INFECÇÃO HOSPITALAR EM UNIDADE DE TERAPIA … · Medicina da Universidade Federal do Ceará e ao...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA INFECÇÃO HOSPITALAR EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA EM FORTALEZA-CEARÁ: CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS, ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO FERNANDA CALIXTO MARTINS FORTALEZA/CEARÁ 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

FACULDADE DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE SADE COMUNITRIA

INFECO HOSPITALAR EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDITRICA EM FORTALEZA-CEAR:

CARACTERSTICAS EPIDEMIOLGICAS, ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO

FERNANDA CALIXTO MARTINS

FORTALEZA/CEAR

2008

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FERNANDA CALIXTO MARTINS

INFECO HOSPITALAR EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDITRICA EM FORTALEZA-CEAR:

CARACTERSTICAS EPIDEMIOLGICAS, ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO

Dissertao que ser apresentada ao curso

de Mestrado Acadmico em Sade Pblica

da Universidade Federal do Cear como

requisito parcial para a obteno do ttulo de

mestre. rea de concentrao: Sade

Pblica.

Orientador: Prof. Dr. Jorge Lus Nobre

Rodrigues

FORTALEZA/CEAR 2008

3

INFECO HOSPITALAR EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDITRICA EM FORTALEZA-CEAR:

CARACTERSTICAS EPIDEMIOLGICAS, ETIOLOGIA E FATORES DE RISCO

Dissertao apresentada Banca Examinadora como parte dos requisitos

necessrios obteno do grau de Mestre em Sade Pblica.

Aprovado em:

Banca examinadora:

_________________________________________

Prof. Dr. Jorge Lus Nobre Rodrigues

(Presidente)

_________________________________________

Prof. Dr. Mnica Cardoso Faanha

_________________________________________

Prof. Dr. Roberto da Justa Pires Neto

4

DEDICATRIA

A meus pais, Martins e Olvia,

pelo zelo, torcida e testemunho de vida, de amor

aos filhos.

Aos irmos, Glory e Tlio, um tempo de convivncia

foi suprimido de nossas vidas, mesmo assim vocs

compreenderam e incentivaram a no desistir.

5

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Jorge Lus Nobre Rodrigues, Professor Adjunto da

Disciplina de Doenas Infecciosas do Departamento de Sade Comunitria da

Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cear, o meu agradecimento

pelo norteamento dos objetivos e a orientao de como alcan-los; por ter sempre

esperado o melhor de mim e dado muito de si.

A Profa. Rosa Maria Salani Mota, Professora Adjunta do Departamento

de Matemtica e Estatstica da Universidade Federal do Cear e membro do

Colegiado do Curso do Curso de Mestrado em Sade Pblica da Universidade

Federal do Cear, reconhecida por seu alto nvel profissional e de valores humanos,

agradeo pela analise estatstica dos dados da pesquisa e as enriquecedoras

discusses, em meio a tantos compromissos profissionais a poca j assumidos.

Prof. Dr. Mnica Cardoso Faanha, professora adjunta de Clnica de

Doenas Infecciosas do Departamento de Sade Comunitria da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal do Cear e ao Prof. Dr. Roberto da Justa Pires

Neto, professor do Curso de Medicina/Centro de Cincias da Sade da

Universidade de Fortaleza, um agradecimento especial pela honra de t-los como

examinadores desta dissertao.

6

EPGRAFE

O prazer de sonhar s no maior que o

prazer de realizar os sonhos.

(Annimo)

7

SUMRIO

1 INTRODUO.......................................................................................................13

1.1 Consideraes iniciais........................................................................................13

1.2 Infeco Hospitalar Adquirida na UTI Peditrica.................................................14

1.3 Fatores de Risco que Levam a Infeco Hospitalar na UTI Peditrica................16

1.4 Relevncia...........................................................................................................20

2.OBJETIVO..............................................................................................................21

2.1.Objetivo Geral.....................................................................................................21

2.2.Objetivo Especfico..............................................................................................21

3.CASUSTICA E MTODO.....................................................................................23

3.1A Instituio..........................................................................................................23

3.1.1.A UTI Peditrica...............................................................................................24

3.1.2 Comisso de Controle de Infeco Hospitalar.................................................25

3.2. Tipo de Estudo...................................................................................................26

3.3 Delineamento e Desfecho Clnico.......................................................................26

3.4 Formao da Coorte...........................................................................................26

3.4.1 Seguimento da Coorte.....................................................................................27

3.5. Obteno dos Dados da Pesquisa....................................................................27

3.6 Anlise Estatstica..............................................................................................29

3.6.1Anlise Descritiva.............................................................................................29

3.6.2 Anlise Univariada dos Fatores de Risco........................................................29

3.6.3 Anlise Multivariada.........................................................................................29

3.7Aspectos ticos....................................................................................................30

4. RESULTADOS......................................................................................................31

4.1. Caracterstica clnico-epidemiolgica..................................................................31

4.1.1. Variveis dos pacientes....................................................................................31

4.1.2 Variveis hospitalares.......................................................................................35

4.2. Caracterizao da coorte....................................................................................38

4.3. Desfecho.............................................................................................................41

4.3.1 Incidncia..........................................................................................................41

4.3.2. Classificao das infeces hospitalares.........................................................42

8

4.3.3. Associao das variveis hospitalares com o desfecho..................................43

4.3.4 Etilogia...............................................................................................................44

4.4 Anlise univariada................................................................................................50

4.5 Anlise multivariada.............................................................................................51

5. DISCUSSO..........................................................................................................52

6. CONCLUSO.........................................................................................................63

7.SUMMARY..............................................................................................................65

8. REFERNCIA BIBLIOGRFICA............................................................................66

9.ANEXO E APNDICE............................................................................................72

9

LISTA DE TABELA

Tabela 1: Distribuio das caractersticas gerais dos 66 pacientes admitidos na UTI

do HIAS no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de

2008..........................................................................................................................31

Tabela 2: Distribuio geral dos 66 pacientes internados na UTI do HIAS pelo

escore PRISM e tempo de internamento no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31

de janeiro de 2008.....................................................................................................34

Tabela 3: Perfil de resistncia dos principais microorganismos isolados na coorte no

perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.......................................46

Tabela 4: Distribuio das infeces hospitalares por escore PRISM da coorte no

perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.......................................48

Tabela 5: bito esperado e observado pelo escore PRISM da coorte na UTI no

perodo 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008............................................49

Tabela 6: Anlise univariada dos procedimentos invasivos realizados na UTI no

perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.......................................50

Tabela 7: Procedimento invasivo relacionado infeco hospitalar pela anlise de

regresso logstica mltipla, UTI peditrica, no perodo de 01 de agosto de 2007 a

31 de janeiro de 2008................................................................................................51

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LISTA DE GRFICO

Grfico 1: Diagnstico inicial dos 66 pacientes admitidos no HIAS no perodo de 01

de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008..............................................................32

Grfico 2: Distribuio das indicaes de internamento dos 66 pacientes admitidos

na UTI do HIAS no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de

2008..........................................................................................................................33

Grfico 3: Distribuio dos pacientes por procedimentos invasivos realizados na

UTI do HIAS no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008............35

Grfico 4: Distribuio dos procedimentos invasivos por freqncia nos 66

pacientes internados na UTI do HIAS no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de

janeiro de 2008..........................................................................................................36

Grfico 5: Distribuio dos procedimentos invasivos realizados na UTI do HIAS

por tempo de permanncia no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de

2008..........................................................................................................................37

Grfico 6: Mdia e mediana do tempo de internao da coorte na UTI no perodo

01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.........................................................38

Grfico 7: Distribuio das infeces hospitalares por faixa etria no perodo 01 de

agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008...................................................................39

Grfico 8: Distribuio das infeces hospitalares por sexo no perodo 01 de agosto

de 2007 a 31 de janeiro de 2008...............................................................................40

Grfico 9: Distribuio das infeces hospitalares por topografia da coorte no

perodo 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008............................................42

Grfico 10: Distribuio das infeces hospitalares por procedimento invasivo na

coorte no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.......................43

Grfico 11: Distribuio por freqncia dos 30 microorganismos isolados na coorte

no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008..................................44

Grfico 12: Distribuio dos microorganismos isolados na coorte por sitio de

infeco no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008...................45

Grfico 13: Tempo mdio por escore PRISM do surgimento entre a internao e o

primeiro episdios de infeco hospitalar na coorte no perodo de 01 de agosto de

2007 a 31 de janeiro de 2008....................................................................................47

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LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS

ASA - American Society of Anesthesiologists

CCIH Comisso de Controle de Infeco Hospitalar

CDC Center for Disease Control and Prevention

CPAP- Presso Positiva Contnua em Vias Areas

DVE Derivao Ventriculoenceflico

DVP Derivao Ventriculoperitoneal

FiO2- Frao de Oxignio Inspiratrio

HIAS Hospital Infantil Albert Sabin

HOOD- Capacete de Acrlico para Oxigenoterapia em Recm-nascido

IH - Infeco Hospitalar

IP - Infeco de Pele

IPCS - Infeco Primria de Corrente Sangunea

ISC Infeco de Stio Cirrgico

ISCV-Infeces do Sistema Cardiovascular

ISNC-Infeco do Sistema Nervoso Central

ITU Infeco no Trato Urinrio

NNISS - National Nosocomial Infections Surveillance System

PaO2- Presso arterial do Oxignio

PaCO2 Presso Parcial do Dixido de Carbono

PRISMA - Pediatric Risk of Mortality

UTI - Unidade de Terapia Intensiva

UTIP Unidade de Terapia Intensiva Peditrica

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RESUMO

A infeco hospitalar atualmente a mais freqente e importante causa de

bito de pacientes internados em unidades de terapia intensiva peditrica. Para

conhecer a dimenso desse problema em um Hospital Peditrico que possui um

atendimento tercirio localizado no Cear, foi realizado um estudo de coorte

prospectivo de todas as crianas internadas na UTIP no perodo de 01 de agosto de

2007 a 31 de janeiro de 2008. Uma coorte de 66 pacientes foi seguida da internao

a alta ou bito. Ao todo 18 variveis do paciente e hospitalares foram pesquisadas

em cada membro da coorte. Os testes estatsticos utilizados foram: Mann-Whitney e

o teste exato de FISCHERS, o clculo do risco relativo com os respectivos

intervalos de confiana. Em seguida procedeu-se a anlise multivariada com

transformao para regresso logstica dos fatores mais significativos (p

13

1. INTRODUO

1.1. CONSIDERAES INICIAIS

O CDC define infeco hospitalar como toda infeco que ocorra aps 72

horas de internao ou em perodo menor quando relacionada a qualquer

procedimento invasivo a que foi submetido o paciente. Esta infeco pode se

manifestar em at 30 dias aps sua alta. Quando h implante de prtese, este

perodo se prolonga para um ano (GARNER, 1988).

Considera-se como implante corpos estranhos de origem no humana:

derivao ventrculo-peritoneal, marca-passo, vlvula cardaca, enxertos

vasculares, corao mecnico, prtese de quadril, etc (ANVISA, 2008).

As caractersticas principais destas infeces vm apresentando

mudanas de acordo com o tipo de assistncia mdica prestada em cada perodo

histrico. A infeco adquirida por meio exgeno, mais freqente nas dcadas de

50 e 60, foi suplantada pela importncia de germes oportunistas que se tornam

muitas vezes, patognicos na presena de depresso imunolgica. Esta

determinada pela doena bsica ou por agresso diagnstica e teraputica

relacionada a ampla utilizao de procedimentos diagnsticos invasivos e

teraputica imunodepressora, que passaram a fazer parte da assistncia hospitalar

a partir dos anos 70 (CHOR, 1990).

Assim, nenhum hospital est livre das infeces adquiridas durante a

internao do paciente, j que no existe nenhuma interveno mdica disponvel,

no momento, capaz de erradic-las. No entanto a diminuio do nmero de casos,

ou seja, o controle do agravo possvel e constitui o objetivo de vrios programas

de controle existentes em diversos pases (CHOR, 1990).

As infeces no prevenveis diagnosticadas durante a internao do

paciente na Unidade de Terapia Intensiva ocorrem apesar das condutas e

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procedimentos serem adequados. Acometem, em geral, pacientes com mecanismo

de defesa alterado. So causadas, principalmente pela flora endgena, e o modo de

transmisso no estabelecido facilmente. Por outro lado, as infeces prevenveis

esto, em geral, relacionadas ao uso de equipamentos ou procedimentos

especficos e apresentam em sua origem algum evento que poderia ter sido

diferente ou alterado, evitando assim o seu aparecimento; so freqentemente

causadas por microorganismos adquiridos no hospital e os mtodos de preveno

so conhecidos (CHOR, 1990).

Um estudo de prevalncia, realizado pelo Ministrio da Sade em

hospitais tercirios localizados nas principais capitais do pas, apresentou que as

taxas de IH so sempre mais elevadas em unidades peditricas, principalmente nas

UTI, correspondendo 46,9% na UTI neonatal e 32,9% na UTIP (FARHAT, 2000).

Desta forma, podemos perceber que a IH continua sendo tema de grande

importncia por se referir s graves infeces que acometem pacientes internados e

que so responsveis pela significativa morbidade e mortalidade neles observados,

e, conseqentemente, por um elevado custo econmico e social.

1.2. INFECO HOSPITALAR ADQUIRIDA NA UTI PEDITRICA

Nas duas ltimas dcadas, observou-se um grande avano no

conhecimento mdico referente ao atendimento de pacientes criticamente doentes

(medicina intensiva), com modificaes significativas na evoluo e prognstico

dessas pessoas, conforme estudos realizados em grandes centros (PIVA, 2002).

Tais estudos incluem reduo nos ndices de mortalidade por doenas

especficas e alterao no tempo de permanncia nestas unidades. As diferentes

UTIP possuem caractersticas prprias, com ndices de mortalidade distintos e com

amplas variaes (PIVA, 2002).

15

Estas unidades objetivam promover assistncia qualificada, visando

alcanar os melhores resultados e uma melhor evoluo para as crianas

criticamente enfermas. So locais de grande transferncia tecnolgica e uma das

principais consumidoras de oramento hospitalar. Entretanto, ao tratar pacientes

com diferentes prognsticos e nveis de gravidade, o resultado final do uso dos

recursos disponveis nessas unidades , muitas vezes, incerto. Nesse cenrio, a

incorporao de tecnologia nem sempre segue regras estritas de anlise quanto a

evidncias cientficas de suporte e, menos ainda, de custo-eficincia (MARTHA,

2005).

Uma forma de avaliar a qualidade e efetividade do atendimento prestado

atravs da comparao de componentes que esto relacionados com a

severidade da doena e o desfecho de determinados tipos de pacientes. Para medir

a gravidade do paciente, utilizam-se escores de risco de mortalidade que

estabelecem uma escala numrica e, dessa forma, comparam essa mortalidade

estimada em porcentagem com a mortalidade realmente observada (MARTHA,

2005).

O principal escore utilizado o PRISM, publicado em 1988 por Pollack.

um ndice amplamente conhecido e aplicado nas UTIP, sendo utilizado em estudos

clnicos como escore prognstico padro para avaliao da severidade da doena

em pacientes peditricos (MARTHA, 2005).

Pollack, em 1991, relacionou o critrio de estadiamento da gravidade do

paciente (PRISM) admisso na UTIP com risco de IH. Encontrou que ndices

acima de 10, isto , crianas mais graves, por necessitarem de maior nmero de

procedimentos invasivos, tinham um risco significativamente maior (10,8%) quando

comparadas com crianas com ndices abaixo de 10 (3,4% com p< 0,001),

comprovando uma sensibilidade de 75%, especificidade de 53%, valor preditivo

positivo de 11% e, caracteristicamente, um valor preditivo negativo de 97%. Por isto

todas as crianas, ao serem admitidas na UTI devem ser avaliadas pelo critrio de

estadiamento PRISM e, aquelas com ndice acima de 10, consideradas grupo de

16

risco para IH, com conseqente piora do prognstico de mortalidade (POLLACK,

1991).

Atualmente, a IH um indicador de qualidade na ateno mdica,

constituindo uma revoluo na gesto dos servios sanitrios, medindo a eficincia

de um hospital junto a outros indicadores de morbidade e mortalidade e

aproveitamento de recursos (RUZ,2002).

Com a preveno das infeces nosocomias quem sai ganhando no

s o paciente. O tratamento para cada episdio de pneumonia custa cerca de US$

5 mil para o hospital. No caso das infeces por cateter, dependendo da gravidade,

a instituio pode desembolsar de US$ 3 mil a US$ 40 mil. H ainda os gastos

indiretos com o mdico e o leito que, ao deixar de rodar, pra de trazer recursos

para o hospital (TADEU, 2002).

1.3 FATORES DE RISCO QUE LEVAM A INFECO HOSPITALAR NA UTI

PEDITRICA

A ocorrncia da infeco nosocomial em crianas internadas na UTI

decorrente da interao de diversos fatores, tais como: a lenta maturao do

sistema imunolgico, cujo seu desenvolvimento to menos acentuado quanto

menor for a idade (MS, 2005) e a desnutrio que uma das causas mais comuns

que levam a imunodeficincia. Estes, freqentemente, associam-se com o aumento

do risco cirrgico e tempo de internao prolongado, aumentando a suscetibilidade

IH (WU, 2005).

No podemos esquecer os dispositivos implantveis (DVE, DVP,

cateteres centrais) que permitem a derivao do lquido cefalorraquidiano,

administrao de quimioterpicos e antimicrobianos, diagnstico de processos

infecciosos e monitorizao da presso. A infeco a maior causa de morbidade e

mortalidade nestes pacientes (SIMON, 2008).

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A infeco de stio cirrgico (ISC) permanece como uma das causas mais

comuns de morbimortalidade, e o seu desenvolvimento vai depender do tipo de

cirurgia (eletiva ou de urgncia), tempo de internao do paciente, condio clnica

(escore ASA), classificao da ferida operatria (potencial de contaminao) e

durao do procedimento cirrgico (BARBOSA, 2004).

Em relao ao potencial de contaminao, as cirurgias so classificadas

como limpa, potencialmente contaminada, contaminada e infectada (ANVISA, 2008).

As cirurgias limpas so realizadas em topografias estreis como trato

respiratrio intratorcico, bao, pncreas, fgado, glndulas endcrinas, ovrios,

trompas, bexiga, ureter, bacinete e rins; ou em locais contaminados mais de fcil

descontaminao com a pele. Geralmente so cirurgias eletivas, com fechamento

primrio da ferida, onde no se abrem comumente os tratos digestivos, respiratrios,

gnito-urinrio e biliar e onde no ocorrem deslizes na tcnica cirrgica (ANVISA,

2008).

As cirurgias potencialmente contaminadas so aquelas que se

desenvolvem em locais cuja flora bacteriana pouco abundante embora a

descontaminao seja difcil, como por exemplo, cirurgias eletivas das vias biliares,

intestino delgado, cirurgia uterina via abdominal, cirurgias gstricas, cirurgias em

ferimentos traumticos (desde que ao cirrgica ocorra at 6 horas aps o

traumatismo), etc. So includas neste grupo as re-operaes de cirurgias limpas

pela mesma inciso no intervalo de sete dias (ANVISA, 2008).

As cirurgias contaminadas so as que se desenvolvem em reas de flora

bacteriana muito abundante e descontaminao difcil. Normalmente ocorrem na

presena de um processo inflamatrio agudo no purulento, de uma contaminao

grosseira ou de um grave deslize tcnico ou nos ferimentos penetrantes com menos

de seis horas ou nas feridas abertas para serem enxertadas (ANVISA, 2008).

Cirurgia infectada aquela realizada em qualquer tecido ou rgo, na

presena de um processo infeccioso com pus ou abscesso, perfurao pr-

18

operatria dos tratos digestivo, respiratrio, genito-urinrio ou biliar, ou ainda

ferimentos penetrantes com mais de seis horas (ANVISA, 2008).

No esquecendo da condio clnica do paciente, que antes da cirurgia

deve ser avaliada com a finalidade de identificar possveis anormalidades que

possam aumentar o trauma operatrio ou influenciar negativamente na recuperao

do mesmo (MARTINS, 2003).

O escore de avaliao pr-cirrgica mais utilizado o ASA (American

Society of Anesthesiologists) e que dividido em ASA I onde o paciente no

apresenta distrbio orgnico, fisiolgico, biolgico ou psiquitrico. ASA II o paciente

apresenta doena sistmica leve que resulta em limitao funcional. ASA III o

paciente apresenta doena severa que no seja incapacitado, classe IV, paciente

com doena sistmica com risco de vida, classe V para pacientes com expectativa

de vida de 24 horas ou menos (MARTINS, 2003).

Cada episdio de ISC aumenta a durao da internao em

aproximadamente sete dias e conseqentemente os custos hospitalares. Os custos

com o tratamento aps a alta hospitalar tambm so maiores, uma vez que a

paciente necessitar de medicaes, adiar sua volta ao trabalho e sua qualidade

de vida piorar (BARBOSA, 2004).

As infeces cirrgicas so classificadas em incisionais e de

rgo/espao, com o primeiro grupo, subdividido em superficiais e profundas; as

superficiais so as mais freqentes e afetam a pele e o tecido subcutneo. Embora

se priorize os critrios clnicos (drenagem purulenta) quando da definio de

infeco incisional superficial e de rgo/espao, o diagnstico pode ser realizado

pelo isolamento de microrganismo de fluido\tecido obtido assepticamente a partir da

inciso e rgo\espao, respectivamente (GONTIJO, 2006).

H, tambm, um grande nmero de pacientes que so submetidos a

intubao endotraqueal, sendo um procedimento que propicia um acmulo de

bactrias ao redor do cuff do tubo, levando a colonizao do trato respiratrio

superior onde bactrias podem ser deslocadas para os brnquios atravs da

19

aspirao. Este pode ser o momento inicial para a pneumonia hospitalar. O

desenvolvimento desta doena est relacionado virulncia da bactria ao atingir o

trato respiratrio inferior, assim como a capacidade de defesa do pulmo em

remover ou eliminar os organismos (KENDIRLI, 2006).

No devemos esquecer dos equipamentos de terapia respiratria como

nebulizadores que produzem partculas de aerossol e estas carreiam bactrias para

os bronquolos terminais e alvolos e o circuito ventilatrio onde h uma rpida

colonizao de bactrias provenientes da secreo do paciente presente no tubo

traqueal (KENDIRLI, 2006).

O risco de adquirir infeco pulmonar vem aumentado nos ltimos anos

ocasionado pelo desenvolvimento das unidades intensivas que tem a capacidade

de manter pacientes graves (prematuros, baixo peso, e imunocomprometidos) por

longos perodos de tempo sendo submetidos a vrios procedimentos invasivos.

Em relao s infeces do trato urinrio so as mais comuns,

contribuindo com 35-40% de todas as infeces hospitalares nos EUA. Elas esto

associadas a condies adversas como morbidades local e sistmica, infeco

sangunea secundria (1-5%), microorganismos resistentes aos antibiticos com

conseqente aumento dos custos hospitalares (GOTINJO, 2008).

O principal fator de risco para estas infeces a presena e a durao

da sonda vesical, utilizada em 15-25% dos pacientes internados, procedimento

invasivo que tambm utilizado nesta proporo em hospitais gerais, no Brasil

(GOTINJO, 2008).

As infeces urinrias so definidas atravs de critrios clnicos,

laboratoriais e microbiolgicos. importante assinalar que a maioria (~70%) das

infeces urinrias assintomtica e que em pacientes sondados as manifestaes

clnicas so incomuns. Conclui-se que de extrema importncia a utilizao de

dados microbiolgicos no diagnstico destas infeces. (GOTINJO, 2008).

20

E por ltimo, a infeco relacionada a transmisso por contato, que

podem ser direto e indireto. So os meios mais importantes do paciente adquirir

patgenos hospitalares que resultam em infeces (MIRZA, 2008).

O contato direto corresponde transmisso fsica de uma pessoa

infectada ou colonizada para o hospedeiro suscetvel, como ocorre entre equipe

multiprofissional-paciente e paciente-paciente (MIRZA, 2008).

Em relao ao contato indireto envolve o contato de um hospedeiro

suscetvel com objetos inanimados contaminados, como por exemplo, termmetros,

transdutores de presso, e equipamentos de reanimao (IZQUIERDO, 2008).

A transmisso tambm pode ocorrer por administrao de veculos

contaminados como gua, fluidos endovenosos, emulses lipdicas, nutrio

parenteral parcial e sangue (IZQUIERDO, 2008).

1.4. RELEVNCIA

Hoje, apesar de alguns hospitais apresentarem melhores condies de

estrutura e assistncia sade, os mesmos no esto ilesos de apresentarem

infeco hospitalar entre seus pacientes, pois boa parte das infeces decorrente

de tratamentos invasivos modernos que tambm funcionam como uma porta de

entrada para bactrias (FERNANDES, 2000). No entanto a diminuio do nmero

de casos, ou seja, o controle do agravo possvel e constitui o objetivo de vrios

programas de controle existentes em diversos pases.

Como fator complicador, no Brasil, a demanda por internaes em UTI

peditrica muito grande, o que obriga o surgimento de um grande nmero de

novas unidades, nem sempre com infra-estrutura compatvel e pessoal

tecnicamente treinado, desta forma muitas crianas adquiriam outras patologias

durante a sua internao na unidade, aumentando assim o seu tempo de internao

e piora do prognstico levando muitas vezes ao bito (FERNANDES, 2000).

21

Sabe-se das complicaes que uma infeco hospitalar causa num

paciente e a falta de estudo recente em relao evoluo de uma criana

internada em UTI seria interessante e indispensvel a monitorizao constante das

infeces hospitalares para a identificao de novos fatores predisponentes.

JARVIS (1987) afirma que para diminuir as taxas de infeco nas unidades de

cuidados intensivos preciso identificar os fatores de risco em estudos onde as

variveis de confuso possam ser controladas (SIDRIM, 1999).

Na CCIH de um hospital peditrico de referncia do estado do Cear foi

observada atravs da busca ativa de infeco hospitalar, a necessidade de uma

investigao minuciosa para a obteno de dados fidedignos que mostrem a

realidade destes pacientes. Seria importante o conhecimento desse perfil das

crianas internadas, bem como os microorganismos existentes na unidade e os

fatores de risco que mais causam infeco hospitalar. Desta forma, uma equipe

multiprofissional atravs da educao continuada poderia trabalhar com base

nestas informaes a assistncia ao paciente com qualidade.

Seria interessante que todos os hospitais fizessem uma avaliao

individualizada das UTI para depois montarmos um banco de dados nacional.

Assim, teramos uma boa dimenso do problema no pas e poderamos trabalhar

com metas e planos para reduzir a sua incidncia.

22

2. OBJETIVO

2.1. GERAL

Traar o perfil de crianas com idade entre 29 dias e menores de 5 anos

de vida no qual ser observada a infeco hospitalar adquirida durante suas

internaes na unidade de terapia intensiva peditrica (UTIP) do Hospital Infantil

Albert Sabin.

2.2. ESPECFICOS

Relacionar os fatores demogrficos infeco hospitalar e calcular o

tempo de internao da coorte.

Identificar e relacionar os fatores de risco infeco hospitalar em

cada paciente internado na UTI.

Calcular a taxa de infeco nosocomial e identificar as principais

infeces adquiridas na UTI pelos pacientes no seu perodo de internao.

Identificar os principais microorganismos isolados nos exames de

cultura causadores de infeco nosocomial.

Comparar a mortalidade hospitalar esperada e observada, a partir do

clculo do escore de risco de mortalidade padronizado atravs do Prism (Pediatric

Risk of Mortality).

23

3. CASUSTICA E MTODO

3.1. A INSTITUIO

O Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS) um hospital-escola de nvel

tercirio e presta assistncia mdico-hospitalar ao estado do Cear e responde pelo

ensino terico-prtico nas diversas reas do conhecimento biomdico.

O Hospital foi inaugurado em 1976 com o nome de Hospital infantil Albert

Sabin de Fortaleza. Em 1977, com a vinda do cientista ao Brasil e a este hospital, o

mesmo mudou o nome para Hospital Infantil Albert Sabin.

Na poca era pequeno, com apenas 20 crianas internadas, com alguns

mdicos, farmacuticos, bioqumicos e o corpo de enfermagem e a residncia

mdica em pediatria iniciando com 3 residentes. Hoje o Hospital cresceu, possui 260

leitos, com mais de 200 mdicos, assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionista,

terapeutas ocupacionais, enfermeiros, fonoaudilogo, psiclogos, odontlogos e

todos os demais tipos de especialidades peditricas: pediatras gerais, cardiologista,

neuropediatra, onco-hematologista, nefrologista, pneumologista, endocrinologista,

reumatologista, alergologista, gastroenterologista. Temos tambm diversos tipos de

cirurgies peditricos: geral, urolgico, plstico, otorrinolaringologista, ortopedista,

torcico, neurocirurgico, oncolgico e cardiolgico.

O Hospital, hoje, dividido em vrios setores:

Emergncia, com dois consultrios, sala de observao, reanimao, unidade de

apoio e UTI.

Ambulatrio: sala de triagem, vrios consultrios de especialidades diversas.

Enfermarias: divididos em blocos (A,B,C,D,E,F)

UTI Ps-operatria

CTI (UTI-Neonatal)

Setor de Adolescentes

Setor de Imunizao

24

Centro de Imagem (Tomografia, RX, Ultrasonografia, Ecocardiografia)

Sala de Eletroencefalografia

Laboratrio

Banco de Sangue (HEMOCE)

Centro de Estudos

Nutrio

Rouparia

Centro Cirrgico

Sala de Pequena Cirurgia

Centro de Material

Setor de Esterilizao.

O atendimento abrange os servios ambulatorial, hospitalar e de

emergncia nas reas de pediatria e neonatologia.

3.1.1. A UTI PEDITRICA

O estudo foi realizado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital

de referncia em pediatria da rede pblica estadual tendo em sua clientela

pacientes provenientes de todo o estado do Cear.

A UTI est localizada no Setor da Emergncia, onde ficam hospitalizadas

crianas graves aps serem estabilizadas na sala de reanimao.

Composta por 12 leitos, sendo um isolamento, todos equipados com

respiradores, oxmetro de pulso, bombas de infuso, bombas de seringa,

aspiradores a vcuo, monitores cardacos, carrinho de urgncia e desfibrilador.

A distribuio dos mdicos na UTI foi varivel, sofrendo reduo de mais

de 50% na proporo de mdicos nos turnos da tarde, noite, em feriados e finais de

semana.

25

De segunda a sexta-feira, no perodo da manh, a UTI funcionou com um

pediatra diarista para cada dois leitos (1:2), um mdico residente para cada dois

leitos (1:2), uma enfermeira diarista para cada seis leitos (1:6), e uma fisioterapeuta

respiratria para os doze leitos (1:12).

No perodo da tarde, dois mdicos e duas enfermeiras diaristas assistiam

a unidade. No perodo da noite, foram escalados dois mdicos e duas enfermeiras

plantonistas responsveis pela unidade, assim como nos finais de semana e

feriados.

Os tcnicos de enfermagem lotados na UTIP obedecem a escala de

plantes, distribudos seis em todos os turnos sem variao conforme feriado ou

final de semana.

3.1.2. COMISSO DE CONTROLE DE INFECO HOSPITALAR (CCIH)

A CCIH do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS) formada por duas

mdicas, quatro enfermeiras e uma secretria.

Uma enfermeira responsvel pela UTI clnica e UTI ps-operatria, a

segunda enfermeira responsvel pela UTI neonatal e bloco A, a terceira enfermeira

pelos blocos B,C,D,F e a quarta enfermeira pelo bloco E e centro cirrgico.

Por recomendao da Coordenao de Controle de Infeco Hospitalar

do Ministrio da Sade Brasil, o sistema de vigilncia adotado pela CCIH-HIAS foi

o NNISS (National Nosocomial Infections Surveillance System) de vigilncia

epidemiolgica por componentes, criado pelo CDC-OMS (BRASIL, MS/NNISS-

CDC, 1994).

3.2. TIPO DE ESTUDO

Este foi um estudo de coorte observacional prospectivo cujo desfecho

clnico (varivel dependente) foi a Infeco Hospitalar adquirida na unidade.

26

3.3. DELINEAMENTO E DESFECHO CLNICO

A informao usada para determinar a presena e a classificao de uma

infeco envolveu a combinao de vrios achados clnicos especficos, resultados

de exames laboratoriais e outros testes diagnsticos (GARNER,1988).

As infeces envolvidas foram: infeco de stio cirrgico, trato

respiratrio, infeco de corrente sangunea, trato urinrio, sistema cardiovascular e

sistema nervoso central. Os termos relacionados ao desfecho adotado

(GARNER,1988) seguem em apndice e anexo.

3.4. FORMAO DA COORTE

A coorte foi composta por todas as crianas internadas no perodo do

estudo, de ambos os sexos com idades entre 29 dias e menores de 5 anos de vida,

com pelo menos 24 horas de admisso na unidade. Pacientes com mais de uma

admisso durante a pesquisa foram includos considerando cada uma das

internaes como independentes.

Foram considerados membros perdidos da coorte, as crianas que

preencheram os critrios de incluso, mas com folha de admisso da UTIP

incompleta ou incorreta, crianas que foram a bito com < 48 h, pacientes oriundos

de outra UTI, pacientes que foram transferidos para outro hospital sendo impossvel

o acompanhamento por mais 48 horas (GAYNES et al., 1991) e pacientes em que o

responsvel legal no aceitou a participao da mesma na pesquisa.

3.4.1 SEGUIMENTO DA COORTE

Cada membro da coorte foi acompanhado da admisso alta/bito

respeitando a faixa etria determinada anteriormente para o seguimento.

27

Compulsoriamente concluiu o perodo de seguimento da coorte, o paciente

internado que atingiu idade mxima de 5 anos, mesmo que ainda internado na UTIP

e/ou que antes de atingir a idade limite tenha sado por alta, bito.

Os pacientes que ainda estavam internadas na UTI no trmino do estudo

foram retirados da anlise na varivel desfecho com o intuito de evitar vis.

Os pacientes sados de alta para as enfermarias continuaram sob

seguimento por mais 48 horas e nenhum paciente foi transferido para outro hospital

durante o estudo.

3.5. OBTENO DOS DADOS DA PESQUISA

A coleta de dados foi realizada de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro

de 2008, estimando 70 admisses no perodo. A estimativa foi baseada no nmero

de pacientes internados na unidade no mesmo perodo no ano de 2006. A

informao foi retirada do Sistema de Gerenciamento Hospitalar do Hospital Infantil

Albert Sabin (Hospub) do Ministrio da Sade, DATASUS, atravs do terminal 7-

Consulta de internao por faixa etria.

Foi utilizado um formulrio de acompanhamento dirio, especificamente

elaborado e previamente testado na UTIP no ms de julho de 2007 (apndice III).

O formulrio composto de perguntas referentes aos dados do paciente

como: nome da criana, nmero de pronturio, data de nascimento, idade, sexo,

data da admisso na unidade, data de alta por bito ou transferncia e PRISM.

Estes foram retirados do pronturio da criana, assim como os antibiticos, a IH

diagnosticada e os dados microbiolgicos (microorganismo isolado e antibiograma).

Atravs deste formulrio foi possvel acompanharmos todos os

procedimentos invasivos, conforme prescrio mdica, realizados no paciente e o

tempo que a criana permaneceu com este procedimento. Foi avaliado se houve

insero de cateter central ou disseco venosa, apresentou jelco/scalp, sonda

gstrica ou jejunal, gastrostomia, ventilao mecnica em tubo orotraqueal ou

traqueostomia, sonda vesical e drenos (torcico e/ou derivao ventricular externa).

28

O PRISM (Pediatric Risk of Mortality), escore disponvel em seus artigos

originais (POLLCK,1988), foi calculado pelo mdico utilizando os seguintes dados

da folha de admisso do paciente e exames laboratoriais realizados nas primeiras

24 horas de internao na unidade: freqncias cardaca e respiratria, presso

sstlica e diastlica, FiO2, PaO2, PaCO2, escala de glasgow, reao pupilar,

tempo de protrombina, tempo de tromboplastina, bilirrubina total, potssio, clcio,

glicemia e bicarbonato de sdio.

O PRISM, publicado em 1988 por Pollack et al., um dos principais

escores desenvolvidos para a populao peditrica. Este foi desenvolvido a partir

da identificao de variveis relevantes para o risco de mortalidade e pontuado

aps uma posterior anlise estatstica multivariada de regresso logstica (MARTA,

2005).

O mesmo foi selecionado, pois o mais utilizado nas UTIP, sendo

aplicado em estudos clnicos como o escore prognstico padro para avaliao da

severidade da doena nestes pacientes. Ele nos permite comparar mortalidade

estimada em percentagem com a mortalidade realmente observada (MARTA,

2005).

importante salientar que a assistncia s crianas internadas na UTIP

onde, teoricamente, todos tm a mesma chance de apresentar IH, ficaram sob a

responsabilidade da equipe mdica e de enfermagem vinculados ao servio da

unidade sem a interferncia da pesquisadora.

3.6. ANLISE ESTATSTICA

3.6.1 ANLISE DESCRITIVA

Numa primeira etapa foram determinadas as caractersticas clnico-

epidemiolgicas, tais como: faixa etria, sexo, doena de base, tempo de

internao, incidncia do desfecho clnico, etiologia dos episdios confirmados,

29

mortalidade observada e/ou esperada, procedimentos invasivos realizados e a

evoluo da criana, pertencente coorte, internada na UTIP.

3.6.2 ANLISE UNIVARIADA DOS FATORES DE RISCO

Nesta etapa, foi calculada a distribuio das freqncias das variveis

independentes (fatores de risco) e determinada a significncia das diferenas

observadas entre as variveis para ter ou no ter IH, pelos testes de Mann-Whitney

e o teste de Fischer.

Todas as variveis com o teste de significncia menor que 0,05 (p

30

7. ASPECTOS TICOS

O projeto foi enviado para apreciao do Comit de tica em Pesquisa do

referido hospital onde obteve a autorizao para a realizao do estudo.

Foram respeitados os princpios ticos para pesquisas envolvendo seres

humanos, de forma que foi mantido o sigilo da identidade dos pacientes analisados,

de acordo com as normas estabelecidas pela resoluo n 196/96 do Conselho

Nacional de Sade (BRASIL, 1998).

Dessa forma, o presente estudo no apresentou quaisquer prejuzos nas

esferas fsica, biolgica, psquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do

ser humano, em qualquer fase da pesquisa ou posterior a ela.

31

4. RESULTADOS

4.1. CARACTERSTICA CLNICO-EPIDEMIOLGICA

4.1.1. VARIVEIS DOS PACIENTES

Tabela 1: Distribuio das caractersticas gerais dos 66 pacientes admitidos na

UTI do HIAS no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Caractersticas Valor

Gnero

Masculino 65,2% (43/66)

Feminino 34,8% (23/66)

Idade (meses)

12 meses 22,7% (15/66)

Procedncia

Interior 13,6%(09/66)

Capital 86,4%(57/66)

Admisses

Emergncia 50,0%(33/66)

Hospital 50,0%(33/66)

Tipo de internao

Clnica 98,5%(66/66)

Cirrgica 1,5% (1/66)

Tempo de internao 19,1(17,51)

Probabilidade de bito % 13,0(18,30)

Fonte: UTI, HIAS

De 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008 foram admitidos na

UTIP 75 pacientes de ambos os sexos, dos quais 70 eram menores de 5 anos de

idade. Destes, um paciente foi excludo do estudo, pois no estava calculado o

PRISM e 3 vieram de outra UTI. Ao todo, 66 pacientes preencheram os critrios de

incluso da coorte.

32

A idade mnima dos pacientes foi de 1 ms, a mxima de 36 meses,

mdia de 11 meses e a mediana 7 meses. Observando a tabela percebe-se que a

populao da unidade composta principalmente por crianas menores de um ano

(77,3%).

Dos pacientes da coorte, nove (13,6%) foram provenientes do interior e

cinqenta e sete (86,4%) da capital. Destes, trinta e trs (50%) procedentes das

enfermarias, pacientes que complicaram e necessitaram de UTI, 30 (50,0%)

pacientes provenientes da emergncia, porm, trs destes foram referidos de outros

hospitais da capital.

Em relao ao sexo dos pacientes foram 43 (65,2%) do sexo masculino e

23 (34,8%) do sexo feminino. O tempo de internao mnimo de 2 dias, mximo 72

dias e o tempo mdio de 19 dias de internao. A probabilidade de bito esperado

de todos os pacientes internados foi de no mnimo 0,7%, a mxima 79,3% com

mdia de 13,0%. A mortalidade observada foi de 46,9%.

Grfico 1: Diagnstico inicial dos 66 pacientes admitidos no HIAS no perodo

de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI-1, HIAS *Outros: Amiotrofia espinhal, Calazar, Dengue, Distrbio hidroeletroltico, Intoxicao exgena, Sd. Goldenhar, Varicela.

14%

38%

20%

2%1%25%

doena cardaca doena respiratria doena neurolgica

doena gastrointestinal doenas urinrias outros

33

85%

4%3%2%2%2%2%

insuficincia respiratria sepse monitorizao

poi dve dilise peritonial isolamento contatooxignio mscara

O hospital possui duas unidades de terapia intensiva (UTI-1 e UTI-2). A

UTI-2 uma unidade ps-operatria, porm a prioridade para admisso dos

pacientes a realizao de cirurgia cardaca. Quando a unidade estava com todos

os leitos ocupados ou com cirurgia cardaca marcada os pacientes que realizaram

outras cirurgias que no cardaca foram admitidos na UTI-1. Por este motivo houve

um percentual considervel de cardiopatias no estudo, porm com um predomnio

de insuficincia respiratria como indicao para admisso do paciente na unidade.

As patologias predominantes foram s doenas do trato respiratrio

(37,7%), cardiopatias (14,4%) e 20% dos pacientes possuam comprometimento

neurolgico. importante destacar que 30,3% (20/66) das crianas apresentaram

duas ou mais patologias.

Grfico 2: Distribuio das indicaes de internamento dos 66 pacientes

admitidos na UTI do HIAS no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro

de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

*Poi: ps-operatrio imediato

Como foi citada anteriormente, a principal indicao para a internao na

UTIP foi a insuficincia respiratria, com 85,0%, em seguida, a complicao por

*

34

sepse com 4,0% e a monitorizao por dengue correspondeu a 3,0%. Apenas 2,0%

dos pacientes foram internados por complicao na colocao do DVE, 2,0% para

dilise peritonial, 2,0% para isolamento de contato por varicela infectada e 2,0%

necessitou de suporte de oxignio para pneumonia.

Tabela 2: Distribuio geral dos 66 pacientes internados na UTI do HIAS pelo

escore PRISM e tempo de internamento no perodo de 01 de agosto de 2007 a

31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

Dentro do escore de risco para mortalidade, a maioria dos pacientes (47%)

possuiu o escore dentro do intervalo de 0-9 com probabilidade mnima de bito

0,7%, mxima de 4,7% e mdia de 3%. Estes apresentaram tempo de internao em

mdia 20 dias. Em seguida, 28,8% dos pacientes encontravam-se no intervalo de

10-14 com probabilidade mnima de bito 5,7%, mxima de 12,3% e mdia 8,5%. A

mdia do tempo de internao foi de 22,8 dias. Pacientes que estavam no intervalo

de 15-19 (15,2%) apresentaram mnima de 14,7%, mxima de 28,3% com mdia de

22,3%. A mdia de internao foi de 14 dias. No intervalo de 20-24 (1,5%) a

probabilidade de o paciente vir a bito foi de 32,5%. No intervalo de 25-30, 7,5% dos

Prisma

Nmero de

casos

%

(Probabilidade

(%) de bito)

Tempo mdio

de

internamento

0 a 9

31

47,0

0,7 a 4,7

20,4

10 a 14

19

28,8

5,7 a 12,3

22,8

15 a 19

10

15,2

14,7 a 28,3

14

20 a 24

1

1,5

32,7

8

25 a 30

5

7,5

57,7 a 79,3

9,6

35

77,3%

86,4%

65,2%

45,0%

43,9%

40,9%

15,2%

12,1%

10,6%

10,6%

tubo orotraqueal

sonda nasogstrica

jelco/scalp

sonda nasojejunal

cateter central

disseco

sonda vesical

traqueostomia

gastrostomia

dreno

pacientes apresentou probabilidade mnima de bito 57,7%, mxima de 79,3% com

mdia 69,9%, a mdia de internao correspondeu 9,6 dias.

Levando em considerao que quanto maior o PRISM maior a

probabilidade de o paciente vir a bito justifica-se a mdia de internao das

crianas que se encontram dentro do intervalo de 15 a 30 tenha sido bem inferior em

relao aos outros pacientes. Dos 16 pacientes dentro deste intervalo, 14 (87,5%)

foram a bito.

4.1.2 VARIVEIS HOSPITALARES

Grfico 3: Distribuio dos pacientes por procedimentos invasivos realizados

na UTI do HIAS no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI,HIAS

A sondagem nasogstrica foi o procedimento mais freqente, sendo

realizado em 86,4% dos pacientes. Este procedimente foi rotina na admisso da

criana para aspirao de resduo gstrico e com menos freqncia para gavagem.

36

18%

24%

16%11%

11%

10%3%3% 2% 2%

tubo orotraqueal sonda nasogstrica jelco/scalp

sonda nasojejunal cateter central disseco

sonda vesical traqueostomia gastrostomia

dreno

O procedimento de escolha para a alimentao a sonda nasojejunal que

correspondeu a 45% dos pacientes.

A intubao orotraqueal (77,3%) foi realizada na maioria das crianas,

confirmando a principal indicao de internamento na unidade que foi a insuficincia

respiratria.

O acesso venoso perifrico correspondeu a 65,2% dos pacientes, sendo a

via de primeira escolha para a infuso de medicamentos. O cateter central e a

disseco venosa corresponderam a 43,9% e 40% dos pacientes, respectivamente.

Grfico 4: Distribuio dos procedimentos invasivos por freqncia nos 66

pacientes internados na UTI do HIAS no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31

de janeiro de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

Foram realizados 299 procedimentos na unidade e a freqncia de cada

um deles est demonstrada no grfico acima.

importante salientar que alguns procedimentos foram realizados com

maior freqncia no paciente, como por exemplo, a re-intubao oropraqueal que foi

37

2 18

681

1360

13

42 21

722 18

632

1560

2 1024

318

313 20

302 8

32

tubo orotraqueal

sonda nasogstrica

jelco/scalp

sonda nasojejunal

cateter central

disseco

sonda vesical

traqueostomia

gastrostomia

dreno

tempo mnimo tempo mdio tempo mximo

realizado em 5,8% (3/51) dos pacientes por motivo de extubao mal sucedida;

20,6% (6/29) dos pacientes com acesso central foram puncionados novos acessos

por infiltrao, perda de acesso ou infeco no local; 2,2% (7/57) dos pacientes

sondados foram repassadas novas sondas nasogstricas por terem sido retiradas

pelos pacientes. Em relao aos acessos perifricos, no foi rotina na unidade a

troca de jelco ou scalp a cada setenta e duas horas, foi puncionado outro acesso

apenas na perda do mesmo.

Grfico 5: Distribuio dos procedimentos invasivos realizados na UTI do HIAS

por tempo de permanncia no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro

de 2008.

Fonte: UTI,HIAS

38

4.2. CARACTERIZAO DA COORTE

A coorte nesta etapa do estudo foi composta por 64 pacientes, pois duas

crianas ainda estavam internadas no trmino da pesquisa, no tendo desfechos

concludos para infeco hospitalar, alta ou bito.

Grfico 6: Mdia e mediana do tempo de internao da coorte na UTI no

perodo 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

As vinte e seis crianas que evoluram com infeco hospitalar ficaram em

mdia internada 31,6 dias com tempo mnimo de 4 dias e mximo de 72 dias. J as

crianas que no apresentaram infeco ficaram internada em mdia 11 dias, com

mnimo de 2 dias e mximo de 32 dias (p=0,03).

39

62,0%

50,0%

38,0%

50,0%

=1 ano

com infeco

sem infeco

Grfico 7: Distribuio das infeces hospitalares por faixa etria no perodo

01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

Das crianas que apresentaram infeco hospitalar 73% (19/26) eram

menores de um ano e 27% (7/26) eram maiores de um ano e menores de cinco anos

de idade. Observou-se que as crianas menores de um ano apesar de formarem a

maioria na amostra apresentaram uma porcentagem menor de infeco hospitalar.

40

58,5%

61,0%

41,5%

39,0%

masculino

feminino

com infeco

sem infeco

Grfico 8: Distribuio das infeces hospitalares por sexo no perodo 01 de

agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

As crianas do sexo masculino representaram 61% da coorte e

apresentaram 65% (17/26) das infeces hospitalares. Os pacientes do sexo

feminino, 39% da coorte, apresentou 35% das infeces.

41

4.3. DESFECHO

4.3.1 INCIDNCIA

O nmero de pacientes que apresentaram infeco foi de 40,6%

(26IH/64pacientes); incluindo todos os episdios ocorridos de infeco hospitalar na

coorte a incidncia foi de 54,6% (35IH/64pacientes). No tiveram infeco 38

pacientes.

Das 26 crianas que adquiriram infeco, 5 pacientes apresentam 2

episdios e 2 pacientes apresentaram 3 infeces, ambas com topografias distintas.

Dos 35 episdios de infeco hospitalar 23 foram confirmadas pelo laboratrio.

42

sepse

11%

78%

11%

clnica

confirmada

associada a

cateter

50%

25%

25%

conjuntivite

gastroenterite

infeco urinria

pneumonia

33%17%

50%

cnica

confirmada

associada vm

4.3.2. CLASSIFICAO DAS INFECES HOSPITALARES Grfico 9: Distribuio das infeces hospitalares por topografia da coorte no

perodo 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

Fonte, UTIP, HIAS Fonte, UTIP, HIAS

Fonte, UTIP, HIAS

A taxa de infeco hospitalar correspondeu a 54,6% durante os seis

meses de estudo, porm como o tempo de internamento de alguns pacientes foi

prolongado algumas crianas, 10,9% (7/64), apresentaram mais de uma infeco no

perodo.

A infeco predominante foi a sepse correspondendo 71,4% (25/35). Dos

pacientes com infeco sangunea, 12% (3/25) corresponderam a sepse clnica,

88% (22/25) confirmadas em laboratrio e 12% (3/25) associadas a cateter.

outros

Fonte: UTI, HIAS Fonte: UTI, HIAS

43

Infeco Hospitalar

46,9%

41,8%

36,5%

50,0%

41,3%

40,0%

60,0%

37,5%

28,5%

28,5%

tubo orotraqueal

sonda nasogstrica

jelco/scalp

sonda nasojejunal

cateter central

disseco

sonda vesical

traqueostomia

gastrostomia

dreno

Em seguida, as pneumonias foram as mais freqentes com 17,1% (6/35)

das infeces. Todas foram associadas ventilao mecnica e dois destes

pacientes desenvolveram sepse secundria.

4.3.3. ASSOCIAO DAS VARIVEIS HOSPITALARES COM O DESFECHO

Grfico 10: Distribuio das infeces hospitalares por procedimento invasivo

na coorte no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

A intubao orotaqueal e a traqueostomia foram realizadas em 89%

(57/64) dos pacientes, 10,5% apresentaram pneumonia associada ventilao

mecnica e o tempo mdio do surgimento da infeco aps procedimento foi de 10

dias (p=0,021).

Dos 15,6% (10/64) dos pacientes que apresentaram sonda vesical de

demora, apenas um paciente apresentou infeco urinria associada ao

procedimento. O tempo mdio para adquirir a infeco foi de 7 dias aps a

passagem da sonda (p=0,157).

44

27%

23%13%

10%

27%

Staphylococcus aureus Pseudomonas aeruginosa

Klebsiella pneumoniae Candida spp

Outros gram-negativo

As infeces sanguneas corresponderam a 71,4% (25/35), destas apenas

12% (3/25) foram associadas a cateter. O tempo mdio para adquirir a infeco aps

o procedimento foi de 24,6 dias (p=0,795).

4.3.4. ETIOLOGIA

Os bacilos gram-negativos foram isolados em 73,3% dos episdios de

infeco confirmada na coorte.

Grfico 11: Distribuio por freqncia dos 30 microorganismos isolados na

coorte no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: Laboratrio de microbiologia, HIAS

*Outros gram-negativos: Acinetobacter spp, E. aerogenes, E. coli, S. typhimurium, S.

liquefasciens, E. cloacae.

Bactrias envolvidas nos 26 episdios de infeco hospitalar por ordem de

freqncia: S. aureus 8 vezes (~27%), P. aeruginosa 7 vezes (23%), K. pnumoniae 4

vezes (13%), Cndida spp 3 vezes (10%) e outros gram-negativos 8 vezes (~27%).

*

45

100,0%

100,0%

66,6% 33,3%

85,7% 14,3%

75,0% 25,0%

S.aureus

K.pneumonia

Candida spp

P.aeruginosa

Outros gram-negativos

sepse pneumonia infeco urinria

Foram isoladas 2 bactrias numa amostra de hemocultura e aspirado

traqueal em quatro pacientes que apresentaram infeco hospitalar. Uma amostra

de sangue isolou S.aureus e Acinetobacter spp, uma segunda amostra um S. aureus

e uma K. pneumoniae e uma terceira amostra P. aeruginosa e S. aureus. No

aspirado traqueal foi isolado uma E. cloacae e Acinetobacter spp.

Grfico 12: Distribuio dos microorganismos isolados na coorte por sitio de

infeco no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: Laboratrio de microbiologia, HIAS

*Outros gram-negativos: Acinetobacter spp, E. aerogenes, E. coli, S. typhimurium,

S. liquefasciens, E. cloacae.

Dos oito S. aureus e quatro K. pneumoniae isolados todos foram

causadores de septIcemias; uma Cndida spp foi responsvel por uma infeco

urinria e duas por sepse; a P.aeruginosa foi responsvel por uma pneumonia e seis

sepses e outros gram-negativos foram responsveis por seis sepses e uma

pneumonia.

Na tabela 3 est demonstrado o antibiograma dos microorganismos

isolados.

*

46

Tabela 3: Perfil de resistncia dos principais microorganismos isolados na

coorte no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

K. pneumoniae S. aureus P. aeruginosa

Sensvel Resistente Sensvel Resistente Sensvel Resistente

Amicacina - 100,0%(4/4) - - 100,0%(7/7) -

Ampicilina - 100,0%(4/4) - - - -

Ciprofloxacina 100,0%(4/4) - - 12,5%(1/8)& 28,5%(2/7)

$ -

Cefalotina - 75,0%(3/4)* - - - -

Ceftazidima 100,0%(4/4) - - - 100,0%(7/7) -

Ceftriaxona - 100,0%(4/4) - - 14,3%(1/7) 85,7%(6/7)

Clorafenicol - 100,0%(4/4) - - - -

Clindamicina - - 75,0%(6/8) 25,0%(2/8) - -

Cefepime 50,0%(2/4) 50,0%(2/4) - - 100,0%(7/7) -

Eritromicina - - - 87,5%(7/8)* - -

Gentamicina - 100,0%(4/4) - - 85,7%(6/7)* -

Imipenem 100,0%(4/4) - - - 100,0%(7/7) -

Meropenem 100,0%(4/4) - - - 85,7%(6/7)* -

Oxacilina - - 62,5%(5/8) 37,5%(3/8) - -

Penicillina - - 12,5%(1/8) 87,5%(5/8)# - -

Piperacilina+

Tazobactam

100,0%(4/4) - - - 57,1%(4/7)+ -

Polimixina - - - - - 14,2%(1/7)

Quinolona - - - - 14,2%(1/7) -

Sulfametoxazol 50,0%(2/4) 50,0%(2/4) 37,5%(3/8)$ - 14,2%(1/7) 42,8%(3/7)

+

Vancomicina - - 100,0%(8/8) - - -

Fonte: UTI, HIAS.

* Uma amostra no testada; #

Duas amostras no testadas; $ Cinco amostras no testadas;

+ Trs

amostras no testadas; &

Sete amostras no testadas; Seis amostras no testadas.

47

14

8

2

10

14

14

3

6

21

24

47

13

7

4

1

1

0-9

10-14

15-19

20-24

25-30

tempo mnimo tempo mdio tempo mximo n pacientes

Grfico 13: Tempo mdio por escore PRISM do surgimento entre a internao e

o primeiro episdios de infeco hospitalar na coorte no perodo de 01 de

agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Fonte: UTI, HIAS

O tempo mnimo para o surgimento da primeira infeco hospitalar no

primeiro intervalo do escore PRISM foi de 4 dias e mximo de 21dias. No segundo

intervalo foi no mnimo 8 e mximo de 24 dias; no terceiro intervalo o tempo mnimo

foi de 2 dias e mximo de 47 dias; no quarto intervalo o tempo foi de 3 dias e no

quinto intervalo foi de 6 dias.

48

Tabela 4: Distribuio das infeces hospitalares por escore PRISM da coorte

no perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

PRISM Nmero de

pacientes

Nmero de IH %

0-9 29 13 44,8

10-14 19 7 36,8

15-19 10 4 40

20-24 1 1 100

25-30 5 1 20

Fonte: UTI, HIAS

Levando em considerao quanto mais alto o PRISM mais grave o

paciente e maior o nmero de procedimentos que ele vai ser submetido ento h um

aumento de chance desta criana evoluir com infeco hospitalar, porm a relao

do paciente de cada intervalo de PRISM com o nmero de infeco foi cerca de dois,

ou seja, para cada dois pacientes pertencentes ao seu intervalo um evoluiu com

infeco. Exceto os pacientes que apresentaram PRISM mais elevados.

49

Tabela 5: bito esperado e observado pelo escore PRISM da coorte na UTI no

perodo 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

PRISM Nmero de pacientes bito esperado

%

bito observado

%

0-9 29 4,7 31

10-14 19 12,3 36,8

15-19 10 28,3 80

20-24 1 52,6 0

25-30 5 79,3 100

Fonte: UTI, HIAS

O bito observado foi superior ao esperado. Observou-se um aumento de

bito proporcional ao aumento do PRISM, porm a razo entre os dois bitos

diminuiu com o aumento do escore. A relao entre bito e infeco hospitalar no

foi estatisticamente significante, pois p=0,902.

No intervalo de 0-9 a razo foi de 1 bito esperado para 7observado; no

intervalo de 10-14 foi de 1:3; no intervalo de 15-19 foi de 1:3, no intervalo de 20-24 o

bito esperado foi de 52,6% porm no houve bito e no intervalo de 25-30 foi de

1:2.

50

4.4 ANLISE UNIVARIADA

O estudo pesquisou 18 variveis, oito do paciente e dez hospitalares:

sexo, idade, procedncia, escore PRISM (0-9; 10-14; 15-19; 20-24; 25-30), tubo

orotraqueal, traqueostomia, acesso central, disseco venosa, jelco/scalp, sonda

nasogstrica, sonda nasojejunal, gastrostomia, dreno.

As variveis estatisticamente significantes esto demonstradas na tabela

abaixo.

Tabela 6: Anlise univariada dos procedimentos invasivos realizados na UTI no

perodo de 01 de agosto de 2007 a 31 de janeiro de 2008.

Procedimentos invasivos RR IC 95%

MIN MAX

Valor de P

Intubao orotraqueal 7,04 1,03 47,8 0,001

Traqueostomia 1,00 0,38 2,60 1,000

Cateter central 1,20 0,64 2,26 0,804

Disseco venosa 1,11 0,58 2,10 0,589

Jelco/scalp 0,93 0,48 1,79 1,000

Sonda nasogstrica 3,76 0,57 24,51 0,136

Sonda nasojejunal 1,88 0,97 3,67 0,071

Gastrostomia 0,74 0,21 2,49 0,702

Dreno 0,74 0,21 2,49 0,720

Sonda vesical 1,80 0,95 3,38 0,157

O procedimento estatisticamente significante foi a intubao orotraqueal,

pois p = 0,001 e obteve um risco relativo de 7,04 com um intervalo de confiana de

95%, ou seja o tubo orotraqueal foi um fator de risco para a infeco hospitalar e o

risco do paciente intubado adquirir a infeco de 7 vezes maior em relao as

crianas que no foram intubadas.

51

4.5 ANLISE MULTIVARIADA

Foi includo na regresso logstica a intubao orotraqueal, pois p=0,001.

As demais variveis no foram estatisticamente significantes, concluiu-se que o

OR=1, ou seja, h hiptese de que no existe associao entre a doena e o fator

estudado.

Tabela 7: Procedimento invasivo relacionado infeco hospitalar pela anlise

de regresso logstica mltipla, UTI peditrica, no perodo de 01 de agosto de

2007 a 31 de janeiro de 2008.

Procedimento

invasivo

CR Desvio

padro

OR Intervalo de

confiana

Valor de p

Intubao

orotraqueal

0,832

0,252

2,29

MIN

1,38

MAX

3,82

0,001

52

5. DISCUSSO

O presente estudo clnico-epidemiolgico almejou conhecer e

compreender o impacto que os fatores de risco prprios do paciente e do ambiente

causam na infeco hospitalar. Estes funcionaram como coadjuvantes da ocorrncia

da infeco hospitalar, em crianas menores de 5 anos que necessitaram de

tratamento intensivo.

Foi escolhido um estudo de coorte prospectivo por ser passvel de anlise

descritiva e analtica (ALMEIDA FILHO E ROUQUAYROL, 1994). Este tipo de

estudo comparativo permite que a populao da pesquisa sofra as mesmas

influncias no controladas quando expostas aos fatores de riscos investigados e

permite ainda o estudo de mais de uma varivel entre a exposio e o desfecho

simultaneamente (AMARAL, 1991).

Levantamentos epidemiolgicos em UTI neonatal so freqentes na

literatura internacional, em geral relacionando a mortalidade a alguma patologia

especfica, porm existem escassos trabalhos avaliando infeco hospitalar em

crianas acima de 28 dias de vida internadas em unidade de terapia intensiva.

Dentre os objetivos propostos foram analisados dados de uma UTIP de um hospital

peditrico de referncia no estado do Cear.

Uma pesquisa realizada por Moreno (2005) na UTIP do Hospital Municipal

Materno Infantil de San Isidro Dr.Carlos A. Gianantonio em Buenos Aires, a idade

mdia dos pacientes foi de 12 meses, a maioria era do sexo masculino (59,2%), com

tempo mdio de internao de 10 dias, 62,1% dos pacientes residiam na capital.

Eiloft (2002) fez um estudo retrospectivo com 13.101 pacientes internados

na UTI peditrica do Hospital So Lucas no Rio Grande do Sul e a sua maioria eram

meninos (58,4%) com doena clnica (73,1%) e menores de 1 ano (40,4%), exceto

recm-nascidos.

53

As pesquisas citadas confirmam o presente estudo, a maioria da clientela

das UTI peditricas foram crianas do sexo masculino (65,2%) com doenas clnicas

(98,5%), menores de 12 meses de idade (77,3%). A probabilidade de bito geral foi

de 13%, a maioria (86,4%) residia na capital e o tempo mdio de internao foi de

19 dias. As variveis referentes aos pacientes, sexo, idade e a procedncia no

foram estatisticamente significantes (p=1,000).

No estudo de Moreno (2005) foi observado que as doenas respiratrias

foram as mais prevalentes, (39,1%), para internao da criana no hospital, o

choque sptico vem em seguida com 10,3%, pacientes neurolgicos com 9% e

doenas cardiovasculares com 6,2%.

No presente estudo em relao s patologias, a principal doena

predominante foi a respiratria (38%), logo aps as doenas neurolgicas com 20%,

as cardacas com 14%, gastrintestinais com 2% e urinria com 1%. Apenas as

doenas respiratrias foram igualmente predominantes nos dois estudos.

No estudo observamos que as pneumonias, asmas e derrame pleural

foram as prevalentes entre as doenas respiratrias. Dentre as neurolgicas,

predominaram as crianas com paralisia e tumor cerebral. As crianas com paralisia,

a maioria passou muito tempo internado na unidade e possuiu registros de vrias

internaes anteriores na unidade. As outras patologias como amiotrofia espinhal,

dengue, varicela, calazar esto ilustradas no grfico 2.

Os pacientes foram admitidos na UTIP do HIAS principalmente por

insuficincia respiratria 85% (56/66), foram intubados 77,3% (51/66), os demais

foram admitidos j traqueostomizados e colocados em ventilao mecnica. O

tempo mdio que o paciente passou no respirador foi de 18 dias.

As complicaes por sepse corresponderam a 4% das indicaes. Estes

foram pacientes que internaram nas enfermarias por outras patologias, passaram

muito tempo internados e adquiriram infeco hospitalar.

54

As demais indicaes foram dilise peritonial que correspondeu a 2%

(1/66), ps-operatrio de colocao de DVE com 2% (1/66).

Os procedimentos mais realizados foram intubao orotraqueal (77,3%)

devido a insuficincia respiratria e o tempo mdio de permanncia foi de 18 dias. A

passagem de sonda nasogstrica correspondeu a 86,4% com tempo mdio de

permanncia de 13 dias. Em seguida, as punes venosas periricas foram as mais

freqentes com 65,2% e o tempo de permanncia foi de 3 dias.

Nesta etapa do estudo foram excludos da coorte dois pacientes, pois ao

trmino da pesquisa eles ainda estavam internados no tendo desfecho para

infeco hospitalar, alta ou bito.

A incidncia de infeco hospitalar (54,6%) na unidade encontra-se

superior as encontradas nos estudos contemporneos tais quais ARANTES, 2003;

Abramczyk, 2003; RODRIGUEZ, 2006. Uma possibilidade para explicar tal diferena

pode ser atribuda a longa permanncia dos pacientes na unidade, apresentando um

tempo mdio de internamento de 19 dias e o mximo de 72 dias, tempo superior

encontrado na literatura.

Os pacientes que apresentaram infeco hospitalar tiveram mdia maior

de internamento do que os que no apresentaram. A mdia foi de 31,6 dias e os que

no apresentaram foi de 11 dias. Essa diferena foi estatisticamente significativa

(p=0,03), reforando a maior taxa de IH nessa UTI comparando com outros estudos

citados (ARANTES, 2003; ABRAMCZYK, 2003; RODRIGUEZ, 2006).

A incidncia de infeco encontrada por ARANTES (2003) em um estudo

de coorte de 460 pacientes internados na UTIP de um hospital universitrio de

Uberlndia, Brasil foi de 20%. O tempo mdio para a deteco da pneumonia

associada a ventilao aps o procedimento foi de 9 dias, sepse associada a cateter

central foi de 7 dias aps o procedimento, infeco urinria aps a sondagem vesical

de demora foi de 7 dias.

55

No presente estudo os pacientes que apresentaram infeco hospitalar

corresponderam a 40,6% (26/64) e a taxa de infeco na unidade foi de 54,6%

(35/64). As infeces confirmadas corresponderam a 71,4% (25/35) e as infeces

clnicas 28,6%.

Abramczyk (2003) encontrou na UTIP do Hospital So Paulo, na cidade de

So Paulo, uma taxa de 27,2% de pacientes com infeco hospitalar. A infeco

prevalente foi a pneumonia associada a ventilao mecnica correspondendo a

18,7% das infeces. Em seguida as infeces sanguneas associadas a cateter

com 10,2% e as infeces urinrias associadas a sonda vesical com 1,8%.

De Cicco (2005), realizou um estudo no Hospital Italiano em Buenos Aires-

Argentina na UTI peditrica, observou que das crianas com infeco hospitalar,

25% delas evoluram com pneumonia, 23% bacteremia primria, 10% trato urinrio,

6% gastrintestinais, 22% stio cirrgico, 6% infeco no local do cateter, 5%

infeces sistmicas, 3% infeces de partes moles. Dos pacientes com pneumonia

88,8% foram associados a ventilao mecnica; das bacteremias primrias 81,7%

foram associadas a cateter e as infeco no trato urinrio todas foram associadas a

sonda vesical de demora.

No nosso estudo a principal infeco encontrada foi a septicemias com

71,4% (25/35). Oitenta e oito por cento (22/25) foi confirmada no laboratrio, destas

12% associada a cateter. Percebeu-se que as 22 sepses foram primrias, pois no

havia infeco em outro foco, porm no foi possvel associ-la ao cateter porque

no rotina na unidade a retirada do dispositivo central sem sinais de infeco local

para enviar junto com uma amostra de sangue para cultura.

A literatura relata que a incidncia elevada de infeco sangunea se deve

a longa permanncia do acesso central por disseco ou puno venosa e a

constante manipulao do mesmo para administrao de medicamentos e

hemoderivados (MARTINZ, 2001). Observamos na unidade de terapia intensiva do

HIAS, uma baixa adeso ao hbito de higienizao das mos pela equipe de sade

e a no utilizao de algodo ou gaze embebido de lcool a 70% na manipulao do

acesso. Embora esse dado no tenha sido mensurado porque no foi objetivo do

56

estudo, durante as visitas na unidade podemos observar esse dados em diversas

oportunidades. Registramos tambm a ausncia de uma rotina de troca peridica

dos acessos perifricos, provavelmente essas falhas no controle de infeco

sangunea devem ter contribudo para as taxas elevadas de infeco sangunea

nessa unidade.

Os microorganismos isolados foram oito S. aureus, quatro K. pneumoniae,

seis P.aeruginosa e duas Cndidas spp.

O tempo mdio para adquirir a infeco sangunea associada ao cateter

foi de 24,6 dias ps-procedimento.

Ray (2008) realizou um estudo, em Chandigarh-India, sobre infeco

sangunea em 217 pacientes internados na UTIP de um hospital tercirio no perodo

de 2002 e 2003. A incidncia da infeco foi de 25,8%. O isolamento de gram-

negativo foi predominante: K. pneumoniae (20,1%), Enterobacter spp (16,6%) e

Acinetobacter spp (8,6%). Dentre os gram-positivos o mais freqente foi o S. aureus

(36,9%).

Rodrguez (2006) realizou um estudo em Camagey, Cuba sobre as

infeces relacionadas a cateter e a incidncia encontrada foi de 66,6%. As

bactrias mais isoladas foram Enterobacter spp, S. aureus e K. pneumoniae.

Martinez (2001) encontrou que a incidncia de sepse associada a cateter

foi de 45,3% com o tempo mdio para a infeco ps-procedimento foi de 7,9 dias. A

incidncia da pneumonia foi de 54,6% e o tempo mdio para desenvolver a infeco

foi de 4,9 dias aps a intubao orotraqueal.

Hamid (2007) realizou um estudo na UTIP de um Hospital Infantil em

Lahore, Paquisto. A incidncia de sepse foi de 33%, esses pacientes apresentaram

em mdia sete dias a mais internados em relao aos pacientes que no

apresentaram infeco hospitalar.

57

Segundo a literatura, a incidncia de pneumonia varivel, depende dos

critrios utilizados para o diagnstico e do local estudado, variando entre 1,8% a

28,3% (EDWARD, 2003).

No presente estudo a pneumonia possui a segunda maior taxa com 17,1%

das infeces e todas foram associadas a ventilao mecnica. Dois desses

pacientes evoluram com sepse secundria.O diagnstico clnico e radiolgico foi

dado a 66,6% (4/6) das crianas, confirmado em laboratrio apenas 33,3% (2/6). A

pequena quantidade de pneumonias com diagnstico confirmado se deve a falta de

coleta do aspirado traqueal devido a fatores externos como falta de material ou

quando coletada, a amostra contaminada. Foram isolados no aspirado traqueal

uma P. aeruginosa e um Acinetobacter spp.

Os critrios clnicos e radiolgico esto associados a uma baixa

especificidade (Kollef et al., 2006), porque doenas tais como a sndrome da

resposta inflamatria sistmica ou insuficincia cardaca congestiva, extremamente

comuns em pacientes crticos, so confundidas com as pneumonias (Gontijo Filho,

2004).

O tempo mdio para o surgimento da pneumonia ps-intubao

orotaqueal foi de 10 dias.

Carvalho (2002) realizou um estudo em um ano em uma UTIP de Porto

Alegre, Brasil e a incidncia encontrada de pneumonia associada ventilao

mecnica foram de 23% (16/68). Destes pacientes foram colhido aspirado traqueal,

dez amostram cresceram bactrias. Foram isoladas seis S. aureus com

Acinetobacter spp concomitantes, duas K. pneumoniae com uma Enterobacter spp

concomitante, uma Candida spp e uma P. aeruginosa.

Durante nosso estudo dois pacientes apresentaram conjuntivite com

diagnstico clnico. Um paciente apresentou infeco urinria associada a sonda

vesical de demora e o surgimento do episdio aps a passagem foi de sete dias. Um

paciente apresentou gastroenterite.

58

A maioria dos pacientes que apresentou infeco hospitalar eram menores

de um ano, 73% (19/26), do sexo masculino, 57,6% (15/26) e residiam em Fortaleza

80,7% (21/26) . No houve associao das variveis do paciente com o desfecho.

Cada UTIP tem uma nica e endmica flora e as crianas internadas,

colonizadas servem de reservatrios para transmisso aos pacientes admitidos

(MARTINZ, 2001).

No recente estudo, os bacilos gram-negativos (73,3%) prevaleceram

largamente sobre as bactrias gram-positivas (26,7%).

Foram isoladas trinta bactrias das quais as mais prevalentes foram o S.

aureus com ~27%, P. aeruginosa com 23%, K. pneumoniae com 13%, Candida spp

com 10% e outros gram-negativos corresponderam a ~27%. As bactrias gram-

negativas, como: Acinetobacter spp, E. aerogenes, E. coli, S. typhimurium, S.

liquefasciens, E. cloacae foram agrupadas, pois cada uma delas foi isolada apenas

uma vez.

As bactrias S. aureus e K. pneumoniae foram isoladas apenas nas

infeces sanguneas. Nas outras sepses foram isolados Cndida spp, P.

aeruginosa e outros gram-negativos. As pneumonias foram causadas por P.

aeruginosa e outros gram-negativos. Na infeco urinria foi isolada Cndida spp.

Abramczyk (2003) no estudo os gram-negativos foram os mais isolados

com 54,8%, seguido das bactrias gram-positivas (23,8%). As espcies mais

comuns foram Acinetobacter baumannii e Klebsiella pneumoniae.

Alvarez (2006) pesquisou na UTIP do Hospital Del Mar em Barcelona 775

pacientes que adquiriram infeco hospitalar causada por S. aureus. Ela foi

encontrada principalmente nas pneumonias associadas ventilao mecnica e as

infeces sanguneas associadas a cateter.

O manuseio dos pacientes pelos profissionais de sade com mos

inadequadamente limpas representa uma via importante na transmisso de infeco

59

por bactrias como E. coli, K. pneumoniae, algumas espcies de Enterobacter spp,

Serratia marcescens, Proteus mirabilis e algumas espcies de Pseudomonas spp;

quanto maior o perodo de internao, mais sujeitos estaro as crianas a esses

tipos de infeces (LOVO, 2003).

Foi analisado o perfil de resistncia dos principais microorganismos

isolados. O antibiograma est ilustrado na tabela 3.

Alvarez (2006) realizou um estudo sobre resistncia antimicrobiana na UTI

em 14 instituies de nvel tercirio entre os anos de 2001 e 2003. Foram isolados

27.301 microorganismos. Os isolados com maior freqncia foram S. aureus,

P.aeruginosa e K. pneumoniae. A taxa de resistncia a oxacilina do S.aureus foi de

61%. A resistncia a cefalosporina (ceftriaxona, cefotaxima, ceftazidima) de terceira

gerao das K. pneumoniae foram superiores a 30% e a resistncia das P.

aeruginosa a vrios grupos de antimicrobianos superou 30% das cepas

multiresistentes.

Ao contrrio do estudo de Alvarez (2006), na nossa pesquisa os gram-

negativos apresentaram uma boa sensibilidade as cefalosporinas, aos

carbapenmicos e aos aminoglicosdeos, assim como o S. aureus apresentou boa

sensibilidade a oxacilina.

Foi calculado o escore PRISM um ndice amplamente conhecido e

aplicado nas UTIP, sendo utilizado em estudos clnicos como escore prognstico

padro para avaliao da severidade da doena em pacientes peditricos

(MARTHA, 2005).

Nas primeiras vinte e quatro horas da admisso do paciente na UTIP, foi

calculado o PRISM que atravs de um programa instalado no computador da UTIP

foi possvel obter o valor absoluto e a probabilidade do paciente vir a bito. As

variveis necessrias para o calculo do PRISM foi especificado na metodologia.

60

Os pacientes foram distribudos por intervalos do PRISM e esto ilustrados

na tabela 2.

A incidncia de infeco hospitalar maior foi no intervalo de 0-9 e

correspondeu a 44,8% (13/29). No intervalo de 10-14 a incidncia foi de 36,8%

(7/19); de 15-19 a incidncia foi de 40% (4/10); 20-24 foi de 100%, mas apenas um

paciente estava neste intervalo. No intervalo de 25-30 a incidncia foi de 20% (1/5).

A populao maior ficou no intervalo de 0-9 com probabilidade de o

paciente vir a bito ficou entre 0,7% a 4,7%. O tempo de internao ficou em torno

de 20 dias. No intervalo de 10-14 a probabilidade de bito ficou entre 5,7% e 12,3%.

O tempo de internao foi de 22,8 dias.

Abramczyk (2003) observou que o PRISM foi significativamente maior em

pacientes com infeco hospitalar (PRISM=17) em relao aos pacientes que no

apresentaram a infeco (PRISM=10). A mortalidade foi significativamente maior em

doentes com infeco comparados aos que no apresentaram a infeco.

O presente estudo observou que tempo de internamento foi inversamente

proporcional ao aumento do PRISM. Levando em considerao que quanto maior o

PRISM maior a probabilidade de o paciente vir a bito justifica-se a mdia de

internao das crianas que se encontram dentro do intervalo de 15 a 30 tenha sido

bem inferior em relao aos outros pacientes. Dos 16 pacientes dentro deste

intervalo, 14 (87,5%) foram a bito.

A probabilidade de bito observado foi bem superior ao esperado. Na

tabela 5 foi ilustrada a distribuio dos bitos por intervalo do PRISM.

No intervalo de 0-9 o bito esperado foi de 4,7% e o observado foi de

31%. No intervalo de 10-14 o bito esperado foi de 12,3% e o observado foi de

36,8%; no intervalo de 15-19 o esperado foi de 28,3% e o observado foi 80% e no

intervalo de 25-30 o bito esperado foi de 79,3%, porm todos os pacientes

morreram.

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Segundo Martha (2005) o PRISM o melhor escore para comparar

mortalidade esperada da observada, pois possui uma capacidade de calibrao

maior, porm ele no utiliza variveis que influenciam na evoluo clnica do

paciente como condio nutricional e reserva fisiolgica de cada indivduo.

No nosso estudo 84,8% dos pacientes foram admitidos na unidade por

insuficincia respiratria, alguns deles apresentaram gasometria dentro dos limites

da normalidade s custas dos parmetros ventilatrio elevados, com freqncia

respiratria normal (determinada pelo respirador) e demais condies clnicas

estveis. Esses pacientes apresentaram um escore baixo, embora fossem

considerados pacientes graves com risco de mortalidade elevada, pois suas

doenas de base ainda no tinham sido resolvidas e progrediram levando o paciente

ao bito. Vale ressaltar que o PRISM foi calculado dentro das primeiras vinte e

quatro horas de admisso do paciente podendo o seu valor aumentar ou diminuir no

decorrer da internao, justifica-se ento o elevado ndice de mortalidade nos

pacientes com escore baixo.

Um estudo realizado por Moreno (2005) durante 2 anos e comeado em

janeiro de 2001 na UTIP do Hospital Municipal Materno Infantil de San Isidro

"Dr.Carlos A. Gianantonio em Buenos Aires, atravs do clculo do PRISM observou

que os 209 pacientes internados apresentaram bito esperado em 31,8% das

crianas, porm 71% foram bito pela gravidade da doena.

Em relao a anlise univariada da recente pesquisa, o procedimento

invasivo que foi considerado fator de risco foi a intubao orotraqueal (p=0,001).

Infelizmente, apesar da instituio apresentar um laboratrio de microbiologia

equipado no foi possvel a confirmao de muitas infeces hospitalares.

Observou-se na unidade a predominncia de pedido de hemocultura, principalmente

de sangue perifrico, poucos pedidos de cultura de aspirado traqueal e urina. Seria

interessante a unidade estabelecer rotinas para a coleta de material e sua entrega,

muitas vezes o material ficou exposto ao ambiente por vrias horas sendo levado

posteriormente ao laboratrio.

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Na etapa final da anlise estatstica, procedeu-se a anlise de regresso

logstica dos fatores de risco identificados na fase anterior (p

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6. CONCLUSO

O trabalho concluiu que a maioria dos pacientes internados na UTIP foi de

crianas menores de 1 ano, sexo masculino, procedentes da capital. Estas variveis

no so estatisticamente significantes (p=1,000). O tempo mdio de internao foi

de 19 dias.

As patologias mais freqentes na admisso do paciente no hospital foram

s doenas respiratrias (38%), cardacas (14%) e neurolgicas (20%). A principal

indicao para o internamento na UTIP foi a insuficincia respiratria com 85%. As

complicaes por sepse ficaram em torno de 4%.

A taxa de infeco foi elevada (54,6%), comparando com a literatura.

Provavelmente a media prolongada de internao tenha sido o determinante dessa

taxa. O nmero de pacientes que apresentaram infeco correspondeu a 40,6%.

A sepse com 71,4% foi a principal infeco encontrada na unidade, 88%

foi confirmada no laboratrio e 12% associada a cateter. Todas as pneumonias

foram associadas a ventilao mecnica e a infeco urinria estava associada a

sonda vesical de demora.

Os pacientes que apresentaram infeco hospitalar tiveram mdia de

internamento de 31 dias e os pacientes que no apresentaram a infeco de 11

dias. Esta associao foi estati