Implantação e desenvolvimento do Laboratório de Simulação...

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CORRESPONDÊNCIA: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Departamento de Clínica Médica Campus Universitário s/n — Monte Alegre 14048-900 Ribeirão Preto - SP Recebido em 18/04/2017 Aprovado em 31/08/2017 1. Docente, Chefe da Divisão de Emergências Clínicas do De- partamento de Clínica Médica da FMRP-USP; Coordenador do Laboratório de Simulação (LabSim) da FMRP-USP. 2. Docente, Chefe do Centro de Terapia Intensiva Pediátrica do Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP-USP; Vice-Coordenadora do LabSim da FMRP-USP 3. Docente, Chefe da Divisão de Cirurgia de Urgência e Trau- ma do Departamento de Cirurgia e Anatomia; Membro da Comissão Coordenadora do LabSim da FMRP-USP Implantação e desenvolvimento do Laboratório de Simulação (LabSim) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) Implementation and development of the Simulation Laboratory (SimLab) of Ribeirao Preto Medical School of University of Sao Paulo (RPMS-USP) Antonio Pazin-Filho 1 , Ana Paula de Carvalho Panzeri Carlotti 2 , Sandro Scarpelini 3 RESUMO Introdução: a Simulação é uma técnica de ensino que vem ganhando grande aceitação para o ensino de habilidades e comportamento profissional em diversas áreas. Para contornar as limitações impostas pelo elevado custo dos materiais envolvidos e da necessidade de capacitação específica, as instituições de ensino superior (IES) têm implantado laboratórios específicos. A FMRP-USP completou recentemente a instalação de seu Laboratório de Simulação (LabSim) com os objetivos de: 1) Centralizar, facilitar, capacitar e coordenar as atividades didáticas que envolvam Simulação para os cursos oferecidos pela FMRP-USP; 2) Promover autoaprendizado entre alunos de graduação para consolidação e complemen- tação do conteúdo fornecido em cursos regulares; 3) Desenvolver iniciativas inovadoras de capacitação e pesquisa em Simulação em Saúde. Objetivos: descrever o processo de implantação do LabSim para preservar a história da FMRP-USP; analisar este processo para traçar novas metas para seu desenvolvi- mento contínuo. Metodologia: o processo de desenvolvimento e fomento do LabSim é descrito em função cronológica, destacando-se as motivações para as decisões tomadas. Trata-se de estudo descri- tivo, embasado no resgate documental pertinente da FMRP-USP. Resultados: 1) A simulação é uma metodologia de ensino e não o simples uso de tecnologia, sendo necessário o investimento em capaci- tação de pessoal além da incorporação de tecnologia. 2) A estrutura física é um componente importante para explorar a metodologia em sua totalidade. Deve-se considerar os princípios de Flexibilidade, Apro- veitamento de Espaço, Gerenciamento de fluxo, Conectividade e Imersão. Também deve ser considera- da a realização de “benchmarking”, avaliando as soluções de outros laboratórios para que possam ser contextualizadas à realidade da IES. 3) Deve-se individualizar a aquisição de novos equipamentos com base nas disciplinas que já utilizam a metodologia e a aquisição deve estar vinculada com capacitação. 4) Um dos potenciais dos simuladores atuais é o autoaprendizado, que pode maximizar o tempo de exposição e individualizar o “feedback”. Conclusões: o LabSim da FMRP-USP deve ainda concretizar algumas de suas metas como a capacitação docente, o fortalecimento da inclusão de disciplinas da FMRP-USP buscando atuação multidisciplinar de acordo com as normas da Comissão de Graduação, o desenvolvimento de pesquisas na área de simulação e a projeção nacional e internacional do laboratório através de processos de acreditação. No entanto, frente às conquistas expostas, a implantação do LabSim é uma experiência exitosa e se encontra em franca evolução. Palavras-chave: Simulação. Simulação de Paciente. Treinamento por Simulação. Educação Médica. Descrição de Métodos, Técnicas Medicina (Ribeirão Preto, Online.) 2017;50(4):272-83 DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v50i4p272-283

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CORRESPONDÊNCIA:Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão

Preto da Universidade de São PauloDepartamento de Clínica Médica

Campus Universitário s/n — Monte Alegre14048-900 Ribeirão Preto - SP

Recebido em 18/04/2017Aprovado em 31/08/2017

1. Docente, Chefe da Divisão de Emergências Clínicas do De-partamento de Clínica Médica da FMRP-USP; Coordenadordo Laboratório de Simulação (LabSim) da FMRP-USP.

2. Docente, Chefe do Centro de Terapia Intensiva Pediátricado Departamento de Puericultura e Pediatria da FMRP-USP;Vice-Coordenadora do LabSim da FMRP-USP

3. Docente, Chefe da Divisão de Cirurgia de Urgência e Trau-ma do Departamento de Cirurgia e Anatomia; Membro daComissão Coordenadora do LabSim da FMRP-USP

Implantação e desenvolvimento do Laboratório deSimulação (LabSim) da Faculdade de Medicina de RibeirãoPreto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP)

Implementation and development of the Simulation Laboratory (SimLab) of Ribeirao PretoMedical School of University of Sao Paulo (RPMS-USP)

Antonio Pazin-Filho1, Ana Paula de Carvalho Panzeri Carlotti2, Sandro Scarpelini3

RESUMO

Introdução: a Simulação é uma técnica de ensino que vem ganhando grande aceitação para o ensinode habilidades e comportamento profissional em diversas áreas. Para contornar as limitações impostaspelo elevado custo dos materiais envolvidos e da necessidade de capacitação específica, as instituiçõesde ensino superior (IES) têm implantado laboratórios específicos. A FMRP-USP completou recentementea instalação de seu Laboratório de Simulação (LabSim) com os objetivos de: 1) Centralizar, facilitar,capacitar e coordenar as atividades didáticas que envolvam Simulação para os cursos oferecidos pelaFMRP-USP; 2) Promover autoaprendizado entre alunos de graduação para consolidação e complemen-tação do conteúdo fornecido em cursos regulares; 3) Desenvolver iniciativas inovadoras de capacitaçãoe pesquisa em Simulação em Saúde. Objetivos: descrever o processo de implantação do LabSim parapreservar a história da FMRP-USP; analisar este processo para traçar novas metas para seu desenvolvi-mento contínuo. Metodologia: o processo de desenvolvimento e fomento do LabSim é descrito emfunção cronológica, destacando-se as motivações para as decisões tomadas. Trata-se de estudo descri-tivo, embasado no resgate documental pertinente da FMRP-USP. Resultados: 1) A simulação é umametodologia de ensino e não o simples uso de tecnologia, sendo necessário o investimento em capaci-tação de pessoal além da incorporação de tecnologia. 2) A estrutura física é um componente importantepara explorar a metodologia em sua totalidade. Deve-se considerar os princípios de Flexibilidade, Apro-veitamento de Espaço, Gerenciamento de fluxo, Conectividade e Imersão. Também deve ser considera-da a realização de “benchmarking”, avaliando as soluções de outros laboratórios para que possam sercontextualizadas à realidade da IES. 3) Deve-se individualizar a aquisição de novos equipamentos combase nas disciplinas que já utilizam a metodologia e a aquisição deve estar vinculada com capacitação.4) Um dos potenciais dos simuladores atuais é o autoaprendizado, que pode maximizar o tempo deexposição e individualizar o “feedback”. Conclusões: o LabSim da FMRP-USP deve ainda concretizaralgumas de suas metas como a capacitação docente, o fortalecimento da inclusão de disciplinas daFMRP-USP buscando atuação multidisciplinar de acordo com as normas da Comissão de Graduação, odesenvolvimento de pesquisas na área de simulação e a projeção nacional e internacional do laboratórioatravés de processos de acreditação. No entanto, frente às conquistas expostas, a implantação doLabSim é uma experiência exitosa e se encontra em franca evolução.

Palavras-chave: Simulação. Simulação de Paciente. Treinamento por Simulação. Educação Médica.

Descrição de Métodos, Técnicas

Medicina (Ribeirão Preto, Online.) 2017;50(4):272-83 DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v50i4p272-283

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LabSim – FMRP-USP

Introdução

As metodologias ativas de ensino compreen-dem várias modalidades e estão sendo adotadasamplamente pelas Instituições de Ensino Superior(IES).1 A Faculdade de Medicina de Ribeirão Pretoda Universidade de São Paulo (FMRP-USP) tem sidopioneira na introdução dessas metodologias, inclu-indo a Simulação.2,3,4 Dentre as metodologias ati-vas, a Simulação tem a vantagem de trabalhar si-multaneamente conhecimento, habilidades e com-portamento, num ambiente protegido, provendo omelhor tipo de retroalimentação (“feedback”) queé aquele em que o próprio aluno depreende o queestá desenvolvendo, o que se poderia chamar deauto-retro-alimentação (“auto feed back”).5,6

Em que pese as vantagens do método, elerequer a utilização de simuladores que compreen-dem equipamentos de baixa fidelidade, como mo-delos anatômicos simples para prática de um exa-me de próstata, por exemplo, até simuladores que

reproduzem com alta fidelidade as funções fisioló-gicas e os distúrbios nosológicos que podem serencontrados em pacientes reais.7,8

O custo desses equipamentos está diretamen-te relacionado com esse grau de fidelidade, com-preendendo sua aquisição e manutenção. Frente aesses percalços, a estratégia de centralização dossimuladores em um laboratório específico tem sidoadotada por inúmeras IES e a Faculdade de Medici-na de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo(FMRP-USP) concretizou essa estratégia recente-mente com a inauguração do seu Laboratório deSimulação (LabSim-FMRP-USP).9

Esse artigo visa descrever o histórico da im-plantação do LabSim-FMRP-USP, suas finalidades esuas metas. Os aspectos técnicos da Simulaçãocomo metodologia ativa de ensino só serão refe-renciados para embasar os motivos que balizarama estrutura física e a aquisição de simuladores es-pecíficos. Espera-se preservar a memória da FMRP-USP na criação desse laboratório, que em muito

ABSTRACT

Introduction: simulation is a technique that has gained great acceptance for teaching skills and pro-fessional behavior in several areas. To overcome the limitations imposed by the high cost of the mate-rials involved and the need for specific training, higher education institutions have implemented dedi-cated laboratories. Ribeirao Preto Medical School of University of Sao Paulo (RPMS-USP) has recentlyinstalled its Simulation Lab (LabSim) with the following goals: 1) To centralize, facilitate, train andcoordinate didactic activities involving Simulation; 2) To promote self-directed learning among under-graduate students; 3) To develop research in Simulation in Healthcare. Objectives: to describe theprocess of LabSim implementation to preserve the RPMS-USP history; to analyze this process to outlinenew goals for its continued development. This is a descriptive study, based on revised historical docu-ments. Methodology: the process of LabSim development is described in chronological order, high-lighting the motivations for the decisions made. Results: 1) Simulation is a teaching methodology andnot the simple use of technology, being necessary the training of personnel besides the incorporation oftechnology. 2) The physical structure is an important component to explore the methodology in itsentirety. One should consider the principles of Flexibility, Space Utilization, Flow Management, Connec-tivity and Immersion. Consider Benchmarking to evaluate the solutions of other laboratories so you cancontextualize them into your reality. 3) Individualize the addition of new simulator according to thedisciplines that already use the methodology and link this acquisition with personnel training. 4) Theself-learning potential of new simulators can maximize the exposure time and individualize the feed-back. Conclusions: the RPMS-USP’s LabSim future goals include teacher training, strengthening theinclusion of disciplines, seeking multidisciplinary action in accordance with the standards of the Under-graduate Committee, the development of research in the field of Simulation and the national and inter-national projection of the laboratory through accreditation processes. Nevertheless, based on the evi-dence provided, the implementation of the LabSim is a very successful and evolving experience.

Key words: Simulation. Patient Simulation. Simulation Training. Education, Medical.

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contribuirá para a inclusão da Simulação como me-todologia de ensino nos seus diversos cursos, e pro-ver diretrizes para seu desenvolvimento.

Objetivos

Descrever a implementação e o desenvolvi-mento do Laboratório de Simulação (LabSim) daFMRP-USP

Metodologia

Trata-se de estudo descritivo em que foramresgatadas as informações extensamente documen-tadas no Processo FMRP-USP 2012.1.13958.1.5.Neste processo, estão incorporados todos os docu-mentos referentes às decisões administrativas, pla-nejamento estratégico, visitas a laboratórios noBrasil e no exterior que influenciaram a infra-estru-tura. Também estão relatadas todas as iniciativasde capacitação realizadas.

Além disso, utilizou-se referências bibliográ-ficas pertinentes à epidemiologia da utilização demetodologias ativas que fundamentaram a aquisi-ção de equipamentos e definição de metas para in-clusão da metodologia em outras disciplinas daFMRP-USP.

Resultados

Fatores que influenciaram a criação doLABSIM

O primeiro fator que já foi mencionado e quepode ser considerado como marco na estruturaçãodo LabSim foi a decisão da Comissão de Graduaçãoda FMRP-USP em criar um Laboratório de Habilida-des – item A - Figura 1. 2 Nesse mesmo artigo deTroncon LEA et al, são citados exemplos pioneirosde inserção de simulação de baixa fidelidade emalgumas disciplinas da FMRP-USP em caráter isola-do.2 No entanto, a necessidade da simulação já erasentida também em áreas de residência e capacita-ção profissional do Hospital das Clínicas da FMRP-USP (HCFMRP-USP), que se envolveram com Cur-sos de Suporte de Vida promovidos pelo AmericanCollege of Surgeons (ACS) e pela American HeartAssociation (AHA)- www.cursosls.com.br .10,11

Outro fator motivador para que o LabSim fos-se criado foi o desenvolvimento do Eixo Longitudi-nal de Emergências.12 Esse Eixo é composto por umconjunto de professores de diversos departamen-tos clínicos da FMRP-USP que estruturaram um con-junto de disciplinas ministradas do primeiro ao sex-to ano do curso de medicina, embasado em princí-pios de organização: 1) Caráter inovador e multi-

Figura 1: Laboratório de Habilidades da FMRP-USP (50 m2) – foi a primeira iniciativa institucional de prática de habilidadesda FMRP-USP promovida pela Comissão de Graduação. Foi incorporado ao LabSim após a sua inauguração

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disciplinar; 2) Formação contínua e progressiva; 3)Estruturação dos cenários de ensino com base noSistema Único de Saúde; 4) Metodologia ativa comobase para o ensino; 5) Tradução do aprendizadoem habilidades concretas; e 6) Reavaliação cons-tante para reestruturação das atividades.13 O prin-cípio de inserção de metodologias ativas como asimulação tornou os membros desse Eixo grandesincentivadores para a construção do LabSim.

Finalmente, devem ser destacadas: 1) a ini-ciativa da Universidade de São Paulo em propiciar arenovação de laboratórios de ensino através deeditais como o Pró-Inovalab; e 2) a compreensãoda importância do projeto por 3 sucessivas gestõesda Diretoria da FMRP-USP, que propiciaram os re-cursos para que o LabSim fosse construído.

Evolução histórica da instalação doLABSIM-FMRP-USP

A evolução histórica da instalação do LabSimpode ser acompanhada na Figura 2. Em suma, pode-se observar na parte superior da figura, atividadesde capacitação para o domínio da técnica, enquan-to que na parte inferior são detalhados os marcosestruturais, ambos relacionados com a linha do tem-

po. A Figura 2 sintetiza dessa forma a primeira pre-missa do desenvolvimento do LabSim, ou seja, quea Simulação é uma metodologia ativa de ensino querequer recursos estruturais de alto custo, mas quesem a capacitação e dedicação do corpo docente etécnico, todo o investimento é perdido. Embora estadivisão entre capacitação e estrutura seja utilizadapara fins didáticos ao longo desse artigo, é impor-tante salientar que elas estão imbricadas e quemuitas vezes será necessário fazer referência a umaspecto de uma para que se possa compreender aoutra.

Todo este processo deixa claro que o LabSimé mais do que um laboratório de ensino, sendo umprojeto institucional contínuo. Duas inauguraçõesjá foram realizadas (itens E e G - Figura 2) em 2015e 2016, sendo a primeira com a presença do Mag-nífico Reitor, e marcaram, respectivamente, a inau-guração da área física do LabSim (Figura 3, Figura4 e Figura 5) e a melhoria de seus simuladores (Fi-gura 6).

O LabSim conta com um regulamento pró-prio que estabelece uma Comissão Coordenadora.Esta comissão é composta por docentes eleitos pelaComissão de Graduação, a partir de nomes indica-

Figura 2: Evolução histórica das etapas de estruturação (A-E) e de capacitação (1-5) para a criação do Laboratório de Simulação(LabSim) da FMRP-USP. Destaque para o Logotipo do LabSim no canto superior esquerdo da Figura (seta verde), que foi uma conquistacelebrada na inauguração da 2ª etapa em 12 de dezembro 2016 (Item G).

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Figura 3: Estrutura do Laboratório de Simulação (LabSim) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Pauloinaugurado em 10 de abril de 2015.

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Figura 4: Princípios de organização estrutural do LabSim – 1) Flexibilidade de organização de cenários que pode ser aplicado a todas assalas destacadas em azul em (A). Como exemplo, a sala destacada pelo quadrado vermelho em (A), pode ser adaptada para cenário desuporte básico de vida (B) ou para prática de vias aéreas (C); 2) Otimização do espaço com armários dentro das próprias salas desimulação – seta vermelha em (B); 3) Gerenciamento de fluxo – Em (A) as setas vermelhas curvas demonstram o fluxo unidirecional quefavorece a realização de OSCE.

Figura 5: Estrutura das salas de simulação avançada do LabSim. Em (I) está destacada a estrutura das salas compostas por (A) salade controle; (B) sala de simulação; e (C) sala de “debriefing”, com destaque para as setas que apontam o vidro espelhado que permitea visão da sala (B) de quem está na sala (A) ou (C), mas não permite a visão de quem está dentro da sala (B) para as outras salas. Asfiguras (II), (III) e (IV) ilustram detalhes da estrutura demonstrada em (I), com os mesmos símbolos de letras (A-C) e setas (verde evermelha). Em (II), visão a partir da sala (C) da entrada das salas (A) e (B), sendo que a seta verde ilustra a face do vidro que permite avisão da sala (B) a partir de (C) durante as seções de simulação. Em (III), visão interna da sala (B) com a seta vermelha apontando parao vidro espelhado que impede a visão da sala (A). Em (IV), outro ângulo de visão da sala (C) na qual, além das convenções citadas háuma seta azul apontando para o televisor aonde são apresentados os vídeos gravados durante a seção de simulação como parte do“debriefing” (exemplo do princípio de conectividade do LabSim).

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dos pelos departamentos da FMRP-USP, continuan-do o desenvolvimento constante do laboratório, re-alizando reuniões mensais. Em seu primeiro ano detrabalho, concretizou passos importantes para for-talecer a identidade do LabSim, com a criação delogotipo (Figura 2 e Figura 3) e desenvolvimentode endereço na rede mundial de computadores(http://www.fmrp.usp.br/a-faculdade/estrutura-administrativa/laboratorio-de-simulacao-labsim/),estando em desenvolvimento um vídeo institucio-nal. Também está buscando iniciativas de capacita-ção docente e a ampliação da utilização do LabSimpor novas disciplinas. Um dos seus papéis funda-mentais está sendo a centralização, manutenção eatualização de simuladores, bem como a capacita-ção de técnicos em seu cuidado. Finalmente, temse esforçado para garantir visibilidade nacional einternacional com acordos de cooperação e inter-câmbio, motivo pelo qual todas estas iniciativas dedifusão estarão disponíveis em 3 línguas (português,inglês e espanhol).

Todo o processo de desenvolvimento doLabSim está exaustivamente documentado no Pro-cesso FMRP-USP 2012.1.13958.1.5. Todas as infor-mações também estão disponíveis no sítio eletrôni-co do LabSim (http://www.fmrp.usp.br/a-faculda-de/estrutura-administrativa/laboratorio-de-simulacao-labsim/).

Capacitação

A síntese de todo o conhecimento adquiridoanteriormente ao projeto de expansão do LabSimfoi documentada num Simpósio da Revista Medici-na (Ribeirão Preto) – item 1 - Figura 2(14). NesseSimpósio, buscou-se a contextualização do que eraa técnica, sua abrangência, potencialidades e difi-culdades, além de contextualizar iniciativas maissólidas que já existiam na FMRP-USP como os cur-sos desenvolvidos pela Divisão de Cardiologia doDepartamento de Clínica Médica vinculados à AHA,do curso de Suporte Avançado em Trauma promo-vido pela Divisão de Cirurgia de Urgência e Trauma

Figura 6: Exemplos de simuladores avançados disponíveis no LabSim. Os simuladores (A) e (B) permitem a prática de habilidades ecenários de fidelidade variável, permitindo também a alocação de tarefas individualizadas para cada aluno, de modo que o professorpossa acompanhar o desempenho de cada aluno e prover retroalimentação individualizada. Em (C), destaque para o Simulador “Harvey”que reproduz todos os sinais semiológicos das principais síndromes cardiovasculares e permite que outros alunos tenham acesso àausculta através de recursos wireless. Em (D), simulador obstétrico, que permite além dos cenários relacionados à gestante, também odesenvolvimento daqueles relacionados ao recém-nascido.

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do Departamento de Cirurgia e Anatomia vinculadoao ACS e iniciativas relacionadas ao aprendizadocom base em computador e em pacientes simula-dos. 3,4,10,11,15,16 Esse Simpósio merece destaque,pois foi uma das bases sólidas, assim como outrosartigos que serão mencionados, que possibilitarama aquisição de recursos para a estruturação doLabSim.

Levantamento realizado nas disciplinas ofe-recidas pela FMRP-USP para seus cursos de gradu-ação demonstrou que já existia o uso incipiente desimuladores de baixa fidelidade e programas decomputador por iniciativa isolada em diversos cur-sos.17 Também foi demonstrado as dificuldades demanutenção dos simuladores, capacitação e o inte-resse em centralizar esforços num laboratório insti-tucional. Isto concretizou a necessidade de amplia-ção do projeto original do Laboratório de Habilida-des, fomentando o projeto do LabSim (item B - Fi-gura 2).

As necessidades de capacitação levaram di-versos docentes a participarem do EuSIM (EuropeanSimulation) – Curso provido por um consórcio en-tre as Universidades de DIMS (Danish Institute ofMedical Simulation – Universidade de Copenhague- Dinamarca - http://www.ku.dk ), BARTS (Bartsand the School of Anesthesia - Inglaterra - http://www.blsa.org.uk/simulation-centres) e TuPASS (Uni-versidade de Tübigen - Alemanha - http://www.tupass.de/) – item 2, Figura 2. Esse curso foitrazido para o Brasil pelo Prof. Dr. Augusto ScalabriniNeto, da Faculdade de Medicina da Universidade deSão Paulo e foi um marco na introdução da Simula-ção no Brasil.

Após este curso, ocorreu progressivamente acentralização das disciplinas do Eixo de Emergênci-as no então Laboratório de Habilidades (item 2 -Figura 2), que por restrição de espaço (Figura 1),implicou na utilização de salas do Laboratório deAnatomia. Nesta primeira etapa, quando ainda nãoestavam disponíveis os simuladores que viriam aser adquiridos pela FMRP-USP, utilizaram-se os si-muladores adquiridos pela Fundação de Apoio aoEnsino, Pesquisa e Assistência (FAEPA) do HCFMRP-USP para o desenvolvimento dos cursos de Suporteà Vida em cursos regulares de graduação da FMRP-USP.10,11

O envolvimento externo também foi busca-do, sendo importante mencionar que um dos do-

centes da FMRP-USP exerceu a vice-presidência daABRASSIM (Associação Brasileira de Simulação naSaúde – www.abrassim.com.br) logo após a suafundação, auxiliando a divulgar a técnica no Brasilatravés de eventos como o II Congresso Latino-Americano de Simulação (item 4 - Figura 2). Tam-bém se buscou a participação em Congressos In-ternacionais de Simulação e a visita a Centros deSimulação no Brasil e no Exterior para se aprendernão somente as nuances da técnica, mas tambémos processos que deveriam ser desenvolvidos paraque o Laboratório de Habilidades se tornasse umLaboratório de Simulação. Buscou-se em todo mo-mento a inserção institucional desses esforços, sen-do a aprovação do Regulamento do LabSim pelaCongregação da FMRP-USP o seu maior marco, ca-bendo destaque para seus objetivos: 1)Centralizar,facilitar, capacitar e coordenar as atividades didáti-cas que envolvam Simulação para os cursos ofere-cidos pela FMRP-USP; 2) Promover autoaprendizadoentre alunos de graduação utilizando-se diversosníveis de Simulação para consolidação e comple-mentação do conteúdo fornecido em cursos regula-res; e 3) Desenvolver iniciativas inovadoras de ca-pacitação e pesquisa em Simulação em Saúde.

O projeto do LabSim foi encaminhado ao PRÓ-INOVALAB, programa de incentivo a laboratórios deensino da Pró-Reitoria de Graduação da Universi-dade de São Paulo (USP) em 2011. Nesta versão doprograma, todas as Unidades da USP poderiam en-viar projetos para serem avaliados e, se contem-plados, receberem um valor de até R$ 500.000,00(quinhentos mil reais) para sua execução. A FMRP-USP foi contemplada com o PRÓ-INOVALAB, desti-nando seus recursos para a aquisição dos simula-dores que seriam mais comumente utilizados deacordo com o levantamento realizado.17 No proje-to, também foi explicitado que assumiria a contra-partida para a reforma estrutural necessária. Devi-do aos atrasos com a licitação dos simuladores ereforma da área física, os novos simuladores foramincorporados a partir de 2013 (item 5 - Figura 2) ea área física reformada foi inaugurada em 2015(item E - Figura 2).

Até o presente momento, 14 cursos de gra-duação, 10 cursos de extensão e 2 cursos de pós-graduação estão sendo realizados regularmente noLabSim. Destaca-se que cada um desses cursos écomposto por diversas estações de diferentes ní-

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veis de fidelidade, o que garante a utilização doLabSim durante todo o ano letivo. Além das regrasestabelecidas no seu Regulamento, a ComissãoCoordenadora desenvolveu diretrizes para unifor-mizar a incorporação de novas disciplinas, proven-do inclusive consultoria caso o corpo docente jul-gue necessário (item 6 - Figura 2).

O formulário desenvolvido solicita a fidelida-de da atividade e o número de alunos (para deter-minar o tamanho da sala a ser alocada a ativida-de), o material a ser utilizado, detalhes da técnicaa ser empregada (demonstração, prática de habili-dades, simulação básica ou avançada), descriçãodo cenário em caso de simulação avançada, rela-ção do material permanente e de consumo e refe-rências bibliográficas. Esse material é arquivado noLabSim, solicitando-se a atualização anual, caso odocente julgue necessário. Este formulário pode seracessado no endereço eletrônico do LabSim.

Após desenvolvido o formulário, os técnicosse encarregam da montagem e desmontagem dasestações, realizando a revisão do material, reposi-ção de material de consumo e identificando mate-riais que necessitam de manutenção preventiva oucorretiva, ou mesmo a reposição do material. Des-sa forma, com a padronização das atividades, oLabSim visa desenvolver estimativas de custeioanual e pleitear verbas para ampliação do parquetecnológico embasado na utilização do material dis-ponível.

Para que este processo funcione, é necessá-rio a presença de técnicos dedicados ao LabSim queestão sendo capacitados nas diversas funções decatalogação e manutenção dos simuladores, mon-tagem e desmontagem de cenários e agendamentoe documentação das atividades desenvolvidas.

Infra-estrutura

Na porção inferior da Figura 2 estão destaca-dos os principais pontos históricos da evolução daestrutura do LabSim. Vários pontos já foram desta-cados e para melhor compreensão do processo seráutilizada a subdivisão em Estrutura Física e Simula-dores.

• Estrutura física

Em termos de estrutura física, a transforma-ção do Laboratório de Habilidades no LabSim impli-cou na ampliação de uma área de 50 m2 (Figura 1)

para uma área de 300 m2 (Figura 3). A nova áreadedicada à instalação do LabSim passou por refor-mas para adaptar os princípios de estruturação doLabSim – 1) Flexibilidade; 2) Aproveitamento deEspaço; 3) Gerenciamento de fluxo; 4) Conectivi-dade; e 5) Imersão.

O primeiro princípio foi o de flexibilidade paraconstrução de diversos cenários. Como é ilustradona Figura 4, com exceção de uma sala de aula e deduas salas de simulação avançada, todas as outrassalas do LabSim não possuem móveis fixos. Istopermite que dependendo da necessidade do cená-rio idealizado, as salas possam ser rapidamenteadaptadas para albergar a maior variedade de ce-nários possíveis, como exemplificado nos itens B eC da Figura 4.

Um segundo princípio foi o de aproveitar aomáximo o espaço disponível. Quase todas as salasdo LabSim dispõem de armários para os simulado-res mais comumente utilizados em cada sala (videseta vermelha – item B - Figura 4). Apenas o mate-rial de consumo é armazenado na sala de almoxari-fado, na qual os técnicos prestam manutenção pre-ventiva e corretiva aos simuladores após a utiliza-ção (Figura 3). Além disso, as duas salas maiorespossuem estrutura para a colocação de uma divisó-ria, de forma que possam ser subdivididas em 2ambientes de acordo com a necessidade.

O LabSim foi projetado também para favore-cer a inserção de outras metodologias ativas deensino e de avaliação do estudante, como o O. S. C.E. – “Objective, Structured Clinical Examination”. OLabSim possui um sistema sonoro instalado comtemporizador que sinaliza o momento de troca desalas ao longo do eixo de salas menores (setas ver-melhas curvas - Item A - Figura 4). Este princípiode gerenciamento de fluxo de estudantes duranteavaliação foi incorporado por solicitação da Comis-são de Graduação para facilitar a realização de “tes-tes de progresso”, exames periódicos realizadosentre os ciclos básico, clínico e internato.

Outro princípio foi o de conectividade. OLabSim dispõe de infraestrutura para instalação desistema centralizado de som e vídeo de cada umadas salas, sendo individualizado somente nas salasde simulação avançada. Desta forma, cada ativida-de de uma das salas menores pode ter o som evídeo gravados para “debriefing” após o término daseção. Estes vídeos são gravados numa central lo-

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LabSim – FMRP-USP

calizada na Sala Técnica (Almoxarifado) e podemser apresentados na Sala de Aula, por exemplo. Istopode ocorrer em tempo real ou ao final do cenário.Este recurso amplia a utilização do LabSim parapacientes simulados (atores ou pacientes) que par-ticipem em cenários de comunicação de más notíci-as, por exemplo.15

Todas as gravações realizadas são apagadasapós o término das seções. Por norma da Comis-são, todas as disciplinas que desenvolvem ativida-des no LabSim devem solicitar a assinatura de umtermo de consentimento dos alunos no início da dis-ciplina, no qual é informado que suas atividadesserão gravadas, mas apagadas ao término. Como oLabSim também foi desenvolvido com a meta defomentar pesquisa na área, alguns projetos podemrequerer que uma gravação seja guardada. Para queisto ocorra, a Comissão deve tomar ciência do pro-jeto de pesquisa e os alunos participantes devemassinar um novo termo de consentimento, consen-tindo que sua gravação seja guardada com esta fi-nalidade.

Embora a imersão, ou seja, o processo atra-vés do qual o aluno que está simulando uma ativi-dade atinge um nível em que passa a acreditar queo que está executando seja real, possa ocorrer emdiversos níveis, a estrutura física pode auxiliar amaximizar esse processo.5 Neste sentido, cabe des-taque para as salas de simulação avançada. Estassalas são estruturadas de acordo com o demons-trado na Figura 5. Cada sala dispõe de uma Sala deControle (item A - Figura 5), uma Sala de Simula-ção (item B - Figura 5) e uma sala de “debriefing”(item C - Figura 5). Estas salas contêm vidroespelhado com visão unidirecional (quem está nasala de simulação não visualiza quem está nas sa-las de controle e de “debriefing”) - Figura 5. As sa-las são conectadas por sistema de som, sendo queo moderador pode fornecer informações como sefosse o paciente (microfone incluído no simulador)ou através de sistema de som ambiental (“voz deDeus”) para os participantes na sala de simulação.Já o som e o vídeo de tudo o que ocorre na sala desimulação pode ser acompanhado pelos alunos queficam fora do cenário, na sala de “debriefing”, sen-do mais um exemplo do princípio de conectividade.Desta forma, quando um aluno ou grupo de alunosentra na sala de simulação para desenvolver umcenário, a imersão é facilitada por não se conseguir

ver quem está observando e receber informaçõesde modo direcionado, sem a presença do facilita-dor.

Na sala de controle, os cenários elaboradospodem ser programados em diagramas de fluxo ougerados em tempo real pelo operador. Nesta sala, otécnico e o docente monitoram o desenrolar do ce-nário, realizando adaptação em tempo real se ne-cessário. Os alunos que participam da sessão sãodivididos em dois grupos durante o cenário – umgrupo que participa efetivamente na sala de simu-lação e um grupo que acompanha o desenrolar apartir da sala de “debriefing”. Posteriormente à con-clusão do cenário, todos se dirigem para a sala de“debriefing” para a discussão do que ocorreu.

O ponto máximo de uma seção de simulaçãoé o “debriefing”, processo pelo qual o facilitadorgerencia a discussão do que ocorreu promovendo o“auto-feedback”. Para a realização do “debriefing”,uma das técnicas que podem ser empregadas é ademonstração de trechos significativos do materialgravado, utilizados pelo facilitador para direcionara discussão para o objetivo educativo do cenário(5).Para prover esse recurso, as duas salas de simula-ção avançada estão equipadas com televisores (setaazul – item IV - Figura 5).

• Simuladores

É importante ressaltar que desde as primei-ras iniciativas de centralização de recursos de si-mulação na FMRP-USP houve clareza que isto de-veria ser um auxílio, mas jamais substituir o conta-to com pacientes para a formação médica. Este prin-cípio foi mantido em todo o projeto do LabSim.

O dimensionamento do número e a fidelida-de dos simuladores de um laboratório são um de-safio em termos da relação custo-benefício. Comoressaltado anteriormente, o custo de aquisição emanutenção dos simuladores é diretamente propor-cional à fidelidade dos simuladores. Por ocasião dainstalação do Laboratório de Habilidades, vários si-muladores de baixa e média fidelidade já haviamsido adquiridos.2 Na estruturação do projeto inicialdo LabSim, esta estimativa já utilizou o que estavadisponível e os dados adquiridos de cada disciplinada FMRP-USP.17 Partiu-se dos princípios de que se-riam priorizadas as atividades que já estavam agre-gadas ao Laboratório de Habilidades,complementando lacunas para potencializar seu

Pazin-Filho A, Carlotti APCP, Scarpelini S.

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desempenho. Além disso, houve a preocupação deincluir simuladores de alta fidelidade que não po-deriam ser adquiridos com os recursos regularesdestinados à Comissão de Graduação anualmente.Desta forma, incorporou-se tecnologia de ensinopara fomentar o envolvimento docente. Destacam-se nesta fase os simuladores adulto, pediátrico eneonatal (Figura 5) e a introdução do simulador“Harvey” de semiologia cardiovascular (Item C -Figura 6), que foi o primeiro desta natureza a seradquirido no Brasil e na América do Sul. Este simu-lador é produzido pela Universidade de Miami e pelasua alta fidelidade é o único reconhecido pelaEuropean Society of Cardiology para realizar testesde proficiência para conferir título de especialista.A Universidade de Miami foi visitada e influenciou aestruturação do LabSim.

Após a conclusão do PRÓ-INOVALAB, a Dire-toria da FMRP-USP continuou o processo de fomen-to do LabSim em parceria com os DepartamentosClínicos da FMRP-USP e pela FAEPA do HCFMRP-USP.Nesta segunda fase, o princípio já foi buscar novastecnologias que pudessem fomentar a inclusão deoutras disciplinas que não estavam totalmente con-templadas pelo arsenal do LabSim. Houve busca denovas tecnologias para práticas de habilidades ci-rúrgicas e de novos simuladores de alta fidelidadepara áreas de obstetrícia e neonatologia, videola-paroscopia e ultrassonografia cardíaca, abdominale ginecológica (Figura 6). Na busca destes simula-dores de alta fidelidade, procurou-se contemplar umdos objetivos do LabSim que é o autoaprendizado.Estes simuladores permitem que seja alocado aosalunos cenários de complexidade variável de acor-do com o nível de aprendizado. O simulador man-tém o registro das seções realizadas pelos alunos,permitindo ao professor avaliar quais foram os ce-nários que não foram completados e individualizar“feedback”.

Como vários simuladores estavam voltadospara habilidades cirúrgicas, buscou-se a parceriacom o Laboratório de Técnicas Cirúrgicas da FMRP-USP, que passou a albergar o simulador de videola-paroscopia e os simuladores para prática de suturae pequenos procedimentos cirúrgicos. Os técnicosdeste laboratório foram capacitados para manuten-ção destes simuladores, mas os técnicos do LabSimtambém prestam auxílio.

Conclusões e perspectivas futuras

Em suma, a implantação do LabSim na FMRP-USP foi muito bem-sucedida e encontra-se num pro-cesso evolutivo de aprimoramento continuado. Apóstodo o percurso percorrido, alguns pontos de refle-xão devem ser destacados para planejamento. Oprimeiro ponto é que as soluções encontradas pelaFMRP-USP podem diferir das necessidades de ou-tras IES. Embora esteja claro que a centralizaçãode recursos de simulação em um laboratório sejauma solução custo-efetiva e seja importante poruniformizar a metodologia de ensino, a implanta-ção destes laboratórios deve ser individualizada paracada IES. No entanto, parece correto salientar queos princípios destacados podem auxiliar nestaindividualização:

1. A simulação é uma metodologia de ensino e nãoo simples uso de tecnologia, sendo necessário oinvestimento em capacitação de pessoal, além daincorporação de tecnologia.

2. A estrutura física é um componente importantepara explorar a metodologia em sua totalidade.Deve-se considerar os princípios de: 1) Flexibili-dade; 2) Aproveitamento de Espaço; 3) Geren-ciamento de fluxo; 4) Conectividade; e 5) Imer-são. Também deve ser considerada a realizaçãode “benchmarking”, avaliando as soluções de ou-tros laboratórios para que possam ser contextua-lizadas à realidade da IES.

3. O custo dos simuladores está diretamente rela-cionado com sua fidelidade. Deve-se individuali-zar a aquisição com base nas disciplinas que jáutilizam a metodologia e a aquisição deve estarvinculada com capacitação.

4. Um dos potenciais dos simuladores atuais é oautoaprendizado, que pode maximizar o tempode exposição e individualizar o “feedback”.

O LabSim da FMRP-USP deve ainda concreti-zar algumas de suas metas como a capacitaçãodocente, o fortalecimento da inclusão de discipli-nas da FMRP-USP buscando atuação multidiscipli-nar de acordo com as normas da Comissão de Gra-duação, o desenvolvimento de pesquisas na áreade simulação e a projeção nacional e internacionaldo laboratório através de processos de acreditação.

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LabSim – FMRP-USP

Embora o LabSim seja um projeto contínuo,a conclusão destas duas etapas de instalação con-cretizou a implantação da técnica na FMRP-USP. Nascondições atuais, o LabSim já pode ser equiparadocom os melhores laboratórios no país e, sem dúvi-da, poderá obter acreditação internacional em bre-ve. Cabe ao corpo docente e discente da FMRP-USPzelar para a preservação e contínuo aprimoramen-to do LabSim.

Agradecimentos

Aos Profs. Drs. Benedito Carlos Maciel, CarlosGilberto Carlotti Júnior e Margaret de Castro quenas suas respectivas gestões na Diretoria da FMRP-USP mantiveram apoio contínuo para o desenvolvi-mento do LabSim.

Ao Prof. Dr. Augusto Scalabrini Neto pela ori-entação e suporte no desenvolvimento do projetodo LabSim.

Ao Dr. Hermes Prado Júnior, pela preparaçãodo material fotográfico utilizado para as figuras desteartigo.

Este projeto foi financiado parcialmente comrecursos do Pró-Inovalab – USP de 2011, pela Dire-toria e Departamentos Clínicos da FMRP-USP e pelaFundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistên-cia (FAEPA) do Hospital das Clínicas da Faculdadede Medicina de Ribeirão Preto da Universidade deSão Paulo.

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