Índice - estudogeral.sib.uc.pt · no sistema cardiovascular. Aborda-se o risco de desenvolver...

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  • 2

    ndice

    ndice............................................................................................................................................... 2

    Abstract ........................................................................................................................................... 4

    Keywords .................................................................................................................................... 4

    Resumo ........................................................................................................................................... 5

    Palavras-Chave ............................................................................................................................ 5

    Abreviaturas .................................................................................................................................... 6

    Introduo ....................................................................................................................................... 8

    Materiais e Mtodos ...................................................................................................................... 11

    Discusso ...................................................................................................................................... 12

    1. O Incio da Teraputica Hormonal de Substituio. A Womens Health Initiative .......... 12

    2. Eventos Cardiovasculares .................................................................................................. 16

    a. Estudos e Subanlises da Womens Health Initiative .................................................... 16

    b. Estudos de Preveno Primria ...................................................................................... 19

    c. Estudos de Preveno Secundria .................................................................................. 26

    d. Outros estudos ................................................................................................................ 29

    e. Formulaes de THS e Eventos Cardiovasculares ......................................................... 32

    3. Fatores de Risco Cardiovascular ........................................................................................ 41

    a. Tenso Arterial ............................................................................................................... 41

    b. Lpidos ............................................................................................................................ 44

  • 3

    c. Peso/IMC ........................................................................................................................ 47

    d. Aterosclerose .................................................................................................................. 47

    4. Outros aspetos relevantes ................................................................................................... 51

    a. O impacto da THS em outros rgos e sistemas ............................................................ 51

    b. Relao das recomendaes clnicas atuais com a evidncia ........................................ 53

    Concluso ...................................................................................................................................... 55

    Agradecimentos ............................................................................................................................ 57

    Referncias .................................................................................................................................... 58

  • 4

    Abstract

    Menopause is a consequence of permanent ovarian failure, with symptoms occurring in most

    women. Considering womens current life span, it is expected that many women will live a few

    decades in postmenopause, thus making it essential to provide good quality of life in those years.

    Hormone replacement therapy is the most effective treatment for vasomotor menopausal

    symptoms that occur in an acute phase. Chronically, bone and cardiovascular complications occur;

    the role of hormone therapy regarding these complications has been somewhat controversial since

    the Womens Health Initiative trials publication. Indeed, hormone replacement therapy can affect

    virtually any organ or system, with potential adverse effects for its users. The cardiovascular

    system is considered, simultaneously, one of the main harmed systems by hormone therapy and

    one of the most likely to benefit from it. Cerebro-cardiovascular disease is the main cause of death

    in Portugal. This review focuses on recent data regarding the relationship between postmenopausal

    hormone therapy and the cardiovascular system. Studies addressing vascular events, as well as

    known risk factors for cardiovascular disease are presented. There is an additional focus on the

    role of different hormone therapy formulations. The complexity and need for individualized

    treatment decisions in order to maximize benefit and reduce harm make the comprehension of this

    subject of crucial importance to the General Practitioner.

    Keywords: Hormone Replacement Therapy, Estrogen Replacement Therapy, Menopause,

    Cardiovascular Diseases, General Practitioners, Review.

  • 5

    Resumo

    A menopausa ocorre como consequncia da falncia ovrica definitiva, provocando sintomas

    na maioria das mulheres. Tendo em conta a esperana de vida atual, muitas mulheres vivero

    algumas dcadas aps a menopausa, sendo da maior importncia garantir qualidade de vida neste

    perodo. A teraputica hormonal de substituio a forma mais eficaz de combater os sintomas

    vasomotores da menopausa, que surgem numa fase aguda. Na fase crnica surgem complicaes

    de natureza ssea e cardiovascular; o perfil risco-benefcio da teraputica hormonal de substituio

    em relao s consequncias crnicas da menopausa tem sido alvo de controvrsia desde os

    estudos da Womens Health Initiative. A teraputica hormonal de substituio pode ter impacto

    em virtualmente qualquer rgo e sistema, com potenciais efeitos adversos para as suas

    utilizadoras. O sistema cardiovascular tido, simultaneamente, como um dos mais afetados e um

    dos mais passveis de beneficiar de teraputica hormonal de substituio. A principal causa de

    morte em Portugal a doena crebro-cardiovascular. Na presente reviso enumeram-se estudos

    recentes dedicados relao entre a utilizao de teraputica hormonal de substituio e o impacto

    no sistema cardiovascular. Aborda-se o risco de desenvolver eventos vasculares, bem como o

    impacto sobre fatores de risco cardiovascular conhecidos, com um foco adicional sobre o papel de

    diferentes formulaes teraputicas. A complexidade dos efeitos potenciais da teraputica

    hormonal de substituio e a necessidade de um tratamento individualizado, para maximizar

    benefcios e diminuir riscos, tornam a compreenso deste assunto por parte do especialista de

    Medicina Geral e Familiar crucial.

    Palavras-Chave: Teraputica Hormonal de Substituio, Teraputica Estrognica de

    Substituio, Menopausa, Doenas Cardiovasculares, Medicina Geral e Familiar, Reviso.

  • 6

    Abreviaturas

    - ACOG: American College of Obstetricians and Gynecologists

    - AVC: Acidente Vascular Cerebral

    - CAC: Clcio das Artrias Coronrias

    - CIMT: Espessura da ntima Mdia Carotdea

    - DOPS: Estudo Dinamarqus de Preveno da Osteoporose

    - E3N: tude Epidemiologique de lEducation Nationale

    - EAM: Enfarte Agudo do Miocrdio

    - EEC: Estrognios Equinos Conjugados

    - ESTHER: Estrogen and Thromboembolism Risk Study

    - EVTET: Estudo Estrognios em Tromboembolismo

    - FDA: Food and Drug Administration

    - GPRD: General Practice Research Database

    - GUSTO-III: Global Use of Strategies to Open Occluded Coronary Arteries III

    - HR: Hazard Ratio

    - HTA: Hipertenso Arterial

    - KEEPS: Kronos Early Estrogen Prevention Study

    - MEGA: Multiple Environmental and Genetic Assessement of Risk Factors for Venous

    Thrombosis

    - MPA: Acetato de Medroxiprogesterona

    - MWS: Million Women Study

    - NAMS: North American Menopause Society

    - OR: Odds Ratio

  • 7

    - RCTs: Estudos Controlados e Randomizados

    - TA: Tenso Arterial

    - TC: Tomografia Computorizada

    - THS: Teraputica Hormonal de Substituio

    - TVP: Trombose Venosa Profunda

    - VTE: Tromboembolismo Venoso

    - WHI: Womens Health Initiative

    - WHI-OS: Estudo Observacional da Womens Health Initiative

  • 8

    Introduo

    O termo menopausa corresponde ltima menstruao de uma mulher, confirmada aps

    12 meses sucessivos de amenorreia e correspondendo cessao definitiva da atividade folicular

    ovrica. Para a maioria das mulheres dos pases ocidentais a menopausa ocorre entre os 45 e os 55

    anos de idade. A reduo dos nveis de hormonas ovricas provoca o aparecimento de alteraes

    fsicas e psquicas, conhecidas como sndrome de climatrio. A falncia ovrica divide-se, assim,

    em acontecimentos classificados em agudos, intermdios e crnicos (1). Numa fase aguda so

    comuns afrontamentos, suores noturnos, insnia, ansiedade/irritabilidade, alteraes da memria

    e perturbaes da concentrao. Os sintomas vasomotores so o sintoma clssico associado

    menopausa, afetando 70 a 80% das mulheres (1). Numa fase intermdia surgem alteraes do trato

    urogenital e do tecido conjuntivo. As consequncias crnicas so do foro cardiovascular e sseo,

    nomeadamente com o aparecimento de osteoporose e de doena cardiovascular. A teraputica

    hormonal de substituio (THS) surgiu na dcada de 70 do sculo XX com o objetivo de combater

    as consequncias indesejveis da falncia ovrica definitiva. Este tipo de teraputica composto

    por estrognios e/ou progestagnios. Os estrognios tm como funo suprimir os sintomas

    derivados da falncia ovrica. Os progestagnios transformam o endomtrio estimulado por

    estrognios numa fase secretora, protegendo-o de alteraes que poderiam culminar em carcinoma

    do endomtrio. Os estrognios podem ser naturais ou sintticos e, dentro dos naturais, humanos,

    steres ou equinos conjugados. A maioria das formulaes utilizadas em pases europeus so

    humanos ou steres, enquanto que nos Estados Unidos h preferncia pelos estrognios equinos

    conjugados (EEC). A maioria dos progestagnios utilizados em THS so derivados da

    progesterona natural ou da testosterona. Consoante o tipo de progestagnio, h interaes com

    vrios tipos de recetores esteroides, o que implica aes e consequncias diferentes para cada um.

  • 9

    A administrao de THS pode ser feita por vrias vias. A via oral , ainda, a mais utilizada. No

    entanto, h um interesse crescente nas formulaes transdrmicas, por evitarem o efeito de

    primeira passagem no fgado.

    A THS a forma mais eficaz de tratar com sucesso os sintomas vasomotores da menopausa.

    Adicionalmente, desde os primrdios da sua utilizao que tambm se pretendeu avaliar o sucesso

    desta forma de teraputica nas consequncias mais tardias da menopausa. Os efeitos benficos da

    THS sobre o desenvolvimento de osteoporose e fraturas osteoporticas relativamente consensual

    desde h vrios anos; no entanto, a relao da THS com a doena cardiovascular tem sido alvo de

    muita controvrsia, mesmo entre os peritos. De facto, surgiu a ideia, aparentemente paradoxal, de

    que a THS agravaria, em vez de melhorar, a doena cardiovascular. O facto de as hormonas

    esteroides terem efeitos em quase todos os rgos e sistemas, no se limitando ao trato urogenital,

    torna a questo dos efeitos adversos da THS um problema complexo e abrangente. Existe muita

    investigao clnica dedicada relao de THS com doena e risco cardiovascular, cancro,

    osteoporose, alteraes do sono, depresso e demncia, entre outros. A abundncia de literatura

    cientfica torna til e necessria a reviso dos achados mais recentes relativos aos efeitos da THS

    sobre diferentes rgos e sistemas. O Mdico de Famlia surge, assim, como um dos especialistas

    mais aptos a lidar com a problemtica da THS na ps-menopausa. Tal est justificado pela

    complexidade, abrangncia e natureza multidisciplinar desta questo, as particularidades da

    relao mdico-doente em Medicina Geral e Familiar (MGF), com a viso do indivduo como um

    todo e um conhecimento mais aprofundado das morbilidades de cada doente. A atual esperana

    mdia de vida e ligeira preponderncia do sexo feminino na populao portuguesa implica um

    grande nmero de mulheres que, em teoria, pode viver cerca de 30 anos aps a menopausa. A

    gesto adequada da sade neste perodo da vida das mulheres, do ponto de vista da atenuao dos

  • 10

    efeitos da falncia ovrica nas mulheres mais afetadas por sintomas, bem como a minimizao do

    risco de outras patologias, tornam a menopausa e a THS um problema importante em sade. As

    doenas do aparelho circulatrio so responsveis por 30.4% das mortes em Portugal, consistindo

    na primeira causa de morte no pas; as doenas cerebrovasculares afetam principalmente as

    mulheres, com maior expresso nas idades avanadas (2). Pela incapacidade de abordar a relao

    da THS com todos os rgos e sistemas que pode afetar com o grau de profundidade adequado a

    um artigo de reviso, escolheu-se focar o presente trabalho na relao de THS com doena

    cardiovascular. Sintetizam-se os principais achados de investigao clnica que relacionam THS

    com eventos cardiovasculares e alguns fatores de risco conhecidos para doena cardiovascular,

    com um foco adicional nas formulaes utilizadas. Pretende-se, com esta reviso, facilitar a

    compreenso de um assunto complexo, muito explorado na literatura e em constante atualizao,

    de forma a auxiliar o especialista de MGF a tomar decises e educar as utentes em relao THS.

  • 11

    Materiais e Mtodos

    Foi utilizada a base de dados da PubMed (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed) para a

    pesquisa de artigos relevantes. Foram privilegiados estudos mais recentes, especificamente dos

    ltimos 10 anos, mas incluram-se alguns mais antigos por uma questo de enquadramento

    histrico e/ou relevncia. Pesquisaram-se artigos em lngua inglesa e portuguesa, com estudos

    realizados em humanos. Utilizaram-se combinaes dos seguintes termos: menopause,

    menopausal, postmenopause, postmenopausal, hormone therapy, estrogen therapy, hormone

    replacement, hormone replacement therapy. Foram eliminados estudos duplicados. A seleo de

    artigos foi feita, sequencialmente, com base no ttulo, abstract e texto integral.

  • 12

    Discusso

    1. O Incio da Teraputica Hormonal de Substituio. A Womens Health Initiative

    A grande popularidade da THS surgiu juntamente com as primeiras evidncias dos seus

    efeitos benficos; a aprovao pela Food and Drug Administration (FDA) de THS para a

    preveno de fraturas osteoporticas e vrios estudos demonstrando efeitos benficos sobre doena

    coronria, doenas neurodegenerativas e mortalidade global, foram os principais impulsionadores

    desta popularidade. Por outro lado, a ausncia de evidncia ou resultados inconsistentes sobre

    eventuais efeitos nefastos da THS no ameaaram o seu uso disseminado em mulheres ps-

    menopusicas durante muitos anos. O desejo de aprovar esta teraputica para a preveno de

    doena coronria levou ao desenvolvimento de alguns estudos controlados e randomizados

    (RCTs), dos quais o produzido pela Womens Health Initiative (WHI) foi um dos primeiros e,

    provavelmente, o mais relevante na mudana radical de paradigma de prescrio e utilizao de

    THS no mundo.

    A WHI consistiu num estudo multicntrico, randomizado, controlado e duplamente cego,

    de grandes dimenses, dividido em dois braos. O principal objetivo era avaliar outcomes a longo

    prazo: doena coronria (incluindo enfarte do miocrdio no fatal e morte por doena coronria),

    cancro da mama invasivo, acidente vascular cerebral (AVC), embolismo pulmonar, cancro

    colorretal, fratura da anca e morte por outras causas; a combinao destes outcomes foi sintetizada

    num ndice global de sade e utilizada em ambos os estudos. Os dois braos do estudo utilizaram

    THS diferente: EEC isolados no grupo de mulheres histerectomizadas (3) e associado a acetato de

    medroxiprogesterona (MPA) nas mulheres com tero (4), de forma a evitar a proliferao de

    clulas endometriais causadas pelo estrognio isolado; cada um destes grupos foi emparelhado

    com outro de placebo.

  • 13

    Os resultados do grupo de tratamento combinado vs placebo demonstraram um aumento do

    risco absoluto de tromboembolismo venoso (VTE), eventos coronrios, AVC e cancro da mama,

    levando terminao antecipada do estudo aps menos de 6 anos do seu incio (3). No grupo de

    tratamento com estrognios isolados no foram evidenciados efeitos cardioprotetores em termos

    de enfarte agudo do miocrdio, doena coronria ou mortalidade global; demonstrou-se, ainda, um

    risco aumentado de AVC e VTE e um risco diminudo de fratura da cabea do fmur e de

    diagnstico de cancro da mama (4). semelhana do grupo de THS combinada, tambm neste

    grupo se terminou antecipadamente a interveno.

    A terminao antecipada de ambos os braos de estudo da WHI e a publicao dos seus

    resultados tiveram um grande impacto na popularidade da THS. A ideia de que esta teraputica

    no s no conferia a proteo inicialmente esperada e de que, adicionalmente, podia ser perigosa,

    foi amplamente divulgada pela prpria WHI, por instituies estadunidenses dedicadas

    investigao em sade e pelos media (5). Os achados do estudo no foram amplamente explicados

    ao pblico, nem as suas limitaes evidenciadas, levando cessao abrupta do tratamento por

    parte de muitas mulheres e a uma diminuio notvel da prescrio de THS. As figuras 1 e 2

    mostram os resultados publicados pela WHI de risco absoluto nos braos de THS combinada e

    estrognios isolados, respetivamente (6).

  • 14

    Figura 1: Risco Absoluto por Idade, WHI com THS combinada. Adaptado de (6)

    Figura 2: Risco Absoluto por Idade, WHI com Estrognios Isolados. Adaptado de (6)

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    50 - 59 anos 60 - 69 anos 70 - 79 anos

    Nmero de eventos: THS combinada vs Placebo

    (por 10 000 mulheres/ano)

    Doena coronria Cancro da Mama AVC VTE

    -15

    -10

    -5

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    50 - 59 anos 60- 69 anos 70 - 79 anos

    Nmero de eventos: Estrognios Isolados vs Placebo

    (por 10 000 mulheres/ano)

    Doena Coronria Cancro da Mama AVC VTE

  • 15

    Desde a publicao dos resultados iniciais da WHI, vrias reinterpretaes e crticas foram

    feitas aos estudos. A existncia de sintomas vasomotores significativos constituiu um critrio de

    excluso de grande parte das potenciais participantes em ambos os braos do estudo; foi

    administrada THS s mulheres nos grupos de tratamento independentemente da presena de

    sintomas relacionados com deficincia hormonal. A idade tambm foi um elemento criticado:

    foram estudadas e tratadas mulheres com uma mdia de 63.3 anos, distribudas entre os 50 e os 79

    anos de idade, e em mdia cerca de 12 anos aps a menopausa (6). Anlises subsequentes da WHI

    evidenciaram que alguns dos efeitos nefastos publicados podiam estar relacionados com o grande

    nmero de participantes cuja menopausa no era recente e com idade mais avanada. Estudos

    posteriores focaram-se nos efeitos em mulheres com menopausa mais recente e mais jovens, tendo

    chegado a concluses, em relao a muitos aspetos, distintas das publicadas inicialmente pela WHI

    e consideravelmente menos preocupantes. A figura 3 mostra o risco de eventos avaliados pela

    WHI aps descontinuao de THS (6). Ainda assim os estudos da WHI, aps mais de 10 anos da

    sua publicao, ainda parecem exercer alguma influncia sobre os estudos dedicados THS.

    Figura 3: Risco de Eventos Aps Descontinuao de THS. Adaptado de (6)

    0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1.0

    1.2

    1.4

    1.6

    Doena

    Coronria

    Cancro da

    Mama

    AVC Trombose

    Venosa

    Profunda

    Fratura da

    Anca

    Mortalidade

    total

    Taxa Anual de Eventos: THS prvia vs Placebo

    THS prvia Placebo

  • 16

    2. Eventos Cardiovasculares

    a. Estudos e Subanlises da Womens Health Initiative

    Dados de follow-up da prpria WHI ou de outros autores em relao mesma populao

    evidenciaram diferenas de resposta THS em mulheres de grupos etrios distintos e com mais

    ou menos tempo passado desde a menopausa.

    Os resultados iniciais da WHI e algumas anlises posteriores da mesma populao

    demonstraram, em relao a eventos cardiovasculares no grupo de THS combinada, um aumento

    do risco absoluto por idade de VTE, AVC e eventos coronrios; no grupo de THS com estrognios

    isolados no se demonstrou qualquer efeito protetor contra enfarte agudo do miocrdio, doena

    coronria ou mortalidade global, e demonstrou-se um risco aumentado de AVC isqumico em

    todos os grupos etrios e de VTE. O risco de VTE parecia ser mais elevado nos 2 primeiros anos

    de utilizao de THS, semelhana do demonstrado no Nurses Health Study (aumento de risco

    cardiovascular no primeiro ano de THS (7)), mas com um risco global menor do que no grupo de

    THS combinada. Esboou-se um risco diminudo de doena coronria nas mulheres dos 50 - 59

    anos deste segundo grupo que, no entanto, no atingiu significado estatstico (6). Assim, concluiu-

    se que poderia haver um benefcio em termos de risco cardiovascular, mas que o risco de

    tromboembolismo e AVC aumentaria com a idade (8). Um estudo subsequente feito pela prpria

    WHI, o estudo observacional da WHI (WHI-OS) mostrou que o risco de eventos vasculares

    baixo quando se inicia THS nos primeiros 5 anos aps a menopausa, mas que aumenta com o

    tempo, at 10 vezes, quando esta comeada 20 anos depois (9); uma meta-anlise de 39 estudos

    em mais de 39 000 mulheres extraiu concluses semelhantes (10). A combinao dos dados da

    fase de interveno e de follow-up da populao da WHI ao fim de 10 e 13 anos mostrou, no grupo

    de THS com estrognio, hazard ratios diminudos para doena coronria e enfarte do miocrdio

  • 17

    no grupo de 50-59 anos (11), e no grupo de THS combinada uma ausncia de aumento de doena

    coronria global em todos os grupos etrios, ao contrrio do inicialmente publicado; alis, no grupo

    de mulheres mais jovens (50-59 anos) este efeito verificou-se tambm para o risco de AVC, que

    tambm se demonstrou no estar aumentado (12). As tabelas 3 e 4 mostram o risco de mortalidade

    e eventos medidos pela WHI com os dados cumulativos de 13 anos de observao e a consistncia

    de decrscimo de mortalidade associada a THS em vrios estudos envolvendo mulheres ps-

    menopusicas jovens.

    Hazard Ratio Intervalo de Confiana 95%

    Doena Coronria 0.65 0.44 0.96

    EAM 0.60 0.39 0.91

    Cancro da Mama 0.76 0.52 1.11

    Todos os Cancros 0.80 0.64 0.99

    ndice Global 0.82 0.82 0.98

    Mortalidade Total 0.78 0.59 1.03

    Figura 4: Dados cumulativos de 13 anos da WHI no estrato etrio 50-59 anos, estrognios equinos conjugados. Adaptado de (5)

  • 18

    Hazard Ratio Intervalo de Confiana 95%

    Meta-anlise de Estudos Observacionais 0.78 0.69 0.90

    Meta-anlise de RCTs 0.73 0.52 0.96

    Meta-anlise Bayesiana 0.72 0.62 0.82

    WHI 50 59 Anos 0.70 0.51 0.96

    WHI 10 anos com EEC, 50 59 anos 0.73 0.53 1.0

    WHI 13 anos com EEC, 50 59 anos 0.78 0.59 1.03

    WHI 13 anos combinada, 50 59 anos 0.88 0.70 1.1

    Figura 5: Diminuio da mortalidade em mulheres jovens sob THS em vrios estudos. Adaptado de (5)

    As anlises subsequentes estratificadas por idades no s puseram em evidncia limitaes

    do desenho da WHI (j abordados na seco anterior) como fizeram retomar algum do entusiasmo

    em relao THS nas mulheres mais jovens, j que esta no seria to perigosa como demonstrado

    inicialmente. Uma das explicaes apresentadas para um risco maior de eventos vasculares nas

    mulheres mais velhas a de que tero aterosclerose mais significativa que as mais jovens e que a

    toma oral de estrognios possa induzir instabilidade da placa aterosclertica (5). Esta teoria de que

    pode existir uma janela ideal de interveno de acordo com a idade/tempo passado desde a

    menopausa foi denominada de hiptese de timing (13).

    Nas seces seguintes abordam-se os principais achados de estudos recentes que

    relacionam a utilizao de THS com eventos vasculares e variveis relacionadas com risco

    cardiovascular em mulheres ps-menopusicas. So referidos estudos em mulheres saudveis e

    com co-morbilidades, e analisam-se estudos em que foram usadas diferentes formulaes de THS.

  • 19

    b. Estudos de Preveno Primria

    Os estudos elaborados em populaes de mulheres saudveis tm um foco muito

    significativo na procura algo extrema de efeitos francamente benficos ou nefastos. De facto,

    alguns estudos ainda parecem espelhar um pouco os primeiros estudos da WHI, que surgiram no

    contexto de popularizao da THS como tendo efeitos benficos, talvez, at, irrealistas, sobre

    patologias to distintas como cancro, doena cardiovascular e osteoporose, e terminaram no

    extremo oposto de aparente malefcio que afetou muito significativamente o uso de THS.

    AVC

    O estudo de THS combinada da WHI demonstrou-se um risco aumentado de AVC. Mesmo

    aps a aceitao da hiptese de timing em relao a alguns aspetos relacionados com THS, a

    maioria dos estudos demonstrou um aumento do risco de AVC com THS, ou um efeito neutro

    sobre este risco. No entanto, como vrios destes estudos utilizaram uma mistura de mulheres

    saudveis e com co-morbilidade, surgiu a necessidade de avaliar o risco de AVC em mulheres

    saudveis sob THS. Eliminar a potencial influncia de diferentes estados de sade basal das

    participantes poderia trazer informao mais precisa sobre os efeitos da THS sobre o risco de AVC.

  • 20

    Estudo THS

    Fase de Interveno

    (Anos)

    Durao Total

    (Anos)

    PEPI (1995)

    EEC/Combinada

    3.0 3.0

    EPTH (2006) EEC/Combinada 3.4 3.43

    DOPS (2012) Estradiol/Combinada 10.1 15.8

    WHI (2013) EEC/Combinada 7.2/5.6 13.0/13.2

    Figura 6: Caractersticas dos estudos. Adaptado de (14)

    Para avaliar o risco de AVC em mulheres saudveis durante e aps THS, Gu et al

    conduziram uma meta anlise de 4 RCTs, com um total de 15 423 participantes (14). A meta-

    anlise demonstrou um aumento do risco durante a fase de interveno (administrao de THS) e

    total (interveno e follow-up) para as mulheres sob THS; no se registou um aumento do risco na

    fase de follow up. Apesar de se ter verificado um aumento do risco, o risco de AVC em mulheres

    durante e aps THS, por si s, no foi considerado muito elevado pelos autores. A figura 6 resume

    as caractersticas dos estudos utilizados na meta-anlise, particularmente em relao aos regimes

    de THS. Na populao desta meta anlise verificaram-se diferenas entre estudos: as idades das

    participantes e o momento de incio de THS no eram uniformes; em 3 dos estudos utilizou-se

    placebo e no restante no se aplicou qualquer interveno no grupo sem THS; todos os estudos

    foram realizados com teraputica oral, mas foram utilizados estrognios tanto equinos como

    estradiol, e utilizou-se THS com estrognios isolados e THS combinada; as participantes dos 4

    estudos tinham taxas de histerectomia diferentes, o que, consequentemente, implica taxas

    diferentes de mulheres tratadas com progestagnios; a durao do follow-up no foi a mesma em

    todos os estudos. Uma limitao importante do estudo que os seus resultados foram largamente

  • 21

    influenciados pela populao de estudo da WHI, j que este foi um dos RCTs utilizado, contendo

    um maior nmero de participantes do que os restantes 3 estudos combinados. A anlise dos 4

    estudos combinados culminou num hazard ratio (HR) de 1.32 (P = 0.001) para a fase de

    interveno, 1.00 (P = 0.958) na fase de follow-up e 1.15 global (perodo de interveno + follow-

    up, P = 0.017, figura 7). Estes dados sugerem um aumento do risco, particularmente durante a

    utilizao de THS, e um aumento muito modesto quando se considera o risco global. A ideia de

    que o risco de AVC aumenta com o uso de THS consistente com outros estudos recentes (15,16).

    Se se tiver em conta a predominncia de dados da WHI, contendo mulheres mais velhas e com

    mais tempo decorrido desde a menopausa, e consequentemente com mais co-morbilidades e risco

    cardiovascular mais elevado em mdia, e considerando a validade da hiptese de timing, esta meta-

    anlise parece ser bastante tranquilizadora em relao ao risco de AVC em mulheres saudveis

    sob THS.

    Figura 7: Risco Global de AVC. Adaptado de (12).

  • 22

    Eventos Coronrios e Mortalidade de Causa Cardiovascular

    A estratificao posterior dos resultados da WHI por idades sugeriram um benefcio em

    termos de eventos cardacos e de mortalidade cardiovascular em mulheres mais jovens. Assim, os

    estudos mais recentes dedicados relao entre eventos coronrios, doena cardaca e mortalidade

    cardiovascular continuam a focar-se nos efeitos distintos em grupos etrios diferentes.

    Figura 8: ORs para eventos coronrios relacionados com THS, mulheres mais jovens. Adaptado de (10)

  • 23

    Figura 9: ORs para eventos coronrios relacionados com THS, mulheres mais velhas. Adaptado de (10)

    Uma meta-anlise de RCTs procurou avaliar mortalidade por eventos causados por doena

    cardaca coronria em mulheres saudveis (10). Analisaram-se 23 RCTs, com um total de 39 049

    participantes, considerando separadamente mulheres com mais ou menos de 10 anos aps a

    menopausa ou, alternativamente, com mais ou menos de 60 anos; os eventos considerados foram

    enfarte agudo do miocrdio (EAM) e morte de presumvel causa cardaca. Os resultados

    demonstraram, em todas as mulheres, uma ausncia de impacto positivo ou negativo em termos

    de eventos; no grupo de mulheres com menopausa mais recente/mais novas demonstrou-se uma

    reduo do risco de 32% (OR 0.68, Intervalo de Confiana 0.48 - 0.96, figura 8) em relao s no

    tratadas com THS e de 34% (OR 0.66, CI 0.46 - 0.95) em relao s mulheres mais afastadas da

    menopausa/mais velhas. No grupo de mulheres mais velhas registou-se um aumento de eventos no

    primeiro ano no grupo tratado com THS (OR 1.47, CI 1.12 - 1.92], figura 9), que diminuiu aps 2

  • 24

    anos (OR 0.79, CI 0.67 - 0.93). semelhana da meta-anlise referente ao risco de AVC, uma das

    principais limitaes demonstrou ser a variabilidade entre estudos considerados em termos de tipo

    de THS usada (estrognios isolados ou THS combinada, dose, via de administrao). Os benefcios

    em termos de mortalidade tambm foram evidenciados numa anlise Bayesiana de mortalidade

    em RCTs e estudos de coorte (17). Este estudo selecionou RCTs com pelo menos 6 meses de

    durao e 1 morte identificada, aos quais adicionou informao de 8 estudos prospetivos sobre o

    risco relativo de mortalidade associada a THS. Demonstrou-se uma reduo de mortalidade global

    (RR de 0.73, CI 0.52-0.96), e RR 0.72 (CI 0.62-0.82) aps se considerarem os dados dos estudos

    observacionais. Assim, registou-se uma diminuio da mortalidade em mulheres ps-

    menopusicas jovens submetidas a THS num conjunto de 27 estudos com mais de 200 000

    participantes no total.

    O Estudo Dinamarqus de Preveno de Osteoporose (DOPS) analisou cerca de 1000

    mulheres ps-menopusicas para avaliar a relao entre EAM, insuficincia cardaca (IC) e

    mortalidade e o uso de THS (estrognios isolados ou THS combinada) num perodo de interveno

    de 10 anos e de 16 anos de seguimento em mulheres com menopausa recente (18). Demonstrou-

    se uma reduo global dos eventos definidos que se continuou a observar no perodo de

    acompanhamento. No se registou um aumento do risco de cancro, trombose venosa profunda

    (TVP) ou AVC.

    Assim, as evidncias atuais parecem apontar para um benefcio sobre mortalidade

    cardiovascular e global e uma diminuio de eventos coronrios e doena cardaca em mulheres

    jovens e saudveis tratadas que utilizam THS. Estes achados esto de acordo com a hiptese de

    timing.

  • 25

    Tendo em conta os estudos apresentados e levados a cabo em populaes de mulheres

    saudveis, parece verificar-se que a THS est ligada a um ligeiro aumento do risco de AVC mesmo

    em mulheres com menopausa mais recente ou mais jovens, mas que eventos coronrios, doena

    cardaca, mortalidade atribuda a causas cardacas e mortalidade global esto diminudos. Estes

    resultados parecem sugestivos, em relao a eventos cardiovasculares, de benefcio da THS em

    mulheres jovens e saudveis. Na seco seguinte abordam-se estudos com populaes de mulheres

    com co-morbilidades.

  • 26

    c. Estudos de Preveno Secundria

    No que toca aos estudos feitos em mulheres com patologia, h dois pontos de vista

    relevantes em termos de interpretao de resultados: primeiro, tem interesse verificar se a

    utilizao de THS antes e aquando de um evento vascular esto associados a maior ou menor

    gravidade, ou a um curso clnico mais ou menos favorvel, ou seja, se a THS tem um impacto

    positivo ou negativo nestes eventos; em segundo lugar, e to ou mais importante do que classificar

    a THS em termos de efeitos nefastos ou protetores, a ideia de efeito neutro em mulheres doentes.

    De facto, pode considerar-se um pouco rebuscada a ideia de melhorar patologia do foro

    cardiovascular com THS; por outro lado, a ideia de que o tratamento adequado de sintomas da

    menopausa em mulheres com patologia pode ser executado em mulheres com patologia de base ,

    talvez, a questo essencial. Apesar de, na generalidade, as mulheres que mais beneficiam com

    THS, de acordo com a hiptese de timing, serem aquelas em que o risco cardiovascular e de

    eventos vasculares menor, existe um nmero substancial de mulheres em que esta questo

    relevante: mulheres com menopausa recente, e portanto, com maior probabilidade de sintomas,

    podem ter um risco cardiovascular elevado ou j ter sofrido eventos cardiovasculares, e,

    inversamente, mulheres mais velhas e, portanto, com uma maior probabilidade de j ter sofrido ou

    de vir a sofrer um evento vascular podem, ainda, ter sintomas vasomotores. Assim, importante

    averiguar se, mesmo na ausncia de resultados muito positivos ou negativos em relao ao uso de

    THS em mulheres doentes, o efeito sobre eventos vasculares neutro, o que pode significar que

    seguro mesmo numa populao considerada no ideal.

    Os estudos que abordam unicamente mulheres com patologia no abundam na literatura

    recente. De facto, o evento vascular mais explorado o EAM que se aborda de seguida.

  • 27

    Enfarte Agudo do Miocrdio

    Os estudos apresentados referem tanto utilizao continuada de THS antes, durante e aps

    EAM como o incio de utilizao de THS durante ou pouco aps o episdio. Assim, explora-se o

    impacto do uso corrente de THS como influenciadora do curso clnico de EAM como de THS

    como modificadora de determinados aspetos relacionados com este evento.

    Varivel Estimativa (desvio-padro) p

    Idade 0.08 (0.007)

  • 28

    mortalidade ps-enfarte, verificou-se variabilidade no tipo de THS utilizada. Este estudo prova

    que apesar de o uso de THS no melhorar a mortalidade ps-enfarte, no tem efeitos adversos aps

    este tipo de evento vascular, aparentando ser seguro. Esta ausncia de malefcio est de acordo

    com um estudo mais antigo onde se demonstrou uma diminuio da mortalidade aps enfarte em

    utilizadoras de THS em todos os estratos etrios (20). Estes estudos esto, em conjunto, de acordo

    com a ideia j exprimida por alguns autores de que o uso de THS pode ser seguro mesmo aps um

    evento vascular (8,21) apesar de no existir, de momento, evidncia de que seja til como forma

    de preveno secundria.

  • 29

    d. Outros estudos

    Alguns estudos, nomeadamente meta-anlises ou revises sistemticas, procuraram

    englobar estudos com mulheres doentes e saudveis, considerando-as em conjunto ou

    confrontando os resultados nas populaes separadas das mesmas variveis.

    A mais recente atualizao de uma grande reviso sistemtica em termos de eventos

    cardiovasculares e THS englobou estudos de preveno primria e secundria, num total de 19

    RCTs com mais de 40 000 mulheres (22). Os outcomes utilizados foram mortalidade global, morte

    de causa cardiovascular, EAM no fatal, angina e revascularizao. Foram analisados 9 estudos

    de preveno primria usando THS vs placebo, com um total de cerca de 35 000 participantes. O

    resultado da reviso sistemtica em termos de preveno primria no mostrou efeito da THS na

    mortalidade global nem em qualquer um dos outcomes cardiovasculares. Notou-se um aumento

    do risco de AVC (RR: 1.32, CI 1.12 - 1.56;), VTE (RR: 1.92, CI 1.24 - 2.99) e TEP (RR: 1.89, CI

    1.17 - 3.04). A avaliao de estudos de preveno secundria incluiu os restantes 10 estudos, com

    um total de 5766 participantes. No se verificou um efeito benfico ou nefasto sobre qualquer

    outcome exceto VTE (RR: 2.02, CI 1.13 - 3.62). A avaliao conjunta dos 19 estudos, incluindo

    preveno primria e secundria, no revelou impacto da THS sobre mortalidade global ou de

    causa cardiovascular, EAM, angina ou procedimentos de revascularizao. de referir que entre

    os estudos avaliados se encontrava o grande grupo de intervenes da WHI, com as suas

    limitaes, nomeadamente a idade das participantes; de facto, a idade mdia das participantes nesta

    reviso sistemtica foi de 64 anos, com 14 dos 19 estudos apresentando uma idade mdia das

    participantes acima dos 60 anos, o que est necessariamente associado a mais co-morbilidade,

    risco cardiovascular e eventos cardiovasculares. De forma a poder fazer alguma interpretao da

    hiptese de timing, os autores executaram uma anlise de acordo com o tempo decorrido desde a

  • 30

    menopausa/idade de incio da THS, apesar de a avaliao de certos outcomes separadamente ter

    sido limitada pelo desenho de alguns dos estudos, nomeadamente os da WHI. Observou-se um

    efeito benfico nas mulheres mais jovens em termos de mortalidade e doena cardiovascular, um

    efeito neutro no risco de AVC e um risco aumentado de tromboembolismo (RR: 1.74, CI 1.11 -

    2.73). Estes achados esto, no geral, de acordo com os restantes estudos mencionados e constituem

    um reforo importante hiptese de timing.

    O VTE um dos eventos vasculares mais frequentemente associados THS. De facto,

    mesmo considerando a hiptese de timing, nalguns estudos j referidos o risco de VTE mantm-

    se elevado em mulheres com menopausa mais recente/mais novas. Num artigo de reviso dedicado

    ao VTE (23) sintetizaram-se RCTs com um nmero significativo de VTEs observados na

    populao em estudo; de facto, uma das limitaes dos estudos com o objetivo de avaliar o impacto

    de THS sobre eventos vasculares a necessidade de grandes populaes, de forma a conseguir-se

    obter um nmero mnimo de eventos e garantir significado e poder estatstico. Dos RCTs com

    mais de 5 VTEs ocorridos, demonstrou-se em todos um risco aumentado de VTE numa populao

    mista de mulheres previamente saudveis ou com patologia (por exemplo, VTE prvio). O

    aumento de risco variou, nos 5 estudos referidos, entre RR= 1.33 (WHI com estrognios isolados,

    mulheres classificadas como previamente saudveis, figura 11) e RR=7.80 (Estrogen in Venous

    Thromboembolism Trial EVTET, mulheres com VTE prvio). A grande variabilidade de risco

    obtido, para alm de se poder justificar luz de um estado de sade basal diferente entre

    indivduos, tambm se pode associar a diferentes tipos de estrognios usados (equinos conjugados

    ou estradiol), THS de estrognios isolados ou combinada, THS combinada com progestagnios

    diferentes, durao diferente de follow-up e tempo decorrido desde a menopausa/idade das

    participantes. Numa meta-anlise e reviso sistemtica de estudos observacionais e RCTs de

  • 31

    preveno primria e secundria (mulheres saudveis e doentes) (24) demonstrou-se um aumento

    do risco de VTE de 2-3 vezes em utilizadoras de estrognios por via oral; este risco seria maior no

    primeiro ano de tratamento e tambm em mulheres com risco aumentado de VTE; o risco de VTE

    em antigas utilizadoras seria semelhante ao de utilizadoras antigas. Os resultados algo

    desapontadores da THS em relao ao risco de VTE levaram ao interesse em estudar o tipo de

    THS usada (estrognios isolados ou combinada), dose de estrognios, combinao com

    progestagnio, tipo de progestagnio e via de administrao e a relao com VTE; estes aspetos

    sero abordados na seco seguinte.

    Estudo

    Estado de

    Sade de

    Base

    Idade

    Mdia

    (intervalo)

    Nmero de

    Participantes

    Follow-

    up

    (anos)

    Eventos

    THS/Placebo

    Tipo de

    THS

    RR

    (IC

    95%)

    HERS

    Doena

    cardaca

    prvia

    67 (44-79) 2 763 4.1 34/12 Combinada

    2.89

    (1.50-

    5.58)

    EVTET VTE

    prvio 56 (42-69) 140 1.3 8/1 Combinada

    7.80

    (0.99-

    60.5)

    WHI

    Combinada

    Populao

    geral

    Com tero

    63 (50-79) 16 608 5.2 151/67 Combinada

    2.06

    (1.57-

    2.70)

    WHI EEC

    Populao

    geral

    Sem tero

    64 (50-79) 10 739 7 77/54 EEC

    1.33

    (0.99-

    1.79)

    WISDOM Populao

    geral 63 (50-69) 5 692 1 22/3 Combinada

    7.36

    (2.20-

    24.60)

    Figura 11: Relao entre THS e VTE. Adaptado de (23)

  • 32

    e. Formulaes de THS e Eventos Cardiovasculares

    Dose

    Alguns estudos procuraram avaliar o impacto da utilizao de doses baixas de THS sobre

    eventos vasculares. Num estudo caso-controlo nested comparando doses baixas e standard de THS

    oral e transdrmica (25) concluiu-se que doses baixas de THS transdrmica no se associaram a

    um aumento do risco de AVC vs no utilizadoras, enquanto que doses altas, mesmo administradas

    por via transdrmica, se associaram a um aumento do risco; tanto doses baixas como standard de

    THS por via oral se associaram a um aumento semelhante de risco. No estudo observacional da

    WHI (figura 12), consideraes sobre tipos de THS e eventos vasculares publicadas recentemente

    mostraram uma taxa mais baixa de doena coronria, doena cardiovascular e mortalidade de

    causa vascular no estatisticamente significativas com doses baixas de THS oral, e nenhuma

    diferena em relao a doses orais standard em relao a AVC e mortalidade global (9). Os autores

    do estudo reconheceram a necessidade de estudos semelhantes adicionais, e eventualmente com

    maior poder estatstico, para confirmao dos achados referidos. De facto, at data, no foi

    conduzido qualquer RCT de grande escala com o objetivo de comparar diferentes formulaes de

    THS. Em relao ao impacto de diferentes doses de THS e o risco de VTE, num estudo de base

    populacional (26) observou-se um aumento do risco de VTE com doses mais elevadas de THS

    oral, desde um aumento de risco de 19% para doses baixas de estrognios a 84% para doses

    elevadas; no se registaram diferenas entre doses mais baixas ou altas de THS por via

    transdrmica. Numa meta-anlise (27) concluiu-se, da mesma forma, que o risco de VTE aumenta

    com a dose de THS oral; o OR para doses baixas foi de 1.6 para doses baixas e de 1.9 (p= 0.004)

    para doses altas de THS; o risco encontrado foi semelhante para doses altas e baixas de THS

    transdrmica. Assim, em relao ao risco de VTE, este parece ser tanto maior quanto a dose de

  • 33

    THS oral administrada, e no parece existir qualquer diferena de risco entre doses distintas de

    THS por via transdrmica. Em relao ao risco de AVC, por outro lado, parece existir um risco

    diferente consoante a dose de THS transdrmica, enquanto que em relao a eventos e mortalidade

    cardiovascular, a WHI-OS no encontrou quaisquer diferenas em termos de resultados para doses

    diferentes de THS para qualquer das vias de administrao testadas.

    Figura 12: WHI-OS, comparao direta entre THS transdrmica/oral e THS oral de baixa dose/dose standard. Adaptado de (9)

    Tipos de Estrognios

    Nos EUA a maioria das mulheres usa THS contendo estrognios equinos conjugados; por

    outro lado, nos pases europeus usa-se estradiol na maioria das formulaes de THS; ambos so

    utilizados isoladamente ou em combinao com um progestagnio, como j se referiu

    anteriormente. Num estudo em utilizadoras de estrognios orais encontrou-se um maior risco de

    VTE em utilizadoras de estrognios equinos conjugados de que de estradiol (OR= 2.08, CI 1.02-

    4.27, p=0.045), um risco potencialmente maior de EAM, e nenhuma diferena no risco de AVC

    isqumico (28). No entanto, estes resultados carecem de replicao (23). Na avaliao dos dados

    da WHI-OS relativos a diferentes formulaes e THS (9) esboou-se um risco menor de AVC para

    THS com estradiol em relao aos estrognios equinos conjugados, que no atingiu significado

  • 34

    estatstico (figura 13); a limitao de poder estatstico deste estudo j foi referida, acrescendo-se

    ainda o facto de a WHI-OS ser um estudo dos EUA, onde poucas mulheres so tratadas com

    estradiol. Com exceo dos estudos referidos, a pesquisa no campo da THS parece estar pouco

    dirigida para a explorao de diferenas entre os tipos de estrognios utilizados e os seus efeitos

    em eventos vasculares adversos.

    Figura 13: WHI-OS, comparao direta entre estradiol/estrognios equinos conjugados e THS combinada/estrognios isolados.

    Adaptado de (9)

    Figura 14: WHI-OS, comparao direta entre estradiol/estrognios equinos conjugados e THS combinada/estrognios isolados.

    Adaptado de (9)

  • 35

    THS com Estrognios Isolados ou THS Combinada

    Desde a publicao dos primeiros resultados da WHI que se aponta para os esquemas

    combinados de THS como diminuindo as potenciais vantagens da administrao de estrognios ou

    conferindo riscos ou efeitos adversos adicionais pela presena de progestagnios. A utilizao de

    THS com estrognios e progestativos combinados dirige-se s mulheres com tero, em que a

    administrao de estrognios isolados leva a alteraes hiperplsicas e, potencialmente,

    neoplsicas das clulas endometriais; a adio de um progestagnio impede estas alteraes; nas

    mulheres histerectomizadas no h qualquer necessidade de adicionar progestagnios THS,

    usando-se estrognios isolados. Nas publicaes mais recentes comparando as duas formas de

    THS, a publicao recente e j referida de dados da WHI-OS relativos a diferentes formulaes de

    THS no encontrou diferenas em termos de eventos e mortalidade cardiovascular entre estas

    (figura 13); tambm no se tornou evidente qualquer diferena entre THS com estrognios isolados

    ou combinada quando se estratificou as participantes por tempo decorrido desde a menopausa,

    idade, ou durao da utilizao de THS (9); no entanto, uma vez mais, o poder estatstico destas

    comparaes mostrou-se limitado e carece de estudo adicional. Uma meta-anlise dedicada ao

    risco de VTE demonstrou um risco semelhante para ambos os tipos de THS (tabela) (24),

    semelhana dos achados de outro estudo (29), mas ao contrrio dos achados do Million Women

    Study (MWS), em que a utilizao de THS combinada estava associada a um maior risco de VTE

    (RR= 2.07 [95%CI, 1.86-2.31] vs 1.42 [1.21-1.66] para estrognios isolados) (30). Assim, parecem

    existir, ainda, dados controversos em relao s diferenas entre THS com estrognios isolados ou

    combinada. O tipo de progestagnio usado na THS combinada pode ser relevante; o papel de

    diferentes progestagnios explorado na seco seguinte.

  • 36

    Tipos de Progestagnio

    Tem-se vindo a sugerir que diferentes tipos de progestagnio possam estar associados a

    riscos distintos dos efeitos nefastos atribudos a esta classe. Alguns autores tm vindo a sugerir

    que os progestagnios sintticos podem estar associados a um maior risco de efeitos indesejveis

    do que a progesterona natural (5). O MPA, o principal progestagnio utilizado na THS combinada

    nos EUA, um composto sinttico, e est associado a maior atividade e biodisponibilidade que a

    prpria progesterona, o que pode justificar diferenas de efeito entre ambas as substncias. Vrios

    estudos procuraram evidenciar diferenas em termos de risco de eventos vasculares, de acordo

    com o tipo de progestagnio utilizado: o estudo ESTHER relatou um risco superior de VTE para

    derivados do norpregnano em relao a progesterona micronizada ou derivados do pregnano (OR=

    3.9 vs 0.7 e 0.9, CI 1.5 - 10.0, 0.3 - 1.9, 0.4 - 2.3, respetivamente) (31); o estudo E3N tambm

    relatou resultados semelhantes, evidenciando um risco aumentado de VTE em formulaes

    contendo derivados do norpregnano; em contraste, no se registou um aumento de risco para

    compostos com progesterona micronizada (32). O MWS (30) e o estudo MEGA (29) relataram um

    risco superior de VTE em relao a outros progestagnios ou ao uso de estrognios isolados. No

    global, apesar de no existirem, atualmente, muitos estudos em humanos dedicados a evidenciar

    diferenas entre os vrios tipos de progestagnios utilizados em THS, parece verificar-se um maior

    risco de VTE para derivados do norpregnano e MPA, enquanto que a progesterona micronizada

    ser segura. Seriam necessrios estudos de grandes dimenses envolvendo THS com vrios tipos

    de progestagnios para chegar a concluses mais slidas sobre este assunto. Deve notar-se, ainda,

    que talvez no seja legtimo interpretar resultados de estudos envolvendo progestagnios de forma

    geral, atribuindo-lhes um efeito de classe, j que existe alguma evidncia de que podero exercer

    diferentes efeitos sobre o organismo.

  • 37

    Via de Adminstrao

    Aps os resultados de vrios estudos terem demonstrado aumento do risco de alguns eventos

    vasculares, como AVC ou VTE, nas populaes estudadas, surgiu interesse em administraes

    alternativas de THS e a comparao do risco com a THS oral. De facto, as administraes de

    hormonas femininas por via transdrmica evita o efeito de primeira passagem no fgado, o que

    pode estar associado a um maior risco de trombose; formulaes transdrmicas de contraceo

    oral combinada so uma formulao bastante utilizada pelas mulheres em idade frtil. Assim, a

    investigao clnica na rea da THS tem-se dedicado mais recentemente avaliao de risco de

    eventos vasculares, como AVC ou VTE, da THS transdrmica vs oral.

    Num estudo caso-controlo nested que comparou 15 710 casos de AVC com 59 958

    controlos procurou-se avaliar a diferena entre as vias de administrao oral e transdrmica (25).

    O uso de THS transdrmica no se associou a um maior risco de AVC comparado com no-

    utilizadoras, independentemente de a formulao conter ou no progestagnios (tabela). Por outro

    lado, THS oral associou-se a um aumento do risco de AVC de 35% para estrognios isolados e de

    24% para THS combinada. Comparao direta de TSH transdrmica vs oral mostrou um risco de

    AVC mais baixo para as formulaes transdrmicas (rate ratio 0.74 CI 0.58 - 0.95)). Uso prvio

    de THS transdrmica no se associou a um risco aumentado de AVC, mas uso prvio de THS oral

    associou-se a um aumento de risco, sobretudo durante os primeiros meses aps cessao da

    teraputica. Considerando o risco de AVC associado a doses convencionais ou baixas de

    estrognios orais e transdrmicas, concluiu-se que doses baixas de THS transdrmica no se

    associaram a um aumento do risco de AVC vs no utilizadoras, enquanto que doses altas, mesmo

    administradas por via transdrmica, se associaram a um aumento do risco; tanto doses baixas como

    standard de THS por via oral se associaram a um aumento semelhante de risco. Em termos de

  • 38

    durao do tratamento, no se encontraram diferenas entre as formulaes transdrmicas e orais

    em tratamentos de curta durao (< 1 ano), em que no se verificou um aumento do risco, enquanto

    que nos tratamentos mais longos (> 1 ano) de THS por via oral se registou um aumento do risco

    de AVC. Assim, THS transdrmica com baixas doses de estrognios mostraram conferir um risco

    de AVC semelhante ao de no-utilizadoras, mostrando que talvez a via de administrao

    transdrmica seja mais segura do que a oral em relao ao risco de AVC.

    A descrio de riscos consistentemente elevados de VTE em utilizadoras de THS, mesmo

    utilizando estratificaes por tempo decorrido desde a menopausa ou idade, levaram a um interesse

    crescente do potencial impacto da teraputica transdrmica em relao a este evento vascular.

    Scarabin, numa reviso dedicada relao entre VTE e THS, sintetizou os principais estudos em

    que foi possvel tirar concluses sobre a relao entre THS transdrmica e a ocorrncia de VTE

    em mulheres ps-menopusicas (23). O Estrogen and Thromboembolism Risk Study (ESTHER)

    (31) foi um estudo francs de caso-controlo envolvendo 271 casos e 610 controlos. Obteve-se um

    OR= 0.9 para utilizadoras de THS transdrmica em relao a no-utilizadoras; por outro lado, o

    tratamento oral associou-se, de forma consistente com a evidncia atual, a um aumento do risco.

    Um caso de controlo nested (26) a partir do estudo de coorte baseado na General Practice Research

    Database (GPRD) evidenciou um aumento do risco de VTE em utilizadoras de THS oral mas no

    transdrmica (OR= 1.4 95% CI 1.3-1.5 vs 1.0 95% CI 0.9-1.1). O tude Epidemiologique de

    lEducation Nationale (E3N), um estudo francs prospetivo, tambm relatou um aumento do risco

    de VTE para teraputica oral mas no para THS transdrmica (32). O Million Women Study

    reportou que, em contraste com a utilizao de estrognios orais, a THS transdrmica com

    estrognios isolados ou combinados com progestagnios conferiram um risco de VTE semelhante

    ao de no-utilizadoras (30). O estudo caso-controlo Multiple Environmental and Genetic

  • 39

    Assessement of Risk Factors forVenous Thrombosis (MEGA), semelhana dos restantes estudos,

    tambm demonstrou que THS transdrmica no aumentou o risco de VTE em contraste com THS

    oral (29). Assim, os estudos envolvendo THS transdrmica e oral em relao ao risco de VTE

    mostram consistentemente que a teraputica transdrmica parece ser segura, no conferindo um

    aumento do risco em relao a no-utilizadoras de THS (figura 14); por outro lado, e de acordo

    com o j referido, a teraputica oral est associada a um aumento do risco de VTE. Esta forma de

    THS pode, at, ser relativamente segura em mulheres com fatores de risco conhecidos para VTE:

    um estudo includo numa meta-anlise relativa ao uso de estrognios, obesidade e VTE, mostrou

    no haver um acrscimo do risco de VTE em mulheres obesas utilizadoras de THS transdrmica,

    em contraste como acrscimo de risco conferido pelo uso de estrognios orais (24). No mesmo

    estudo, mostrou-se, ainda, no existir um acrscimo de risco pela utilizao de sistemas

    transdrmicos em mulheres com mutaes trombognicas: o risco calculado de VTE em mulheres

    com mutao trombognica no utilizadoras de THS foi estatisticamente semelhante ao risco em

    mulheres com mutao e tratadas com THS transdrmica. Estes estudos referentes via de

    administrao transdrmica em mulheres com risco superior de desenvolvimento de VTE mostram

    que a via transdrmica mais do que uma alternativa segura para mulheres saudveis, mas

    potencialmente segura em mulheres com risco acrescido de eventos trombticos. Assim, surge

    uma forma de tratar os sintomas da menopausa numa parte mais abrangente da populao, com

    um perfil risco-benefcio potencialmente aceitvel.

  • 40

    Estudo (ano) Tipo de estudo

    Casos

    (nmero)

    Odds Ratio

    (IC 95%)

    Daly (1996) Caso-controlo 5 2.0 (0.5-7.6)

    Hoibraaten (1999) Caso-controlo 2 0.6 (0.0-3.1)

    Perez Gutthann

    (1997)

    Caso-controlo 7 2.1 (0.9-4.6)

    Douketis (2005) Caso-controlo 3 0.8 (0.2-2.8)

    ESTHER

    (2003, 2007)

    Caso-controlo 67 1.1 (0.8-1.7)

    E3N (2010) Coorte 174 1.3 (1.1-1.6)

    Renoux (2010) Caso-controlo nested 365 1.0 (0.9-1.1)

    MWS (2012) Coorte 86 -

    MEGA (2013) Caso-controlo 26 1.1 (0.6-1.5)

    Figura 15: VTE e THS transdrmica. Adaptado de (23)

    Os dados relativos s diferentes formulaes de THS da WHI-OS no mostraram uma

    diferena estatisticamente significativa em termos de doena e mortalidade cardiovascular entre a

    via oral e transdrmica; o esboo de menor risco de AVC com a utilizao da via transdrmica no

    atingiu significado estatstico (9). As limitaes de poder estatstico desta subanlise da WHI-OS

    j foram abordadas.

  • 41

    3. Fatores de Risco Cardiovascular

    Alm do foco da investigao clnica na relao entre THS e eventos ou mortalidade

    cardiovascular, ainda um pouco influenciados pelo impacto negativo da WHI sobre o seu perfil de

    segurana, estudos mais recentes tm vindo a demonstrar interesse em fatores de risco

    cardiovasculares. Assim, existem diversos estudos recentes que abordam a relao entre THS e o

    peso corporal, a tenso arterial ou o perfil lipdico. As seces que se seguem abordam estudos

    clnicos recentes em que foi avaliado o impacto de THS em vrios fatores de risco cardiovascular,

    os seus achados, relevncia, e limitaes.

    a. Tenso Arterial

    O impacto da THS sobre a tenso arterial (TA) uma rea de interesse relativamente

    recente, sobre a qual no existem muitos estudos. A avaliao deste impacto tem interesse tanto

    do ponto de vista das mulheres saudveis, em que indesejvel um efeito de aumento dos valores

    tensionais, como do ponto de vista das mulheres ps-menopusicas hipertensas, em que um

    impacto negativo da THS sobre a tenso arterial poderia constituir uma contraindicao ao

    tratamento de sintomas vasomotores.

    Uma meta-anlise e reviso sistemtica de RCTs que incluiu 28 estudos analisou a relao

    de THS de baixa dose vs placebo ou THS em dose standard em mulheres ps-menopusicas

    saudveis (33); foram includos estudos com pelo menos 15 participantes, e foram includas

    diferentes formulaes de THS, incluindo formas de administrao pouco comuns como estradiol

    em gel ou intranasal. Em relao TA incluram-se dados do 9 estudos, com um total de 843

    participantes, em que 7 dos estudos avaliavam THS de baixa dose vs placebo e os restantes 2 baixa

    dose vs dose standard; apenas um dos estudos utilizou exclusivamente THS com estrognios

  • 42

    isolados. Considerando os estudos utilizados na meta-anlise, 4 destes concluram no existir

    qualquer efeito da THS de baixa dose sobre a TA; 2 destes, com THS combinada contendo

    noretisterona como progestagnio evidenciaram uma reduo de TA diastlica com THS de baixa

    dose, sem nenhum efeito sobre a TA sistlica. A combinao dos dados dos 9 estudos no revelou

    qualquer efeito benfico ou prejudicial sobre a TA (figura 15). Estudos mais antigos que no

    constaram desta meta-anlise reportaram um aumento da TA sistlica em mulheres ps-

    menopusicas sob THS. As diferenas entre os RCTs referidos podem dever-se a vrios fatores,

    como a utilizao de doses standard nos 2 estudos no includos na meta-anlise, o tipo de THS

    utilizada, nomeadamente o tipo de progestagnio utilizado e as caractersticas de base das

    populaes utilizadas em cada estudo. Num estudo com THS em dose descrita como ultra-baixa,

    os autores verificaram uma melhoria da rigidez arterial e um efeito neutro sobre a TA em mulheres

    ps-menopusicas (34).

  • 43

    Figura 16: Efeito de THS de baixa dose na TA sistlica e diastlica, meta-anlise. Adaptado de (33)

    O efeito da THS em mulheres j com um diagnstico de Hipertenso Arterial (HTA)

    tambm pode ter interesse, j que esta uma co-morbilidade comum, e que efeitos significativos

    da THS poderiam constituir uma contraindicao ao tratamento de sintomas de menopausa em

    mulheres com este diagnstico. Um estudo em mulheres hipertensas, medicadas com perindopril

    ou hidroclorotiazida, avaliou aes hemodinmicas e metablicas de THS combinada (35). Os

    resultados evidenciaram vrios efeitos benficos da THS combinada nestas mulheres: registou-se

    um decrscimo de TA medida no consultrio e a queda noturna de TA sistlica aumentou,

    atingindo valores normais (>10%). Ainda, os efeitos metablicos desfavorveis tpicos da

    utilizao de hidroclorotiazida foram atenuados no grupo de THS, mas no tiveram impacto no

  • 44

    fluxo da artria renal ou nos valores plasmticos de insulina no grupo tratado com perindopril.

    Assim, as evidncias atuais apontam para um efeito neutro da THS sobre a TA em mulheres

    saudveis utilizadoras de THS de baixa dose; em mulheres hipertensas, a THS no s parece

    exercer efeitos benficos sobre a TA (medies em consultrio e queda noturna de TA), como

    pode atenuar, at, alguns dos efeitos metablicos indesejveis dos diurticos tiazdicos, mostrando-

    se uma opo segura nas mulheres ps-menopusicas hipertensas.

    b. Lpidos

    Uma meta-anlise e reviso sistemtica de RCTs focada na influncia da THS sobre fatores

    de risco cardiovascular avaliou o impacto de THS de baixa dose vs placebo/THS em dose standard

    (33). Em relao aos lpidos, foram includos 17 estudos para os parmetros de colesterol total e

    colesterol LDL, 18 para colesterol HDL e 15 para triglicerdeos, com mais de 2000 indivduos

    includos em cada parmetro (figura 15). A THS de baixa dose associou-se a nveis mais baixos

    de colesterol total e LDL comparado com placebo, mas THS em dose standard associou-se a nveis

    ainda mais baixos (tabela). Em relao ao colesterol HDL, verificaram-se nveis semelhantes mas

    heterogneos entre as 3 formas de interveno. Os nveis de triglicerdeos obtidos foram

    semelhantes com THS de baixa dose e placebo, e mais elevados com THS standard. Outra meta-

    anlise que avaliou os efeitos da THS sobre os componentes do Sndrome Metablico reportou

    efeitos semelhantes sobre os lpidos, com descida do colesterol LDL e do rcio LDL/HDL, tanto

    em mulheres saudveis como em diabticas; os efeitos benficos foram notados com THS oral,

    mas no com a administrao transdrmica (36).

  • 45

  • 46

    Figura 17: Efeito de THS de baixa dose nos lpidos, meta-anlise. Adaptado de (33)

    Um estudo j referido que avaliou os efeitos hemodinmicos de THS em mulheres

    hipertensas medicadas com perindopril ou hidroclorotiazida tambm relatou uma diminuio do

    colesterol total e LDL; importante notar que neste estudo foi utilizada THS transdrmica. Outro

    estudo recente que procurou avaliar o impacto de THS na progresso do processo aterosclertico

    em mulheres ps-menopusicas tambm evidenciou efeitos semelhantes sobre os lpidos: THS oral

    associou-se a uma diminuio do colesterol LDL e um aumento do colesterol HDL, e THS

    transdrmica a uma diminuio do colesterol total e colesterol no-HDL (37). Por ltimo, um

    estudo que comparou estrognios vs progestagnios em mulheres recentemente histerectomizadas

    reportou efeitos benficos dos estrognios equinos conjugados sobre o colesterol HDL (aumento)

    e do MPA sobre os triglicerdeos; no entanto, este estudo tem a importante limitao de ter sido

    conduzido sem recorrer a um grupo de controlo (38). Assim, concluiu-se que a THS parece ter um

    efeito pelo menos neutro e, eventualmente, benfico sobre os lpidos, tanto em mulheres saudveis

    como em diabticas ou hipertensas, e que at a administrao transdrmica pode produzir alguns

    destes benefcios. So necessrios estudos que explorem adicionalmente as diferenas sobre

    diferentes formulaes de THS.

  • 47

    c. Peso/IMC

    Uma meta-anlise e reviso sistemtica de RCTs focada na influncia da THS sobre fatores

    de risco cardiovascular avaliou o impacto de THS de baixa dose vs placebo/THS em dose standard

    (33). Em relao ao impacto sobre o peso/IMC, a THS de baixa dose teve um efeito semelhante

    ao verificado no grupo de placebo. Estes foram os dois parmetros com menos indivduos na meta-

    anlise apresentada, j que poucos dos estudos utilizados se dedicaram s alteraes do peso/IMC

    provocadas pelo uso de THS. Uma meta-anlise recente que avaliou o impacto da THS nos nveis

    de leptina e no peso concluiu no se verificar qualquer efeito atenuante da THS sobre o aumento

    de peso caracterstico da menopausa (39). Um estudo brasileiro dedicado avaliao dos fatores

    relacionados com o excesso de peso e obesidade da populao ps-menopusica concluiu que os

    fatores mais estreitamente associados ao excesso de peso eram a paridade e a no utilizao de

    THS (OR= 1.69, 95% CI 1.06 2.63) (40). Em contraste, outros estudos reportaram um eventual

    efeito benfico da THS sobre o peso. Assim, parece existir, ainda, informao controversa em

    relao ao efeito da THS sobre o peso corporal/IMC, parecendo claro, contudo, que no existir

    um efeito de aumento de peso pelo uso de THS. Estudos de dimenso adequada, e que tenham em

    conta diversas formulaes de THS so necessrios para esclarecer este aspeto.

    d. Aterosclerose

    O Kronos Early Estrogen Prevention Study (KEEPS) consistiu num RCT de avaliao do

    impacto da administrao THS em mulheres saudveis com menopausa recente no processo

    aterosclertico (37). Assim, incluram-se no estudo mais de 700 mulheres saudveis com menos

    de 36 meses decorridos desde a ltima menstruao identificada, as quais foram divididas entre

    grupos de placebo, THS combinada oral e THS combinada transdrmica. Os parmetros utilizados

  • 48

    para avaliar a progresso de aterosclerose foram a espessura da ntima mdia carotdea (CIMT)

    por ultrassonografia e um score de clcio das artrias coronrias (CAC) obtido por tomografia

    computorizada (TC). Estes parmetros so quantificadores independentes de aterosclerose,

    preditores de eventos cardiovasculares e passveis de responder a intervenes teraputicas. O

    estudo teve a durao de 4 anos, e a publicao dos seus resultados gerou bastante interesse na

    comunidade cientfica. Os autores concluram que, apesar de terem sido produzidos efeitos

    benficos em alguns parmetros com interesse do ponto de vista do risco cardiovascular,

    nomeadamente a obteno de um melhor perfil lipdico com THS oral (diminuio dos nveis de

    colesterol total e LDL, aumento dos nveis de colesterol HDL), e efeitos glicmicos benficos com

    THS transdrmica, no se registou uma modificao significativa dos parmetros escolhidos para

    avaliar a progresso do processo aterosclertico. De facto, os resultados de CIMT e score CAC

    para qualquer uma das formulaes de THS foram semelhantes aos registados no grupo de placebo

    (figuras 17 e 18, respetivamente). Os autores do estudo sugerem vrias razes para no se ter

    obtido o resultado esperado de impacto positivo da THS sobre o processo aterosclertico. Primeiro,

    as participantes selecionadas eram demasiado saudveis para produzir um efeito modificador

    benfico: mulheres com risco moderado a elevado de doena cardiovascular e com aterosclerose

    significativa foram excludas do estudo, fazendo, talvez, com que o prprio processo de seleo

    tenha, tambm, impedido a possibilidade de produzir efeitos sobre o processo aterosclertico. Em

    segundo lugar, o tempo de follow-up do estudo pode ter sido curto. De facto, um estudo prvio da

    WHI que incluiu medidas de CAC, realizado ao longo de 7 anos, evidenciou efeitos benficos da

    THS com estrognios equinos conjugados isolados sobre o CAC (41). Ainda, as doses de

    estrognios utilizadas no KEEPS foram mais baixas do que habitual; apesar de estas terem sido

    consideradas teraputicas do ponto de vista dos sintomas vasomotores, os autores consideram que

  • 49

    talvez apenas doses mais elevadas de estrognios possam ter efeito sobre o processo

    aterosclertico. Por fim, o estudo s tinha poder estatstico suficiente para detetar com confiana

    diferenas de CAC na ordem dos 50%, o que no se verificou. Apesar destas limitaes, o estudo

    apresentou resultados com um elevado grau de preciso, e , de acordo com os autores, o maior e

    mais longo estudo dedicado comparao das vias de administrao oral e transdrmica em

    relao a variveis de risco cardiovascular. De facto, apesar de o estudo ser sugestivo de uma

    ausncia de efeito benfico da THS sobre a progresso do processo aterosclertico medido por

    CIMT e score de CAC em mulheres saudveis com menopausa recente, registaram-se efeitos

    benficos sobre o colesterol e um efeito neutro sobre a TA.

    Figura 18: Efeitos da interveno no CIMT. Adaptado de (37)

  • 50

    Tratamento

    Participantes com Mudana de

    CAC

    Diferena de Risco vs

    Placebo

    Valor

    p

    Placebo 217 -

    THS Oral 181 -3.6 (-11.4-4.1) 0.36

    THS

    Transdrmica

    172 -2.1 (-10-5.7) 0.59

    Figura 19: Efeitos no score CAC. Adaptado de (37)

  • 51

    4. Outros aspetos relevantes

    a. O impacto da THS em outros rgos e sistemas

    Apesar de esta reviso se focar nos aspetos cardiovasculares da THS, esta tem, de facto,

    impacto em muitos outros rgos e sistemas. Alguns dos efeitos no-cardiovasculares da THS so

    relativamente consensuais, e outros, semelhana do sistema cardiovascular, alvo de controvrsia

    mesmo entre os peritos. Os principais aspetos estudados so os relativos s neoplasias, sobretudo

    da mama, mas tambm colorretal e, at, pulmonar; osteoporose e ocorrncia de fraturas; a aspetos

    neuropsiquitricos, como funo cognitiva, demncia e depresso. A figura 20 sumaria os

    principais riscos e benefcios de acordo com Gurney et al.

    Figura 20: Riscos e benefcios de THS em mulheres jovens. Adaptado de (6)

    Em relao ao cancro da mama, o relato inicial da WHI foi o de que THS combinada estaria

    associada a um aumento do risco do cancro da mama, o que no sucederia com estrognios

    isolados. De facto, esta foi uma das razes invocadas para a interrupo antecipada do estudo, e,

  • 52

    talvez, um dos resultados mais notoriamente divulgados. Uma anlise posterior das mulheres ainda

    vivas envolvidas na populao de estudo da WHI, concluiu-se que no s a THS com estrognios

    isolados estava associada a um risco menor de cancro da mama, como, quando se detetou cancro

    da mama nas mulheres deste grupo, se associou uma menor mortalidade pela doena. Tambm se

    tornou evidente que a THS no interferia na deteo mamogrfica de neoplasia, e que, no geral, as

    mulheres utilizadoras de THS tinham uma taxa maior de mamografias realizadas. A THS

    combinada est, de acordo com a maioria dos estudos, associada a um aumento ligeiro do risco de

    cancro da mama; mesmo assim, este risco menor que outros conhecidos, como obesidade ou

    densidade mamria aumentada (5,6). O efeito de diminuio do risco de cancro da mama com

    estrognios isolados no se aplicar a mulheres j com alto risco de desenvolver a doena. Em

    relao s neoplasias colorretais e do pulmo, h evidncia contraditria na literatura; o estudo da

    WHI aps estratificao por idades mostrou um aumento do risco de cancro colorretal com THS

    no grupo de mulheres mais velhas (6). Foi sugerido um aumento do risco de cancro do pulmo nas

    utilizadoras de THS a partir dos dados da WHI. Apesar de esta noo de um risco adicional que,

    at recentemente, estava por descobrir, estes dados no so consensuais. De facto, um autor

    salienta que este risco s relevante com o uso prolongado de THS (42).

    O impacto benfico na osteoporose e nas fraturas osteoporticas , talvez, o mais

    consensual dos efeitos atribudos THS. De facto, desde o estudo da WHI, demonstrando uma

    diminuio do risco de fraturas no vertebrais, que o valor da THS como fator protetor se manteve

    incontestado.

    Em relao a aspetos neuropsiquitricos, existe alguma controvrsia e estudos diferentes

    com resultados distintos. Um subestudo da WHI demonstrou maior declnio cognitivo nas

    utilizadoras de THS. Outros estudos demonstraram, no entanto, preservao do volume do

  • 53

    hipocampo em mulheres sob THS, comparadas com placebo ou no utilizadoras. Alguns autores

    sugerem que a hiptese de timing tambm seja vlida em relao a aspetos cognitivos (6). O estudo

    da relao entre THS e depresso tambm uma rea recente de interesse, com resultados

    contraditrios entre estudos. Caricatamente parecem existir vrios estudos que apontam para

    efeitos ou benficos ou nefastos, mas nenhum que reporte um efeito neutro sobre a depresso.

    b. Relao das recomendaes clnicas atuais com a evidncia

    medida que se acumulam informaes e estudos sobre os riscos e benefcios da THS,

    vrias entidades tm produzido documentos sobre a forma de recomendaes, opinies ou

    orientaes clnicas. Salientando as recomendaes mais recentes, a North American Menopause

    Society (NAMS) publicou uma posio oficial sobre THS com base na evidncia em 2012. O

    documento salientava a importncia da THS como a melhor teraputica para os sintomas

    vasomotores e a necessidade de individualizao na deciso de prescrever ou no THS e a

    formulao adequada. A posio da NAMN era notoriamente cautelosa em relao ao risco de

    cancro da mama e de alguns eventos tromboemblicos: salientava-se a ideia de que a segurana

    da THS com estrognios isolados no seria slida, faltando mais evidncia no mesmo sentido; em

    relao ao risco de AVC e VTE, salientava-se um potencial risco diminudo com formulaes de

    baixa dose ou transdrmicas (43). No global, esta posio mostrou-se um pouco mais focada nos

    riscos do que nos benefcios da THS, com recomendaes muito cautelosas e, at, subvalorizando

    evidncia j existente nesse ano. A American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG)

    emitiu uma opinio em 2013, que voltou a reforar em 2015, especialmente dirigida aos aspetos

    cardiovasculares da THS. Nesta, desencorajava o uso de THS para preveno cardiovascular

    primria ou secundria, e mencionava uma potencial validade da hiptese de timing. Apontava

  • 54

    ainda para a falta de estudos dedicados a descobrir a durao ideal de THS e os papis de diferentes

    progestagnios utilizados (44). Tendo em conta a controvrsia que existe volta dos riscos e

    benefcios desta forma de teraputica, e, ainda, uma certa sensao na comunidade cientfica de

    que nem entre os peritos existiria um consenso, surgiu, em 2013, o Consenso Global sobre THS

    na ps-menopausa. Este consenso foi apoiado pelas American Society for Reproductive Medicine,

    Asia Pacific Menopause Federation, Endocrine Society, European Menopause and Andropause

    Society, International Menopause Society, International Osteoporosis Foundation e a prpria

    NAMNS, j referida. Este consenso global foi, possivelmente, o mais positivo dos referidos em

    termos de salientar os benefcios, e no apenas os riscos, da THS. Neste documento apresentam-

    se os benefcios em termos de sintomas vasomotores e de preveno de fraturas osteoporticas, e

    a noo de validade da hiptese de timing, de forma mais explcita do que na opinio da ACOG.

    Ainda, e talvez mais importante, estas sociedades pronunciaram-se sobre alguns dos riscos mais

    temidos em relao a THS. Salientou-se que o risco de eventos tromboemblicos como o VTE e

    o AVC, mesmo com THS oral, so baixos em mulheres ps-menopusicas mais jovens, e

    potencialmente ainda mais baixos com formulaes transdrmicas. Alm dos riscos

    tromboemblicos, mencionou-se que o aumento de risco de cancro da mama com THS combinada

    baixo e cessa ao fim de alguns anos de utilizao (45). Apesar de este documento ser recente,

    baseado em evidncia e apoiado por diversas entidades de vrios continentes, numa tentativa de

    transmitir confiana e segurana comunidade cientfica e ao pblico em geral, questionvel que

    tenha tido um impacto semelhante ao da WHI.

  • 55

    Concluso

    A questo dos efeitos da THS sobre o organismo continua a ser complexa, mantendo-se em

    constante evoluo. De acordo com os mais recentes estudos clnicos, e tendo em particular

    ateno os efeitos sobre o sistema cardiovascular, salientam-se os seguintes achados: a utilizao

    de THS est associada, em mulheres ps-menopusicas mais jovens e saudveis, a um benefcio

    de mortalidade global e cardiovascular, a um efeito neutro ou ligeiramente aumentado do risco de

    AVC e a um aumento do risco de VTE; a THS parece ser segura aps um evento vascular, mas

    no est associada a um benefcio em termos de preveno secundria; o aumento do risco de AVC

    e VTE pode ser eliminado pela administrao de THS transdrmica, e, no caso de VTE, parece

    no conferir um aumento de risco em mulheres com fatores de risco j conhecidos. Em relao a

    fatores de risco conhecidos para doena cardiovascular, os efeitos da THS evidenciados pelos

    estudos recentes apontam para um efeito pelo menos neutro, e eventualmente benfico, sobre a

    TA, os lpidos e o IMC; estes efeitos podem verificar-se no s em mulheres saudveis como

    tambm naquelas com diagnstico de HTA; os efeitos sobre o processo aterosclertico sero

    neutros. Os principais efeitos benficos da THS verificam-se em mulheres jovens e saudveis, de

    acordo com a hiptese de timing. Assim, os efeitos do ponto de vista cardiovascular sero

    maioritariamente benficos ou neutros, combatendo a ideia to publicitada desde as publicaes

    da WHI de que a THS teria efeitos nefastos sobre o sistema cardiovascular. De facto, o principal

    efeito adverso, o aumento do risco de VTE, pode ser combatido pela utilizao da via transdrmica.

    Em relao a outros rgos e sistemas mantm-se consensual o efeito benfico sobre a

    osteoporose; em relao ao cancro da mama sabe-se que se verifica um pequeno aumento do risco

    com THS combinada, que , no entanto, inferior ao conferido por outros fatores de risco

    conhecidos; em relao a outras neoplasias, alteraes cognitivas e depresso, ainda existe

  • 56

    controvrsia. Apesar de terem passado mais de 10 anos desde as publicaes da WHI, estas

    parecem continuar a exercer um impacto negativo sobre a popularidade da THS, tanto entre a

    comunidade cientfica como no pblico geral. Algumas orientaes emitidas por entidades

    competentes, com exceo do Consenso Global, parecem ter dificuldade em libertar-se da WHI.

    O Consenso Global, apesar das suas mensagens mais positivas sobre a THS, parece no ter

    recebido a divulgao necessria para colocar a WHI no papel de investigao desatualizada.

    Talvez seja til notar que nos Estados Unidos, as publicaes da WHI pouparam milhes de

    dlares ao NIH por diminuio da prescrio de THS.

    Apesar da controvrsia que circunda a THS, h um aspeto em que todas as orientaes clnicas

    so consensuais: a necessidade de individualizao. aqui, tambm, que se torna importante o

    papel do especialista de MGF em relao prescrio. O conhecimento aprofundado de cada

    doente permite individualizar as escolhas de THS: se necessria, que formulaes utilizar, tendo

    em conta as morbilidades conhecidas, e que fatores de risco minimizar para impedir o

    desenvolvimento de efeitos nefastos. De facto, a menopausa providencia uma oportunidade ao

    Mdico de Famlia de desmistificar aspetos relacionados com THS, bem como promover estilos

    de vida saudveis, de forma a minimizar o risco de efeitos adversos associados.

    Apesar do estudo dos efeitos da THS ser um campo de investigao prolfero, ainda h questes

    importantes a esclarecer: o efeito especfico de diferentes formulaes de THS, nomeadamente o

    papel individual de diferentes progestagnios, pode vir a esclarecer resultados incongruentes

    verificados nalgumas reas; tambm, a questo da durao tima da THS de forma a maximizar

    os benefcios e diminuir os riscos uma das questes essenciais para o futuro.

  • 57

    Agradecimentos

    Agradeo aos meus orientador e co-orientador Doutor Humberto Vitorino e Professor Doutor

    Hernni Canio, respetivamente, pelo acompanhamento dado numa fase to importante da vida de

    um estudante de Medicina.

    Agradeo Biblioteca do CHUC o apoio prestado na pesquisa bibliogrfica.

    Por fim, pelo apoio e carinho constantes, agradeo minha famlia e amigos.

  • 58

    Referncias

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