INFO R M A TIV O MENS AL - JULHO DE 2018 TERAPIA ......INFO R M A TIV O MENS AL - JULHO DE 2018 Os...

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TERAPIA LIPÍDICA NO MANEJO DA INTOXICAÇÃO POR ANESTÉSICOS AMA INFORMA QUEM INFORMATIVO MENSAL - JULHO DE 2018 Os anestésicos locais (AL) são drogas injetadas localmente, que bloqueiam a condução nervosa de uma área do corpo para o sistema nervoso central e, assim, interferem na percepção da dor. São muito utilizados na prática clínica e podem ser administrados por diferentes vias. Além disso, os anestésicos possuem potência e tempo de ação variável. Dentre os anestésicos mais utilizados estão: bupivacaína, ropivacaína, lidocaína, prilocaína.¹ Os anestésicos locais podem ter muitos efeitos tóxicos potenciais e diversos fatores podem estar envolvidos na intoxicação, tais como: fatores ligados ao paciente (idade, peso, medicamentos em uso, doenças preexistentes, genética, ambiente social, etc.); e ainda em função de técnica de administração inadequada, superdosagem ou outros fatores ligados ao AL, bem como o local e velocidade de sua administração. Os sinais e sintomas típicos de intoxicação por AL ocorrem principalmente no SNC e no sistema cardiovascular. Os ALs cruzam a barreira hematoencefálica levando às alterações precoces que podem se manifestar como sintomas gustativos, auditivos, visuais, queda do nível de consciência, convulsões e coma, seguidos de sintomas cardiovasculares que podem ir de arritmias cardíacas a colapso cardiovascular e, eventualmente, morte.² , ³ Quando há suspeita de intoxicação por AL, dentre as providências que devem ser tomadas, está a terapia lipídica. O uso da emulsão lipídica intravenosa (ELI) teve início como rotina na terapia de nutrição parenteral e se mantem até os dias atuais. Hoje, as ELI estão sendo utilizadas em casos de intoxicação por anestésicos locais e já não se tem dúvidas em relação à sua eficácia neste tratamento.² , ³ Segundo a Sociedade Americana de Anestesia Regional e Medicina da Dor deve-se seguir o seguinte protocolo no manejo das intoxicações por anestésicos locais: Manutenção da via aérea e oxigenação; Tratar as convulsões, preferencialmente com o uso de benzodiazepínicos; Suporte cardiovascular; Iniciar a terapia lipídica, conforme quadro:

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TERAPIA LIPÍDICA NO MANEJO DA INTOXICAÇÃO POR ANESTÉSICOS

AMAINFORMA

QUEM

I N F O R M A T I V O M E N S A L - J U L H O D E 2 0 1 8

Os anestésicos locais (AL) são drogas injetadas localmente, que bloqueiam a condução nervosa de uma área do corpo para o sistema nervoso central e, assim, interferem na percepção da dor. São muito utilizados na prática clínica e podem ser administrados por diferentes vias. Além disso, os anestésicos possuem potência e tempo de ação variável. Dentre os anestésicos mais utilizados estão: bupivacaína, ropivacaína, lidocaína, prilocaína.¹

Os anestésicos locais podem ter muitos efeitos tóxicos potenciais e diversos fatores podem estar envolvidos na intoxicação, tais como: fatores ligados ao paciente (idade, peso, medicamentos em uso, doenças preexistentes, genética, ambiente social, etc.); e ainda em função de técnica de administração inadequada, superdosagem ou outros fatores ligados ao AL, bem como o local e velocidade de sua administração. Os sinais e sintomas típicos de intoxicação por AL ocorrem principalmente no SNC e no sistema cardiovascular. Os ALs cruzam a barreira hematoencefálica levando às alterações precoces que podem se manifestar como sintomas gustativos, auditivos, visuais, queda do nível de consciência, convulsões e coma, seguidos de sintomas cardiovasculares que podem ir de arritmias cardíacas a colapso cardiovascular e, eventualmente, morte.²,³

Quando há suspeita de intoxicação por AL, dentre as providências que devem ser tomadas, está a terapia lipídica. O uso da emulsão lipídica intravenosa (ELI) teve início como rotina na terapia de nutrição parenteral e se mantem até os dias atuais. Hoje, as ELI estão sendo utilizadas em casos de intoxicação por anestésicos locais e já não se tem dúvidas em relação à sua eficácia neste tratamento.²,³

Segundo a Sociedade Americana de Anestesia Regional e Medicina da Dor deve-se seguir o seguinte protocolo no manejo das intoxicações por anestésicos locais:�

• Manutenção da via aérea e oxigenação;

• Tratar as convulsões, preferencialmente com o uso de benzodiazepínicos;

• Suporte cardiovascular;

• Iniciar a terapia lipídica, conforme quadro:

A anestesia local é uma prática adotada para proporcionar conforto e segurança ao paciente, porém não é um procedimento isento de riscos. Por isso, é altamente recomendado que as unidades e os profissionais que utilizam anestésicos locais estabeleçam um plano para gerenciar este tipo de complicação. É, portanto, de extrema importância que a instituição de saúde mantenha disponível um kit local, incluindo a emulsão lipídica, para uso em caso de emergência.4

Referências:1 Shulman J. M., Strichartz G. R. Farmacologia dos anestésicos locais. In: Princípios de Farmacologia – a base fisiopatológica da Farmacoterapia. 2ª. Edição, 2009

2 Barbosa, Marcelo Pacheco Lagares; Boni, Carlos Leonardo Alves; Andrade, Flávia Costa Junqueira de. Conduta na intoxica-ção por anestésicos locais. Rev Med Minas Gerais, 20 (4 Supl1): S24-S30, Belo Horizonte, 2010. 

3 UDELSMANN, Artur et al. Lipídeos nas intoxicações por anestésicos locais. ABCD, arq. bras. cir. dig., São Paulo, v. 25, n. 3, p. 169-172, set. 2012.

4 Neal JM, Hsiung RL, Mulroy MF, Halpern BB, Dragnich AD, Slee AE. Checklist for Managing Local Anesthetic Systemic Toxici-ty: 2018 Version. Reg Anesth Pain Med., 2018.

Page 2: INFO R M A TIV O MENS AL - JULHO DE 2018 TERAPIA ......INFO R M A TIV O MENS AL - JULHO DE 2018 Os anestésicos locais (AL) são drogas injetadas localmente, que bloqueiam a condução

Os anestésicos locais (AL) são drogas injetadas localmente, que bloqueiam a condução nervosa de uma área do corpo para o sistema nervoso central e, assim, interferem na percepção da dor. São muito utilizados na prática clínica e podem ser administrados por diferentes vias. Além disso, os anestésicos possuem potência e tempo de ação variável. Dentre os anestésicos mais utilizados estão: bupivacaína, ropivacaína, lidocaína, prilocaína.¹

Os anestésicos locais podem ter muitos efeitos tóxicos potenciais e diversos fatores podem estar envolvidos na intoxicação, tais como: fatores ligados ao paciente (idade, peso, medicamentos em uso, doenças preexistentes, genética, ambiente social, etc.); e ainda em função de técnica de administração inadequada, superdosagem ou outros fatores ligados ao AL, bem como o local e velocidade de sua administração. Os sinais e sintomas típicos de intoxicação por AL ocorrem principalmente no SNC e no sistema cardiovascular. Os ALs cruzam a barreira hematoencefálica levando às alterações precoces que podem se manifestar como sintomas gustativos, auditivos, visuais, queda do nível de consciência, convulsões e coma, seguidos de sintomas cardiovasculares que podem ir de arritmias cardíacas a colapso cardiovascular e, eventualmente, morte.²,³

Quando há suspeita de intoxicação por AL, dentre as providências que devem ser tomadas, está a terapia lipídica. O uso da emulsão lipídica intravenosa (ELI) teve início como rotina na terapia de nutrição parenteral e se mantem até os dias atuais. Hoje, as ELI estão sendo utilizadas em casos de intoxicação por anestésicos locais e já não se tem dúvidas em relação à sua eficácia neste tratamento.²,³

Segundo a Sociedade Americana de Anestesia Regional e Medicina da Dor deve-se seguir o seguinte protocolo no manejo das intoxicações por anestésicos locais:�

• Manutenção da via aérea e oxigenação;

• Tratar as convulsões, preferencialmente com o uso de benzodiazepínicos;

• Suporte cardiovascular;

• Iniciar a terapia lipídica, conforme quadro:

A anestesia local é uma prática adotada para proporcionar conforto e segurança ao paciente, porém não é um procedimento isento de riscos. Por isso, é altamente recomendado que as unidades e os profissionais que utilizam anestésicos locais estabeleçam um plano para gerenciar este tipo de complicação. É, portanto, de extrema importância que a instituição de saúde mantenha disponível um kit local, incluindo a emulsão lipídica, para uso em caso de emergência.4

Referências:1 Shulman J. M., Strichartz G. R. Farmacologia dos anestésicos locais. In: Princípios de Farmacologia – a base fisiopatológica da Farmacoterapia. 2ª. Edição, 2009

2 Barbosa, Marcelo Pacheco Lagares; Boni, Carlos Leonardo Alves; Andrade, Flávia Costa Junqueira de. Conduta na intoxica-ção por anestésicos locais. Rev Med Minas Gerais, 20 (4 Supl1): S24-S30, Belo Horizonte, 2010. 

3 UDELSMANN, Artur et al. Lipídeos nas intoxicações por anestésicos locais. ABCD, arq. bras. cir. dig., São Paulo, v. 25, n. 3, p. 169-172, set. 2012.

4 Neal JM, Hsiung RL, Mulroy MF, Halpern BB, Dragnich AD, Slee AE. Checklist for Managing Local Anesthetic Systemic Toxici-ty: 2018 Version. Reg Anesth Pain Med., 2018.

Emulsão Lipídica 20%Paciente com mais de 70 Kg Paciente com menos de 70 Kg

• Administrar bolus de 100 mL de emulsão lipídica 20%, rapidamente, por 2-3 minutos.

• Manter infusão contínua da emulsão lipídica de 200-250 mL por 15 a 20 minutos.

• Administrar bolus de 1,5 mL / Kg de emulsão lipídica 20%, rapidamente por 2-3 minutos.

• Manter infusão contínua da emulsão lipídica ~ 0,25 mL / Kg / min (peso corporal ideal)

Se o paciente permanecer instável:• Repetir bolus uma ou duas vezes na mesma taxa de dose dupla de infusão; não ultrapassando o limite de dosagem (12 mL / Kg)

• O volume total de emulsão lipídica pode se aproximar de 1L em uma ressuscitação prolongada (acima de 30 minutos)

Continuar monitorando:• Por pelo menos 4-6 horas após um evento cardiovascular;

• Ou, pelo menos, 2 horas após um evento limitado do SNC.

• Não exceder 12 mL / Kg de emulsão lipídica (particularmente importante no adulto pequeno ou criança)Doses muito menores de emulsão lipídica são tipicamente necessárias para o tratamento de intoxicação por anestésicos locais.

AMAINFORMA

QUEMI N F O R M A T I V O M E N S A L - J U L H O 2 0 1 8

Sugestão para composição do Kit de emergência para intoxicação por anestésicos locais �

• 1 litro de emulsão lipídica a 20%;

• Várias seringas e agulhas para administração do lipídio;

• Equipo de infusão intravenosa.