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Incursões históricas sobre o livro “Há Dois Mil Anos” – A erupção do Vesúvio
– Parte 1
Marco Paulo Denucci Di Spirito
Resumo: O presente trabalho tem por escopo a avaliação de dados históricos
contidos no livro “Há Dois Mil Anos”, da psicografia de Francisco Cândido Xavier.
Designadamente, propõe-se o estudo de um trecho da obra que trata da erupção do
monte Vesúvio e da existência de vilas em Pompeia.
Palavras-chave: Psicografia – mediunidade – história – erupção do Vesúvio –
Pompeia – vilas romanas.
Abstract: The scope of this paper is to review the historical data presented in the
book “Two Thousand Years ago”, psychographed by Francisco Candido Xavier. In
particular, it is proposed to study a book’s excerpt about the eruption of Mount
Vesuvius and the existence of villas in Pompeii.
Key-words: Psychographics - mediumship - history - eruption of Mount Vesuvius –
roman villas.
Sumário
1. Introdução; 2. A passagem selecionada; 3. O horário da erupção do Monte
Vesúvio em 79 d.C.; 4. As vilas em Pompeia; 5. As fontes históricas disponíveis
sobre os pontos destacados; 6. Conclusões parciais; 7. Referências bibliográficas.
1. Introdução
Como tivemos a oportunidade de esclarecer no primeiro trabalho
publicado na Revista Eletrônica Lei Divina1, damos sequência ao empreendimento
de divulgar estudos voltados à avaliação dos dados históricos contidos no livro “Há
Dois Mil Anos”, psicografado por Francisco Cândido Xavier, trazendo à lume
pesquisas que temos realizado desde 2005.
Sobre a proposta de exposição da pesquisa, remetemos o leitor ao
aludido artigo, designadamente para sua introdução. Vale destacar, apenas, que
não objetivamos tecer conclusões detidas sobre os dados em análise, senão
apresentar ao estudioso interessado o contraponto destes com os registros
historiográficos levantados.
1 http://www.revista.febnet.org.br.
2
A obra “Há Dois Mil Anos” certamente renderia um épico dos cinemas,
pois sua narrativa perpassa por marcantes fatos históricos tais como a Conspiração
de Catilina, os anos de glória da Roma Imperial, a presença de Jesus na Judéia, a
Revolução dos Judeus. E também transcorre em meio ao evento objeto do presente
trabalho: a erupção do Vesúvio no ano de 79 da nossa era.
A respeito da tragédia sobre a qual nos debruçaremos, o livro “Há Dois
Mil Anos” aduz inúmeras informações. Na verdade, são tantas que optamos por
estudá-las em partes. Este fracionamento será observado para outros temas
abordados na obra, tais como a Guerra dos Judeus, desde o seu início até a marcha
do triunfo de Tito e Vespasiano.
Assim, na esteira da metodologia proposta, cabe destacar a passagem
que será analisada, o que se fará no tópico seguinte.
2. A passagem selecionada
Nesta oportunidade optou-se por enfocar o seguinte trecho:
“Em radiosa manhã do ano de 79, toda a
Pompeia despertou em rumores festivos.
(...)
No séquito do questor ilustre vinha, igualmente,
Plínio Severus, em plenitude de maturidade, totalmente
regenerado e julgando-se agora redimido no conceito da
esposa e daquele que seu coração considerava como pai.
(...)
Nesse dia, enquanto Ana comandava,
verbalmente, as atividades domésticas nos preparativos da
recepção, mobilizando escravos e servos numerosos, Públio
e filha se abraçavam comovidos, em face da surpresa que o
destino lhes reservara, embora tardiamente. Avisados por
mensageiros da caravana de patrícios ilustres, davam larga
às emoções mais gratas do espírito, na doce perspectiva de
acolherem o filho pródigo, tantos anos distante de seus
braços amigos.
Antes do meio-dia, um deslumbramento de
viaturas, de cavalos ajaezados e de jóias faiscantes sobre
vestiduras reluzentes se deparava às portas da vila plácida e
graciosa, provocando a admiração e o interesse curioso das
3
vizinhanças. E, em seguida, foi um turbilhão de abraços,
carinhos, palavras confortadoras e generosas.
(...)
Públio Lentulus abraçou Plínio, demoradamente,
como se fizesse a um filho bem-amado, que voltasse de longe
e cuja ausência houvera sido excessivamente prolongada.
Experimentava no íntimo impulsos de extravasão de afeto,
que o seu coração dominou, para não provocar a admiração
injustificada dos circunstantes.
(...)
Insistentes chamados, porém, requeriam a
presença do questor e comitiva, no local dos festejos.
O circo fôra preparado a rigor e não se perdera
nenhuma oportunidade para a realização das menores
minudências próprias das grandes festividades romanas.
E ao mesmo tempo que todos se despediam do
senador e de sua filha, num deslumbramento de felicidade
mundana, Plínio Severus dirigia-se a Públio nestes termos,
depois de abraçar ternamente a companheira:
- Meu pai, levado pelas circunstâncias, sou
compelido a acompanhar o questor nas festividades
populares, mas estarei de regresso em breves horas, para
ficar convosco um mês, de modo a tratarmos do nosso
regresso a Roma.
Em pleno espetáculo, Plínio Severus, já no outono
da vida, arquitetava os planos de futuro. Procuraria resgatar
todas as faltas antigas, perante os seus parentes afetuosos e
queridos; assumiria a direção de todos os negócios do velho
pai pelo coração, aliviando-o de todas as angustiosas
preocupações da vida material.
De vez em quando, os aplausos da multidão lhe
interrompiam os devaneios. A maioria da população de
Pompeia ali estava em plena festa, ovacionando os
triunfadores. Gente de toda a redondeza e muito
particularmente de Herculanum, acorrera pressurosa ao
divertimento predileto daquelas épocas recuadas. De
permeio com os atletas e gladiadores, estavam os músicos,
os cantores e os dançarinos.
Tudo era um farfalhar de sedas, um delicioso
chocalhar de alegrias ruidosas, ao som de flautas e alaúdes.
(...)
4
Em dado instante, porém, a atenção geral foi
solicitada por um fato estranho e incompreensível. Do cimo
do Vesúvio elevava-se grossa pirâmide de fumo, sem que
ninguém atinasse com a causa do fenômeno insólito.
Continuavam os jogos animadamente, mas agora,
no seio da coluna fumarenta que se elevava em caprichosos
rolos para o alto, surgiam impressionantes labaredas...
Plínio Severus, como todos os presentes, se
surpreendia com o fenômeno estranho e inexplicável.
Em minutos breves, no entanto, estabeleciam-se
no anfiteatro a confusão e o terror.
(...)
Mergulhada em penumbra espessa e tomada de
terror indizível, Pompeia assistia aos seus últimos instantes,
numa aflição desesperada...
(...)
Na vila de Lentulus, os escravos perceberam
imediatamente o perigo próximo. Nos primeiros momentos,
os cavalos relinchavam estranhamente e as aves inquietas
fugiam em desespero.
Após a queda das primeiras colunas que
sustentavam o edifício, todos os servos do senador
abandonaram precipitadamente os postos, desejosos de
conservar noutra parte os bens preciosos da vida. Somente
Ana ficara junto dos amos, dando-lhes conhecimento dos
horrores do ambiente.
Os três, numa justificada inquietude, escutaram o
rumor horrível da inolvidável catástrofe do Império. A
própria vila estava já meio destruída, penetrando as cinzas
pelos desvãos abertos pela queda dos telhados e começando
a sua obra de lenta sufocação.”2
A passagem está contextualizada no dia da erupção do Monte Vesúvio,
no ano de 79. Nesta data, o protagonista Públio Lentulus, então domiciliado em
Pompeia, recebe seu genro Plínio Severus. Este evento é frisado uma vez que está
relacionado ao horário aproximado do início das atividades do vulcão, como se
verá adiante. Em seguida, o texto relata a destruição da casa do Senador Públio
Lentulus, curiosamente denominada de “vila de Lentulus”.
2 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel (Espírito). Há Dois Mil Anos. Brasília: FEB, 2013, p. 341 e
ss.
5
Assim, cumpre averiguar a correspondência, com a história, dos
seguintes fatos relatados no trecho em tela: i) o horário aproximado da erupção do
Monte Vesúvio em 79; ii) a compreensão do que viria a ser uma vila estabelecida
na região de Pompeia.
É verdade que o texto acima transcrito apresenta outros pontos
históricos de relevo. Todavia, estes serão avaliados noutra oportunidade.
A partir dos tópicos seguintes será demonstrado que a obra apresenta,
no trecho selecionado, dados verossímeis quando comparados com registros
históricos.
3. O horário da erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C.
A erupção do Monte Vesúvio sob análise realmente ocorreu em 79 d.C,
mais especificamente em 24 de agosto3. Há, todavia, quem situe o evento em
novembro.4
O ano em que se verificou tal tragédia é um dado que, se não é do
conhecimento geral, também não pode ser tido como de domínio exclusivo dos
especialistas.
Por outro lado, o mesmo não pode ser dito quanto ao horário específico
em que o vulcão iniciou suas atividades no dia em questão.
Afinal, tal informação é apresentada em apenas uma fonte histórica, que
consiste na carta de Plínio, o Jovem, enviada para Tácito, a respeito das
constatações de Plínio, o Ancião. O contexto deste registro histórico requer uma
avaliação detida.
Gaius Plinius Secundus, mais conhecido como Plínio, o Ancião foi um
distinto romano tido como um dos grandes enciclopedistas da história de seu povo,
que se notabilizou pela sua obra Naturalis Historiae, composta por trinta e sete
volumes5.
De acordo com os relatos de seu sobrinho e, posteriormente, filho
adotivo Gaius Plinius Caecilius Secundus, também conhecido por Plínio, o Jovem, no
3 HOWATSON, M. C. The Oxford Companion to Classical Literature. Oxford: Oxford University Press,
1989, p. 272. KELSEY, Francis W. Pompeii: Its Life and Art. New York: Macmillan, 1907, p. 19. 4 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 80. 5 BUNSON, Matthew. Encyclopedia of the Roman Empire. New York: Infobase Publishing, 2002, p.
436.
6
dia dos fatos o ancião encontrava-se próximo ao vulcão, tendo tomado
apontamentos sobre os detalhes da erupção, incluindo o seu horário de início.
Em decorrência do desastre, Plínio, o Ancião acaba falecendo. Assim, o
famoso historiador romano Tácito solicita a seu amigo Plínio, o Jovem, que lhe
escreva uma carta consignando os detalhes que foram constatados pelo velho
Plínio, para que pudesse a utilizar como referência em seus escritos.6
Dessa forma, Plínio, o Jovem atende ao pedido de Tácito e lhe escreve a
carta, da qual se extrai o seguinte trecho relevante para o presente estudo:
“(...)
2. Erat Miseni classemque imperio praesens
regebat. Nonum kal. Septembres hora fere septima mater
mea indicat ei adparere nubem inusitata et magnitudine et
specie. Usus ille sole, mox frigida, gustaverat iacens
studebatque; poscit soleas, ascendit locum ex quo maxime
miraculum illud conspici poterat. (...)”7
O texto em latim é destacado com um propósito específico. Ocorre que
nele consta a referência do dia e do horário da erupção, de acordo com os
parâmetros romanos.
Muitas traduções desse texto foram providenciadas já com a conversão
dos parâmetros temporais para a nossa compreensão atual, como ocorre na
seguinte versão em inglês:
“(...)
6 “The most celebrated of the letters concerned with natural phenomena are those describing the
eruption of Vesuvius in August 79, which Pliny penned at the request of his friend Tacitus, who
used them as a source in a lost section of his Histories.” (WALSH, P. G. Pliny, the Younger - Complete
letters; translated with an introduction and notes by P. G. Walsh. Oxford: Oxford University Press,
2006, Introdução, p. xxiv). “Our chief source of information for the events of August 24- 26, 79, is a
couple of letters of the Younger Pliny to Tacitus, who purposed to make use of them in writing his
history. Pliny was staying at Misenum with his uncle, the Elder Pliny, who was in command of the
Roman fleet. In the first letter he tells of his uncle's fate. On the afternoon of the twenty-fourth, the
admiral Pliny set out with ships to rescue from impending danger the people at the foot of Vesuvius,
particularly in the vicinity” (KELSEY, Francis W. Pompeii: Its Life and Art. New York: Macmillan,
1907, p. 19). Umberto Eco, embora sem questionar a história em si – “As far as we know, the story
is true indeed” – tece críticas sobre a forma heroica com que Plínio, o Ancião, é apresentado por
Plínio, o Jovem. (ECO, Umberto. The Limits of Interpretation. Bloomington: Indiana University Press,
1994, p. 123 e ss.). 7 O texto em latim foi obtido da obra de Umberto Eco: ECO, Umberto. The Limits of Interpretation.
Bloomington: Indiana University Press, 1994, p. 125.
7
My uncle was at Misenum, where he held
command of the fleet in person. Just after midday on 24
August my mother pointed out to him the appearance of a
cloud of unusual size and appearance. He had relaxed in the
sun, had then taken a cold dip, had lunched lying down, and
was at his books. He asked for his sandals, and mounted to
the place from which that remarkable phenomenon could
best be observed. (...)”8
Todavia, uma tradução literal para o português permite aferir os
seguintes referenciais de tempo:
“(...)
Meu tio encontrava-se em Miseno, onde
comandava a frota. Era o nono dia antes das calendas de
setembro (24 de agosto), pela sétima hora (13 horas),
quando minha mãe lhe mostrou que se formava uma nuvem
volumosa e de forma incomum. Havia tomado seu banho de
sol, depois um banho frio, e, num leito, estudava. Levantou-
se e subiu a um lugar do qual podia ver melhor o fenômeno
(...)”9
O sistema de mensuração do tempo em Roma possuía como parâmetro
a luz do dia.10 Assim, os estudiosos da história romana esclarecem que a sétima
hora referida no texto diz respeito ao horário entre meio-dia e uma hora da
tarde11.
8 WALSH, P. G. Pliny, the Younger - Complete letters; translated with an introduction and notes by P. G.
Walsh. Oxford: Oxford University Press, 2006, p. 143. 9 FUNARI, Pedro Paulo A. Vida quotidiana na Roma Antiga. São Paulo: Annablume, 2003, p. 63. 10 BREASTED, James Henry. The Beginnings of Time-Measurement and the Origins of Our Calendar.
In: The Scientific Monthly , vol. 41, nº. 4, Out/1935; New York: American Association for the
Advancement of Science, p. 289-304. WRIGHT, M. T. Greek and Roman Portable Sundials: An Ancient
Essay in Approximation. In: Archive for History of Exact Sciences , Vol. 55, nº 2, Dez/2000. New York:
Springer, p. 177-187. SLOLEY, R. W. Primitive Methods of Measuring Time: With Special Reference to
Egypt. In: The Journal of Egyptian Archaeology vol. 17, nº 3/4, Nov., 1931, London: Egypt
Exploration Society, p. 166-178. 11 “Around or after 1:00 P.M.” (SIGURDSSON, H. The Eruption of Vesuvius in A. D. 79: Addendum. In:
American Journal of Archaeology , vol. 86, nº. 2; Abr/1982; Boston: Archaeological Institute of
America, pp. 315-316). “Na carta de Plínio, o Jovem, lemos que ocorreu perto da sétima hora depois
do nascer do sol (hora fere septima), em 24 de agosto, quando se observou a nuvem da erupção
sobre o Vesúvio, ou seja, por volta do meio-dia (Ep. 6.16.4)”, Tradução livre de: “In Pliny the
Younger’s letter we read that it was near the seventh hour after sunrise (hora fere septima) on
August 24, when they noted the eruption cloud over Vesuvius, i.e. about noon (Ep. 6.16.4).”
(DOBBINS, John J.; FOSS, Pedar W. The World of Pompeii. New York: Routledge, 2007, p. 52).
8
Exatamente por isso consta em algumas traduções a seguinte indicação
temporal:
“Ele estava naquele momento com a frota sob seu
comando em Misenum. No dia 24 de Agosto [nonum Calend.
Septembres], por volta de uma da tarde [Hora fere
Septima], minha mãe pediu-lhe que observasse uma nuvem
que apareceu de um tamanho e forma muito incomuns.”12
“Meu tio estava no Miseno, onde mantinha o
comando da frota em pessoa. Logo após o meio-dia, em 24
de agosto, minha mãe apontou-lhe o surgimento de uma
nuvem de tamanho e aparência incomuns.”13
O início da atividade do vulcão, logo após o meio-dia, confirma a
apresentação da cronologia dos fatos contidos no trecho destacado da obra “Há
Dois Mil Anos”.
Como visto, a passagem selecionada para avaliação afirma textualmente
que “antes do meio-dia” Públio Lentulus havia recebido o seu genro Plínio Severus.
O romance segue descrevendo o encontro dos personagens, que permaneceram
juntos apenas por algum tempo, uma vez que Plínio Severus tinha a incumbência
de acompanhar o questor nas festividades populares e, por isso, partiu. A obra
apresenta, na sequência, Plínio Severus no anfiteatro, diante das festividades que
marcaram aquele dia, quando presenciou os derradeiros minutos de Pompeia em
virtude da erupção do Vesúvio.
Recapitulando resumidamente tais fatos, o livro apresenta a seguinte
sequência: i) o encontro de Públio Lentulus com Plínio Severus, antes do meio-dia;
ii) a breve permanência de Plínio Severus na residência de Públio Lentulus; iii) a
saída apressada de Plínio Severus para acompanhar o questor ao local das
festividades; iv) a chegada de Plínio Severus ao anfiteatro; v) a erupção do Vesúvio.
12 “He was at that time with the fleet under his command at Misenum. On the 24th of August
[nonum calend. Septembres], about one in the afternoon [hora fere septima], my mother disired
him to observe a cloud which appeared of a very unusual size and shape.” (PHILLIPS, John. Vesuvius.
Oxford: Clarendon Press, 1869, p. 14). 13 Tradução livre de: “My uncle was at Misenum, where he held command of the fleet in person. Just
after midday on 24 August my mother pointed out to him the appearance of a cloud of unusual size
and appearance.” (WALSH, P. G. Pliny, the Younger - Complete letters; translated with an introduction
and notes by P. G. Walsh. Oxford: Oxford University Press, 2006, p. 143).
9
Percebe-se, pois, que a cronologia dos acontecimentos está em
consonância com o registro histórico que aponta o horário da erupção do Vesúvio,
ocorrida a partir do meio-dia.
Corrobora esta conclusão os estudos históricos que indicam a tradição
romana no sentido de encerrar as atividades na sexta hora para reativá-las a partir
da sétima hora.14
A obra “Há Dois Mil Anos”, em outras passagens, apresenta um contexto
de coerência com tais praxes:
“No palácio do Aventino, todos os domésticos
mais íntimos acreditavam na permanência de Lívia em casa
da filha; mas, um pouco antes do meio-dia, Flávia Lentúlia
veio ter com o pai, a fim de beijá-lo antes do triunfo.”15
“O senador sentiu o coração ferido de presságios
angustiosos, mas os escravos já se encontravam preparados
para conduzi-lo ao Senado, onde as primeiras cerimônias
teriam início depois do meio-dia, com a presença de
César.”16
Aliás, o cuidado para que o questor não se atrasasse em face da
retomada das festividades, que provavelmente aconteceria a partir da sétima hora,
explicaria o seguinte trecho da obra, também transcrito acima:
“Insistentes chamados, porém, requeriam a
presença do questor e comitiva, no local dos festejos.”17
O contexto geral, assim, aponta para a chegada de Plínio Severus à casa
de Públio Lentulus antes do meio-dia e para a chegada do primeiro ao anfiteatro de
Pompeia por volta de uma hora, momentos antes da erupção.
14 “Others may have worked from dawn to dusk with a break at midday (the sixth hour).”
(LAURENCE, Ray. Roman Pompeii: space and society. London: Routledge, 1996, p. 118).
“Significativamente, a sétima hora começou no mesmo ponto, em tempo real, no verão e no inverno.
Isso foi essencial, porque era às sete horas que muitas atividades recomeçavam depois de uma hora
de descanso.” Tradução livre de: “Significantly, the seventh hour began at the same point in real
time summer and winter. This was essential, because it was at the seventh hour that many activities
recommenced after an hour of rest.” (LAURENCE, Ray. Roman Pompeii: space and society. London:
Routledge, 1996, p. 104). 15 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel (Espírito). Há Dois Mil Anos. Brasília: FEB, 2013, p. 255. 16 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel (Espírito). Há Dois Mil Anos. Brasília: FEB, 2013, p. 255. 17 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel (Espírito). Há Dois Mil Anos. Brasília: FEB, 2013, p. 344.
10
O relato fático em tela é verossímil quando se considera que apresenta
uma sequência de eventos plenamente possível de ter ocorrido antes da erupção,
no dia 24 de agosto de 79 d.C.
Essa compatibilidade cronológica é relevante uma vez que o autor de
um romance histórico ou de um pasticho se depararia com grande margem de erro
caso tentasse descrever um evento tão comum quanto um encontro familiar na
Pompeia do dia 24 de agosto de 79 d.C. A afirmação de um fato desta natureza a
partir de uma hora da tarde seria considerada como muito pouco provável,
considerando-se a tragédia que assolou a região após este momento.
É igualmente instigante a constatação de que a informação sobre a hora
de início da erupção do Vesúvio requer não apenas um conhecimento muito
específico, porquanto registrada apenas na epístola de Plínio, o Jovem, destinada a
Tácito, mas também porque requer conhecimentos especiais da cultura romana
para decifrar que a referência à sétima hora diz respeito ao horário por volta de
13:00h.
Portanto, o trecho em destaque apresenta verossimilhança em cotejo
com os registros históricos e aduz informações específicas típicas daquelas
dominadas por especialistas.
4. As vilas em Pompeia
Ainda no contexto da erupção do Vesúvio, a obra “Há Dois Mil Anos”
apresenta a repercussão desse fenômeno no local que servia de residência para
Públio Lentulus, referido como “vila de Lentulus”.
O substantivo vila, tal como empregado, causa alguma estranheza, já
que comumente utilizado para referir-se à seguinte acepção prevista no Dicionário
Aurélio: “povoação de categoria superior à de aldeia ou arraial e inferior à de uma
cidade”.18
Considerando-se a Pedro Leopoldo de 1939, data de produção do livro,
e mesmo na atualidade, muito provavelmente se interpretaria a palavra vila de
acordo com o seu uso regional (brasileirismo), segundo indicado no mesmo
dicionário: “conjunto de pequenas habitações independentes, em geral idênticas, e
dispostas de modo que formem rua ou praça interior, por via de regra sem caráter
18 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira e Lexikon Informática, 1999. Versão 3.0. 1 CD-ROM.
11
de logradouro público”19. Ou de acordo com outro regionalismo apontado pelo
Dicionário Houaiss: “qualquer conjunto de casas agrupadas”20.
Os dicionários Aurélio e Houaiss indicam a etimologia da palavra,
originária do latim villa. Esta última obra também aduz o sentido que mais se
adéqua à cultura romana: “casa de campo ou de recreação nos arrabaldes das
cidades italianas.”21
Portanto, o que se entende por vila na realidade da Roma antiga é algo
significativamente diverso do que aprendemos pelo uso cotidiano no Brasil.
Para a nobreza romana a palavra vila correspondia a suntuosas casas de
veraneio22. Pode-se dizer que numa vila romana o edifício e sua arquitetura é que
se destacavam, não a extensão das terras. Conforme esclarece Roberto Schezen:
“Ao longo dos tempos imperiais, até final do
século IV, a vila foi o resort dos romanos próspreros.
(...)
A vila ou tinha que ser de fácil acesso à cidade ou,
de outra forma, equipada, como as de Plínio eram, para
acomodar os proprietários e seus convidados durante
19 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira e Lexikon Informática, 1999. Versão 3.0. 1 CD-ROM. 20 HOUAISS, Antonio, VILLAR, Mauro de Salles, FRACO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário
eletrônico Houaiss da língua portuguesa . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Versão 1.0. 1 CD-ROM.
2001. 21 HOUAISS, Antonio, VILLAR, Mauro de Salles, FRACO, Francisco Manoel de Mello. Dicionário
eletrônico Houaiss da língua portuguesa . Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Versão 1.0. 1 CD-ROM.
2001. 22 Arcisse de Caumont parece ter sido a primeira pessoa a estudar as vilas romanas como um classe
distinta do construção. (SMITH, J.T. Roman villas: a study in social structure. New York: Routledge,
1997, p. 6). “It has been generally assumed that villas owned by wealthy Roman citizens were
mostly used as summer resorts. (...) Strabo stated that the whole Bay of Naples appeared like a
continuous town as a result of the number of villas that lined the coastline.” (LAZER, Estelle.
Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 79). “Whenever the Roman could afford the
additional luxury of a home in the country, he maintained ‘villas’ as well as an urban residence.”
(NASH, Ernest. Roman Towns. New York: J. J. Augustin, 1994, p. 22). “At once both elegant
residences and units for production, villas were a typical feature of the Roman world. They were an
expression not only of a particular lifestyle, but also of Roman society in general; villas were
emblematic of membership to the upper class, or else of the aspiration to it.” (MARZANO, Annalisa.
Roman Villas in Central Italy - A Social and Economic History. Leiden: Brill, 2007, p. 1.) Sobre a
aparência de tais casas romanas, inconfundíveis com propriedades rurais típicas do contexto
brasileiro, confira-se: NASH, Ernest. Roman Towns. New York: J. J. Augustin, 1994, p. 22; SCHEZEN,
Roberto. The Villa: From Ancient to Modern. New York: Abrams Books, 2000, p. 11. Ainda, vale
consultar a seguinte vídeo-aula: http://www.youtube.com/watch?v=aO8lvx--Hv0 .
12
semanas ou até meses. Romanos prósperos mantinham um
número de lugares favoritos – as colinas da Toscana e o
litoral, perto de Nápoles - que estavam todos repletos de
vilas, assim como as colinas do interior, ao sul de Roma, em
Tusculum, por exemplo, onde Cícero viveu, e onde ele
realizou os seus famosos debates filosóficos. Imperadores
construíram vilas para o entretenimento privado, como
Tibério fez sobre um promontório na ilha de Capri.”23
De acordo com Francis W. Kelsey:
“Duas classes de vilas eram distinguidas pelos romanos, - a
de grandes propriedades, villa pseudourbana, e a casa rural,
villa rustica. A primeira era uma casa de cidade, adaptada às
condições rurais; a organização das últimas eram
determinadas pelas exigências da vida na fazenda.
As grandes propriedades apresentavam maior diversidade
de planejamento do que as residências da cidade. Eles eram
relativamente maiores, contendo colunatas espaçosas e
jardins; como o proprietário se encontrava irrestrito em
relação ao espaço, não estando confinado sob os limites de
um lote, oportunidades mais completas eram oferecidas
para a exibição do gosto individual no arranjo dos quartos.
Podemos entender a partir das cartas de Plínio, o Jovem,
descrevendo suas duas moradias em Laurentum e Tifernum
Tiberinum (agora Città di Castello) e, a partir dos restos da
casa de Adriano em Tivoli, quão longe a individualidade
poderia firmar-se no planejamento e na construção de uma
casa de campo.”24
23 Tradução livre de: “Throughout Imperial times, until the late fourth century, the villa was the
resort of the prosperous Roman.
(...)
The villa either had to be within easy reach of town or of another type, equipped, as Pliny's were, to
accommodate the owners and their guests for weeks or even months. Prosperous Romans had a
number of favorite spots — the Tuscan hills and the seaside near Naples — which were all crowded
with villas, as were the hills inland just south of Rome, at Tusculum, for instance, where Cicero
lived, and where he held his famous philosophical disputations. Emperors built villas for private
entertainment, as Tiberius did on a promontory on the Isle of Capri.” (SCHEZEN, Roberto. The Villa:
From Ancient to Modern. New York: Abrams Books, 2000, p. 11). 24 Tradução livre de: “Two classes of villas were distinguished by the Romans, -- the country seat,
villa pseudourbana, and the farmhouse, villa rustica. The former was a city house, adapted to rural
conditions; the arrangements of the latter were determined by the requirements of farm life. The
country seats manifested a greater diversity of plan than the city residences. They were relatively
larger, containing spacious colonnades and gardens; as the proprietor was unrestricted in regard to
13
Interessante notar que as escavações em Pompeia revelaram a presença
de vilas romanas na região:
“Plínio e Vitruvius fornecem muitas informações
sobre como as vilas eram ocupadas, mas pouco se conhecia
sobre elas até dois séculos atrás, quando um feliz acidente
levou à descoberta das ruínas de Herculano e Pompeia, as
duas cidades que tinham sido as mais prósperas do interior
bem como resorts litorâneos e foram enterrados sob as
cinzas e lava produzidos pela grande e totalmente
inesperada explosão do Vesúvio, em 79 d.C., a mesma que
matou Plínio, o ancião. Como casa após casa foram
descobertas, muitas delas foram reconstruídas, e em
algumas suas mobílias, bem como objetos metálicos, e até
mesmo uma biblioteca inteira, como num caso específico,
foram recuperados. E, claro, em muitos deles uma grande
quantidade de decoração, algumas em relevo de gesso,
muitas delas pintadas, tinham sobrevivido.”25
“No total, os restos de quase 150 propriedades
foram descobertas no interior da cidade, mas o nosso
conhecimento sobre de que tipo de estabelecimento se
tratavam ou quem os possuía é muito nebuloso, pois só
raramente eles têm sido sistematicamente escavados. Alguns
eram certamente vilas prazeirosas para os ricos, mesmo
aqueles que vinham de tão longe como Roma: não era
apenas Cícero, que teve o seu ‘lugar de Pompeia’. Alguns
space, not being confined to the limits of a lot, fuller opportunity was afforded for the display of
individual taste in the arrangement of rooms. We can understand from the letters of Pliny the
Younger, describing his two villas at Laurentum and Tifernum Tiberinum (now Città di Castello),
and from the remains of the villa of Hadrian at Tivoli, how far individuality might assert itself in the
planning and building of a country home.” (KELSEY, Francis W. Pompeii: Its Life and Art. New York:
Macmillan, 1907, p. 355). 25 Tradução livre de: “Pliny and Vitruvius provide much information about how villas were
occupied, but little was actually known about them until two centuries ago, when a happy accident
led to the discovery of the ruins of Herculaneum and Pompeii, the two towns that had been
prosperous country towns as well as seaside resorts and were buried in the ash and lava produced
by the great and wholly unexpected explosion of Vesuvius in AD 79, the same one that killed Pliny
the Elder.As house after house was discovered, many of them were reconstructed, and in some
their furniture as well as metal objects, even a whole library, in one case, were recovered. And of
course in many of them a great deal of the decoration, some in plaster relief, and much of it painted,
had survived.” (SCHEZEN, Roberto. The Villa: From Ancient to Modern. New York: Abrams Books,
2000, p. 11).
14
eram trabalhadores rurais. Outros eram uma combinação
dos dois.”26
Pela ilustração abaixo, referente a sítios de escavação em Pompeia, é
possível identificar a localização de algumas vilas27:
De acordo com os especialistas, Pompeia era marcada pela presença de
inúmeras vilas luxuosas28, que se concentravam, na maior parte, fora dos muros da
cidade29.
26 Tradução livre de: “Altogether the remains of almost 150 properties have been discovered in the
hinterland of the city, but our knowledge of what kind of establishments they were or who owned
them is very hazy, for only rarely have they been systematically excavated. Some were certainly
pleasure villas for the rich, even those from as far away as Rome: it was not only Cicero who had his
‘Pompeian place ’. Some were working farms. Others were a combination of the two.” (BEARD,
Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town. London: Profile Books, 2008, p. 155). 27 Legenda: 1 – Vila dos Mistérios; 2 – Vila de Diomedes; 3 – Vila dos Sepulcros; 4 – Vila de Giulia
Felice; 5 – Anfiteatro. 28 “However, before we begin to analyse the local patterns of production and consumption in
Pompeii, we must set the city of Pompeii in a wider economic perspective. Geographically, Pompeii
was the entrepôt for the Sarno river valley (Strabo 247C=5.4.8). It had good river connections with
the towns of this economic hinterland. Also, it formed part of an economy based upon the luxury
villas of the Bay of Naples and the wider Campanian economy, which was centred upon Puteoli
15
A história registra que conhecidas personalidades romanas possuíam
vilas destinadas aos momentos de repouso, como Popeia Sabina30, esposa de Nero,
Cícero31 ou Plínio, o Jovem.32
Dentre algumas das vilas descobertas na região, podem ser citadas a
vila de Giulia Felice33, a vila de Popeia (ou vila Oplontis)34, a vila de Diomedes35, a
vila de P. Fannius Synistor36, a vila de M. Fabius Rufus37, a vila Regina38, a vila dos
mistérios39, a vila dos papiros40, a vila das colunas mosaicas41.
(D’Arms 1970:116–67).” (LAURENCE, Ray. Roman Pompeii: space and society. London: Routledge,
1996, p. 47). 29 “Out-of-town Roman house, or ‘villa’.” (BEARD, Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town.
London: Profile Books, 2008, p. 110). 30 “As has been often observed, Nero and Poppaea were especially popular at Pompeii, Poppaea
herself having very strong local connections, especially through her probable ownership of the
magnificent villa nearby at Oplontis.” (FRANKLIN JR, James L. Pompeis difficile est : studies in the
political life of imperial Pompeii. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 2004, p. 119, 120). 31 “Not only Sullan veterans, however, but other Romans – notably Cicero –also came to acquire
property around Pompeii by the mid-first century BC (B17–22). Excavators in the eighteenth
century identified a villa on the outskirts, just beyond the Herculaneum Gate, as belonging to Cicero.
(...) His Pompeian villa served at times both as a retreat from the politically oppressive atmosphere
of Rome and as a potentially good location for a hasty escape by sea.” (COOLEY, Alison E.; COOLEY,
M.G.L. Pompeii: a sourcebook. New York: Routledge, 2004, p. 17, 24) 32 “Many of these villas were owned by Romans. For example, the Younger Pliny had six villas,
Cicero three, and it is thought, on the basis of evidence from inscriptions, that the Villa of Oplontis
near Pompeii may have at one time belonged to Nero’s wife, Poppaea.” (LAZER, Estelle.
Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 79). COOLEY, Alison E.; COOLEY, M.G.L.
Pompeii: a sourcebook. New York: Routledge, 2004, p. 41. 33 MAIURI, Amedeo. Pompei ed Ercolano: fra case e abitanti. Florença: Giunti Editore, 1998, p. 55.
Imagens podem ser acessadas pelo seguinte endereço eletrônico:
http://www.youtube.com/watch?v=xysIejmNylo . 34 Imagens podem ser acessadas pelos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.youtube.com/watch?v=6i1zpbtW4A4 ;
http://www.youtube.com/watch?v=bTmwXYQZ9JY . 35 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 19. Imagens podem ser
acessadas pelo seguinte endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=G-1j8G1pRwg . 36 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 53 37 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 256. 38 BEARD, Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town. London: Profile Books, 2008, p. 157 39 COOLEY, Alison E.; COOLEY, M.G.L. Pompeii: a sourcebook. New York: Routledge, 2004, p. 148.
“The Villa of the Dionysiac Mysteries manifests the best state of preservation, among the country
houses thus far excavated. It is situated outside Pompeii on the road leading to Herculaneum. Since
the original entrance from that side has not yet been excavated, the building is approached and
entered from the rear. A large quadrangular basement supports a garden terrace surrounding the
western part of the one-story villa. A colonnaded portico on the south, west, and north sides
borders the garden. Entered from the rear, the house displays a tablinum opening upon an apsidal
exedra on one side and upon a spacious atrium on the other. Atrium and peristyle show the basic
characteristics of the Roman town house.” (NASH, Ernest. Roman Towns. New York: J. J. Augustin,
16
Como explica Roberto Schezen, tais escavações ainda persistem, pois
não foram esgotados os locais de pesquisa.42
Percebe-se, pois, que a obra “Há Dois Mil Anos” surpreende ao
empregar a palavra vila num enquadramento significativamente distinto de sua
acepção ordinária no cotidiano brasileiro. Pode-se mesmo afirmar que a maioria
dos leitores brasileiros não perceberá com propriedade o que está por detrás do
emprego desta palavra no contexto da obra, tão entranhado que está na nossa
cultura o seu uso para designar pequenas povoações ou conjunto de casas
agrupadas.
Contrariando o senso comum, a obra aponta precisão no uso da palavra
vila no panorama romano, para designar um casarão de uma notável
personalidade em Pompeia. Neste particular vale atentar para os estudos
especializados que explicam a numerosa presença de vilas na região em foco, que
serviam de pouso de descanço para romanos afortunados. Chame-se a atenção,
ainda, para o fato de que os registros históricos também confirmam o costume
romano de associar as vilas ao nome de seu proprietário, como é o caso das
conhecidas vila de Giulia Felice, a vila de Popeia, a vila de Diomedes, a vila de P.
Fannius Synistor ou a vila de M. Fabius Rufus, donde se constata a verossimilhança
da referência “vila de Lentulus” contida em “Há Dois Mil Anos”.
5. As fontes históricas disponíveis sobre os pontos destacados
Sobre os pontos selecionados foi possível identificar fontes primárias e
secundárias de pesquisa.
Quanto à questão do horário de erupção do Vesúvio, a única fonte
primária identificada consiste na epístola de Plínio, o Jovem, destinada a Tácito.
Foram encontradas, contudo, inúmeras fontes secundárias, referidas na
bibliografia, a maioria em língua inglesa.
1994, p. 23). Imagens podem ser acessadas pelos seguintes endereços eletrônicos:
http://www.youtube.com/watch?v=ueubFo1DoNI ;
http://pompeiiinpictures.com/pompeiiinpictures/RV/villa%20mysteries%20plan.htm . 40 ZARMAKOUPI, Mantha (coord). The Villa of the Papyri at Herculaneum : archaeology, reception,
and digital reconstruction. New York: Walter de Gruyter GmbH & Co, 2010. Imagens podem ser
acessadas pelo seguinte endereço eletrônico: http://www.youtube.com/watch?v=zxSgddcivHU . 41 BEARD, Mary. Pompeii - The Life of a Roman Town. London: Profile Books, 2008, p. 131. 42 “Excavations are certainly not exhausted (…)”(SCHEZEN, Roberto. The Villa: From Ancient to
Modern. New York: Abrams Books, 2000, p. 11).
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Já no que toca ao conceito da vila romana, podem ser citadas como
fontes primárias as cartas de Plínio, o Jovem43 ou as escavações em sítios
arqueológicos tais como os de Pompeia, que puderam ser estudadas por meio das
várias fontes secundárias citadas ao longo deste trabalho, majoritariamente
escritas em outros idiomas.
Acerca de tais fontes, pode-se afirmar, em síntese, que se cuidam de
obras desconhecidas ou inacessíveis ao público comum, sobretudo ao brasileiro,
em razão da barreira linguística. São, também, obras que devem ser tidas por
específicas e especiais, ou seja, trabalhos acessados e estudados por experts.
A necessidade de habilidades ou conhecimentos especiais para o
domínio dos assuntos em tela pode ser aferida, por exemplo, pelo fato de que a
carta de Plínio, o Jovem, consiste na única fonte histórica que aduz o horário em
que o Vesúvio entrou em erupção. Note-se que se trata de um documento
originalmente escrito em latim e que apresenta padrões de tempo segundo as
convenções romanas. Como visto, somente por meio de estudos especializados é
possível constatar que a referência à “sétima hora”, contida na epístola em tela, diz
respeito ao horário entre meio-dia e uma hora da tarde.
Tal como esclarecemos no primeiro trabalho de pesquisa da obra “Há
Dois Mil Anos”, cumpre repisar que somente foi possível identificar as fontes
históricas estudadas graças às ferramentas disponíveis na Internet.
6. Conclusões parciais
Em continuidade ao trabalho de pesquisa do livro “Há Dois Mil Anos”,
da psicografia de Francisco Cândido Xavier, foi selecionado o trecho em destaque
que aduz informações relativas ao horário de erupção do Vesúvio e ao contexto da
vila romana na região de Pompeia.
Nosso objetivo é o de, num primeiro momento, apenas apresentar
dados históricos para comparação com a obra mediúnica. Ou seja, antes de
qualquer imersão a respeito dos pontos de partida epistemológicos, da
metodologia empregada ou das conclusões específicas que podem ser deduzidas,
realizaremos a exposição da pesquisa das inúmeras informações passíveis de
verificação histórica já levantadas no livro “Há Dois Mil Anos”.
43 LAZER, Estelle. Resurrecting Pompeii. New York: Routledge, 2009, p. 79. COOLEY, Alison E.;
COOLEY, M.G.L. Pompeii: a sourcebook. New York: Routledge, 2004, p. 41.
18
Assim, demonstrou-se que há correspondência do trecho selecionado
com registros históricos confiáveis.
Conclui-se, pois, que a conjugação de fatos apresentada na obra
demonstra o conhecimento detido de realidades históricas que somente podem ser
compreendidas mediante estudos especializados.
7. Referências bibliográficas
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19
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