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Cinpar 2010 - www.cinpar2010.com.ar - [email protected] TEMA X – Tema em que se enquadra a comunicação Influência da altura e posição da edificação na penetração de cloretos: Estudo de caso em obra no Rio de Janeiro - Brasil MEDEIROS, M. H. F. 1,a , GOBBI, A. 1,b , RÉUS, G. C. 1,c e HELENE, P. 2,d 1 Departamento de Construção Civil – Universidade Federal do Paraná – Centro Politécnico – Jardim das Américas – CEP: 81531-980 – Curitiba – Paraná – Brasil 2 Departamento de Construção Civil – Escola Politécnica – Universidade de São Paulo – São Paulo - Brasil a [email protected], b [email protected], c [email protected], d [email protected] Palavras-chave: inspeção, diagnóstico, concreto armado, reparo, durabilidade. Resumo. Este trabalho fez parte de um trabalho de inspeção de uma estrutura de concreto armado real visando o diagnóstico do estado de deterioração da mesma e posterior elaboração de um projeto de recuperação fundamentado nos dados colhidos no trabalho de inspeção. O edifício analisado está localizado no Rio de Janeiro e foi projetado na década de 50 pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Terminada a estrutura de concreto armado (36 pavimentos tipo, térreo e 2 sub-solos de garagem) as obras foram paralisadas e a estrutura ficou exposta ao ambiente sem proteção por algumas décadas. Este artigo está concentrado em apenas parte dos dados e leituras realizadas com o enfoque na contaminação do concreto por íons cloretos, que é o agente de degradação principal desta edificação que se localiza na costa, na Barra da Tijuca, a cerca de 700m da praia, e tinha como manifestação patológica principal a corrosão de armaduras intensa nos pilares de sustentação do edifício. O estudo realizado permitiu realizar inferências sobre a influência da altura da edificação na contaminação do concreto por íons cloretos, ou seja, o grau de contaminação em alturas distintas de uma mesma estrutura. Além disso, foi analisada a influência da orientação dos elementos estruturais avaliados em relação à costa. O resultado obtido pode auxiliar no diagnóstico de futuras inspeções, previsões de vida útil e projetos de proteção e reabilitação de estruturas de concreto armado.

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TEMA X – Tema em que se enquadra a comunicação

Influência da altura e posição da edificação na penetração de cloretos: Estudo de caso em obra no Rio de Janeiro - Brasil

MEDEIROS, M. H. F.1,a, GOBBI, A.1,b, RÉUS, G. C.1,c e HELENE, P.2,d 1Departamento de Construção Civil – Universidade Federal do Paraná – Centro Politécnico –

Jardim das Américas – CEP: 81531-980 – Curitiba – Paraná – Brasil 2Departamento de Construção Civil – Escola Politécnica – Universidade de São Paulo – São

Paulo - Brasil [email protected], [email protected], [email protected],

[email protected]

Palavras-chave: inspeção, diagnóstico, concreto armado, reparo, durabilidade.

Resumo. Este trabalho fez parte de um trabalho de inspeção de uma estrutura de

concreto armado real visando o diagnóstico do estado de deterioração da mesma e posterior elaboração de um projeto de recuperação fundamentado nos dados colhidos no trabalho de inspeção. O edifício analisado está localizado no Rio de Janeiro e foi projetado na década de 50 pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Terminada a estrutura de concreto armado (36 pavimentos tipo, térreo e 2 sub-solos de garagem) as obras foram paralisadas e a estrutura ficou exposta ao ambiente sem proteção por algumas décadas.

Este artigo está concentrado em apenas parte dos dados e leituras realizadas com o enfoque na contaminação do concreto por íons cloretos, que é o agente de degradação principal desta edificação que se localiza na costa, na Barra da Tijuca, a cerca de 700m da praia, e tinha como manifestação patológica principal a corrosão de armaduras intensa nos pilares de sustentação do edifício.

O estudo realizado permitiu realizar inferências sobre a influência da altura da edificação na contaminação do concreto por íons cloretos, ou seja, o grau de contaminação em alturas distintas de uma mesma estrutura. Além disso, foi analisada a influência da orientação dos elementos estruturais avaliados em relação à costa.

O resultado obtido pode auxiliar no diagnóstico de futuras inspeções, previsões de vida útil e projetos de proteção e reabilitação de estruturas de concreto armado.

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Introdução

Um dos principais agentes de degradação do concreto armado é o íon cloreto que está presente em ambientes marinhos e em alguns ambientes industriais. Um dos principais mecanismos que governam a penetração de cloretos em estruturas de concreto armado é a difusão, que é o processo de transporte de massa (íons e gases) movido por um gradiente de concentração de um determinado composto [1],[2][3],[4].

A presença de íons cloretos na superfície das barras de aço causa a perda da sua passividade podendo desencadear o processo de corrosão. Estes íons podem ser incorporados no concreto já no seu estado fresco pelo emprego de aditivos aceleradores de pega a base de cloretos de cálcio ou pela contaminação da água de amassamento e agregados empregados. Já no estado endurecido a contaminação acontece pelo ingresso dos íons cloretos presentes no meio externo, principalmente em ambientes marinhos, industriais ou pelo uso de sais de degelo no caso dos países com neve.

Importância da pesquisa

De acordo com Guimarães et al. [5], os modelos de vida útil de estruturas de concreto em ambientes marinhos, consideram apenas micro-climas de zonas submersas, de variação de maré e de névoa salina, não detalhando a variação da intensidade de ataque com a distância do mar. Alguns pesquisadores mostraram que a névoa marinha apresenta diferentes níveis de contaminação em função da distância do mar, sendo que este fato não é considerado em normas e códigos das construções que atualmente estão em vigor [6],[7],[8]. Castro et al. [9], empregando corpos-de-prova estrategicamente posicionados, mostraram que existe grande redução da intensidade de ingresso de cloretos no concreto expostos à névoa salina, variando a distância da costa marítima de 50 m a 780 m.

Este fato aumenta a complexidade dos estudos de estimativa da vida útil de uma estrutura de concreto armado. Além da distância do mar existem outros vários fatores a serem considerados, tais como a direção e velocidade dos ventos, ocorrência de ciclos de molhagem e secagem, condições de insolação, índice pluviométrico da região, umidade relativa do ar e a altura de exposição, foco de análise deste trabalho.

Alguns autores tem historicamente tentado modelar o tempo de vida útil do concreto baseado na penetração de cloretos [10],[11],[12],[13],[14], outros tem se dedicado a previsão do tempo para que ocorra a fissuração do concreto por corrosão [15],[16] e outros tentam fazer previsões mais complexas envolvendo a previsão de vida útil baseado em dois efeitos (penetração de cloretos e biodeterioração) [17].

Atualmente, existem vários modelos desenvolvidos nesta área, porém, sua validação só pode ocorrer através do estudo de estruturas reais como é o caso deste trabalho. É neste contexto que este trabalho está inserido, trata-se da divulgação de dados obtidos a partir de uma inspeção de campo em uma

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estrutura de concreto armado que ficou exposta ao tempo durante mais de 35 anos em uma região classificada como de atmosfera urbana e marinha. Neste sentido, este artigo analisa o conteúdo de cloretos de pilares de uma estrutura de concreto armado situada em um ambiente marinho, situada aproximadamente a 700 m da costa, mostrando o efeito da altura (verificada a partir de amostras de diferentes andares), ciclos de molhagem e secagem e o posicionamento geométrico dos pilares em relação à costa, com o objetivo de contribuir ao aprimoramento dos modelos de estimativa de vida útil.

Procedimentos de avaliação

Visão geral da estrutura A estrutura inspecionada foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer e

está localizada na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, Brasil. O trabalho de inspeção teve o objetivo de fornecer dados para a elaboração de um diagnóstico, prognóstico e projeto de proteção e recuperação da edificação.

A estrutura é uma construção cilíndrica de 35 anos de idade, composta de dois subsolos, térreo e 36 andares tipo. Ela é composta de um núcleo de rigidez (escadas e elevadores) no seu centro e 13 pilares perimetrais, conforme mostrado esquematicamente na Fig. 1. Foi construída no início dos anos 70 e abandonada até os dias atuais, totalmente exposta ao tempo sem qualquer tipo de proteção e medidas de prevenção visando a durabilidade da estrutura.

Figura. 1. Vista em planta da edificação e posição dos pilares amostrados em

relação ao mar.

A inspeção desta estrutura produziu dados interessantes por ser uma edificação real e submetida ao envelhecimento natural. Isto pode ser comparado a um corpo-de-prova deixado ao ambiente por décadas e com a possibilidade de ser estudado nos dias atuais. Porém, um estudo como este apresenta algumas dificuldades inerentes a uma estrutura real de grande porte. Diferente de um estudo de laboratório envolvendo corpos-de-prova moldados para um determinado estudo, neste caso, existem muitas variáveis que podem não ser conhecidas no ato da inspeção, como: uniformidade no adensamento

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do concreto, mudanças de proporcionamento dos materiais ao longo da obra, mudança de tipo de cimento, e outras. Mas estas dificuldades é que tornam o trabalho de inspeção mais importante e interessante.

Escolha das áreas amostradas

Para entender os dados que estão apresentados nos próximos itens, é necessário conhecer as diferenças de exposição e como foi realizada a escolha de cada pilar deste trabalho de inspeção. Vale salientar que foi fundamental a visita a edificação em um dia seco e em um dia de chuva e que estes autores recomendam este procedimento como padrão para realizar um plano de amostragem de um trabalho de campo como este.

Pilares do térreo No caso do térreo, existiam pilares em que a água acumulava após a

chuva e outros em que isso não ocorria (ver Fig. 2). Isso acontecia pela deficiência da drenagem da laje do pavimento térreo. Por este motivo, optou-se por fazer uma amostragem dos pilares que abrangesse ambos os casos. Além disso, foram analisados pilares voltados para diferentes lados do prédio para verificar se existia influência da orientação em relação ao mar.

Deste modo, foram selecionados dois grupos de pilares: • Grupo 1: Pilares localizados no térreo onde quase não existe água

acumulada (P2 e P5). Dentro deste grupo, P2 é orientado para o mar e P5 para o interior.

• Grupo 2: Pilares com acúmulo de água após período de chuva, causando ciclos de molhagem e secagem (P1, P8 e P11). Dentro deste grupo existe um pilar orientado para o mar (P1) e outros dois não orientados para o mar (P8 e P11). Isto foi importante para comparar a influência dos ciclos de umedecimento e secagem e a orientação em relação ao mar. Resumindo, 5 de 13 pilares da edificação foram amostrados (como

mostra a Fig. 1), considerando a posição relativa a costa do mar. Dois pilares foram amostrados no sentido do mar (P1 e P2) e outros três fora distribuídos de modo a um para cada lado da construção (P5, P8 e P11).

(a) P2, sem acúmulo de água. (b) P8, com acúmulo de água.

Figura. 2. Empoçamento de água em alguns pilares do térreo.

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É importante registrar que os pilares que apresentavam problema de corrosão de armaduras se localizavam principalmente no térreo e na cobertura indicando alto grau de corrosão, como indicado na Fig. 3.

(a) Corrosão na base dos pilares do térreo.

(b) Célula de corrosão formada.

Figura. 3. Intensidade de deterioração dos pilares.

Pilares amostrados Neste caso, foram escolhidos alguns andares para serem amostrados.

Acima do térreo, com exceção do 35º andar, nenhum dos pilares tinham tendência ao acúmulo de água de chuva porque eles estavam protegidos pelas paredes externas do prédio. Contudo, usaram-se na amostragem os mesmos pilares amostrados no térreo. Neste caso, a comparação que se pode fazer é da influência da altura e da orientação em relação ao mar. Os andares amostrados foram o térreo, 1o, 2o, 5o, 9o, 18o e 27o.

Potencial de corrosão (Ecorr)

A probabilidade de corrosão foi estimada de acordo com a norma ASTM C876 [18], servindo para localizar pontos onde as condições termodinâmicas para a existência de um processo corrosivo já existiam embora sem manifestação aparente. O critério de classificação adotado foi o recomendado na ASTM C876 [18] e está reproduzido na Tabela 1, que se refere a eletrodo de cobre/sulfato de cobre.

Tabela 1 – Critério de classificação dos valores de potencial de corrosão em

relação à probabilidade de corrosão [18]. Potencial de corrosão (Ecorr) (mV vs. CSE)

Probabilidade de corrosão

–350 mV 95% de haver corrosão (–350 mV) – (–200 mV) Incerteza > –200 mV 95% de não haver corrosão

Taxa de corrosão (Icorr)

A velocidade de corrosão foi determinada usando um aparelho chamado GECORR que usa a técnica de resistência de polarização linear para a estimativa da taxa de corrosão da área onde é realizada a leitura. O critério de

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classificação adotado foi o indicado por Andrade et al. [19] e se encontra reproduzido na Tabela 2.

Tabela 2 - Taxa de corrosão X nível de corrosão [19]. Corrente de corrosão Icorr (μA/cm2)

Velocidade de corrosão Vcorr (mm/ano)

Nível de corrosão

0,1 0,001 Desprezível 0,1 – 0,5 0,001 – 0,005 Baixo 0,5 – 1 0,005 – 0,010 Moderado > 1 > 0,010 Alto

Teor de cloretos

Em ambientes marinhos, a corrosão de armaduras tem relação direta com o teor de cloretos que existe no concreto que se encontra próximo a superfície do aço, que não deve ser maior do que 0,4% em relação a massa de cimento para estruturas de concreto armado [20].

O procedimento de determinação usado neste trabalho foi o estabelecido pela ASTM C 1152 [21] que determina o conteúdo total de íon cloreto (livre + combinado).

As amostras usadas foram cuidadosamente extraídas dos pilares estudados e correspondem a faixa de 15 mm a 20 mm de profundidade a partir da superfície dos pilares. Esta profundidade foi escolhida devido ao fato de esta ser a faixa de cobrimento médio dos pilares estudados.

Resistência à compressão

A resistência à compressão foi determinada pela extração de testemunhos cilíndricos de 75 mm de diâmetro. Este ensaio foi conduzido de acordo com a NBR 7680 e o ensaio dos testemunhos em conformidade com a NBR 5739 [22] com velocidade de carregamento de 0,5 MPa/s.

Absorção por imersão

Este ensaio foi conduzido de acordo com a NBR 9778 [23]. O procedimento consistiu em determinar o peso seco, obtido secando o testemunho a 70ºC até constância de massa, e o peso saturado, obtido mantendo as amostras com 1/3 de seu volume imerso nas primeiras 4 h, 2/3 nas 4 h subseqüentes e completamente imerso nas 64 h restantes. O peso saturado é o valor obtido após 72 h de imersão e superfície enxuta com material absorvente. Com a diferença entre o peso saturado e o peso seco, calculou-se o percentual de água absorvida pelo concreto assim como seu volume de vazios.

Resultados e discussão

Resistência à compressão e absorção por imersão: Estes dois ensaios estão aqui apresentados para caracterizar o concreto

dos pilares estudados.

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A Fig. 4 mostra a resistência à compressão media de cada andar amostrado. Foi feita uma análise estatística de variância entre os dados, mostrando que, com 95% de significância, não há diferença entre o concreto utilizado nos anéis de rigidez e nos pilares, nem diferença de resistência ao longo da altura. Com os valores encontrados, pode-se afirmar que o concreto da obra atende a um fck, est de 25 MPa.

Figura. 4. Resistência à compressão de cada andar amostrado.

A Fig. 5 mostra os resultados de absorção por imersão de cada andar amostrado. Verifique que os valores variaram entre 4,8% e 6,3% e correspondem a concretos de baixa a média absorção de água [24].

Figura. 5. Absorção por imersão de cada andar amostrado.

Teor de cloretos Pilares do térreo (ciclos de molhagem e secagem versus posição em relação ao mar)

Nesta parte do trabalho são apresentados os resultados para os pilares do térreo, onde existem pilares orientados para os quatro lados do prédio incluindo os voltados para a costa marítima. Além disso, existem pilares submetidos a ciclos de umedecimento e secagem (P1, P8 e P11) e pilares não submetidos a ciclos de umedecimento e secagem (P2 e P5).

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A Fig. 6 mostra que foram exatamente os pilares submetidos a ciclos de umedecimento e secagem (P1, P8 e P11) que apresentaram os maiores teores de cloretos, indicando que este é um fator de grande importância na penetração destes íons em uma estrutura de concreto. Isto está de acordo com dados encontrados por Meira et al. [25] e Costa; Appleton [26].

Por outro lado, parece que a orientação dos pilares não teve grande influência na penetração de cloretos porque P2 não apresentou alto teor de contaminação por cloretos mesmo estando de frente para o mar. Dessa forma, os dados indicam que provavelmente a ocorrência de ciclos de umedecimento e secagem seja mais importante do que a posição dos pilares em relação ao mar.

Figura. 6. Teor de cloreto em % da massa de cimento no concreto de pilares do

pavimento térreo.

É claro que esta constatação é específica para este trabalho de inspeção, necessitando de estudos mais detalhados para permitir generalizações mais concretas.

Na realidade, estas constatações devem criar perguntas a serem respondidas mais precisamente com estudos mais aprofundados envolvendo um número maior de amostras e isolando outras variáveis que possam interferir nos resultados.

Além disso, os dados de potencial de corrosão e velocidade de corrosão de armaduras estão em conformidade com os dados de contaminação com cloretos. A Fig. 7 mostra os valores de potencial de corrosão dos pilares do térreo e evidencia que P2 e P5 apresentam potencial de corrosão mais positivos (enquadrado como baixa probabilidade de corrosão) que os pilares submetidos a ciclos de molhamento e secagem (P1, P8 e P11). Contudo, vale salientar que mesmo nestes pilares a classificação da ASTM C 876 [18] corresponde a faixa de incerteza quanto à despassivação das armaduras.

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Figura. 7. Ecorr (mV) em pilares do térreo.

Com relação às leituras de velocidade de corrosão, os dados seguem a mesma tendência, com os pilares P2 e P5 sendo classificados como de corrosão desprezível, enquanto os pilares P1, P8 e P11 foram classificados como baixo risco de corrosão (ver Fig. 8).

Figura. 8. Velocidade de corrosão (μA/cm2) nos pilares do térreo.

Pilares ao longo da altura (posição em relação ao mar X altura de retirada de amostra para teor de cloretos)

Outra avaliação que pode ser feita do trabalho de inspeção apresentado é o teor de cloretos ao longo da altura de cada pilar estudado. Para esta comparação foram excluídos os resultados dos pilares do térreo porque, neste caso, existiam pilares submetidos a ciclos de umedecimento e secagem que é um tipo de micro-clima totalmente diferente do primeiro andar para cima. Por este motivo, nesta seção estão apresentados resultados de cada pilar avaliado entre o primeiro e o trigésimo quinto andar, pois nenhum destes pilares tinha acúmulo de água provocado pela incidência de chuva. Esta foi a forma

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encontrada para eliminar a variável ciclos de molhagem e secagem desta parte da análise.

Neste sentido, a Fig. 9 apresenta os resultados obtidos em diferentes pilares em cada andar amostrado. Comparando com os resultados obtidos para o térreo, pode-se verificar que os teores de cloretos deste andar são muito superiores àqueles obtidos para os outros andares. Este fato provavelmente está relacionado com a tendência ao acúmulo de água na base dos pilares, favorecendo a ocorrência de ciclos de molhagem e secagem, que contribuem para o ingresso de íons cloretos [7], como se pode verificar na Fig. 2.

Os resultados da Fig. 9 mostram que quanto maior a altura, menor o teor de cloretos em relação a massa de cimento do concreto dos pilares. Isso não aconteceu em todos os casos, mas era esperado, já que se trata de uma estrutura real e construída a 35 anos. Estas discrepâncias podem ser causadas por variações inerentes a qualquer obra que seja executada.

Outra questão importante de ser destacada nestes dados é que novamente a orientação em relação ao mar não foi um fator de alta influência no grau de contaminação da estrutura, já que o pilar P2 apresentou teor de cloretos inferiores aos demais pilares e P1 apresentou o mesmo nível de cloretos dos demais pilares.

Figura. 9. O teor de cloreto em % da massa de cimento do concreto versus

cotas dos andares (colunas P1, P2, P5, P8 e P11).

Considerações finais

Os resultados apresentados neste trabalho deixam evidente que, além da distância do mar, a altura é outro fator de grande influência na intensidade de ataque por íons cloretos. Por outro lado, a orientação em relação ao mar não mostrou influência na contaminação dos pilares estudados.

Entre todos os teores de cloretos determinados neste trabalho de inspeção os únicos que ultrapassaram o limite para a despassivação das armaduras foram encontrados nos pilares P1 e P8 do térreo, com 0,47% e

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0,83% com relação a massa de cimento, respectivamente. Os outros teores de cloretos forma no máximo 0,34% em relação a massa de cimento, mesmo a estrutura estando exposta ao meio ambiente próximo ao mar (por volta de 700 m) por cerca de 35 anos e sem medidas de proteção. Isto está de acordo com resultados de outros autores [5],[9][27],[25] que mostram que a intensidade de ataque é diminuída drasticamente com o aumento da distância do mar. Este é um aspecto importante e este trabalho serve para chamar atenção para a necessidade de se considerar este efeito nos modelos de previsão de vida útil.

Outra observação deste trabalho é que os andares onde não existiu a tendência ao acúmulo de água na sua base (ciclos de molhagem e secagem), os teores de cloretos tendem a serem menores à medida que a altura da retirada da amostra aumenta.

O estudo deixou claro que a taxa de corrosão observada nesta estrutura depende principalmente das condições de exposição de cada parte da estrutura (microclimas). As zonas mais deterioradas foram encontradas nas regiões em que a superfície do concreto estava submetida a ciclos de molhagem e secagem ocasionados pela ocorrência de chuvas. Além disso, foi verificado um forte efeito da ocorrência desta ciclagem no grau de contaminação por cloretos, sendo verificado que os conteúdos de cloretos dos pilares do térreo são de 3 a 8 vezes maiores do que os encontrados nos casos onde a ciclagem não existe.

Os resultados deste trabalho devem ser limitados na sua abrangência, pois se referem a um caso real em condições específicas de exposição, servindo, no entanto, como referencial para trabalhos de diagnósticos futuros.

Agradecimentos

Estes autores agradecem à Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), instituições que prestaram apoio ao desenvolvimento deste trabalho de pesquisa.

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