O DESAFIO DA INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA ...
_Implicacoes Da Interdisciplinaridade
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Incio
Atual
Expediente
Instrues aos autores
Sistema de submisso
AMatos E, Pires DEP, Gelbcke FL. Implicaes da interdisciplinaridade na
organizao do trabalho da enfermagem: estudo em equipe de cuidados paliativos.
Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2012 abr/jun;14(2):230-9. Available
from: http://dx.doi.org/10.5216/ree.v14i2.13237..
Implicaes da interdisciplinaridade na organizao do
trabalho da enfermagem: estudo em equipe de
cuidados paliativos
Implications of interdisciplinarity in the organization of
nursing work within a palliative care team
Implicancias de la interdisciplinaridad en la organizacin del
trabajo de enfermera: estudio en equipo de cuidados
paliativos
Eliane MatosI, Denise Elvira Pires de PiresII, Francine Lima GelbckeIII
I Enfermeira, Doutora em Enfermagem. Enfermeira do Hospital Universitrio (HU),
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianpolis, SC, Brasil. E-mail:
II Enfermeira, Doutora em Cincias Sociais. Professor Associado, Programa de Ps-
Graduao em Enfermagem (PEN), UFSC. Florianpolis, SC, Brasil. E-mail:
III Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professor Associado, PEN, UFSC.
Florianpolis, SC, Brasil. E-mail: [email protected].
RESUMO
Este trabalho trata-se de estudo exploratrio-descritivo de natureza qualitativa,
realizado com equipe interdisciplinar que presta cuidados paliativos a pessoas
portadoras de cncer de uma instituio pblica no sul do Brasil. Teve como
objetivo identificar a influncia da prtica interdisciplinar na organizao do
trabalho da enfermagem. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas
semiestruturadas com catorze profissionais de diversas categorias, observao
sistemtica e estudo documental. Os resultados mostraram que a perspectiva
interdisciplinar propicia a participao no processo de tomada de deciso; contribui
-
para a integrao das aes realizadas pelos diferentes profissionais e pelo
conjunto dos profissionais de enfermagem; promove a valorizao do trabalho de
diversos integrantes da equipe, contribuindo para diminuir o conflito interno na
enfermagem, promovendo melhorias na ateno aos usurios. Concluiu-se que os
pressupostos orientadores da interdisciplinaridade contribuem para reorganizao
do trabalho de enfermagem em uma perspectiva mais colaborativa, satisfatria e
integradora.
Descritores: Comunicao Interdisciplinar; Equipe de Assistncia ao Paciente;
Enfermagem; Cuidados Paliativos.
ABSTRACT
The present exploratory-descriptive study, using a qualitative approach, was
performed with an interdisciplinary team that provides palliative care to cancer
patients in a public institution in southern Brazil. The objective of the study was to
identify the influence of interdisciplinary practice on the organization of nursing
work. Data collection was performed using semi-structured interviews with fourteen
professionals (several categories), systematic observation, and a documental study.
Results showed that the interdisciplinary perspective promotes participation in the
decision-making process; contributes with the integration of actions performed by
the various professionals and by the group of nursing professionals; and promotes
the valorization of the work performed by the team members, thus helping to
reduce internal conflicts in nursing, which has the potential to improve the care
provided to the clients. In conclusion, the guiding principles of interdisciplinarity
contribute with the reorganization of nursing work from a more collaborative,
satisfactory, and integrating perspective.
Descriptors: Interdisciplinary Communication; Patient Care Team; Nursing;
Hospice Care.
RESUMEN
Estudio exploratorio, descriptivo, cualitativo, realizado en equipo interdisciplinario
que brinda cuidados paliativos a pacientes con cncer de institucin pblica del sur
de Brasil, objetivndose identificar la influencia de la prctica interdisciplinaria en la
organizacin del trabajo de enfermera. Datos recolectados mediante entrevistas
semiestructuradas con catorce profesionales de diversas disciplinas, observacin
sistemtica y estudio documental. Los resultados expresaron que la perspectiva
interdisciplinaria facilita la participacin en el proceso de toma de decisiones;
contribuye a la integracin de acciones realizadas por los diferentes profesionales y
por el conjunto de profesionales de enfermera; promueve la valorizacin del
trabajo de los diversos integrantes del equipo, contribuyendo en la disminucin del
conflicto interno de enfermera, y demuestra potencial para promover mejoras de
atencin al paciente. Se concluye en que los presupuestos orientadores de la
-
interdisciplinaridad contribuyen a reorganizar el trabajo de enfermera con una
perspectiva ms colaborativa, satisfactoria eh integradora.
Descriptores: Comunicacin Interdisciplinaria; Grupo de Atencin al Paciente;
Enfermera; Cuidados Paliativos.
INTRODUO
A enfermagem reconhecida internacionalmente como uma profisso da rea da
sade desde a metade do sculo XIX, quando Florence Nightingale articulou o
reconhecimento social deste trabalho com formao profissional e produo de
conhecimentos. O modelo de Nightingale foi influenciado pela lgica da organizao
capitalista do trabalho, que instituiu a diviso entre trabalho intelectual e manual, a
fragmentao e a hierarquizao das tarefas. A enfermagem nightingaleana
influenciou fortemente a profisso no mundo(1-3), e tambm no Brasil, onde, at
hoje, exercida por profissionais de formao e atribuies legais diferenciadas(3).
Neste modelo ao/a enfermeiro/a atribuda a funo de gerente centralizador/a do
saber e a concepo do processo de trabalho de enfermagem, o qual delega
atividades parcelares aos demais trabalhadores de enfermagem. O/a enfermeiro/a
coordena as atividades da equipe e o planejamento da assistncia de enfermagem,
que prestada, principalmente, pelos/as tcnicos/as e auxiliares de enfermagem(1-
2).
Este modelo, influenciado pelas teorias clssicas da administrao, tem sido
apontado como um dos fatores de insatisfao e desmotivao no trabalho,
especialmente pelos tcnicos/as e auxiliares de enfermagem, que consideram seu
trabalho e seu saber desvalorizado. Neste sentido, tende a gerar descompromisso
com a assistncia e com as necessidades dos usurios dos servios de sade, bem
como tem sido associada aos frequentes conflitos existentes na equipe de
enfermagem, especialmente entre tcnicos/as e auxiliares de enfermagem e
enfermeiros/as(1,5).
A enfermagem constitui o grupo majoritrio de profissionais nas instituies
hospitalares e responsvel pelo cuidado direto s pessoas internadas nas 24
horas do dia. Alm das aes de cuidado, o seu trabalho envolve a administrao
da assistncia de enfermagem e do espao assistencial, e atividades de educao
em sade e de produo de conhecimentos(6). No mbito da assistncia direta, as
aes de enfermagem so realizadas pelo conjunto dos/as trabalhadores/as de
enfermagem e incluem a prestao de cuidados decorrentes de avaliaes e
prescries feitas pelos enfermeiros/as e pelos mdicos/as, tanto na ateno bsica
como em mbito hospitalar(1).
O resultado da assistncia em sade, no entanto, produto do trabalho coletivo de
diversos profissionais de sade e de um grupo amplo de outros profissionais e
trabalhadores que exercem mltiplas aes necessrias para o funcionamento
institucional(1). Na organizao do trabalho em sade, majoritariamente, as
-
diversas profisses atuam isoladamente, embora esse trabalho tenha
caractersticas complementares. Ao atuarem separadamente, os diversos
profissionais perdem a oportunidade de realizar a integrao e articulao
interdisciplinar, que poderia melhorar a qualidade da assistncia e a interao com
os usurios(1,7-8), assim como enriquecer o trabalho, tornando-o mais motivador e
satisfatrio(3).
Para enfrentar as limitaes da fragmentao disciplinar, do modelo cartesiano de
cincia, a perspectiva interdisciplinar apresenta-se como possibilidade na pesquisa,
na prtica e no ensino. A interdisciplinaridade aqui entendida como a interao
entre uma ou mais disciplinas, sendo que essa interao pode variar desde a
simples comunicao de ideias at a integrao mtua de conceitos.
Interdisciplinaridade implica em ultrapassar as fronteiras das disciplinas e das aes
de cada uma das profisses, implica, ainda, em articulao dos processos de
trabalho(9).
Nos ltimos 30 anos, no Brasil, tem crescido a identificao da interdisciplinaridade
como caminho para diminuir a fragmentao do cuidado em sade e fortalecer a
possibilidade de prestar cuidados na perspectiva da integralidade(8,10). A
interdisciplinaridade tem sido entendida como um caminho promissor para a
reorganizao do trabalho em sade um jeito novo de ver a sade e o cuidado
com o outro, em funo da complexidade dos problemas de sade(10), por articular
princpios/valores, saberes e fazeres e por propiciar as trocas disciplinares(3,10). A
articulao interdisciplinar na prtica de sade, tambm pode contribuir para a
mudana nas relaes de trabalho das equipes e, ao mesmo tempo, favorecer que,
cada profisso, internamente, repense a sua prtica no sentido de superar a
fragmentao e os conflitos existentes no trabalho em sade(11).
A interdisciplinaridade no contexto do trabalho em sade um processo em
construo em que esto envolvidas as diversas disciplinas/profissionais em busca
de um objetivo comum a assistncia integral aos usurios dos servios. Neste
processo alguns elementos so indispensveis: a comunicao autntica, o dilogo,
o respeito e o reconhecimento do saber e do fazer de cada um dos profissionais e a
possibilidade de participao na tomada de deciso. A equipe interdisciplinar
constitui-se em um espao privilegiado para o estabelecimento de relaes mais
igualitrias entre os envolvidos, uma vez que pressupe a construo de outros
modos de vivenciar a gesto e organizao do trabalho em sade com a
participao de todos no planejamento, execuo e avaliao global da
assistncia(11).
Os valores e concepes orientados pela organizao interdisciplinar do trabalho,
representam uma perspectiva oposta ao modelo da biomedicina e fragmentao
taylorista, presente no trabalho em sade. Considerando-se que a organizao do
trabalho da enfermagem tem sido fortemente influenciada pelo modelo taylorista
da fragmentao capitalista, questionou-se se a atuao em equipe interdisciplinar
poderia contribuir para minimizar a fragmentao da assistncia e para a
valorizao de todos/as os/as integrantes da equipe de enfermagem.
Neste sentido o presente estudo teve por objetivo identificar, na dinmica de
atuao de uma equipe interdisciplinar de ateno sade de pessoas portadoras
-
de cncer, em cuidados paliativos, as influncias deste modo de organizao do
trabalho no trabalho da enfermagem.
METODOLOGIA
Estudo exploratrio descritivo de natureza qualitativa, desenvolvido em uma
unidade de ateno a pessoa com cncer em cuidados paliativos de uma instituio
pblica do sul do Brasil, que organiza seu trabalho na perspectiva interdisciplinar
integrando a ateno ambulatorial, hospitalar e domiciliar.
A equipe e os sujeitos do estudo foram escolhidos intencionalmente, considerando:
composio multiprofissional da equipe e reconhecimento do trabalho
interdisciplinar, incluso de profissionais de enfermagem - enfermeiros e tcnicos
de enfermagem - na composio multiprofissional da equipe; incluso de
representantes de todas as profisses de sade que compem a equipe e
profissionais que atuassem nas diversas atividades desenvolvidas pela equipe
interdisciplinar.
Os dados foram coletados no ano de 2006, por meio de estudo documental,
entrevistas semiestruturadas com os profissionais e observao sistemtica das
atividades realizadas pela equipe. A equipe interdisciplinar era composta por 33
profissionais de sete categorias. Foram entrevistados, 42% da equipe, incluindo:
quatro mdicos/as, trs enfermeiros/as, uma farmacutica, uma nutricionista, uma
assistente social, uma fisioterapeuta, um terapeuta ocupacional e duas tcnicas de
enfermagem.
As entrevistas abordaram aspectos relativos: ao trabalho coletivo (diviso,
organizao, condies e relaes de trabalho) e prtica interdisciplinar
(integrao e interao na equipe, trocas interdisciplinares). As entrevistas foram
gravadas, com o consentimento dos entrevistados, e depois de transcritas, foram
apresentadas aos mesmos para validao dos dados. A observao sistemtica
constou de cerca de 80 horas de observao, incluindo a diversidade de atividades
realizadas pela equipe.
A anlise dos dados coletados nas entrevistas e na observao sistemtica foi
realizada separadamente. O material foi organizado de modo a contemplar a
totalidade de comunicaes dos atores sociais, estabelecendo-se, a partir da,
conjuntos homogneos de comunicaes ou unidades temticas. A seguir realizou-
se a leitura transversal destas comunicaes (tanto das entrevistas como das
observaes), agrupando os dados em categorias analticas.
O estudo passou pela aprovao do Comit de tica em Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina e foi aprovado, sob nmero
173/05 em 03/06/2005 e seguiu as diretrizes e normas que regulamentam a
pesquisa envolvendo seres humanos. Para manter o anonimato dos participantes, e
o sigilo das informaes, os entrevistados foram identificados pela letra inicial da
profisso, ou combinao de letras, quando necessrio, seguidas de uma
-
numerao quando da existncia de mais de um profissional de uma mesma
categoria. Foi garantido o direito a no participao no estudo, assim como de
retirar-se a qualquer momento.
RESULTADOS E DISCUSSO
A apresentao dos resultados inicia com uma caracterizao da instituio e da
equipe interdisciplinar estudada, seguida dos dados organizados nas duas
categorias analticas definidas: Organizao do trabalho na perspectiva da
interdisciplinaridade e Implicaes da interdisciplinaridade na organizao do
trabalho da enfermagem.
Caracterizao da instituio e da equipe interdisciplinar estudada
O estudo dos documentos institucionais e os dados obtidos no perodo da
observao possibilitaram caracterizar a equipe interdisciplinar onde foi realizado o
estudo, sua localizao na instituio, bem como a caracterizao da instituio na
rede de servios de sade do municpio estudado.
Trata-se de uma instituio pblica de sade que presta assistncia a pessoas com
doenas oncolgicas no mbito hospitalar, ambulatorial e domiciliar. Configura-se
como um complexo institucional, com sede na capital de um estado da regio sul
do Brasil, que conta com uma unidade hospitalar de pequeno porte, uma unidade
de transplante de medula ssea, alm de prestar assistncia ambulatorial e
domiciliar, contando, ainda, com duas unidades ambulatoriais descentralizadas no
interior do estado.
Atuam na instituio cerca de 400 trabalhadores nas reas assistenciais e de apoio,
incluindo diversas equipes de sade que prestam assistncia nos diferentes
servios. A equipe de cuidados paliativos foi escolhida para a realizao do estudo
por ser a nica equipe de sade da instituio que atua na perspectiva
interdisciplinar e por ser referncia na regio nesta concepo de organizao do
trabalho. Fazem parte da equipe: trs mdicos/as, nove enfermeiros/as, 16
tcnicos/as de enfermagem, uma assistente social, uma farmacutica, uma
fisioterapeuta, um terapeuta ocupacional e uma nutricionista. Os profissionais de
enfermagem representam 76% da equipe.
No que diz respeito ao gerenciamento, a instituio adota a Qualidade Total como
modelo gerencial e a gesto do trabalho est organizada em gerncias
ambulatorial, hospitalar e de transplante de medula ssea. As gerncias abrangem
todas as categorias profissionais envolvidas em cada rea e a direo das mesmas
exercida por enfermeiras. A gesto da qualidade adota o gerenciamento por
processos de trabalho, sendo que o Processo de Cuidados Paliativos rene os
profissionais da rea ambulatorial e hospitalar que atuam com as pessoas
portadoras de cncer que esto em cuidados paliativos. Neste processo h um
coordenador geral do Servio de Cuidados Paliativos, cargo ocupado por um
-
profissional mdico e coordenadorias setoriais de enfermagem na rea hospitalar e
ambulatorial.
Hierarquicamente, os coordenadores e a equipe de enfermagem so subordinados a
sub-gerncias hospitalar e ambulatorial, respectivamente. Porm, o Processo de
Cuidados Paliativos, institudo pelo programa de Qualidade Total, realiza a
coordenao desse processo, atravessando a estrutura vertical. A equipe de
enfermagem, assim como os demais profissionais de sade, mantm uma ligao
com o coordenador do processo de cuidados paliativos, j que a avaliao realizada
pelo programa de qualidade feita sobre o conjunto das atividades da equipe.
A gesto pelo modelo da Qualidade Total adotada por toda a instituio, no que
diz respeito ao estabelecimento de metas de qualidade, satisfao do cliente,
controle dos processos de trabalho, porm os diversos servios realizam o trabalho
em consonncia com os modelos hierarquizados, verticais, tradicionalmente
adotados nas instituies hospitalares, com influncia da biomedicina e da
fragmentao taylorista. A equipe responsvel pelo servio de cuidados paliativos
diferencia-se das demais pela realizao do trabalho orientada pela
interdisciplinaridade.
Organizao do trabalho na perspectiva da interdisciplinaridade
O Servio de Cuidados Paliativos envolve e integra, a ateno ambulatorial,
domiciliar e hospitalar, bem como articula e integra, as aes dos diversos
profissionais de sade que compem a equipe.
Neste sentido foi possvel observar, durante a coleta de dados, o modo como so
planejadas e realizadas as diferentes atividades assistenciais, identificando a sua
aproximao com os princpios da organizao taylorista do trabalho ou com os
pressupostos da interdisciplinaridade - compartilhamento de objetivos, cooperao,
trocas de saberes, integrao entre os agentes e articulao de saberes(7,9). A
articulao interdisciplinar na equipe facilitada pela atuao conjunta de
profissionais de diferentes categorias nas atividades realizadas.
As atividades a serem desenvolvidas durante a semana, a definio de tratamentos
e dos exames que sero realizados, assim como das famlias que sero abordadas,
as visitas domiciliares a serem realizadas so decididas pelo conjunto dos
profissionais aps amplo debate. No perodo entre uma e outra reunio, mudanas
de planos de cuidados aos usurios do servio acontecem apenas em funo de
intercorrncias. Estas so justificadas e debatidas na reunio seguinte pelo grupo
(Nota de Observao).
Na maioria dos outros servios de sade que eu conheo no h um vnculo muito
grande entre o paciente e a equipe. At porque estes locais quase no trabalham
em equipe. s vezes o paciente s tem vnculo com o seu mdico, mas no forma
vnculo com a equipe. A enfermagem troca o tempo inteiro, no tem como fazer um
vnculo. Esse o motivo de a gente manter uma equipe de enfermagem mais coesa
e homognea possvel, [...] pra poder manter esse vnculo. Quando a gente recebe
um paciente novo, normalmente a gente informa que o trabalho em equipe, que
tem vrios mdicos, tem enfermagem, tem residente, tem a nutricionista, tem a
-
assistente social. A gente acaba tendo um relacionamento um pouco mais saudvel
entre profissionais e pacientes. [...] Uma boa comunicao e uma boa confiana
mtua (m2).
Este modo de organizao do trabalho distancia-se da hierarquizao e
fragmentao taylorista, aproximando-se do dilogo entre disciplinas e profisses
proposto pela interdisciplinaridade. Possibilita, ainda, um acompanhamento
diferenciado dos usurios dos servios, aproximando-se da proposta de
integralidade(12). No que diz respeito s relaes profissionais facilita as trocas entre
os distintos saberes, a construo do dilogo e a comunicao mais horizontal entre
as diversas profisses, aproximando-se de propostas potencialmente capazes de
romper com o tradicional modelo hierrquico em sade.
Implicaes da interdisciplinaridade na organizao do trabalho da
enfermagem
A equipe de enfermagem do Servio de Cuidados Paliativos composta por uma
enfermeira e dois tcnicos/as de enfermagem que atuam na rea ambulatorial e
oito enfermeiras/as e 14 tcnicos/as de enfermagem que atuam na rea hospitalar.
Os dois grupos, embora tenham atribuies e atividades especficas, interagem
sistematicamente, participam das reunies da equipe interdisciplinar que
acontecem semanalmente na instituio hospitalar; realizam visita aos usurios do
servio internados na unidade hospitalar e dividem a tomada de deciso sobre
tratamentos, exames diagnsticos, internao e alta, transferncias,
acompanhamento ambulatorial e domiciliar com os demais profissionais da equipe.
A equipe ambulatorial presta, tambm, assistncia em internao domiciliar.
O grupo que atua no servio de internao presta assistncia de enfermagem nas
24 horas em uma enfermaria com 12 leitos de internao e um leito de isolamento.
A organizao interdisciplinar da equipe permite a integrao entre as esferas de
trabalho ambulatorial e hospitalar favorecendo o conhecimento e o reconhecimento
do trabalho do outro, aproximando as diversas profisses e, tambm, os/as
trabalhadores/as com diferentes graus de formao que compem a fora de
trabalho da enfermagem. Propicia, ainda, o acompanhamento do usurio nas vrias
esferas de ateno e o conhecimento, pela articulao com as demais profisses
das demais dimenses da vida deste sujeito, possibilitando uma assistncia mais
prxima da integralidade, ultrapassando a viso centrada apenas nos aspectos
biolgicos e na doena.
[A integrao] mais com a enfermagem, os outros vem se agregando, como o
servio social que preciso ver uma dieta, preciso saber se eles podem conseguir;
saber como em casa, pra ver como vou fazer. s vezes o assunto com o mdico
[...]. Por exemplo, a enfermagem, ela no chama para passar [a visita], mas eu sei
o horrio que elas vo e eu vou. Eu vou porque eu sei que uma coisa que boa
para o paciente e vai beneficiar muito para eu fazer o meu trabalho. E elas gostam
tambm, eu sinto (nt).
Faz diferena porque eles se sentem assistidos por todos os profissionais. No s
pela equipe de enfermagem, por aquele mdico. Ele se sente mais seguro. Tem a
-
nutrio que cuida da alimentao, a fisioterapeuta que trabalha com o paciente
(te2).
Tanto no trabalho ambulatorial/domiciliar como no trabalho hospitalar, os/as
enfermeiros/as, pelas atribuies da Lei do Exerccio Profissional(4), coordenam e
organizam as aes de enfermagem realizadas pelos demais agentes da equipe de
enfermagem, bem como gerenciam os espaos assistenciais, organizando o
ambiente e fazendo as interlocues com os demais servios da instituio.
Realizam os cuidados considerados complexos, que exigem maior preparo
profissional, fazem o planejamento e a avaliao diria dos usurios do servio sob
seus cuidados, a educao em sade, bem como avaliam os resultados dos
cuidados prestados pela equipe de enfermagem(13).
Os curativos complexos, como tambm estes procedimentos de sonda so os
enfermeiros que fazem. Ns trabalhamos em duas pessoas, em equipe. Geralmente
vo duas pessoas - o enfermeiro e o tcnico, que auxilia em uma passagem de
sonda (te2).
A organizao e diviso do trabalho da enfermagem na equipe estudada, em que
h pessoal de nvel superior e nvel mdio, contribui para a anlise dos efeitos da
atuao em equipe interdisciplinar neste segmento profissional. No modelo
tradicional de organizao do trabalho, o/a enfermeiro/a coordena o trabalho
assistencial desenvolvido pelos/as tcnicos/as e auxiliares de enfermagem(2,4,13). A
composio da equipe de enfermagem dificulta a diviso do trabalho entre iguais,
e acentua a diviso entre os que pensam e os que executam o trabalho(3,11).
A diviso do trabalho na equipe de enfermagem estudada no segue nem o modelo
funcional de cuidados, caracterstico do trabalho fragmentado, nem a alternativa
de cuidados integrais, referida como mais integradora para a prestao dos
cuidados de enfermagem(1), mas combina parte do chamado modelo de cuidado
integral e parte do modelo funcional.
Ns no dividimos pacientes. tudo junto. [...] um dando apoio ao outro. [...] J
vai l e faz o curativo, o outro vai preparando as outras tarefas, as medicaes.
Ns trabalhamos tudo em conjunto. A gente trabalha unida. muito dividido (te2).
A combinao desses modelos deve-se caracterstica da equipe de enfermagem
na realidade brasileira, formada por pessoal com diferentes nveis de formao e
diferente capacitao para a realizao da assistncia. O trabalho nas equipes de
enfermagem, tradicionalmente organizado pela diviso de tarefas ou distribuio de
cuidados pelo modelo funcional, no qual o/a enfermeiro/a coordena, programa os
cuidados ao usurio e distribui parcelas do trabalho a diferentes trabalhadores,
resulta que cada trabalhador/a, exerce o que lhe delegado e, no conhece a
totalidade do plano de cuidados e dos resultados obtidos na ateno aos usurios(1).
O modelo de cuidados integrais na enfermagem tem sido defendido como
alternativa ao modelo funcional, por seu potencial para propiciar um trabalho
mais criativo e motivador ao trabalhador, para melhorar a interao com o usurio
e a responsabilizao pelo trabalho, embora a concepo do projeto assistencial, a
prescrio dos cuidados e a avaliao dos resultados permaneam como
-
responsabilidades do/a enfermeiro/a. Neste modelo, em cada turno de trabalho, um
trabalhador de enfermagem presta todos os cuidados a uma ou mais pessoas com
carncia de sade(1-2).
Embora a diviso do trabalho na equipe estudada conserve a lgica de distribuio
de cuidados por competncia profissional, na prtica diria, observou-se que a
dinmica da equipe possibilita que ambos, enfermeiros/as e tcnicos/as de
enfermagem, integrem em suas atividades o pensar e o fazer. H maior
participao dos/as tcnicos/as de enfermagem nos espaos decisrios da equipe
interdisciplinar e essa participao traz reflexos, tambm, para a dinmica das
relaes interpessoais, internamente categoria.
Eu comecei a cuidar e comecei a estudar [os cuidados com a boca] at que ns
formamos uma equipe: a farmacutica, a nutrio, a enfermeira e eu. Comeamos
a pesquisar teorias comprovadas pra trabalhar neste projeto. At hoje estou
trabalhando. Ento boca hoje, tu podes me apresentar qualquer coisa que eu sei o
que . E sei tratar tambm. avaliado primeiro por mim, depois eu comunico ao
enfermeiro, ao mdico e o mdico faz este tratamento. Quando uma coisa mais
simples eles do essa autonomia pra mim. Eu trato com o ch de camomila [...],
ele ajuda a diminuir a monilase (te2).
O modo como o trabalho organizado permite uma viso mais integral do ser
humano que assistido pelo grupo, com consequncias positivas, tanto para os
usurios como para os/as trabalhadores/as. Os/as integrantes do estudo percebem-
se mais valorizados/as e respeitados/as em seu saber e fazer, e entendem que h,
na instituio, espao para exerccio de um trabalho mais criativo.
Eu me sinto valorizada. Respeitada pelo menos, isto legal. [...]. Eu me sinto
muito bem como pessoa, como profissional no grupo (te1).
O sentimento de valorizao no trabalho difere de achados em estudos que
abordam as relaes na equipe de enfermagem e organizao do trabalho pelo
modelo de cuidados funcionais e at nas experincias de cuidados integrais, mas
sem a integrao interdisciplinar(14-15). A perspectiva interdisciplinar construda na
equipe estudada tem contribudo para a enfermagem repensar seu objeto de
trabalho em bases mais amplas, ampliando a interao com o usurio do servio e
a viso profissional deste sujeito(3). O modelo assistencial de enfermagem adotado
pela equipe diminui a separao entre concepo e execuo do cuidado, pois o
planejamento considera as aes e contribuies dos/as tcnicos/as de
enfermagem e as necessidades do usurio e famlia, que interferem no processo
decisrio relativo aos cuidados que recebem.
A interao com o usurio est presente, por exemplo, no modo como se
estabelece os intervalos e as quantidades de analgsicos, a utilizao de sondas
nasoenterais ou nasogstricas para alimentao. Na utilizao de sondas,
procedimento a que os usurios resistem mesmo na fase final da doena, quando j
no tem mais possibilidade de alimentar-se, sendo esclarecidos sobre os benefcios
dessa alternativa de tratamento, podem fazer suas escolhas. Proporciona-se a
convivncia com outros usurios que j adotaram o procedimento, porm quando a
pessoa opta pela no utilizao esta condio respeitada (Nota de Observao).
-
Percebeu-se, tambm, entre os usurios do servio, tranquilidade no que diz
respeito s condutas de analgesia, pois sabem que, a qualquer momento, podem
solicitar a medicao sem serem questionados sobre a existncia real de dor.
Esse dado difere de estudo que aponta como uma das preocupaes dos usurios
os questionamentos da equipe de enfermagem sobre a intensidade da dor e os
intervalos entre os analgsicos, sob o argumento de que esto tomando medidas
para evitar viciar o paciente(14). Sobre este aspecto, estudos atuais tem discutido
a questo do manuseio da pessoa em cuidados paliativos, reforando a atuao
interdisciplinar como uma necessidade, quando se pensa em uma ateno que
englobe as mltiplas necessidades deste sujeito, as especificidades colocadas
quando se pensa na qualidade de vida como alternativa para queles que
enfrentam o fim de sua existncia, incluindo o debate multidisciplinar sobre a
autonomia destes sujeitos(16).
A prtica de participao e respeito aos desejos e necessidades dos usurios
beneficiam tambm os/as trabalhadores/as; possibilitam, ao grupo de profissionais,
planejarem e avaliarem suas aes, o que praticamente inexiste no modelo
tradicional de ateno sade. Pela participao no planejamento/execuo e
avaliao do projeto assistencial, os/as trabalhadores/as vem a conhecer os
sentidos das condutas adotadas, portanto, passam tambm a responsabilizarem-se
pelo resultado do trabalho.
A organizao e a diviso do trabalho na equipe estudada sinalizam que a
perspectiva interdisciplinar contribui para a realizao de um trabalho mais
cooperativo entre as diversas profisses e tambm entre os agentes da equipe de
enfermagem, assim como contribuem para um melhor atendimento ao usurio do
servio. Os conflitos existentes nas equipes de enfermagem, principalmente entre
enfermeiros/as e tcnicos/as de enfermagem, parecem diminuir nesta forma de
organizao do trabalho.
No entanto, percebeu-se na observao sistemtica que a participao dos/as
tcnicos/as de enfermagem da unidade hospitalar nas atividades da equipe
interdisciplinar restrita. Durante as entrevistas esse fato problematizado por
alguns profissionais, especialmente pelos profissionais mdicos/as, que questionam
a pequena participao dos/as tcnicos/as de enfermagem na reunio semanal da
equipe interdisciplinar; quando so realizadas a avaliao dos casos e o
planejamento da assistncia. As reunies da equipe acontecem no turno matutino,
horrio mais intenso das atividades de enfermagem e uma parcela dos/as
tcnicos/as de enfermagem, no consegue estar presente. As reunies da equipe
interdisciplinar so consideradas espaos privilegiados para a construo da
democracia interna, uma vez que nela so estabelecidos os planos assistenciais
para os usurios, assim como tomadas outras decises referentes atuao da
equipe.
A ausncia dos/as tcnicos de enfermagem aparentemente aceita com
naturalidade pelos/as enfermeiros/as, uma vez que a maioria dos/as
entrevistados/as no se mostrou incomodado/a com a situao. J a equipe
mdica demonstra uma preocupao maior com essa ausncia, com o que se
perde de contribuio pela no participao desses profissionais, bem como sobre
-
os efeitos da sua no participao no processo decisrio nas aes que,
posteriormente, tero que ser praticadas por eles.
[...] s vezes a gente faz uma reunio l em cima pra discutir um caso clnico, seria
fundamental que todos os tcnicos de enfermagem estivessem, porque eles tm
sentido os mesmos problemas que ns e eles no podem vir, porque esto na
assistncia. [...]. Ento tem pessoas que esto sempre margem e isso me
incomoda. Eu gostaria que todos estivessem inseridos, porque eles enriquecem,
trazem coisas novas que s vezes a gente no percebe, porque no esta ali no dia a
dia (m1).
A aceitao dos/as enfermeiros/as quanto a no participao dos/as tcnicos/as de
enfermagem em algumas etapas do processo de trabalho tem a ver com o modo
como a profisso foi estruturada em sua trajetria histrica. A diviso do trabalho
na equipe de enfermagem assenta-se em uma rgida hierarquia, na diviso entre
trabalho intelectual e manual, o que aceito e reproduzido pelos/as enfermeiros/as
acriticamente(1-2,14).
Na equipe estudada, algumas barreiras na organizao do trabalho no foram at o
momento solucionadas de modo a permitir uma maior participao dos/as
tcnicos/as de enfermagem nas reunies da equipe interdisciplinar. A ampliao da
participao desse segmento na tomada de deciso pode ser ajustada a partir de
iniciativas de representao, de rodzio de profissionais nas reunies e de
alternativas a serem inventadas pelo prprio grupo. As contribuies para tornar
essa participao uma possibilidade concreta pode vir de fora da enfermagem, pelo
olhar dos demais integrantes da equipe interdisciplinar, um olhar mais isento e
distanciado das dificuldades histricas das relaes internas construdas na equipe
de enfermagem.
Por outro lado, alguns/as tcnicos/as de enfermagem, mesmo diante dessas
limitaes, esto presentes na maioria das reunies emitindo opinies, fornecendo
informaes sobre o usurio, questionando, colocando suas opinies. Esta situao
demonstra que as oportunidades so aproveitadas de modo diferente pelos
sujeitos.
Outro aspecto da organizao do trabalho da enfermagem, que tem provocado o
distanciamento entre tcnicos/as de enfermagem e enfermeiro/as, a utilizao de
teorias e modelos assistenciais sistematizados, no obstante sua importncia para a
qualidade da assistncia e o desenvolvimento de um corpo terico de enfermagem.
Na instituio estudada, a enfermagem utiliza a sistematizao da assistncia na
programao e avaliao dos cuidados de enfermagem prestados aos usurios do
servio, baseando-se na teoria do autocuidado de Dorotheia Orem e Hildegard
Peplau. Os/as enfermeiros/as prescrevem os cuidados e registram a evoluo diria
da condio do usurio e os/as tcnicos/as de enfermagem realizam uma anotao
inicial quando da internao.
A gente faz prescrio e evoluo diria do paciente nas 24 horas [e] so
acrescentadas as intercorrncias. Os tcnicos de enfermagem s escrevem na
-
admisso Eles registram os sinais vitais, mas quem faz a evoluo so os
enfermeiros (e2).
A sistematizao da assistncia, realizada pela enfermagem, independente da
teoria utilizada, formulada de acordo com a lgica dominante de diviso entre
concepo e execuo do trabalho. O/a enfermeiro/a realiza a evoluo de
enfermagem, de acordo com suas observaes e com os registros de cuidados e
tratamentos realizados pelo pessoal tcnico. Atravs dessa avaliao, planeja as
aes de enfermagem e controla as tarefas e atividades realizadas pelo profissional
de nvel mdio. Os tcnicos de enfermagem, que utilizam o pronturio para retirada
de medicaes, cuidados e checagem destes, no costumam ler a evoluo
realizada pelo enfermeiro e pouco conhecem a respeito das teorias; cumprem as
atividades que lhes so destinadas, sem participao na sua definio(13,15-16).
No caso da equipe estudada, os tcnicos de enfermagem realizam anotaes na
admisso do usurio ao servio e estas integram o pronturio. A partir da utilizam
o pronturio para checagem e retirada de prescries. Leem as anotaes dos
demais profissionais quando possvel. Porm, no se percebeu nas observaes,
e nem foram citados nas entrevistas, conflitos resultantes desse modo de
organizao do cuidado. O resultado das aes que realizam no turno de trabalho
agregado s anotaes dos/as enfermeiros/as na folha de anotaes para
passagem de planto. Enfermeiros/as e tcnicos/as escrevem nessa folha e, uma
vez ao dia, um/a dos/as enfermeiros/as sintetiza as anotaes e, com suas
observaes diretas, realiza a evoluo diria da condio do usurio. frequente
observar durante o turno de trabalho, tcnicos/as e enfermeiros/as trocarem
informaes sobre o estado dos sujeitos internados, sobre cuidados prestados e
outras intercorrncias. Considerando a dinmica do trabalho da equipe e o pequeno
nmero de leitos nessa unidade de internao, parece que a comunicao e o
planejamento da assistncia so facilitados, as trocas profissionais acontecem
naturalmente durante o turno de trabalho no espao assistencial e h conhecimento
do projeto assistencial por todos os envolvidos.
Os/as enfermeiro/a planejam a assistncia no posto de enfermagem onde esto
os/as tcnicos/as de enfermagem. Com isso, acontece uma interao contnua
entre os profissionais. A sntese da evoluo do usurio, a prescrio de cuidados
no pronturio permeada pelo dilogo entre eles, h questionamentos sobre os
resultados dos cuidados realizados pela equipe e sobre a necessidade de
implementao de novos cuidados (Nota de Observao). Essa postura dos/as
enfermeiros/as parece contribuir para a integrao do contedo mais intelectual do
trabalho do/s tcnicos/as de enfermagem ao trabalho, com isso favorecendo a
melhoria das relaes interpessoais na equipe e a satisfao profissional.
A utilizao de teorias para a sistematizao da assistncia pelos/a enfermeiros/a
tem sido analisada como uma contribuio para a construo de corpo especfico de
conhecimentos de enfermagem, no sentido de aproximao do estatuto de
cincia(16). A utilizao da sistematizao da assistncia de enfermagem contribui
para a qualificao do trabalho profissional de enfermagem, mas dependendo do
modo como utilizada, pode constituir-se em instrumento de controle sobre as
atividades dos tcnicos e auxiliares de enfermagem, uma vez que essa aparece
-
como um elemento de identidade para os/as enfermeiros/as, mas no para
tcnicos/as e auxiliares(14).
Sobre este aspecto, a legislao de enfermagem refora a diviso do trabalho entre
enfermeiros/as e pessoal tcnico e auxiliar, de modo que independente do modelo
de prestao de cuidados adotado, o gerenciamento do trabalho e o planejamento
das aes assistenciais so sempre realizados pelos/as enfermeiros/as(4). A
legislao no impede, no entanto, a formulao e experimentao de relaes
mais democrticas, nem a realizao de um trabalho mais integrador(1). Na equipe
estudada a atuao interdisciplinar tem contribudo para melhorar as relaes
internas na enfermagem.
CONSIDERAES FINAIS
Pelo modo como operam as equipes interdisciplinares, possvel afirmar que a
participao nas mesmas tem reflexos positivos na prtica profissional de
enfermagem, fazendo com que os profissionais repensem suas relaes, buscando
mudanas significativas para a organizao do trabalho da equipe e para uma
assistncia de qualidade.
Nos pressupostos da interdisciplinaridade destaca-se a percepo de objetivos
comuns, cooperao, trocas de saberes, integrao entre os profissionais e
articulao dos saberes, aspectos presentes nas prticas da equipe estudada e que
contribuem para pensar a ateno em sade em uma perspectiva mais prxima da
integralidade.
No que diz respeito organizao do trabalho de enfermagem, em muitos
aspectos, a perspectiva de atuao interdisciplinar aponta para a possibilidade de
mudanas importantes, em outros casos, porm, apresenta ainda fragilidades.
Internamente s equipes, a atuao interdisciplinar parece influenciar
positivamente as profisses com um histrico de organizao do trabalho mais
prxima da viso taylorista, como o caso da enfermagem. A atuao
interdisciplinar gera movimentos internos, permitindo profisso rever a sua
prpria prtica, possibilitando um novo olhar para o trabalho assistencial e
potencializando a realizao de uma ao mais cooperativa entre os diversos
agentes da equipe de enfermagem, com resultados positivos para os/as
trabalhadores/as e para o usurio. Ainda com muitas limitaes, surgem, dessa
prtica, indicativos potenciais para o rompimento com o tradicional modelo
hierrquico da enfermagem e a constituio de novas formas de organizao do
trabalho.
O espao de participao resultante da atuao interdisciplinar sinaliza para a
possibilidade de construo de um modelo de cuidados que contempla a assistncia
de enfermagem na perspectiva da integralidade e na qual os diversos trabalhadores
participam no planejamento, execuo e avaliao do plano assistencial. Um
modelo cuja proposta de aproximao entre o saber e o fazer, dentro dos limites
impostos pela atual composio da equipe de enfermagem da realidade brasileira.
-
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Artigo recebido em 17/02/2011.
Aprovado para publicao em 14/03/2012.
Artigo publicado em 30/06/2012.