Infelicidade no trabalho existe

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ab Exame da OAB 1ª fase. Procure a unidade mais próxima no portal LFG: Prepare-se no dia 28/10 com os melhores professores. carreiras e classificados empregos DOMINGO, 23 DE OUTUBRO DE 2011 1 no verso negócios Para anunciar ligue ou acesse classificados.folha.com.br Você pode pagar em até vezes no cartão de crédito 22 páginas 1 348 anúncios CAMILA MENDONçA DE SãO PAULO “Foi o pior ano da minha vida”, desabafa Amanda Moscardi, 31, sobre o período em que atuou em uma agên- cia de promoção e eventos. Trabalho excessivo e pro- blemas com os chefes inter- feriram em sua vida pessoal. Então noiva, ela diz quase ter cancelado o casamento. “Não via meu namorado e, por isso, brigávamos muito. Não estava empolgada e fal- tei a provas do vestido de noi- va”, lembra Moscardi, que pediu demissão e se casou. Como ela, outros profissio- nais reclamam de insatisfa- ção no trabalho. Pesquisa re- alizada no primeiro semestre de 2011 pela Weigel Coaching com mil pessoas de São Pau- lo e do Rio Grande do Sul aponta que 32,2% se sentem parcialmente felizes ou infe- lizes profissionalmente. Outro estudo, feito no ano passado pela consultoria Hays com 430 trabalhadores de São Paulo e do Rio de Ja- neiro, revela o mesmo cená- rio: 32% estão infelizes. A realidade indicada pelos levantamentos, obtidos com exclusividade pela Folha, agrava-se à medida que o pa- ís cresce, dizem especialistas. “O mar de possibilidades que se abriu [no mercado] eleva o grau de insatisfação”, frisa Jaqueline Weigel, “coach” responsável pela pesquisa. Os trabalhadores “sentem- se motivados a buscar um lu- gar nessa festa” e tendem a acreditar que estariam me- lhor em outra empresa, diz. Quando o mercado era mais fechado, completa Gus- tavo Costa, diretor da Hays em São Paulo, os profissio- nais frustravam-se menos “porque não havia escolha”. » LEIA MAIS nas págs. 2 e 3 Infelicidade no trabalho atinge 1 em 3 profissionais Mercado em ebulição frustra trabalhadores, consideram especialistas Gabo Morales/Folhapress Amanda Moscardi, que quase cancelou seu casamento

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ab

ExamedaOAB1ª fase.Procure a unidademais próxima no portal LFG:

Prepare-senodia28/10 comosmelhoresprofessores.

carreiras eclassificados

empregos┆ ┆ ┆ Domingo, 23 DE outubro DE 2011 1

no versonegócios

Para anunciar ligueou acesse

classificados.folha.com.brVocê pode pagar em atévezes no cartão de crédito

22páginas1348anúncios

camilamendonçade são paulo

“Foi o pior ano da minhavida”, desabafa AmandaMoscardi, 31, sobreoperíodoem que atuou em uma agên-cia de promoção e eventos.Trabalho excessivo e pro-

blemas com os chefes inter-feriram em sua vida pessoal.Entãonoiva, eladizquase tercancelado o casamento.“Nãoviameunamoradoe,

por isso, brigávamos muito.Não estava empolgada e fal-tei aprovasdovestidodenoi-va”, lembra Moscardi, quepediu demissão e se casou.Comoela,outrosprofissio-

nais reclamam de insatisfa-çãono trabalho.Pesquisa re-alizadanoprimeiro semestrede2011pelaWeigelCoachingcommil pessoas de São Pau-lo e do Rio Grande do Sulaponta que 32,2% se sentemparcialmente felizes ou infe-lizes profissionalmente.

Outro estudo, feito no anopassado pela consultoriaHays com430 trabalhadoresde São Paulo e do Rio de Ja-neiro, revela o mesmo cená-rio: 32% estão infelizes.A realidade indicadapelos

levantamentos, obtidos comexclusividade pela Folha,agrava-seàmedidaqueopa-íscresce,dizemespecialistas.“Omardepossibilidadesqueseabriu [nomercado] elevaograu de insatisfação”, frisaJaqueline Weigel, “coach”responsável pela pesquisa.Os trabalhadores“sentem-

semotivadosabuscarumlu-gar nessa festa” e tendem aacreditar que estariam me-lhor em outra empresa, diz.Quando o mercado era

mais fechado, completaGus-tavo Costa, diretor da Haysem São Paulo, os profissio-nais frustravam-se menos“porque não havia escolha”.

» LEIA MAIS nas págs. 2 e 3

Infelicidade no trabalhoatinge 1 em3profissionaisMercado em ebulição frustra trabalhadores, consideram especialistas

Gabo Morales/Folhapress

amandamoscardi, que quase cancelou seu casamento

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2 empregos H H H Domingo, 23 DE outubro DE 2011 ab

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Ausência de projetos decarreira de longo prazo é umdos motivadores da infelici-dadeno trabalho.Dosprofis-sionais ouvidos pela WeigelCoaching que se dizem feli-zes,95%têmmetasclaraspa-ra os próximos cinco anos.Quando não há planeja-

mento de longo prazo, a in-segurança no presente émaior, explica José AugustoFigueiredo, vice-presidentede operações da DBM Brasile América Latina.“Semprojetos, você perde

adireção, easensaçãodean-gústia aumenta”, afirma.Diretorade empresa, a ad-

ministradoraRosanaSun,38,nãotinhaplanode longopra-zo.“Jáestavaquasenotopo.”Quando perdeu autono-

mia, sua insatisfaçãochegouao ápice. O setor em que es-tava havia sido incorporadopor outro, mais engessado.As tarefas em excesso pe-

saram no grau de infelicida-de.Amortedopadrinho foi agota d’água. “Nãomedespe-dideleporqueestavaemreu-nião.Paracumprir responsa-bilidades, entrei em um cír-culo no qual dava mais im-portância ao trabalho.”Quatromeses após asmu-

danças na empresa, Sun pe-diu demissão. Fez asmalas eviajou por um ano.

Faltadeplanoprovoca insatisfaçãoProjeto de carreira para os próximos cinco anos diminui sensação de incerteza e insegurança

DIAGNÓSTICOSintomasde estresse,infelicidadee depressão

Fontes:consultoresde RH epsicólogos

Cenário

Principaissintomas

Estresse

Surge em ambientes quereúnem pressão, metasinatingíveis, longas jornadase sobrecarga de trabalho

Solução Afastar-se do trabalho. Emcasos extremos, é necessá-rio procurar especialista

Cansaço, insônia, agitação,irritação e dores abdominais,de cabeça e musculares

Infelicidade profissional

Aparece com excesso detrabalho, problemas comchefe e descrença naprofissão e na empresa

Fazer análise de carreira eestabelecer metas eprojetos a longo prazo

Estresse, insatisfaçãocrônica, angústia, ansiedadee sensação de isolamento

Depressão

É doença e agrega sintomasfísicos aos de estresse einfelicidade; atinge todasas esferas da vida

Procurar médico, queindicará o melhor tratamen-to para o caso

Tristeza permanente,pessimismo, desenvolvimen-to demanias e sonolência

Líderes centralizadores,ausência de desafios e de re-conhecimento e ambientescompetitivos e quenão apre-sentamperspectivas de cres-cimento completam a listados fatores que levam à infe-

licidade no trabalho.A chefe que gritava com a

equipe e a falta de organiza-çãodaempresa foramosmo-tivosda insatisfaçãodadocu-mentista imobiliária G.C.B.,19.“Acordavadesanimadato-

das as manhãs”, conta.Atrasos no pagamento do

salário resultaram na saídada jovem após três meses.“Aguentei até demais.”Asempresasnãoestãopre-

paradas para identificar tra-

balhadores infelizes e elabo-rar políticas de ação para re-verter esse quadro, de acor-docomAlexandreGiomo,daLemeConsultoriaeprofessorda FIA (Fundação Institutode Administração).

68%falta de perspectivade crescimento

36%ausência de desafios

36%insatisfação com aremuneração

Fonte: Hays *Respostasmúltiplas

MOTIVOSDA inFELiCiDADE*

Infeliz, Rosana Sun pediu demissão e viajou por um ano

diego shuda/Folhapress

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Ambiente insuportável einsatisfaçãoconstantenotra-balho muitas vezes levam auma decisão: a demissão.“Jogar a toalha”, contudo,

“nãoéamelhoralternativa”,consideraElaineSaad,geren-te-geral da consultoria RightManagement.“Essaéumare-ação impulsiva e emocional,que só causa frustração.”MarceloMariaca,presiden-

te do conselho da consulto-ria que leva seu sobrenome,concorda.Simplesmente sairdoemprego,diz, “éeximir-sedaresponsabilidadedeadmi-nistrar a própria carreira”.Analisar o que está errado

e o que dá certo na vida pro-fissional ajuda a ter perspec-tivas, orienta Saad.É o que tenta fazer o fun-

cionáriopúblicoM.V., 34. Se-gundo ele, o melhor agora éinsistir no cargo que ocupa,ainda que esteja infeliz.O motivo da insatisfação,

diz ele, é o modo como cole-gas e chefia o veem. As con-quistas e os resultados nãosão reconhecidos. Somenteas falhas são ressaltadas —enos “feedbacks” formais.“Não confio nos meus co-

legas e fico desesperado aopensarnaavaliação,masgos-to do que faço”, conta.Nem todos, porém, conse-

guemsuportar oambiente.Aestudante de marketingC.F.C., 22, por exemplo, che-gou ao extremo: desistiu daprofissão devido à única ex-periência ruim que teve.A jovemdeixouoemprego

naáreadedepartamentopes-soal para ser estagiária emmarketing. Contudo, nãoexerceuasatividadesprome-tidas. “Fazia de tudo, menosdarassistênciaaomarketing.Era assessora de assuntosaleatórios”, lembra.C.F.C. faz parte de uma re-

alidade identificada pelosconsultores: jovens sãomaisinfelizes.Aansiedade,dizem,é oprincipal fator. “Eles che-gam ao mercado com visãodistorcida e acreditam que

Reorientar carreira é alternativaDemissão é reação impulsiva e deve ser evitada antes de autoavaliação, segundo consultores

vãomudar, fazer e crescer rá-pido”, afirmaDaniloAfonso,gerente de projetos do Idort(InstitutodeOrganizaçãoRa-cional do Trabalho).Ao mesmo tempo, afirma

Mariaca, eles relegam à em-presa a condução da carrei-ra. “Demoram a perceber oquanto são responsáveis pe-la felicidade profissional.”

nova rotaMas,por vezes,mesmoco-

nhecendooprópriopapelnatrajetória, aanálise levaaumreposicionamento.“Eu me doei e não recebi

nada em troca”, reclama apublicitária Janaína Arena,30,sobreosempregos,de,emmédia, dois anos, que teve.“Mudavaporquesabiaque fi-caria estagnada”, conta.“[Eu]medesiludi”, afirma

a publicitária, que abando-nouaprofissão eabriunegó-cio na área de depilação.

de são paulo - O Hospital deClínicas de Porto Alegre pas-sou a dar atendimento espe-cífico a pessoas com doençaspsíquicas causadas por infeli-cidade e estresse no trabalho.De acordo com Álvaro Mer-

lo, médico do trabalho e pro-fessordaUFRGS(UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul),amudançadeve-seaoaumen-todonúmerodepacientescomproblemas relacionados à ati-vidade profissional.“Precisamosmudar o olhar

e entender o que está aconte-cendo no mercado de traba-lho”,diz.Paraele,há“tendên-cia de as pessoas serem infe-lizes por causa da solidão nomundo corporativo”.

porto alegre

HCatendepessoascomdoençapsíquicadevidoaotrabalho

de são paulo

Durante dois anos, L.M.,25, trabalhou em órgão pú-blico—temposuficientepa-raadoecer. “Estavacomple-tamente infeliz, à beira deuma depressão”, recorda.O trabalho extenuante e

o chefe prepotente, afirma,a fizeram perder cabelo e adesenvolverbruxismo (ran-ger dedentes), gastrite e in-sônia. “Nãodormiapensan-do que teria de acordar pa-ra ir ao trabalho.”S.B.S., 52, atua em órgão

público e afirma discordardosvaloresdaschefias. “Fi-coengasgadaepercoavoz.”

Reflexosnasaúdesãoco-munsentreprofissionais in-felizes. “Ambientes de tra-balho hostis favorecem do-enças dermatológicas e es-tomacais e surgimento dasíndromede ‘burnout’”,diza psicóloga Arlete PortellaFontes,daUnicamp(Univer-sidade Estadual de Campi-nas). A doença caracteriza-se por estresse crônico.“[A síndrome] é o esgota-

mento do indivíduo, quenão vê sentido emmais na-da”, completa o psicólogoJulio Peres, doutor em neu-rociênciaspelaUSP(Univer-sidade de São Paulo).Eledizquea“competição

acirrada”éoprincipal fatorde infelicidade.“Écomoumcâncer.Os funcionários sãoascélulase, seelescontinu-aremadoecendo, as empre-sas estão fadadasa fechar.”

Por emprego,funcionários têmreflexosna saúde

a publicitária Janaína arena, que decidiu investir em negócio próprio e abandonar empregos na área de formação

Karime Xavier/Folhapress