INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL: IMPACTOS NO MUNDO DO … · Extraído da Apresentação de Vanessa Lobato...

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INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL: IMPACTOS NO MUNDO DO TRABALHO Vívian Machado de Oliveira Rodrigues Economista e Técnica do DIEESE São Paulo, 30 de janeiro de 2018

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INDÚSTRIA 4.0 NO BRASIL:

IMPACTOS NO MUNDO DO TRABALHO

Vívian Machado de Oliveira Rodrigues Economista e Técnica do DIEESE

São Paulo, 30 de janeiro de 2018

4ª Revolução Industrial (Indústria 4.0) Projeto com foco pesquisas sobre as fábricas inteligentes, onde linha de

montagem e produtos “conversam” ao longo do processo de fabricação.

Unidades em diferentes lugares trocam informações de forma instantânea (em

tempo real) e se autocorrigem em casos de possíveis falhas.

(Alemanha – governo, universidades e empresas - 2011).

“Automatização extrema nos negócios,

governo e vida privada. Extrema

conectividade, com comunicação cada

vez mais ampla e rápida”

Sistema Cibernético de Produção Física: Componentes físicos interligados em rede e administrados por um sistema

computacional

Conectividade e interação entre os domínios físicos, digitais e biológicos

Tecnologias 4.0

BIG DATA & Analytics Dados: a matéria-prima dos negócios atuais

Machine Learning ou Aprendizado de Máquina - Habilidade dos computadores

atuais de aprender sem serem explicitamente programados. A aprendizagem automática por

meio de algoritmos, que podem aprender de seus erros e fazer previsões sobre dados. O

raciocínio é indutivo (a máquina extrai regras e padrões de grandes conjuntos de dados).

Exemplos de Uso:

- As sugestões da Netflix e de clientes dos bancos aos usuários;

- As propagandas e ofertas de produtos e serviços da Amazon e outras

companhias, via celular ou via redes sociais;

- O funcionamento dos carros autônomos;

- A detecção de fraudes eletrônicas.

• ONU - Com ou sem crise, em 2035 a taxa global de desemprego alcançará os 20% e até a metade deste século, 40% dos postos de trabalho tal como existem hoje deixarão de existir;

• Citibank (dados do Banco Mundial) - 57% dos postos poderiam ser substituídos por máquinas nos 35 países da OCDE. Pode haver redução de 30% nas equipes entre 2015 e 2025;

• Consultoria McKinsey - 50% dos atuais postos de trabalho no Brasil poderiam ser automatizados, ou 53,7 milhões de um total de 107,3 milhões. Cerca de 60% das profissões poderiam ter ao menos 30% de suas atividades automatizadas, de acordo com essa premissa.

• Redução empregos atingirá não apenas as funções mais simplificadas, mas, também, cargos administrativos são o principal alvo, depois da indústria e varejo. Ocupações que exigem qualificação e preparo, como médicos, advogados, contadores e jornalistas, por exemplo, também serão atingidos pelo processo de automatização robótica e cognitiva.

Quais as consequências dessa transformação? O emprego no mundo nos próximos anos

Onde devemos chegar?

Até 2020, haverá uma perda líquida de 5 milhões de empregos,

sendo a razão de 7,1 milhões eliminados para 2,1 milhões criados,

em decorrência de mudanças estruturais no mercado de trabalho

(Fórum Econômico Mundial de Davos, 2016).

“As recomendações do Fórum ao setor público concentram-se na revisão de

modelos de educação e treinamento, no fomento à educação continuada, na

colaboração público-privada e em novos arranjos trabalhistas, compatíveis com o

emprego a distância e com plataformas flexíveis de prestação de serviços (...)

integrar mercados regionais em tecnologias chave e de priorizar investimentos

em P&D para que o país não se torne mero consumidor de tecnologia de terceiros.”

Metro Linha Amarela SP (Concessão) trabalha sem

maquinista x empregos a menos

Caixas automáticos (self-checkouts) em rede de supermercados em

várias cidades do país trabalham sem operadores de caixas

x empregos a menos

Exemplos de inovações da indústria 4.0 no Brasil

Bancos em “plataforma” (100% Digitais) Sem backoffice – x empregos a menos

As relações de trabalho, os novos modelos de negócios e o

profissional do “futuro”

Economia de Plataforma: a “uberização” do trabalho

Uma “empresa-aplicativo” de posse de uma plataforma online mediadora, conecta

usuários “trabalhadores-microempreendedores” a usuários consumidores; dita e

administra as regras dessa conexão (custos e ganhos) e desenvolve mecanismos de

transferência de riscos e custos para uma multidão de trabalhadores autônomos.

Modelo de negócios do tipo “Peer to Peer” (P2P), que liga pessoa a pessoa diretamente.

A empresa responsável por essa inovação conta, hoje dia, com o trabalho de milhares

de motoristas pelo mundo. Contudo, ela é, também, uma das principais financiadoras

dos testes com o projeto de carro autônomo que estão sendo realizados na Europa. Ou

seja, esses trabalhadores correm risco, num futuro não tão distante, de perder essa opção de

trabalho, com a empresa-aplicativo direcionando-se diretamente aos seus consumidores.

“Gig ou Freelance Economy - a “economia sob demanda” é o ambiente ou o

mercado de trabalho que compreende, de um lado, trabalhadores temporários e sem

vínculo empregatício (freelancers, autônomos) e, de outro, empresas que contratam estes

trabalhadores independentes para serviços pontuais, ficando isentas de regras.

“Na Gig Economy não costuma haver qualquer tipo de benefício ou direito trabalhista.

Terminado o objeto do contrato ou o projeto, a relação entre empresa e empregado

chega ao fim.” (MURER, Ricardo, ESPM-SP, maio de 2016).

O trabalhador da “GIG economy”

“O trabalhador GIG trabalhará por projetos pontuais grandes ou pequenos, locais ou

remotos, de curta, média ou longa duração, isoladamente ou em times e administrará seu

tempo conforme sua capacidade de entrega, desempenho, de competência e, claro, o

desejo de gerar maiores ganhos financeiros (FRANCO, 2017).

“GIG ou Freelance Economy”: Trabalhadores temporários (ou independentes)

Fonte: Freelancers Union

Há 49 milhões de pessoas nos Estados Unidos e em cinco países da

Europa atuam por escolha própria, tendo o trabalho autônomo como sua

principal fonte de renda. Porém, incluindo-se aqueles que trabalham

sozinhos, por necessidade ou complemento de renda, chega-se a 162

milhões de pessoas (McKinsey, 2017).

Ou seja, apenas 30% exercem esses trabalhos por ”opção”.

Questões polêmicas

Conflitos já observados: Uber x Taxistas ; Alibaba x Comércio em geral ; Netflix x Locadoras de filmes

Airbnb x Hotéis ; Booking x agências de turismo

Desafios ao mercado de trabalho e à previdência social com a Uberização e a GIG

Economy: Redução da capacidade de custeio das garantias sociais convencionais;

Eleva-se o risco a que os trabalhadores ficam expostos. Apesar de parecer mais dinâmico

e, até mesmo estimulante, o ambiente de trabalho é mais precário do que o tradicional.

A ideia de uma carreira profissional retilínea e bem definida, está ficando distante da realidade, a medida em que as barreiras tecnológicas, físicas e geográficas estão ruindo.

O CASO DO SETOR BANCÁRIO

Nos últimos anos, observam-se dois movimentos nos bancos...

Em maio de 2011, o BCB apresenta um Plano de Ação para o Fortalecimento

do Ambiente Institucional, e dentre seus objetivos estão:

- definir o marco legal e regulatório sobre mobile Payment;

- fortalecer os canais de atendimento, e

- fomentar a diversificação dos serviços financeiros.

É formado um grupo de trabalho com a Anatel e o Ministério das

Comunicações para a elaboração de uma regulamentação mínima (inicial): a MP

615, posteriormente convertida em Lei.

Lei 12.865, de 09 de outubro de 2013

A Lei 12.865/13 regulamentou os Meios de Pagamentos Eletrônicos no país e

criou novos participantes do Sistemas Brasileiro de Pagamentos, dentre eles:

- Instituições de Pagamento; Arranjos de Pagamento; Moeda Eletrônica.

Na outra ponta, as transações bancárias via smartphones avançam e, em 2016, já passam de 1/3 do total, enquanto transações nas agências reduzem-se significativamente.

Fonte: Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária.

DESINTERMEDIAÇÃO BANCÁRIA

Onde os bancos estão investindo?

“automação e digitalização de processos como alavanca de eficiência operacional”

Fonte: Apresentação Institucional – Banco Bradesco (maio/2017).

Teletrabalho (home-office)

• O trabalhador recebe treinamento (como fazer com ruídos, se comportar em casa, como se programar para otimizar trabalho presencial). Há controle amplo do gestor em tempo real, ele pode interagir com tela de trabalho remotamente;

• Conexão entre o ambiente residencial e a rede corporativa por chat, voz, vídeo, conferência e compartilhamento de documentos; Estação de trabalho em casa com geolocalização aparente; Uso de biometria e ponto eletrônico.

• Quando funcionário se conecta ao sistema outras funcionalidades são travadas. Podem ser proibidos: fazer cópias ou impressão de documentos, prints da tela, uso de pen drives e acesso a redes sociais.

Obs.: Os custos de aquisição e manutenção dos equipamentos, móveis, softwares e a “banda larga” necessários ao trabalho fica todo para o profissional, na maior parte dos casos de implantação do modelo pelas empresas.

Modelos de trabalho que vem sendo adotados pelos bancos:

Agência Digital

• Perfil dos trabalhadores:

• 30% são bancários experientes vindos das agências físicas;

• 70% tem entre 18 e 25 anos

• Com pós-graduação e certificações.

• A maioria está há 2 ou 3 anos no banco apenas.

• Clientes atendidos: 200 mil (100 mil em cada andar, aproximadamente).

• Cada gerente tem uma carteira com, no máximo, 1200 clientes.

• As demandas se distribuem em 51% via mobile (Chat);

20% telefone; 29% outros canais remotos (E-mail e

Teleconferência).

São fechadas entre 3 e 5 agências para se abrir uma agência digital.

Modelos de trabalho que vem sendo adotados pelos bancos:

Outros arranjos que vem sendo adotados pelos bancos:

O Hackathon é um

evento em que

programadores de

computador e outros

profissionais como

gerente de projetos,

designers gráficos e de

interface colaboram

intensamente em

projetos de software.

BYOD: a ideia é dar liberdade ao funcionário para que ele possa usar seus próprios aparelhos e dispositivos para acessar e cuidar de questões importantes da empresa de qualquer lugar, com computadores ou smartphones que lhe convêm.

Extraído da Apresentação de Vanessa Lobato (RH - Banco Santander) no CIAB.

Inteligência Artificial “BIA”

• É um software de Inteligência Artificial que responde dúvidas dos funcionários do banco.

• 1º caso em língua não inglesa de utilização do Watson / IBM;

• Os gerentes de relacionamento das agências alimentam a BIA com 22 mil perguntas diárias; Ela responde 94% das perguntas dos funcionários das agências;

• Projeto deverá ser aplicado para atender diretamente aos clientes no futuro.

O Bancário no novo modelo

• “Cyborg” é um organismo humano com tecnologia acoplada para elevar suas capacidades. Portanto, o gerente de investimentos, por exemplo, deverá utilizar os algoritmos de “Robo Advisor” (robô - consultor financeiro) para recomendar investimentos e adicionar a dimensão humana ao atendimento.

Emprego Bancário: “nova” reestruturação Número de Bancários no Brasil de 1990 a 2016

Fonte: RAIS – Ministério do Trabalho e Emprego Elaboração: Rede Bancários/DIEESE

732

680 632

655

571 559

483 447 426

393 402 393 398 399 405 420 422 446 459 462

483 497 513 512 512 504 486

-

100

200

300

400

500

600

700

800

199019911992199319941995199619971998199920002001200220032004200520062007200820092010201120122013201420152016

-46,3%

+27,4% -5,3%

Observa-se que o número de bancários em 2016, praticamente, retornou ao que era em 1996.

Primeira Reestruturação nos bancos brasileiros Crescimento do setor com maior

Crédito/PIB e maior bancarização

Saldo de emprego nos bancos desde 2012

2012 2013 2014 2015 2016 2017 Total

Bancos Comerciais -121 77 -183 -81 28 -131 -411

Bancos Múltiplos, com Carteira

Comercial -4.090 -10.109 -7.275 -7.248 -18.434 -10.534 -57.690

Caixas Econômicas 7.458 5.486 2.600 -2.497 -2.108 -6.995 3.944

Bancos Múltiplos, sem Carteira

Comercial 243 281 -115 -23 9 -249 146

Bancos de Investimento

-12 -64 -31 -37 -48 4 -188

Total 3.478 -4.329 -5.004 -9.886 -20.553 -17.905 -54.199

Nota: Saldo do emprego bancário por CNAE (Classificação Nacional de. Atividades Econômicas) Fonte: CAGED – Ministério do Trabalho Elaboração: Rede Bancários/DIEESE

- Entre jan/2013 e dez/2017, foram eliminados 57.677 postos de trabalho no setor bancário do país.

Reestruturação Pesada nos Bancos

Itaú Unibanco Março / 2014: 3.914 agências físicas / 2 agências digitais; Setembro / 2017: 3.523 agências físicas / 156 agências digitais. 391 agências físicas fechadas e 154 agências digitais abertas. Banco do Brasil Dezembro / 2014: 5.524 agências; Setembro / 2017: 4.871 agências. 653 agências fechadas. Banco Bradesco Junho / 2016: 4.483 agências; Setembro / 2016: 5.337 agências - aquisição do HSBC (+864 ag.); Setembro / 2017: 4.845 agências 492 agências fechadas.

Total: - 1.536 agências

No site do BCB, entre 30.12.2016 e 30.12.2017,

foram fechadas 1.590 agências bancárias no país

Bitcoin - moeda digital e sistema de pagamento baseado em protocolos de internet e código aberto, criada em 2009. Traz embutido o registro de todas as transações feitas na rede com aquela moeda (blockchain); Sem banco central ou entidade reguladora que controle sua cotação. As transações são validadas por milhões de usuários da rede P2P no mundo. Primeira emissão descentralizada de moeda na história econômica contemporânea.

Estima-se que, em menos de 10 anos, 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial deverão ser transacionados em moedas digitais.

Onde devemos chegar? BITCOIN – Moeda Digital e a Contabilidade Distribuída

Tendências com alto poder de impacto no mundo do trabalho nos bancos

1) Redução de bancários com funções transacionais dos bancos (caixas,

principalmente) e as tecnologias em processos internos dos bancos

tendem a reduzir, também, as funções de backoffice (apoio);

3) O conteúdo do trabalho bancário se altera muito;

4) Fintechs e “uberização” dos serviços financeiros aceleram as mudanças;

5) Há maior controle e cobrança sobre o trabalho;

6) Significativos impactos para organização sindical

“Novo Sistema Financeiro será baseado na substituição de prédios e seres humanos por servidores e algoritmos, que são bem mais baratos” (Chris Skinner - Autor do Livro “Digital Bank”)

Serviços Financeiros

Bancos (“Empresa-Aplicativo”)

Clientes

Clientes

Seria esse o formato da Uberização nos Serviços Financeiros???

Como será a questão do emprego em uma era de robôs inteligentes e pontos automatizados de serviços?

O emprego na nova era industrial

Muito obrigada!

Vívian Machado de Oliveira Rodrigues

Contato: [email protected]