INCENTIVANDO A LEITURA POR MEIO DE CONTOS DA … · cultivar a leitura em sala de ... produção de...
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INCENTIVANDO A LEITURA POR MEIO DE CONTOS DA LITERATURA
BRASILEIRA
Autora: Celina de Andrade1
Orientadora: Ruth Ceccon Barreiros2
Resumo
Este artigo apresenta reflexões acerca da Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica intitulado "Incentivando a leitura por meio de contos da Literatura Brasileira", o qual propôs atividades voltadas à prática de leitura, tendo como recurso o gênero conto, da esfera literária. O público a que foi destinado às atividades foram os alunos da primeira série do Ensino Médio, turno vespertino, do Colégio Estadual Humberto de Campos - Ensino Fundamental, Médio e Profissional da cidade de Santo Antonio do Sudoeste - PR. Os estudos e as práticas referentes ao projeto estiveram vinculados ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná para formação continuada de professores, desenvolvido no período de 2010/2011. O principal objetivo do projeto foi formar leitores capazes de dialogar com o texto, de maneira ativa e dinâmica, e com o contexto social em que estavam inseridos os alunos. Teoricamente os estudos ampararam-se em uma perspectiva sociológica de leitura - Freire (2003) e Silva (1991 e 2005), interacionista de linguagem - Bakhtin (2003). Para os estudos da literatura e desenvolvimento das atividades utilizou-se o Método Recepcional, sugerido nas DCE – 2008 e defendido por Aguiar e Bordini (1988), as quais tomam por base os pressupostos teóricos da Estética da Recepção de Hans Robert Jauss (1979 – 1994) e da Teoria do Efeito de Wolfgang Iser (1996). Para o encaminhamento das leituras, em sala de aula, lançou-se mão, também, das estratégias de leitura, propostas por Solé (1998). Os resultados mostraram-se positivos, uma vez que os envolvidos puderam ampliar a competência em leitura.
Palavras-chave: Leitura; formação de leitores; contos; literatura brasileira.
1 Professora do Colégio Estadual Humberto de Campos - Ensino Fundamental, Médio e Profissional
de Santo Antonio do Sudoeste - PR. 2 Orientadora do Programa PDE. Doutoranda em Letras, pela UFBA – Salvador-BA, Mestre em
Linguística Aplicada ao Ensino da Língua Materna pela UEM – Maringá – PR. Docente do Colegiado de Letras da UNIOESTE – Campus de Cascavel, pesquisadora da área de Leitura e formação de leitores, literatura e ensino.
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Abstract
This article presents reflections on the Implementation of Educational Intervention Project entitled "Encouraging reading through tales of Brazilian Literature", which proposed activities related to the practice of reading, as the genre feature story, the literary sphere. The public it was intended activities were first graders of high school, afternoon shift, the State College Humberto de Campos - Elementary School, Middle and Professional of the city of Santo Antonio do Sudoeste - PR. Studies and practices related to the project were linked to the Educational Development Program (PDE), the Ministry of Education of Parana for continuing education of teachers, carried out during 2010/2011. The project's main goal was to form readers capable of dialoguing with the text, an active and dynamic, and the social context in which students were entered. Theoretically studies bolstered in a sociological reading - Freire (2003) and Silva (1991 and 2005), interactional language - Bakhtin (2003). For the studies of literature and development activities, we used the method Recepcional, suggested in DCE - 2008 and defended by Aguiar and Bordini (1988), which are based on the theoretical assumptions of the Aesthetics of Reception Hans Robert Jauss (1979 - 1994) and Theory of the Effect of Wolfgang Iser (1996). For the delivery of lectures in the classroom, it employed, also, the reading strategies proposed by Solé (1998). The results were positive, since the power involved could extend in reading.
Keywords: Reading; training of readers; tales; Brazilian literature.
1 Introdução
Uma formação leitora proficiente é cada vez mais exigida no convívio social.
Ela não só colabora com a educação do ser humano como também o desafia a
conhecer novos mundos, a vivenciar novas experiências, ampliando-lhe o universo
cultural.
Embora se reconheça que a leitura é fundamental à vida das pessoas, muitas
não lhe atribuem o devido valor. Isso, por vezes, relaciona-se a vivência escolar
deficitária e pouco interessante. Contudo, para poder acompanhar as
transformações aceleradas por que passa o mundo, e ao mesmo tempo participar
ativamente da sociedade, há necessidade de se fazer da leitura um recurso de
3
aquisição de conhecimentos, além de hábito, como meio de o indivíduo não ficar à
margem dos acontecimentos.
Sendo assim, é de consenso entre muitos pesquisadores que o espaço ideal
para a efetivação da formação leitora é a escola, ou seja, compete ao professor essa
responsabilidade. Para atingir este objetivo faz-se necessário priorizar, valorizar e
cultivar a leitura em sala de aula. E, neste contexto, o professor deve atuar como
mediador, estabelecendo relações dinâmicas, propondo atividades inovadoras e
motivadoras de leitura, visando conquistar mais e mais interessados.
Com base nesse entendimento, concebeu-se o Projeto de Intervenção
Pedagógica: "Incentivando a leitura por meio de contos da Literatura Brasileira", que
ora se apresenta em forma de artigo. Lembrando que o artigo configura-se na última
etapa do processo de formação continuada, ofertada aos professores da rede
estadual, pelo Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria da
Educação do Estado do Paraná (PDE) - 2010/2011. As etapas anteriores
contemplaram estudos e pesquisas, participação em eventos científicos, elaboração
de projeto, produção de material didático e implementação do projeto de intervenção
pedagógica em sala de aula. Esse percurso de estudos possibilitou a ampliação dos
conhecimentos acerca dos temas leitura e formação leitora, além de uma maior
compreensão sobre a responsabilidade do professor em relação a este processo.
Teoricamente os estudos estiveram amparados em uma perspectiva
sociológica de leitura - Freire (2003) e Silva (1991 e 2005) e interacionista de
linguagem Bakhtin (2003), assim como em Aguiar e Bordini (1988) para o ensino da
literatura, além de outros pesquisadores. Para o encaminhamento das leituras em
sala de aula, adotou-se as estratégias de leitura, propostas por Solé (1998).
Na perspectiva sociológica de leitura, afirma Freire (2003), deve haver a
interação do sujeito com o contexto, e só assim, será possível a construção de
leituras diversas, bem como a produção de textos. Na concepção interacionista de
linguagem, a leitura é compreendida como um processo, o qual envolve o texto, o
autor e o leitor com suas perspectivas e seus conhecimentos prévios. Assim, o leitor
interage com o autor, por meio da interpretação, seguindo as pistas deixadas por
este ao longo do texto, e desse modo, consegue chegar às conclusões, podendo
concordar ou discordar delas. Para ser considerado um leitor ativo, há necessidade
de se estabelecer relação entre os conhecimentos já construídos anteriormente e as
4
informações obtidas no texto, fazer comparações e questionamentos, relacionados
ao seu conteúdo. Isso deve resultar em uma postura crítica diante do lido.
Tendo por base estes pilares teóricos e considerando-se a necessidade de
formação leitora, bem como as dificuldades apresentadas pelos adolescentes para a
leitura da literatura. Optou-se por trabalhar com alunos da primeira série do Ensino
Médio, visto que esta é uma fase de formação importante para aquisição da
competência em leitura que, quando bem conduzida, poderá figurar como um
recurso motivador para que estes alunos prossigam com os estudos.
A proposta de Intervenção Pedagógica teve como finalidade desenvolver
atividades que promovessem o interesse pela leitura, por meio de contos da
Literatura Brasileira. No intuito de aproximar o texto da realidade do aluno escolheu-
se contos que apresentassem como temática as relações familiares. Os contos
selecionados foram: Natal na barca, de Lygia Fagundes Teles (1992), A Caolha, de
Júlia Lopes de Almeida (2001) e O peru de Natal, de Mário de Andrade (2001).
Para a aplicação das atividades de leitura utilizou-se o Método Recepcional,
sugerido pelas DCE (2008) e proposto pelas autoras Aguiar e Bordini (1988), que
tomam por base os pressupostos teóricos da Estética da Recepção de Hans Robert
Jauss (1979-1994) e da Teoria do Efeito de Wolfgang Iser (1996). Esse método
prevê cinco etapas, conforme sejam: na primeira etapa se determina o horizonte de
expectativas do aluno/leitor; na segunda, verifica-se o atendimento do horizonte de
expectativas. Na terceira, ocorre a ruptura do horizonte de expectativas, de modo
que os alunos aprofundem seus conhecimentos; a quarta etapa prevê o
questionamento do horizonte de expectativas e, por fim, na quinta e última etapa dá-
se a ampliação do horizonte de expectativas. A escolha do Método ocorreu por se
acreditar que ele poderia colaborar na promoção dos alunos a leitores mais
eficientes, despertando-lhes a criatividade, possibilitando-lhes a expansão de seus
conhecimentos tanto de leitura como de mundo, mostrando-se, assim, adequado
aos estudos literários.
5
2 Linguagem, Leitura e Literatura
A linguagem é o veículo da comunicação social. Nesta perspectiva, é possível
afirmar que não há sociedade sem linguagem, assim como não há sociedade sem
comunicação. De acordo com Aguiar e Bordini, "é através da linguagem que o
homem se reconhece como humano, pois pode se comunicar com os outros homens
e trocar experiências" (AGUIAR; BORDINI, 1988, p. 9). Essa troca de experiência,
proporcionada pela linguagem, amplia os conhecimentos de mundo e cultural do
indivíduo. Para Bakhtin, "todos os diversos campos da atividade humana estão
ligados ao uso da linguagem". (BAKHTIN, 2003, p.261). Este pesquisador entende-a
como uma prática social e como meio de interação.
O ser humano precisa agir e interagir com o outro, pois é através do
intercâmbio linguístico, pautado nos gêneros discursivos (orais e escritos), presentes
nas variadas esferas sociais, que "o indivíduo se certifica de seu conhecimento de
mundo e dos outros homens, assim como de si mesmo, ao mesmo tempo em que
participa das transformações em todas essas esferas". (AGUIAR; BORDINI, 1988,
p.9). Assim, a linguagem deve ser concebida "como discurso que se efetiva nas
diferentes práticas sociais". (PARANÁ, 2008, p. 54). Para Koch e Elias,
[...] Os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos ativos que - dialogicamente - se constroem e são construídos no texto, considerado o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores. Desse modo, há lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. (KOCH; ELIAS, 2006, p. 10-11).
Neste entendimento, em que a linguagem e o texto apresentam-se como
prática social de interação, a leitura é concebida, também, como uma atividade
interativa, um processo de produção de sentidos mais abrangente e não como uma
decodificação mecânica das palavras, frases ou textos. Segundo as Diretrizes da
Educação Básica (2008):
6
[...] A leitura é um ato dialógico, interlocutivo. O leitor tem um papel ativo no processo da leitura, e para se efetivar como coprodutor, procura pistas formais, formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões, usa estratégias baseadas no seu conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência sociocultural. (PARANÁ, 2008, p.71).
A leitura como ato dialógico pressupõe que, para se encontrar o(s) sentido(s)
de um texto, o leitor terá que considerar aspectos do contexto, os conhecimentos
adquiridos, anteriormente, em leituras ou experiências vividas e armazenadas na
memória. Essa bagagem intelectual possibilitará uma melhor compreensão do texto
lido. Para Silva (2005, p. 6) "a boa leitura é aquela que, depois de terminada, gera
conhecimentos, propõe atitudes e analisa valores, aguçando, adentrando, refinando
os modos de perceber e sentir a vida por parte do leitor". Neste sentido, é preciso
formar leitores que leiam de maneira autônoma e que saibam utilizar os recursos
que estejam ao seu alcance para exprimir opiniões sobre aquilo que leram.
A Leitura é um dos meios mais eficazes para a realização de novas
aprendizagens. Existem três condições básicas para que o leitor veja na leitura uma
intenção e uma possibilidade de ampliação dos conhecimentos: ler nas linhas, ler
nas entrelinhas e ler para além das linhas. Dessa forma, quando se objetiva a
formação leitora, espera-se que os alunos sejam capazes de ir além das linhas,
significa ir além do texto, refletir sobre ele, relacionando-o aos aspectos sociais
circundantes.
Para Silva (1991, p. 49) "ler é possuir elementos de combate à alienação e
ignorância". Trata-se da leitura crítica, na qual o leitor procura (re)agir, diante das
injustiças sociais e construir um mundo mais humano, onde todos possam viver
dignamente. Neste sentido, cabe à escola e aos professores formar leitores
proficientes que lutem por um mundo melhor e mais justo.
É preciso compreender que para formar leitores, faz-se necessário que o
professor seja também leitor e conheça minimamente o gosto do público com quem
mantém contato. É importante, ainda, conhecer a vasta gama de pesquisas na área,
saber aplicar uma metodologia de ensino de leitura que seja geradora de interesse
em relação ao ato de ler. Segundo Martins (2007), para que a leitura se efetive, ela
precisa preencher uma lacuna na vida do aprendiz, atender a uma necessidade,
estar baseada em um desejo de expansão sensorial, emocional ou racional, na
vontade de conhecer mais. Assim, faz-se necessário empenho por parte do leitor
7
para que a leitura realmente seja significativa. Ler de forma eficaz é um ato que
precisa ser aprendido, logo, precisa ser ensinado. No entendimento de Silva (2005):
[...] Quem se dispõe a entrar numa sala de aula para ensinar tem de saber satisfatoriamente aquilo que ensina, tem de dominar os conteúdos e suas disciplinas; para orientar a leitura, o professor tem de ser leitor, com paixão por determinados textos ou autores e ódio por outros. O importante é não marcar passo, esperando por uma política oficial que nunca vem, é não deixar de buscar soluções sérias e caseiras, evitando o assassinato do potencial de leitura de milhares de crianças e jovens. (SILVA, 2005, p.14).
Neste viés, tanto a escola quanto o professor têm papel decisivos na
formação de leitores. Para melhor cumprir essa tarefa o professor deve investir,
antes, na sua própria formação para poder, depois, sentir-se seguro para formar
alunos leitores. Ainda, segundo Silva (2005, p. 7), "o único reduto onde a leitura
ainda pode ser desenvolvida é a escola. O fracasso da escola nessa área significa a
morte dos leitores através dos mecanismos da repetência, evasão, desgosto e/ou
frustração". Percebe-se que Silva é enfático quando se trata de apontar a
responsabilidade da escola e do professor em relação à formação leitora dos alunos.
Nota-se que é de competência do professor encontrar as melhores condições
possíveis para que uma formação adequada aconteça em sala de aula. Contudo, é
pertinente reconhecer que a tarefa de ensinar a ler não é específica do Professor de
Língua Portuguesa, mas de responsabilidade, também, dos professores das demais
disciplinas, que juntos devem instrumentalizar os alunos para a eficiência leitora, não
apenas de texto, mas da vida.
Para uma formação leitora competente, as atividades de leitura não podem
estar pautadas em um trabalho mecânico, realizado sempre da mesma maneira ano
após ano; nem sejam uma reprodução do livro didático ou uma repetição de
preenchimento de fichas de leitura. As aulas de leitura devem servir para enxergar
melhor o mundo, para compreender melhor a sociedade, para descobrir os porquês
dos diferentes aspectos da vida, enfim, devem ser interessantes e significativas para
resultarem na transformação, na emancipação e na libertação dos leitores. Kleiman
(1999) compartilha da mesma preocupação de Silva (2005) e assevera,
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[...] É função da escola formar sujeitos letrados (no sentido pleno da palavra), não apenas sujeitos alfabetizados. A escola está cada vez mais encurralada entre o contexto opressivo da violência, do desemprego, dos desmandos da administração pública; seu campo de manobra tem sido bastante diminuído por tais pressões. A leitura é uma das maneiras que a escola tem de contribuir para a diminuição da injustiça social desde que ela forneça a todos as oportunidades para o acesso ao saber acumulado pela sociedade. (KLEIMAN, 1999, p. 91).
O exposto, não deixa dúvida de que é papel da escola e, mais
especificamente, do professor ajudar o aluno a aprender a ler, e com isso consiga
estabelecer relações e conexões entre os vários elos que compõem a imensa rede
de conhecimentos que envolvem a todos. É por meio da educação e da formação
leitora que o indivíduo pode ser levado a conhecer, a compreender, a desvendar
essa teia social que se encontra em permanente estado de atualização. Segundo
Freire (2003, p.28), "a educação modela as almas e recria os corações, ela é a
alavanca das mudanças sociais".
No processo de capacitação do aluno, para o uso de estratégias eficientes de
leitura, é relevante destacar outro recurso que contribui, também, para a eficiência
leitora, a releitura. Este é um exercício pouco incentivado em sala de aula, em
função da urgência de se vencer conteúdos. O momento da releitura é propício para
esclarecer dúvidas, clarear os fatos que passaram despercebidos em uma primeira
leitura, melhorar a criticidade a respeito do texto e, ainda, encontrar novos
elementos de comparação e análise. Também esta etapa deve ser ensinada e
estimulada a ser incorporada aos hábitos do aluno. A releitura permite reavaliar a
associação das palavras e os significados, às ideias propagadas no texto, que
podem ser aceitas ou não, às novas ideias. O resultado desse exercício refletirá na
própria vivência do leitor que se tornará mais crítico.
Ao ler um texto, o leitor precisa construir-lhe o(s) sentido(s) e ser capaz de
considerar as informações, não somente aquelas que estão explícitas, mas também
as implícitas, os não ditos, captando a intenção do autor. Conforme as Diretrizes
Curriculares da Educação Básica, "ao ler, o indivíduo busca suas experiências, os
seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as
várias vozes que o constituem". (PARANÁ, 2008, p. 56).
Para a formação de leitores não se pode deixar de chamar a atenção do
aluno para a intertextualidade, a qual ocorre em textos das diversas áreas do
9
conhecimento, na literatura, na pintura, no jornalismo (publicidade), na música,
novela, filme etc. Sempre que uma determinada obra fizer referência ou "dialogar",
com outra, ocorrerá à intertextualidade. É preciso que o aluno compreenda que os
textos não nascem do nada, os autores usam de suas habilidades de produção e se
apropriam de outros textos para produzirem os seus. Um leitor bem preparado
saberá identificar esse diálogo entre textos.
Destaca-se que em contexto de formação leitora, é relevante que o ensino
esteja sempre voltado para a realidade do aluno, levando-o, por meio da leitura, a ter
uma postura crítica, que alavanque as mudanças sociais. O aluno uma vez cativado
para o hábito de ler deverá ser capaz, de maneira autônoma, de dar continuidade ao
seu processo de aprendizagem.
Segundo Aguiar e Bordini (1988, p. 13), "todos os livros favorecem a
descoberta de sentidos, mas são os literários que o fazem de modo mais
abrangente". Dessa forma, o leitor em contato com a obra literária, tem a
possibilidade de criar e recriar mundos, pois a literatura favorece a subjetividade,
fortalecendo a tomada de consciência das possibilidades de interação com o autor e
a obra. A leitura da literatura oportuniza produzir significados a partir do
conhecimento histórico e social do leitor, este passa então a viver imaginativamente,
além de sua realidade, cria um mundo de utopia onde se sente inteirado.
3 O Conto na Sala de Aula
Para a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, "Incentivando a
leitura por meio de contos da Literatura Brasileira", foi necessário, em um primeiro
momento, apresentá-lo à Direção e Equipe Pedagógica do Colégio Estadual
Humberto de Campos - Ensino Fundamental, Médio e Profissional, o qual foi
prontamente aceito, tendo em vista a carência de formação dos alunos em leitura.
Em um segundo momento, programou-se um encontro com os alunos da
primeira série do ensino médio para apresentação do projeto, a princípio, por meio
de uma conversa informal, para na sequência, expor os objetivos com explicações
de como as atividades seriam encaminhadas.
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Cumprida essas fases preliminares, teve início o desenvolvimento do projeto
em sala, pautado no Método Recepcional. A primeira etapa do referido Método
prevê a determinação do horizonte de expectativas. Trata-se do momento em que o
professor lança mão de algum recurso, para conhecer ou determinar o
horizonte de expectativas de seus alunos. Em momento posterior, as estratégias de
ruptura e transformação desses horizontes devem ser planejadas, tendo por base
as informações coletadas junto aos alunos. Para atender esta primeira fase,
adotou-se um questionário que foi respondido pelos alunos, por escrito.
As questões buscavam compreender as preferências e conhecimentos dos
educandos em relação à lei tura e li teratura . Dentre as questões estavam:
Você gosta de ler? Você sente dificuldades para interpretar os textos sugeridos para
leitura na escola? Por quê? Em sua opinião, a escola ensina você a ser um bom
leitor? Você já teve oportunidade de ler algum conto? Qual era o tema tratado no
conto? Você sabe dizer qual é a estrutura de um conto?
Sabe-se que para se formar leitor proficiente é importante compreender,
antes, o interesse de leitura dos alunos, bem como o grau de conhecimento que já
possuem sobre determinado tema. Neste sentido, as respostas serviram, não
apenas, para que se conhecesse o processo de leitura dos estudantes como
também, para determinar o horizonte de expectativas, uma etapa necessária para o
encaminhamento de leituras futuras, de acordo com o Método Recepcional.
As respostas evidenciaram que a maioria dos alunos pouco lê ou raramente
se dedicam à leitura; que muitos não possuem livros de literatura em casa, mas
demonstraram maior interesse à prática de leitura na internet. Em relação ao
conhecimento sobre o gênero literário conto, observou-se que boa parte dos
estudantes não sabia diferenciar um gênero de outro. Em função disso foi
necessário planejar estudos que visassem sanar as dificuldades de reconhecimento
da estrutura textual, como forma de melhor conduzi-los nas atividades de leitura.
Para a realização da segunda etapa do método, ou seja, atender ao horizonte
de expectativas, após conhecer as aspirações, valores e preferências dos alunos em
relação à literatura, procurou-se atender às necessidades da turma considerando-se
as expectativas leitoras do público alvo. Para isso, primeiramente, os alunos foram
convidados a irem até a biblioteca, onde fizeram leituras de contos já conhecidos
que correspondessem aos seus interesses. Depois, a atenção voltou-se para as
estratégias de ensino. Estas partiram do conhecimento prévio dos educandos,
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aliadas ao gosto por um determinado tema, no caso do projeto, as relações
familiares. Assim, as atividades de leitura subsequentes ocorreram na biblioteca e
no laboratório de informática, onde os alunos fizeram leituras de obras literárias já
conhecidas e troca de experiências em conversas informais, cumprindo assim o
objetivo de atender às suas expectativas.
Nessa segunda etapa, foi determinante levar em conta o universo literário e
cultural do aluno, para que as opiniões sobre o tema viessem à tona,
espontaneamente, e essas pudessem ser comparadas aos outros temas que seriam
trabalhados, posteriormente, nos textos literários. Como ponto de partida ofereceu-
se textos muito procurados por eles, tais como a Coleção Para gostar de ler, além
de outras obras selecionadas pelos próprios alunos. Nessa atividade, foi possível
verificar que a relação de estranhamento entre leitor e texto, quando houve, foi
pequena. Isso aconteceu pelo fato de terem escolhido textos simples e com os quais
já tinham intimidade.
Ainda em fase de atendimento dos horizontes de expectativas, apresentou-se
à classe o primeiro conto Natal na barca, de Lygia Fagundes Teles (1992). Para
iniciar os estudos os alunos foram levados a fazerem previsões sobre o título do
texto com questões do tipo: Para você, o que sugere esse título, Natal na barca?
Qual será o tema do conto? Qual será a finalidade desse texto: emocionar, divertir,
informar ou instruir?
É preciso lembrar que fazer previsões sobre o texto é uma dinâmica que se
insere nas estratégias de leitura, propostas por Solé (1998). Essas estratégias
sugerem que o processo de abordagem de um texto perfaça as seguintes etapas:
seleção do texto; a partir da leitura do título, os alunos realizam as antecipações,
previsões, opinando sobre o assunto que o texto poderá apresentar. Na sequência,
fazem-se as inferências, sendo que nessa etapa, os alunos buscam as respostas
que o texto pode trazer para as previsões anteriormente feitas e, por fim, a etapa da
verificação, quando os leitores, após a leitura do texto, podem se certificar se as
antecipações e inferências feitas, sobre o conteúdo do texto, procedem ou não.
A partir das previsões, feitas sobre o título do conto, os alunos foram
solicitados a registrar em seus cadernos hipóteses sobre o assunto tratado na
história. Alguns comentaram que era uma família passando o natal em uma barca,
comemorando bem felizes e comendo um peru delicioso. Outros, que se tratava de
um reencontro de amigos que se divertiam, comemorando o Natal, enfim, foram
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realizadas as mais diferentes antecipações e inferências. Para a maioria, o título do
texto previa uma história de felicidade e alegria. Essas opiniões são compreensíveis,
visto que a comemoração da data natalina faz parte do conhecimento de mundo, da
maior parte das pessoas, como um momento de confraternização e alegria.
Logo a seguir, o conto foi lido em voz alta pela professora e acompanhado
atentamente pelos alunos. Ao término da leitura, os alunos foram surpreendidos com
tantas emoções e tristezas e seguiram-se comentários como: "uma história como
essa nunca mais será esquecida". A partir disso, promoveu-se a interação de todos
da sala com os estudos do texto, primeiro com uma leitura individual, mais
aprofundada, para compreensão dos sentidos e, posteriormente, com estudos da
estrutura do gênero conto.
Com a finalidade de aproximá-los do contexto de leitura, eles foram
convidados a realizarem um trabalho de pesquisa sobre Lygia Fagundes Teles, na
sala de informática. Essa atividade teve como objetivo ampliar os conhecimentos
tanto sobre a autora quanto de outras obras literárias que foram escritas por ela.
Todos ficaram entusiasmados ao saberem da quantidade de obras escritas e
também pelos inúmeros prêmios conquistados por essa autora.
Dada a dificuldade dos alunos para o reconhecimento das características do
gênero conto, detectada inicialmente, passou-se, em aula subsequente, às
explicações sobre a estrutura do gênero "conto", com destaque para os elementos
básicos que o compõem. Nesta ocasião, foi entregue aos alunos um texto teórico
para que todos pudessem acompanhar as explanações.
O texto trazia definição de conto, em comparação com o romance, fábula,
carta, propaganda etc., ressaltando que o conto é uma narrativa curta que gira em
torno de um único conflito e tem como elementos básicos: enredo, personagem,
tempo, espaço e narrador. Esses aspectos foram explorados, separadamente, de
modo a levar os alunos a compreenderem e identificarem, com maior facilidade, um
texto do gênero conto, bem como os elementos que o compõe. Concluída a parte
teórica, apresentaram-se aos alunos algumas atividades com perguntas que
deveriam ser respondidas, por escrito, e tinham por objetivo fixar o aprendizado
sobre a estrutura do conto. Todos os alunos mostraram-se comprometidos com a
realização dessas atividades e, assim, o resultado esperado foi alcançado.
Os estudos sobre a estrutura do gênero foi seguida de atividades de análise
linguística, sempre aliadas aos sentidos do texto, para as quais muitos alunos
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demonstraram bastantes dificuldades. Em função disso, foram feitas várias
atividades práticas orais e escritas, sobre aspectos linguísticos do conto,
acompanhadas de explicações da professora, para que os alunos atingissem o
entendimento necessário. Essas atividades demoraram mais que o previsto, mas
apresentaram resultados positivos.
Após o atendimento dos horizontes de expectativas, criaram-se condições
para a aplicação da terceira fase prevista pelo Método Recepcional, ou
seja, romper o horizonte de expectativas. Para isso dispôs-se de textos e
atividades que abalassem as certezas dos alunos, em relação aos estudos
anteriores.
Nessa etapa, utilizou-se um novo texto, com o qual os alunos puderam
perceber uma linguagem diferente do texto anterior, isso, pelo fato de se tratar de
contos escritos em épocas distintas. O estudo do texto ocorreu de forma gradativa,
de modo que não se rompesse de uma só vez, com o já conhecido, tendo em
vista que este procedimento poderia fazer com que os alunos se sentissem
inseguros e, assim, passariam a ter menos interesse pela experiência. Nessa fase,
procurou-se ser mais exigente com os alunos, oferecendo, para leitura, o conto A
Caolha, de Júlia Lopes de Almeida, com uma estrutura e composição mais
complexa, o qual possibilitou estabelecer relações com a realidade social vigente.
A leitura do conto foi, primeiramente, realizada, em voz alta pela professora
até um determinado parágrafo, sem apresentar o final da história. A partir disso,
sugeriu-se que cada um escrevesse um final para o texto. A proposta, de final para o
texto, deveria explicar como foi que a mulher ficou Caolha. Alguns escreveram que
foi com um prego; outros, que furou o olho com uma agulha; outros ainda, diziam
que a Caolha havia brigado com o marido bêbado, e ele atingiu o seu olho com uma
faca, em suma, surgiram as mais diferentes hipóteses.
Ao término da atividade, a professora leu para os alunos o final do conto. As
reações foram as mais diversas, alguns se mostravam bastante apreensivos, outros
decepcionados ao saberem o final da história, pois, não era como eles imaginaram.
Contudo, todos acharam o texto "o máximo". O conto apresenta algumas palavras
que não faziam parte do vocabulário usual dos alunos, por não se tratar de um texto
contemporâneo, e isso demandou uma atualização de alguns termos para melhor
compreensão de todos. As discussões e reflexões sobre o texto e o tema
(discriminação/preconceito) possibilitaram o rompimento do horizonte de
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expectativas e, ao mesmo tempo, promoveu interação entre os leitores que
participavam da atividade.
Feitas as leituras e considerações prévias, os alunos tiveram a oportunidade
de refletir, em grupo, sobre a discriminação (ou bullying), tema tratado no texto, e
depois, passaram à discussão desses temas, considerando acontecimentos
ocorridos na escola ou fora dela, em experiências que eles mesmos tinham vivido ou
de outras pessoas suas conhecidas. As atividades sugeriam, que os alunos
refletissem sobre as atitudes que deveriam ser tomadas, para solucionar um
problema dessa ordem. Cumprida a tarefa, dirigiram-se à sala de informática, para
fazer um trabalho de pesquisa sobre bullying, com o objetivo de complementar os
estudos que já haviam feito em classe. Após a pesquisa, realizaram leituras e
discussões dos textos produzidos por eles sobre o assunto. Este percurso de
estudos foi considerado muito produtivo.
Para o questionamento do horizonte de expectativas, a quarta etapa prevista
pelo Método Recepcional, os alunos retomaram as leituras dos dois primeiros
contos, comparando-os, emitindo juízo de valor e opinando sobre em quais dos
textos tiveram maior dificuldade de leitura e compreensão, qual deles exigiu um
nível maior de reflexão e, ainda, qual dos dois contos proporcionou maior grau de
satisfação na leitura. Os alunos emitiram diversas opiniões sobre os textos, dentre
elas estavam: “o texto Natal na barca é mais fácil de entender a linguagem,
comparando com o texto A Caolha"; “o tema é da nossa realidade”, “a história é
muito comovente”. Quanto ao texto A Caolha, as opiniões foram as seguintes: "este
texto exigiu maior atenção, pois a linguagem é complicada", "a história é um pouco
estranha, à nossa realidade, mas nos faz refletir sobre casos como esse". Observou-
se que, por mais que os textos pertençam a períodos diferentes, tanto a linguagem
quanto o tema conseguiu chamar a atenção dos alunos, levando-os às reflexões
esperadas.
Com vistas ao cumprimento da última etapa do Método, isto é, a ampliação do
horizonte de expectativas, na qual se espera que a experiência literária e a
reflexão a respeito das relações entre leitura, texto e contexto oportunizem a
tomada de consciência dos conhecimentos adquiridos pelo sujeito-leitor, coube à
professora provocar os alunos para que eles pensassem criticamente sobre seus
aprendizados.
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A partir das provocações, feitas por meio de questionamentos sobre a
estrutura dos textos, bem como da compreensão do tema dos contos, os alunos
tomaram consciência da importância dos textos literários em suas vidas, bem como
para a formação leitora, ao entenderem que a estrutura do texto e os aspectos
linguísticos implicam na compreensão dos sentidos. Com isso, concluíram que era
necessário buscar outras leituras e realizar novos estudos. Essa conclusão
possibilitou perceber que, ao final dessa experiência, estes alunos estavam
minimamente preparados para dar continuidade às leituras, não mais como ato
mecânico, mas de forma mais critica, atentando para os elementos que compõem os
textos. Essa conclusão demonstrou que os alunos passaram a ver sentido nos
textos literários, tendo por base os estudos realizados. Essas tarefas, desenvolvidas
de forma prazerosa, levaram-lhes a adquirir novos conhecimentos, ampliando os
horizontes dos saberes.
Como atividade complementar, os alunos foram à sala de informática e
também à biblioteca para encontrarem outros contos para leitura e posterior
compartilhamento dessa leitura com os colegas. Alguns, já sabiam o conto que iriam
ler para a turma, outros ficaram preocupados, pois não sabiam o que escolher. De
acordo com as manifestações precisavam de mais tempo, pois a exigência era que
fosse um conto que eles gostassem, mas o problema encontrado para a escolha
relacionava-se ao fato de saber se o conto selecionado agradaria ou não os
companheiros. Para a escolha de um conto puderam contar com a orientação e
apoio da professora e também da bibliotecária. Em momento subsequente, houve a
troca de experiências das leituras feitas e, nessa prática, verificou-se um grande
avanço no que se refere ao interesse por contos de outros autores. A troca de
experiências leitoras possibilitou uma boa interação entre textos e leitores.
Para encerrar essa etapa, propôs-se aos alunos que escrevessem um conto
que tratasse sobre as relações familiares. Assim, as produções, primeiramente,
foram trocadas entre os colegas de turma, e depois fixadas no mural da escola. Vale
salientar que todos se envolveram ativamente em todo o processo e com isso, foi
possível alcançar os objetivos propostos, a saber: encorajar os alunos a ler contos,
promover a interação entre eles por meio da leitura e comentário dos textos dos
colegas e, além disso, permitir a divulgação do trabalho, uma vez que os textos
foram expostos no mural da escola e lidos pela comunidade escolar.
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Como forma de aproveitar o interesse pela leitura, demonstrado pelos alunos
até então, propôs-se uma atividade mais lúdica com jogo. Sabe-se que os jogos são
recursos interessantes para levar os alunos à leitura ou a fixação de algum conteúdo
com mais disposição. Apresentou-se então o Jogo do Mico. Neste jogo, as
informações contidas nas cartas buscavam sanar algumas dificuldades, reforçando
conceitos em relação à estrutura do conto. Inicialmente os alunos foram instruídos
sobre os procedimentos, visto que alguns deles não o conheciam a brincadeira. Uma
vez familiarizados com as regras o jogo foi realizado, mostrando-se motivador e
produtivo, levando-os a consolidarem muito do aprendizado.
4 Conclusão
A Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica, voltado para alunos
da primeira série do Ensino Médio, pode-se considerar que os resultados
alcançados foram excelentes. Essa avaliação pauta-se no entendimento de que o
ensino e aprendizagem de leitura é um processo gradual e complexo, que acontece
em etapas, as quais vão sendo galgadas, pelos alunos, no decorrer dos anos
escolares. Dessa forma, o aprendizado em leitura e estrutura do conto alcançado
pelo primeiro ano do ensino médio, por meio das atividades propostas, foi relevante.
Acredita-se que uma boa semente foi lançada e agora bastará cultivá-la e dar
continuidade ao processo de amadurecimento da aprendizagem leitora com esse
público.
Para que esse resultado fosse atingido, a formação teórica e pedagógica
recebida no Programa PDE foi significativa. O trabalho de Implementação do Projeto
de Intervenção Pedagógica, em sala de aula, mostrou-se motivador, em todas as
etapas, dada a participação e o empenho dos alunos a cada atividade realizada.
Colaborou para isso a seleção dos contos, os quais muito agradaram ao público em
formação, além da metodologia, ou seja, o Método Recepcional e as estratégias de
leitura, esses ainda pouco utilizados na escola e, para alguns pares, até
desconhecidos. Com essa oportunidade, também, os colegas de trabalho puderam
perceber, que o método recepcional, aliado às estratégias de leitura, possibilitam
resultados significativos na formação em leitura da literatura.
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Conforme o método propõe, foram oferecidos textos que apresentavam tema
do conhecimento dos alunos e outros com temas desconhecidos. Nas comparações,
a partir de suas experiências linguísticas e sociais, estes foram levados a observar
às possibilidades de leitura, apresentadas pelas obras e, a partir delas, passaram a
imprimir seus julgamentos pessoais, ativando o senso crítico. Neste processo, os
objetivos foram alcançados, pois os alunos compreenderam a importância do
percurso de leitura, para ser capaz de fazer leituras significativas de maneira
interativa.
Conforme Aguiar e Bordini (1988), o ponto crucial do método recepcional é
considerar o leitor como elemento atuante do processo de leitura. Este deve ter
atitude participativa, contato com diferentes textos, de nível de compreensão
diversa. Os textos devem trazer problematizações aos alunos, incitando-os às
reflexões, instaurando mudanças através de um processo contínuo. De acordo com
as autoras, o método recepcional oportuniza a comparação entre o que é familiar, ou
seja, aquilo que já se tem arquivado do conhecimento de mundo e o novo, aquilo
que é apresentado a cada nova leitura em um texto ainda não lido. Essas
comparações podem figurar, ainda, em outros aspectos do texto literário como o
tempo e o espaço tanto da narrativa como da produção, revelando diferentes
contextos sociais, diferentes épocas, estilos e temas. Isso faz com que o texto
literário apresente inúmeras possibilidades de leituras, interpretação e compreensão
do tema.
Com muito esforço, estudo e reflexão atingiu-se a etapa final do processo de
formação continuada, ofertada aos professores da rede pública, por meio do
Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria da Educação do Estado
do Paraná (PDE) - 2010. O referido programa pôde garantir ao professor o
afastamento de 100℅ de suas atividades no primeiro ano e de 25% no segundo ano
do programa. Organizado em quatro etapas, na primeira etapa, obteve-se uma visão
geral dos conhecimentos teóricos, por meio do qual foi possível a elaboração de um
projeto, para ser trabalhado, em sala de aula com os alunos. Na segunda etapa,
deteve-se em estudos de conteúdos específicos por área que culminou com a
produção da Unidade Didática. A terceira etapa, foi marcada pela volta dos
professores à sala de aula, para a Implementação do Projeto de Intervenção
Pedagógica na escola, e ao mesmo tempo atender, como professor Tutor do Grupo
de Trabalho, outros professores em Rede (GTR).
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Todo esse processo foi de suma importância para a vida profissional como
educador, que se propõe a formar leitores. Dessas vivências destacam-se as
atividades realizadas no GTR, que no início causaram estranhamento, pois aplicar
atividades de um projeto e ao mesmo tempo orientar outros professores à distância,
via internet, parecia muito complicado, mas foi aos poucos transformando a forma de
pensar e o processo educativo do professor em formação, além de tornar-se uma
atividade muito agradável. Isso significa dizer, que a interação entre os participantes
e a professora tutora foi muito gratificante, em função também dos elogios feitos ao
projeto elaborado e em discussão.
Todas as etapas foram de muito trabalho e viagens exaustivas, mas muito
produtivas. Essa produtividade deve-se também ao fato de o professor ter tido a
oportunidade, de distanciar-se da sala de aula e dedicar-se integralmente aos
estudos e leituras, tornando-se um leitor ainda mais proficiente, com a formação
cultural e intelectual significativamente ampliada. Este compromisso, uma vez
cumprido, trouxe reflexos positivos, tanto para os professores participantes do
programa, quanto para os alunos, pois estando o professor melhor preparado, terá
mais segurança para ajudar os alunos a descobrirem o mundo maravilhoso da
leitura, que contribuirá para aprenderem a pensar de maneira autônoma e crítica.
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