Indústria, território e políticas de desenvolvimento · maciça do capital estrangeiro pudesse...

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Indústria, território e políticas de desenvolvimento Profs. Marcelo Matos e José Cassiolato Aula 4

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Indústria, território e políticasde desenvolvimento

Profs. Marcelo Matos e José Cassiolato

Aula 4

Globalização e o Local

Bibliografia• HUMBERT, M. (2005). Globalização e glocalização: problemas para países em

desenvolvimento e implicações para políticas supranacionais, nacionais e subnacionais. In:Lastres, H. M. M.; Cassiolato, J.; Arroio, A. Sistemas de inovação e desenvolvimento. Rio deJaneiro: Editora da UFRJ e Contraponto.

• LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. E., LEMOS, C., MALDONADO, J., VARGAS, M.A. (1999). Globalização e inovação localizada. In: Cassiolato, J. E., Lastres, H. M. M..Globalização e inovação localizada: experiências de sistemas locais no Mercosul .cap 1, Riode Janeiro: IBICT.

• MYTELKA, L. K. (2000). Local systems of innovation in a globalized world economy.Industry and Innovation, v.7, p. 15 - 32, june.

• SANTOS, M. (2001). Por uma outra globalização: do pensamento único à consciênciauniversal. Rio de Janeiro: Record, 2001.

• LOPEZ, A.; LUGONES, G. (1999) ‘Los sistemas locales en el escenario de la globalización’.In: Cassiolato, J. E.; Lastres, H. M. M. (org.) Globalização e inovação localizada: experiênciasde sistemas locais no Mercosul, pp. 72-108. Brasília: MCT/IBICT.

• KATZ, J. (2006). Cambio estructural y capacidad tecnológica local. Revista de la CEPAL 89,agosto, P. 59 - 73.

• FREEMAN, C. (1999). Innovation systems: city-state, national, continental and subnational. In:Cassiolato, J. E.; Lastres, H. M. M. (org.) Globalização e inovação localizada: experiências desistemas locais no Mercosul, pp. 109-167. Brasília: MCT/IBICT.

Algumas características do período recente eos discursos associados

• Produção se tornou mais intensiva em conhecimento e acompetição ‘globalizada’ e mais baseada em inovações(Mytelka, 2000)

• Novo paradigma tecnológico e globalização financeira• Investimento em capital fixo como o motor do crescimento

econômico investimento em elementos intangíveis,destacadamente o conhecimento

• “Idéia subjacente ao termo globalização é que secaminharia para um mundo sem fronteiras, com apredominância de um sistema internacional autônomo esocialmente sem raízes, onde os mercados de bens eserviços se tornam crescentemente globais” (Lastres et al,1999)

Algumas características do período recente eos discursos associados

• “Principais atores econômicos são grandes corporaçõestransnacionais que não devem lealdade a nenhum Estado-nação e que se estabelecem em qualquer parte do planeta,exclusivamente, em função de vantagens”

• “Única forma de evitar se tornar um perdedor – seja comonação, empresa ou indivíduo – é ser o mais articulado ecompetitivo possível no cenário global”

• “Abertura de fronteiras comerciais, privatização edesregulamentação, particularmente facilitando o acesso deempresas multinacionais expectativa de que a entradamaciça do capital estrangeiro pudesse acelerar a difusão dasnovas tecnologias e a integração das economias locais comum mercado global”

Lastres et al, 1999

Algumas características do período recente eos discursos associados

• “A globalização é, de certa forma, o ápice do processo deinternacionalização do mundo capitalista. Para entendê-la,como, de resto, a qualquer fase da história, há doiselementos fundamentais a levar em conta: o estado dastécnicas e o estado da política.”

• “Os fatores que contribuem para explicar a arquitetura daglobalização atual são: a unicidade da técnica, aconvergência dos momentos, a cognoscibilidade do planetae a existência de um motor único na história, representadopela mais-valia globalizada.”

Santos, 2001

Algumas características do período recente eos discursos associados

• “Tudo isso é realidade, mas também e sobretudo tendência,porque em nenhum lugar, em nenhum país, houve completainternacionalização. O que há em toda parte é uma vocação àsmais diversas combinações de vetores e formas demundialização.”

• “O mesmo sistema ideológico que justifica o processo deglobalização, ajudando a considerá-lo o único caminho histórico,acaba, também, por impor uma certa visão da crise e aceitaçãodos remédios sugeridos. Em virtude disso, todos os países,lugares e pessoas passam a se comportar, isto é, a organizar suaação, como se tal “crise” fosse a mesma para todos e como se areceita para afastá-la devesse ser geralmente a mesma.”

• “Um mercado global utilizando esse sistema de técnicasavançadas resulta nessa globalização perversa. Isso poderia serdiferente se seu uso político fosse outro.”

Santos, 2001

Algumas características do período recente eos discursos associados

• Em que dimensões se observa uma efetiva globalização?• Observa-se uma tendência à “Globalização Tecnológica”?

• “Adoção de “estratégias globais de pesquisa”, mediante aimplantação de unidades de P&D em diferentes países,estabelecimento de networks para inovação e mesmo osgrandes programas de pesquisa transnacionais cooperativos[...] são elementos considerados como constituintes doprocesso de tecnoglobalismo.”

• “deslocando os sistemas nacionais de inovação, tornandoredundante, e no limite sem efeito, qualquer tentativa porparte dos governos nacionais em promover odesenvolvimento tecnológico doméstico.”

Lastres et al, 1999

Source: WIPO - World Intellectual Property Indicators 2011

Quem se beneficia com atual sistema?

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Algumas características do período recente

• “Atividade tecnológica representa exatamente um dos casosde não-globalização:– geração de tecnologia permanece basicamente “doméstica”, no

sentido de que o essencial da P&D continua sendo desenvolvidonos países de origem das empresas;

– a colaboração internacional, por sua vez, é um fenômeno que dizrespeito essencialmente às empresas dos países desenvolvidos e,deste modo, “triadizada”;

– a exploração internacional de tecnologia, que se manifesta pelavenda direta de produtos nos mercados internacionais, na criação desubsidiárias, no depósito de patentes no exterior, no licenciamentode tecnologias etc., é a única dimensão que vem conhecendoefetivamente um processo de globalização;

– configura-se, portanto, a visão da empresa-polvo que usa seustentáculos para adquirir e explorar em cada país suas excelênciasem pesquisa, mais propriamente do que descentralizar seu cérebro.”

Lastres et al, 1999

Algumas características do período recente

• “A própria criação e disseminação do conceito de sistemasnacionais de inovação responde às teses que advogam ofinal da história e da geografia” (Lastres et al, 1999)

• Quais são os desafios / oportunidades para países e regiõesmenos desenvolvidos?

• Qual é o papel do território neste contexto?

Desafios / oportunidades para países e regiões• Glocalização: utilizar as dinâmicas globais para alimentar as

locais;– Sistema de emprego relativamente fechado, com uma aglomeração de

empresas interrelacionadas, os processos de inovação baseadosessencialmente em relações entre usuários e produtores podemflorescer, embora as limitações de tais processos locais sejam óbvias.[..] serão eficientes para inovações incrementais, para a difusão deprocessos desenvolvidos em outra parte, mas não conseguirão darorigem a processos inteiramente novos.

• “Para alcançar o objetivo de industrialização, faz-senecessária uma política governamental voltada para aglocalização da tecnologia, nos níveis nacional, subnacional esupranacional;

• Tecnologia e indústrias são globais (sistema industrialglobal)?(Humbert, 2005)

Desafios / oportunidades para países e regiões• “Países na liderança são bem conectados no sistema

industrial global e a direção da evolução do seu aparatoprodutivo é paralela àquela do sistema industrial global”

• “Na realidade, não é tão simples assim. O catching-up dospaíses asiáticos é resultado de uma dura batalha entreindivíduos, empresas e governos: o sistema industrial globalnão é um pátio de recreação; mas pode ser considerado comoum campo de jogo no qual se pode ganhar ou perder.”

• “A transferência de tecnologia e os esforços tecnológicosrealizados por multinacionais não são substitutos.”

(Humbert, 2005)

Desafios / oportunidades para países e regiões

• Capacidade sociais para a mudança técnica – industrializaçãodepende da dinâmica dos processos de aprendizadolocalizados

• “processos locais podem captar oportunidades advindas dosfluxos internacionais de conhecimento e tecnologia, desde quepreviamente tenham sido desenvolvidas as capacitaçõesbásicas necessárias para aproveitá-las.

(Humbert, 2005)

Desafios / oportunidades para países e regiões

(Humbert, 2005)

Desafios / oportunidades para países e regiões

• “Increasingly, therefore, the position of firms, regions andstates in the globalizing economy will reflect their capacity tolearn and unlearn”

• Policies will differ depending upon the knowledge base(competencies), habits and practices of the firms and thedomestic institutional and the global competitiveenvironments

• Decisiva vai ser a definição atribuída à inovação (aula 2)• “Without a firm grasp on the changing nature of competition

in globalized industries, it is no longer possible to asses thedynamics of local innovation systems or develop appropriatepolicies...”(Mytelka, 2000)

Papel do território

• Permanecem grandes assimetrias em termos da distribuiçãoespacial da capacidade de geração e de difusão de inovações

• Caráter tácito e específico de conhecimentos críticos• Processos de geração de conhecimento e de inovação são

interativos e localizados• Mecanismos específicos de aprendizado formados por um

quadro institucional local específico• “Experiência histórica, lingüística e cultural implicam

características idiossincráticas que se refletem naconfiguração institucional geral dos países. E assim, portanto,são reproduzidos na organização interna das firmas e dosmercados produtor e consumidor, no papel do setor público edo setor financeiro, na intensidade e organização dasatividades educacionais e inovativas etc.”

Lastres et al, 1999

Papel do territórioSmith (1997), apud Lastres et al (1999):• As vantagens competitivas resultam da variedade e da

especialização e que tal fato realmente apresenta efeitosindutores path-dependents.

• O conhecimento tecnológico é gerado por intermédio de umaprendizado fundamentalmente interativo, tomando, em geral, aforma de capacitações distribuídas entre os diferentes tipos deagentes econômicos que devem interagir, de alguma maneira,para que o mesmo possa ser utilizado

• O comportamento econômico repousa em instituições e “regrasdo jogo” estabelecidas legalmente ou por meio de costumes queevoluem, tendo em vista as vantagens que elas oferecem naredução da incerteza. Assim, diferentes modos de organizaçãoinstitucional levam a diferentes comportamentos e resultadoseconômicos.

Papel do território• Bianchi (1996), por exemplo, aponta mudanças nas

características e dinâmica destes arranjos locais. Destacaparticularmente que tanto as vantagens atribuídas às pequenasempresas, quanto as desvantagens das grandes tenderam ase reduzir, concluindo que os modelos anteriores de produçãotendem a convergir em um único, baseado em redes defirmas.

• Amin e Robins (1991):– Reconhecem os tempos atuais como ‘globais-locais’, com o

desenvolvimento de relações crescentemente diretas eimediatas entre estas esferas

– Diferenças nas dinâmicas espaciais, ao contrário de seremcontraditórias ou incompatíveis, refletem novas e complexasarticulações locais e globais, com diferentes combinaçõesgeográficas entre as alternativas em poder das corporações

Lastres et al, 1999

Papel do territórioTerritório como construção relacional

• Santos (2000 e 1996):– o local constitui um intermédio entre o mundo e o indivíduo, no

qual as pessoas estão ligadas pela identidade de pertencimento e poratividades úteis ao desenvolvimento econômico, social e cultural dacoletividade.

– identidade: o espaço vivido, concreto e coletivamente construído,no qual tais valores e visões são partilhados e, constantemente,socialmente construídos, é aquele da interação e troca pessoaldireta, ou seja, o ambiente local.

• Territorialidade como o exercício de poder social, político eeconômico, manifestando-se em diferentes escalasgeográficas – uma localidade, uma região ou um país - eexpressando um sentimento de pertencimento e um modode agir no âmbito de um dado território (Raffestin, 1993)

Papel do territórioTerritório como construção relacional

• Multidimensionalidade do território:– física – que diz respeito tanto a suas características e recursos

naturais (tais como clima, solo, relevo, vegetação e subsolo),quanto àquelas resultantes dos usos e práticas territoriais porparte dos grupos sociais;

– econômica – através da organização espacial dos processosde produção econômica - o que, como e quem nele produz;

– simbólica – incluindo as ligações afetivas, culturais e deidentidade do indivíduo ou grupo social com seu espaçogeográfico;

– sócio-política – meio para interações sociais e relações dedominação e poder - quem e como o domina ou influencia.

– cognitiva – referentes às condições para a geração, uso edifusão de conhecimentos.

(Raffestin, 1993; Santos, 2000)

Papel do territórioTrajetórias distintas

• “yet not all clusters become innovation systems, nor dolocal linkages always suffice in the context of globalcompetition and dynamic technological change”

• “[...] in spatial clusters, whether spontaneousagglomerations or “constructed” clusters [...] interactionitself can be minimal and learning and innovation rarephenomena. To transform both spatial and sector-basedclusters into dynamic innovation systems, the habits andpractices of actors central to the innovation process and thenature of their interaction must change.”

• “Mapping the knowledge base within a context marked bydynamic industrial change, assessing the competence ofactors within these systems [...] are thus essential inputsinto the design of innovation policies” (Mytelka, 2000)

Innovation systems succeed

Papel do território

• Há diferentes dinâmicas possíveis em Sistemas Locais deinovação (mais ou menos virtuosas)?

• Estas dinâmicas podem estar relacionadas com sua maiorou menor articulação com o território?

• Esta menor ou maior articulação com o território pode estarassociado à forma de inserção do local no global?

Papel do territórioTerritorialização, Fluxos e Coordenação

• Recursos territoriais específicos: distinto da mera localização deatividades econômicas num mesmo espaço territorial

• A territorialização é definida como um conjunto de atividadeeconômicas que é dependente de recursos específicos do pontode vista territorial

• Tais recursos, tanto podem assumir a forma de ativos territoriaisespecíficos (no sentido material), como podem traduzir tambémativos relacionais que encontram-se disponíveis a partir derelacionamentos e arranjos inter-organizacionais que envolvemnecessariamente a proximidade entre os atores envolvidos.

Papel do territórioTerritorialização, Fluxos e Coordenação

• “An activity is fully territorialized when its economicviability is rooted in assets (including practices andrelations) that are not available in many other places andcannot easily or rapidly be created or imitated in places thatlack them”

• “[...] hability of territorially bounded states and otherinstitutions to bargain with hierarchical global businessorganizations, and to shape the development process ingerenral, should rise with the territorialization of economicactivity. Territorialization thus becomes the analytical keyto the debate about the politics and economics ofglobalization”

(Storper: 1997)

Papel do territórioTerritorialização, Fluxos e Coordenação

• Fluxos crescentes no contexto de globalização– IDE– Comércio de produtos intra-industria– Cadeias Globais

Evidência de crescentes fluxos, por si, não implica na configuraçãode um sistema econômico marcado pela completadesterritorialização e substituibilidad de lugares enquanto espaçosde produção

• Coordenação e hierarquias– Territorialização é condição necessária mas não

suficiente para forte influência do poder público– Governança mais ou menos hierárquica:

• Organização das relações produtivas locais• Fluxos internacionais (Storper: 1997)

• Visão caricaturada de globalização: 3 e 4 2• Outras dinâmicas potenciais: - 3 4 1

- 2 1

Papel do territórioTerritorialização, Fluxos e Coordenação

• Quatro principais dinâmicas territoriais- organizacionais:– Abertura de relações internacionais coloca ativo locacionais

específicos anteriormente existentes em nova posição de dominaçãoglobal

– Estes ativos são desvalorizados via substituição por outros produtosque penetram mercados locais (culturalmente intermediado)

– Integração territorial permite a obtenção de significativaseconomias de escala e organização, desvaloriza ativos locaisespecíficos e leva a des-territorialização e ampla penetração nomercado

– Integração territorial é combinado com diferenciação e “des-padronização” de alguns elementos cruciais da cadeia, implicandona necessidade de reinvenção de ativos relacionais específicos doterritório

(Storper: 1997)