a sociedade histórica destrói as bases da memória coletiva espontânea, ela ao
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mesmo tempo desenvolve uma percepção histórica que, diante do perigo de uma perda
definitiva do passado, começa a recriar deliberadamente lugares de memória. Em Nora
e De Decca encontrou-se o a sustentação teórica para o entendimento de “lugares de
memória”, porém, a sua relação com o turismo, buscou suporte nas colocações de
Barreto (2000) e nas correlações dos temas desenvolvidas por Gastal (2002, p.77), que
afirma “O lugar de memória pode contribuir para uma metodologia que amplie os
critérios dos inventários turísticos no que se refere às manifestações culturais,
acrescendo às questões de tempo e espaço o critério dos imaginários locais, que, tanto
quanto à sua constituição física, constroem a singularidade das localidades. Território da
subjetividade, os imaginários marcam-se pelas trocas simbólicas”.
Se por um lado, a questão do patrimônio liga-se à questão da memória e sendo
assim vincula-se à questão do “tempo”, estudar a cidade e suas diferentes unidades
territoriais vincula-se à questão do “espaço”, por isso os estudos de Castrogiovani
(2002), contribuíram para o aprofundamento dos diferentes processos de ocupação do
território, transformando-os em “lugares” e os de Rodrigues (1999), para reflexões
sobre as especificidades dos mesmos. Com Argan (1992) vinculou-se a questão do
tempo e espaço urbano à idéia de que a cidade é o produto de toda uma história, que se
cristaliza e se manifesta. E a atividade turística é voltada à esse cenário construído,
modificado e vivenciado pelos habitantes do lugar, que na sua dinâmica de vida, fazem
com que a cultura se manifeste, a vida aconteça e as trocas se concretizem.
Por isso, a idéia de Patrimônio Cultural e Turismo, aqui, proposta é a de, por
meio da leitura das comunidades, ser possível descobrir aquilo que comumente
chamamos de personalidade, identidade, num contexto de permanente valorização do
bem cultural. Entendendo cultura como um conjunto de inúmeras interações que o
homem cria para si, além das coisas que ele necessita para sustentar essas relações que
estão presentes em seu patrimônio. Mas preservar esse patrimônio, só se justifica se o
mesmo continuar frequentemente a explicar essas relações comuns em sua vida, no
lugar que escolheu para viver. Segundo Rodrigues (1999, p.58), “deter-se no lugar
significa abandonar a crença predominante nas soluções pretensamente universais e
opor-se a fórmulas externas. Há que confiar na capacidade e sabedoria das comunidades
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locais na identificação de seus problemas e na tentativa de soluções originais, com base
na sua própria experiência e na de grupos similares”.
As manifestações culturais fazem parte da diversidade presente nas comunidades
e são elas que garantem o movimento, a permanência e a manutenção dos valores. Por
isso, não devem em nenhum momento serem minimizadas pelo turismo mas, pelo
contrário, devem ser o sustentáculo das identidades locais e, para isso, os estudos de
Hall, foram importantes para desvendar e questionar o papel do turismo nessa questão,
pois o referido autor destaca aspectos de identidades que surgem do “pertencimento” a
culturas étnicas, raciais, lingüísticas, religiosas entre outras. A questão ao vínculo entre
cidade e identidade, pautou-se na análise proposta por Bresciani (1992), quando aponta
a cidade sendo pensada a partir de entradas diferenciadas, denominadas “portas”, locais
onde se constituem a formação de “novas identidades sociais”.
Porém, ainda referente à essa temática abrangente que envolveu os primeiros
trabalhos de Iniciação Científica, não se pode deixar de evidenciar que o estudo com a
iconografia e com a história oral foram importantes. Com relação à imagem, a
fotografia tornou-se uma peça fundamental por resgatar aspectos visuais que ajudaram a
reconstruir a história das manifestações populares do bairro estudado. E as entrevistas
colaboraram na obtenção de informações que não poderiam ser encontradas em outras
fontes, mas somente na memória daqueles que viveram os momentos.
Todo esse processo de Iniciação Científica, quer dizer, de pesquisas decorrentes
de projetos de extensão, propiciou que o Departamento de Turismo produzisse
pesquisas, publicações, apresentações em encontros da área, o que alavancou o avanço
para institucionalização da Linha de Pesquisa: Turismo Regional: Planejamento,
Organização e Desenvolvimento, fazendo com que se facilitassem o acesso dos alunos
ao PIBIC. As possibilidades de trabalhos regionais se consolidaram não mais voltados
somente para a área do Turismo Cultural, mas também especificamente para o
Planejamento Turístico, o Turismo de Eventos e o Turismo Social.
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Disciplinas convergentes com a prática da atividade turística
Esse avanço, fez com que fosse percebido a complexidade de fenômeno em
todo seu processo de análise, pois como afirma Krippendorf (2002, p. 17) “ a máquina
de crescimento do turismo deixou, recentemente, uma coisa bem clara. Apenas
observando esse fenômeno de forma interconectada, com influências inter-relacionadas
e rodas dentro de rodas, se podem ver claramente não apenas as oportunidades, mas
também os riscos que são inerentes ao crescimento do turismo”.
Sendo assim, a investigação teórica nessa fase buscou também os estudos
relativos à planejamento turístico, buscando entender o fenômeno turístico como um
produto da cultura, avançando nas explicações deterministas de caráter econômico, mas
percebendo a necessidade de que um planejamento integral deve reconhecer toda a teia
de significados e complexidade do turismo. Planejamento com o objetivo de “promover
mudanças que atuem como alavancas do desenvolvimento” (Molina, 2001). Também
nesse autor, buscou-se discutir questões relacionadas ao pós-turismo, onde afirma que a
descentralização das medidas voltadas ao turismo, contribui para que todos aqueles que
de uma maneira ou de outra são atingidos pelo desenvolvimento turístico, possam
contribuir nas discussões, pois a “descentralização implica um processo aberto de
avaliação do comportamento do turismo e do seu entorno, processo que ativa as
capacidades, as habilidades e, o mais notável, a cosmovisão de tudo que se relaciona
com esse fenômeno. É isso que revaloriza o turismo como conceito e atividade, como
teoria e práxis, convertendo-o em uma alternativa transcendental para o
desenvolvimento humano”
A participação deve ser coletiva, pois somente um planejamento turístico
elaborado com critérios de conhecimento da realidade, consegue solucionar com mais
eficácia os problemas que podem despontar com a atividade, bem como em muitos
casos evita-los. (Ruschmann, 1997).
Os avanços teóricos na área de planejamento também buscaram análises nas
obras de Boullón (2002) e Hall (2001). Em Boullón discutiram-se as questões referentes
à teoria do espaço turístico e o papel central do planejamento. Nessa fase, pode-se fazer
comparativos com a teorias de Santos (1994) acerca da geografia dos espaços,
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caracterizados também como sociais. Foi interessante ainda intercalar os estudos de
Rodrigues (1999), quando afirma, que os estudiosos do turismo devem levar sempre em
consideração que “ o turismo vive de es-peficidades dos lugares”.
Os temas foram pesquisados seguindo um processo lógico do pensamento e
visando a inter-relação entre teoria e prática, em função das especificidades dos
mesmos, que envolvia categorias voltadas também à questão do imaginário, da
simbologia e da interpretação.
A análise de Vovelle (1997), contribuiu para entender os diferentes significados
relativos à imagens e imaginários nos diferentes contextos da vida social. As leituras
decorrentes de Baczko (1984) contribuíram para identificar que as cidades, também são
uma projeção dos imaginários sociais no espaço, além das funções múltiplas que
competem ao imaginário na vida coletiva. A partir da análise dos dois autores foi
possível avançar na questão do turismo, a partir da afirmação de Beni (2004 p.19) “a
interpretação de lugares, de acervos, de saberes e fazeres culturais é, acima de tudo, um
instrumento de comunicação entre os moradores e os turistas. A escolha dos meios e
técnicas mais apropriados dependerá sempre do lugar ou do objeto a ser interpretado e
do público residente.”
No trabalho organizado por Murta e Albano (2002), pode-se constatar e analisar
que a interpretação da realidade social deve pautar-se em critérios que não minimizem o
saber-olhar do visitante e que busquem também a redescoberta dos elementos culturais
pela própria comunidade local, isso tanto em relação ao meio ambiente urbano, quanto
em relação ao meio ambiente natural. Buscar nas diferentes comunidades o saber fazer,
o pensar, o agir, o respeitar, são elementos que se constituem em importantes
ferramentas para repensar o turismo num momento em que os discursos de globalização
e desenvolvimento sustentável, precisam romper os discursos políticos e se efetivarem
na prática consistente do planejar turisticamente os diferentes espaços construídos e
anexados pela atividade humana.
Em Cidades Invisíveis, Ítalo Calvino afirma que, ”as cidades também acreditam
ser obra do espírito ou do acaso, mas nem o outro bastam para sustentar as suas
muralhas. De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta sete maravilhas, mas
a resposta que a às nossa perguntas” . As perguntas que são feitas a uma cidade,
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constituem importante instrumental para que o turismo reconheça e reinterprete suas
ações voltadas à manutenção, divulgação e agregação de valor ao produto turístico.
Considerações Finais
Com base nessas análises, fica evidenciado que todos os trabalhos se
desenvolveram sempre com a premissa de que uma cidade tem a marca da presença do
homem, por meio de suas construções, seu modo de vida, sua maneira de adaptar velhos
padrões a novas atitudes. Qualquer parte do ambiente urbano seja um quarteirão, uma
praça, um edifício, ou do ambiente natural, possui um significado mais representativo
do que somente seus valores materiais são elementos que simbolizam a relação entre o
lugar e seus habitantes.
O valor de um bem é o que a comunidade lhe atribui e descobrir e estudar esse
valores em épocas diferentes também deve ser o papel do turismólogo, pois a cultura só
se transforma em atrativo a partir de como ela é analisada e respeitada.
Buscou-se, em todos os momentos de crescimento da atividade da pesquisa
científica no Curso de Turismo, uma interdisciplinaridade que “significasse também
troca e cooperação” (Moesch, 2002). A pesquisa não significa simplesmente a busca de
conceitos em outras ciências, mas trabalhar esses conceitos dentro do campo turístico de
forma que eles não são definitivos, finitos e acabados, mas sim uma idéia em processo,
sendo assim suscetível de reformulações, visando a superação da especialização dos
saberes por meio da interlocução entre as diversas áreas de conhecimento.
Apesar da falta de políticas públicas efetivas na formação de recursos humanos
nas áreas de ciências humanas e sociais aplicadas, o incentivo à pesquisa deve ser
constante, visando a socialização dos métodos e dos recursos, conduzindo o pesquisador
de turismo a romper com o senso comum, a revisar as categorias críticas na busca
epistemológica, pois a curiosidade pelo que não se conhece é uma curiosidade
epistêmica. Ao surgimento de novas problemáticas, devem-se buscar outras e novas
posições teóricas, que deverão envolver estudos locais, regionais e nacionais, com o
objetivo principal pautado na constante busca do perfil do pesquisador na área turística,
pois “o que cria o novo, é o olhar de fora”.
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A busca do entendimento do turismo a partir de elementos teóricos de outras
disciplinas deve avançar no sentido de construção de uma lógica, que busque a
organicidade do fenômeno e sua contextualização teórica enquanto campo de crescentes
investigações que nunca acabam em si, mas pelo contrário, sempre abre possibilidades
para novas dúvidas e inquietações. Pode ser que de posse de novos referenciais,
superando a multidisciplinaridade e buscando a coerência metodológica na
interdisciplinaridade, o turismólogo encontre um caminho mais efetivo nesse processo
de superação da dependência do turismo à outras ciências. É o desafio que se pretende
enfrentar no Curso de Turismo da UEPG, quer dizer, construir o pensar turisticamente.
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