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ÍNDICE
1 – Introdução
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2 – Clorinda Matto de Turner: a jornalista e a
romancista 08
2.1 – A guerra do Pacífico
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2.2 – Influências
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3 – Indigenista ou Indianista
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3.1 – Aves sin nido – eterna polêmica
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4 – O olhar do outro
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4.1 – O índio no romance Aves sin nido
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4.2 – Juan Yupanqui
64
2
4.3 – Isidro Champi
71
5 – O papel da mulher no romance Aves sin nido
75
5.1 – Lucía
83
5.2 – Marcela
95
5.3 – Martina
100
5.4 – Margarita
105
6 – Conclusão
112
7 – Bibliografia
116
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1 – INTRODUÇÃO
Yo soy
el coraquenque ciego
que
mira por la lente de una llaga,
y que
atado está al Globo,
como a
un
huaco
estupen
do que
girara.
Yo soy
el
llama,
a quien
tan sólo
alcanza
la
necedad hostil a trasquilar
volutas
de clarín,
volutas
de clarín brillantes de asco
y
bronceadas de un viejo yaraví.
Soy el
pichón
de
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cóndor
desplu
mado
por
latino arcabuz:
y a flor
de
humani
dad
floto en
los
Andes,
como
un perenne Lázaro de luz.
Yo soy
la gracia incaica que se roe
en
áureos coricanchas bautizados
de
fosfatos de error y de cicuta.
A
veces
en mis
piedras
se
encabri
tan
los
nervios
rotos
de un
extinto
puma.
Un
fermento de
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Sol;
¡levadura de sombra y corazón!
César Vallejo
Em relação ao romance Aves sin nido,
mobilizou-nos problematizar duas de suas
questões principais: a maneira pelo qual é
apresentado o indígena e a mulher em pleno
século XIX, no Peru, e como será formada essa
aliança entre duas camadas que, à primeira vista,
podem ser diferentes, mas que guardam o mesmo
papel de inferior dentro dessa escala patriarcal e
colonizada.
Na primeira metade do século XIX, há
grandes projetos sociais para a população
indígena, mas só ficam no papel, pois na prática
não serão realizados, ao passo que para a mulher
letrada peruana, há boas oportunidades, se
contarmos com o fato de poderem estudar e
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participar da vida pública. Mas é bom esclarecer
que apenas a camada letrada tem acesso a essas
oportunidades. Assim como os indígenas, o povo
(principalmente o habitante das serras) não tem
acesso à mesma educação encontrada na capital,
Lima.
Apesar da suposta diversidade entre
indígenas e mulheres de camadas sociais
diferentes, pretendemos mostrar essa convivência
entre seres heterogêneos, mas que se permitiram
uma convivência em prol de uma mesma causa: a
tentativa de libertar o indígena de uma tríade
inimiga, apresentada no romance em questão,
formada pelo governador, pela igreja e pelo juiz.
A presente dissertação divide-se em quatro
capítulos. No primeiro, apresentamos a autora
Clorinda Matto de Turner e o seu trabalho como
jornalista e romancista, mostrando o seu perfil em
uma sociedade na qual a grande voz ainda era a
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masculina, cabendo à mulher apenas um papel
doméstico: sair desse círculo significava um
desafio e um confronto com o outro, ou seja,
aqueles que ainda tratavam a mulher como mero
adorno, desprovido de voz. Sair dessa
marginalidade social era uma grande tarefa para
as escritoras de então, principalmente para
Clorinda, alvo de discussões e controvérsias, não
só durante a sua vida como depois de sua morte.
Ainda nesse capítulo, apresentamos o significado
da Guerra do Pacífico na vida dos peruanos nesse
século tão conflituoso como foi o XIX, e de como
essa mesma guerra influenciou os escritores da
época em busca de uma literatura que retratasse as
verdadeiras mazelas do País.
Mais adiante, mostraremos algumas
influências decisivas na vida de Clorinda Matto,
como, por exemplo, a de Ricardo Palma, criador
das Tradiciones peruanas, escritas ao longo de
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mais de quarenta anos. Tendo vivido em plena
época do Romantismo, não ficou, entretanto,
ligado a essa estética, conforme atesta Bella
Jozef:
Logo superou este movimento
literário, encontrando um caminho
próprio e original. O que tem de
romântico é a escolha do passado
como tema - no caso a Colônia e sua
alma barroca - e a aparição do
elemento popular nos tipos humanos
e na linguagem. Mas a realização é a
de um "costumbrista" já próximo do
realismo do século XIX, que critica
e satiriza. Não é uma evocação
romântica. (JOZEF, 1971, p. 80-81)
Ricardo Palma, por meio de suas
Tradiciones, aborda temas retirados de todas as
épocas da história do Peru e assim influencia os
primeiros escritos de Clorinda. Manuel González
Prada, posteriormente, será outra dessas
influências na vida de escritora de Clorinda, pois
foi um homem muito polêmico por suas idéias
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antiditatoriais, anticlericais e antioligárquicas,
acentuadas com a derrota na Guerra do Pacífico.
Para Prada essa derrota só aconteceu devido à
falta de unidade de sentimento nacional, uma vez
que, segundo sua descrição, o exército peruano
era formado por uma multidão de índios
indisciplinados, e sem liberdade, não se podendo,
portanto, esperar dele melhores resultados: “Si del
indio hicimos un siervo ¿qué patria defenderá?
Como el siervo de la Edad Media, sólo combatirá
por el señor feudal” (MAZZOTTI, 1991, p.369).
Aliado a essa problemática, o seu interesse por
um Peru marginal faz com que comece a realizar
breves excursões ao campo e às pequenas cidades
próximas a Lima. Nesse tempo teve oportunidade
de conhecer um povo humilde, constatando as
suas privações e necessidades, assim como
visualizou a péssima condição de vida do índio.
Visitou vários lugares, colocando-se, pois, em
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contato com uma outra realidade: viu como os
trabalhadores de minas eram explorados, ouviu
suas queixas, assistiu às suas mortes. O contraste
que então vivencia entre esses dois Perus influi
ainda mais em seu espírito questionador e
insatisfeito. E é justamente esse espírito que
visualizamos na obra de Clorinda, e, embora não
discutamos o fato de haver entre eles algumas
diferenças, na essência, o trabalho, como o de
querer uma outra realidade social para o seu país,
é o mesmo. A grande diferença entre os dois está
relacionada ao discurso, sendo o de Manuel Prada
sempre mais inflamado que o de Clorinda nas
suas propostas para um novo país.
Após destacarmos o importante papel de
Clorinda Matto como jornalista e romancista,
referindo-nos às influências de Ricardo Palma e
Manuel González em sua escritura, no segundo
capítulo propomos um estudo de dois conceitos
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que permeiam a obra em estudo, base de análise
do tema dessa dissertação - os conceitos sobre
indianismo e indigenismo - valendo-nos das
palavras de críticos e teóricos preocupados com
tal questão, entre os quais destaca-se o peruano
José Carlos Mariátegui (já entrado o século XX).
A ele, inclusive, deve-se a criação do Partido
Socialista, em 1928, como um partido múltiplo e
plural, além da criação da revista Amauta, que
também dirigiu.
Apesar de Mariátegui defender uma
proposta de socialismo que atendesse à realidade
concreta peruana, feita de uma grande maioria
indígena, não se ateve apenas ao problema desse
povo, pois, além disso, interessavam-lhe também
a organização dos operários, dos mineiros e do
resto de movimentos sociais emergentes na época.
Mariátegui pensou um socialismo diferente,
porque não analisou a realidade peruana seguindo
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caminhos já traçados na Europa. Pensava em uma
integralidade sem oposições, incentivando o
desenvolvimento de cada cultura, possibilitando-
se, dessa maneira, a adoção do melhor de cada
uma delas pelas demais. Deve-se a ele, inclusive,
a associação entre o problema indígena e a
questão econômica, se bem que, anteriormente a
esse crítico, Manuel González Prada, já no século
XIX, afirmava que tal discussão exigiria uma
abordagem econômico-social:
Nada cambia más pronto ni más
radicalmente la psicología del
hombra que la propiedad: al sacudir
la esclavitud del vientre, crece en
cien palmos. Con sólo adquirir algo,
el individuo asciende algunos
peldaños en la escala social, porque
las clases se reducen a grupos
clasificados por el monte de la
riqueza. A la inversa del globo
aerostático, sube más el que más
pesa. Al que diga: la escuela
respóndasele: la escuela y el pan.
La cuestión del indio, más que
pedagógica es económica, es social.
(GONZÁLEZ PRADA, 1956, p.65)
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Ainda dentro desse contexto de definições,
não podemos deixar de falar sobre o processo
heterogêneo que envolve a literatura latino-
americana, como bem disse Antonio Cornejo
Polar:
(...) a definição do indigenismo
como literatura heterogênea aponta,
principalmente, para a evidência de
que se trata de uma produção
discursivo-imaginária sobreposta
entre dois universos socioculturais
diversos - e mesmo opostos e
beligerantes, quando se incorpora a
dado histórico da conquista e à
subseqüente dominação de um deles
sobre o outro. (CORNEJO POLAR,
2000, p. 195)
Discutida essa parte, situamos o romance à
luz dessas teorias e o porquê do livro Aves sin
nido ser tão polêmico desde a sua publicação.
No terceiro capítulo, trabalhamos o olhar
do outro desde a Conquista espanhola na América
(com a chegada de Cristóvão Colombo) e a forma
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pela qual esses conquistadores interpuseram seu
estilo de vida no Novo Continente, até entrado o
século XIX, época do romance citado. Mostramos
a ocorrência desde os tempos coloniais, de uma
política excludente, exemplificada pela divisão da
população e pelo implante da República de
Indios, comprovadora da profunda desigualdade
existente naquela sociedade e da indiferença
dispensada aos povos conquistados. Aliado a tal
situação temos o papel dos padres dentro dessa
política desigual e o surgimento de algumas leis
cujo objetivo era aliviar o sofrimento da raça
indígena, apesar de não ignorarmos que a Igreja
almejava, também, com isso, a conversão do
indígena ao catolicismo. No mesmo capítulo,
tratamos do perfil desse indígena no romance
Aves sin nido, evidenciando a sua ingenuidade
diante das palavras e intenções daqueles que
mantinham o poder, além de abordarmos o quanto
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eram eles explorados pelas instituições que
deveriam pregar a justiça - a Igreja, o sistema
jurídico, o cobrador de impostos.
Ainda no mesmo capítulo, representando a
sua classe, tratamos de dois personagens
indígenas - Juan Yupanqui e Isidro Champi - e
dos abusos cometidos contra eles e suas
respectivas famílias.
No quarto capítulo, o tema é um
personagem também considerado outro, assim
como os indígenas: a mulher. Trabalhamos o
discurso dos personagens femininos que
constituem a obra, introduzidos pela autora no
desenrolar da narrativa, pois elas se sobressaem e
criam voz por serem as responsáveis pelo
desenvolvimento de todas as ações.
Vemos a voz dessas mulheres suplantar o
sofrimento que as cerca, ponto de partida para um