Influência de substratos na produção de mudas e no ciclo de cultivo da alface elba
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CARNEIRO JSS; LUCENA GN; GUARNIERI A; FREITAS GA; SILVA RR; NASCIMENTO IR.
2014. Influência de substratos na produção de mudas e no ciclo de cultivo da alface Elba. Horticultura Brasileira 31: S2933 –S2940.
Hortic. Bras., v. 31, n. 2, (Suplemento- CD Rom), julho 2014 2933
Influência de substratos na produção de mudas e no ciclo de cultivo da
alface Elba Jefferson Santana da Silva Carneiro
1; Guilherme Nunes Lucena
1; Analu
Guarnieri1; Gilson Araújo de Freitas
1; Rubens Ribeiro da Silva
1; Ildon Rodrigues
Nascimento1
1UFT – Universidade Federal do Tocantins – Campus Gurupi. Rua Badejós, Lote 7, Chácaras 69/72, Zona
Rural, Cx. Postal 66, CEP: 77402-970. E-mail: [email protected]; [email protected];
[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]
RESUMO
A alface (Lactuca sativa L.) é a hortaliça mais cultivada entre os horticultores
brasileiros, sendo responsável pela manutenção da renda e subsistência de muitos
agricultores familiares. Diante disso, o presente trabalho objetivou avaliar a produção de
mudas e o ciclo de cultivo da alface Elba, em diferentes substratos com adição de
proporções crescentes de casca de arroz carbonizada. O experimento foi implantado
seguindo um delineamento inteiramente casualizado, com 20 tratamentos e quatro
repetições. Os tratamentos foram dispostos em esquema fatorial 4x5; sendo o primeiro
fator constituído por quatro substratos (PlantHort I, PlantHort II, PlantHort III e
substrato comercial Plantmax®) e o segundo constituído por cinco proporções de casca
de arroz carbonizada (0; 25; 50; 75 e 100%). Avaliou-se o período de formação das
mudas e o ciclo de cultivo da alface. Para a produção das mudas, as sementes foram
semeadas em bandejas de poliestireno expandido contendo os diferentes substratos
avaliados. Para a avaliação do ciclo de cultivo, as mudas foram transplantadas à campo,
em canteiros de 1 m de largura e 0,20 m de altura. Os substratos PlantHort I, PlantHort
II e PlantHort III foram superiores ao substrato comercial Plantmax®, resultando na
menor duração do ciclo de cultivo e na menor quantidade de dias para a formação das
mudas da alface Elba, com a adição de até 75% de casca de arroz carbonizada.
PALAVRAS-CHAVE: Lactuca sativa L., casca de arroz carbonizada, produção
orgânica.
ABSTRACT
Influence of substrates in the production of seedlings and lettuce grown in field
cycle Elba
Lettuce (Lactuca sativa L.) is the most widely cultivated vegetable gardeners among
Brazilians, being responsible for maintaining the incomes and livelihoods of many
farmers. Therefore, this study aimed to evaluate the production of seedlings and crop
cycle lettuce Elba, on different substrates with addition of increasing proportions of
CARNEIRO JSS; LUCENA GN; GUARNIERI A; FREITAS GA; SILVA RR; NASCIMENTO IR.
2014. Influência de substratos na produção de mudas e no ciclo de cultivo da alface Elba. Horticultura Brasileira 31: S2933 –S2940.
Hortic. Bras., v. 31, n. 2, (Suplemento- CD Rom), julho 2014 2934
carbonized rice husk. The experiment was carried out according to a completely
randomized design with 20 treatments and four replications. Treatments were arranged
in a 4x5 factorial scheme; The first factor consists of four substrates (PlantHort I,
PlantHort II, PlantHort III and commercial substrate Plantmax®) and the second
consisting of five ratios of carbonized rice husk (0, 25, 50, 75 and 100%). Evaluated the
training period of the seedlings and the cultivation cycle of lettuce. For the production
of seedlings, seeds were sown in polystyrene trays containing different substrates
evaluated. For the evaluation of the crop cycle, the seedlings were transplanted to the
field in plots of 1 m wide and 0.20 m high. The substrates PlantHort I, PlantHort II and
PlantHort III were higher than the commercial substrate Plantmax®, resulting in shorter
duration of the crop cycle and in the shortest amount of days for the formation of the
seedlings of lettuce Elba, with the addition of up to 75% shell carbonized rice.
Keywords: Lactuca sativa L., carbonized rice husk, organic production.
A cultura da alface (Lactuca sativa L.) é largamente difundida no Brasil, sendo
considerada a hortaliça folhosa mais consumida no país, destacando-se como cultura de
grande importância alimentar, econômica e social (FREITAS et al., 2013a), sendo
cultivada principalmente por agricultores familiares. A cultura da alface é a preferida
entre os olericultores tanto os que cultivam a campo como os que cultivam em ambiente
protegido (VIANA et al., 2013), possuindo uma área plantada de aproximadamente
35.000 ha, sendo dessa forma uma das mais presentes na dieta da população brasileira
(BATISTA et al., 2012).
Uma das principais etapas do sistema produtivo da alface é a produção de mudas de
qualidade, pois delas depende o desempenho final das plantas no campo de produção,
influenciando o tempo necessário à produção e o número de ciclos produtivos possíveis
por ano (FREITAS et al., 2013a). Essa produção é altamente dependente da utilização
de insumos, sendo o substrato um dos insumos que mais tem se destacado em
importância (FREITAS et al., 2013a). Qualquer variação na sua composição implica na
nulidade ou irregularidade de germinação em função de sua estrutura, aeração,
capacidade de retenção de água, propensão à infestação por patógenos, dentre outros
(MARTINS et al., 2012), resultando na má formação das plantas e no aparecimento de
sintomas de deficiências ou excessos de alguns nutrientes (SOUZA et al., 2013).
CARNEIRO JSS; LUCENA GN; GUARNIERI A; FREITAS GA; SILVA RR; NASCIMENTO IR.
2014. Influência de substratos na produção de mudas e no ciclo de cultivo da alface Elba. Horticultura Brasileira 31: S2933 –S2940.
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Entre os diversos componentes de misturas para substratos que têm mostrado potencial
de uso, adquire importância à casca de arroz carbonizada, devido à grande
disponibilidade nas regiões orizícolas, aliada à necessidade de dar-lhe um destino
econômico e ecologicamente correto (FREITAS et al., 2013a;). Entre as vantagens da
utilização da casca de arroz estão: baixa densidade, pH próximo da neutralidade, baixa
salinidade, elevada porosidade, destacando-se pelo elevado espaço de aeração, baixa
retenção de água e manutenção da estrutura no decorrer do cultivo (FREITAS, 2010).
O ciclo comercial da alface, fase que compreende o período do transplante até a
colheita, depende diretamente da formação de mudas de qualidade, de fatores climáticos
e da quantidade adequada de nutrientes disponíveis as plantas (VIANA et al., 2013),
assim como do ambiente de cultivo (DIAMANTE et al., 2013).
Freitas et al. (2013a) e Freitas et al. (2013b) estudando a produção de mudas de alface
Elba em diferentes substratos e proporções de casca de arroz carbonizada, verificaram
que substratos mais férteis tem melhor resposta a adição de proporções crescentes de
casca de arroz carbonizada, produzindo assim mudas de melhor qualidade. Portanto,
verifica-se que o conhecimento de novos resultados com uso de substratos para
produção de mudas de alface com qualidade é de suma importância, a fim de garantir
um bom e rápido desenvolvimento dessa cultura a campo.
Neste sentido, o presente trabalho objetivou avaliar a produção de mudas e o ciclo de
cultivo da alface cv. Elba em função de diferentes substratos e proporções de casca de
arroz carbonizada.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado em parceria da Universidade Federal do Tocantins – Campus
Gurupi (UFT), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e o projeto COOPERAR da
Cooperativa dos Produtores de Carne e Derivados de Gurupi (COOPERFRIGU). O
experimento foi conduzido em dois ambientes, sendo a produção das mudas realizada
em casa de vegetação e a avaliação do ciclo de cultivo em canteiros, na estação
experimental da UFT/Campus Gurupi. A formação das mudas foi realizada em casa de
vegetação com dimensões de 4,0 x 5,0 m de largura e comprimento, respectivamente, e
pé-direito de 2,80 m. Cobertura de plástico transparente de 150 micras e laterais com
sombrite de coloração preta, com capacidade de retenção de 50% da radiação solar
incidente.
CARNEIRO JSS; LUCENA GN; GUARNIERI A; FREITAS GA; SILVA RR; NASCIMENTO IR.
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O plantio das mudas para avaliação do ciclo de cultivo foi realizado em canteiros de 1m
de largura e 0,20 m de altura. O experimento foi implantado seguindo um delineamento
inteiramente casualizado com 20 tratamentos e quatro repetições, sendo cada repetição
constituída por oito plantas. Os tratamentos foram dispostos em esquema fatorial 4x5;
sendo o primeiro fator constituído por quatro substratos (PlantHort I, PlantHort II,
PlantHort III e substrato comercial Plantmax®) e o segundo constituído de cinco
proporções de casca de arroz carbonizada (CAC) nas proporções 0; 25; 50; 75 e 100%.
Foram estudados os seguintes tratamentos: 1- PlantHort I puro; 2- PlantHort I 25 CAC;
3- PlantHort I 50 CAC; 4- PlantHort I 75 CAC; 5- PlantHort I 100 CAC; 6- PlantHort II
Puro; 7- PlantHort II 25 CAC; 8- PlantHort II 50 CAC; 9- PlantHort II 75 CAC; 10-
PlantHort II 100 CAC; 11- PlantHort III puro; 12- PlantHort III 25 CAC; 13- PlantHort
III 50 CAC; 14- PlantHort III 75 CAC; 15- PlantHort III 100 CAC; 16- Plantmax® puro;
17- Plantmax® 25 CAC; 18- Plantmax
® 50 CAC e 19- Plantmax
® 75 CAC; 20-
Plantmax® 100 CAC. A caracterização química dos substratos e da casca de arroz
carbonizada está apresentada na tabela 1.
A formação das mudas foi realizada em bandejas de poliestireno expandido (Isopor®)
com dimensões de 0,34 x 0,68 x 0,06 m de largura, comprimento e altura,
respectivamente, contendo 128 células com volume de 40 cm3. Foi utilizada a cultivar
de alface Elba da empresa Topseed. As sementes foram semeadas nos diferentes
substratos contidos nas bandejas, numa profundidade de 0,5 cm, colocando-se cinco
sementes por célula. O desbaste foi realizado aos oito dias após a semeadura, deixando
apenas uma plântula por célula, escolhendo a mais vigorosa. A irrigação e demais tratos
culturais foram realizados de acordo com as exigências da cultura.
Os indicadores avaliados foram o período de formação das mudas (PFM) e ciclo de
cultivo (CC). O período de formação das mudas foi determinado como sendo o período
compreendido da semeadura até o transplantio (cinco folhas definitivas). O ciclo de
cultivo (CC) foi obtido após as mudas de alface terem sido levadas ao campo definitivo,
sendo determinado como sendo o período do transplantio até a colheita.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de regressão, avaliando a significância dos
betas e dos coeficientes de determinação utilizando o programa Statística versão 7.0
(STATSOFT, 2014). Os gráficos das regressões foram plotados utilizando o programa
estatístico SigmaPlot versão 10®
(SYSTAT, 2014).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
O período de formação das mudas (PFM) apresentou comportamento quadrático em
função da utilização dos substratos alternativos PlantHort I, PlantHort II, PlantHort III
com o aumento na proporção de casca de arroz carbonizada (CAC). Quando utilizou-se
o substrato comercial (Plantmax®) o PFM apresentou resposta linear, não havendo
alteração no número de dias em função da adição de CAC. A adição de proporções
crescentes de CAC nos substratos alternativos PlantHort I, PlantHort II, PlantHort III
proporcionou aumento no PFM de alface (Figura 1 A).
Os substratos alternativos foram superiores ao substrato comercial Plantmax® com a
adição de até 75% de CAC, levando menor tempo para formação das mudas. Essa
diferença no período de formação das mudas pode ser explicada em função do maior
aporte nutricional dos substratos alternativos (FREITAS et al., 2013b). As mudas
submetidas aos substratos alternativos atingiram o ponto para transplantio (cinco folhas)
aos 24 dias após a semeadura (DAS), sendo superior ao substrato comercial Plantmax®,
o qual atingiu cinco folhas definitivas somente com 35 DAS. O encurtamento no PFM
possibilita o aumento do número de ciclos de cultivos dentro da horta, assim como o
aumento da lucratividade do horticultor.
Freitas et al. (2013b) estudando a produção de mudas de alface cv. Elba em diferentes
substratos alternativos (PlantHort I, PlantHort II, PlantHort III) e um comercial
(Plantmax®) definiram como sendo de 24 DAS, o período ideal para o transplante das
mudas produzidas nos substratos alternativos, sendo estes superiores ao substrato
comercial, corroborando os resultados aqui encontrados. Costa et al. (2012) estudando a
produção de mudas de alface cv. Verônica do tipo crespa em diferentes substratos
alternativos e um substrato comercial (Bioplant®
) definiram como sendo de 28 DAS.
Enquanto Viana et al. (2013) estudando o cultivo da alface cv. Vitória de Verão
definiram como sendo de 30 DAS, o período ideal para o transplantio. Trani et al.
(2007) avaliando diferentes substratos para produção de mudas de alface cv. Regina
verificaram que foram necessários de 20 - 25 DAS para que as plantas atingissem a
altura mínima de transplante (5 cm) quando utilizou o substrato comercial Plantmax®.
O ciclo de cultivo (CC) ou ciclo comercial das plantas de alface, apresentou
comportamento linear com o uso dos substratos alternativos PlantHort I, PlantHort II,
PlantHort III e comercial Plantmax® em função da adição de proporções crescentes de
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casca de arroz carbonizada (CAC) (Figura 1 B). A adição de proporções crescentes de
CAC nos diferentes substratos promoveu aumento no CC da alface. Tal fato é explicado
pela redução no suprimento de nutrientes em função do aumento das proporções da
CAC (FREITAS, 2010).
Os substratos alternativos PlantHort I, PlantHort II e PlantHort III proporcionaram
melhor desempenho vegetativo da planta, reduzindo o ciclo de cultivo no campo de
produção em até 26 dias em relação ao substrato comercial Plantmax®, com adição de
até 75% de CAC. Essa redução no ciclo de cultivo obtida com os substratos PlantHort I,
PlantHort II, PlantHort III ressalta a importância da composição nutricional dos
substratos usados na produção de mudas.
Viana et al. (2013) estudando o cultivo de alface em diferentes ambientes definiram
como sendo de 50 - 90 dias após o plantio o período ideal para colheita. Batista et al.
(2012) estudando diferentes fontes de adubação para a cultura do alface cv. Elba
encontraram o ciclo do plantio à colheita de 54 dias, no entanto esse período foi
alcançado com uso de adubação química, sendo cultivado de forma convencional.
Resultado este semelhante ao encontrado neste trabalho. Hernandez et al. (2013)
avaliando o cultivo de alface orgânico verificaram uma redução de até 21 dias no ciclo
da cultura em função dos tratamentos aplicados, provando que o incremento na
fertilidade do substrato favorece este sistema produtivo.
Para muitos pesquisadores o ciclo da cultura da alface depende da cultivar e da época de
cultivo, no entanto verifica-se que a produção de mudas de qualidade também implica
na redução do ciclo de cultivo dessa cultura. O uso dos substratos alternativos reduz o
período de formação das mudas e o ciclo de cultivo da alface cv. Elba. Os substratos
alternativos PlantHort I, PlantHort II e PlantHort III apresentaram as maiores reduções
no ciclo de cultivo e no período de formação das mudas da alface cv. Elba, com adição
de até 75% de casca de arroz carbonizada.
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Hortic. Bras., v. 31, n. 2, (Suplemento- CD Rom), julho 2014 2940
Figura 1- Período para a formação de mudas (A) e ciclo de cultivo (B) de alface cv.
Elba produzida em diferentes substratos, com adição de crescentes proporções de casca
de arroz carbonizada (Period for the formation of seedlings (A) and the crop cycle (B)
of lettuce cv. Elba produced on different substrates, with addition of increasing
proportions of carbonized rice hull), Gurupi-TO, Universidade Federal do Tocantins
(2014).
Tabela 1- Composição química dos substratos alternativos (PlantHort I, PlantHort II,
PlantHort III), substrato comercial (Plantmax®) e da casca de arroz carbonizada (CAC)
(Chemical composition of alternative substrates (PlantHort I, PlantHort II, PlantHort
III), commercial substrate (Plantmax®) and carbonized rice hull (CAC)), Gurupi-TO,
Universidade Federal do Tocantins (2014).
Nutrientes PlantHort I PlantHort II PlantHort III Plantmax
® CAC
dag kg-1
N 1,960 2,310 2,250 0,510 0,070
P 0,270 1,110 1,850 0,120 0,210
K 0,120 0,150 0,150 0,170 0,104
Mg 0,940 1,210 1,470 0,920 0,001
Ca 0,830 1,700 3,150 0,410 0,001
Na 0,080 0,160 0,220 0,030 0,037
Mn 0,020 0,020 0,020 0,010 -
Zn 0,360 0,070 0,130 1,350 0,002
Ni 0,010 0,010 0,010 - -
Cu 0,010 0,010 0,010 - 0,000