“inclusão social” na rede estadual de ensino: desafios e perspectivas
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO-MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
“INCLUSÃO SOCIAL” NA REDE ESTADUAL DE ENSINO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Antônia Maria Nascimento Moreira Cruvinel
Goiânia
2011
Cruvinel, Antônia Maria Nascimento Moreira. C957i “Inclusão social” na rede estadual de ensino [manuscrito] :
desafios e perspectivas / Antônia Maria Nascimento Moreira. – 2011.
165 f. ; il. ; grafs. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Departamento de Serviço Social, 2012.
“Orientadora: Profa. Dra. Regina Sueli de Sousa”.
1. Educação Inclusiva - Brasil. 2. Serviço social. I. Título. CDU: 37.014(043)
ANTÔNIA MARIA NASCIMENTO MOREIRA CRUVINEL
“INCLUSÃO SOCIAL” NA REDE ESTADUAL DE ENSINO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação Stricto Sensu em Serviço Social da PUC Goiás, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.
Linha de Pesquisa: Política Social, Movimentos Sociais e Cidadania.
Orientadora: Profa. Dra. Regina Sueli de Sousa.
Goiânia
2011
ANTÔNIA MARIA NASCIMENTO MOREIRA CRUVINEL
“INCLUSÃO SOCIAL” NA REDE ESTADUAL DE ENSINO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Dissertação defendida e aprovada em 08 de março de 2012, pela Banca
Examinadora constituída pelos professores:
______________________________________________
Profa. Dra. Maria José de Faria Viana (PUC Goiás)
(Presidente)
______________________________________________
Profa. Dra. Walderez Loureiro Miguel (PUC Goiás)
(Membro interno)
______________________________________________
Prof. Dr. Jadir de Morais Pessoa
(Membro externo)
______________________________________________
Profa. Dra. Maria Conceição Sarmento Padial Machado (PUC Goiás)
(Suplente)
A João Victor, filho querido, a maior razão deste estudo
pois eu não poderia me calar diante da forma mais desumana de exclusão – a
violação do seu direito à educação. Esta dissertação é dedicada a ele, e jamais
deixarei de olhar por essa causa. Tenha certeza de que ele continua sendo o meu
grande mestre, a minha inspiração.
A meus filhos, Pedro Henrique e Luiz Gustavo, que
representam a minha luz, por me oportunizarem a experiência maior da minha vida,
ser mãe. A eles, minha gratidão por serem capazes de compreender as minhas
ausências durante o percurso dessa trajetória.
Às mães que, no silêncio da dor e com imenso amor, à
sua maneira, foram capazes de criar seus filhos com bravura, com sabedoria no ato
de ensinar, pois a dignidade e a ética são os seus mais valiosos atributos.
A minhas irmãs, pela oportunidade de convivência no
mesmo grupo familiar, o que não é por acaso.
AGRADECIMENTOS
À professora Dra. Regina Sueli Sousa, minha orientadora, que, sabiamente e
de forma competente, me conduziu ao mundo do conhecimento.
À professora Dra. Walderez Loureiro Miguel, pois seu incentivo e apoio
foram determinantes para o início da minha caminhada.
À professora Dra. Maria José de Faria Viana, a minha admiração, pelas
qualidades inerentes a sua pessoa, pela sua competência profissional e rigor
técnico-científico, características que favorecem o crescimento dos alunos e, ainda,
pelas sábias contribuições, necessárias ao aprimoramento deste trabalho.
À professora Dra. Maria Conceição Sarmento Padial Machado, por
acreditar tanto na educação, por ter contribuído para o meu trabalho e pela forma
carinhosa em participar das banca examinadoras. Ao professor Dr. Jadir de Moraes Pessoa, pela sua trajetória na condição de
mestre, e por ter aceito ao meu convite com carinho. Aos professores do Programa de Pós-graduação Mestrado em Serviço Social
da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, que, com brilhantismo contribuíram
sobremaneira, para meu aprendizado. À professora Darcy Costa, pelo rigor técnico, o que certamente colaborou
para a qualidade do meu trabalho. À professora Mônica, por ter me motivado e incentivado ao estudo do inglês.
Aos sujeitos elencados na pesquisa de campo por participarem da apreensão
do meu objeto. Aos amigos e colegas da Coordenação de Ensino Especial da Secretaria
Estadual de Educação, em especial, à Renata Tavares Estrêla. À querida Juliana, pessoa incansável e que sempre esteve ao meu lado na
hora dos sorrisos e das lágrimas, e que foi fundamental para o meu percurso.
Ao Carlos Goiano de Oliveira Cruvinel, pai dos meus filhos, pelo apoio e
incentivo em todos os momentos desta jornada.
Ao Paulo Sérgio de Oliveira Cruvinel Filho, uma das razões de eu estar
concluindo o curso de mestrado.
À Dita, por estar sempre ao meu lado nos momentos felizes e difíceis da
minha vida.
À Maria Dirce, que me acompanhou neste processo e sempre me incentivou
com sábias palavras, quando precisei.
À querida Wanessa, colega e amiga, pela paciência e tolerância nos
momentos mais complicados da minha trajetória, e com quem desejo manter
amizade sempre.
RESUMO Esta pesquisa é resultado do Mestrado em Serviço Social vinculado ao Programa Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, cujo objetivo é identificar no processo de intervenção da equipe multiprofissional da Rede Estadual de Ensino a contribuição do Serviço Social, no tocante à inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais, no município de Goiânia, Goiás, no período de 1999 a 2009. O objeto de estudo é o Serviço Social e sua intervenção na Política de Educação Inclusiva em Goiânia (1999-2009) Realizou-se uma pesquisa com abordagem qualitativa. As concepções sobre o método empregado foram baseadas no pensamento de Gramsci. Para embasar a pesquisa o estudo apóia em obras de pensadores clássicos e contemporâneos, que fundamentam teoricamente as categorias de análise aqui tratadas. A fase exploratória caracterizou-se pelo levantamento bibliográfico e documental. Procedeu-se à revisão bibliográfica com introdução de outros autores: Pestalozzi (1946), Dewey (2010), Freire ( 1995; 2000; 2003), Libâneo (2008), Coelho (2009), Brandão (2007), Saviani ( 2005;2008;2010). Realizou-se buscas aos Bancos de Dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior, Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Universidade de São Paulo, Universidade Estadual Paulista e em periódicos como: Temporalis, Ser Social, Serviço Social & Sociedade; teses de doutorado e dissertações de mestrado O trabalho de campo constou de levantamento de material documental e aplicação de entrevistas semiestruturadas. Após a transcrição das entrevistas, do tratamento do material empírico e documental, elaborou-se o processo de conhecimento do objeto em estudo. Na realização da pesquisa, foram entrevistados assistentes sociais, fonoaudiólogos, psicólogos, pedagoga, professores, gestores, educandos e mães, em um total de 29 pessoas vinculadas às escolas: Colégio Estadual Dom Abel, Colégio Estadual José Honorato e Colégio Estadual Professora Olga Mansur. De acordo com as falas dos sujeitos entrevistados a falta de acessibilidade é um dos problemas estruturais, aliado a ausência de subsídios pedagógicos, tem sido um dos entraves para uma educação inclusiva de qualidade. A ineficiência das práticas pedagógicas e das estruturas é condição que concorre para a evasão escolar dos educandos que apresentam necessidades específicas. A prática do Serviço Social, apresenta-se como alternativa construtiva e visa reformas significativas na perspectiva histórica de transformação das escolas. A falta de vontade política do governo em oferecer serviços com qualidade aos cidadãos e a burocracia como impeditivo no acesso aos mesmos são fatores que dificultam a execução desta política. Palavras-chave: Estado, política social, política de educação, exclusão/inclusão social, desigualdade social, direitos sociais.
ABSTRACT This research is the result of Master of Social Work linked to the Graduate Program at the Catholic University of Goiás, whose goal is to identify the intervention process interdisciplinary team of State Schools the contribution of Social Services, regarding the inclusion of people with special educational needs in the city of Goiânia, Goiás, in the period from 1999 to 2009. The object of study is the Social Service and its intervention in Inclusive Education Policy in Goiânia (1999-2009) conducted a survey with a qualitative approach. Conceptions of the method employed was based on the thought of Gramsci. To support this research study supports the works of classical and contemporary thinkers, that theoretically underlie the analysis categories treated here. The exploratory phase was characterized by bibliographic and documentary. Proceeded to the literature review with input from other authors: Pestalozzi (1946), Dewey (2010), Freire (1995, 2000, 2003), Libâneo (2008), Rabbit (2009), Brandão (2007), Saviani (2005; 2008, 2010). Was performed to search databases of the Coordination of Improvement of Higher Education Personnel, Catholic University of Goiás, University of São Paulo, São Paulo State University and in journals such as: Temporalis, Being Social, Social Work & Society; doctoral theses and dissertations Fieldwork consisted of lifting documentary material and application of semi-structured interviews. After transcribing the interviews, the treatment of the empirical material and documentary, we elaborated the process of knowledge of the object under study. In the survey, respondents were social workers, speech therapists, psychologists, teacher, teachers, administrators, students and mothers, in a total of 29 people linked to schools: Bishop Abel State College, State College José Honorato and State College Professor Olga Mansur. According to the statements of the interviewees lack of accessibility is one of the structural problems, coupled with the lack of educational subsidies, has been one of the barriers to inclusive education quality. The inefficiency of the educational practices and structures is a condition that contributes to the truancy of students who have specific needs. The practice of social work, presents itself as an alternative constructive and seeks meaningful reforms in historical perspective transformation of schools. The lack of political will of the government to provide quality services to citizens and bureaucracy as preventing access to the same factors that are hindering the implementation of this policy. Keywords: State, social policy, education, social inclusion / exclusion, social inequality, social rights.
LISTA DE SIGLAS
Abepss Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
Amai Monitoramento e Acompanhamento de Alunos Infreqüentes
BPC Benefício de Prestação Continuada
Bird Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
CAP Centro de Atenção Psicossocial
CAP,s Caixas de Aposentadoria e Pensão
CF Constituição Federal
Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior
CEE Conselho Estadual de Educação
Cefess Conselho Federal de Serviço Social
Cemai Centro Municipal de Atendimento à Inclusão
CME Conselho Municipal de Educação
Cemai Centro Municipal de Apoio à Inclusão
Cmei Centro Municipal de Educação Infantil
CNE Conselho Nacional de Educação
Cnpq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNS Conselho Nacional de Saúde
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Coda Coordenação de Desenvolvimento e Avaliação
Coee Coordenação do Ensino Especial
Crass Conselho Regional de Assistentes Sociais
Cress Conselho Regional de Serviço Social
CT Comissão Trilateral
DMM Deficiência Mental Moderada
DRE Delegacia Regional de Educação
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EJA Educação de Jovens e Adultos
ENC Exame Nacional de Cursos
Enem Exame Nacional do Ensino Médio
Finep Financiadora de Estudos e Projeto
FMI Fundo Monetário Internacional
Funcad Fundação da Criança, do Adolescente e da Integração do Deficiente
Fundef Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental
Fundescola Fundo Nacional de Desenvolvimento da Escola
GTE Grupo de Trabalho Educação
Ideb Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IPG Instituto Pestalozzi de Goiânia
Inep Instituto Nacional de Educação e Pesquisa
LDB Leis de Diretrizes e Bases da Educação
LOAS Lei Orgânica de Assistência Social
MEC Ministério da Educação
Mobral Movimento Brasileiro de Alfabetização
Necasa Núcleo de Estudos e Coordenação de Ações para a Saúde do
Adolescente
NEE Necessidades Educacionais Especiais
Ocde Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ONU Organização das Nações Unidas
Paped Programa de Apoio à Pesquisa em Educação à Distância
PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais
Peedi Programa Estadual de Educação para Diversidade numa
Perspectiva Inclusiva
Peti Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PIE Plano Individualizado de Educação
PNE Política Nacional de Educação
PNE Plano Nacional de Educação
Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPP Projeto Político Pedagógico
Proef Programa de Expansão da Educação Profissional
Proinfo Programa Nacional de Informática na Educação
PUC Goiás Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Saeb Sistema de Avaliação da Educação Básica
Sbpc Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Seduc Secretaria de Estado da Educação
SEE Secretaria Estadual de Educação
Senac Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
Senai Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SRE Subsecretaria Regional de Ensino
Sesi Serviço Social da Indústria
Sesc Serviço Social do Comércio
Siasgo Sindicato de Assistentes Sociais de Goiás
SME Secretaria Municipal de Educação
Suee Superintendência do Ensino Especial
Supec Superintendência do Ensino Especial
Tdah Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
UEE Unidade de Ensino Especial
Unesco Organização das Ações Unidas para a Educação
Unesp Universidade Estadual Paulista
Unicef Fundo das Nações Unidas para a Infância
Usaid United Sates Agency for International Development
USP Universidade de São Paulo
LISTA DE FIGURAS Figura 1 Número de profissionais da equipe multiprofissional .................................58
Figura 2 Idade ........................................................................................................59
Figura 3 Grau de instrução .......................................................................................59
Figura 4 Estado civil .................................................................................................60
Figura 5 Perfil das escolas pesquisadas ..................................................................72
Figura 6 Escolaridade dos educandos pesquisados ......................................................72
Figura 7 Idade dos educandos pesquisado .....................................................................73
SUMÁRIO
RESUMO......................................................................................................................7
ABSTRACT..................................................................................................................8
LISTA DE SIGLAS.......................................................................................................9
LISTA DE FIGURAS..................................................................................................12
INTRODUÇÃO...........................................................................................................13
CAPÍTULO I. A POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA .....................25
1.1 Educação especial no Brasil .............................................................................38
CAPÍTULO II. A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL...........................................48
2.1 A educação inclusiva em Goiás: fundamentos teóricos e filosóficos ................51
2.2 A prática da educação inclusiva em Goiás .......................................................57
2.2.1 Perfil da equipe multiprofissional, professores, gestores e mães...................58
2.2.2 A educação inclusiva na perspectiva da equipe multiprofissional ..................60
2.2.3 A educação inclusiva para os gestores..........................................................68
2.2.4 Perfil dos educandos......................................................................................71
2.2.4.1 A educação inclusiva para os educandos ...................................................73
2.2.5 A educação inclusiva para os professores.....................................................77
2.3 A percepção dos profissionais da equipe multiprofissional e dos professores
sobre a inclusão na educação ................................................................................84
2.4 Desafios e perspectivas da educação inclusiva em Goiânia.............................90
CAPÍTULO III. O SERVIÇO SOCIAL NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO .....................99
3.1 No âmbito da educação nacional ......................................................................99
3.2 No âmbito da Política de Inclusão em Goiás ..................................................110
3.2.1 Prática do Serviço Social na educação inclusiva em Goiás.........................114
CONSIDERAÇÕES..................................................................................................124
REFERÊNCIAS........................................................................................................133
ANEXOS ..................................................................................................................145
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INTRODUÇÃO
Ao longo das últimas décadas, houve profunda reestruturação no processo de
produção capitalista, com o intuito de manter a hegemonia do capital. Inovações
tecnológicas ocorreram em virtude da incorporação da ciência no processo
produtivo, consequentemente, mudaram cultura, os processos de produção
(MARTINS, 2007). Essas mudanças refletem-se, sobremaneira, nas diretrizes da
Política de Educação.
Desta forma, o estudo dos fenômenos educacionais, situado entre as ciências
sociais e humanas, não poderiam deixar de receber influências das transformações
ocorridas em diferentes momentos históricos. Cada vez mais se entende o
fenômeno educacional como componente do contexto social. A educação está
inserida em uma realidade histórica que sofre uma série de determinações e um dos
desafios lançados à pesquisa educacional é o de captar essa realidade dinâmica e
complexa do seu objeto de estudo, em sua realização histórica (LÜDKE, 2007;
ANDRÉ, 2007).
Assim, entender a educação como política social pública e universal que tem
o compromisso de garantir direitos sociais, aponta uma reformulação e/ou ampliação
do conceito de educação, que precisa ser entendida no tocante à perspectiva de sua
produção social e do papel que a escola assume na sociedade. Portanto, discutir o
papel da escola na sociedade atual significa abordar a função social assumida pela
educação no atual contexto.
Avanços significativos produzidos pela democratização da sociedade, muitos
dos quais como resultados dos movimentos dos direitos humanos, indicam a
urgência da construção de espaços sociais menos excludentes e de alternativas
para o convívio na diversidade. Nessa perspectiva, a “inclusão social” não é apenas
uma preocupação dos governos, especialistas e de um grupo limitado de pessoas
com alguma diferença, mas fundamentalmente, uma questão da sociedade.
Portanto, um grande desafio a ser enfrentado.
No Brasil, as reformas liberais na área da educação foram realizadas na
década de 1990, em plena crise do capital, por exigências do processo de
reestruturação da produção e das políticas neoliberais. Neste cenário, a temática da
inclusão impôs-se, especialmente no contexto escolar, promovendo uma
14
reestruturação e uma necessidade de atender aos dispositivos constitucionais,
fazendo emergir a questão da Educação Especial na perspectiva da Educação
Inclusiva.
A “inclusão social” “é um processo que visa promover a inclusão dos
segmentos em vulnerabilidade social, destacando a cidade, a escola, o emprego e a
proteção social” (KOWARICK, 2003, p. 75). Por isso, trata-se de um grande desafio
a ser encarado pela escola pública brasileira, posto que ela só se transformará em
escola inclusiva quando garantir a universalidade e a qualidade do ensino. Portanto,
a escola como equipamento social deve atentar para as mais diferentes formas de
manifestação da exclusão social, como as questões de violência, atitudes
discriminatórias (de etnia, de gênero, de sexo, de classe social e pessoas com
deficiência), reprovações e evasão escolar.
Neste trabalho, os termos “inclusão social” e “educação inclusiva” aparecem
entre aspas pois neste caso ele se restringe ao acesso aos bens e serviços
produzidos historicamente, e especificamente à educação. Assim, o acesso das
pessoas a bens e serviços que lhes são negados, não garantem a continuidade
desse acesso nem a otimização de seu usufruto.
Trata-se de um termo polêmico posto que a própria inclusão é, em princípio,
numa perspectiva critica, uma categoria que compõe intrínsicamente, as relações
sociais.de produção no sistema capitalista.
Assim, trata-se de uma política, conforme Resolução CNE nº 2 de
11.09.2001, que busca alternativa para minimizar o quantitativo de pessoas à
margem das demais políticas, neste caso, da política educacional.
A “Educação Inclusiva” institucional é uma das modalidades da Política
Nacional de Educação que perpassa o sistema educacional em todos os níveis,
etapas e modalidades de ensino. É oferecida na educação básica e superior do
sistema de ensino, como um conjunto de serviços e recursos especializados para
complementar/suplementar o processo de ensino aprendizagem aos educandos com
necessidades educacionais especiais permanentes ou transitórias, de modo a
garantir o desenvolvimento de suas potencialidades sociais, políticas, psicológicas,
criativas e produtivas para a formação cidadã (GOIÁS, RESOLUÇÃO CEE n.
07/2006).
Por outro lado, a educação inclusiva de fato, pressupõe um outro modelo
de sociedade e deve dedicar-se à desinstitucionalização da exclusão, entendida
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como um “processo sutil e dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte
constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é um processo que envolve o
homem por inteiro e suas relações com os outros.” (SAWAIA, 2001, p. 9). Por ser um
processo resultante da desigualdade social, tornam-se necessárias mudanças nos
planos ideológico, pedagógico, tecnológico e nos sistemas sociais, de modo que a
diversidade humana composta por etnia, raça, língua, nacionalidade, gênero,
orientação sexual, deficiência1 e outros atributos, seja contemplada em suas
diferentes necessidades.
Neste sentido, a inclusão orienta os sistemas de ensino a promoverem
respostas às necessidades educacionais especiais e exige que as instituições
educacionais se adéquam a todas as pessoas que apresentem essa situação,
mediante a organização das condições de acesso aos espaços, aos recursos
pedagógicos e à comunicação. Como processo, favorece a promoção da
aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender às necessidades
educacionais de todos os educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares.
Em Goiás, desde a década de 1990, vigora uma legislação específica sobre a
inclusão escolar, que tem buscado qualificar o sistema da rede estadual para
atender educandos que apresentam dificuldades de aprendizagem, de socialização
e outras condições adversas.
A Educação Especial, na perspectiva da “Educação Inclusiva”, em Goiás,
conta com uma equipe multiprofissional que permite pensar o trabalho perpassando
os diversos campos do conhecimento. Essa equipe atende à demanda educativa,
mediante o desenvolvimento de programas, projetos e pesquisas sociais, e busca
contribuir para a mudança da realidade educacional, dos sujeitos envolvidos assim
como os educandos e suas famílias. A rede estadual de educação conta com 129
escolas em Goiânia. A equipe multiprofissional que trabalha no atendimento a essas
escolas é composta por 10 assistentes sociais, 15 fonoaudiólogas, 24 psicólogas, 4
pedagogas e 1 instrutor em Braile (GOIÁS, SEDUC/Subsecretaria Metropolitana de
Goiânia, 2012). Nessa equipe, como se destacou, além de fonoaudiólogos, psicólogos,
pedagogos, atua o assistente social, profissional que impulsiona uma reflexão crítica 1 “São consideradas pessoas com deficiências aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”. (BRASIL. DECRETO n. 7.612, de 17 de novembro de 2011).
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e política dos agentes envolvidos nesse processo para que eles também possam
reconhecer seus direitos e deveres de cidadãos. Nesta perspectiva, o assistente
social busca, na Política de Educação em Goiás, a defesa intransigente dos direitos
humanos, da equidade, da justiça social e a garantia dos direitos sociais, em
especial, o direito à educação, tendo como fundamento o Projeto Ético-Político
Profissional, materializado na Lei de Regulamentação da Profissão de Serviço Social
- Lei nº 8. 662/93 (BRASIL, 1993), em normas do Conselho Federal de Serviço
Social- Cfess, e do seu Código de Ética (1993).
O objeto de estudo é o Serviço Social e sua intervenção na Política de
“Educação Inclusiva em Goiânia” (1999-2009) e tem o propósito de demonstrar
como foi introduzido e estruturado o Serviço Social na Política de Educação
Inclusiva em Goiás e a sua contribuição na concretude da inclusão educacional em
Goiânia. O estudo, também busca analisar a visão dos demais profissionais que
compõem a equipe no que concerne à educação inclusiva aos seus desafios,
perspectivas, metas, encaminhamentos e outros procedimentos.
Esses desdobramentos visam entender como os sujeitos dessa política se
percebem e como percebem o cotidiano da escola inclusiva. São eles protagonistas
na construção de uma escola plural? Em que dimensão a práxis2 do Serviço Social
tem corroborado para a inclusão das pessoas com necessidades educacionais
especiais nas escolas regulares? A intervenção da equipe multiprofissional3 é
facilitadora ou dificultadora na concretude dessa política? Qual a concepção que os
professores e mães têm sobre a escola inclusiva? Quais as possibilidades e os
limites no desencadeamento das práticas pedagógicas com os educandos em suas
múltiplas necessidades?
Desse modo, este estudo tem como objetivo identificar a contribuição do
Serviço Social, no processo de intervenção da equipe multiprofissional, na rede de
apoio à “inclusão”, tendo em vista a inclusão das pessoas com necessidades
educacionais especiais, no período de 1999 a 2009, sob a perspectiva histórica da
educação brasileira, sem perder de vista que, lentamente, vêm sendo propiciado o
acesso de pessoas com necessidades educacionais ao conhecimento formal.
2 Práxis é o processo pelo qual uma teoria, lição ou habilidade é executada ou praticada, se convertendo em parte da experiência vivida (GRAMSCI, 2002). 3 Na modalidade multidisciplinaridade, os objetivos de cada disciplina são preservados, conservando-se sua autonomia, seus objetos particulares. As unidades são mantidas no que se refere aos métodos quanto aos objetos e a horizontalidade é a característica básica das relações estabelecidas (MACHADO, 2009). “A Equipe Multiprofissional é constituída na Educação Inclusiva por: assistente social, fonoaudiólogo, psicólogo, pedagogo, intérprete e instrutor” ( GOIÁS, 2009/2010, p. 25).
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Optou-se em trabalhar essa temática por ser ela vasta no campo do
conhecimento humano e na política pública de educação. Os precedentes para este
estudo surgiram da necessidade de conhecer a contribuição do profissional de
Serviço Social no alcance da Política de Educação Inclusiva e a efetivação dos
direitos das pessoas com necessidades educacionais especiais na política
educacional. Delinear as interfaces e diretrizes utilizadas pelos assistentes sociais e
as contribuições do Estado nas políticas para esse segmento da população também
constitui justificativa para a abordagem da temática.
Outro fator a ser considerado é a experiência da pesquisadora nessa área
como militante do Movimento Social das Pessoas com Deficiência, com destaque
para a atuação na Associação Down de Goiás, da qual foi uma das fundadoras e
gestora por dois mandatos, além de conselheira do Conselho Estadual dos Direitos
do Deficiente, com atuação em órgãos governamentais. Esse processo instigou-a a
desencadear ações coletivas dirigidas ao poder público, em Goiânia, com vistas à
implantação de escolas para todos, apesar das diferenças, apostando que a
inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais é o caminho para
uma nova concepção de escola, na qual os cidadãos possam usufruir de seus
direitos e exercer seus deveres.
Ademais, o estudo intitulado Inclusão Social na Rede Estadual de Ensino:
desafios e perspectivas, realizado 1999 a 2009, em Goiânia, vem responder à
curiosidade científica da pesquisadora em desvendar a concepção que os
profissionais da equipe multiprofissional, os gestores, os professores, os educandos
e as mães têm sobre a inclusão educacional na rede estadual. Outro aspecto a ser
considerado é que os resultados deste estudo, certamente, subsidiarão a
fundamentação de documentos acadêmico-científicos e contribuirão para a
realização de novos estudos, visto que ainda, na região, são parcos os materiais já
publicados sobre o referido objeto.
Para embasar a pesquisa, o estudo se apóia em obras de pensadores que
fundamentam teoricamente as categorias de análise, aqui tratadas; tais como,
Castel (2000), Freitag (2005), Gramsci (1973; 1995; 1999; 2000; 2002), Minayo
(1993), Martinelli (2009), Barroco (2008), Iamamoto (2008), Behring e Boschetti
(2006), Netto (1999; 1994; 2010), Boneti (2009), Potyara (2008; 2009), Yasbek
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(1980;1995; 2000; 2002) e outros. Algumas categorias e conceitos4 foram
trabalhados e permeiam a pesquisa, tais como: Estado, sociedade civil, política
social, proteção social, exclusão e “inclusão social”, pobreza, cidadania, Educação
Especial, Educação Inclusiva, escola e Serviço Social.
Foram referenciadas nesta pesquisa conferências e encontros internacionais
que endossaram as diretrizes para a Educação Inclusiva, tais como: A Convenção
dos Direitos da Criança nas Nações Unidas (1989); a Conferência Mundial sobre a
Educação para Todos (1990); o Regulamento das Nações Unidas para a Igualdade
de Oportunidades dos Deficientes (1993) e a Declaração de Salamanca (1994).
Estes eventos foram realizados como exigências de organismos de representação
mundial, como a Organização das Nações Unidas (ONU), Banco Mundial, Fundo
Monetário Internacional, Banco Interamericano de Desenvolvimento, dentre outros,
que discutiram a “inclusão social”.
Para criar a escola inclusiva, o estado de Goiás teve que repensar as práticas
pedagógicas e as estruturas existentes do ponto de vista da acessibilidade, dos
recursos humanos e das concepções político-pedagógicas. É importante ressaltar
que a acessibilidade a que nos referimos é entendida em uma concepção mais
ampla, como uma condição de acesso aos espaços, às pessoas, aos serviços, aos
recursos, à comunicação.
Dessa forma, é imprescindível reconhecer as várias dimensões da
acessibilidade. De acordo com Sassaki (2009), a acessibilidade classifica-se em:
arquitetônica (sem barreiras físicas), comunicacional (sem barreira na comunicação
entre pessoas), metodológica (sem barreiras nos métodos e técnicas de lazer,
trabalho e educação), instrumental (sem barreiras instrumentos, ferramentas,
utensílios), programática (sem barreiras embutidas em políticas públicas, legislações,
normas e outras) e a atitudinal (sem preconceitos, estereótipos, estigmas e
discriminações nos comportamentos da sociedade para pessoas com necessidades
educacionais especiais). A acessibilidade, em suas várias dimensões permite a
permanência dos educandos com necessidades educacionais especiais nas escolas.
A falta dessas condições pode provocar a evasão escolar desses educandos
e se constitui em uma das hipóteses que precisam ser respondidas pelo estudo,
assim como se a existência, ou não de profissionais que formam a
multidisciplinaridade (Serviço Social, Fonoaudiologia, Psicologia e Pedagogia), no
4 Categoria é a forma de ser do ser social e conceito é a elaboração subjetiva a partir da categoria (SANTOS, 2012).
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quadro permanente da Secretaria de Estado da Educação, tem constituído entrave
ou, auxiliado a concretização dos objetivos do Programa Estadual de Educação
para a Diversidade numa Perspectiva Inclusiva (Peedi).
O referido programa foi implantado em 1999 e teve como objetivo criar, em
Goiás, uma política educacional inclusiva, de modo a atender a diversidade das
pessoas. Sua sustentação teórica apoia-se na perspectiva socioculturalinteracionista
defendida por Vigotsky (1998) que afirma ser a aprendizagem consequência das
relações interpessoais, um acontecimento social e histórico
Dada a aplicabilidade da investigação, optou-se pela abordagem qualitativa.
Esta modalidade permite, com maior rigor, investigar o objeto de estudo inserido em
um movimento e percebê-lo como sujeito que tem algo a dizer pela sua experiência
e inserção na realidade. Essa abordagem de pesquisa auxilia a decifrar os
fenômenos, a demonstrar significados e desvelar aspectos obscuros. É mais
apropriada, visto que não se busca apenas quantidade, mas, sobretudo, os
resultados do fenômeno.
As concepções sobre o método utilizado foram baseadas no pensamento de
Gramsci (1977, p. 73) o qual assinala que “a função e significado da dialética só
revelam seu caráter fundamental a partir do momento em que a filosofia da práxis é
concebida como Filosofia integral e original, iniciando uma nova fase na história”. As
categorias de análise deste estudo são as seguintes: mediação, contradição,
filosofia da práxis e hegemonia.
Para Lukács (1979, p. 90), mediação é uma categoria objetiva, ontológica
(pertence ao real) e reflexiva (elaborada pela razão) que deve estar presente em
qualquer realidade, independentemente do sujeito. Consiste em relacionar as
singularidades dos sujeitos da pesquisa com as contradições do Estado na política
educacional, na intervenção do assistente social e no atendimento às pessoas com
necessidades educacionais especiais. O cotidiano constitui um campo de mediações
que não aparece diretamente ao sujeito. Por isso, é necessário “superar o plano do
imediatismo (da aparência) em busca da essência, o que exige construir
intelectualmente mediações para reconstruir o próprio movimento do objeto”
(PONTES, 2003, p. 41).
A contradição não é uma coisa fixa, imutável, mas se encontra em movimento
incessante, em mudança permanente, passando das formas inferiores às
superiores, e vice-versa. Os contrários passam um pelo outro, tornam-se idênticos, e
a formação material que os possui propriamente entra em um novo estado
20
qualitativo (CHEPTULIN, 1982, p.17). A filosofia da práxis “é uma concepção
historicista da filosofia que requer objetividade científica ligada às necessidades e
atividades humanas”. Contrapondo-se ao idealismo, para ela, o ser não se separa
do pensar, o homem, da natureza, a atividade, da matéria, o sujeito do objeto.
Para Gramsci (2000), um tratamento sistemático da filosofia da práxis deve
convergir para conceitos gerais de uma metodologia da História e da Política,
entendendo ser possível separar História, Política e Economia. Requer-se síntese
filosófica para investigar o real (HISTEDBR, 2005, p. 28). A hegemonia, de acordo
com Simionatto (2004), trata das relações de infraestrutura e superestrutura com o
bloco histórico. Sua conquista deve ser obtida no âmbito da sociedade civil. É um
processo de luta para a conquista da direção política-ideológica e de consensos dos
setores mais expressivos da população.
O estudo do objeto proposto deve considerar suas múltiplas determinações,
as relações entre suas diversas manifestações e dimensões.
A fase exploratória caracterizou-se pelo levantamento bibliográfico e
documental para definir o marco teórico-conceitual e a delimitação do objeto.
Procedeu-se à revisão bibliográfica com introdução de obras de outros autores
clássicos e contemporâneos como: Pestalozzi (1946), Dewey (2010), Freire
(1995;2000; 2003), Libâneo (2008), Coêlho (2009), Brandão (2007), Saviani (2005;
2008; 2010) e outros. Efetivaram-se buscas aos Bancos de Dados da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (Capes), Pontifícia Universidade
Católica de Goiás (PUC-Goiás), Universidade de São Paulo (USP), Universidade
Estadual Paulista (Unesp) e em periódicos como Temporalis, Ser Social, Serviço
Social & Sociedade; teses de doutorado e dissertações de mestrado, assim como,
artigos correlatos ao tema.
O projeto previa pesquisar três escolas sediadas em Goiânia, uma na região
Leste, outra na Noroeste e a última, na Sul, (Escola Estadual Hugo de Carvalho
Ramos, Escola Estadual Genesco F. de Freitas e Escola Estadual João Crisóstomo),
mediante o critério do porte5, conforme preconizam as diretrizes operacionais da
Secretaria Estadual de Educação .Todavia, descobriu-se que nessas unidades não
havia equipe multiprofissional e uma delas não tinha educandos com necessidades
educacionais especiais.
5 De acordo com as diretrizes operacionais da rede pública estadual de ensino de Goiás 2008/2009, Goiânia, 2010, unidade de porte I contam com 1.701 a 2559 alunos matriculados, de porte II, entre 1.080 a 1.700; de porte III, de 600 a 1.079; de porte IV, de 210 a 599; de porte V, abaixo de 210 estudantes matriculados.
21
Dessa forma, as unidades escolares foram redefinidas para as que possuem equipe multiprofissional, com profissionais com maior tempo de atuação nessa equipe e alunos com necessidades educacionais especiais matriculados na rede estadual da capital, foram escolhidas as seguintes unidades escolares: Escola Estadual Professora Olga Mansur, com um contingente de 674 alunos matriculados (216 no ensino fundamental, 458 no ensino médio), dentre eles, 9 educandos com necessidades educacionais especiais; Colégio Estadual Dom Abel, com 691 alunos (426 do ensino fundamental, 265 educação de jovens e adultos (EJA), dentre esses, 12 alunos com necessidades educacionais especiais; Escola Estadual José Honorato, de tempo integral, atende do 1º ao 8º ano e possui 469 alunos (331 no ensino fundamental e 138 no EJA), dentre eles, 13 alunos com necessidades educacionais especiais. De acordo com os dados da Subsecretaria Metropolitana de Educação
(GOIÁS, 2011) as três escolas pesquisadas apresentam, em média 22% dos
educandos cursando EJA, 53% cursam o ensino fundamental, e 25%, o ensino médio.
Do universo de educandos (1.834) matriculados, nessas unidades, no ano de 2011,
apenas 34 apresentam alguma necessidade especifica.
Os sujeitos sociais que participaram deste estudo constituíram um grupo de 29
pessoas, distribuídos por categorias e denominados por letras, seguidas por número:
4 assistentes sociais (AS1, AS2, AS3, AS4), 3 psicólogas (PSI1, PSI2, PSI3), 3
fonoaudiólogas (Fono1, Fono2, Fono3), 1 pedagoga (todas vinculadas à equipe
multiprofissional da referida coordenação), 3 gestoras (G1,G2,G3), 6 professores (Pro1,
Pro2, Pro3,Pro4, Pro5, Pro6), 3 mães ( Mãe1 Mãe2 Mãe3) e 6 educandos (Alu1, Alu2,
Alu3, Alu4, Alu5, Alu6) com necessidades educacionais especiais, com algum tipo de
deficiência: auditiva6, física7, visual8, transtorno do déficit de atenção9, superdotação10,
6 Deficiência auditiva refere-se à perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 3000Hz, conforme Decreto n 5.296/2004 ( BRASIL,2004). 7 Deficiência física refere-se a alteração completa ou parcial de um ou mais seguimentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzem dificuldade para o desenvolvimento de funções, conforme Decreto nº 5.296/2004 ( BRASIL, 2004). 8 Deficiência visual reporta-se a acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, o campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações de acordo com Decreto nº 3.298/99 (BRASIL, 1999). 9 Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e comportamento hiperativo e impulsivo, segundo Decreto nº 3.298/99 (BRASIL, 1999). 10 Superdotação é a manifestação das várias inteligências de um ser e enfatiza a capacidade de resolver problemas e de elaborar produtos (GARDNER, 1995).
22
síndromes11 e outros que não se incluem nessa categoria, vinculados às três
unidades educacionais locus desta pesquisa.
Todos esses participantes foram escolhidos de forma livre, denominados por
siglas para preservar suas identidades, como princípio ético. Inicialmente, a
pesquisadora apresentou aos sujeitos entrevistados o projeto de pesquisa e seus
objetivos, enfatizando o seu teor científico, assim como o caráter ético do material
coletado, tendo como pressuposto o critério de livre escolha ou participação
espontânea, que permite maior engajamento dos pesquisados em todas as fases do
trabalho.
Por tratar-se de crianças e adolescentes, no caso, educandos com
necessidades educacionais especiais, foi necessária prévia autorização dos pais e/ou
responsáveis para que se resguardassem as garantias de cunho científico do estudo. O trabalho de campo constou de levantamento de material documental e
aplicação de entrevistas semiestruturadas (roteiro anexo), um eixo orientador no seu
desenvolvimento . A análise de conteúdo foi complementada com a participação e
do conteúdo do diário de campo. Conforme Triviños (2004, p. 146), a entrevista
semiestruturada compreende
aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa e que, em seguida oferecem amplo campo de interrogativas, frutos de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante.
Após a transcrição das entrevistas, do tratamento do material empírico e
documental, elaborou-se o processo de conhecimento do objeto em estudo. É
importante salientar que o roteiro das entrevistas contempla questões sobre as
atividades realizadas, a instrumentalidade do Serviço Social, a atuação dos
assistentes sociais na equipe multiprofissional, as práticas educacionais dos
educandos e dos professores, as concepções sobre a educação inclusiva e
acessibilidade.
Após a escolha dessas instituições, realizou-se levantamento com o intuito de
saber quantos sujeitos sociais estavam aptos para serem entrevistados, conforme se
segue: assistentes sociais, pedagoga, psicólogos, fonoaudiólogos, gestores,
professores, educandos e mães12.
11 Síndromes são sintomas que caracterizam uma situação ou doença (WERNECK, 1992). 12 Embora a categoria mãe não conste no projeto de pesquisa como um dos sujeitos, considerou-se ser importante saber a opinião delas sobre o tema em estudo.
23
A concretização deste estudo está respaldada nos critérios adotados pelo
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da PUC Goiás, em
consonância com a Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Empregou-se como estratégia para a coleta de dados a observação
participante13, a fim de delinear as experiências vivenciadas pelos sujeitos. A
observação participante favorece a identificação de algumas dimensões do real e
permite a captação imediata das informações desejadas. Erthal (2003, p. 38)
explicita que a observação por si só é uma “técnica que tem por objetivo colher o
maior número de informações nas áreas cognitiva, afetiva e psicomotora” quando se
trata de observação participante. Marconi e Lakatos (2008) apontam que ela implica
maior interação entre o investigador e os grupos sociais, de modo que o observador
torna-se um membro do grupo e participa daquilo que eles vivenciam. Os dados
obtidos foram registrados em diário de campo.
A análise documental foi utilizada com o objetivo de complementar dados
constantes em leis, relatórios, publicações, atas de reuniões, diário de campo e
análise de conteúdo.
A estrutura do trabalho, assim se apresenta. O capítulo I aborda uma incursão
histórica da estruturação da Política Pública de Educação Brasileira desde seus
primórdios, quando se evidenciou a estratificação do sistema educacional,
segregado por gênero, etnia/raça e classe social. Em seguida, com base nos
dispositivos legais tratou-se da Política de Educação Especial no Brasil, que, até a
década de 1960 esteve concentrada em iniciativas focalizadas, restrita às
instituições especializadas públicas e, especialmente, privadas.
O capítulo II buscou apreender a educação inclusiva e as discussões que a
envolveram na contemporaneidade, tanto no cenário mundial quanto no brasileiro,
ao destacar os aspectos teórico-conceituais, legais e metodológicos dessa
modalidade, após promulgada a Declaração de Jomtien (1990). Ainda neste
capítulo, estudou-se como foi estruturado o atendimento institucionalizado da
educação especial em Goiás, que, diga-se de passagem, antecedeu as
normatizações do próprio governo federal, uma vez que já existia, aqui desde 1953.
Possibilitou-se dessa forma, o entendimento de como a Política de Educação
Inclusiva se manifesta na prática dos sujeitos envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem. 13 Observação participante é um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica (MINAYO, 1993).
24
No capítulo III, abordou-se o Serviço Social na Política de Educação, em
âmbito nacional, delineando, a priori, os desdobramentos históricos que o legitimou
como profissão. Em seguida, analisou-se o trabalho dos assistentes sociais no
âmbito da Política de Inclusão, em Goiânia, e como ocorre a intervenção desses
profissionais no processo de conquista dos direitos sociais pelo segmento dos
educandos, que apresentam necessidades educacionais especiais e de suas
famílias.
As considerações finais expressam uma relação entre o conhecimento a
apreensão da realidade, com o intuito de contribuir para futuras pesquisas na área
da educação do Estado de Goiás, na formação continuada dos profissionais de
Serviço Social e demais categorias que compõem a equipe multiprofissional da rede
de apoio à inclusão. Além disso, destacaram-se algumas propostas com o objetivo
de potencializar a democracia, na luta pelo direito à educação em uma abordagem
na perspectiva da emancipação humana.
25
CAPÍTULO I
A POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO BRASILEIRA
De acordo com Freitag (2005), a história da política educacional brasileira
estruturou-se em três períodos relacionados aos modelos da economia brasileira:
agroexportador (1500 a 1930), substituição de importações (1930-1960) e
internacionalização do mercado interno (a partir de 1960). Para a autora, a política
educacional do Brasil, necessita ser analisada à luz da organização da economia e
da especificidade da formação social em seu conjunto.
A autora considera que o modelo agroexportador, implantado na Colônia,
tinha por finalidade oferecer lucro à metrópole, mediante a produção de produtos
primários como o açúcar, ouro, café e borracha. Apesar do início promissor, o
modelo agroexportador apresentou-se vulnerável, pois dependia das oscilações
mercadológicas dos países de economia hegemônica. Ademais, não era de
interesse da metrópole gerir políticas educacionais no Brasil-Colônia, sendo a
mesma quase inexistente na ocasião, com ressalvas para o sistema educacional
montado pelos jesuítas, e importante para a Coroa Portuguesa, então configurada
como Estado (FREITAG, 2005). Vieira e Farias (2007) afirmam que nos colégios
jesuíticos, principal instituição de formação da elite colonial, a formação intelectual é
caracterizada pela rigidez nas formas de pensar e de interpretar a realidade.
Completando, Silva (2009, p. 96) sustenta que os jesuítas desenvolveram
“um sistema educacional cujo papel era moldar os hábitos e o comportamento dos
índios, na tentativa de torná-los “dóceis e submissos” aos valores morais
estabelecidos pelos ‘princípios religiosos católicos’. Para tanto, utilizavam como
estratégia educacional a reprodução da visão de mundo do colonizador.
Freitag (2005) analisa que as escolas de jesuítas reproduziam as relações de
dominação e a ideologia dominante que asseguravam a reprodução da sociedade
escravocrata, mediada por um método que incentivava a imitação, ou seja, a Igreja
Católica assumia a hegemonia na sociedade civil, mas entrava na própria sociedade
civil por intermédio da educação. Não é de surpreender, conforme Romanelli (2002),
que a escola tenha se transformado em uma
26
instituição ritualista, onde o cumprimento de certas formalidades legais tenha valor em si mesmo. Na fase colonial este tipo de ação escolar é também instrumento do qual vai servir-se a sociedade nascente para impor e preservar esta cultura marcada pelo autoritarismo, e pela quase absoluta ausência de possibilidade de inovação (p.23).
A hegemonia da Igreja Católica sobre a sociedade civil, à época,
expressava-se em forma de dominação. Ao pensar a educação, vale considerar
ambos os conceitos, (sociedade civil e hegemonia) é possível visualizar um novo
enfoque, de modo que esses dois elementos permitam a elaboração de um
conceito emancipatório de educação, “em que uma pedagogia do oprimido pode
assumir força política, ao lado da conceituação da educação como instrumento de
dominação e reprodução das relações de produção capitalista” (FREITAG, 2005, p.
38).
Gramsci [1891-1937] (1973) admite que, na sociedade civil circulam
ideologias, e a classe hegemônica busca impor sua concepção de mundo à classe
subalterna, que a aceita, constituindo o denominado senso comum. Freitag (2005)
analisa que essa perspectiva gramsciana considera ser toda relação de hegemonia,
necessariamente, uma espécie de relação pedagógica, que compreende, no caso da
hegemonia burguesa, um processo educativo, por meio do qual a classe dominante
se realiza historicamente, transformando o conhecimento por ela veiculado em
senso comum, uma vez que paralisa a circulação de ideologias contrárias e essa
ação suscita o consenso e a colaboração da classe oprimida.
É possível interpretar, seguindo o quadro teórico fornecido por Gramsci
(1973), que a fase colonial se caracterizava pela inexistência de instituições
autônomas para a composição da sociedade política, a qual se reduzia às
representações locais do poder da metrópole. Nessa fase, a sociedade civil
compunha-se, majoritariamente, pela Igreja, e a infraestrutura era firmada na
economia agroexportadora. Exigia-se um mínimo de qualificação e diversificação na
força de trabalho, normalmente feito por escravos, não havendo, portanto, de acordo
com o entendimento da metrópole, função de reprodução da força de trabalho a ser
preenchida pela escola (FREITAG, 2005).
Ademais, há que ser levada em conta a estrutura social hierárquica e pouco
diferenciada, composta pelo proletariado, latifundiários (senhores das casas
grandes), donos de engenhos, representantes da Coroa e o clero. Neste cenário, a
escola tornava-se dispensável, visto que nesta sociedade não existia a re-alocação
dos indivíduos na estrutura de classes.
27
Portanto, foram mínimas as mudanças sofridas pela sociedade colonial,14, no
que se refere ao processo educativo no Brasil. Apesar da expulsão dos jesuítas, no
fim do século XVIII (1759), a Igreja Católica continuou por muito tempo a controlar as
instituições de ensino, encarregando-se por reproduzir a ideologia dominante.
Contudo, por ocasião da transferência da Corte Portuguesa para o Brasil (1808),
inovações foram introduzidas por D. João VI, dentre as quais, podem ser
enumeradas: a fundação das escolas técnicas, academias, instalação de
laboratórios (VIEIRA; FARIAS, 2007).
Todavia, a primeira Lei Geral de Educação do país foi promulgada já no
Império, em 1827 (embora a Constituição de 1823, já a sinalizasse restritamente em
dois parágrafos, garantindo a gratuidade da instrução primária) por “o único
instrumento que em mais de um século se promulgou sobre o assunto e que
denunciou, embora embrionariamente, uma preocupação com os aspectos legais da
política educacional brasileira” (VIEIRA; FARIAS, 2007, p.59).
Vieira e Farias (2007) consideram que essa legislação regulamentou uma
série de medidas populares, tais como, a inserção das escolas das primeiras letras
em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos art.1º, definição de método de
ensino a ser adotado art. 4º, previsão de formas de provimento de professores arts.
7º, 8º e 14; apresentação de determinações sobre edifícios escolares art. 5º) e
respectivos conteúdos de ensino a ministrar em tais instituições art. 12.
Apesar das promessas de boas intenções reveladas por essa lei, Ribeiro
(2000) salienta que aspectos econômicos, políticos e causas técnicas, não
correspondentes aos intuitos do legislador, impediram que o governo se mostrasse
capaz de organizar a educação popular brasileira.
Em 1834, descentralizou-se o ensino mediante o Ato Adicional15, mas a
educação ainda não constituía preocupação dos dirigentes da nação, mesmo no
alvorecer da República do Brasil, conforme reitera Azevedo (1976). O autor afirma
que terminado o período imperial, a educação permaneceu mais discursivisada que
efetivada e sistematizada, de fato, uma vez que grande parte da população 14 O Império configura-se como “uma fase que revela a procura de uma identidade que, todavia, segue orientada por ideias e padrões culturais buscados em modelos importados do exterior” (VIEIRA; FARIAS, 2007, p. 48). 15 Instrumento legal, comumente conhecido como o vilão da história da educação, mesmo não sendo um documento do campo educacional. A ele tem atribuído a origem de parte dos problemas relativos à organização do sistema escolar brasileiro: “o sistema educativo e cultural em formação foi atingido, no seu desenvolvimento, por um ato da política imperial que o comprometeu nas suas próprias bases, e viria a paralisar todos os esforços posteriores de unificação” (AZEVEDO, 1976, p. 73-74).
28
ainda estava fora das decisões políticas e do acesso aos bens culturais, que ainda
configuravam privilégio de uma minoria.
Para Freitag (2005), após a independência política, surgiram os primeiros
traços embrionários de uma política educacional:
torna-se necessário fortalecer a sociedade política, o que justifica o surgimento de uma série de escolas militares, de nível superior, ao longo do território nacional. As instituições de ensino não-confessionais passam, assim, a assumir parcialmente a função de reprodução dos quadros dirigentes. A função de reprodução ideológica, necessária à submissão de classes subalternas às relações de dominação e às condições do trabalho explorado, continua sendo desempenhada, paralelamente, pela Igreja Católica e suas escolas confessionais (p. 48).
O segundo período, da República, denominado substituição de importações
(1930 a 1960), estruturou a história da política educacional brasileira à luz do
fortalecimento das instituições da sociedade política. Especificamente, a crise de
1929, conforme sinaliza Freitag (2005, p. 49) “encaminha as mudanças estruturais
que vão caracterizar o modelo de substituição das importações”, o qual aconteceu
em consequência da crise cafeeira16. Ademais, o golpe de 1930 provocou no país
uma reestruturação global do poder estatal, tanto no âmbito da sociedade política,
quanto da civil.
Em 1930, criou-se o Ministério da Educação e Saúde, considerado um marco
para mudanças substanciais, sendo a fundação e estruturação das universidades
uma delas, mediante a fusão de várias instituições isoladas de nível superior. É importante salientar, nesse contexto, o pensamento do filósofo norte-
americano Dewey17 [1859-1952] (2010), que influenciou a criação da Escola Nova,
no Brasil. Para esse pensador a educação é como um processo de contínua
reconstrução da experiência humana na sociedade. Ao valorizar as experiências,
Dewey (1978, p. 208) “considerou como único método” de assimilação o método
científico da verificação, fundamentado na reflexão”. Porém, o processo educativo
deve se restringir à orientação da atividade espontânea da criança para favorecer-
lhe o conhecimento, que é igual à reconstrução contínua da sala de aula. Para o
autor, a sala de aula é o lugar em que experiências podem ser analisadas e
transformadas por meio da cooperação entre alunos e professores.
16 O baixo preço do café, provocado pela crise mundial, levou os capitais de investimentos a migrarem para outros setores produtivos, a crise favoreceu assim diversificação da produção e fortaleceu outros grupos econômicos (FREITAG, 2005). 17 Filósofo da educação, considerado reformador da educação pública, norte-americano que viveu a transição do século XIX para o século XX (GHIRALDELLI Jr, 2002).
29
Esse processo é inteligente, pois envolve o pensamento e possibilita ao ser
humano a percepção de relações e continuidades ainda não entendidas e ou
adquiridas. A educação abrange o aumento da diversidade e capacidade de
inventividade humana.
A Escola Nova no Brasil, representada por Anísio Teixeira, seguiu os
pressupostos de Dewey e uma vertente laica. O Manifesto dos Pioneiros, em 1932,
opunha-se política e ideologicamente à vertente religiosa na sua expressão católica.
Buscava-se, no período, uma educação que propiciasse a transformação do homem
e de seu espaço social, portanto, uma educação estatal, liberal e democrática,
desnudada de pensamento religioso (VIEIRA; FARIAS, 2007).
Nesse contexto, em 1934, foi elaborado um Plano Nacional de Educação
(PNE), cuja finalidade era supervisionar as atividades de ensino em todos os níveis.
Nesse período, implantou-se a gratuidade e obrigatoriedade do ensino
primário, tornando-se facultativo o ensino religioso. Também, por ordem do governo
Vargas, foram criadas escolas técnicas profissionalizantes (FREITAG, 2005).
A Constituição de 1934, art.140, estabeleceu a educação como direito de
todos, dever da família e do poder público, a quem cumpri proporcioná-la a
brasileiros e estrangeiros domiciliados no país (BRASIL, 1934). Com esta
Constituição iniciou-se no país o debate sobre a dimensão pública e universal da
educação no âmbito do Estado como dever constitucional.
A “obrigatoriedade do Estado, em destinar parte de seu volume orçamentário
ao financiamento da educação, talvez tenha sido o aspecto com repercussões mais
significativas presente na Carta Constitucional de 1934”, afirma Bessa, (2005, p.
128). Todavia, Freitas e Biccas (2009, p. 104) salientam que o peso do Estado Novo,
vinculado a ações ditatoriais, completou o ciclo de modernizações iniciada em 1930,
porém trouxe “vida curta ao texto constitucional que acabara de ser promulgado”.
Ademais, na Era Vargas circulou com intensidade o discurso elitista que
considerava ser natural planejar o ensino secundário e superior para “as mentes
aptas a dirigir”, estando “os outros graus e modalidades de ensino profissionalizante,
por exemplo destinados aos pobres” (FREITAS; BICCAS, 2009, p. 112). Esta
afirmativa demonstra que a definição do compromisso assumido pelo Estado com a
educação pública sofreu substantivas transformações entre 1934 e o Estado Novo,
com anuência da própria sociedade,
30
a história social da educação é a história das sucessivas articulações, por meio das quais, a sociedade com suas muitas expressões de desigualdades e diversidade, configuram o próprio Estado, que por sua vez, participa da configuração da mesma sociedade que legitima suas ações com maior ou menor abrangência (FREITAS; BICAS, 2009, p. 106)
No início do período que caracterizou o modelo econômico da substituição de
importações (1930-1960), houve uma tomada de consciência da sociedade política,
acerca da importância estratégica do sistema educacional para assegurar e
consolidar mudanças estruturais ocorridas tanto na infraestrutura, quanto na
superestrutura. No entanto, a jurisdição estatal passou a regulamentar a
organização e o funcionamento do sistema educacional, submetendo-o ao seu
controle direto e transformando-o em um aparelho ideológico. Portanto, segundo
Freitag (2005, p. 52),
a política educacional do Estado Novo não se limita à simples legislação e sua implantação, visa acima de tudo transformar o sistema educacional em um instrumento mais eficaz de manipulação das classes subalternas. Outrora totalmente excluídas do acesso ao sistema educacional, agora se lhes abre generosamente uma chance. A verdadeira razão dessa abertura se encontra, porém, nas mutações ocorridas na infraestrutura econômica, com diversificação da produção, que exige maior qualificação e diversificação da força de trabalho (p. 52).
Shiroma, Moraes e Evangelista (2007, p. 22) assinalam que
a implantação do Estado Novo, em 1937, definiu o papel da educação no projeto de nacionalidade que o Estado esperava construir ao incluí-la em seu quadro estratégico com vistas a equacionar a “questão social” e combater a subversão ideológica.
Segundo esses autores, demarcava-se, enfim, os termos de uma política
educacional que reconhecia o lugar e a finalidade da educação e da escola: de um
lado, são lugares da ordenação moral e cívica, da obediência, do adestramento, da
formação da cidadania e da força de trabalho necessários à modernização
administrada; de outro, sua atuação submete-se aos desígnios do Estado,
organismo político e econômico. Assim, mudanças na concepção e função da
educação, não foram casuais os discursos e referências a um ensino específico,
como o pré-vocacional e profissional, considerados dever do Estado, mas com a
colaboração de indústrias e sindicatos econômicos.
O processo educacional do Estado Novo, para Freitas e Biccas (2009),
recriou em sua dualidade, a produção e a reprodução da força de trabalho para o
31
processo produtivo, garantindo a consolidação de uma sociedade de classes, mais
nitidamente configurada que no período anterior. A dicotomia da estrutura de classes
capitalista em consolidação, camuflada e norteada por uma ideologia paternalista,
criou uma escola que oferecia cursos técnicos aos de classe social menos abastada
em condições criadas e financiadas pelo Estado e atribuídas a instituições como o
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI18), Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço
Social do Comércio (SESC).
A estruturação do ensino profissionalizante, no Estado Novo, configurou um
bloqueio à universidade, e se operou mediante “uma divisão na oferta de critérios
que realizavam, no âmbito da lei, uma vigorosa distinção baseada
predominantemente na estratificação social” (FREITAS; BICCAS, 2009, p. 120).
Em 1959, em um manifesto denominado Mais uma vez convocados de
posicionamento político, signatários da educação, exigiam uma educação liberal,
democrática, voltada não apenas para o trabalho e desenvolvimento econômico.
Basicamente, buscava-se uma educação que propiciasse a transformação do
homem e de seu espaço social, caracterizada como “a única que está em condições
de se subtrair das imposições de qualquer pensamento sectário, político ou
religioso“ (VIEIRA; FARIAS, 2007, p. 111).
Esse documento, na visão de Freitas e Biccas (2009, p. 171-172) veio
reafirmar que
a escola pública é a escola estatal, independentemente da liberdade consagrada constitucionalmente à iniciativa privada. A fidelidade aos princípios republicanos, manifestada em 1932 e reafirmada com todas as letras em 1959, convertia toda a heterogeneidade dos atores envolvidos com os Manifestos num pensamento social devotado à defesa da escola pública, e que falava em uníssono apesar da heterogeneidade que caracterizava o conjunto dos signatários.
Freitag (2005) descreve que a fase de 1945 a 1960 acelerou sobremaneira a
diversificação do processo de substituição de importações. Nesse período, que
intensificou-se a ação do capital estrangeiro, a princípio, com a abertura de novas
frentes de investimento substitutivo, e, no decorrer do tempo, gerando,conflitos que
apresentavam barreiras para seu projeto de expansão e absorção do mercado 18 Mesmo com perfil de instituição privada, uma vez que é administrado pela Confederação Nacional de Indústrias que o administra, com respaldo das confederações estaduais de sindicatos patronais, foi imposto pela ação governamental (FREITAS; BICCAS, 2005, p. 124).
32
interno. Ainda neste período de consolidação da educação como bem público,
percebe-se a reação de setores conservadores e reacionários.
Saviani (2005) assinala que, nesse contexto, se visualizou o protagonismo
dos organismos internacionais no gerenciamento do desenvolvimento do
capitalismo, bem como de suas crises, momento em que se sobressai a
Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Comissão
Trilateral, sucedida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial.
Nas palavras do autor,
a educação que tenderia, sob a base do desenvolvimento tecnológico, à universalização de uma escola unitária capaz de propiciar o máximo de desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos e conduzí-los ao desabrochar pleno de suas faculdades espirituais, é colocada, inversamente, sob a determinação direta das condições de funcionamento do mercado capitalista. É, com efeito, aquilo que poderíamos chamar de “concepção produtivista de educação” que domina o panorama educativo da segunda metade do século XX (SAVIANI, 2005, P.22).
Para Saviani (2005), esse processo “reprodutivista” concebia uma educação
dotada de valor econômico próprio, considerada um bem de produção capital, e não
apenas de consumo. Essa visão produtivista da educação atendia aos ditames do
taylorismo e fordismo, por meio da pedagogia tecnicista, cuja tentativa de
implantação constava da Lei nº. 5.692/71, quando se buscou transferir para as
escolas o mecanismo de trabalho vigente nas fábricas.
o taylorismo constitui uma consistente pedagogia plasmadora de subjetividades não em relação ao operariado, funcionários e patronato no âmbito das relações de trabalho, mas extensiva ao conjunto da vida social, na conformação de novos comportamentos individuais e coletivos. O Fordismo buscou incessantemente a contínua redução dos tempos de fabricação dos veículos produzidos pela Ford, de modo a atingir economia de escala, ou seja, reduzir o custo unitário de fabricação de um veículo através da diluição dos custos fixos em uma grande quantidade de produtos fabricados (ABREU, 2008, p. 61-62).
Na concepção de Freitag (2005), a referida lei apontava três inovações no
sistema educacional: a extensão do ensino de primeiro grau (fundamental)
obrigatório, gratuito em escolas públicas, de quatro para oito anos; o segundo grau
(ensino médio) três ou quatro anos; denominação do ensino superior como terceiro
grau.
Freitas e Biccas (2009) afirmam que os incisos dessa lei não resolveram
problemas antigos, antes os evidenciou, posto que destacavam a insuficiência da
33
escola e a ausência de estrutura adequada, como: precariedade nos livros didáticos,
presença de poucos docentes com nível de graduação e salários baixos, enfim,
problemas que somados aos novos tornou a implementação do primeiro e segundo
graus sujeita a incongruências de toda espécie.
No final da década de 1960 e durante a década de 1970, Frigotto (2001)
argumenta que a teoria do capital humano19 passou a fundamentar o planejamento
educacional brasileiro, ganhando força mediante o acordo firmado entre o Ministério
da Educação e Cultura e a United States Agency for Internacional Development
(Usaid), conhecido como Convênio MEC-Usaid. Segundo Saviani (2008, p. 194),
a versão originária da teoria do capital humano entendia a educação como tendo por função preparar as pessoas para atuar num mercado em expansão que exigia força de trabalho educada. A partir de 1970, a importância da escola para o processo econômico-produtivo foi mantida, mas a teoria do capital humano assumiu um novo sentido, agora é o indivíduo que terá que manter sua capacidade de escolha visando a adquirir os meios que lhe permitam ser um trabalho competitivo.
Piana (2008) enfatiza que a crise estrutural do capital, ocorrida no início de
1970, abateu sobre o conjunto das economias capitalistas, destruindo a força
humana para o trabalho, destroçando os direitos sociais, brutalizando contingentes
consideráveis de homens e mulheres que necessitavam de trabalho, tornando
predatória a relação produção/natureza. Afirma a autora que, durante o regime
militar (1964-1985),
a educação sofreu o estrangulamento interno da economia com altas taxas inflacionárias, com o endividamento externo, com queda na qualidade de ensino motivada por baixos salários e investimentos públicos, com grande índice de evasão escolar e, conseqüentemente, crescimento da escola privada, preferência ao ensino profissionalizante em detrimento do ensino médio (PIANA, 2008, p. 68).
A autora complementa que, nesse período, a política educacional também
refletia a ambivalência dos grupos no poder, visto que se reduzia, basicamente, à
luta pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e à Campanha da Escola
Pública. Uma justificativa para tal fato é que pela força do fechamento político e
suspensão das liberdades civis, durante o governo militar, o debate educacional foi
19 A aplicação dos princípios do capital humano na educação ancorava-se na relação entre escolaridade e renda, projetando para cada indivíduo a responsabilidade de administrar certo patrimônio de escolarização, como se a renda pudesse possuir um passaporte para obter maiores chances de bons empregos e bons salários FREITAS; BICCAS, (2009, p. 275).
34
caracterizado por reduzida circulação de ideias. O governo, não sinalizava
movimentação significativa na definição de políticas públicas para a educação.
Contudo, para Shiroma et al.(2007, p.26), no tocante à sociedade civil,
crescia a organização de sindicatos de trabalhadores urbanos e rurais, estruturavam-se as Ligas Camponesas, estudantes fortaleciam a União Nacional dos Estudantes (UNE), militares subalternos organizavam-se. Mobilizações populares reivindicavam Reformas de Base – reforma agrária, reformas na estrutura econômica, na educação [...]; movimentos de educação popular tiveram atuação surpreendente e atraiam intelectuais e militantes preocupados com questões educativas.
Segundo esses autores, nos anos 1970 em relação ao campo educacional, no
regime militar, se implementou “uma série de leis, decretos-leis e pareceres
referentes à educação, visando assegurar uma política educacional orgânica,
nacional e abrangente que garantisse o controle político e ideológico sobre a
educação” (SHIROMA et al. 2007, p.34).
Dentre essas normatizações se fixaram as regras de organização e o
funcionamento do Ensino Superior e as diretrizes e bases para o ensino de primeiro
e segundo graus e instituiu-se o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral). Se
de um lado, essa política educacional favoreceu a expansão da oferta pública, com a
proliferação de universidades federais em vários estados da federação, de outro,
tornou possível a transferência de recursos públicos para o crescimento
indiscriminado, por todo o país, de instituições privadas de ensino superior. Para os
Shiroma et al. (2007, p.37),
no caudal dos atos de exceção da ditadura militar, a universidade brasileira foi obrigada a testemunhar a repressão, a perseguição policial, a expulsão, o exílio, as aposentadorias compulsórias, a tortura, a morte de muitos de seus melhores pensadores .
A pressão exercida pela sociedade civil, após o golpe militar20 de 1964, levou
vários educadores que lutavam por uma educação comprometida com os ideais
democráticos e se posicionavam ideologicamente mediante exposição de suas
ideias a sofrerem perseguições pelo regime. Por meio do Ato Institucional nº 5, de
1968, foram cassados direitos e garantias fundamentais, sucederam-se
desaparecimentos de pessoas, e outros se exilaram ou trocaram de função, em
20 Um golpe dado e garantido pela força militar, com a adesão, nos primeiros anos, da maioria da sociedade civil (GIANNOTTI, 2004)
35
razão das demissões promovidas pelos militares ou se recolheram à vida privada.
Essas ações espelharam na educação o caráter antidemocrático da proposta
ideológica do regime militar (SILVA, 2009).
Gohn (2009, p. 58) considera que a década de 1980 apresenta ganhos nos
planos sociopolítico e educacional. A seu ver,
a sociedade como um todo aprendeu a se organizar e a reivindicar. Diferentes grupos sociais se organizaram para protestar contra o regime político vigente, para pedir as “Diretas Já”, para reivindicar aumentos salariais. A sociedade civil voltou a ter voz. A nação voltou a se manifestar através das urnas. As mais diversas categorias profissionais se organizaram em sindicatos e associações. Grupos de pressão e grupos de intelectuais engajados se mobilizaram em função de uma nova Constituição para o país.
As demandas educativas passaram a buscar respostas para problemas de
ordem estrutural, gerados pela intensificação do capitalismo no país e se
classificavam em demandas educacionais para a sociedade e demandas por
educação escolar, incluindo na escola, temas que pudessem gerar discussões,
especificamente:
educação ambiental, educação sobre o patrimônio histórico e cultural, educação para deficientes, menores e adolescentes, educação sexual e contra o uso de entorpecentes, contra a violência e para a cidadania (GOHN, 2009, p. 59).
Segundo Gohn (2009), na década de 1980, a cidadania foi o requisito
predominante nas reivindicações das demandas da sociedade, associando a ideia
de jurisdição das relações sociais à medida que se adotou como parâmetros
aspectos relativos às leis, aos direitos, à construção de uma nova Constituição, à
elaboração de leis orgânicas. Nesse contexto,
a educação para as pessoas com deficiência, outrora disciplina da pedagogia ou da área médica, passa a fazer parte das práticas da sociedade brasileira. Aos poucos os deficientes físicos foram sendo tratados não como sujeitos de menor capacidade intelectual, mas como sujeitos de capacidade física com certas limitações (GOHN, 2009, p. 63).
Conforme Saviani (2010), a década de 1980 foi marcada por movimento
organizativo-sindical aglutinando os professores dos três graus de ensino. Inicia-se
com a criação de associações, que posteriormente foram transformadas em
sindicatos. Esta década caracterizou-se por significativo aumento da produção
36
acadêmico-científico, divulgada por aproximadamente sessenta revistas, este fato,
aliado ao avanço do processo de produção da categoria possibilitou a área da
educação a conquista do respeito e reconhecimento da comunidade científica,
representada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (Sbpc),
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),
Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Wanderley (2004) sinaliza que o contrário da cidadania se materializa na
pobreza, uma vez que esta leva a formas de ruptura do vínculo social e representa
um acúmulo de déficits e precariedades. Por sua vez, Iamamoto (2008, p. 159)
caracteriza o pauperismo como o estar necessitado em sentido estrito: ”excluído de
toda a riqueza objetiva, dotado de mera capacidade de trabalho e alijado das
condições necessárias à sua realização objetiva de criação de seus meios de
sobrevivência”. Com base nessa concepção, o pauperismo se refere à produção,
aos meios de produção e, sendo assim, às relações entre as classes.
A desigualdade no modo de produção capitalista, como expressão da questão
social representa a integração e a desintegração, o fundamento da alienação do
trabalhador e, consequentemente, a idéia da perpetuação da relação desigual, a
base fundamental da luta de classes e o motor do conflito que principia a mudança
(BONETI, 2003). Logo, a desigualdade compreende a condição do sujeito social fora
do padrão referencial, seja do ponto de vista cultural, linguístico ou de capacidade
técnica para o exercício do trabalho.
É nesse cenário que a sociedade brasileira adentra a década de 1990, que
promoveu mudanças profundas não apenas na educação, mas também nas
relações de trabalho. Essa nova configuração do trabalho surgiu em um contexto de
profundas alterações na sociedade, em suas formas de organização, produção de
bens, comercialização e na lógica de dominação e exclusão. Essas mudanças são
analisadas como fruto de orientações ou ações de um
novo modelo de dominação capitalista, neoliberal, que impõe novas demandas aos indivíduos, sociedades, Estados e Governos, particularmente à Educação. A lógica neoliberal impõe ao campo da educação a formação do sujeito independente e competitivo. A instrumentalização do trabalhador é cada vez mais incentivada em detrimento de sua formação ético-política. Por conta disso, a escola é reduzida cada vez mais a um espaço de formação de mão-de-obra para o mercado de trabalho (SOUZA, 2008, p. 173-175).
37
Na obra Política educacional, Shiroma et al. (2007) reiteram que, na década
de 1990, a prioridade do Estado foi assegurar o acesso e a permanência na escola.
Para atingir tal objetivo, esses autores afirmam que foram lançados vários
programas, sendo o Bolsa-Escola21 um dos mais proativos, na visão do Ministério da
Educação e Cultura, que implementou outros programas no plano do financiamento,
tais como:
dinheiro Direto na Escola, que consiste na distribuição de recursos diretamente aos estabelecimentos escolares; Programa Renda Mínima; Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA); Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF) e o Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEF). Parte significativa de alguns programas destina-se à adoção de tecnologias de informação na comunicação: TV Escola, Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO), Programa de Apoio à Pesquisa em Educação a Distância (PAPED) e Programa de Modernização e Qualificação do Ensino Superior (SHIROMA et al, 2007, p. 74).
Os autores argumentam que o governo brasileiro, nos anos 1990, priorizou
intervenções de natureza avaliativa, a exemplo do Censo Escolar, do Sistema de
Avaliação da Educação Básica (SAEB), do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) e do Exame Nacional de Cursos (ENC), vulgo Provão22). Além desses, a
política educacional criou programas focalizados em grupos específicos, como a
educação de jovens e adultos (EJA) e a educação indígena.
Essa reorganização do sistema educacional foi viabilizada tendo em vista o
artigo 8º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9394/96), que
regulamenta o artigo 211 da Constituição Federal, o qual estabelece que a União, os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios se organizem em regime de colaboração,
a fim de promover condições de um ensino de qualidade.
À União cabe a função de coordenar a Política Nacional de Educação, em
articulação com as diferentes instâncias e sistemas, exercendo função normativa,
redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. Por sua vez,
os municípios podem optar pela integração ao sistema estadual de ensino.
Na esfera federal, encontram-se como órgãos administrativos: Ministério da
Educação (MEC), Conselho Nacional de Educação (CNE). No âmbito Estadual:
21 Programa que “concede auxilio financeiro à família com crianças em idade escolar, cuja renda per capita seja inferior a um mínimo estipulado pelo programa” (SHIROMA et a.2007, p. 74). 22 Esse exame conhecido popularmente como provão, avalia a qualidade do ensino na graduação e visa com base nas respostas dos estudantes observar em última instância a qualidade dos projetos pedagógicos, de cada curso.
38
Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Conselho Estadual de Educação (CEE),
Delegacia Regional de Educação (DRE) ou Subsecretaria de Educação. Na esfera
municipal: Secretaria Municipal de Educação (SME); Conselho Municipal de
Educação (CME).
Na distribuição de responsabilidades educacionais, em consonância com a
Lei nº 9.394/96, cabe à União o trato com os Ensinos de Educação Infantil,
Fundamental, Médio e Superior; aos Estados, os Ensinos: Fundamental, Médio e
Superior; aos Municípios, os Ensinos de Educação Infantil, Fundamental e Médio; à
iniciativa particular, Educação Infantil e Ensinos: Fundamental, Médio e Superior.
É importante ressaltar que a Política Nacional de Educação (PNE), por meio
do MEC, adota o princípio da inclusão como orientadora das políticas públicas. Um
paradigma que perpassa o sistema educacional em todas as instâncias e em todas
as esferas de ensino, com a finalidade de efetivar as diretrizes da Educação para
Todos, preceito de acordos internacionais.
O item a seguir trata dos avanços e ganhos sócio-políticos, bem como das
prerrogativas e inovações jurídicas e formais efetuadas no campo da educação
especial brasileira, após os anos 1970, em uma perspectiva inclusiva, democrática e
cidadã.
1.1 Educação especial no Brasil
Ainda no início do século XX, em todo o mundo, os sistemas educacionais23 se
apresentavam deliberadamente estratificados, ou seja: segregados por gênero,
etnia/raça e classe social, normalmente, divididos em escolas católicas, protestantes,
técnicas, públicas, privadas. Em virtude disso,
uma série de movimentos sociais envolveu-se na luta para desagregar escolas, para estabelecer uma escola secundária abrangente. Os sistemas educacionais de meados do século, como resultado desta pressão se tornaram mais acessíveis. O direito à educação materializado na Declaração dos Direitos da Criança pelas Nações Unidas em 1959 foi aceito internacionalmente como significando igualdade de acesso para todos (CONNEL, 2007, p. 78).
23 “Um sistema educacional encerra uma pluralidade de organizações públicas e particulares, um conjunto mais ou menos complexo de unidades escolares de natureza e níveis diferentes, superpostos, hierarquizados e ligados, entre si por suas relações de coordenação e subordinação, e, pois, uma unidade de inserção” (ARAÚJO, 2005, p. 39).
39
Contudo, Connell (2007) analisa que no interior das instituições formalmente
igualitárias, crianças pertencentes às minorias étnicas continuaram com
desempenho inferior, estando sujeitas a reprovações e à evasão escolar. Um dos
objetivos da área de Sociologia da Educação das décadas de 1960 e 1970 foi
descrever e denunciar essa segregação informal, mediante o acúmulo de
levantamentos oficiais como o Relatório de Coleman, em 1966, nos Estados Unidos
e o estudo Classe Social e Educação Inclusiva na Grã-Bretanha. As evidências
apresentadas apontaram para resultados socialmente desiguais estabelecidos sobre
os sistemas educacionais mundiais (CONNEL, 2007).
Inclusa nesse cenário se encontrava também a educação especial brasileira,
conceituada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), artigo 58, como a
modalidade de educação escolar oferecida, preferencialmente, na rede regular de
ensino, para educandos portadores de necessidades.
Até a década de 1960, a educação especial no Brasil, concentrou-se em
iniciativas focalizadas, restrita às instituições especializadas públicas e,
especialmente, privadas. Em algumas redes públicas já existiam, de forma tímida, as
classes especiais (FERREIRA, 2006). É importante demonstrar, sucintamente, como
esse processo se delineou.
As novas propostas pedagógicas permeadas pelo movimento da Escola
Nova, a partir do final do século XIX, enfatizavam uma educação democrática, uma
relação escolar que respeitasse as diferenças individuais, as aptidões e os
interesses das crianças.
Merece destaque as contribuições de Pestalozzi [1746-1781], que assim
como Rousseau [1712-1778], concebia a educação como processo que deve seguir
a natureza e os princípios da liberdade, da bondade inata do ser e da personalidade
individual da criança, e a concebia como organismo que se desenvolve de acordo
com leis definidas e ordenadas contendo em si todas as capacidades da natureza
humana (PESTALOZZI, 1946). Defendeu uma educação não repressiva na qual se
baseava no cultivo do sentimento, da mente e do caráter. Para tanto, Pestalozzi
(1946, p. 63) formulou seu método de ensino partindo do conhecido ao
desconhecido, do concreto ao abstrato, do particular ao geral, da visão intuitiva à
compreensão geral. A base desse método foi a percepção sensorial: “A intuição da
natureza é o único fundamento próprio e verdadeiro da instrução humana, porque é
o único alicerce do conhecimento humano”. Esse método constituiu grande
40
ferramenta para trabalhar com as pessoas com deficiência, que se encontravam
segregadas.
Helena Antipoff [1892-1974], psicóloga russa e professora de Psicologia da
Infância, ao vir ao Brasil se envolveu com a homogeneização das classes das
escolas públicas, a princípio em Minas Gerais. Seguindo o ideário escolanovista e a
Declaração de Genebra, promulgada após o término da Primeira Guerra Mundial. A
experiência dessa psicóloga no Instituto Jean Jacques Rousseau, em seu trabalho
com crianças, passaria separá-las em classes homogêneas a fim de receberem
uma educação orientada por seus interesses individuais, para o melhor
desenvolvimento de suas capacidades. A realização dessa atividade permitiu que a
estudiosa se deparasse, pela primeira vez no Brasil, com a causa das crianças
excepcionais (LOURENÇO, 2000, p. 4).
Érika Lourenço (2000, p. 3) reitera que essa descoberta levou à percepção de
que
havia um grande contingente de crianças portadoras dos mais diversos graus e tipos de necessidades especiais colocadas em classes comuns. Os professores, segundo sua observação, não possuíam qualquer preparação ou mesmo interesse para promover meios para a educação destas crianças. Assim, deixadas à parte do andamento da turma como um todo, seu destino era a múltipla repetição de ano, até a desistência dos estudos. Estando previsto nas leis do ensino a existência das classes especiais nas escolas públicas, Antipoff, atuando junto às professoras alunas da Escola de Aperfeiçoamento, tentou fazer com que funcionassem. Programou a seleção e distribuição dos alunos de acordo com suas necessidades e com seu grau de desenvolvimento físico e mental. Enfatizou a necessidade de turmas pequenas, de um ensino individualizado, de um ambiente adequado, com material didático disponível e professoras bem preparadas.
No cerne dessa proposta, havia uma visão organicista da excepcionalidade,
mediante a crença de que, por meio da educação, dos exercícios de “ortopedia
mental” incluídos nas atividades escolares (exercícios lúdicos para o treino e a
melhoria das capacidades mentais como atenção, memória e outros), as crianças
com necessidades especiais seriam curadas dos desvios que apresentavam. Nesse
sentido, a educação era vista como um meio de evitar que a anormalidade trouxesse
influências nocivas para a sociedade. O resultado dessa proposta trouxe a
segregação desses alunos.
Antipoff [1892-1974], percebendo que a escola pública não estava tendo
sucesso criou em 1932 a Sociedade Pestalozzi de Belo Horizonte. Lourenço (2000,
p. 4) afirma que
41
esta foi uma alternativa para angariar a assistência necessária à complementação do treinamento das professoras no ensino do excepcional, do diagnóstico psicológico e do atendimento clínico oferecidos no Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico .
Esse projeto apresentou crescimento imediato, uma vez que
o número de associados e da atuação da Sociedade Pestalozzi ao longo das décadas de 30 e 40, foram aumentando os serviços prestados às crianças das classes especiais visando o diagnóstico psicológico e físico, novas propostas educacionais, tratamento médico e pesquisas para a compreensão científica da excepcionalidade (LOURENÇO, 2000, p.12)
Aos poucos, à medida que aumentava o contato com as crianças que
apresentavam necessidades educacionais especiais, a concepção organicista da
excepcionalidade foi sendo transformada em uma visão mais abrangente. A ênfase
na necessidade de cura de uma deficiência ou a prevenção de suas influências
negativas já não era o cerne da intervenção na educação especial, mas o meio físico
e social no qual a criança estava inserida (AUN, 1994). Prima-se por um modelo de
escola construtivista, ampliando o conceito de excepcionalidade de até então.
O modelo construtivista oferecia à criança diversas atividades em contato com
natureza e com o instrumental disponível, sob a orientação de professores
preparados, para exercitar e desenvolver suas aptidões mediante a utilização de
atividades lúdicas de habilidades e funções mentais dessas crianças. Ademais,
primou-se pelo “acompanhamento sistemático do desenvolvimento de cada aluno
nos níveis somático e psicológico, visando a avaliação do trabalho realizado e o
melhor conhecimento científico das diversas disfunções apresentadas pelas crianças
e adolescentes” (LOURENÇO, 2000, p. 6).
As inovações efetuadas para a integração de pessoas com necessidades
especiais, de fato, foram efetivadas apenas no final da década de 1960 e de modo
mais enfático na década de 1970, quando as reformas educacionais atingiram a
área de educação especial, sobretudo nas fases orientadas pelos princípios da
normalização e da integração (SILVA, 2009).
Esse conceito de integração/inclusão opunha-se aos modelos de segregação
e vinha em defesa do direito de proporcionar às pessoas que apresentavam
deficiência, condições de vida o mais próximo às demais pessoas (MIRANDA, 2003).
Nessa perspectiva analítica, as propostas de definição da Lei nº 5.697/71, de
42
reforma do 1º e 2º graus, e da Emenda Constitucional n. 12, de 197824, no Brasil,
apresentaram a educação especial como área prioritária nos planos setoriais de
educação, mediante:
as definições do Conselho Federal de Educação sobre a educação escolar dos excepcionais, as resoluções dos Conselhos Estaduais de Educação sobre diretrizes de educação especial, a criação dos setores de educação especial nos sistemas de ensino, a criação das carreiras especializadas em educação especial na educação escolar (os professores dos excepcionais) e também no campo de reabilitação, a constituição das equipes de reabilitação/ educação especial (PEREIRA, 2006, p. 87).
Na década de 1980, ganhos no plano sócio-político e educacional se fizeram
notar, delineados pelos princípios da normalização e da integração. A revisão dos
processos de organização, gestão e avaliação da escola pública promoveu a criação
dos ciclos e a revisão do regime seriado, mobilizando a sociedade em torno do
processo da Constituinte (1986-1987), no qual os grupos historicamente excluídos,
dentre eles as pessoas com necessidades especiais, ganharam força, maior
visibilidade e poder de vocalização (MIRANDA, 2003).
Na Constituição Federal de 1988, especificamente no Art. 208, inciso III, é
tratado o atendimento especializado a ser oferecido às pessoas com deficiência na
rede regular de ensino: “O dever do Estado com a Educação será efetivado
mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores
de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988).
Essa iniciativa proposta na legislação constitucional abriu caminhos para que
alterações significativas fossem promovidas no campo educacional. A Lei 9.394/96
tece nos Artigos 58, 59 e 60 uma abordagem sobre a educação especial. No
primeiro artigo, parágrafos 1º, 2º e 3º, a lei estabelece a estrutura educacional para a
educação especial:
§1º- Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º- O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos
24 “É assegurado às pessoas com deficiência a melhoria de sua condição social e econômica “especialmente mediante: educação especial e gratuita; assistência, reabilitação e reinserção na vida econômica e social do país; proibição de discriminação, inclusive quanto à admissão ao trabalho ou ao serviço público e a salários; possibilidade de acesso a edifícios e logradouros públicos (Emenda Constitucional nº 12, (17 out. 1978) Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103897/ emenda-constitucional-12-78> Acesso em: 15 abr. 2011.
43
alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil (BRASIL, 1996, p. 19).
No Artigo 59, a Lei nº 9.394/96 estabelece as prerrogativas a serem seguidas
pelos sistemas de ensino, objetivando assegurar aos educandos com necessidades
especiais:
I- currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; I- terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III- professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV- educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V- acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular (BRASIL, 1996, p. 19).
O Artigo 60 da LDB/96 apresenta as atribuições dos órgãos normativos dos
sistemas de ensino, relativos à educação especial:
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. Parágrafo único. O Poder Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo (BRASIL, 1996, p. 19).
Com a aprovação da Lei nº. 10.172/01, que estabelece o Plano Nacional de
Educação, foram estabelecidos vinte e sete objetivos e metas para a educação de
pessoas com necessidades educacionais especiais. Sinteticamente essas metas
tratam:
a) do desenvolvimento de programas educacionais em todos os
municípios, inclusive em parceria com as áreas de saúde e assistência social,
44
visando à ampliação da oferta de atendimento desde a educação infantil até a
qualificação profissional dos alunos;
b) ações provenientes nas áreas visual e auditiva à generalização do
atendimento aos alunos na educação Infantil e no Ensino Fundamental;
c) do atendimento extraordinário em classes e escolas especiais ao
atendimento preferencial na rede regular de ensino;
d) da educação continuada dos professores que estão em exercício à
formação em instituições de ensino superior.
Outros fundamentos legais estão nas Diretrizes Nacionais para a Educação
Especial na Educação Básica, instituída pela Resolução n.º 02/2001, especificamente
em seu art. 3º, que fundamenta a educação especial como:
processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica.
Em relação aos principais proponentes desse documento, o artigo 5º
estabelece que os educandos com necessidades educacionais especiais
apresentam, dentre outros fatores:
I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II- dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.
A Resolução nº 2/2001, art. 7º, atende às prerrogativas da Constituição
Federal de 1988, quando estabelece que o atendimento a alunos com necessidades
educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em
qualquer etapa ou modalidade da Educação Básica. Para tanto, o artigo 8º, incisos I,
II, III e IV, apresenta norteamentos para a prática desta ação pedagógica.
45
I - professores das classes comuns e da educação especial capacitados e especializados, respectivamente, para o atendimento às necessidades educacionais dos alunos; II - distribuição dos alunos com necessidades educacionais especiais pelas várias classes do ano escolar em que forem classificados, de modo que essas classes comuns se beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as experiências de todos os alunos, dentro do princípio de educar para a diversidade; III - flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitada a freqüência obrigatória. IV - serviços de apoio pedagógico especializado.
Essa prerrogativa atende ao discurso da Conferência Mundial Educação para
Todos, realizada em Jomtien, Tailândia, em 1990, considerada o marco na
consolidação, difusão e expansão do projeto educacional internacional, cuja
estratégia é satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem de todos:
crianças, jovens e adultos. Esta ideia é progressista porque assegura que as
pessoas com diferentes necessidades também deveriam ter acesso aos conteúdos,
meios, modalidade de ensino e aprendizagem (SHIROMA et al., 2007).
Participaram dessa Conferência, educadores de vários países e quatro
organismos internacionais29 (como patrocinadores e financiadores): a Organização
das Ações Unidas para a Educação (Unesco); o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef); o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud); e
o Banco Mundial. Estes organismos elencaram o processo de reformas estruturais e
educacionais a ser implantado em todo o mundo, especialmente, nos países pobres
(BRASIL, Declaração Mundial de Educação para Todos, 1990).
As reformas educacionais ocorridas no Brasil após Jomtien (1990) foram
encaminhadas pelos organismos internacionais que participaram dessa Conferência.
Em relação à educação especial, especificamente, a Política Nacional de Educação
Especial, na perspectiva da educação inclusiva, estabeleceu como meta o acesso, a
participação e a aprendizagem dos educandos com deficiência, transtornos globais
do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares
(FERREIRA, 2006).
Para o alcance desse fim, a política educacional brasileira apresenta como uma das diretrizes da educação especial, na perspectiva inclusiva, que os sistemas de ensino organizem as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação e que favoreçam a promoção da aprendizagem e a
46
valorização das diferenças, de forma a atender as necessidades educacionais de todos os educandos. Em razão de debates e pesquisas a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), nota-se que a educação especial tem sido atualmente definida no Brasil segundo uma perspectiva mais ampla, que ultrapassa a simples concepção de atendimentos especializados tal como vinha sendo realizada nos últimos tempos. A legislação que normatiza a educação especial na rede regular atende aos pressupostos firmados internacionalmente e colabora com os direitos da cidadania desses sujeitos. Conforme preconizado pelos próprios PCNs, “os serviços educacionais especiais, embora diferenciados, não podem desenvolver-se isoladamente, mas devem fazer parte de uma estratégia global de educação e visar suas finalidades gerais” (BRASIL, 1998, p. 21). Neste aspecto, para que os objetivos sejam alcançados, os PCNs argumentam que a aprendizagem escolar seja diretamente vinculada ao currículo25, organizado para orientar os diversos níveis de ensino e as ações docentes, a partir do projeto pedagógico da escola, viabilizando a sua operacionalização e orientando as atividades educativas e sua execução, mediante a definição de metas e finalidades. Desse modo, o PPP da escola, como ponto de referência para definir a prática escolar, deve orientar a operacionalização do currículo, como um recurso para promover o desenvolvimento e a aprendizagem dos educandos, considerando-se, dentre outros aspectos:
a identificação das necessidades educacionais especiais para justificar a priorização de recursos e meios favoráveis à sua educação; adoção de currículos abertos e propostas curriculares diversificadas, em lugar de uma concepção uniforme e homogeneizadora de currículo; a flexibilidade quanto à organização e ao funcionamento da escola, para atender à demanda diversificada dos alunos; a possibilidade de incluir professores especializados, serviços de apoio e outros, não convencionais, para favorecer o processo educacional (BRASIL, 1998, p. 22).
Ressalte-se que o processo de abertura democrática do país contribuiu de
forma significativa para as mudanças em torno dessa modalidade educacional - a
revisão dos processos de organização, gestão e avaliação da escola pública, em
alguns Estados, culminou na criação dos ciclos e na revisão do regime seriado e a
mobilização em torno do processo da Constituinte (1988), no qual os grupos
25 O currículo inclui desde os aspectos básicos que envolvem os fundamentos filosóficos e sociopolíticos da educação até os marcos teóricos e referenciais técnicos e tecnológicos que a concretizam na sala de aula. Relaciona princípios e operacionalização, teoria e prática, planejamento e ação (BRASIL, 1998, p. 31)
47
historicamente excluídos, dentre eles o das pessoas com deficiência, ganharam
força e maior visibilidade.
Todas essas propostas corroboraram para a criação do Programa Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva no Brasil, que será tratado no capítulo seguinte.
48
CAPÍTULO II
A EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL
O conceito de “inclusão” é delineado por uma “consciência”26 crescente dos
direitos da cidadania, responsável por transformar benefícios sociais restritos a
alguns grupos em um arcabouço de reivindicações populares, que se alastrou pelo
mundo com a criação do Estado de Bem-estar Social27, em que “os direitos sociais
passaram a ombrear com os direitos políticos” RODRIGUES, (2006, p. 10).
Para Aranha (2000, p. 2),
a ideia de inclusão se fundamenta em uma filosofia que reconhece e aceita a diversidade na vida em sociedade. Isto significa garantia de acesso de todos, a todas as oportunidades, independente das peculiaridades de cada indivíduo grupo social.
Carvalho (2004) sintetiza que, por princípio, a visão dos sistemas
educacionais inclusivos deve envolver a tolerância, o respeito, a cooperação e a paz
em seu cotidiano. Ademais, preceitos como o direito à educação, à aprendizagem, à
participação, à igualdade de oportunidade, a escolas responsivas e de qualidade
não devem ser negligenciados.
O princípio da inclusão compreende uma preocupação mais ampla, cuja
finalidade é o questionamento e a suplantação de práticas de exclusão,
aprimoramento do conhecimento além de promover a criação de condições e
estruturas para a diversidade dos alunos (HOLANDA, 2003). Neste aspecto, a
inclusão preconiza que as escolas recebam e procurem se adequar a todas as
crianças/jovens/adultos, em situação de risco social, em desvantagem de renda ou
oriundas de populações étnicas ou culturais, independentemente de suas condições
físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas e outras.
Ao elaborar uma breve retrospectiva da educação inclusiva, nota-se que
mundialmente, o início da implementação de ações voltadas à inclusão escolar se
deu ainda no século XVIII, agregando somente crianças pobres, originárias de
escolas populares, configurando uma situação que perdurou por décadas. Somente
26 O termo consciência aparece entre aspas, pois, neste caso, trata-se de um conceito usado por Rodrigues (2006), e não uma categoria tal como utiliza Marx (Ideologia Alemã) 27 O Estado de Bem- estar Social ou Welfare State – modelo tipo de organização de Estado dos Países capitalistas desenvolvidos, notadamente após o fim da 2ª Guerra Mundial. A função básica desse modelo consistia em fornecer à sociedade, como direito, remuneração e renda para uma vida digna. (TORRES, 2007).
49
a partir da década de 1960, organismos internacionais passaram a promover uma
busca mais efetiva pela redução da pobreza por meio da inclusão escolar. Afirma
Connell (2007, p. 14):
no início do século XX, os sistemas educacionais eram, em sua maioria, nítida e deliberadamente estratificados: segregados por raça, gênero e classe social, divididos entre escolas acadêmicas e técnicas, públicas e privadas, protestantes e católicas. Uma série de movimentos sociais envolveu-se na luta para desagregar e para abrir universidades para grupos excluídos. Os sistemas educacionais de meados do século, como resultado desta pressão, tornaram-se mais acessíveis. O direito à educação materializado na Declaração dos Direitos da Criança pelas Nações Unidas em 1959 foi aceita internacionalmente (com notáveis exceções como a África do Sul, que vivia sob o Regime do Apartheid social (grifos do autor ) como significado de igualdade e acesso a todos.
No aspecto normativo, diversos documentos internacionais defendem o principio da inclusão social/escolar, dentre eles: a Convenção dos Direitos da
Criança das Nações Unidas (1989)28; a Conferência Mundial sobre Educação para
Todos (1990); o Regulamento das Nações Unidas para a Igualdade de
Oportunidades dos Deficientes (1993) e a Declaração de Salamanca (1994). Na Declaração de Salamanca, a abrangência de uma Educação para Todos representa um divisor de águas nas discussões sobre a educação inclusiva no Brasil. Atualmente, essa declaração configura-se como o documento que mais reforça as ideias sobre a educação inclusiva. No Brasil, a educação inclusiva determinou a transformação das instituições educacionais em escolas para todos, tendo como princípio orientador a inclusão de todos os educandos, em seu contexto educacional e comunitário, pois,
cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios [...] os programas de estudo devem ser adaptados às necessidades das crianças e não o contrário, sendo que as que apresentam necessidades educativas especiais devem receber apoio adicional no programa regular de estudos, ao invés de seguir um programa de estudo diferente (UNESCO, 1994).
O Brasil adotou a proposta da Declaração de Salamanca, comprometendo-se
com a construção de um sistema educacional inclusivo29. Para tanto, investiu em
28 No seu art. 23, essa Convenção da ONU (1989) estabelece que a criança deficiente tem direito a cuidados especiais, educação e formação adequados que lhe permitam ter uma vida plena e decente, em condições de dignidade, e atingir o maior grau de autonomia e integração social possível. 29 Apesar de a temática já constar na redação da Lei nº. 5.692/71 que tratava da profissionalização atendendo a divisão de trabalho, ela foi alterada pela Lei nº 7.044, de 18 de outubro de 1982, não ocorrendo modificações referentes à educação especial. Nos Planos Setoriais de Educação com base na Emenda Constitucional de 1978 - sendo relacionada aos valores de igualdade e de aceitação de pessoas portadoras de necessidades especiais.
50
mudanças nas diretrizes que norteiam a educação em território nacional, a fim de
promover maior visibilidade à educação especial. Como estratégia, o país formulou a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-(LDB) a Lei nº 9394/96 (BRASIL,
1996) e promoveu a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs (BRASIL,
MEC, 1998).
A formulação da LDB de 1996 permitiu que a proposta da integração escolar
preferencial de alunos com necessidades educacionais especiais ocorresse em um
processo intenso de análise e transposição de projetos político-pedagógicos para as
diferentes realidades escolares, tanto nas redes de ensino público, quanto nas
instituições particular e/ou privadas. De acordo com Cerqueira (2008, p. 51),
a nova LDB traz algumas inovações não só para a educação em geral, mas também para a educação especial. Sendo dedicado um capítulo com mensagem de inclusão escolar para alunos com necessidades educacionais especiais, além da ampliação de oportunidades, como a legalização da educação infantil, incluindo a criação deficiente nessa etapa escolar. Em 2001, as Diretrizes para a Educação Especial na Educação Básica, entre outras, refletem essas mudanças.
Nessa perspectiva, a Portaria MEC nº 1.679/99 (BRASIL, MEC,1999), dispõe
sobre os requisitos de acessibilidade às pessoas com deficiência para instrução de
processos de autorização e de reconhecimento de cursos e de credenciamento de
instituições, regulamentados pela Lei nº 10.098/2000 (BRASIL, 2000). O Plano
Nacional de Educação, instituído pela Lei nº 10.172/2001 (BRASIL, 2001),
estabeleceu objetivos e metas para que os sistemas de ensino favoreçam o
atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos. Nesse ínterim,
identificou-se um déficit referente à oferta de matrículas para alunos com deficiência
nas classes comuns do ensino regular, na formação docente, à acessibilidade física
e ao atendimento educacional especializado.
Essas deficiências, de acordo com Ferreira (2006), foram apontadas pelo
censo demográfico brasileiro de 2003, que apresentou a efetivação de apenas 500
mil matrículas de alunos com necessidades especiais, no universo de 55 milhões de
matrículas na educação básica, caracterizando um percentual aquém da demanda,
uma vez que o censo de 2000 estimou que havia 4,3% de crianças e jovens com
deficiência, na faixa etária de zero a dezessete anos.
Já o censo escolar de 2010 (BRASIL, MEC/INEP, 2010), registrou avanços
desde então, sobretudo no número de matrículas para educandos com
51
necessidades educacionais especiais, uma vez que a Política da Educação
Especial, adotada pelo Ministério da Educação estabeleceu que a educação
inclusiva seja prioridade.
Em decorrência, essa política apresentou mudanças, a fim de permitir a oferta
de vagas na educação básica, valorizando as diferenças e atendendo às
necessidades educacionais de cada aluno, com vistas a fundamentar a educação
especial na perspectiva da integração. Em 2009, havia 639.718 matrículas nesta
modalidade de ensino e em 2010, contabilizaram-se 702.603, caracterizando um
aumento de 10% (BRASIL, MEC/INEP, 2010).
Em relação à quantidade de alunos incluídos em classes comuns do ensino
regular e da educação de jovens e adultos (EJA), o censo escolar (2010) registra um
aumento de 25%, ressaltando que reduziu 14% o número de alunos nas classes
especiais e nas escolas exclusivas. Comparando os anos de 2007 a 2010 e o
número de matrículas efetivadas nas escolas públicas, esse censo (2010)
evidenciou que 62,7% do total de matrículas da educação especial, em 2007,
ocorria nas escolas públicas e 37,3% nas escolas privadas. Em 2010, estes
números alcançaram 75,8% nas públicas e 24,2% nas escolas privadas (BRASIL,
MEC/INEP, 2010).
O processo de implantação da escola inclusiva em Goiás, com destaque para
o Programa Estadual de Educação para a Diversidade numa Perspectiva Inclusiva
(PEEDI) será analisado no item seguinte.
2.1 A educação inclusiva em Goiás: fundamentos teóricos e filosóficos
Em Goiás, o atendimento institucionalizado de educação especial antecedeu
as normatizações do governo federal. Em 1953, a Lei nº. 926/53 criou o Instituto
Pestalozzi de Goiânia (IGP). Inaugurado em 1955, com a finalidade de atender a
alunos com deficiência, permaneceu como a única instituição que atendia a essa
modalidade no estado, até 1970 (MAZZOTA, 1996).
Em 1973, o governo estadual criou a Seção de Ensino Especial, vinculada ao
Departamento de Ensino da Secretaria Estadual de Educação, que passou a partir
de 1976, a denominar-se Divisão Especial na Unidade de Ensino de 1º Grau
(MAKHOUL, 2007).
52
Para Milano (2004), essa iniciativa permitiu que fossem criadas classes
especiais no ensino regular, visando a possibilidade de integração de alunos com
deficiência, uma vez que, nesse período, as pessoas com necessidades especiais
precisavam se adequar ao ensino regular, e o fracasso ou o sucesso escolar era
atribuído tão somente a elas. Da escola, não era exigida qualquer preparação ou
formação para o recebimento de alunos com deficiência, mesmo sendo grande o
número de instituições educacionais que ofereciam vagas para essa modalidade de
ensino por todo o estado de Goiás .
Essa estrutura de ensino permaneceu até 1982, quando, pela Portaria nº
1.674, foi criada a Unidade de Ensino Especial (UEE), vinculada à Superintendência
de Assuntos Educacionais da Secretaria Estadual de Educação (Supee/SEE), um
trabalho inovador à época, pois traz autonomia, financeira e administrativa à
educação especial.
Makhoul (2007) reitera que a partir de então, o número de classes especiais
no ensino regular sofreu considerável aumento, abrangendo vários municípios.
Iniciou-se, portanto, a sistematização do atendimento precoce da pré-escola ao
ensino superior e a profissionalização de alunos em todas as áreas de deficiência.
Essa iniciativa buscava um modelo educacional que diferisse do modelo clínico30,
que entendia a deficiência como doença, e a terapia, uma das estratégias de
tratamento.
Em 1987, extinguiu-se a Unidade de Ensino Especial, e mediante a Lei nº
10.160/87 foi criada a Superintendência do Ensino Especial (Supee/SUEE),
vinculada diretamente à Secretaria Estadual de Educação. O objetivo daquele órgão
era direcionar o ensino especial no estado de Goiás, aglutinando as competências
de elaborar, planejar, supervisionar, coordenar, assessorar e executar os programas
de educação especial em todos os níveis de ensino. Makhoul (2007, p. 8) afirma que
“pela primeira vez a educação especial (por meio da Supee) ocupou um lugar
diretamente vinculado à SEE, sem nenhum intermediário”.
Milano (2004 p. 31) ressalta que
a direção política dada por Goiás com o objetivo de implementar a educação especial entre 1973 a 1998 esteve submetida clara e explicitamente às diretrizes formuladas pelo Ministério da Educação e dele emanadas. Dessa forma, o ensino especial de Goiás, assentou-se em uma filosofia de trabalho baseada na ideia de integração em relação à clientela
30 O modelo clínico compreendia a deficiência como uma doença, e o atendimento destinado aos portadores de deficiência, mesmo na educação, era realizado por meios terapêuticos (MAKHOUL et al., 2010).
53
a ser atendida e aos serviços oferecidos. Nesse sentido, até 1998, os serviços de educação especial, oferecidos pela rede estadual de educação de Goiás, estimulava a implantação e a implementação de atendimentos segregados aos alunos com deficiência, com os de escolas especiais públicas ou privadas, classes especiais, salas de recursos e salas de apoio pedagógico, dentre outros.
Respaldada nos dispositivos como Constituição, leis, conferências,
declarações e eventos técnico-científicos, a Superintendência de Ensino Especial
propôs a reformulação da Política de Educação Especial em Goiás, no momento em
que adotou concepções teóricas filosóficas e os princípios que orientam a educação
inclusiva.
Para tanto, a Fundação da Criança, do Adolescente e da Integração do
Deficiente (Funcad), por intermédio de sua Diretoria, elaborou um documento
preliminar em parceria técnica com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás
(PUC, Goiás) e com a Secretaria Municipal de Educação de Goiânia.
O documento preliminar foi apresentado em diversas ocasiões a órgãos e
entidades. Esses encontros serviram como momentos de preparação para a
realização do Fórum Educação para a Diversidade/Escola Inclusiva, realizado na
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, em 1999, com a finalidade de subsidiar os
participantes com referenciais teóricos e práticos e oportunizar a produção de
sugestões adicionais sobre o processo da inclusão escolar. Os princípios delineados
nesse encontro sintetizam os esforços das entidades e órgãos envolvidos na
elaboração do documento preliminar. Compreendem, sucintamente (GOIÁS, SEE/
SUEE, 2010):
a) a transformação da política educacional, com base nos princípios de
ética e da valorização do ser humano;
b) participação das comunidades educacionais, com autonomia, na
elaboração e formulação do projeto político-pedagógico;
c) valorização da diversidade humana;
d) formulação de políticas educacionais que ofereçam uma educação
inclusiva em todos os níveis de escolaridade, envolvendo educadores, alunos e pais.
Apesar de todos esses desdobramentos, a educação inclusiva em Goiás foi
iniciada, de fato, apenas em 1999, mediante a implantação do Programa Estadual
de Educação para Diversidade numa Perspectiva Inclusiva (Peedi), por intermédio
da Superintendência de Ensino Especial, atualmente denominada Coordenação do
Ensino Especial (Coee).
54
O Programa Estadual de Educação para Diversidade numa Perspectiva
Inclusiva teve como objetivo implantar uma Política Educacional Inclusiva que
levasse em conta as potencialidades dos indivíduos inerentes à sua condição
humana, envolvendo uma reformulação nos projetos político-pedagógicos das
escolas, nas estruturas físicas, na capacitação de recursos humanos, atendendo às
necessidades resultantes da diversidade das pessoas, de forma que proporcionasse
uma educação solidária, ética, democrática, inovadora, com equidade e qualidade
para todos (GOIÁS/SEDUC/SUEE, 1999).
De acordo com os órgãos referendados, o Peedi tinha como objetivos
específicos a implantação de unidades inclusivas, a instituição de unidades de
referência, a implantação de projetos de atendimento educacional hospitalar, a
implantação e/ou racionalização de projetos metodológicos e recursos especiais e o
desenvolvimento de parcerias e interfaces. As escolas inclusivas fazem parte dessas
unidades, e o programa reconhece-as como “espaços didáticos recreativos e
informacionais e se destinam a promover o desenvolvimento humano em seus
diversos níveis e modalidades, tendo o ser humano como fim e a diversidade
humana como meio” (GOIÁS/SEDUC/SUEE, 2010, p. 18).
Como base teórica para o alcance desses objetivos, o programa se utilizou de
uma perspectiva social cultural e interacionista, preconizada por Vigotsky (2000),
que defende ser a aprendizagem consequência das relações interpessoais, um
acontecimento social e histórico. Para o psicólogo, as diferenças físicas e genéticas
apresentadas por pessoas com ou sem deficiência não são determinantes para a
capacidade de aprender, nem tampouco para o ato de ensinar.
Para Vigotsky (2000), a aprendizagem ocorre nas relações dialógicas e nas
interações com os sujeitos. Os pressupostos de sua teoria sócio-cultural
interacionista, somada à teoria das inteligências múltiplas, delineiam e sustentam as
propostas e ações do Programa de Inclusão em Goiás (Peedi), uma vez que traz
uma abordagem das funções psíquicas dos sujeitos, as quais se apresentam em
níveis, caracterizados como potencial31 e real32 (VIGOSTKY, 2000).
31 Para Vigotsky (2000), o nível potencial relaciona-se à capacidade do sujeito desempenhar tarefas com ajuda de companheiros mais capazes. Portanto, o conhecimento encontra-se no plano externo, é interiorizado pela mediação do outro (que pode ser o professor, a família, um colega mais capaz naquela tarefa específica). 32 Já o nível real refere-se às etapas de desenvolvimento já alcançadas pelo indivíduo, ao resultado de aprendizados efetivados, de informações, habilidades, valores, atitudes e crenças internalizados mediante as interações entre o sujeito e o meio social.
55
Conforme a visão vigotskyana, o Peedi entende que a construção das
funções psíquicas se apresenta vinculada à apropriação da cultura humana, por
meio das relações interpessoais e sociais, que pode ser transposta para a realidade
especifica da sala de aula, uma vez que a educação formal configura-se como a
modalidade de educação responsável pelo desenvolvimento dos processos
evolutivos da cognição, mediante as relações que ocorrem ao longo do processo
educativo.
Ao apropriar-se das ideias de nível real e nível potencial de desenvolvimento
e da teoria das inteligências múltiplas, o Peedi abriu caminhos ao sustentar,
cientificamente, a criação e a consolidação de uma escola aberta à multiplicidade de
cultura, saberes, níveis sociais, de desenvolvimento e tipos de inteligência,
atendendo à filosofia apregoada pela educação inclusiva segundo a qual a escola de
qualidade forma pessoas conforme os padrões requeridos por uma sociedade mais
humanitária (GOIÁS/SEE, 2010).
Para a implementação do processo de inclusão na escola em Goiás e com
vistas a atingir os objetivos propostos pela Seduc/Suee formulou dez projetos para
compor o Peedi (GOIÁS/SEDUC/SEE, 2010): com objetivos e características
peculiares: a) Projeto Hoje, sua proposta é o atendimento educacional hospitalar a
crianças, jovens ou adultos em situação de internado ou albergado, a fim de que
continuem seus estudos ou simplesmente desenvolvam atividades educativas, de
acordo com seus próprios limites;
b) Projeto Caminhar Juntos, que implementa ações do Peedi e
assegura que a comunidade receba tais ações;
c) Projeto Prevenir, objetiva viabilizar parcerias entre unidades
escolares e organizações governamentais e não-governamentais;
d) Projeto Comunicação, que possibilita a inserção de alunos com
necessidades comunicativas diferenciadas na rede regular de ensino do estado de
Goiás; o projeto valoriza e divulga a Língua Brasileira de Sinais (Libras);
e) Projeto Depende de Nós, que estabelece a parceria escola-família,
tendo em vista uma aproximação que possibilita a co-responsabilidade no processo
ensino-aprendizagem;
f) Projeto Despertar, que promove a mudança da prática pedagógica
em relação ao aluno superdotado mediante subsídios teóricos e atendimentos
educacionais.
56
g) Projeto Espaço Criativo, que procura utilizar as várias linguagens
artísticas como ferramenta de aprendizagem, articulando-as ao processo ensino-
aprendizagem formal;
h) Projeto Re-fazer, que objetiva estruturar, implantar, acompanhar e
avaliar o atendimento de pessoas com autismo e demais atrasos de
desenvolvimento, com vistas à sua inclusão destas pessoas na rede regular de
ensino.
i) Unidade de Referência, que atende a educandos que apresentam
comprometimentos acentuados, não contemplados pelas escolas regulares, em
razão da ausência de métodos e técnicas específicos e adequados;
j) Projeto Escola Inclusiva, que apresenta como objetivo geral atender à
diversidade humana, ressignificando os processos educacionais mediante a
ampliação das possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento de alunos com
ou sem deficiência. Como um de seus objetivos específicos busca compatibilizar os
regimentos escolares em consonância com as diretrizes nacionais e estaduais para
a educação especial no contexto dos ensinos fundamental e médio.
Esse último projeto sustenta que as escolas inclusivas devem ser norteadas
por uma filosofia de aceitação das diferenças, o que exige a reformulação do Projeto
Político Pedagógico (PPP) da Escola, segundo os princípios de uma educação
inclusiva.
A implantação da escola inclusiva, em Goiás, ocorreu de modo gradativo,
obedecendo a critérios propostos pela Suee, baseada em:
a) ações de sensibilização e conscientização, capacitação continuada; b) orientação às Unidades Escolares a respeito de legislação referente à inclusão social; c) elaboração de um instrumento diferenciado de avaliação para os casos de alunos com deficiência mental (Plano Individualizado de Educação – PIE); d) orientação às subsecretarias acerca das adequações curriculares; e) viabilização de recursos didáticos, pedagógicos e equipamentos específicos (Libras, soroban, ajudas técnicas, orientação e mobilidade, Educação Física Adaptadas e outros); f) remoção de barreiras arquitetônicas e atitudinais; g) assessorias às Unidades Escolares e às SREs (que contavam com um Coordenador Regional de Apoio à Inclusão) por parte dos técnicos da SUEE e do Setor de Apoio à Inclusão (psicólogo, fonoaudiólogo, assistente social, interprete de Libras, instrutor de Libras, pedagogo e professor de português para surdos) (GOIÁS, SEDUC/SUEE, 2010, p. 18).
Essas ações apresentaram à escola, uma nova perspectiva pedagógica,
exigindo mudanças na organização escolar, nos programas de ensino, nos
57
processos ensino-aprendizagem, na capacitação de recursos humanos internos e
adaptações físicas, considerando-se ainda os níveis diferenciados, das escolas, ante
as necessidades explicitadas (GOIÁS/SEDUC, 2010).
Nessa perspectiva, os itens a seguir tratam da prática da educação inclusiva
em Goiás, uma abordagem sob a percepção da equipe multiprofissional, gestores,
professores, alunos e mães.
2.2 A prática da educação inclusiva em Goiás
Esta pesquisa buscou demonstrar como os sujeitos que trabalham a
educação inclusiva se percebem e como eles vêem o cotidiano da escola inclusiva.
O estudo avalia se esses sujeitos são protagonistas da construção de uma escola
plural e analisa se a intervenção da equipe multiprofissional33 facilita ou dificulta a
concretude dessa política.
A educação inclusiva é uma das modalidades da educação nacional que
perpassa o sistema educacional brasileiro em todos os níveis, etapas e modalidades
de ensino. É oferecida na educação básica e superior do Sistema Educativo de
Goiás como um conjunto de serviços e recursos especializados para
complementar/suplementar o processo de ensino aprendizagem aos alunos com
necessidades educacionais especiais, permanentes, ou transitórias, de modo a
garantir o desenvolvimento de suas potencialidades sociais, políticas, psicológicas,
criativas e produtivas para a formação cidadã. O objetivo da educação inclusiva é
permitir ao educando prosseguir nos estudos e progredir no trabalho, respeitadas as
características individuais e igualdade de direitos entre todos os seres humanos,
como estabelece a Resolução do Conselho Estadual da Educação, nº. 07/2006
(GOIÁS/CEE, 2006).
Mediante a elaboração e aplicação de um roteiro para entrevistas, contactou-
se os sujeitos envolvidos no processo de inclusão, com o objetivo de conhecer as
percepções que os profissionais da equipe multiprofissional (assistentes sociais,
fonoaudiólogas, psicólogas, pedagoga) gestores, professores, alunos e mães têm 33 A equipe multiprofissional é constituída na educação Inclusiva por assistente social, fonoaudiólogo, psicólogo, pedagogo, intérprete e instrutor. Na modalidade multidisciplinaridade, os objetivos de cada disciplina são preservados, conservando sua autonomia, seus objetos particulares. As unidades são mantidas no que se refere aos métodos e aos objetos, e a horizontalidade é a característica básica das relações estabelecidas (MACHADO, 2009 ).
58
sobre a “inclusão social” na rede estadual de ensino. O roteiro das entrevistas,
(anexos nos I, II, III, IV e V) contemplou questões que envolvem concepções sobre a
educação inclusiva, a atuação dos profissionais na equipe multiprofissional, práticas
educacionais de professores e alunos, acessibilidade, currículo, sistema de
avaliação e atividades realizadas.
2.2.1 Perfil da equipe multiprofissional, professores, gestores e mães
É importante demonstrar, quanto ao número de pessoal da equipe
multiprofissional, a pesquisa constatou que 13% do universo de psicólogos, 13% de
fonoaudiólogos, 17% de assistentes sociais, 4% de pedagogos, professoras 27%,
gestoras 13% e mães 13% conforme demonstra a figura 1. Os dados demonstram
que o maior quantitativo dos profissionais refere-se aos professores de apoio,
enquanto a pedagogia aparece em menor número. A ausência do pedagogo na
equipe multiprofissional, sob o meu olhar, caracteriza-se um dos entraves a ser
considerados na concretização da política.
17%
13%
13%4%13%
13%
27% Assistente Social
Fonoaudióloga
Psicóloga
Pedagoga
Gestora
Mães
Professora
Fonte: Goiás Secretaria de Estado de Educação/Subsecretaria Metropolitana de Goiânia Figura 1 Número de profissionais da equipe multiprofissional
Quanto à idade, o maior quantitativo dos profissionais das escolas
pesquisadas, tem entre 40 a 50 anos, que representa 48% do universo. Em seguida,
pessoas acima de 50 anos, com 26%. Já os terceiro e quarto lugares, indicam as
faixas etárias entre 20 a 30 anos e 30 e 40 anos, representando cada uma, 13% do
total. Este resultado, confirma que muitas mulheres hoje, buscam a formação
profissional após, a concretização de outras prioridades. Vide figura 2.
59
13%
13%
48%
26%
20 a 30 anos
31 a 40 anos
41 a 50 anos
Acima de 50 anos
Fonte: Pesquisa autora. Goiânia, 2011 Figura 2 Idade
Enquanto a graduação (44%) aparece em primeiro lugar, em seguida a
especialização com 35%, 17% mestrado e 4% 2º Grau, de acordo com figura 2. Isso
reafirma a ideia de que as mulheres têm procurado o acesso ao ensino superior.
Além disso, a mão de obra feminina, representa maior quantitativo na Política
Educacional do Governo.
44%
35%
17%4%
Graduação
Especialização
Mestrado2º Grau
Fonte: Pesquisa autora. Goiânia, 2011 Figura 3 Grau de instrução
Quanto ao estado civil, do universo pesquisado a grande maioria (65%) das
entrevistadas são casadas, 26% solteiras e 9% divorciadas, conforme figura 4.
60
65%
26%
9%
Casado
Solteiro
Divorciado
Fonte: Pesquisa da autora. Goiânia, 2011. Figura 4 Estado civil
2.2.2 A educação inclusiva na perspectiva da equipe multiprofissional
A entrevista com a equipe multiprofissional buscou identificar a concepção de
educação que orienta o trabalho de cada área e como o trabalho da equipe reflete
no acesso e na permanência dos alunos com necessidades educacionais especiais
na escola.
Quanto à primeira questão, é possível constatar diferentes concepções de
educação, mesmo as profissionais exercendo as mesmas funções no interior da
equipe. AS134 (25 fev. 2011) afirma trabalhar na perspectiva de uma educação para
todos, não uma educação apenas para alunos com deficiência, mas para “outros
segmentos também”. “A gente trabalha com a mulher, preconceito racial, orientação
sexual, aliás, vários outros aspectos, então eu defino a concepção de educação para
todos, educação voltada para o sócio-interacionismo”.
Observa-se uma dubiedade na concepção de educação preconizada pela
profissional. De um lado, ela fundamenta sua intervenção no marco legal, ao
enfatizar o preceito estabelecido na Declaração dos Direitos Humanos, na
Convenção de Salamanca e os princípios que norteiam o Programa Estadual para a
Diversidade na Perspectiva Inclusiva. De outro, endossa a concepção elencada pelo
programa de educação inclusiva, em Goiás, que tem como sustentação teórica o
sócio-interacionismo de Vigotsky.
34 Trabalha na Coordenação do Ensino Especial na Seduc/GO, é graduada em Serviço Social e Letras, casada, 42 anos.
61
AS235 (5 mar. 2011) adota a concepção de educação transformadora à luz da
abordagem marxiana ao afirmar que,
atua dentro de uma linha transformadora, voltada para um perfil marxista, que busque a transformação. A mudança e a atuação dentro da educação se dão no sentido de educar mesmo, de estar atuando na perspectiva de garantia de direitos, tanto dos alunos, quanto dos familiares, dos professores e dos gestores escolares.
Para fundamentar essa concepção de educação, recorremos ao pensamento
de Gramsci que afirma a importância da educação para ampliação cultural das
massas, possibilitando-lhes conhecer e dominar os mecanismos de reprodução
global da formação econômico-social passíveis de transformação. A cultura
relaciona-se com a transformação da realidade, por meio da “conquista de uma
consciência superior [...] cada qual consegue compreender o seu valor histórico, sua
própria função na vida, seus próprios direitos e deveres” (GRAMSCI, 1999, p. 24).
O processo educativo, segundo o pensamento gramsciano, envolve vários
sujeitos e espaços: o próprio sujeito, a família, as organizações da cultura, a política,
a escola. Ele ocupa um lugar privilegiado, pois tem por tarefa “inserir os jovens na
atividade social, depois de tê-los levado a certo grau de maturidade e capacidade, à
criação intelectual e prática e a certa autonomia na orientação e na iniciativa
(GRAMSCI, 1991, p. 121).
A AS336 (24 mar. 2011) apresenta uma concepção de educação embasada na
cidadania, em que “todos têm direitos e deveres e o Estado tem que dar ao cidadão
tudo que a Constituição garante, como: lazer, alimentação, educação de qualidade,
garantia desses direitos às famílias e a comunidade”.
A cidadania defendida pela profissional é explicitada por Martins (2008, p. 52),
como um fator que focaliza “as difíceis relações entre Estado e sociedade e suas
implicações no que se refere à acumulação e direitos; economia e equidade;
desenvolvimento e qualidade de vida”, acúmulo de direitos que oferece ao cidadão
condições mais favoráveis quanto à equidade e às condições de ascensão social.
Boneti (2003) apregoa que a cidadania compreende a participação do cidadão
na sociedade e na produção, bem como acesso igualitário aos serviços sociais
básicos. Significa que, embora se apresente diferente, do ponto de vista cultural,
35 Graduada em Serviço Social e Pós-graduada em Docência Superior, casada, 46 anos. 36 Graduada em Serviço Social e Pós-graduada em Formação Sócioeconômica, casada, 56 anos.
62
físico, religioso, ou que tenha habilidades profissionais, o cidadão também, tem
participação na produção e em todos os serviços de educação, saúde, assistência
social e outros. As diferentes concepções de cidadania, embora distintas, são
complementares e aparecem sistematizadas pela autora.
Iamamoto (1995), assinala que as políticas sociais têm a função social de
conceder atendimento redistributivo dos recursos sociais, por meio de serviços
sociais e assistenciais de direito a: saúde, educação, trabalho, habitação, lazer,
previdência, assistência, lazer, e outros, ainda que muitas vezes se apresentem
como medidas fragmentadas e setoriais em que o Estado oferece, com o intuito de
manter a ordem e o controle social. No âmbito das políticas públicas encontra-se a
educação, que, como direito social, tem sido palco de debates a respeito de sua
definição e papel na sociedade. Brandão (2007, p. 9), enfatiza que
não há uma única forma, nem um único modelo de educação; da família à comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis práticas do aprender; primeiro sem classes de alunos, sem livros e sem professores; mais adiante, com escolas, salas, professores e métodos pedagógicos.
Na concepção desse autor, a educação é uma prática existente em cada
povo, uma vez que ela é participante na produção de ideias, de crenças, de
especialidades e qualificações. Envolve a troca de símbolos, bens e poderes, que,
em conjunto, constroem tipos de sociedades, configurando uma espécie de ”recurso
de dominação entre os povos” (BRANDÃO, 2007, p. 10).
AS437
(2 abr. 2011) defende uma concepção de educação “engajada no
sentido de estar colocando os nossos educandos em uma condição de
pertencimento de que é a escola”. Essa visão de educação atende aos pressupostos
defendidos por Luckesi (1994, p. 44):
vai-se mais ou menos longe nos estudos, mas, de qualquer maneira, aprende-se a ler, a escrever, a contar – algumas técnicas – aprendem-se, portanto, saberes práticos [...] ao mesmo tempo em que ensina estas técnicas e estes conhecimentos, a escola ensina também as regras dos bons costumes, a falar, a redigir bem; ela introjeta valores.
Em relação à concepção de educação que postulam e com que atuam, as
três fonoaudiólogas entrevistadas (Fono1, Fono2, Fono3), como participantes da
37 Graduada em Serviço Social, solteira, 55 anos.
63
equipe multiprofissional, defendem uma concepção transformadora e progressista.
Segundo elas, a educação é um processo essencial na formação não só cultural,
mas também política e de caráter, à medida que envolve as etapas que a pessoa
precisa ir formando ao longo da vida, principiando no ler e no escrever como
também, na compreensão da vida. A Fono2 (15 abr. 2011) declara:
a educação vai muito além do ato de ensinar (parte pedagógica), está ligada às questões realmente de valores, de cidadania, à formação de um cidadão consciente de seu papel na sociedade, que pode promover transformações da realidade, para uma realidade melhor .
Defensor de uma pedagogia libertadora38, Freire [1921-1986] (1995) auxilia o
entendimento da concepção relatada por essa fonoaudióloga o autor considera a
educação uma prática da liberdade e, apesar de ela se encontrar sustentada em
grandes delineamentos, ela se faz e se refaz continuamente, na experiência dos
indivíduos e na coletividade. Não se trata de qualquer indivíduo e nem de qualquer
coletivo, mas dos oprimidos e os que com eles se comprometem na perspectiva da
transformação social. Não qualquer transformação, mas a transformação radical da
sociedade.
A medida que se descobre, o oprimido, superando o medo da liberdade,
torna-se homem em processo de libertação, o que implica opção, autonomia,
responsabilidade e uma entrega à práxis libertadora teórica e prática. A práxis
caracteriza reflexão e ação dos homens sobre o mundo para uma transformação, é
ela quem promove o engajamento e a superação da relação opressor/oprimido
(FREIRE, 2003).
Nessa dialética entranhada no processo de sentir-se e de fazer-se sujeito, “o
papel da Educação Popular se faz importante, como elemento de mediação, por
meio da ação cultural, da relação entre a consciência e o mundo” (FREIRE, 2000, p.
60). Em outros termos, trata-se de uma educação popular como prática da liberdade,
realizada no processo de organização comunitário-coletiva e política do povo, e na
escola, apesar de esse espaço oferecer mais resistências em razão das dimensões
hegemônicas do papel da escola formal e de formar visões sociais de mundo e
cidadãos autônomos e conscientes. 38 Freire (1995) apresenta como objetivo político a emancipação organizada das camadas populares e, como conteúdo desta prática educativa a reflexão coletiva, dialogada e conscientizadora sobre a cultura cotidiana do povo.
64
Freire (1995) propõe caminhar partindo do contexto concreto/vivido para o
contexto teórico. A seu ver, para ler o mundo criticamente exigem-se rigorosidade
metódica, criatividade, problematização, curiosidade epistemológica e o diálogo na
produção e na reconstrução do saber, vivenciando a prática da liberdade, promovida
pelo protagonismo dos sujeitos e pela ação política. Mediante e após o
conhecimento da realidade, o autor aponta ser possível estabelecer relações entre
educador, classes populares, conhecimento e prática transformadora.
Arroyo (2001, p. 13), ao refletir sobre a prática educativa construída por
Freire, considera que, mais do que propor metodologias, ele busca reeducar a
sensibilidade pedagógica, a fim de “captar os oprimidos e excluídos como sujeitos
da educação, de construção de saberes, conhecimentos, valores e cultura; sujeitos
sociais, culturais, pedagógicos em aprendizados, formação”.
Colabora com o discurso de uma educação voltada para a realidade proposta
por Freire, uma das três psicólogas da equipe multiprofissional quando assinala:
educação é um termo muito amplo e envolve inúmeros aspectos. A formação do indivíduo envolvendo fatores éticos, morais, significa formar o aluno para que possa desenvolver a criticidade, que traz a possibilidade de promover mudanças na sociedade, que forma o ser social, não aquela formação que tem o fim no mercado. É transformação do sujeito para a autonomia, para a liberdade, para a cultura Psic3 (28 mar. 2011).
Como já delineado, Freire (2000) fundamenta sua teoria ao falar da
consciência crítica e da cultura. De igual modo, Gramsci (1999), preconiza uma
educação que oportunize ao estudante, a absorção e assimilação de seu passado
cultural acumulado historicamente, para que ele venha a “ser e conhecer
conscientemente a si mesmo” (p. 46). O autor defende uma escola única, de sentido
humanista, destinada a desenvolver em cada sujeito uma cultura geral. Todavia,
para a construção da escola emancipatória, Gramsci (1999) aponta ser necessário
que se rompa com o bloco histórico dominante e que se construa uma nova
estrutura social.
Gramsci (1975) enuncia que a educação se mescla nesse processo, por ser
um espaço em que estratégias políticas podem ser traçadas, mediante o
conhecimento historicamente acumulado e socialmente construído. A construção de
um sujeito crítico emancipado sinaliza para um padrão de escola que concede e
65
proporciona aos homens acesso ao conhecimento, conforme as suas demandas por
necessidades básicas e a realidade histórica. A luta ideológica defendida pelo
estudioso italiano é crítica e, portanto, ele sugere aos educadores que não
transmitam simplesmente a cultura prevalecente.
Argumenta-se que a cultura humanística tradicional precisa ser dominada e
compreendida em seu sentido dialético, a fim de ser criticada e rearticulada de
acordo com as necessidades da classe trabalhadora de forma radical. A oposição, e
não a transmissão é o tema crítico que Gramsci (1999) postula como a principal
tarefa pedagógica da escolarização radical. Não se trata de fazer uma limpeza
completa da cultura existente, ou substituí-la por outra completamente nova e já
formulada. Deve-se transformar o modelo opressor em um modelo de liberdade
criativa.
Em análise sobre a tarefa pedagógica atrelada à cultura, Coêlho (2009, p. 16)
corrobora com a visão de Gramsci (1975) quando registra:
a escola é parte de realidades mais amplas e significativas, imaginá-la como espaço e organização, encarregada de transmitir e socializar o saber sistematizado, a ser apropriado pelos alunos, preparando-os para a continuidade dos estudos, para o mundo do trabalho e para a vida é empobrecê-la e fragilizá-la pela perda de sua autonomia. O que dá vida e sentido à escola é a relação pedagógica, o trabalho dos docentes e discentes, é o processo de formação humana que aí se realiza e a relação de professores e estudantes com a cultura, com o pensamento, com o saber vivo, instigante e que a cada momento se produz, se interroga e se recria.
A pedagoga entrevistada, em 5 abr.2011 defende a concepção de uma
educação “que forma o cidadão para a vida, para que seja sujeito do seu processo
histórico”, logo, um olhar orientado por Freire e Gramsci.
Em relação à pergunta sobre como o trabalho da equipe multiprofissional se
reflete no acesso e na permanência dos alunos com necessidades educacionais
especiais, as assistentes sociais entrevistadas foram unânimes em afirmar que o
trabalho por elas desenvolvido prioriza e garante a permanência de alunos com
necessidades educacionais especiais nas escolas, um trabalho que, segundo elas, é
feito em parceria com gestores, comunidades, projetos. “A gente tem que pegar os
professores de recurso e apoio, coordenador e trabalhar a atuação deles, trabalhar
com os pais e os alunos” afirma a AS3 (24 mar., 2011).
Uma das profissionais destaca que “inicialmente, acontece a sensibilização
familiar” AS4 (2 abr.,2011). Trata-se de ação necessária para a inserção das famílias
66
dos alunos no contexto escolar e para o acompanhamento de programas
governamentais, a exemplo do programa “Bolsa Família39, Mais Educação40,
Educação de Jovens e Adultos”41 AS1 (25 fev.2011). Em razão dessa concepção, a
AS2 (5 mar., 2011) defende estratégias de permanência dos alunos na escola por
meio de um trabalho interdisciplinar, ao afirmar que
a equipe é necessária, fundamental, ela faz a diferença, só não faz se não for composta por pessoas comprometidas. A nossa contribuição é orientar e tornar esse cidadão consciente dos seus direitos, a partir do momento que torna o aluno responsável, consciente dos direitos deles ele tem que buscar e nós de certa forma intermediamos isso. O menino dá trabalho, tem problema de indisciplina, o menino não faz nada, então já se criava uma situação para a expulsão do aluno. Hoje, existem critérios, normas para isso, que contribuem para sua permanência. Acho muito importante salientar a questão da adaptação curricular. As pessoas têm limites, os alunos estão na educação inclusiva porque apresentam alguns limites, se o aluno não tem capacidade de aprender tanto quanto os outros, ele tem que ser avaliado naquilo que ele tem capacidade para aprender. Essa avaliação curricular é favorável porque contribui para manter o aluno na escola se ele só leva reprovação fica desestimulado. Reconhecer os limites e trabalhar aquele aluno dentro dos limites dele.
Uma das assistentes sociais AS4 (2 abr. 2011) enfatiza que “todos querem a
equipe junto, a equipe é procurada, tem várias ações conjuntas como:
encaminhamentos, orientações, aconselhamento e, enfim, um trabalho bem
gratificante”. De acordo com a AS3 (24 mar. 2011), temos casos comprovados do aluno que estava com comportamento agressivo, aprendizagem muito aquém, depois que a gente encaminhou, e a família foi atrás e se comprometeu, e as necessidades do aluno foram atendidas aí no educacional esse aluno foi pra frente, aí nós vemos o nosso valor a nossa atuação e quanto a gente foi necessária, a gente se sente realizada na nossa profissão.
Todavia, AS2 (5 mar. 2011) ressalta que a ocorrência do trabalho da equipe
multiprofissional na escola, apenas uma vez por semana, “torna dificultoso dar
39 Programa de transferência direta de renda com condicionalidades e que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, atende a mais de 12 milhões de famílias em todo o território nacional. O valor do benefício pode variar, dependerá da renda familiar por pessoa Disponível em: <http://www.mds.gov.br/bolsafamilia>Segundo os dados do Relatório Consolidado do PBF, na primeira vigência de 2008 houve um total de 128.799 famílias beneficiárias que cumpriram totalmente as condicionalidades. Disponível em: <http://nutricao.saude.gov.br/docs/boletimSisvan/ artigo_pbf2008_evolucao_goias. pdf> 40 Programa que aumenta a oferta educativa nas escolas públicas por meio de atividades optativas agrupadas em macrocampos, como acompanhamento pedagógico, meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura digital, prevenção e promoção da saúde, e comunicação, educação científica e educação econômica, Disponível em : <http://portal.mec.gov.br>. 41 Modalidade de ensino nas etapas dos ensinos fundamental e médio da rede escolar pública brasileira, adotada por algumas redes particulares, que recebem os jovens e adultos que não completaram os anos da educação básica em idade apropriada, Disponível em: <http://portal.mec.gov.br>.
67
continuidade, dar acompanhamento sistemático às situações inusitadas que
normalmente acontecem”. Esse panorama, comum à prática dos assistentes sociais,
parece retratar a ausência de proteção social pública, não apenas na escola, mas
em seus diferentes aspectos, evidenciando o encolhimento do Estado quando se
trata da questão social e suas expressões, cujos reflexos podem ser vistos no
ambiente escolar (YASBEK, 1995).
É importante destacar que a mesma questão proposta às assistentes sociais
foi dirigida às fonoaudiólogas da equipe multiprofissional. De maneira mais enfática,
uma dessas profissionais aposta que a equipe multiprofissional “mantém esses
alunos na escola” e assegura que “se não fosse essa equipe esse programa nem
existia mais, porque haveria uma evasão desses alunos” (Fono142, 7 abr. 2011).
Essa opinião é compartilhada por outra fonoaudióloga:
tem determinadas situações que os alunos e a diversidade são tão intensos que o professor fica perdido na sua prática e a equipe gestora também. Então, eles vêem à equipe multiprofissional como esse suporte, de estar orientando, mostrando caminhos a percorrer para chegar a um resultado positivo [...] família e professor se sentem apoiados” (Fono2
43,15 abr. 2011).
Em relação ao trabalho desenvolvido pela fonoaudiologia, na equipe
multiprofissional, uma das profissionais assinala que ele é importante porque lida,
especificamente, com “as dificuldades dos alunos na escola em termos de
aprendizagem, de fala, às vezes, um distúrbio de fala que é transcrito para a
escrita. O fonoaudiólogo reflete positivamente nessa permanência”, afirma a
Fono344 (15 abr. 2011).
Na visão de uma das profissionais da psicologia, também integrante da
equipe multiprofissional, o trabalho desenvolvido de toda a equipe possibilita a
garantia e a permanência dos alunos com necessidades educacionais especiais na
escola pois “contribui substancialmente para reduzir a evasão escolar porque
trabalhamos dando resposta às necessidades dos alunos, da escola, dos
professores e das famílias” (Psi3 45,15 abr. 2011).
A Psi246 (25 abr. 2011), de igual modo, considera o trabalho da equipe
multiprofissional positivo:
42 Graduada em Fonoaudiologia e Pedagogia, Pós-graduada em Psicopedagogia, solteira, 49 anos. 43 Graduada em Fonoaudiologia, Mestrado em Saúde Pública, casada, 36 anos. 44 Especialista em Fonoaudiologia Clínica e Pós-Graduação em Neuropedagogia, casada, 44 anos. 45 Mestre em Psicologia, casada, 46 anos. 46 Especialista em Planejamento educacional e atendimento integral à família, solteira, 29 anos.
68
A Psicologia, em conjunto com as demais profissões, tem um papel fundamental na medida em que atua a partir das demandas da escola, dos alunos e das famílias, com o fim de orientar/encaminhar para os atendimentos na rede. Na medida em que nos propomos trabalhar toda a comunidade escolar, respondendo as suas inquietações, suas angústias, considero que o aluno se sente mais engajado no contexto escolar.
No entanto, as três psicólogas reforçam que existem dificuldades para se
efetivar a inclusão, posto que fatores externos à escola, portanto, fora do alcance da
instituição atrapalham o processo de inserção. Dentre os percalços assinalados por
uma das profissionais, além da não participação da família na escola, existe “a
ineficiência no serviço de saúde, fator que normalmente impede que se faça um
trabalho eficaz” (Psi147, 3 maio 2011).
A ausência de políticas de proteção social, que deveriam ser implementadas
pela esfera pública, permeia o discurso dessa profissional. Dalva Gueiros (2002, p.
119) menciona esta questão no artigo “Família e proteção social: questões sociais e
limites da solidariedade familiar “ao falar da angústia sofrida por profissionais que
atuam em processos de inclusão:
deparamos no nosso cotidiano profissional, com a pressão para que encontremos junto à família respostas para graves situações vividas pelos indivíduos que dela fazem parte. O núcleo familiar por si só, não dispõe do básico para promover a inclusão social, é evidente a necessidade de sua inclusão em programas sociais que lhe permitam condições básicas de inserção social e de cidadania para que ela possa cumprir o papel que lhe é social e legalmente atribuído.
A escola, que se caracteriza como uma instância de ação, que surge da
própria necessidade da humanidade, adquire valor especial quando os ideais
educacionais podem ser traduzidos em práticas sociais e políticas (LUCKESI, 1994).
A mesma questão apresentada à equipe multiprofissional foi direcionada aos
gestores das escolas, a fim de identificar qual a percepção que estes profissionais
têm sobre a estruturação da educação inclusiva no Estado, delineados no item a
seguir.
2.2.3 A educação inclusiva para os gestores
Como os gestores estão à frente da administração escolar, a pesquisadora
buscou saber delas como a instituição em que trabalham tem se estruturado para 47 Especialista em Planejamento educacional, casada, 51 anos.
69
receber e/ou atender a alunos com necessidades educacionais especiais (NEE). De
maneira unânime, as três gestoras entrevistadas (G1, G2 e G3) afirmaram que a
escola tem engatinhado nesse processo, especialmente na parte pedagógica, por ter
o suporte do professor de apoio e da equipe multiprofissional. A G153 (27 mar.2011),
afirma que:
com a proposta da inclusão tivemos a vinda do professor de apoio e uma maior participação da equipe multiprofissional nas áreas do Serviço Social, Fonoaudiologia, Psicologia. Acredito que estamos engatinhando nesse processo.Temos tido alguns avanços no trabalho com a equipe multiprofissional no sentido das famílias perceberem as suas necessidades. Algumas têm resistência, acham que os filhos não precisam do tratamento; é a partir da consciência de que o aluno necessita do medicamento que esse aluno vai centrar.
Apesar de as profissionais enfatizarem o esforço conjunto na sensibilização e
orientação à comunidade educacional sobre a política de inclusão enquanto direito,
mediante reuniões com professores e famílias, uma das maiores queixas das
entrevistadas refere-se à acessibilidade das instalações físicas para melhor atender
aos educandos que apresentam necessidades específicas e à ausência de
tecnologias para aliviar o processo, como explicita a G253 (27 maio, 2011):
fizemos algumas adaptações nas instalações, de forma tímida, para minimizar/solucionar as dificuldades dos alunos que apresentam alguma necessidade especifica; [...] ainda carece realizar reformas nas instalações físicas, repensar novas estratégias de planejamento e implantar novas tecnologias como suporte do processo ensino-aprendizagem desses alunos.
Esta questão reflete o caminho percorrido pela educação desde a criação das
instituições responsáveis por intermediá-la no Brasil, ainda no período de
colonização do país. Como já delineado por Freitag (2005), desde o princípio, a
escola reproduz as relações de dominação e a ideologia dominante uma espécie de
“instituição ritualista”, imposta para preservar a cultura marcada pelo autoritarismo e
pela quase absoluta ausência de possibilidade de inovação.
Se, na atualidade, a função da escola, como mediadora de saberes, é
relegada em razão de ideologias e imposição da classe hegemônica (GRAMSCI,
1973), é compreensível a negligência no tocante aos seus aspectos físicos, mesmo
sendo sua obrigatoriedade, no plano mundial, em documentos recentes, que tratam
da questão da diversidade, em seus vários aspectos.
70
Esse fato é agravado quando se considera que a educação pública brasileira
foi, ao longo de sua história, refém de aspectos econômicos, políticos e de causas
técnicas, não correspondentes ao intuito dos legisladores, enfim, reflexo de um
histórico que a submete ao descaso e à inoperância (RIBEIRO, 2000).
Com a finalidade de analisar a prática docente, a pesquisadora perguntou às
gestoras como ocorre a formação continuada dos professores e obteve como
respostas:
ela acontece de diversas formas: a) por meio de eventos, palestras, reuniões na subsecretaria, encontros, seminários, simpósio, congressos (G1, 27 mar. 2011) b) pelo investimento na formação continuada presencial e mediante a realização de cursos à distância (G2, 27 mar. 2011). c) mediante encontro mensal, reuniões e cursos de Libras no Centro de Assistência ao Surdo (CAS) (G3
48,11 maio 2011).
De acordo com Libâneo (2008, p. 227), a educação continuada é o
“prolongamento da formação inicial visando ao aperfeiçoamento profissional teórico
e prático no próprio contexto de trabalho e ao desenvolvimento de uma cultura geral
mais ampla, para além do exercício profissional”.
Na visão desse autor, a educação continuada, portanto, é necessária para
uma profissão que lida com a transmissão e internalização de saberes e com a
formação humana, em uma época em que currículos são atualizados, novas
tecnologias são introduzidas, problemas sociais e econômicos são intensificados,
modo de viver e aprender são alterados e a diversidade sociocultural dos educandos
é reconhecida.
Em relação à percepção geral que as gestoras têm da inclusão, elas
responderam que acreditam na proposta inclusiva, mesmo que a política de
inclusão, em Goiás, para a G3 (11 maio 2011) ainda deixe “a desejar porque faltam
muitos investimentos nas escolas, do ponto de vista da estrutura física, preparo dos
professores e metodologias de ensino”
Segundo a G1 (27 mar. 2011),“os alunos com necessidades educacionais
especiais não têm problemas para estar adaptando na escola, o problema está entre
os profissionais; os professores regentes não fazem os cursos”.
48 Especialista em Planejamento, sem referência do Estado Civil, 51 anos.
71
Ela continua:
Considero que a inclusão educacional passa necessariamente por uma mudança de concepção, de conceitos, pois a escola tem que ser plural, é um espaço que deveria acolher todos indistintamente, mas ainda percebemos que esses princípios não estão internalizados nas mentes dos dirigentes e de muitos profissionais.
A dificuldade de apreensão dos princípios que norteiam a inclusão
evidenciada por essa gestora é sinalizada por Sposati (2001), quando sustenta que
a inclusão é multifacetada. Com base nesse pressuposto é compreensível a
dificuldade de sua internalização. A autora ressalta que a ideia de inclusão vai
além dos liames do mercado, mesmo que parte das necessidades dos humanos
seja nele satisfeita.
Conforme Aranha (2000, p.2), a inclusão fundamenta-se em uma filosofia que
reconhece e aceita a diversidade na vida em sociedade. Significa a “garantia de
acesso de todos, a todas as oportunidades, independente das peculiaridades de
cada indivíduo ou grupo social”.
Portanto, a educação inclusiva efetiva-se quando há diálogo entre os sujeitos
envolvidos no processo, quando há um trabalho coletivo, o que segundo as
gestoras entrevistadas, tem ocorrido nas instituições que gerenciam, e, por meio
da problematização de temáticas que abordam a questão, a inclusão tem obtido
sucesso e apresenta resultados concretos.
Com a finalidade de verificar a concretude da inclusão educacional, a
pesquisadora buscou conhecer como os alunos consideram a estrutura da
educação inclusiva no cotidiano do contexto escolar.
2.2.4 Perfil dos educandos Com referência ao universo de 1.834 educandos matriculadas nas três
unidades educacionais, no ano de 2011, identificou-se que o maior contingente 68%
cursa o ensino fundamental e 32%, o ensino médio. Do total (34) de educandos com
necessidades educacionais especiais, a pesquisadora entrevistou 6, e identificou
que todos eles estão cursando o ensino fundamental (figura 5).
72
53%
25%
22%
Ensino Fundamental
Ensino Médio
EJA
Fonte: Secretaria de Educação/ Subsecretaria Metropolitana, Goiânia, 2011 Figura 5 Perfil das escolas pesquisadas
Em relação à escolaridade, os maiores quantitativos (33%) estudam na quinta
e sétima séries, enquanto, 17% fazem a quarta e a nona séries. Conforme
depoimento das mães entrevistadas, a inserção dos alunos com necessidades
educacionais especiais, na rede regular de ensino, acontece diferentemente das
demais pessoas, pois a princípio, as famílias buscam os serviços de habitação-
reabilitação. Aliado a isso, essas famílias se sentem “inseguras” para matricular seus
filhos nas escolas “comuns” com receio destes sofrerem algum tipo de violência, vide
figura 6.
17%
33%33%
17%
4ª Série
5ª Série7ª Série
9ª Série
Fonte: Secretaria de Educação/Subsecretaria Metropolitana, Goiânia, 2011. Figura 6 Escolaridade dos educandos pesquisados
Quanto à idade, 33% dos alunos entrevistados tinham 19 anos; 17%, uma
aluna, 23 anos; 17% , um aluno, 17 anos e, 33%, 16 anos, respectivamente,
Percebeu-se um descompasso entre a idade dos educandos com a série.
73
Comparando os itens escolaridade/idade, percebeu-se um descompasso entre
estes, ocasionado pelo ingresso “tardio” às escolas “comuns”, assim como ao ritmo
diferenciado na aquisição da aprendizagem, ocasionando a repetência e a evasão
escolar (figura 7).
33%
17%33%
17%
16 anos
17 anos
19 anos
23 anos
Fonte: Pesquisa autora. Goiânia, 2011. Figura 7 Idade dos educandos pesquisado
Quanto à situação específica do tipo de deficiência, do universo de seis
educandos, o maior quantitativo (2) possuem o Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade-TDAH, 1 aluna é deficiente visual outra, tem Sindrome de Down, a
penúltima, é deficiente física, e a última, tem deficiência auditiva. Pode-se afirmar
que o maior número de alunos inseridos nas escolas faz parte do segmento das
pessoas com deficiência.
2.2.4.1 A educação inclusiva para os educandos
O estudo buscou saber desses seis alunos qual a visão que eles têm da
escola e como ela os recebe. Três dos entrevistados afirmaram que a escola está
preparada para recebê-los:
“Tenho as coisas que preciso” (Alun1, 22 maio 2011)
“Tudo está bom pra mim. A escola, as professoras, tudo” (Alun2,22 maio 2011)
“Do meu ponto de vista está” (Alun4, 23 maio 2011)
No entanto, outros três, consideram ainda ineficiente o preparo da escola e,
apontam às más condições físicas apresentadas pela instituição:
74
“Falta muita coisa para a escola. Falta sala pra nóis, material melhor, computador para estudar” (Alun3, 23 maio 2011),
“Não. Não está preparada. Falta cuidar do prédio, dos materiais” ( Alun5, 22 maio 2011),
“Ah! a escola está feia, falta pintar, falta material para aprender” (Alun6, 23 maio 2011)
Diante dessas respostas, a pesquisadora questionou há quanto tempo esses
educandos estudavam naquela escola, obtendo a informação de um tempo mínimo
de dois anos e máximo de sete anos. As justificativas apresentadas pelos alunos
para esse tempo de estudo na instituição foram:
“Fica mais perto da minha casa, é fácil pra vir” (Alun3, 23 maio, 2011),
“Minha mãe trabaia aqui fica fácil” (Alun1, 22 maio 2011),
“Minha mãe achou bom porque fico o dia todo” (Alun2, 22 maio 2011),
“Eu estudo aqui porque é mais fácil eu gosto daqui, das professoras” (Alun4, 23 maio, 2011),“
“É melhor pra mim conviver com outras pessoas” (Alun5 23 maio 2011),
“É melhor ficar na escola, a gente aprende as coisas” ( Alun6 23 maio 2011).
Perguntados como se sentiam na escola em que estudam, a pesquisadora
percebeu que a unidade escolar é vista por alguns como um espaço de socialização,
de aconchego:
me sinto bem. Gosto demais dessa escola porque os meus professores são bons para ensinar, tenho meus amigos, gosto muito deles (Alun1, 22 maio 2011). gosto daqui, fui bem aceita na escola, acolhida quero aprender a ler e a escrever” (Alun2, 22 maio 2011); é boa, gosto de tudo. Eu brinco, eu faço letras, eu pinto, eu faço coisas Alun3 , (23 maio, 2011).
Entretanto, três desses alunos não apresentam visão tão positiva da escola.
Demonstraram ser mais objetivos e, embora tenham algum tipo de deficiência, eles
têm sensibilidade e são capazes de perceber os problemas que os cercam:
“Sinto normal, mas tem dia que fico triste, aprendo pouco, tomo remédio e sinto muito sono” (Alun4, 23 maio, 2011);
“Ah! às vezes me sinto de lado na sala”. (Alun5, 22 maio, 2011);
“É uma situação difícil, porque às vezes falta os materiais pra mim” (Alun6, 23 maio, 2011).
75
É nesse sentido que Marchesi et al. (1995) argumentam que a inclusão exige
a mudança da escola para que os alunos com necessidades educacionais especiais,
com quaisquer déficits, estejam inseridos no ensino regular, venham participar
sentindo-se, de fato, acolhidos.
Pensar somente na instituição, reduz a proposta de mudança. Portanto, a
inclusão exige uma ruptura de concepção e de prática com o modelo tradicional de
ensino, o que não se resolve mediante apenas por resoluções de cunho legal ou
teórico, pois variáveis relacionadas a processos grupais e reações de preconceito
podem influenciá-la e facilitar ou dificultar a interação desses educandos com
aqueles considerados normais (ENUMO, 2005).
Quando a pesquisadora perguntou quais as maiores dificuldades enfrentadas
por esses alunos no cotidiano escolar, tendo em vista suas limitações, as respostas
assinalaram problemas não apenas ligados ao contexto escolar, mas à problemática
pessoal e à vida cotidiana fora da escola. Eles explicitaram:
a maior dificuldade que eu acho é copiar do quadro, copiar do livro, esses aí eu vou devagarzinho até terminar (Alun3, 23 maio 2011). ter o material para eu enxergar, para ler (Alun1, 22 maio 2011).
aprender mais coisas, fazer as tarefa, não sou independente (Alun2 22 maio 2011).
é fazer as tarefas de matemática e comprar os remédios que eu tomo, às vezes não tem no posto (Alun4, 23 maio 2011).
não ser livre, achar que não posso andar sozinho (Alun5, 22 maio 2011). precisar sempre dos outros, precisa ser independente (Alun6, 23 maio 2011).
Essas respostas refletem a necessidade de um apoio e/ou suporte especial
no contexto educacional desses alunos, além da presença do professor regente e do
professor de apoio. Embora os alunos reconheçam as debilidades da instituição
escolar, quando questionados sobre o que a escola significa para eles, esses alunos
a consideram importante, pois ela representa sucesso, aceitação, convivência,
conhecimento, uma nova vida, e esperança:
tudo. Tudo mesmo. Sem a escola a gente hoje em dia não é nada. A sociedade hoje está muito avançada, então nóis também tem que ser avançado, então depende tudo da escola (Alun3, 23 maio 2011). Eu já escrevo meu nome apesar da dificuldade para enxergar, identifico as cores, os números (Alun1, 22 maio 2011).
76
Ah! Aqui me sinto aceita (Alun2, 22 maio 2011). Significa nova oportunidade, significa que posso conviver com outras pessoas e aprender mais (Alun4, 23 maio 2011). Significa outra vida, ser visto como os outros (Alun5, 22 maio 2011). Ter esperança, me relacionar com outras pessoas (Alun6, 23 maio 2011).
A mesma perspectiva de aceitação da escola, esses alunos apresentam-na
em relação ao relacionamento com os colegas em sala de aula:
normal, tudo normal, todo mundo é muito legal. Às vezes, tem preconceito mais a gente passa por cima, faz de conta que não existe nada disso, passa por cima (Alun3, 23 maio 2011. Me tratam bem, fui aceita, me ajudam nas tarefas (Alun1, 22 maio 2011). Os meus colegas são amigos, eles fazem carinho (Alun2, 22 maio 2011). Às vezes, alguns não acredita que posso aprender, outros são companheiros, colegas mesmo, me ajudam a compreender as coisas (Alun4, 23 maio 2011). Hum! prefiro esses colegas, eles me aceitam Alun5,( 22 maio,2011). Às vezes, eles tratam diferente, ficam longe Alun6, (23 maio, 2011).
Essas respostas endossam as observações feitas pelas gestoras quando
questionadas como é a aceitação dos alunos com alguma necessidade específica
pelos demais. As profissionais assinalam:
se tratando de crianças eles não têm preconceito e em relação aos alunos maiores a convivência é normal (G1,27 mar. 2011). Acredito que essa aceitação se dá naturalmente, as crianças não reforçam o preconceito nem a discriminação (G2, 27 mar.2011). Há! é bom falar sobre isso. Eu fico impressionada como os colegas procuram ajudar os que têm dificuldade, cooperam, colaboram (G3,11 maio 2011).
Essas considerações, possibilitam perceber que o processo de inclusão de
crianças com deficiência no ensino regular possibilita-lhes interagir espontaneamente
com situações diferenciadas e, ao mesmo tempo que adquirem conhecimento, elas se
desenvolvem, não apenas no aspecto motor, mas, sobretudo, na aquisição de
habilidades sociais.
Em relação à metodologia como os professores trabalham os conteúdos em
sala, os alunos foram unânimes ao afirmarem que o mesmo conteúdo é ministrado a
todos, embora algumas atividades sejam ampliadas, “com outros materiais” e
77
intermediadas pela professora de apoio, que os auxilia quando encontram
dificuldade.
2.2.5 A educação inclusiva para os professores
De acordo com Medina (1995), o professor é o profissional que se coloca na
linha de frente das práticas educativas no ensino formal, sendo, portanto, o
protagonista das transformações curriculares e da incorporação de conhecimentos
no interior da escola.
Assim, é importante conhecer como o professor avalia a educação inclusiva e
como vê sua própria prática pedagógica, concernente a: planejamento, avaliação,
percepção do envolvimento da escola, dos alunos e da família com a prática
pedagógica inclusiva no contexto escolar.
Ciente dessa importância, este estudo buscou identificar e delinear a visão
dos professores das três escolas pesquisadas.
A pesquisadora direcionou a essas profissionais as seguintes questões:
”Você se considera preparada para trabalhar com as diferenças?” “Como é trabalhar com as diferenças em sala de aula?” “Você dispõe de recursos pedagógicos para trabalhar?” “Que indicadores contribuem para a evasão escolar? “Onde são realizados os atendimentos especializados?” “As famílias participam do contexto escolar?” “ De que forma?” “A educação inclusiva é realidade ou mito? “
Tendo em vista que as escolas pesquisadas pertencem à rede regular de
ensino, foi perguntado aos professores se eles se sentem preparados para lidar e/ou
trabalhar com as diferenças em sala de aula. Das seis profissionais entrevistadas,
apenas três consideram estarem preparados, conforme relatado:
eu me considero, tem anos que estou na sala de aula, mas preciso me atualizar sempre ( Pro1, 22 maio 2011). eu me considero preparada, sim, tenho procurado curso de formação na área, não vou dizer que eu estou preparada para receber todo e qualquer tipo de deficiência, mas tenho conhecimento e consciência. O educando, quando chega até nós, procuramos entendê-lo, verificar suas dificuldades e trabalhar para que elas sejam superadas (Pro2, 22 maio 2011).
A Pro3 (26 maio 2011), por sua vez, considera-se muito preparada para
trabalhar com as diferenças. Contudo, ressalta:
78
a dificuldade maior é com o conjunto das pessoas que trabalham na escola porque não estão preparadas, não estão recebendo a formação. Eu, particularmente, busco muita informação fora da escola. Dependendo de uma necessidade que eu não sei eu busco, eu vou atrás de profissional, procuro fazer meus cursos, então eu estou sempre atenta a essas questões.
Uma das professoras que ainda se consideram inaptas para trabalhar com
as diferenças em suas práticas educativas, assim se expressaram:
não me sinto preparada, comecei agora no estado. À época que estudei, na realidade que eu vivenciei os alunos com alguma necessidade separados dos demais, aí veio a política da inclusão. Então na minha prática docente, falar em preparo eu não tenho e tenho pouco conhecimento, pouca didática para lidar com esse tipo de aluno. Eu aprendo muito com as professoras de apoio, na conversa, no diálogo. Procuro melhorar esta didática, mas que há uma formação adequada na graduação, não há (Pro4, 26 maio 2011).
De igual modo, duas profissionais destacam: não, considero que falta mais conhecimento sobre as diversas deficiências, ou mesmo falta didática apropriada para trabalhar com os alunos com necessidades educacionais especiais em sala de aula (Pro5, 26 maio 2011);
considero que não estou ainda preparada para proporcionar um ensino com mais qualidade para esses alunos, apesar de ter participado de vários cursos de formação (Pro6, 27 maio 2011).
Diante das considerações feitas pelos professores, verifica-se a necessidade
de um maior investimento na formação gradual e continuada dos profissionais.
Conforme Vigotsky (1998), o professor possui papel explícito, que interfere na zona de
desenvolvimento proximal dos educandos, provocando avanços que não ocorreriam
espontaneamente, logo, os procedimentos regulares que ocorrem na escola
(demonstração, assistência, fornecimento de pistas, instruções) são essenciais na
promoção do bom ensino-aprendizagem, especialmente, no tocante à intervenção
pedagógica na formação de educandos com necessidades educacionais especiais.
A importância da mediação do professor é preconizada também por Tiba
(1996) para a qual a comunicação diária entre docentes e discentes permite ao
professor fazer várias leituras dos seus alunos. A agressividade, a passividade, a
mansidão, a agitação, a rebeldia, o choro, o alheamento são fatores significativos
para que tal leitura seja realizada no âmbito escolar, uma vez que podem vir à tona,
como conseqüência, notas insuficientes, fugas constantes da realidade, métodos de
defesa e uma gama de outras manifestações.
79
Este estudo inquiriu das professoras entrevistadas como é trabalhar, em sala
de aula, com as diferenças e observou que os profissionais que afirmaram ter
facilidade em trabalhar com a inclusão de forma positiva, também abordaram a
questão proposta positivamente, a exemplo da professora Prof1 (22 maio 2011), que
ressalta:
os professores, às vezes, acham que não é fácil, mas devido ao apoio em sala de aula, tem sido considerado de forma prazerosa trabalhar com as diferenças porque os professores de apoio têm feito às adaptações para que os alunos tenham o mesmo nível.
A Pro2 (22 maio 2011) argumenta: “É um desafio a cada dia porque as
diferenças sempre existiram e sempre vão existir. Que bom que somos diferentes
uns dos outros. Encaro tudo com muito amor, com respeito às diferenças”. A Pro3
(26 maio 2011), outra profissional, reforça essa visão:
o trabalho, o conteúdo é o mesmo para todos. O que acontece é que algumas atividades precisam de certa adaptação, no caso de uma pessoa com déficit de visão é preciso que as atividades sejam ampliadas e que tenha a intervenção da professora de apoio. Esse material geralmente é trazido pelo professor regente e preparado pela professora de apoio, mas o conteúdo é o mesmo.
A resposta dessa profissional coincide com as considerações feitas pelos
educandos, quanto à exposição das aulas, conteúdos e aplicação de atividades.
Por outro lado, os professores que não se consideram preparados para
trabalhar as diferenças, em sala de aula, ao abordarem como trabalham essa
diversidade evidenciam de igual modo, as dificuldades de lidar com essa
abordagem, como salientado:
diante do quadro que falei anteriormente, da falta de preparo, da falta de conhecimento, torna-se difícil. Na dificuldade motora até que não é tanto, você faz uma adaptação para ele fazer atividades, poder acompanhar o ritmo porque a escrita é mais lenta, mas uma dificuldade cognitiva é complicada porque têm 30 alunos na sala e, às vezes, esses alunos não compreendem que têm dois deles que têm dificuldades maiores e não aceita a demora no processo. Tem o professor de apoio para estar ajudando, nessa hora esse professor ajuda muito, faz um plano em conjunto com ele com esses alunos que têm alguma dificuldade, desenvolve junto com ele, mas a palavra final é do professor regente. As dificuldades existem e são grandes (Pro4, 26 maio 2011).
Duas professoras, respectivamente, foram sucintas nas suas respostas ao
salientarem que trabalhar com as diferenças em sala de aula compreende:
80
acreditar que essas pessoas podem ter uma vida diferente relacionando com outras pessoas ( Pro5, 26 maio 2011); as aulas são as mesmas, porém a forma de repassar os conteúdos é diferente porque temos que usar outras estratégias e recursos pedagógicos (Pro6, 27 maio 2011).
Em relação às diferenças, Skliar [1937-2011] (2006) afirma que, em educação
não se trata de melhor caracterizar o que é diversidade e quem a compõe, mas,
sobretudo, melhor compreender como as diferenças completam e constituem os
seres humanos, como diferentes. Ao falar em diferenças é mais oportuno não
distinguir o ‘nós do eles’, nem inferir qualquer relação ou condição de aceitabilidade
acerca do outro e dos outros. A existência de diferenças é salutar no campo das
relações sociais. Os problemas começam quando são trabalhadas no campo das
desigualdades (relações desiguais).
Diante das dificuldades apresentadas, a pesquisadora buscou analisar se as
professoras dispõem de recursos pedagógicos para trabalhar. As respostas a essa
questão são explicitadas a seguir:
disponho, mas de forma reduzida e com pouca variedade (Pro1, 22 maio 2011). Disponho desse material, e a escola disponibiliza quando o professor quer trabalhar com os educandos (Pro2, 22 maio, 2011). muito pouco. Falta ainda muito. Desde que eu estou na Secretaria da Educação é essa a realidade. Precisam melhorar muito. Está faltando material de apoio pedagógico, espaço disponível para atender melhor aos alunos (Pro3, 26 maio 2011). Com o aluno com necessidades educacionais especiais, o aparato é o mesmo: o livro didático, a aula é a mesma (expositiva), mas a adaptação é feita no plano, a avaliação é diferenciada, as atividades são diferenciadas devido à dificuldade motora, para a escrita, apresentada por esses alunos (Pro4, 26 maio 2011). Muito pouco e isso dificulta o processo da aprendizagem (Pro5, 26 maio 2011). Existe, porém de forma bem limitada, às vezes, queremos desenvolver determinados conteúdos com recursos diferentes e não se consegue devido à falta de material ( Pro6, 27 maio 2011).
Embora se verifique que alguns professores aleguem possuir aparato técnico-
metodológico suficiente para desenvolverem o trabalho em sala de aula, é
discrepante a realidade apresentada na escola se comparada ao desenvolvimento
tecnológico da informação e comunicação que norteiam a vida moderna.
Esse modelo exige, portanto, uma educação subsidiada e/ou constituída por
instrumentos que auxiliem o educador e que venham a facilitar o processo ensino-
81
aprendizagem. Todavia, nota-se que não tem ocorrido, em sua plenitude, a inserção
dessas tecnologias na própria formação dos profissionais, e muito menos no
cotidiano de sua prática educativa, o que configura um sistema educacional
desvinculado das realidades sociais (YASBEK, 1995).
Questionados acerca dos indicadores que contribuem para a evasão escolar
dos alunos com necessidades educacionais especiais, os professores defenderam:
“Quase não há evasão, os alunos vêm e saem para continuar os seus estudos em
outras escolas. Hoje, há uma conscientização maior até por parte da família”, afirma
a Pro1 (22 maio 2011). A Pro2 (22 maio 2011) reitera:
a maior dificuldade é acompanhar a turma, você tem até vergonha [...], uns tem dificuldade de vir para a escola. Nem todas as escolas estão preparadas. Recebendo os alunos todas estão, mas preparadas não são todas. Agora essa evasão tem que estudar, cada um tem suas dificuldades e uma das maiores é o aluno achar que não dá conta mais, está no seu limite, por isso sai da escola. Não tenho número de alunos evadidos aqui. Aqueles que não estão vindo à escola, nós procuramos saber o porquê, alguns mudam para mais longe, procuramos recolocar esse aluno em outra escola e fazemos o acompanhamento.
A Pro3 (26 maio 2011) e Pro5 (22 maio 2011) relatam que a evasão só ocorre
por motivo de mudança dos pais para outro setor ou quando ocorre fechamento de
turmas e os alunos são remanejados para outras escolas. Já a Pro4 (26 maio 2011)
apresenta como fatores favoráveis à evasão, além da questão física, a
acessibilidade ao ambiente escolar e o comportamento do colega e até mesmo do
próprio professor em relação a determinado aluno. A Pro6 (27 maio 2011) relaciona
a desistência dos alunos à ausência de uma escola atrativa ou ao fato de os alunos
com necessidades educacionais especiais não estarem aprendendo.
Dessa forma, percebe-se que o cotidiano da sala de aula demonstra que
metade dos profissionais considera tranquilo lidar com as diferenças e o trabalho
com algum tipo de deficiência, porém, observa-se que em relação ao aparato técnico
de material para trabalhar com esses alunos há uma queixa geral de todos.
Essa questão está relacionada ao entendimento que esses profissionais têm
sobre a educação inclusiva, ou seja, se ela é uma realidade ou um mito. As
respostas foram transcritas integralmente:
a educação inclusiva é uma realidade. Nossa escola é procurada na região porque a inclusão tem dado certo. Temos um trabalho com toda a equipe, voltado para a inclusão. Temos vários alunos com todas as necessidades especiais, trabalhamos com eles no contraturno, temos a sala de recursos, outras escolas não tem esse suporte (Pro1, 22 maio 2011).
82
É uma realidade porque hoje nós estamos vendo que as pessoas com necessidades educacionais especiais em todos os lugares e a escola sendo o locus privilegiado do saber e do conhecimento, não poderia ficar de fora. Hoje, nas escolas é muito comum a gente ver as pessoas com necessidades educacionais especiais procurando o conhecimento, a socialização, integração e a inclusão (Pro2, 22 maio 2011). é uma realidade, mas com grandes obstáculos, a gente tem que vencer, eu acredito, mas ainda precisa melhorar muito (Pro3, 26 maio 2011). para mim é realidade, dentro das possibilidades que a escola tem. Aqui tem um aluno com deficiência física que teve necessidade de uma carteira adaptada para a cadeira de rodas e de um notebook, pois ele tem mais facilidade para teclar do que para pegar na caneta e escrever; a escola teve que correr atrás. Mas a educação inclusiva pode ser também um mito quando penso, por exemplo, no atendimento que deveria ser imediato. O aluno já deveria chegar aqui e encontrar a carteira adaptada, mas não encontra, demora, é um processo longo, vem uma equipe analisa..., faz o pedido..., é muito burocrático até conseguir o objetivo (Pro4, 26 maio 2011). é uma realidade porque a política existe, está na rede, mesmo sabendo que ainda está longe de ser a verdadeira inclusão (Pro5, 26 maio,2011). é uma realidade, consta da política nacional do MEC e nos Estados não poderia ser diferente, mas a sua aplicabilidade é outra questão (Pro6, 27 maio 2011).
Com base nessas narrativas, observa-se que a legislação educacional prevê
providências legais para eliminar as barreiras que impedem a inclusão, a fim de
garantir às pessoas com necessidades especiais o acesso à informação, à
educação. Todavia, apesar desses aparatos jurídicos, grande parte dos professores
e das escolas não estão preparados para receber alunos com algum tipo de
deficiência.
Analisando esta questão Souza e Góes (1999) afirmam que a inclusão não
tem ocorrido como preconizada, em razão de fatores externos à escola, porque o
processo tem sido acompanhado por professores e profissionais que desconhecem
os princípios que regem a política de educação inclusiva.
Essa observação é pertinente, posto que na realidade educacional muitos
desses profissionais não conhecem e/ou interpretam a língua brasileira de sinais e
as condições bilíngues do surdo. Ademais, não têm ferramentas para trabalhar com
o aluno deficiente visual, mental ou que apresenta outra deficiência, razão pela qual
se consideram despreparados para atuar com essa população.
Considerando que a legislação que fundamenta a educação inclusiva prevê
nas unidades escolares atendimentos especializados aos alunos que apresentam
necessidades educacionais especiais, foi perguntado aos professores como
realizam os atendimentos. Boa parte deste é realizado pela equipe multiprofissional,
83
a quem compete encaminhar os alunos que precisam de algum atendimento
especial a centros de apoio e outras instituições tais como: Núcleo de Estudos e
Coordenação de Ações para a Saúde do Adolescente (Necasa), Água Viva, Centro
de Atenção Psicossocial (CAP) Escola Especial Peter Pan e outras. Porém, as
professoras avaliam que o atendimento nessas instituições, normalmente, é moroso
e nem sempre é efetivado de forma satisfatória.
Essa morosidade e a não efetivação dos atendimentos envolve muitos
fatores, dentre eles, fatores externos à escola, conforme explicitados pelos
profissionais da equipe multiprofissional, ainda neste estudo.
O atendimento a esses alunos envolve suas famílias e, por esta razão, a
pesquisadora buscou saber, do ponto de vista das professoras, se as famílias
participam do contexto escolar e como se processa essa participação. Três dos
profissionais comungam a ideia de que há participação familiar na vida escolar do
aluno, especialmente, quando elas são convidadas e uma delas afirma: “Tem pais
que dão muita assistência sempre que a gente chama para reuniões de pais,
projetos; participam das reuniões com os professores de apoio e a equipe
multiprofissional” (Pro4, 26 maio 2011).
No entanto, três docentes alegam ser mínima a participação dos pais no
cotidiano escolar dos filhos, muito embora reconheçam que haja famílias que dão
assistência sempre que convocadas. Sustentam que, normalmente, a presença dos
pais se “restringe a reuniões e raramente em festinhas de confraternização” (Pro6
27 maio 2011. Alguns “jogam o aluno na escola e pronto, infelizmente é um fato;
não participam do planejamento pedagógico” (Prof2, 22 maio 2011). A Pro4 (26
maio 2011) salienta:
até hoje eu não tive contato com a família do aluno com deficiência física. Ele manifesta as necessidades dele. Ele tem uma irmã que vem no mesmo turno e ajuda ele a se locomover na escola. Os amigos também colaboram, mas agora se a família participa de alguma forma eu não sei responder.
Em seu artigo intitulado “Viver em família como experiência de cuidado
mútuo: desafios e perspectivas”, Heloisa Szymanski (2002, p. 17) sintetiza: “Ao se
pensar na família hoje, deve-se considerar as mudanças que ocorrem em nossa
sociedade e como estão se construindo as novas relações humanas”. Logo, essa
dinâmica familiar é alterada e, particularmente, cada família tem sua história,
composição e pertencimento social.
84
Ao avaliar a ausência participativa dos pais na escola, pode-se compreender as
dificuldades que eles enfrentam, posto que muitos têm que suprir o sustento da família
e, muitas vezes, podem delegar a responsabilidade que é sua à escola, por pensar
que é papel dela a educação de seus filhos, pelo fato de considerarem que ela está
preparada para tal função, não sendo, portanto, necessária a sua participação.
A prática educativa à luz da pedagogia progressista, preconizada por Paulo
Freire (1995), refere-se a uma prática educativa com o povo, no caso em questão,
com os pais. Freire (1995) entende que aprender é um ato de conhecimento da
realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido se
resulta de uma aproximação crítica da realidade desses sujeitos.
2.3 A percepção dos profissionais da equipe multiprofissional e dos professores sobre a inclusão na educação
Duas profissionais do Serviço Social, embora criteriosas ao assinalarem o
avanço da educação inclusiva na capital, destacam:
a escola inclusiva em Goiânia cresceu muito, já não estigmatiza o aluno, as escolas que têm demonstrado várias práticas profissionais e eventos sobre o trabalho realizado com pessoas, agora, são capazes de trabalhar o aluno com dificuldade e que apresenta uma necessidade. A escola está mais voltada para trabalhar com as diferenças. Muitos alunos conseguiram avançar, se descobrir, melhorar, interagir com outras crianças, ser respeitados como criança (AS3, 24 mar. 2011). A escola inclusiva na cidade está bem mais aceitando os profissionais, antes era difícil, achavam que esses profissionais estavam ali para uma fiscalização. Hoje, é bem aceito, já é bem procurado e a gente tem satisfação de ouvir que a equipe pode permanecer na escola (AS4, 2 abr. 2011).
Apesar desses avanços, a equipe é categórica em delinear os problemas
ainda enfrentados pela inclusão na rede regular de ensino estatal. Percebe-se,
conforme a avaliação feita pelas assistentes sociais, que o desempenho da escola
na perspectiva da inclusão ainda encontra inúmeros entraves para trabalhar com
alunos com necessidades educacionais especiais.
Esses problemas são sintetizados pelas profissionais e envolvem: a)
assistência governamental a essas escolas, em termos de materiais, profissionais
competentes e preparo profissional; b) atitude política dos governantes em relação à
inclusão; c) aparato legal; d) melhores condições físicas, formação continuada dos
85
profissionais da educação, tendo em vista a prática do professor em sala de aula; de
dificuldades de entender as necessidades dos alunos e o fato “da escola não ter
engolido a inclusão”. Estas considerações são mencionadas a seguir:
muitas escolas dizem que não sabem trabalhar com alunos com deficiência intelectual, alunos surdos, por não ter intérprete. Há necessidade de formação continuada para os profissionais, há escassez de profissionais habilitados nessa área. É preciso que se faça um trabalho de inclusão, não apenas para garantia da lei. Encontramos escolas onde os alunos são excluídos na própria sala de aula, eu percebo que essa é a pior exclusão que existe. Não culpo só a escola, trabalhar não é tarefa fácil, mas precisa da assumência de cada profissional (AS1, 25 fev. 2011). Avalio que a educação inclusiva em Goiânia está a desejar. São dez anos! Ainda estamos engatinhando nesse processo, temos muito profissionais, professores, gestores que ainda não “engoliram” a inclusão, acham que os alunos mais severos têm que ficar no canto deles, separados. É isso que eu percebo na política de educação inclusiva. Um exemplo simples é a questão da acessibilidade, a rampa, os banheiros. Se a ‘porta de entrada’ não é acessível temos muito a caminhar, precisa de muitas mudanças, o professor tem muita resistência de se preparar; muitos deles acham que detêm o conhecimento, mas outros conhecimentos devem ser agregados, o específico (AS2, 05 mar. 2011). A escola inclusiva em Goiânia não está onde nós gostaríamos. Sinto mais falta do poder público, falta vontade política. Tem escolas que não têm rampa, não têm banheiro para o cadeirante, não têm uma biblioteca de qualidade, não têm espaço para as crianças brincarem. A escola tem que ser atrativa, tem que ser pintadinha. A saúde não atende às demandas da escola (AS3,24 mar.2011). Passei por vários entraves: físicos, não tem acessibilidade, não tem estrutura para receber esses alunos, e o outro é a questão da visão do professor. Sempre, uns não estão preparados, outros não querem se preparar para contribuir na aceitação desse aluno da inclusão. Eles veem como um trabalho a mais, eles vêem como um fator dificultador. Os professores não estão tão preparados para receber esse aluno e às vezes têm jornada tripla de trabalho, têm famílias como todos nós e não tem condições de se especializar. Tive oportunidade de trabalhar com professores comprometidos. A tendência é isolar o aluno da inclusão (AS4 2 abr.2011).
Ao considerar a narrativa da AS1 (25 fev. 2011), remete ao que ressalta
Libâneo (2008), ao falar de exclusão/inclusão na escola. O autor sustenta que ela
pode significar a utilização do currículo formal49 e do currículo oculto50, os quais
49 Currículo Formal: conjunto de diretrizes normativas prescritas institucionalmente, como, por exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais, divulgados pelo Ministério da Educação, as propostas curriculares dos estados e municípios (BRASIL,1998, p.171). 50 Currículo Oculto: influências que afetam a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores provenientes da experiência cultural, dos valores e significados trazidos pelas pessoas de seu meio social, experiências compartilhadas na escola e na sala de aula [...] o currículo está oculto porque não é prescrito, não aparece no planejamento, embora se constitua como importante fator de aprendizagem (BRASIL,2009, p. 172).
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excluem os que dominam menos dado saber, ou mesmo, apesar de dominar esses
conhecimentos são contrários às regras de convivência que a escola impõe. A
exclusão na escola ainda pode ocorrer pela estigmatização e desconsideração da
história de vida de cada sujeito.
Analisar a exclusão educacional, do ponto de vista de AS1 (25 fev. 2011) é
desenhar a utopia da inclusão, em uma relação dialética, capaz de proporcionar
autonomia, desenvolvimento humano, qualidade de vida, equidade, democracia e
cidadania (SAWAIA, 2001). O respeito a esses princípios tem como significado o
direito de ter direito, o direito de ter uma vida digna, condição estabelecida na
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão e instituída pela
Organização das Nações Unidas (ONU) como Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Um ideal a ser atingido por todos os povos e todas as nações.
Nesse sentido, buscou-se avaliar o olhar das fonoaudiólogas sobre a
educação inclusiva na capital.
Quando foi perguntado às fonoaudiólogas como elas avaliam o desempenho
da escola inclusiva em Goiânia, a pesquisadora obteve como resposta que a
inclusão existe, que há desempenho positivo nas escolas no tocante à inclusão.
Acho que tem melhorado. No início começou sem planejamento, sem diretrizes, agora há planejamento, diretriz e outros órgãos estão envolvidos (Fono1, 07 abr. 2011). Tem escolas que os professores são extremamente preparados. Tem escolas que você vê a inclusão funcionando e dando certo, com trabalhos belíssimos, com alunos inseridos no Ensino Médio, que já um nível de ensino mais complexo em termos de inclusão (Fono2, 15 abr.2011). Tem dez anos que eu estou nesse trabalho, acho que o desempenho da escola inclusiva avançou muito (Fono3, 15 abr. 2011).
Essas profissionais, todavia, enumeram os entraves percebidos na educação
inclusiva: Tem muito que melhorar, investir mais nos alunos com necessidades educacionais especiais, em material, porque o que a Secretaria oferece ainda é pouco e não atende a necessidade. Nem sempre há material para trabalhar com o deficiente visual. O surdo conta com o intérprete, mas o número de intérprete ainda é pequeno, há escola que ainda não possui intérpretes, precisa investir em profissionais e em recursos didáticos (Fono1, 7 abr. 2011).
A Fono2 (15 fev. 2011) salienta que no próprio ambiente escolar são
perceptíveis muitas diferenças, e,
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se formos extrapolar por região vamos ver mais diferenças. Ainda tem escola de determinada região que é bem estruturada fisicamente e de recursos, enquanto outras, você chega lá mal tem o giz e o apagador para o professor trabalhar. São realidades que a gente tem dentro do município e o sistema e o poder público acabam sendo contraditórios nesse sentido. Se todas vêm do Estado porque essa diferença tão brusca?
Essa fonoaudióloga enfatiza que embora haja escolas com equipe de
professores extremamente preparados, em outras, esses profissionais não
demonstram interesse em estudar, melhorar sua atuação, são duas realidades
existentes no município de Goiânia. Além disso, a Fono2 (15 abr. 2011) salienta:
a disponibilização de recursos não é democrática. Tem escolas que a inclusão está funcionando e dando certo, enquanto em outras escolas não tem uma rampa, onde tem meninos que usam cadeira de rodas e precisam subir dois lances de escada, precisam ser carregados.
A indisponibilização de recursos de fato foi verificada pela pesquisa e acentua
as graves lacunas que permeiam a educação inclusiva em Goiânia. Na tentativa de
verificar o olhar das profissionais da Psicologia (da equipe multiprofissional), o estudo
salienta suas considerações sobre a Educação Inclusiva na capital no item a seguir.
A mesma questão foi direcionada às psicólogas da equipe multiprofissional
referente à sua visão sobre o desempenho da educação inclusiva em Goiânia.
A exemplo das demais profissionais já entrevistadas, uma das psicólogas da
equipe multiprofissional considera que “a inclusão tem avançado em Goiânia” (Psi1,
3 maio, 2011), porque “conquistas são evidentes, especialmente na aceitação de
pessoas com necessidades educacionais especiais, por parte do professor e alunos”
(Psi2, 25 abr. 2011). Outra psicóloga enuncia: “Houve alguns avanços porque as
escolas abriram um pouco, já perceberam um pouco, sabem respeitar o deficiente”
(Psi3, 15 abr. 2011).
Também como as demais profissionais da equipe multiprofissional, essas
psicólogas indicam as muitas dificuldades enfrentadas pela educação inclusiva na
capital, em virtude da indiferença de alguns setores da sociedade que poderiam
ajudar a escola a realizar essa inserção. Elas, enumeram outros entraves que
impossibilitam um avanço maior:
precariedade na acessibilidade da pessoa com deficiência, os acessos da cidade impossibilitam o acesso do aluno, a ter acesso aos serviços públicos (Psi1,3 maio 2011). Informações não suficientes para as famílias que não possuem os recursos necessários para o atendimento daquele filho; saúde muito deficitária, não têm recursos nessa área para atender às necessidades; Falta profissionais,
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a rede está deficitária; poucos psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, pedagogos; falta material pedagógico necessário para trabalhar as especificidades de cada aluno; há ausência de maior cobertura da rede de serviços; A ausência das famílias no planejamento pedagógico; Muitas unidades educacionais não se preparam para receber essa diversidade (Psi2, 25 abr. 2011). Os alunos com necessidades educacionais especiais ainda não têm seus direitos políticos garantidos; ainda existe preconceito (Psi3,15 abr. 2011).
Observa-se que refletir sobre a educação inclusiva implica pensar nas
relações da psicologia e das práticas educacionais. A atuação do psicólogo se
encontra relacionada exatamente com a diferença, devido a essa questão, a
atuação do psicólogo nessa modalidade de educação está sujeita a contradições, e
consequentemente a muitas críticas. O convívio com estas condições
contraditórias constitui o grande desafio e milita o psicólogo que se dedica a esta
área.
Em resposta ao questionamento proposto, uma pedagoga entrevistada (3
maio, 2011) assegura que a educação inclusiva na rede estadual em Goiânia tem
tido alguns ganhos, dentre eles, “o ganho da equipe multiprofissional nas escolas,
onde os alunos, as famílias estão tendo a oportunidade de fazer parte desse
mundo escolar, porque antes eram segregados”. Em razão desse fator, a
profissional considera bastante positivo o desempenho da educação inclusiva na
capital em uma perspectiva interdisciplinar.
A pedagoga considera também que existem problemas, e embora enumere
apenas a demora nos atendimentos em razão de burocracia, acredita que as
dificuldades podem ser solucionados. Para tanto, ela acredita no trabalho, e reitera
que conhece escolas atuantes que “tem conseguido fazer um bom trabalho, no
qual a inclusão é verdadeira”.
Das seis professoras entrevistados, apenas duas reconhecem que apesar
dos entraves houve avanços alcançados pela educação inclusiva na capital,
conforme evidenciado: “Muita coisa avançou, por exemplo, o fato de uma pessoa
com necessidade educacional especial conviver na escola regular” (Pro5, 26 maio
2011).
Eu avalio positivamente. Acredito, até porque se não acreditasse eu não estaria na inclusão. Costumo olhar da época que começou, o início de tudo, o tanto que já melhorou, o tanto que os nossos alunos que antes não participavam, não tinham acesso a escola regular e que hoje se relacionam estão participando das atividades, vêm à escola, e por mais que ainda sofram o preconceito, melhorou muito (Pro3, 26 maio 2011).
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Por outro lado, todas as seis professoras mencionaram as dificuldades e/ou
entraves existentes, no caminho da educação inclusiva em Goiânia, que em suas
opiniões têm impedido os avanços tão desejados:
a política de educação inclusiva ainda está aquém do desejado, longe de alcançar os seus fins porque os alunos são colocados na sala de aula. Aí todos têm que aceitar o desafio, não é fácil. Falta maior investimento do Estado com essa questão (Pro1, 22 maio 2011). Toda a política de inclusão a gente vê como realmente necessária. O que tem que acontecer é que essa política seja efetivada; que ela não fique só no papel, mas que venha a atender às necessidades das pessoas (Pro2, 22 maio 2011). Acredito na inclusão, mas tem que melhorar bastante ainda, em termos de a) formação para todos os profissionais da escola; b) atendimento em relação à aprendizagem; c) participação dos alunos nas atividades; d) a conscientização dos outros alunos com relação a esses colegas (Pro3, 26 maio 2011). Considerando doze anos de inclusão o avanço foi muito pouco porque problemas existentes desde o início persistem, tais como: acessibilidade, preconceito e falta de aceitação por parte dos profissionais e alunos (Pro4, 26 maio 2011). Temos que trabalhar para que a escola seja um local onde as pessoas sejam respeitadas em suas diferenças (Pro5, 26 maio 2011). Tem muito a melhorar, principalmente, quando falamos nos serviços das políticas públicas. A rede está deficitária, há morosidade e muita burocracia, os alunos devem ter prioridade para que a aprendizagem não seja comprometida ( Pro6, 27 maio 2011).
Sobre os desafios da educação intercultural e inclusiva, Libâneo (2008)
assinala que o acolhimento na diversidade é a primeira referência para a luta pelos
direitos humanos. Segundo ele, a presença da diversidade humana na sociedade, e,
no caso em questão, na escola, resulta na transversalidade de culturas, pois toda
cultura é plural, e o exercício de aceitação da presença de várias culturas, a
prerrogativa desenvolve hábitos mentais e atitude de abertura e diálogo. Todavia, o
autor ressalta que
não basta apenas pensar no currículo formal. A educação intercultural perpassa a organização escolar, o tipo de relações humanas que existe entre os profissionais e os usuários da escola, o respeito a todas as pessoas que nela trabalham. Ou seja, trata-se de uma mudança de mentalidade, de transformação das formas de pensar, de sentir, de comportar-se em relação aos outros (LIBÂNEO, 2008, p. 61).
Percebe-se que a noção de política de educação inclusiva, preconizada pelas
profissionais entrevistadas, vinculam-se à política pública que Boneti (2003, p.15)
considera:
90
ação que nasce do contexto social, mas que passa pela esfera estatal como decisão de intervenção pública numa realidade, quer seja ela econômica ou social – resultado da dinâmica do jogo de forças que se estabelece no âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos grupos econômicos e políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade civil.
A efetivação dessa política reclama a constituição de esferas públicas, de
espaços de todos, posto que se encontra relacionada ao Estado, governos, políticas
e aos movimentos da sociedade (PEREIRA, 2008).
2.4 Desafios e perspectivas da educação inclusiva em Goiânia
Para a equipe multiprofissional, a educação inclusiva em Goiânia apresenta
vários desafios a serem superados para efetivar a “inclusão social”.
Nesse sentido, as assistentes sociais consideram que o “primeiro é sobre a
função sócioeducativa da equipe multiprofissional que precisa ter a garantia dentro
da escola” (AS1, 25 fev. 2011). Os profissionais não são concursados, seus
contratos são temporários, e quando terminam, o trabalho que estava em
desenvolvido é interrompido. A situação mencionada pela AS1 (25 fev. 2011)
explicita a falta de pessoal no cotidiano da escola.
Essa situação também é ressaltada por outra profissional, em relação aos
professores que têm contratos temporários. Segundo ela, normalmente quando os
profissionais da equipe multiprofissional são inseridos no Projeto Político
Pedagógico, o contrato vence e têm que abandonar seus postos de trabalho (AS2, 5
mar. 2011). Portanto, para superar esse desafio, há de se garantir concurso público
para a efetivação dos quadros da educação inclusiva.
É importante notar que essa descontinuidade provocada pelo término do
contrato dos profissionais que compõem a equipe multiprofissional na educação
inclusiva em Goiânia é um agravante para o processo da inclusão na escola, uma
vez que são estes profissionais elementares neste processo, especialmente
considerando que são eles que atendem e lidam diretamente com as famílias e que
encaminham para atendimento especializado os alunos que dele necessitam.
Em relação à política pedagógica, AS1 (22 fev. 2011), considera
a escola, no todo, deveria trabalhar o Projeto Político Pedagógico, no seu Regimento Escolar. Na verdade, fazer com que aquelas propostas que estão contempladas dentro do Plano de Desenvolvimento da Educação saia do papel e passe para discussão com os professores, aproveitando
91
aquele momento que eles chamam de trabalho coletivo, que é um dia especial para discussão com gestores, coordenadores, professores. Isso é um desafio. O Projeto de todas as escolas contempla a questão da inclusão. A acessibilidade é outro grande desafio para a inclusão.
A AS2 (5 mar. 2011) sinaliza que na escola, “os desafios ainda são dificuldades
de entender as necessidades dos alunos”. Segundo ela, o professor atua em três
turnos, com salas lotadas. Por isso, compreende a dificuldade de o professor trabalhar
com alunos com necessidades educacionais especiais. Outro desafio para a
Secretaria da Educação é a adequação do espaço físico das salas de aula e o
aumento do quadro de pessoal, além da qualificação continuada dos educadores.
Por sua vez, AS3 (24 mar. 2011), outra profissional do Serviço Social,
comenta que “um dos grandes desafios da escola inclusiva é a falta de
sensibilização da sociedade para incorporar esse modelo educacional”. Ela
acrescenta que um outro desafio a ser considerado ainda é “o preconceito que
permeia algumas práticas, a relação dos professores, gestores e pessoal
administrativo com os alunos com necessidades educacionais especiais é de
proteção”. Em relação ao atendimento ao aluno, “a acessibilidade é um grande
problema, pois o aluno deixa de exercer os seus legítimos direitos”.
AS2 (5 mar. 2011) ressalta que os desafios para vencer essas dificuldades
são inúmeros e variados na área educacional, em relação à saúde, bens, serviços e
família. “Na saúde, especialmente, não se tem a contrapartida para atender esse
aluno”. Há grande perspectiva de vencê-los. Ademais, o currículo deve ser integrado
e a troca de professores com contrato especial, deve ser revista, para que as
atividades não sofram solução de continuidade, comprometendo desta feita, os
objetivos da política.
Para essa profissional, deve haver um trabalho de sensibilização, mobilização
e orientação que dê garantias dos direitos. Também o professor deve “aceitar esse
aluno, tratando a questão de forma mais acessível”. Trata-se de uma possibilidade
de mudança na concepção e na prática da educação inclusiva em Goiânia, pois “as
transformações são lentas, mas elas acontecem. Nós acreditamos” (AS2, 5 mar.
2011).
O fator necessário para que a educação se processe na criança e no adulto,
na concepção deweyana, está no aprendizado de como lidar com a mudança, com
essa mudança constante. Dewey (2010) afirma que essa pedagogia escolanovista
trabalha com as diferenças individuais e com a formação de cada ser, segundo suas
92
potencialidades e interesses mediante experiências variadas, vivenciadas
cotidianamente. Conforme esse filósofo norte-americano, o processo educativo
caracteriza um processo contínuo de reorganização, reconstrução e transformação
da experiência vital.
AS1 (25 fev. 2011) concorda com esse ideal e reitera que se deve começar
pela formação continuada de todos os profissionais que atuam na educação
(gestores, coordenadores e professores), seja pela educação à distância ou
mediante cursos de formação de professores oferecidos pela na Secretaria Estadual
de Educação. A assistente social completa:
as possibilidades que eu vejo é que se tenha uma política realmente voltada para essa educação inclusiva e que seja realizado concurso para os profissionais da equipe multiprofissional. Precisamos ter mais profissionais para atender à demanda.
Quanto ao seu trabalho específico na equipe multiprofissional, as assistentes
sociais apontam como perspectiva: a) a criação do cargo de assistente social na
Secretaria de Educação e a realização de concurso para provimento das vagas
(AS1, 25 fev. 2011); b) a busca de melhorias no espaço para os profissionais (AS2, 5
mar. 2011); c) melhorias nas áreas de saúde e assistência (AS3, 24 mar. 2011); d)
avanço na inserção da equipe nas várias escolas e a união dos profissionais, a fim
de que desenvolvam trabalho em parceria (AS4, 2 abr. 2011).
Por sua vez, as psicólogas consideram serem muitos os desafios, dentre eles:
”a formação dos professores regentes, de apoio, tem que ser mais intensa e de
forma permanente, para que essas escolas tenham ensino com qualidade e facilite o
processo ensino-aprendizagem dos alunos com alguma necessidade específica”
Psi2 (25 abr. 2011). Esta profissional destaca que
uma das questões mais sérias é a ausência dos profissionais que atuam na equipe multiprofissional no quadro da Secretaria da Educação, de modo permanente e não rotativo ou itinerante, como atualmente se encontra. Os espaços e tecnologias devem ser acessíveis a todos. As famílias precisam participar das discussões que surgem no dia-a-dia da escola. Na prática em sala de aula, há de se oferecer suporte ao professor de apoio para que tenha material pedagógico para trabalhar a fim de facilitar a dinâmica das aulas e o processo de aprendizagem.
A Psi1 (3 maio 2011) identifica vários desafios, dentre eles: a) tornar
permanente a equipe multiprofissional, b) a acessibilidade a serviços públicos pelos
alunos com necessidades educacionais especiais e as suas famílias, c)
93
investimentos na saúde para o atendimento a estes alunos. Para esta profissional,
cada unidade escolar deveria ter um grupo de pessoas para dar apoio diário a todo
corpo da escola. Para ela, a “comunidade escolar não só é a escola, mas a rede.
Avalia que a inoperância das políticas sociais impede que isso aconteça. A
perspectiva é que se faça um trabalho integrado”.
Para a Psi3 (15 abr. 2011), “o desafio maior está na questão governamental,
no investimento nesta área porque a inclusão não é ‘a menina dos olhos’ de nenhum
governo. Por se tratar a deficiência com discriminação e sem investimento
financeiro, pouco se pode fazer”.
Nesse aspecto, a amplitude do conceito de exclusão/inclusão 51escolar é
utilizado para designar pessoas e grupos vivenciadores de determinadas situações,
considerados desfiliados52 para Castel (2000), e desqualificados53 para Paugan
(1999), quer do mercado de trabalho, quer das políticas sociais. Véras (1999)
considera o conceito de exclusão do ponto de vista das minorias: negros,
homossexuais, pessoas com deficiência, favelados, crianças e adolescentes em
situação de risco social, catadores de lixo e idosos.
Ao verificar os liames que nortearam a educação no Brasil, percebe-se que
desde seu princípio ela tem se mostrado excludente, posto que sempre favoreceu
interesses econômicos e políticos. Neste contexto, pode-se entender o pouco
interesse demonstrado por seus delineamentos quanto se refere à questão da
inclusão na escola, não por ser uma discussão recente, mas pelo caráter
discriminatório que tem norteado a educação geral desde seus primórdios.
Em relação às perspectivas, as psicólogas não são muito otimistas, mas
apesar disso, esperam continuar sendo respeitadas como seres humanos, únicos,
com particularidades. “A equipe faz de tudo para acreditar e quando há impasses a
gente vai atrás, a gente não desiste, é um processo irreversível não tem como parar.
51 O processo transitório da passagem de exclusão para inclusão está se transformando num modo de vida que permanece: o modo de vida do excluído que permanece que não consegue ser reincluído. E tal modo de vida compromete sua dignidade, sua capacidade de ser cidadão, sua condição humana, do ponto de vista moral e político ( VÉRAS, 1999, P. 40). 52 No tocante à desfiliação, Castel (2009, p. 26) utiliza o ”conceito de desfiliação social para designar o desfecho do processo de transição da integração para a vulnerabilidade”. Não se trata de “zonas estáticas, mas de um processo, devendo considerar que pode existir indigência integrada, caso das populações assistidas, visto que a dimensão econômica não é o diferenciador essencial, devendo ser considerada em articulação com a proteção social” O autor explicita que “falar de desfiliação não é ratificar uma ruptura, mas reconstituir um processo”. 53 “Desqualificação é o processo de exclusão do mercado de trabalho e as experiências vividas em relação com a assistência que os acompanham em diferentes fases” (PAUGAN, 1999, p. 63).
94
Temos inúmeras dificuldades, mas temos que superá-las” afirma a Psi2 (25 abr.
2011).
Em relação ao trabalho desenvolvido pela fonoaudiologia, especificamente,
uma das profissionais salienta que ele é essencial na educação. A Fono1 (7 abr.,
2011) relata que normalmente, na escola, busca auxiliar a equipe com orientações e,
às vezes, essa prática depende muito do trabalho do professor que nem sempre dá
uma resposta positiva.
A Fono3 (15 abr. 2011) complementa que em algumas escolas não há espaço
para as profissionais trabalharem, além disso, menciona que normalmente,
encontram dificuldades, com xerocópias ligadas à Subsecretaria Metropolitana.
A Fono1 (7 abr. 2011) sustenta que os atendimentos feitos na escola, muitas
vezes, não são sanados na própria escola, precisando ser encaminhados à rede de
saúde, por exemplo, ”mas muitas vezes a família não tem como conseguir os
atendimentos”. Fono3 (15 abr. 2011) endossa esta afirmação: “um dos entraves é em
relação aos encaminhamentos, não tem vaga na rede de saúde e a família tem que
aguardar”.
Conforme a Fono3 (15 abr. 2011), o trabalho com a família também se
configura como um desafio, e afirma: “O nosso trabalho depende da participação da
família, às vezes, a gente marca reuniões e elas não vêm”. Fono2 (15 abr. 2011),
outra fonoaudióloga destaca:
o primeiro desafio que eu vejo parte da própria família, do núcleo familiar, por mais que a gente tenta trabalhar com a família é muito difícil. Nenhuma família espera uma criança com necessidade educacional especial, infelizmente essa concepção de família que tem esse lado discriminatório vai para a escola também. Então eu costumo falar que a família tem até que ser mais tratada do que o aluno.
Para essa profissional, outro desafio a ser enfrentado e vencido pela
educação inclusiva em Goiânia é o preconceito mascarado no interior da própria
escola:
na escola vejo ainda muito mais de forma mascarada, o preconceito por parte dos professores, principalmente do professor regente e da equipe gestora. Este professor não está formado, não tem conhecimento de que técnica trabalhar, de que método trabalhar e como agir diante de uma criança que não responde às expectativas, ao conteúdo. O maior entrave são os recursos humanos (Fono2, 15 abr. 2011).
Para Mrech (1999), as imagens, os estereótipos e os preconceitos são
fenômenos imaginários, carregados de crenças e afetos e a emoção predomina
95
sobre a razão. Além disso, constata-se que na educação atual os preconceitos e os
estereótipos são categorias que contrapõem aos princípios preconizados pela
inclusão.
Para as profissionais há perspectivas de mudanças para a educação inclusiva
em Goiânia. Entretanto, há que investir “na formação continuada dos professores,
não só dos professores de apoio e de recurso, mas do professor regente, partindo
do princípio da informação” (Fono1, 7 abr. 2011). Além da informação e do
conhecimento, devem-se “criar condições físicas e materiais para que o professor
possa trabalhar com mais recursos, mais tranqüilidade e sensibilização da família”
(Fono2, 5 abr. 2011). Há que promover “investimento do Estado nesse trabalho,
oportunidades de pós-graduação” (Fono3, 15 abr. 2011).
A pedagoga entrevistada (3 maio 2011) assinala que um dos desafios para a
educação inclusiva em Goiânia “são os contratos temporários”. Sempre estão saindo
da rede de ensino, profissionais já preparadas para trabalhar a inclusão, pois já
fizeram cursos, participaram de encontros, porém, em razão do vencimento de
contrato, deixam o trabalho e passam a ocupar aquele espaço pessoas que ainda
“não têm preparo para orientar uma família, uma escola ou uma criança”.
As perspectivas que a entrevistada apresenta para a pedagogia é a
valorização e o reconhecimento do trabalho que as profissionais desenvolvem, que
os pedagogos tenham maior apoio da gestão da escola e que façam parte da equipe
multiprofissional54.
Quantos aos desafios da educação inclusiva em Goiânia, os gestores
consideram que “um dos maiores desafios é a falta de envolvimento das famílias”
(G1, 27 mar. 2011), um maior comprometimento dos professores regentes (G2, 27
mar. 2011); recursos financeiros insuficientes para atender às necessidades” (G3, 15
maio 2011).
Em relação às perspectivas da profissão, as gestoras assinalam: “Trabalhar
as famílias” (G1, 27 mar. 2011), “efetivar os profissionais da equipe multiprofissional
através de concurso” (G2, 27 mar. 2011); investir na política de inclusão para que ela
alcance os seus fins (G3, 15 maio 2011).
As professoras entrevistadas consideraram serem muitos os desafios, mas
apontam perspectivas para a educação inclusiva na rede estadual em Goiânia, se 54 As diretrizes do Peedi não preveem o profissional da pedagogia na equipe multiprofissional.
96
houver investimento do poder público. Outros fatores foram por elas elencados: a)
respeito às diferenças, conhecer o aluno integralmente e considerar suas limitações;
b) valorizar as potencialidades do aluno; c) operacionalizar o tempo para preparo de
material e planejar atividades com a equipe; d) organizar o tempo para fazer cursos
durante o período letivo para ampliar os conhecimentos; e) viabilizar a acessibilidade
do espaço físico da escola para locomoção dos alunos com necessidades
educacionais especiais.
Em seus termos, os professores falam sobre os desafios e as perspectivas
da educação inclusiva em Goiás :
falta de tempo para preparar o material, trabalho o dia todo. No Estado, você não tem esse tempo para preparar essas atividades. São nove professores é difícil. Como você senta com esses nove, então eu acho que é questão mesmo de planejar essas atividades. Esse é o maior desafio. Tempo para a formação, também é um desafio, por mais que a gente procure, não estamos preparados. A cada dia aparece algo novo e o professor tem que estar aberto para novos conhecimentos (Pro2, 22 maio 2011). Desafio é tentar promover essa inclusão, de fato, que não seja só um mito. É muito difícil é muito burocrático. Coisas que poderiam ser simples, como o pedido de uma mesa demora um tempo, às vezes passa o ano inteiro pra ser atendido, um computador (...). O desafio é facilitar a vida desses alunos, incluir de fato, porque colocá-los na escola, na sala de aula sem as condições adequadas para eles acompanharem, no mesmo ritmo dos outros alunos se torna um mito (Pro4, 26 maio 2011).
Quantos desafios! Mas os que me preocupam mais é a falta de investimento do poder público com a questão, a falta d e acessibilidade físicas e a prevalência do preconceito (Pro5, 26 maio 2011).
Sei que são inúmeros os desafios apesar da política estar em funcionamento há mais de dez anos. Destaco como desafio, um maior comprometimento da comunidade escolar com os alunos e conseguir apoio das demais políticas públicas, em especial da saúde (Pro6, 27 maio 2011)
Quanto às perspectivas da própria profissão, os professores esperam adquirir
novos métodos e novas teorias para que possam alcançar uma educação de
qualidade:
As perspectivas são as melhores, eu acredito que estamos sempre avançando, mesmo que lentamente. Já avançamos muito em relação à política” (Pro2, 22 maio 2011);
Envolver as famílias nas atividades da escola. Transformar a passividade da comunidade escolar em ações que venham contribuir para uma escola democrática (Pro6, 27 maio 2011).
Embora as mães não sejam sujeitos pesquisados neste estudo, entendeu-se
como interessante considerar o seu olhar a respeito dos desafios e perspectivas da
97
educação inclusiva na rede estadual de ensino na capital goiana. De bom grado, três
das progenitoras55 aceitaram revelar o que pensam a respeito.
A Mãe1 (27 mar. 2011) vê os desafios da educação inclusiva sob a ótica
particular, pois afirma que “o desafio maior que existe na escola é que a minha filha
não aprendeu a ler e escrever”. As perspectivas para essa mãe são as melhores, e
ela aguarda que a política de inclusão avance.
A Mãe2 (27 mar. 2011) ressalta que falta divulgação sobre a inclusão “porque
muitas mães me ligam na minha residência e perguntam como eu consegui uma
escola inclusiva para a minha filha”.
A Mãe3 (28 maio 2011) revela sua angústia quando, de forma indireta,
considera a incerteza como um desafio a ser superado, ao assinalar: “falta
perspectiva para os nossos filhos. Até quando vão ficar nesta escola?”. Como
perspectiva, essa mãe faz votos de que investimentos em recursos humanos e
materiais sejam feitos e sinaliza que todos devem lutar por uma escola que saiba
respeitar todas as pessoas.
Portanto, diante do olhar da equipe multiprofissional, das gestores, das
professoras, dos alunos e das mães, sobre a educação inclusiva em Goiânia, é
possível inferir que todos sabem o que é a inclusão e como ela deve ser trabalhada
no contexto escolar. No entanto, metodologias para esse trabalho ainda não estão
disponíveis como deveriam, especialmente, por descaso do poder público, que ainda
não se preocupa com questões práticas e básicas como a acessibilidade dos alunos
com necessidades educacionais especiais no espaço escolar.
Apesar do avanço identificado na forma de perceber a educação
democrática, o respeito ao aluno com necessidades educacionais especiais, ou não,
como ser social e histórico, ainda não se verifica. Além disso, percebe-se a ausência
de aparato governamental, e muitas instituições educacionais e/ou educadores
resistem à mudança de paradigma e ratificam a lógica da exclusão e seletividade,
conforme explicitado pelas profissionais da equipe multiprofissional (assistentes
sociais, psicólogas e fonoaudiólogas).
Essas condições fomentam a exclusão social, configurada nas desigualdades
provenientes da estrutura de classes da sociedade. Dessa forma, provocam a
55 Mãe1 (43 anos, especialização, casada); Mãe2 (56 anos, Relações Públicas, divorciada); Mãe3 (47 anos, Superior incompleto, casada).
98
repetência, a defasagem idade/série e a evasão escolar, além de promover um
cerco ao saber escolarizado, impedindo que contingentes populacionais a ele
tenham acesso e no caso em questão, educandos com algum tipo de deficiência.
Nessa “exclusão/inclusão” educacional, ao ignorar a necessidade de
desenvolvimento de um pensamento crítico diante da história do sujeito,
relacionando-a à transformação da realidade (GRAMSCI, 1999), fortalece-se a
estigmatização e desconsideração da história de vida do sujeito, provocando
automaticamente a exclusão educacional.
99
CAPÍTULO III
O SERVIÇO SOCIAL NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO 3.1 No âmbito da educação nacional
Compreender as relações entre Estado e Educação e a inserção do Serviço
Social nessa política, pressupõe visualizar uma dinâmica complexa que pode ser
apreendida por uma leitura de avanços e retornos, sem perder de vista o movimento
e a influência perpassadas entre eles. Essa dinâmica precisa da exposição de um
marco teórico-conceitual capaz de estabelecer uma análise sobre as relações entre
Estado, sociedade civil, mediadas pelo sistema educacional.
Gramsci (2000b), em um de seus estudos, afirma que o “Estado é igual a
sociedade política mais a sociedade civil, isto é hegemonia couraçada de coerção”
(p. 244). Para esse autor o “Estado é todo complexo de atividades políticas e
teóricas com as quais a classe dominante não somente justifica e conserva a sua
dominação, mas manobra para conquistar o consentimento ativo daqueles que estão
subjugados às suas regras” (1971, p. 244)
Na visão de Gramsci (2000a), sociedade civil e sociedade política situam-se
na superestrutura, a primeira, entendida como o conjunto dos organismos privados.
É no espaço da sociedade civil que o Estado busca exercer o consenso, por meio de
sua função hegemônica, ou seja pelo convencimento, e quando ele não é
conseguido pelo consenso, o Estado utiliza outros aparelhos, no caso, os
coercitivos.
Gramsci (2000b) entende que o Estado deve ser concebido também, como
“educador”, cuja tarefa educativa é criar novos e elevados tipos de civilização,
adequar política, ciência e, eticamente, as massas para o desenvolvimento
continuado das forças de produção. Para o autor “quanto mais extensa for a ‘área’
escolar e quanto mais numerosos forem os ‘graus verticais’ da escola, tão mais
complexo será o mundo cultural, a civilização de um determinado Estado” (p. 19).
Para GramscI (1991) a educação deve ser conduzida, além de
conhecimento das ciências e das técnicas produtivas, para fornecer as condições
necessárias à reflexão crítica do indivíduo referente às forças sociais que o
cercam. Nesta perspectiva, a educação atinge seu auge, posto que sua função é
100
instrumentalizar o indivíduo para o exercício da cidadania, capacitando-o para
compreender-se como partícipe dos fenômenos sociais e com poder de deliberar
sobre eles.
É importante registrar, ao retomar o processo histórico das políticas sociais no
Brasil, que elas se originaram no final da Primeira República, momento em que a
questão social começou a adquirir evidência, em face da emergência do processo
de industrialização em substituição às importações e à crise da oligarquia agrária.
Até esse período, a questão social era encarada pela burguesia como “caso de
polícia”, todavia esse ideário não impediu que o movimento operário se organizasse
politicamente, ao exigir melhores condições de vida e de trabalho. Em resposta às
reivindicações do movimento operário, nesse período, as Caixas de Aposentadorias
e Pensão (CAPs) foram institucionalizadas, permitindo o estabelecimento das bases
para a criação da Previdência Social, após a revolução de 1930 (PORTO, 2001).
Porto (2001) afirma que a política social de cunho estatal adquiriu densidade
nos anos 1930, quando condições objetivas e histórias concorreram para que se
iniciasse uma crise no sistema capitalista, marcada pela recessão de 1929 e pela
Segunda Guerra Mundial. Nesse cenário, destacaram-se os padrões de proteção
social: o bismarckiano na Alemanha, a social-democracia na Suécia, e o
beveridgiano na Inglaterra, com o intuito de assegurar aos trabalhadores e suas
famílias, uma estabilidade socioeconômica quando em situação de perda de renda.
Nessa perspectiva, Yasbek (2000b) afirma que a política social, no Brasil, se
configura como uma modalidade de intervenção do Estado no âmbito do
atendimento das necessidades sociais básicas dos cidadãos, respondendo a
interesses diversos. Em outros termos, a questão social, a partir da década de 1930,
foi delineada pela intensidade de manifestações na vida social cotidiana, margeada
pelo projeto de recristianização da igreja e pela ação de grupos, classes e
instituições ligados à igreja católica, na perspectiva do enfrentamento das questões
sociais e de transformações em curso.
Yasbek (2000b) declara, ainda, que a Igreja Católica na estruturação do perfil
da emergente profissão no Brasil foi responsável pelo ideário, pelos conteúdos e
pelo processo de formação dos primeiros assistentes sociais. A autora
complementa:
a questão social é vista a partir de forte influência do pensamento social da Igreja, que a trata como questão moral, como um conjunto de problemas sob a responsabilidade individual dos sujeitos que os vivenciam embora situados dentro de relações capitalistas. Trata-se de um enfoque
101
individualista, psicologizante e moralizador da questão, que necessita para seu enfrentamento de uma pedagogia psicossocial, que encontrará no Serviço Social efetivas possibilidades de desenvolvimento ( p.92)..
Para delinear esse momento, é importante sinalizar o processo de
industrialização no Brasil, cujo surgimento decorreu em um modelo de modernização
conservadora, quando o Estado Novo, objetivando a garantia do controle social e
sua legitimação, buscou apoio da classe operária por meio de uma política de
massa, embora paradoxalmente, movimentos reivindicatórios, promovidos por essa
classe tenham sido reprimidos.
Conforme Yasbek (1980), a ação estatal no governo Vargas constituiu a
representação dos modelos corporativos europeus, caracterizada como uma “versão
brasileira atenuada do modelo fascista europeu” (p. 24), a qual é entendida como
bonificação de uma legislação social protetora e de uma estrutura sindical que
subtraiu a possibilidade de uma organização política autônoma, criando um aparato
institucional assistencial que atendia ao elevado nível econômico do mercado, mais
que às necessidades populacionais propriamente.
Iamamoto (2008) relata que, no Brasil, a hegemonia do capital industrial fez
emergir, nesse período, a questão social, sob novas formas, a qual se torna a base
de justificação desse tipo de profissional especializado. Nas palavras da autora,
o Estado e os estratos burgueses tornam-se uma das molas propulsoras dessa qualificação profissional legitimada pelo poder. Ao centralizar a política sócio-assistencial, efetivada através da prestação de serviços sociais, cria as bases sociais que sustentam um mercado de trabalho para o assistente social, que se constitui como um trabalhador assalariado. O Serviço Social deixa de ser um mecanismo de distribuição da caridade privada das classes dominantes – rompendo com a tradicional filantropia – para se transformar em uma das engrenagens da execução das políticas públicas e de setores empresariais ( p. 167).
Na década de 1960, entrou em crise o modelo de desenvolvimento, que
desencadeou agitações políticas e mobilizações populares. Estes fatos
influenciaram o Serviço Social, e iniciou-se o processo de discussão política no
interior da categoria. Em algumas escolas de Serviço Social, ocorreu a primeira crise
ideológica com a introdução da proposta de transformação da sociedade, em
substituição à desenvolvimentista, adotada até então.
Nesse período, o Serviço Social atuou de forma expressiva nos
programas/projetos de educação popular, que, de acordo com Brandão (1985, p. 17)
citado por Mascarenhas (2004, p. 24)
102
educação popular são diferentes modalidades agenciadas de práticas pedagógicas, escolares, extra-escolares, convencionais ou não-convencionais que comprometem profissionais mediadores (educadores, promotores sociais, cientistas sociais, técnicos de comunicação, agentes de pastoral, etc.), com sujeitos das classes populares (camponeses, operários, subempregados e, por extensão, povos indígenas); envolvem relações de trocas de significados de parte a parte, com um teor político manifesto; desenvolvem situações pedagógicas de transferência mútua de saber, significados, valores, instrumentos de reflexão e de capacitação; estabelecem como seus objetivos a participação e mobilização política de grupos e movimentos populares.
Registre-se que, a partir da ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964,
consolidou-se o capitalismo monopolista no Brasil, efetivado por um modelo de
desenvolvimento econômico, atraído pelos interesses das corporações
transnacionais em associação com o capital nativo. Ademais, a sociedade brasileira,
durante duas décadas, vivenciou uma anticidadania patrocinada pelo Estado
ditatorial, e a classe trabalhadora foi excluída da cena sociopolítica, “centralizada
pelos interesses absolutos do capital, eqüidistando-se, portanto, do padrão
preponderante emancipador prevalecente nos modelos de Welfare State” (PORTO,
2001, p.24).
No entanto, Porto (2001) salienta que a fase correspondente ao último
governo do regime ditatorial foi marcada pela consolidação das liberdades
democráticas, o restabelecimento do habeas corpus, a anistia, a reorganização
partidária e as eleições diretas para os governos estaduais de 1982. Segundo ela,
no Estado brasileiro, nessa época,houve o aprofundamento do padrão monopolista
de acumulação. Dessa forma, sua movimentação deu-se em torno da proposição de
“justiça social e democracia”, em vez do lema “segurança e desenvolvimento” e, em
consequência desse processo, ocorreu a aprovação da Constituição Brasileira, em
1988 (PORTO, 2001).
As políticas sociais na Nova República tiveram como ideário uma ideologia
liberal como reforço ao projeto de construção cidadão-consumidor, com o objetivo de
conter a mobilização da classe trabalhadora. Em 1990, reestruturam-se os
mecanismos de acumulação do capitalismo globalizado e ocorreu o avanço da
lógica neoliberal, o que influenciou a mudança do contexto político, econômico e
social da realidade brasileira. E, dentre as diversas mudanças destacam-se as do o
mercado de trabalho, acopladas ao mote da flexibilização, tendo como
consequência o desgaste das bases do sistema de proteção social, e as
intervenções do Estado em relação à questão social foram redirecionadas
(MARTINS, 2007).
103
Segundo essa autora, a lógica predatória conferida pelo capitalismo
globalizado, “com a precarização do trabalho e a penalização dos trabalhadores,
reitera as desigualdades, gestando novos impasses e desafios para toda a
sociedade e, especialmente, para os assistentes sociais” (MARTINS, 2007, p. 53).
Ao se contrapor a esse contexto, um segmento significativo de profissionais de
Serviço Social, aliado às lutas sociais redobrou esforços para garantir a conquista
dos direitos sociais, regulamentados na Constituição de 1988. Pode-se verificar
conforme seu capítulo II, art. 6º, são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho,
o lazer, a seguridade social a previdência social, e a assistência, que por sua vez,
são considerados políticas sociais públicas em diferentes capítulos constitucionais,
e regulamentos em leis orgânicas.
O título III- Da Ordem Social, capítulo II- Da Seguridade Social, por sua vez
engloba a saúde, a previdência e a assistência. Vale considerar a posição do
Conselho Federal de Serviço Social- Cefess, que afirma ser a seguridade social
sinônimo de proteção social, que engloba todas as políticas sociais públicas, das
quais faz parte a educação.
A educação, como política social pública, é um espaço contraditório de lutas
de classes e por isto, dinâmico, histórico, mutável, e universal, que se altera na
sociedade para a sociedade, de grupo social, para outro, sempre tensionada pela
conjuntura. Como componente do direito social, é “um processo social, vivenciado
no âmbito da sociedade civil e protagonizado por diversos sujeitos sociais, como
uma área estratégica de atuação do Estado” (MARTINS, 2007, p. 21).
A luta pela educação constitui-se em uma das respostas às várias expressões
da questão social, cujo objetivo é o atendimento de demandas sociais e sua
legitimação como um direito social. Nesse sentido,
a política de educação e, principalmente, as instituições escolares, são espaços contraditórios de embates entre as diferentes concepções de mundo existentes na sociedade, pois é um campo de disputas de diferentes grupos sociais pela direção e difusão da cultura (MARTINS, 2007, p. 22).
A educação não é campo novo de trabalho para o profissional de Serviço
Social, porém, nos últimos anos com a ampliação e a verticalização dos estudos, e
dos debates acerca das políticas públicas, evidencia-se em diferentes níveis a
capacitação de assistentes sociais nessa política, seja no aspecto teórico, seja no
campo de intervenção.
104
A aproximação do Serviço Social com a educação, por muitos anos, esteve
baseada ora no campo de formação profissional, ora na dimensão educativa do
trabalho dos assistentes sociais. Ao delinear este processo, Almeida (2000, p. 19-
20) salienta que
as razões não são desconhecidas: uma franca alteração no perfil do mercado de trabalho, no que tange à efetiva atuação dos assistentes sociais no âmbito dos estabelecimentos e da política educacional ao longo dos anos 70 e parte dos 80, a afirmação do debate e das práticas sobre educação popular que se estenderam para além dos muros institucionais, além do reconhecido avanço teórico e político que as abordagens sobre a formação dos assistentes sociais ganharam no final deste século, particularmente face à atuação da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – Abepss.
Para Almeida (2000), essa aproximação de um lado, é resultado dos avanços
e acúmulos teóricos da profissão nas discussões referentes às políticas sociais,
como locus privilegiado da ação profissional, de outro, ocorreu em detrimento da
organização política da categoria e das estratégias de articulação aos movimentos
sociais tendo em vista um novo projeto societário, cuja bandeira de luta era a
conquista da cidadania, componente fundamental para sua unidade.
Essa tomada de consciência critica e política de segmento significativo do
Serviço Social ocorreu ainda veiculada às restrições da ditadura militar, quando
rompeu profissionalmente com a alienação ideológica e construiu uma nova
proposta teórico-ideológica, não mais assistencialista, mas transformadora e
comprometida com as classes populares, embasada na referência teórico-filosófica
do materialismo histórico dialético56 de Karl Marx (PIANA, 2007). Para a autora,
nesse modelo, o referencial teórico-científico é o Materialismo Histórico e o referencial filosófico e a Lógica Dialética (ou a dialética materialista) que tem por objetivo estudar as relações que envolvem homem e sociedade, ou seja, a prática concreta, afirmando que nesta interação há uma constante transformação, com crescimento quantitativo e qualitativo (p. 95).
Essas concepções, conforme José Filho (2002), permitiram ao Serviço Social
avançar no pensar a si mesmo e à sociedade, mediante sua dimensão político
transformadora, que, para Netto (2010) possibilitou, entre os anos de 1965 e 1985, o
56 O materialismo histórico-dialético situa a sociedade determinada historicamente e em constante transformação, dividida em classes sociais distintas: a burguesia, como detentora do capital e de todo o lucro e a classe trabalhadora, ou o proletariado que dispõe da força de trabalho vendida por um ínfimo salário não garantindo condições dignas de sobrevivência (PIANNA, 2007, p.95).
105
surgimento de três vertentes no processo de renovação do Serviço Social: 1) a
perspectiva modernizadora, 2) a reatualização do conservadorismo e 3) a intenção
de ruptura.
Na primeira vertente, o Serviço Social atua como um elemento dinamizador e
integrador do processo de desenvolvimento do país. Em razão desta perspectiva,
buscou-se a modernização do Serviço Social com base na mesma razão
instrumental vigente na profissão (neopositivismo), mediante a revisão de métodos e
técnicas para adequação às novas exigências impostas pelo contexto.
A segunda vertente, conforme Netto (2010), buscou recuperar os fragmentos
mais estratificados da herança histórica e conservadora da profissão, nos domínios
da autorepresentação e da prática, repondo-os sob uma base teórico-metodológica
que, por reclamar-se nova, repudia os padrões vinculados à tradição positivista e às
referências conectadas ao pensamento crítico-dialético, de raiz marxista.
A terceira vertente, identificada no processo de reconceituação do Serviço
Social, é marxista e ocorreu na década de 1980. Este movimento apresentou
intenção de ruptura com o Serviço Social tradicional e, ao contrário dos
anteriores,“possuiu como substrato nuclear, uma crítica sistemática ao desempenho
tradicional e aos seus suportes teórico-metodológicos e ideológicos” (NETTO, 2010,
p. 159).
Assim, o Serviço Social, na política educacional, pode ser caracterizado como
de natureza política e profissional, quanto à função social da profissão, em sintonia
com as estratégias de luta pela conquista da cidadania, por meio da defesa dos
direitos sociais das políticas sociais (ALMEIDA, 2000).
Faz-se a leitura de que a educação, como um componente da política social,
é encarada em suas variações negativas como uma das expressões da questão
social para o assistente social. Este profissional tem um compromisso com a
população, o de procurar assegurar o acesso aos direitos sociais. Assim, ao tomar a
educação como direito, o assistente social tem possibilidades reais para viabilizar,
avaliar seu trabalho e de outros pares no espaço sócio-ocupacional das escolas, e
de outros profissionais que nesse contexto interagem.
Enfatiza-se que 1990, os assistentes sociais têm como referencial para a sua
ação profissional o Projeto Ético-Político do Serviço Social, que se caracteriza,
dentre outros elementos, por ser um projeto coletivo, que envolve todos os
profissionais dessa área para atuarem na garantia de acesso aos direitos sociais,
106
sendo a educação um deles. Tendo em vista essa perspectiva, pode-se afirmar que
essa política é locus de intervenção do assistente social.
O Projeto Ético-Político profissional dos assistentes sociais, conforme Netto
(1999, p. 105) tem como eixo o reconhecimento da
liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolher entre alternativas concretas; compromisso com a autonomia, a emancipação. O projeto profissional vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de nova ordem social.
Essas ações vêm se concretizando no trabalho cotidiano dos assistentes
sociais, não importando o espaço em que atuam, permitindo-lhes compreender o
Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho, bem como no encaminhamento
de ações que contribuam para além do discurso da “denúncia”, atingindo o âmbito
das práticas institucionais, de modo à contribuir para a formulação de novas
políticas sociais.
Esse projeto está ancorado na defesa intransigente dos direitos humanos e
na recusa do arbítrio e dos preconceitos, em favor dos princípios preconizados no
Código de Ética da profissão: equidade e justiça social, ampliação da cidadania,
como condição para a garantia dos direitos civis, políticos e sociais da classe
trabalhadora, conforme Resolução nº. 273/93, do Conselho Federal de Serviço
Social (Cefess, 1993).
Conforme Martins (2007), o Serviço Social é um trabalho especializado que
interfere na reprodução material da força de trabalho e no processo de reprodução
sociopolítica ou ideopolítica dos sujeitos sociais. Afirma a autora: “o significado
sociohistórico e ideopolítico do Serviço social está inscrito no conjunto das práticas
sociais que é acionado pelas classes e mediadas pelo Estado em face das sequelas
da questão social “(p. 185).
Durante muitos anos, a relação entre o Serviço Social e a realidade
sociohistórica, parte constitutiva das relações capitalistas, são apreendidas por
Iamamoto (2008, p. 10) como
expressão ampliada das desigualdades sociais,sua produção/reprodução assume perfis e expressões historicamente particulares na cena contemporânea. Requer, no seu enfrentamento, a prevalência das necessidades da coletividade dos trabalhadores, o chamamento à responsabilidade do Estado e a afirmação de políticas sociais de caráter universal, voltadas aos interesses das grandes maiorias, condensando um processo histórico de lutas pela despolitização da economia, da política, da cultura na construção da esfera pública
107
Vista por esse ângulo, a questão social engrossa “o conjunto das
desigualdades e lutas sociais, produzidas e reproduzidas no movimento contraditório
das relações sociais, alcançando plenitude de suas expressões e matizes em tempo
de capital fetiche” (IAMAMOTO, 2008, p. 156).
Ainda sob o olhar dessa autora, a questão social apresenta-se indissociável
da sociabilidade capitalista e abrange lutas políticas e culturais levantadas, a fim de
reduzir as desigualdades socialmente produzidas. Dessa forma, as expressões da
questão social, mapeadas na área da educação, condensam múltiplas
desigualdades, mediadas por disparidades nas relações de gênero, características
ético-raciais, relações com o meio ambiente e formações regionais, para possibilitar
a vastos segmentos da sociedade civil o acesso aos bens e serviços.
No afã de assessorar e subsidiar os assistentes sociais, o Conselho Federal
de Serviço Social (Cfess), com base em seu Parecer Jurídico 23/2000,estabelece
ao profissional que atua na escola cabe desenvolver atividades técnicas
profissionais , dentre outras:
pesquisa de natureza socioeconômica e familiar para caracterização da população escolar; elaboração e execução de programas de orientação sócio-familiar, visando prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e rendimento do aluno e sua formação para o exercício da cidadania; participação, em equipe multidisciplinar, da elaboração de programas que visem prevenir a violência; o uso de drogas e o alcoolismo; articular com instituições públicas, privadas, assistenciais e organizações comunitárias locais, com vistas ao encaminhamento de pais e alunos para atendimento de suas necessidade; realização de visitas sociais com o objetivo de ampliar o conhecimento acerca da realidade sócio-familiar do aluno, de forma a possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo adequadamente; elaboração e desenvolvimento de programas específicos nas escolas onde existam classes especiais e, empreender e executar as demais atividades pertinentes ao Serviço Social, previstas pelos artigos 4º e 5º da lei 8662/93, não especificadas acima (CFESS. 2000, p. 13).
Assim, entende-se que a participação do assistente social na equipe
multiprofissional da escola, efetiva ações que promovem acompanhamento e
assessoria a educadores, ao contribuir para a construção do projeto político
pedagógico da unidade educacional, configurando uma alternativa construtiva na
luta conjunta por reformas significativas na perspectiva histórica de transformação
da escola.
Martins (2007) assinala que a essencialidade do Serviço Social na escola
colabora para: a) luta por ampliação do acesso da população à escola pública, b)
participação de toda a comunidade escolar nas instâncias do poder decisório
108
existente no âmbito da escola e na relação com a família, comunidade e sociedade,
c) viabilização de alargamento dos canais de participação, mediante ampla
socialização de informações.
Dessa forma, a atuação de assistentes sociais na política de educação,
conforme Almeida (2000a , p. 9), caracteriza- se em:
ações e atividades que convergem para a garantia do acesso da população à educação escolarizada. São atividades relacionadas à concessão de bolsas, definição de critérios de elegibilidade institucional, elaboração de diagnóstico populacionais para a ampliação da capacidade de cobertura institucional, e, a mobilização e a organização política de grupos sociais para a garantia do acesso à educação. As atividades e ações que visam garantir a permanência da população nas instituições educacionais; ações dirigidas para a mobilização da rede de proteção social, como os serviços de saúde, de transporte, os Conselhos Municipais ligados aos diversos campos dos direitos sociais; encaminhamentos para atendimento na rede de serviços sociais até a inclusão em programas sociais; ações realizadas com o intuito de garantir a qualidade dos serviços prestados no sistema educacional; a perspectiva de uma educação alicerçada na luta pela conquista e ampliação da cidadania é a referência central de atuação; atividades que apontam para o fortalecimento das propostas e ações de gestão democrática e participativa da população no campo educacional; junto a segmentos sociais como coletivos e grêmios estudantis, sindicatos, associações de pais, de moradores e profissionais da educação; organização e mobilização no campo educacional.
Refletir a prática do assistente social na educação requer pensar a política
educacional na sua dinamicidade e estrutura. Pode-se afirmar que o contexto
escolar é uma dentre outras possibilidades de atuação desse profissional nessa
política.
Ademais, o espaço escolar mostra-se propício a reflexões críticas sobre o
homem e o mundo, mobiliza segmentos diversos da comunidade escolar,
compromissados com movimentos de luta por direitos sociais e construção de
elementos para o desenvolvimento de uma ação política, em sua totalidade.
A participação no planejamento do projeto sociopedagógico contribui para
uma visão diferenciada e ampliada das expressões da questão social e da
sociedade no seu conjunto e, na sua relação com a escola, em suas
particularidades. Não se pode perder de vista que essa dinâmica possibilita
condições para a escola atingir sua função social e educativa (MARTINS, 2007).
Assim, a perspectiva de conquista e ampliação de direitos, uma das
atribuições do Serviço Social é a de lutar pela educação, com a concepção de que
todos são participes do processo de construção da sua história, no caso em estudo,
na educação inclusiva (SENA et al. 2010). Para tanto, o assistente social, em seu
109
Código de Ética, dispõe de princípios básicos que norteiam o trabalho do
profissional, que exige um posicionamento em favor da equidade e justiça social,
assegurando a universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos planos,
programas, projetos de políticas sociais, mediante uma gestão democrática, com
financiamento próprio, sem perder de vista a fiscalização e a avaliação de sua
operacionalização, por meio do controle social.
Embora permeado de confrontos e desafios, seja em sua fundamentação
teórico-filosófica, seja na sua dimensão prática, o Código de Ética profissional do
Serviço Social permite a ampliação das bases para uma reflexão que, situada na
sua perspectiva crítica, possibilita o enfretamento de dilemas e opções, em face dos
quais as polêmicas continuam em aberto, determinando ou não a reatualização da
hegemonia conquistada (BONETTI et al. 2009).
Esse documento possui como núcleo central o reconhecimento da liberdade,
concebida historicamente mediante a escolha de alternativas concretas, da
autonomia, da emancipação e a da expansão plena dos indivíduos sociais. Percebe-
se uma vinculação entre o projeto profissional e um projeto societário, cujo objetivo é
a proposta de construção de uma nova ordem social, sem dominação de classe,
gênero ou etnia (NETTO, 1999).
A educação, como uma política pública do Direito Constitucional, na sua
garantia, não deve se estender apenas à democratização do acesso do sujeito a ela,
mas ir além, ao buscar, sobretudo, qualidade do ensino, para promover o
crescimento cultural do sujeito, como cidadão. A presença do Serviço Social no
contexto escolar contribui, por meio de sua prática, para a ampliação das garantias
constitucionais. De acordo com o CFESS, 2001, p.15,
o Serviço Social necessita identificar os fatores sócio-culturais e econômicos que determinam a precarização das ações no campo educacional e contribuir com acesso aos serviços sociais e assistenciais sempre que necessário, priorizando o atendimento aos educandos da rede pública. Para tanto, o desenvolvimento de ações conjuntas com as demais formas de organização inseridas na comunidade, como órgãos públicos das diversas esferas de governo, conselhos comunitários e das políticas públicas e as organizações não- governamentais, são significativas na prática desse profissional. Pesquisando a realidade, compreendendo-a como totalidade das políticas, programas e projetos, na perspectiva de direitos.
A contribuição do Serviço Social na área educacional, portanto, tem como
finalidade identificar os fatores sociais, econômicos e culturais que determinam os
110
processos que, de forma enfática, afligem a educação no presente contexto, a
exemplo da evasão escolar, do baixo rendimento escolar, da sexualidade, da
violência doméstica e do preconceito (YASBEK, 2000b).
Esses fatores carecem de intervenções conjuntas com educadores,
fonoaudiólogos, psicólogos, gestores, famílias e educandos.
Na perspectiva de avaliar a importância da atuação do assistente social, o
item seguinte apresenta como se dá a intervenção do Serviço Social na Política de
Inclusão da Rede Estadual de Ensino, no município de Goiânia no período de 1999
a 2009.
3.2 No âmbito da Política de Inclusão em Goiás
O Serviço Social na Política Educacional teve sua prática voltada, a princípio,
ao estudo de caso, com elaboração de diagnóstico de pessoas com deficiência, em
conjunto com outros profissionais, como psicólogo, pedagogo, e fonoaudiólogo, que
compunham a equipe pedagógica.
Uma das primeiras iniciativas para se implantar o Serviço Social na Política
Educacional de Inclusão em Goiás foi conceber um documento de enquadramento
do assistente social do ensino especial na função correspondente, segundo o
sistema de modulação da Secretaria de Educação do Estado de Goiás, por meio de
uma equipe técnica57, Para esse trabalho contou-se com a colaboração do
Sindicato de Assistentes Sociais de Goiás (Siasgo) e o Conselho Regional de
Assistentes Sociais de Goiás (Crass), representados pela profa Dra. Walderez
Loureiro Miguel.
Os objetivos vinculados à proposta apontam que o assistente social busque
trabalhar com a escola, as famílias das pessoas com deficiência, as entidades
relacionadas a estas pessoas e a comunidade (MIGUEL et al. s. d, p. 7)
Dentre as atribuições apresentadas, pela referida proposta, para atuação do
assistente social da área do ensino especial, destacam-se:
formulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos, relacionados às pessoas com deficiências e suas famílias; viabilização de pesquisas, mediante as necessidades apresentadas pelo Ensino Especial e pelo público envolvido;visitas às instituições e às famílias
57 Ester Gazaroli, Maria de Fátima Gondim Lemos, Marly Kratka Lins Rocha, Terezinha Maria Teixeira Xavier, Walderez Loureiro Miguel, são autoras do documento, 1985.
111
de pessoas com deficiência;encaminhamentos de pessoas com deficiência e família aos recursos comunitários;realização de estudos, avaliação diagnóstica e atendimento às pessoas com deficiência e família; viabilização de encontros, cursos, seminários, grupos de estudo, com a finalidade de formação ou atualização de pessoal de diversos níveis profissional da área de ensino especial;visitas a escolas regulares para acompanhamento e avaliação do aluno inserido nas duas modalidades de atendimento: regular e especial.
Com a criação da Política de Educação Inclusiva em Goiás, em 1999, buscou-
se promover uma redefinição das estratégias de atuação do Serviço Social, visando
garantir os direitos dos cidadãos e melhorar a qualidade de ensino, por meio de
ações multiprofissionais qualificadas que pudessem facilitar a intersetorialidade com
as demais políticas sociais asseguradas pela legislação, bem como, pelo Projeto
Ético-Político da profissão (GOIÁS, SEDUC, 2010).
Nesse contexto, foi possível aos profissionais do Serviço Social repensarem
sua prática profissional e a reformularem a sua ação. Tal necessidade foi
manifestada e respaldada por abordagem crítica e em interlocução com as (os)
demais profissionais que compunham a equipe multiprofissional.
Ao desenvolver essa abordagem diferenciada firmou-se uma parceria entre
um grupo de assistentes sociais da Seduc, que contou com assessoria do Conselho
Regional de Serviço Social de Goiás (Cress) e do Departamento de Serviço Social
da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, por meio de uma profissional
qualificada. Essa parceria permitiu a formulação de uma proposta intitulada Serviço
Social na educação pela universalização dos direitos sociais (GOIÁS, SEDUC,
2008), cuja finalidade é subsidiar os assistentes sociais com referenciais teóricos
voltados para formulação de uma proposta de Serviço Social na área da educação.
O objetivo proposto nesse documento é o de buscar a implementação,
orientação e o acompanhamento do Serviço Social na Rede de Educação do Estado
no contexto escolar e da comunidade local, mediante ações socioeducativas e
pesquisa de viabilidade de acesso desta população aos bens e serviços e às
políticas públicas, existentes na área na qual se inserem.
Como desdobramento, das atividades criou-se o Grupo de Trabalho de
Educação (GTE), vinculado ao Cress 19ª Região, que forneceu o apoio técnico,
cessão do espaço e equipamento necessário ao trabalho do grupo, com a finalidade
de contribuir para a política educacional em Goiás e a inserção do Serviço Social
nessa área.
112
Para a efetivação da Política de Educação inclusiva em Goiás, as unidades
escolares contam com o assessoramento e acompanhamento técnico e pedagógico
do assistente social na equipe multiprofissional, composta também por outros
profissionais : psicólogos, fonoaudiólogos e pedagogo. Conforme Sena et al. (2010,
p. 52),
a participação do Serviço Social na equipe multiprofissional tem se constituído tarefa desafiadora, respaldado nos princípios fundamentais de seu Código de Ética Profissional e numa construção coletiva com outras profissões identificadas por caminhos e experiências diversificadas, com o propósito de trabalhar a inclusão como um todo.
No âmbito da Secretaria Estadual de Educação, podem-se identificar
programas e projetos em execução, nos quais configuram espaço de atuação do
assistente social, a exemplo dos especificados no Caderno n. 8 da Seduc (2010),
como se segue:
O Benefício de Prestação Continuada na Escola (BPC-Escola) é um
programa do governo federal, que garante um salário mínimo de beneficio mensal a
idosos com mais de 65 anos e a pessoas com deficiência, incapacitadas para a vida
independente e para o trabalho conforme (Lei Orgânica da Assistência Social nº.
8.742 de 7 de dezembro de 1993). Esse benefício foi criado no âmbito do Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), instituído pela Portaria Interministerial nº
18/2007 e contempla ações para identificar as barreiras de estudo sobre a temática
da educação inclusiva e de apoio aos sistemas de ensino para a inclusão escolar
dos beneficiários. (BRASIL, MEC, 2008).
Acompanhamento e Monitoramento dos Alunos Infrequentes (Amai) é um
programa estadual de gestão escolar, desenvolvido pela Secretaria de Educação
(GOIÁS, 2009) por intermédio da Coordenação de Desenvolvimento e Avaliação
(Coda). O programa busca assegurar a permanência da criança e do adolescente,
na faixa etária de sete a dezoito anos, na escola, com enfoque na qualidade do
conhecimento das habilidades adquiridas nesse processo.
O Bolsa Família, programa criado pela Lei nº 10.836/04, (BRASIL, 2004)
desenvolve ações de transferência de renda. Caracteriza-se como benefício básico
e necessário, de apoio as famílias pobres, com crianças de zero a doze anos e
adolescente até quinze anos, garantindo-lhes o direito à alimentação.
113
O Mais-Educação, criado pela Portaria nº 17/2007 (BRASIL, 2007), tem a
finalidade de contribuir na formação integral da criança, jovem e adolescente, pela
ampliação de tempo, espaço e oportunidade educacional a esses alunos
Enfatiza-se que o acompanhamento do Amai deve ser sistemático, durante o
calendário escolar e tem como finalidade diminuir as taxas de evasão e distorção
idade/ano na Rede Estadual de Ensino. Além do Serviço Social, a Coordenação de
Desenvolvimento e Avaliação (Coda) conta com a parceria do Conselho Tutelar e do
Ministério Público, que normalmente desempenham o papel de levar o estudante à
escola, por meio de notificação e diálogo com os responsáveis e com o aluno
evadido, buscando saber o motivo da evasão ou do abandono da escola.
Ademais, o Serviço Social possui outros espaços no exercício profissional, ao
conhecer e analisar os indicadores sociais que permeiam a realidade escolar, o
contexto e o público beneficiado. O trabalho com famílias, comumente, envolve
reuniões, visitas domiciliares, atendimentos individuais, viabiliza encaminhamentos à
rede de serviços das diversas políticas públicas. Estas ações visam atender às
demandas dos sujeitos envolvidos e às necessidades concretas apresentadas por
educandos relacionados às informações e orientações referentes aos vários
aspectos que permeiam a vida familiar e comunitária (MARTINS, 2007).
Em Goiás, o assistente social participa de eventos técnico-científicos como
estratégia de formação continuada e melhoria do seu desempenho profissional.
Articula-se e se mobiliza com órgãos das três esferas governamentais, entidades
particulares e conselhos de direitos e de políticas públicas com o intuito de
assegurar ações que venham contribuir para o processo de inclusão de usuários da
política educacional, mediante a mobilização e sensibilização da comunidade
(GOIÁS/EME, 2010).
Sena et al. (2010) sustentam que as unidades escolares estaduais ainda, não
traçaram o perfil socioeconômico e cultural dos educandos, de suas famílias e dos
beneficiários dos programas. Entretanto, verifica-se que a Subcomissão de Serviço
Social do grupo científico da equipe multiprofissional tem trabalhado no projeto de
pesquisa que envolve a corresponsabilidade da família e do Estado no processo de
educação nas escolas públicas estaduais, localizadas em Goiânia, com baixo Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
114
3.2.1 Prática do Serviço Social na educação inclusiva em Goiás
Buscou-se, pela pesquisa, identificar a contribuição do Serviço Social no
processo de intervenção da Equipe Multiprofissional da Rede Estadual de Ensino, no
tocante à inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais, no
município de Goiânia-GO, no período de 1999 a 2009.
Nessa perspectiva, a pesquisadora perguntou às profissionais como acontece
à inserção do Serviço Social na Política de Educação Inclusiva no estado. As
assistentes sociais afirmaram que essa inserção começa pela participação na Rede
de Apoio à Inclusão, cuja prática consta desde 1999. A AS1 (25 fev. 2011)
considera:
hoje, a gente não trabalha só com as escolas especiais, o trabalho se expandiu com a garantia do Serviço Social na Educação, então temos feito vários trabalhos de assessoria, monitoramento, encaminhamento das redes de apoio à inclusão. A gente trabalha em toda a rede do Estado. São 38 subsecretarias. Atuamos em vários programas como: BPC-Educação, Bolsa Família, Mais Educação, vários programas de competência do Serviço Social.
Ressalte- se que a interface entre a Política de Educação e da Assistência
Social fortalece programas/projetos, que possibilitam o enfrentamento das
desigualdades sociais e ampliam o espaço de intervenção profissional do assistente
social, configurando-se como uma das formas mais estreitas para aproximar a
prática desse profissional aos valores que orientam seu projeto ético-político
profissional, ao exercer a dimensão política da profissão, “construindo estratégias no
desvelamento das mediações presentes nos espaços socioinstitucionais”
(MARTINS, 2007, p. 162).
A AS2 (5 mar. 2011) argumenta que a inserção do Serviço Social na política
de educação inclusiva no Estado “começa desde a porta de entrada da escola, a
partir da desmistificação da função do assistente social na escola, reafirmando que
nosso papel não é a caridade, nem o assistencialismo”. Reitera que a reafirmação
de seu papel estende-se às famílias, No atendimento a um pai, que não consegue
consultas e exames neurológicos para o filho, por exemplo, ele é aconselhado
acionar o Ministério Público. Além disso, a AS2 (5 mar. 2011) acrescenta que o
Serviço Social busca
115
conhecer a realidade da escola, dos alunos, vendo a questão sócio-econômica, que tipo de projeto pode estar envolvendo na escola como um todo, mediante palestras educativas, encaminhamentos, principalmente de usuários de drogas, o trabalho com as famílias. A atuação do assistente social é contribuir com os demais na percepção das questões sociais.
Essa profissional afirma que o trabalho do assistente social na Política de
Educação Inclusiva favorece que no seio escolar se ”perceba que os diversos
problemas na escola não começaram ali, a escola é o espaço muitas vezes onde
eles culminam, mas já existiam na família, na dificuldade que esses alunos passam
na relação familiar”.
Outra atuação na inserção do Serviço Social, conforme AS2 (5 mar. 2011) começa por “lidar com os gestores, professores, porque a grande maioria destes profissionais acha que estamos ali para amenizar os conflitos e isso não é verdade, às vezes, vai gerar mais conflito porque as cobranças surgem”. A fala dessa profissional retrata o abordado por Bonetti et al. (2009), segundo os quais analisa que a efetivação das diretrizes do Serviço Social exige que o profissional dessa área recrie o seu perfil profissional e a sua identidade, ultrapassando limites institucionais, superando a ideologia do assistencialismo, para fazer avançar as lutas pelos direitos e pela cidadania. A AS3 (24 mar. 2011) considera a inserção de profissionais do Serviço Social na Política de Educação Inclusiva como “um campo vastíssimo de todas as demandas. O Serviço Social nasceu para atender às necessidades do aluno, da escola e por isso a escola é o seu campo. O profissional tem que entender de todas as políticas públicas”. A visão dessa assistente social, quanto ao papel do Serviço Social na educação endossa as propostas defendidas por Gramsci (1975, p. 85) para quem
lutar pelo direito à educação de todas as crianças e adolescentes e estendê-lo à família é uma das alternativas possíveis para ampliar o horizonte das classes subalternas, pois com a conquista de uma consciência superior, cada qual consegue entender seu valor histórico, sua própria função na vida, seus direitos e deveres .
Para tanto, a AS3 (24 mar. 2011) acrescenta:
na prática você tem que identificar, você tem que pegar o aluno, conversar com a família e o professor e a gente sabe direitinho encaixar. Tem muitas demandas, podemos realizar todas as nossas práticas. Aqui dentro temos uma visão ampla de todas as demandas da sociedade, acho isso muito rico para o Serviço Social. Temos muito que aprender aqui e temos condições de fazer um excelente trabalho. Temos que ser mais dinâmicas na educação, as ações são mais rápidas.
116
Retomando a questão da política pública, sinalizada por essa assistente
social, verifica-se que o fim da Guerra Fria, bem como, a globalização da economia
levaram a uma outra posição do Estado, mediado por idéias neoliberais58. Com
dessa nova dimensão social para a organização social e política da sociedade,
houve a necessidade de implementação de políticas públicas compreendidas na
visão de Boneti (2003), como uma
ação que nasce do contexto social, mas que passa pela esfera estatal como decisão de intervenção pública numa realidade, quer seja ela econômica ou social – resultado da dinâmica do jogo de forças que se estabelece no âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos grupos econômicos e políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade civil ( p.15 ).
A política pública, segundo Pereira (2008) não pode ser confundida com
política estatal, ou de governo, nem tampouco com a iniciativa privada, mesmo que
seja necessária a participação do Estado em sua efetivação. Essa política, para a
autora, “é uma ‘coisa’ de todos e para todos, envolve não só o Estado no
atendimento das demandas e necessidades sociais, mas também a sociedade no
controle democrático desse atendimento” ( p. 61).
Apreende-se, com essa afirmativa que a política social é uma política pública
pois compromete a todos, o Estado e a sociedade no atendimento às demandas e
às necessidades sociais. A efetivação dessa política reclama a constituição de
esferas públicas, de espaços para todos. A política social encontra-se relacionada
ao Estado, governos, políticas e movimentos da sociedade, posto que, da mesma
maneira que a política pública caracteriza uma política de ação, aquela apresenta-se
caracteriza-se também, como uma espécie do gênero de política pública.
Fundamentada na concepção marxista, que orienta este estudo, Pastorini
(2006) afirma que as políticas sociais caracterizam um produto concreto do
desenvolvimento capitalista, de suas contradições, da acumulação crescente do
capital. Configura, portanto, um produto histórico e não consequência de um
desenvolvimento “natural”.
Nesse sentido, a prática profissional dos assistentes sociais no âmbito da
política da educação em Goiânia compreende as ações desenvolvidas por esses
profissionais que têm como parâmetro o Projeto Ético-Político Profissional. 58 As principais características dessa nova fase do capitalismo estão ancoradas na globalização da economia, no fim das fronteiras econômicas, no desmonte do Estado, na destruição dos direitos sociais (FALEIROS, 2000).
117
Assim, a AS4 (2 abr. 2011) ressalta que a inserção do Serviço Social na
educação inclusiva em Goiás ocorre de modo interativo, integrado e “é direcionada
com vistas ao atendimento das demandas dos educandos e de suas família, e dos
profissionais que atuam na escola, para que se possa desenvolver um trabalho
mais humanizado, de modo que percebam as necessidades da escola”.
Diante desses depoimentos, a pesquisadora indagou às profissionais como é
efetivado o Projeto Ético-Político profissional nas práticas do Serviço Social na
política de educação inclusiva. E, segundo a AS1 (25 abr. 2011),
a viabilização do Projeto Ético Político Profissional está pautado na garantia dos direitos universais, que possibilita aos profissionais do Serviço Social a busca do protagonismo do indivíduo na sociedade. Também contribui na formação continuada dos profissionais que atuam diretamente nas unidades escolares através da instrumentalização da equipe do Serviço Social, trazendo em suas matrizes pedagógicas uma atuação crítica podendo afirmar que o Serviço Social na educação está contemplado com o técnico-operativo em suas práticas. Nós trabalhamos com a questão da instrumentalização do Serviço Social porque na educação existem duas profissionais: uma, na Coordenação de Ensino Especial; a outra que trabalha nas unidades escolares. O Projeto Ético-Político está contemplado por conta das formações que a Coordenação tem desenvolvido com os profissionais. Esses profissionais precisam ser formados para romper aquele conservadorismo, trabalhar de forma critica para que o indivíduo busque os seus direitos, o seu protagonismo.
A AS1 (25 abr. 2011) defende uma educação que seja um espaço no qual se
possam traçar estratégias políticas, mediante o conhecimento historicamente
acumulado e socialmente construído. Em outras palavras, trata-se da construção de
um sujeito crítico emancipado, sinalizando uma escola que concebe, cria e
proporciona aos homens acesso ao conhecimento, conforme as suas necessidades
e realidade histórica (GRAMSCI, 2001).
A mesma questão (efetivação do projeto ético-político profissional nas
práticas do Serviço Social na política de educação inclusiva) foi direcionada às
outras profissionais. A AS2 (5 mar. 2011) afirma:
na garantia dos direitos na perspectiva de uma atuação transformadora. Não dá para termos uma atuação coerente se não levamos em consideração à ética. Nós temos o nosso Código de Ética que norteia a nossa atuação, não abrimos mão daquilo que norteia a nossa profissão, porque é aí que vamos garantir que estamos respaldadas para responder, cobrar, poder questionar e acima de tudo proporcionar as pessoas que nos buscam uma orientação adequada. Assim, a ética é fundamental, acho que ela norteia todo o nosso trabalho e a meu ver dentro dessa perspectiva de mudança.
118
AS3 (24 mar. 2011) salienta:
a gente efetiva o Projeto ético político a partir do nosso trabalho de análise do dia-a-dia no interior da escola, verificando o que precisa dentro daquele contexto educacional, o que o aluno precisa. Primeiro, detectamos o problema e depois trabalhamos ajudando o aluno nessa área, se for com as famílias, atuamos com as famílias, se for com os professores o trabalho é com os professores. É um trabalho de formiguinha. Dentro da escola são muitas coisinhas e o assistente social precisa tomar cuidado para não ser engolido pelo imediatismo.
De igual modo, a AS4 (2 abr. 2011) argumenta que
se efetiva em vários aspectos, nós temos tranqüilidade de trabalhar o Serviço Social no sentido de mostrar para a equipe, gestoras, para a sociedade em geral, dentro da comunidade escolar, quais são os serviços, o que ela pode estar ajudando, no sentido da escola e extra-escolar e tudo isso aí nos sentimos mais respeitadas como profissional.
Nesse cenário, a participação do profissional de Serviço Social na política de
educação mostra-se desafiadora, pois respaldada nos princípios fundamentais de
seu Código de Ética Profissional, em construção coletiva com outros profissionais e
com experiências e caminhos diversificados, tem como finalidade trabalhar a
inclusão como um todo.
Sobre os princípios que norteiam as práticas dos assistentes sociais na
educação inclusiva em Goiás, todas as profissionais destacaram que são voltados
para os princípios do Código de Ética da profissão. AS1 (25 fev. 2011) declara que
defende “os princípios que norteiam a educação, a garantia dos direitos, equidade,
justiça social, não preconceito à questão da diversidade. Trabalhamos na defesa
desses indivíduos, pautada no Código de Ética”.
Da mesma forma a AS3 (24 mar. 2011) reitera que os “princípios são aqueles
que constam da Constituição e que abarcam atendimento com qualidade, dignidade
do ser humano, família digna e ajustada, aprendizagem e educação com qualidade”.
A AS2 (5 mar. 2011) assinala que
não se pode esquecer os princípios que norteiam a nossa profissão, o nosso Código de Ética, a LDB, a LOAS, todas essas leis que norteiam o nosso trabalho. Tem a LDB/Educação porque temos critérios dentro da educação para estar atuando. O Estatuto da Criança e do Adolescente que é um instrumental fortíssimo, infelizmente por muito mal interpretado e não acontece de fato porque o sistema de proteção é falho.
Quanto às contradições existentes na inclusão, a pesquisadora buscou saber
como as assistentes sociais as trabalham em sua prática profissional. De acordo
119
com AS1 (25 fev. 2011), AS2 (5 mar. 2011) e AS3 (24 mar. 2011) elas existem e não
são poucas. As duas primeiras entrevistadas citam que uma das contradições
enfrentada pelas assistentes sociais ocorre na própria equipe multiprofissional, em
razão da visão diferenciada dos diferentes profissionais que a compõem.
Conforme narrativa da AS1 (25 fe2011), o Serviço Social trabalha com
o enfrentamento das expressões da questão social que é o objetivo do Serviço Social, por isto temos tido dificuldade por conta dos outros profissionais que possuem uma visão terapêutica do trabalho, quando se deveria trabalhar numa visão social, por isso os entraves e as contradições que existem dentro da equipe. Há também a atitude do próprio gestor da escola que não entende como o Serviço Social trabalha e a que veio e, às vezes, valoriza mais as fonoaudiólogas e as psicólogas por entender que essas profissionais vão realizar um trabalho terapêutico.
AS2 (2 mar. 2011) relata que
a contradição começa a existir quando você depara com uma realidade. As contradições existem desde a hora que você entra na escola, integra uma equipe multiprofissional. São linhas diferentes, são ações diferentes. O psicólogo tem a visão dele, a fonoaudióloga tem a visão dela, nós temos a nossa, embora o objetivo seja o mesmo, mas em se tratando de pessoas isso é muito ambíguo e as contradições tendem a aparece.
AS2 (2 mar. 2011) afirmou que as contradições existem em muitos aspectos:
”o projeto da inclusão é muito bom, mas não existe por parte do governo a
retaguarda, o que caracteriza uma contradição muito grande, sem falar nas outras
instâncias, que quando procuradas deixam o assistente social sem norte’”. Essa
profissional enfatiza que
as contradições existem por parte dos programas dos governos, municipal e estadual, que dificultam a acessibilidade. Nós os profissionais temos que lançar mão dessas contradições para provocar as mudanças. Acho que devemos utilizar essas contradições como aliadas, mostrar que elas existem, não tem como fugir delas. Essas contradições auxiliam no processo de mudança, claro que é um trabalho maior, ao invés de sensibilizar os professores você tem que sensibilizar a equipe multiprofissional porque ninguém precisa pensar igual. Tem que ter bom senso, ética.
A questão sinalizada pela AS1 (25 fev. 2011) surge atrelada à cultura da
exclusão, também identificada na estrutura escolar de ensino, que , segundo Arroyo
(2001, p. 12) ”legitima práticas, rotula fracassados, trabalha com preconceitos de
raça, gênero, classe, e exclui”. A cultura de exclusão traz à discussão a disputa pela
120
riqueza socialmente construída na sociedade, pois se reformula e se redefine, mas
por ser estrutural, permanece substantivamente a mesma.
Martins (1997, p. 14) sinaliza a ideia de contradição, ao afirmar que
não existe exclusão, existe contradição. Existem vítimas de processos sociais, políticos e econômicos excludentes; existe o conflito pelo qual os processos excludentes proclama seu inconformismo, seu mal-estar, sua revolta, sua esperança, sua força reivindicativa e sua reivindicação corrosiva. Essas reações, porque não se trata estritamente de exclusão, não se dão fora dos sistemas econômicos e dos sistemas de poder. Elas constituem o imponderável de tais sistemas de poder, fazem parte deles ainda que os negando.
Dentre os autores que comungam essa perspectiva, encontra-se Sawaia
(2001), para quem a exclusão é parte de um processo de contradição, posto que ela
nega a inclusão, ao mesmo tempo em que faz parte dela. Portanto, trata-se de
um processo complexo e multifacetado, uma configuração de dimensões materiais, políticas, relacionais e subjetivas. É processo sutil e dialético, pois só existe em relação à inclusão como parte constitutiva dela. Não é uma coisa ou um estado, é um processo que envolve o homem por inteiro e suas relações com os outros. Não tem uma única forma e nem é uma falha do sistema, devendo ser combatida como algo que perturba a ordem social, ao contrário, ela é produto do funcionamento do sistema (p. 9)
Existem diferentes abordagens sobre a exclusão apresentadas por vários
autores, no entanto, considera-se ser essa categoria resultado da desigualdade
social, como consequência das relações de produção e da divisão das classes
sociais próprias do sistema capitalista. Por conseguinte, a “inclusão social” pode ser
um grande desafio a ser enfrentado pela escola pública brasileira, porque ela só
será uma escola inclusiva quando garantir a universalidade do direito e a qualidade
dos serviços à população. A inclusão educacional deve oportunizar a introdução de
um outro olhar e de um outro agir. Trata-se de uma maneira nova “da gente se ver,
ver os outros e ver a educação. De se aprender a conviver com as diferenças; as
mudanças, com aquilo que está além das imagens. Uma maneira da gente apostar
no outro” (MRECH, 1999, p. 28).
A escola como equipamento social precisa atentar para as diferentes formas
de manifestação de exclusão em vez de ratificá-la.
Nesse processo de contradição, também presente na educação inclusiva, a
pesquisadora buscou saber das assistentes sociais que estratégias o Serviço Social
utiliza para efetivar suas ações. Conforme a AS1 (25 fev. 2011),
121
o Serviço Social segue as diretrizes da Secretaria Estadual da Educação, de acordo com os princípios da nossa profissão. A articulação em rede garante os direitos de proteção por meio de campanhas. O GTE nos dá a condição de formação e fazemos parte da Comissão de Seguridade Social – Cress, através dela procura-se refletir sobre estratégias para se garantir os direitos e a proteção social.
Como estratégia para a efetivação da política de educação, AS2 (5 mar. 2011)
registra que o primeiro passo é o conhecimento, e o segundo, a estratégia
adequada. Segundo ela,
se você for fazer pelos trâmites normais não chega, e se chega, passa da hora. Quando tem um posto de saúde próximo da escola a gente tenta fazer essa articulação, mas não é fácil, no final procuramos outras alternativas em outras instâncias, é a nossa rede de relacionamentos em ação porque a rede de serviço de saúde não funciona. A falta de vontade política é que impera.
Com essa fala, constata-se uma redução das responsabilidades do Estado no
campo das políticas sociais, fruto das práticas neoliberais, também, expressas,
dentre outras, a redução dos recursos, ocasionando a precarização dos serviços
sociais públicos.
Para elucidar essa questão, buscou-se na obra de Yasbek (2000b) os
referenciais teóricos. A autora afirma que as políticas sociais públicas só podem ser
pensadas politicamente, quando referidas às relações sociais concretas e como
parte das respostas que o Estado oferece às demandas sociais, situando-se no
confronto de interesses de grupos e classes sociais, no caso específico, na
educação. É nesse sentido que a autora afirma que a política social expressa
relações de conflitos e contradições, decorrentes da desigualdade estrutural do
capitalismo.
AS3 (24 mar. 2011) afirma que, na escola, “o Serviço Social trabalha com
criança com dificuldade de aprendizagem, com a criança vítima de abuso, desvio de
comportamento, crianças faltosas”. Por este motivo, a demanda de trabalho do
assistente social é muito grande e para a efetivação do planejamento estratégico,
essa profissional assinala:
nós trabalhamos com os professores de apoio, através de reuniões. Na área pedagógica, incitamos os professores a conhecerem esses alunos, o aluno é diferente e precisa de um atendimento diferente. Mobilizamos os profissionais para conhecer esses alunos e está atuando diferentemente. Trabalhamos com os professores por meio de palestras, depois partimos para pesquisa em sala de aula. Trabalhamos com alunos sobre os valores, a gente vê as questões das famílias, usamos dizer que elas são diferentes não
122
mais desestruturadas, trabalhamos por meio de contatos telefônicos, trabalhamos junto às instituições públicas e privadas buscando subsídios para atuarmos nas escolas –parcerias (AS3, ( 24mar. 2011).
A AS3 (24mar. 2011) relata que a escola direciona todos esses atendimentos
pela mobilização da equipe que atua na escola, aglutinando as pessoas e
sensibilizando as famílias para a necessidade de assistência ao educando. A
profissional, todavia, afirma que as famílias, às vezes, não têm o compromisso de
buscar os serviços, ou desconhecem as propostas.
Ainda, em relação à direção no atendimento, a AS4 (2 abril. 2011) destaca:
a gente busca os programas que são direcionados, mediante parcerias, sem as quais o trabalho fica a desejar. Parcerias acontecem com a educação, saúde, conselhos de direitos e das políticas públicas, conselho tutelar, Ministério Público e com algumas instituições que se colocam à disposição.
Verifica-se que o Serviço Social exerce seu caráter mediador. A mediação, na
perspectiva deste estudo, vai além do que é comumente entendido como a ação ou
ato de atuar como mediador de conflitos de natureza familiar, política ou jurídica.
Antes, a pesquisadora compreende a mediação como uma categoria objetiva,
ontológica59 que independentemente do sujeito, está presente em qualquer realidade
(LUKÁCS, 1979).
A mediação representa uma das categorias centrais da dialética, inscrita no
contexto da ontologia social marxista e possui dupla dimensão, sendo ontológica e
reflexiva, simultaneamente. Para Pontes (1995, p. 39-41), ela é ontológica, pois se
faz presente em qualquer realidade, “independente do conhecimento do sujeito”, e
reflexiva porque necessita “construir intelectualmente mediações para reconstruir o
próprio movimento do objeto”.
Pontes (1995) ressalta que a tríade categorial singular-universal-particular
caracteriza a forma metodológica mais fecunda no plano do pensamento dialético.
Parte-se do entendimento de que o ser social (totalidade) e seus complexos
dinâmicos estão submetidos a uma dada legalidade social, que embora apresente
um caráter universal para o ser social, expressa-se de modo particular em cada
complexo, “determinadas pelas necessidades e conexões internas dos fenômenos e
processos sociais”, conforme Marx (1988, p. 5).
59 Parte da filosofia que estuda as formas de existência dos seres, ciência, doutrina ou teoria do ser (PONTES, 1995).
123
Nesse sentido, ao considerar as discussões sobre trabalho, cidadania, família,
violência, drogas, sexualidade, adolescência e outras que têm se infiltrado no corpus
escolar, exige-se que assistentes sociais e demais profissionais registrem essas
temáticas em sua agenda profissional, façam-se requisitados nesse ambiente
educacional, a fim de que venham a atuar na mediação/criação de projetos calcados
na perspectiva da educação emancipadora. Essa torna- se mais frequente e é consequência da não incorporação na rede
de ensino do enfrentamento desses temas à sua rotina que se configuram como
fortes desafios para os diferentes profissionais e demais sujeitos sociais desse
contexto. Pode-se pensar em um trabalho, em que educadores, no caso em pauta,
estariam completando saberes e experiências, mediados pela interdisciplinaridade,
para lidarem com a realidade dada, no dia a dia da escola.
É importante frisar que os elementos presentes no contexto escolar não
constituem justificativa para a inserção de assistentes sociais nas instituições de
ensino. A presença do Serviço Social na escola deve estar vinculada às estratégias
de enfrentamento das realidades socioeducativas, tendo em vista essa inserção
representa uma oportunidade mais ampla de organização do trabalho coletivo na
esfera da política educacional. A formação de uma equipe multiprofissional, que
trabalha na interdisciplinaridade, contribui para esse processo, porque configura um
conjunto mais amplo de profissionais especializados na efetivação das políticas
sociais, como já ocorre na saúde, na assistência social.
A contribuição do Serviço Social apresenta-se como uma alternativa viável,
para um esforço conjunto de professores e demais profissionais de outras áreas na
perspectiva de mudanças no contexto histórico da escola cujo horizonte é a busca
de uma educação emancipatória.
Entender a legitimação do Serviço Social na política de educação requer
compreender a política como espaço que possui contradições e disputas e é
alterado, dialeticamente com a ação de sujeitos sociais e da sua função no campo
do trabalho e da cultura.
124
CONSIDERAÇÕES
O agir pessoal e profissional é construído com base na visão de mundo e de
sociedade. Desta forma, o processo de construção desta dissertação possibilitou
compreender a contribuição do Serviço Social na Política de Educação Inclusiva em
Goiânia, no período de 1999 a 2009, os desafios e perspectivas dessa política, na
visão dos profissionais da equipe multiprofissional (assistentes sociais,
fonoaudiólogas pedagoga, psicólogas professores) gestoras, educandos e mães.
Este estudo permitiu a compreensão e o entendimento da Política de
Educação Brasileira, especialmente, da educação inclusiva, no cenário nacional, em
Goiás e em Goiânia em diferentes contextos históricos, com seu arcabouço legal
e suas diretrizes.
A política educacional brasileira sempre esteve voltada para o mercado e
não alcançou um patamar de qualidade, apesar de ter ocupado posição de destaque
no interior das ações governamentais, motivada por acordos com os organismos
internacionais
Por isso, a educação deve ser entendida como experiência de mudança e
como instrumento de transformação das mentes, das relações sociais e os
profissionais que atuam no espaço escolar devem ter clareza dos seus objetivos das
suas ações e que elas sejam fundamentada no compromisso com a ética e a
política
O Serviço Social é uma profissão inserida na divisão social e técnica do
trabalho, que interfere na reprodução material da força de trabalho. Encontra nesse
contexto, um espaço contraditório, de um lado, está o modo de produção capitalista
e o tipo de relações de classe que determina e, de outro, as lutas sociais das classes
menos favorecidas, no sentido de conquista de maiores espaços na divisão social do
produto do trabalho. O assistente social aliado a outros profissionais, contribui para
responder a questões contraditórias impostas pela realidade social.
Por isso, o conhecimento interdisciplinar deve ser construído a partir do
conhecimento de cada ciência de modo a preservar os seus métodos e conceitos.
Portanto, a pesquisadora constatou a existência de uma equipe multiprofissional no
atendimento à demanda da Educação Inclusiva na rede estadual de ensino, em
Goiás.
125
De acordo com a análise dos sujeitos entrevistados, em especial da equipe
multiprofissional, gestores e professores, a educação inclusiva constitui realidade na
rede estadual, uma vez que hoje os educandos que apresentam algum tipo de
deficiência estudam com os demais na mesma sala de aula. Constatou-se que não
há indícios de segregação, apesar de persistir o preconceito.
Um fato identificado por este estudo e demonstrado nas entrevistas dos
próprios educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em
resposta às perguntas a eles formuladas, delineiam a inclusão de maneira positiva,
ainda que deficitária.
Todavia, déficits são pontuados pelos entrevistados (equipe multiprofissional,
gestores, professores, educandos e mães). Embora reconheçam avanços, afirmam
que em dez anos de existência do Programa existem problemas, de ordem
estrutural e político-pedagógico, que já deveriam ter sido sanados, dada a proposta
dessa modalidade de educação.
A acessibilidade representa um desses problemas estruturais. Os prédios
escolares não a oferecem adequadamente. Não se visualizam banheiros
apropriados, escadas de acesso próprio a cadeirantes, nem tampouco grades de
proteção nos acessos não regulares da escola, dentre outros equipamentos e
mobiliários adequados às pessoas com alguma deficiência.
A falta de acessibilidade, também envolve o atendimento a educandos com
algum tipo de deficiência, em órgãos públicos. Trata-se de uma das reclamações
apresentadas, especialmente por profissionais do Serviço Social, que assinalam a
inoperância desse serviço no atendimento à demanda encaminhada aos órgãos
governamentais, especialmente, os da saúde. Um dos entraves aos
encaminhamentos, não há vagas na rede de saúde e a família precisa aguardar que
lhes surjam. Outro problema, com muita incidência é a falta de iniciativa das famílias
na busca dos serviços especializados.
Essa realidade contraria a Política de Educação Inclusiva, uma vez que a
mobilidade deve ser assegurada para possibilitar o acesso do educando com
alguma necessidade. Deve ser promovida mediante a eliminação de barreiras
arquitetônicas e urbanísticas, nos prédios das instituições escolares (incluindo
instalações, equipamentos e mobiliários), e nos transportes escolares. Existe a
necessidade de adaptação das instalações físicas e ampliação de tecnologias para
melhor atender a esses educandos.
126
Falta de condições estruturais e pedagógicos, em sala de aula, tem sido um
dos entraves para uma educação inclusiva de qualidade na capital goiana. Nas
escolas, há o professor de apoio, no entanto, falta-lhe materiais apropriados e/ou
suporte especial para o manejo em sala de aula com educandos que apresentam
deficiência. Mesmo que o aparato metodológico seja o mesmo (livro didático e aula
expositiva), as professoras regentes assinalam que a adaptação do conteúdo para
educandos com deficiência motora ou visual é feita no plano de aula e a avaliação e
as atividades são diferenciadas.
A ineficiência das práticas pedagógicas e das estruturas físicas, do ponto de
vista das adaptações/recursos humanos e estruturais, é condição que concorre
para a evasão escolar dos educandos que apresentam necessidades específicas.
Confirma-se, portanto, a hipótese de que esses elementos contribuem para que
esses educandos abandonem a escola.
A equipe multiprofissional e os professores pontuam que uma questão
relacionada à evasão escolar é a morosidade no atendimento de solicitações feitas
aos órgãos estatais. A demora no atendimento provoca a descrença, a impaciência
ou o conformismo aos requisitantes envolvidos.
A pesquisadora constatou, mediante entrevista à equipe multiprofissional,
que a educação inclusiva ainda se depara com instituições educacionais e/ou
educadores que resistem a mudança de paradigma e ratificam a" lógica da
exclusão e seletividade". Segundo assistentes sociais e psicólogas, entrevistadas,
as unidades educacionais peneiram e excluem os educandos, desconhecendo as
diferenças de ritmos de aprendizagem, classe, gênero, etnia, sexo, credo e de
diversidades físicas, mentais e sensoriais.
Para analisar essa questão, a pesquisadora entrevistou os educandos com
algum tipo de deficiência e constatou que eles não têm consciência da exclusão na
escola ou na sala de aula por professores ou colegas. Depreende-se, portanto, que
a visão proposta pela equipe multiprofissional em relação ao desconhecimento das
diferenças esbarra justamente na questão pedagógica, e/ou ao quase inexistente
subsídio oferecido aos educadores para trabalhar com esses educandos de modo
diferenciado em sala de aula (muitas vezes o professor só tem o livro didático), bem
como no pouco material que esses educandos têm para seu próprio manuseio.
Em relação à prática pedagógica, constatou-se que ainda existe uma
inaptidão dos educadores em lidar com as diferenças em suas práticas educativas,
127
atribuída por esses profissionais a uma formação inadequada na graduação e não à
resistência à inclusão. Segundo eles, no ensino superior o educando não é
preparado para lidar com a inclusão, especificamente. Falta-lhe conhecimento das
diversas deficiências e também de uma didática apropriada, para lidar com elas.
Mesmo tendo participado de vários cursos de formação continuada, metade das
professoras entrevistadas se sente despreparada para relacionar teoria e prática
pedagógica na educação inclusiva, que, para elas, é uma realidade permeada de
obstáculos.
A ausência das famílias desses alunos na escola, conforme a equipe
multiprofissional e professores entrevistados, também é uma agravante na
viabilidade da educação inclusiva em Goiânia. Todos os profissionais envolvidos no
processo assinalam que esse fator dificulta o desenvolvimento do educando e os
atendimentos especializados a que são encaminhados, pois muitas famílias sequer
vão em busca desses atendimentos. O motivo não ocorre por falta de informação,
mas, quase sempre, em virtude da apatia, que impede a parceria educando-
família-escola, pois não se identificam como sujeitos capazes de intervir na
educação, com uma função social na escola e não se vê no processo educativo.
Assim, estimular a participação da família no contexto escolar é uma das atribuições
do Serviço Social.
A inexistência de uma equipe multiprofissional permanente foi constatada
pela pesquisadora. A maioria dos profissionais entrevistados, que compõem essa
equipe, desenvolve um trabalho itinerante mediante contrato temporário. O
vencimento desse documento impede que determinado profissional dê andamento
ao trabalho que vinha desenvolvendo ao ser substituído por outro profissional que
passa a reiniciar todo o processo de trabalho precarizado.
A necessidade da efetivação desses profissionais na escola, mediante
concurso público é uma questão política e uma exigência formal do processo
histórico, a fim de que o trabalho em desenvolvimento tenha continuidade.
Respaldada nas afirmativas dos sujeitos pesquisados, a intervenção da equipe
multiprofissional na escola é facilitadora na proposta de tornar a inclusão concreta,
pois impulsiona uma reflexão política dos agentes do contexto escolar (gestores,
professores, pais, alunos e demais profissionais da escola), a fim de que possam
reconhecer seus direitos e deveres, visando a cidadania. Essa equipe defende a
realização de concurso público para a resolução de sua permanência definitiva na
Política de Educação Inclusiva no Estado de Goiás.
128
Nessa equipe, está inserido o Serviço Social que busca a garantia dos
direitos sociais, o direito à educação tendo como fundamento ético-político seu
Código de Ética. Segundo as assistentes sociais entrevistadas, sua participação na
Política de Educação Inclusiva mostra-se desafiadora, pois exige que ultrapassem
limites institucionais, mediante a superação de uma ideologia assistencialista para
uma construção coletiva com os demais profissionais. A desvalorização profissional
ou a falta de entendimento do papel desenvolvido pelo assistente social na escola
leva gestores desta instituição a atribuir maior valor ao projeto de outros
profissionais da equipe (fonoaudiólogas e psicólogas) por entenderem que realizam
um trabalho terapêutico. Portanto, o papel do assistente social no contexto escolar
só será aceito e reconhecido pelo coletivo da escola, quando esse profissional vier
exercer competências e habilidades em respostas às demandas do processo
educativo.
Assim, reafirma-se a necessidade de o assistente social definir a sua
identidade profissional com base em novos posicionamentos críticos, políticos e
éticos. Esses aspectos, aliados ao conhecimento e à competência, fortalecerão o
Serviço Social nas ações cotidianas do contexto escolar.
Cotidianamente, as ações dos assistentes sociais abarcam questões
relacionadas ao abandono, à evasão, às drogas, às agressões, e, internamente, às
divergências de ideias entre os demais profissionais da equipe multiprofissional
quanto à solução de dada situação. Quase sempre, essas situações requerem
soluções imediatas e a intervenção de organismos estatais, como Ministério
Público e outros.
A falta de retaguarda por parte do governo é um entrave para a efetivação de
ações do Serviço Social e caracteriza uma contradição. As dificuldades de
acessibilidade apresentadas ao educando com necessidades educacionais
especiais são extremas, tanto no aspecto físico, quanto nos encaminhamentos aos
órgãos públicos. Resta ao assistente social, para a efetivação de suas ações,
apropriar-se de conhecimento necessário ao seu fazer profissional.
Apesar desses problemas, a contribuição do assistente social na Rede
Estadual de Educação, na perspectiva da inclusão, é uma realidade. Esse
profissional, além de contribuir na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP)
da escola, subsidia os professores regulares e de apoio, além dos demais
funcionários, por meio de palestras, reuniões e pesquisas em sala de aula.
129
Com as famílias, o Serviço Social efetiva encaminhamentos, realiza contatos
e reuniões, e as sensibiliza para as necessidades dos educandos. Ademais,
mobiliza e articula os recursos/serviços seja de órgãos públicos ou entidades
privadas. Busca os programas que são direcionados, a esse público, firmando
parcerias com instituições públicas e privadas como estratégia de ampliação do
acesso dessas famílias aos bens e serviços produzidos. A práxis do Serviço Social,
portanto, apresenta-se como uma alternativa, cujo esforço aliado aos demais
educadores (fonoaudiólogas, psicólogas, pedagoga, gestores, professores e alunos)
visa reformas significativas na perspectiva histórica de transformação da escola, na
busca de uma educação emancipatória.
Todavia, ressalte-se que as transformações conceituais e semânticas não
têm provocado mudanças que contribuam, efetivamente, para a inclusão
educacional de educandos com necessidades educacionais especiais, que se
encontram à margem de qualquer forma de ascensão social. Verifica-se que as
formas de inclusão praticadas no sistema ainda se embasam no mercado, uma vez
que os profissionais que trabalham na educação inclusiva estão nele inseridos,
conduzindo-os a uma nova desigualdade social que separa materialmente e unifica
ideologicamente, não provendo a necessária “inclusão social” mediante uma
educação voltada para as diferenças individuais.
Essas mudanças, para a equipe multiprofissional estão permeadas de
desafios a serem superados para efetivar a inclusão educacional. A função
socioeducativa da equipe multiprofissional precisa ter a garantia de atuação
permanente na escola e não temporária como atualmente vem acontecendo.
A escola, em seu contexto, precisa trabalhar o PPP, no seu Regimento
Escolar, buscando efetivar mediante discussões e debates, as propostas que estão
contempladas no Plano de Desenvolvimento da Educação.
O preconceito ainda permeia algumas práticas na relação dos professores,
gestores e pessoal administrativo com os educandos com necessidades
educacionais especiais é de proteção. Embora no contexto escolar, a atitude é
evidente uma das questões mais sérias, posta por uma das psicólogas entrevistada
é a ausência dos profissionais para atuar na equipe multiprofissional, de modo, é
compreensível que a sociedade encontre dificuldade para incorporar esse modelo
educacional.
Um trabalho de sensibilização, mobilização e orientação que dê garantias dos
direitos, bem como o trabalho do professor no que se refere a aceitar esse
130
educando, tratando a questão de forma mais acessível é uma possibilidade de
mudança na concepção e na prática da educação inclusiva em Goiânia. A
mobilização social realizada pelo assistente social nos espaços educacionais é
condição de organização por uma escola com qualidade e, ainda, como exercício
democrático busca fortalecer os interesses da comunidade.
Outra frente de intervenção do assistente social é a articulação da escola com
a sociedade, sobretudo com as demais políticas sociais públicas, com vistas a
aglutinar forças comprometidas com a efetivação de projetos societários de
interesse da população.
A formação dos professores regentes e de apoio precisa ser mais intensa e
permanente. Muitos professores que atuam em sala de aula não têm conhecimento
da técnica a utilizar, com qual método trabalhar e como agir diante de uma criança
que não responde às expectativas, ao conteúdo, configurando, portanto, um desafio
a ser vencido.
De acordo com as assistentes sociais, fonoaudiólogas e gestores, a presença
dos pais não é constante no ambiente escolar, e não há envolvimento deles, mesmo
quando comparecem as reuniões. Essas profissionais salientam que o trabalho por
elas desenvolvido depende da participação da família. No entanto, é difícil trabalhar
com essas pessoas, trazê-las para o dia a dia da escola. A ausência dessa
participação relaciona-se sobretudo, a tomada de decisões e também, o
acompanhamento do processo educativo dos seus filhos..
Quanto às perspectivas para a Educação Inclusiva em Goiânia, cada grupo
de profissionais, mãe e educando teceram considerações, a respeito como se
segue:
a) assistentes sociais- a criação de cargo de assistente social na
Secretaria de Educação; realização de concurso para provimento das vagas; busca
de melhorias no espaço para os profissionais; melhorias nas áreas de saúde e
assistência; avanço na inserção da equipe nas várias escolas e a união dos
profissionais, a fim de desenvolverem trabalho em parceria;
b) psicólogas- que cada unidade escolar da rede estadual de ensino,
em Goiás, venha a ter um grupo de pessoas para dar apoio diário a todo corpo da
escola e que esse trabalho seja integrado; que haja mais investimentos
governamentais na inclusão;
131
c) fonoaudiólogas- a perspectiva é que haja mais espaço para que os
profissionais atendam à demanda na escola; que além da formação, o professor de
apoio, de recurso e o regente busquem informações sobre a especificidade do seu
trabalho , que o Estado invista na pós-graduação; que recursos para o trabalho do
professor em sala de aula seja prioridade; que as dificuldades para conseguir
xerocópias sejam extintas (delas depende o trabalho para se efetivar levantamentos,
promover encaminhamentos e outros), especialmente as ligadas à Subsecretaria
Metropolitana;
d) pedagoga- a valorização e reconhecimento do trabalho das
profissionais da pedagogia; que os pedagogos recebam maior ajuda da gestão da
escola e façam parte da equipe multiprofissional;
e) gestoras: maior envolvimento de todos os sujeitos que participam da
educação inclusiva em Goiânia: família, professores regentes e governo,
especialmente, no que concerne aos recursos financeiros;
f) professores: respeito às diferenças; valorização das potencialidades
do educando com de deficiência; operacionalização do tempo para preparo de
material e planejamento de atividades com a equipe; tempo e dinheiro para
investimento na formação continuada; que haja adaptações do espaço físico da
escola para locomoção dos educandos com necessidades educacionais especiais;
comprometimento da comunidade escolar com os educandos; envolvimento das
famílias nas atividades da escola; transformação da passividade da comunidade
escolar em ações que contribuam para uma escola democrática; interface com as
demais políticas públicas, em especial da saúde, da criança e adolescente, da
assistência social à educação inclusiva.
g) educandos- entrevistados não acentuam diretamente as
perspectivas da inclusão, todavia ao analisar as dificuldades por eles apresentadas
em sala de aula, subtende-se que o acesso a material pedagógico, ou tê-lo em mãos
para manuseio, visualização e leitura são suas expectativas.
h) Mães- entrevistadas consideram que precisa haver um trabalho na
mídia para divulgar a inclusão educacional com a perspectiva de que outras famílias
usufruam desse direito social.
Portanto, diante da visão da equipe multiprofissional, das gestores, das
professoras, das mães e dos educandos a inclusão é realidade no estado de Goiás
132
e em sua capital, muito embora permeada de contradições. É uma modalidade de
educação que necessita de todo um processo para que se desenvolva e que requer
ações dos sujeitos nela envolvidos, desde a máquina governamental que deve
subsidiar aparato físico e tecnológico e viabilizar as políticas públicas e toda a
comunidade escolar, atores imprescindíveis para a efetivação de uma escola que
aceita as pessoas em suas múltiplas dimensões, como ser social. Concluindo, pode-se afirmar com base nos dados empíricos que a Política de
Educação Inclusiva de Goiás, na forma como vem sendo executada, não reflete ao
preconizado nas suas diretrizes e princípios. O acesso das pessoas com
necessidades educacionais especiais à escola pública é mínimo, pois dos 1.834
educandos matriculados nas três escolas pesquisadas, apenas 34 possuem
necessidades específicas, ou seja; 1,85% do total. Somando-se a isso, a falta de
vontade política do governo em oferecer serviços com qualidade aos cidadãos e a
burocracia como impeditivo no acesso aos mesmos são fatores que dificultam a
execução desta política.
A inclusão fora de uma relação dialógica aparece de forma perversa, pois
considera o direito, abre acesso para a entrada nos espaços educativos, porém,
muitas vezes apresenta-se de forma disfarçada em vez de assegurar o saber, a
ampliação do universo cultural do sujeito, pois não há compromisso ético e político
com uma prática que vise o desenvolvimento cognitivo, cultural e afetivo desses
sujeitos. Ela, não impede o recém incluído de vulnerabilidades. Por isso é preciso
que ele seja apoiado na “inclusão”, a fim de ser inserido, para conquistar/recuperar
sua condição de sujeito pertencente a uma sociedade desigual mas, deixará de ser
dual. Deixará de ser uma sociedade em que uma parte rejeita, descarta, elimina e
até extermina fisicamente quem ficou à margem dela.
Trata-se de um árduo caminho a ser trilhado, pois há respostas prévias sobre
a educação, os alunos, as escolas, os professores, o processo de aprendizagem.
Assim, para que se tenha uma Educação com qualidade, de formação integral dos
sujeitos, com respeito à pluralidade dos seres humanos é imprescindível que a
intervenção do Serviço Social seja protagonizada em diversos espaços de
discussão. Que a (o) assistente social seja o grande operário, em conjunto com os
diversos atores escola, na luta pelo acesso/permanência e qualidade da educação,
mas uma educação comprometida com a emancipação, com a formação do sujeito
em sua plenitude.
133
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ANEXOS
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LISTA DE ANEXOS
ANEXO I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................147
ANEXO II - MODELO DE ENTREVISTA /PROFISSIONAIS ..................................153
ANEXO III - MODELO DE ENTREVISTA /GESTORES .....................................154
ANEXO IV - MODELO DE ENTREVISTA/ ALUNOS ..............................................155
ANEXO V - MODELO DE ENTREVISTA/ PROFESSORES ..................................156
ANEXO VI - ESCOLA ESTADUAL DOM ABEL .....................................................157
ANEXO VII - ESCOLA ESTADUAL JOSÉ HONORATO ........................................160
ANEXO VIII - ESCOLA ESTADUAL OLGA MANSUR ...........................................163
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ANEXO I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
Mestrado em Serviço Social Núcleo de Estudo Pesquisa Estado Sociedade e Cidadania/NUPESC
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA: Título do projeto: Inclusão Social na Rede Estadual de Ensino: desafios e perspectivas. Objeto da Pesquisa: O Serviço Social e sua intervenção na Política de Educação inclusiva em Goiânia (1999-2009). Orientadora: Professora Dra. Regina Sueli Sousa Endereço eletrônico: [email protected] Pesquisadora responsável: Mestranda – Antônia Maria Nascimento Moreira Cruvinel, matrícula n.2009.1.098.001.0016-MV /PUC Goiás. Fone: (062) 3942-7018 e 8167-7226.
O senhor ou senhora estão sendo convidados a participar como voluntário desta pesquisa que tem como objetivo - Identificar no processo de intervenção da equipe multiprofissional da Rede Estadual de Ensino, a contribuição das ‘assistentes sociais, face a inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais, no município de Goiânia, no período de 1999 a 2009. Esta pesquisa é parte integrante da dissertação de curso de Mestrado em Serviço Social/UCG. Para uma maior compreensão desse processo serão prestados os seguintes esclarecimentos quanto aos objetivos específicos
Compreender como se dá a intervenção da equipe multiprofissional nas
escolas da Rede de Apoio à Inclusão. Analisar a contribuição do Serviço Social no alcance dessa política
educacional. Conhecer as percepções dos profissionais da equipe multiprofissional/ gestores/ gestores e alunos acerca da “inclusão social” na Rede Estadual de Ensino. JUSTIFICATIVA
A pesquisa intitulada “inclusão social” na Rede Regular de Ensino: desafios e perspectiva é uma necessidade crescente, considerando que a política de educação inclusiva foi implantada no estado de Goiásdesde 1999. Portanto, predende-se conhecer a dinâmica das escolas no município de Goiânia ,a estrutura do Serviço
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Social, assim como a atuação da equipe multiprofissional na materialização dos direitos das pessoas com necessidades educacionais especiais, em consonância com essa política.
OBJETIVOS Geral
Identificar no processo de intervenção da equipe multiprofissional da Rede Estadual de Ensino a contribuição do Serviço Social, no tocante à inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais, no município de Goiânia,Goiás, no período de 1999 a 2009. Específicos
Compreender como se dá a intervenção da equipe multiprofissional nas escolas da Rede de Apoio à Inclusão;
Analisar a contribuição do Serviço Social no alcance da Política Educacional
Inclusiva, em Goiânia, no período de 1999 a 2009; Identificar como o Serviço Social está estruturado nessa política educacional; Conhecer as percepções dos profissionais da equipe multiprofissional/
gestores/ professores e os alunos da “inclusão social” na Rede Estadual de Ensino. Sujeitos participantes
Os sujeitos da pesquisa são 25 pessoas, distribuídas por categorias,
conforme se segue: assistentes sociais, e um desses profissionais que atua na Coordenação de Ensino Especial da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) e os demais nas unidades escolares, além de psicólogas e fonoaudiólogas vinculadas à equipe multiprofissional da referida coordenação, gestores, professores e alunos com necessidades educacionais especiais. Estes últimos devem portar algum tipo de deficiência: auditiva, física, visual, transtorno do déficit de atenção, superdotação, síndromes e outros que não se incluem nessa categoria, vinculados às três unidades educacionais lócus desta pesquisa. Local da pesquisa
A escolha do local da pesquisa ocorreu em virtude do número de alunos
matriculados , de acordo com as Diretrizes Operacionais da Rede Estadual de Ensino de Goiás 2009/2010. São consideradas unidades de porte I aquelas que contam com 1.701 a 2.559; porte II – 1080 a 1700; porte III – 600 a 1.079; porte IV – 210 a 599 e, porte V abaixo de 210 estudantes. Optou-se pelas seguintes unidades: Escola Estadual Hugo de Carvalho Ramos - Avenida E, Qd. B11, S/N - Jardim Goiás (porte 1); Escola Estadual Genesco F. de Freitas – Rua Recanto do Bosque, esq/ com Rua Tropical – Recanto do Bosque (porte 3) e Escola Estadual João Crisóstomo – Avenida Manchester, Qd. 248, Lt. 10 – Jardim Novo Mundo (porte 5), com sede nesta capital.
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Envolvimento na pesquisa
Ao participar deste estudo senhor ou a senhora permitirão que a pesquisadora, Antonia Maria Nascimento Moreira Cruvinel, utilize as informações fornecidas com ética, respeito e rigor científico.
O senhor ou a senhora têm liberdade de recusar-se a participar, e ainda
prosseguir participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para o Sr. e a Sra. Sempre que julgar necessário, deve solicitar mais informações sobre a pesquisa por meio do telefone (62) 8403-1014, da mestranda responsável pela pesquisa ou (62) 3946-1070 do Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Os dados empíricos utilizados na pesquisa serão colhidos com base nas informações fornecidas pelo Senhor ou a Senhora, como também mediante leitura a ser feita nos seguintes documentos liberados à pesquisadora pelo Senhor ou Senhora , (gestor), após sua concordância e assinatura deste documento (TCLE). São eles: relatórios diários, resoluções, regimento interno, ofícios, notificações, projetos, planilha de dados e outros. Duração da pesquisa
A duração da pesquisa/coleta de dados será de dois meses de dezembro de
2010 a janeiro de 2011. E o conjunto do projeto acontecerá em seis meses (novembro, dezembro/2010, janeiro a abril/2011).
Sobre o critério de inclusão e exclusão Inclusão
Participarão da pesquisa os sujeitos que atenderem aos requisitos: ter disponibilidade para atuarem na pesquisa; ser assistente social, fonoaudiólogo, psicólogo, professor, gestor atuantes nas escolas lócus do estudo. Completam o quadro dois alunos de cada uma dessas escolas, que estejam cursando o ensino básico e que apresentem necessidades educacionais especiais e que ainda não tenham completado a maior idade. Em relação aos alunos, por se tratarem de grupos vulneráveis e, em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente, só poderão participar aqueles que tiverem a autorização assinada pelo responsável legal.
Os sujeitos serão escolhidos de forma livre. Inicialmente, será apresentado
este projeto aos profissionais, gestores e alunos, enfatizando-se os objetivos, objeto, seu caráter científico, assim como o caráter ético do material coletado. O critério de livre escolha deve-se ao fato de que a participação espontânea permitirá maior engajamento dos pesquisados em todas as fases do trabalho. Exclusão: Serão excluídos os sujeitos que não possuem disponibilidade para participar da pesquisa, que não atuam nessas unidades escolares e que não sejam profissionais das áreas estipuladas. Quanto aos alunos, excluem-se os que não apresentam necessidades educacionais especiais, que não estejam devidamente
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matriculados e cursando qualquer série do ensino básico e que já tenham atingido a maioridade.
As pessoas envolvidas na pesquisa poderão desligar-se quando considerar
oportuno, ou seja, se não estiverem satisfeitos com o trabalho, apresentarem problemas de ordem pessoal ou administrativa ou se a pesquisadora entender que o participante não contribuirá para sua pesquisa.
Riscos e desconfortos
Conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, os riscos e os danos inerentes à pesquisa são:
II.8 - Risco da pesquisa - possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente. II.9 - Dano associado ou decorrente da pesquisa - agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo científico.
Sua participação nesta pesquisa foi planejada de forma a não lhe trazer
nenhuma complicação de qualquer natureza, seja de ordem legal, trabalhista, previdenciária, situação vexatória ou de constrangimento que possa prejudicá-lo como sujeitos da pesquisa. Os procedimentos adotados obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS/CEP). Por princípio, nenhum dos procedimentos usados oferece riscos físicos e/ou psicológicos, nem à sua dignidade humana como sujeito social envolvido.
No entanto, caso ocorra qualquer imprevisto que demande encaminhamento,
o senhor ou a senhora serão encaminhados ao Centro de Pesquisa em Psicologia da PUC Goiás (Anexo IV).
Confidencialidade
As entrevistas serão nominados por números como forma de manter o sigilo sobre as identidades. Essas informações serão transcritas e submetido a sua apreciação para darem ciência à utilização dos dados. O material estará sob a guarda da pesquisadora por cinco anos. Após esse período o material será doado ao Bando de Dados do Nupesc/Puc-Goiás.
Benefícios
Sua participação, seja como gestor, aluno, assistente social e outros profissionais da Equipe Multiprofissional irá subsidiar o aprofundamento das reflexões e debates sobre a contribuição/intervenção do profissional de Serviço Social na Rede de Apoio à Inclusão. Outro aspecto refere-se ao acesso / permanência das pessoas com necessidades especiais nas escolas da Rede Regular e subsidiará a utilização de um instrumento social democrático relevante, na formulação, fiscalização e consolidação das políticas de educação inclusiva.
151
Pagamento A pessoa entrevistada não terá nenhum tipo de despesa para participar desta
pesquisa e não receberá nenhuma remuneração por sua participação. No caso específico de ocorrer algum gasto extra (transporte, alimentação, etc.) o Sr. (a) será ressarcido por esta pesquisadora.
Destinação dos resultados
Os resultados finais da pesquisa comporão argumentos da dissertação de
Mestrado em Serviço Social da PUC-Goiás, ficando disponíveis no PPSS/NUPESC/PUC-Goiás, na Biblioteca Central/PUC, na Coordenação de Ensino Especial e Subsecretaria Metropolitana da Secretaria de Estado da Educação. Após cinco anos serão arquivadas as entrevistas no Banco de Dados do Nupesc-PUC-Goiás.
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Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)
Considerando os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da referida pesquisa.
Goiânia, _____ de ______________ de 2011
_________________________________________________ Nome do participante da pesquisa
Assinatura do participante da pesquisa
_________________________________________________ Assinatura do pesquisado
_________________________________________________
Assinatura da pesquisadora
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ANEXO II - MODELO DE ENTREVISTA /PROFISSIONAIS
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
Mestranda: Antonia Maria Nascimento Moreira Cruvinel Orientadora: Profa. Dra. Regina Sueli Sousa
1 Identificação 1.1.Data de nascimento: 1.2 Profissão: 1.3 Nome da Unidade Escolar: 1.4 Endereço: 1.5 Sexo: 1.6 Formação profissional 1.7 Admissão no local de trabalho: 17.1 Há quantos anos? 2 Aspectos técnicos 2.1 Qual a concepção de educação que orienta o trabalho da Fonoaudiologia, da Psicologia e do Serviço Social? 2.2 O Projeto Ético-Político Profissional nas práticas do Serviço Social na Política de Educação Inclusiva se efetiva de que forma? 2.3 Como os profissionais da equipe multiprofissional trabalham as contradições pertinentes as atividades coletivas relacionadas a garantia do direito à educação? 2.4 Como acontece a inserção do Serviço Social na Política Educacional, tendo em vista as especificidades da práxis do assistente social? 2.5 Como o trabalho da equipe multiprofissional reflete-se no acesso e na permanência das pessoas com necessidades educacionais especiais na escola? 2.6 Estratégias de articulação e mobilização utilizadas pelo Serviço Social no acesso aos direitos e a proteção social. 2.7 Princípios que norteiam o Serviço Social na Rede Estadual de Educação. 2.8 Quais os desafios e as perspectivas da inclusão educacional em Goiânia . 2.9 Como você avalia o desempenho da escola inclusiva em Goiânia?
Goiânia, _____/_____/2011.
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ANEXO III - MODELO DE ENTREVISTA /GESTORES PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL Mestranda: Antonia Maria Nascimento Moreira Cruvinel
Orientadora: Profa.Dra. Regina Sueli Sousa 1- Identificação 1.1 Idade: 1.2 Sexo: 1.3 Estado civil: 1.4 Endereço: 1.5 Formação profissional: 1.6 Como ocorreu a sua admissão nesse trabalho: 1.7 Nome da unidade educacional: 1.8 Endereço: 2- Aspectos técnicos
2.1 Como a escola tem se estruturado para receber os alunos com necessidades
educacionais especiais? 2.2 Na sua opinião, a equipe multiprofissional tem contribuído para o processo de
inclusão desses alunos? De que forma? 2.3 As instalações físicas/equipamentos são adaptados às necessidades dos
alunos? De que forma? 2.4 Como se dá a relação dos alunos com a escola? 2.5 Há formação continuada dos professores em relação à inclusão educacional? 2.6 Como é o envolvimento das famílias e funcionários da escola com os alunos da
Rede de Apoio à Inclusão? 2.7 Cite as causas que impedem a permanência das pessoas com necessidades
educacionais especiais na Rede de Ensino? 2.8 Quais os desafios e as perspectivas da educação inclusiva ? 2.9 Como você avalia a política de inclusão existente na Rede Estadual de Ensino em Goiânia ?
Goiânia, _____/_____/2011.
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ANEXO IV - MODELO DE ENTREVISTA/ ALUNOS
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
Mestranda: Antonia Maria Nascimento Moreira Cruvinel Orientadora: Profa. Dra. Regina Sueli Sousa
1 Identificação 1.1 Idade: 1.2 Sexo: 1.3 Estado Civil: 1.4 Endereço: 1.5 Você estuda em qual escola? 1.6 Qual o endereço? 1.7 Série que estuda? 1.8 Há quantos anos frequenta essa escola? 1.9 Por que você estuda nessa escola? 1.10 Como você se sente nessa escola? 1.11 O que ela significa para você? 1.12 Como os colegas se relacionam com você? 1.13 A escola tem todas as condições para você estudar? 1,14 Quais as dificuldades que você encontra no dia a dia da escola? 1.15 Como a sua professora trabalha com os alunos em sala de aula?
Goiânia, _____/_____/2011.
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ANEXO V - MODELO DE ENTREVISTA/ PROFESSORES
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
Mestranda: Antonia Maria Nascimento Moreira Cruvinel Orientadora: Profa. Dra. Regina Sueli Sousa
1- Identificação 1.1 Data de nascimento: 1.2 Profissão: 1.3 Nome da Instituição que atua/ Unidade Escolar: 1.4 Endereço: 1.5 Idade: 1.6 Sexo: 1.7 Formação profissional: 1.8 Admissão no local de trabalho: 1.8.1 Há quantos anos? 2- Aspectos sobre a inclusão 2.1 Na sua opinião, a inclusão das pessoas com necessidades especiais na Rede Estadual de Ensino na cidade de Goiânia é uma realidade ou mito? Por quê? 2.2 Você se considera preparada para lidar com as diferenças em sala de aula? 2.3 Quais os principais desafios que você enfrenta na sala de aula? 2.4 Na sua opinião, quais os indicadores que contribuem para a evasão escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais? 2.5 Você dispõe dos recursos pedagógicos necessários para o atendimento das demandas dos alunos? 2.6 Como é trabalhar com as diferenças de níveis em sala de aula? 2.7 As famílias dos alunos participam do contexto escolar ? Como ? 2.8 O que o gestor da escola oferece para você trabalhar com as diferenças? 2.9 O trabalho realizado por meio da equipe multiprofissional tem contribuído para a inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais? 2.10 Quais desafios você enfrenta para trabalhar com as diferenças? 2.11 Quais os desafios e as perspectivas da Educação Inclusiva em Goiânia ? 2.12 Como você avalia a educação inclusiva em Goiânia?
Goiânia, _____/_____/2011.
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ANEXO VI – ESCOLA ESTADUAL DOM ABEL
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160
ANEXO VII - ESCOLA ESTADUAL JOSÉ HONORATO
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162
163
ANEXO VIII - ESCOLA ESTADUAL OLGA MANSUR
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