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XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG José Gabriel Aboin Gomes Camargo Engenheiro Sanitarista (PUC CAMPINAS 2004). Especialista em Gestão Ambiental (Faculdade de Paulínia 2007). Atua na SANASA desde 2000, ocupando o cargo de Coordenador do setor de Operação de Tratamento de Esgoto desde 2011. Luis Gustavo Alves de Lima Engenheiro Ambiental (UNIFEI-MG, 2007). Especialista em Saúde, Meio ambiente e Segurança (PROMINP/ USP 2009). Atua como Engenheiro no setor de Operação de Tratamento de Esgoto da SANASA desde 2012. Endereço (1) : Av. da Saudade, 500 Bairro Ponte Preta Cidade Campinas Estado São Paulo CEP: 13041-670 Brasil - Tel: +55 (19) 3735-5785 e-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho visa relatar a experiência da SANASA referente a operação e transferência de uma ETE concebida como móvel que permitiria o aproveitamento de seus componentes em sistemas provisórios de tratamento de esgoto dentro do município de Campinas. São apresentados os resultados durante a operação nos anos de 2012 e 2013 quando esta tratava o esgoto do bairro residencial Casas do Parque e são detalhados todo o processo de transferência e inicio de operação desta mesma ETE tratando o esgoto de um novo conjunto habitacional denominado Residencial Takanos. Ainda é relatado as etapas de tratamento desta concepção de ETE móvel (CEPT+MBBR). Foi possível desta forma descreverr os principais benefícios e limitações deste tipo de ETE os quais mostraram atrativos econômicos e ambientais visto a grande quantidade de ETEs da cidade de Campinas. Palavras-chave: Estação Móvel de Tratamento de Esgoto, Estação de Tratamento de Esgoto Compacta, Estação de Tratamento de Esgoto Provisória, CEPT, Desativação de Estação de Tratamento de Esgoto. IMPLANTAÇÃO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO MÓVEL PARA SISTEMAS PROVISÓRIOS NA SANASA ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 1

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XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

José Gabriel Aboin Gomes Camargo Engenheiro Sanitarista (PUC CAMPINAS 2004). Especialista em Gestão Ambiental (Faculdade de

Paulínia 2007). Atua na SANASA desde 2000, ocupando o cargo de Coordenador do setor de

Operação de Tratamento de Esgoto desde 2011.

Luis Gustavo Alves de Lima Engenheiro Ambiental (UNIFEI-MG, 2007). Especialista em Saúde, Meio ambiente e Segurança

(PROMINP/ USP 2009). Atua como Engenheiro no setor de Operação de Tratamento de Esgoto

da SANASA desde 2012.

Endereço(1): Av. da Saudade, 500 Bairro Ponte Preta Cidade Campinas Estado São Paulo

CEP: 13041-670 Brasil - Tel: +55 (19) 3735-5785 e-mail: [email protected]

RESUMO

Este trabalho visa relatar a experiência da SANASA referente a operação e transferência de uma

ETE concebida como móvel que permitiria o aproveitamento de seus componentes em sistemas

provisórios de tratamento de esgoto dentro do município de Campinas.

São apresentados os resultados durante a operação nos anos de 2012 e 2013 quando esta

tratava o esgoto do bairro residencial Casas do Parque e são detalhados todo o processo de

transferência e inicio de operação desta mesma ETE tratando o esgoto de um novo conjunto

habitacional denominado Residencial Takanos. Ainda é relatado as etapas de tratamento desta

concepção de ETE móvel (CEPT+MBBR).

Foi possível desta forma descreverr os principais benefícios e limitações deste tipo de ETE os

quais mostraram atrativos econômicos e ambientais visto a grande quantidade de ETEs da cidade

de Campinas.

Palavras-chave: Estação Móvel de Tratamento de Esgoto, Estação de Tratamento de Esgoto

Compacta, Estação de Tratamento de Esgoto Provisória, CEPT, Desativação de Estação de

Tratamento de Esgoto.

IMPLANTAÇÃO DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO MÓVEL PARA SISTEMAS PROVISÓRIOS NA SANASA

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INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

Frente a atual crise hídrica vivida no estado de São Paulo e a proposta de universalização do

Saneamento Básico proposto na lei 11445 de 2007 o tratamento de esgoto torna-se um dos

principais desafios socioambiental e um dever dos municípios. O tratamento de esgoto cresce de

forma acelerada para recuperar décadas de escassez de saneamento em todo o país. Este

quadro se justifica pelo avanço econômico, social e tecnológico do país, assim como na

importante Metrópole de Campinas.

Reconhecida a necessidade do saneamento para a qualidade de vida da sociedade, Campinas

evolui no tratamento de esgoto, rumo ao 100% de esgoto coletado e tratado para o ano de 2016,

onde se tornará a pioneira a atingir este mérito para uma população maior de 1.000.000 de

habitantes.

Neste contexto a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A. – SANASA, empresa

responsável pelo saneamento básico no município de Campinas possui um conjunto de 8 ETEs

de Grande Porte e 14 ETEs de menor porte, estas somadas tratam 80,56% de todo esgoto gerado

e uma capacidade instalada para tratamento de 92%. Ainda estão em construção 2 ETEs, outra

se encontra na fase de licitação e 5 encontram-se em processo de desativação. Estas Estações

estão locadas no mapa de Campinas na figura 1.

Figura 1 – Mapa de distribuição das ETEs da SANASA.

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As ETEs em operação adotam diversas tecnologias usadas em tratamento de esgoto combinando

processos anaeróbios e aeróbios, tais como reatores UASB seguidos de Lodos Ativados, Lodos

Ativados seguido de MBR, Lodos Ativados com aeração prolongada, Lodos Ativados por batelada,

UASB seguido de Filtro Biologico Aerado Submerso, UASB seguido de Filtro Biologico Percolador,

UASB combinado com Fisico-Quimico, Tanque Séptico combinado com Filtro Anaeróbio.

Porém, este processo de construção de unidades com capacidade de vazões de grande porte

para suprir o crescimento populacional demanda tempo, não apenas para a construção da própria

estação de tratamento, mas principalmente para a construção de seus emissário, que por sua vez

envolve obras e processos complexos entre elas travessias, abertura de valas profundas, impacto

nas redes de energia, telefone, água e gas, desapropriações de terra para caminhos de serviço e

de servidão e também implantação de elevatórias. No caso da cidade de Campinas, devido a

dimensão (área) e a topografia (relevo), é necessário ter em operação 85 E.E.Es (Estação

Elevatória de Esgoto) e provavelmente chegará a mais de 100 unidades para tratar os 100%.

Devido ao desenvolvimento sócio econômico do município de Campinas diversos

empreendimentos imobiliários surgiram em áreas sem sistemas de coleta de esgoto, visto estarem

em áreas mais distantes das regiões centrais. Em 1996 a prefeitura de Campinas sancionou a Lei

nº 8838 que exige a instalação de uma unidade de tratamento de esgoto própria ao loteamento,

ou ao Condominio.

Diante deste fato diversas Estações de Tratamento de Esgoto de pequeno porte foram

construídas pelos empreendimentos e repassadas a SANASA para serem operadas, com

diferentes concepções de tratamento e capacidades, atendendo a legislação vigente. Desta forma,

estas Estações são “provisórias” funcionando até a conclusão de todo sistema de coleta de

esgoto de suas regiões. Com a conclusão das redes os esgotos serão encaminhados as E.T.E.s

“definitivas”.

Contudo, estas Estações “provisórias” nem sempre foram projetadas para funcionarem por um

pequeno período gerando com isso perda da tecnologia; estrutura empreendida; investimento;

espaço utilizado; materiais de operação e custo de desativação.

A SANASA em seu pioneirismo desenvolveu em parceria com empresas e grupos de pesquisa um

conceito de ETE compacta móvel na qual a maior parte dos componentes poderia ser

reaproveitada.

As ETE’s compactas e móveis que apresentam um baixo custo de instalação, rápida montagem

devido a poucas obras civis, possibilitam a desmobilização com aproveitamentos das unidades e

equipamentos para outros empreendimentos, apresentam facilidades para a desativação da ETE.

Isso traz como consequência um curto prazo de execução e implantação.

Nesta concepção de ETE a área demandada é pequena reduzindo consideravelmente o custo

total da implantação. Devido influência do porte dos equipamentos, da vazão afluente e a rapidez

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dos processos de construção e implantação, visto que boa parte dos componentes são pré-

fabricados como os tanques de fibra de vidro e os containers de aço carbono, o licenciamento

ambiental também torna-se mais ágil.

Neste conceito de ETE compacta móvel não se utiliza automação para aumentar a facilidade de

instalação e desmobilização, haja visto ser um sistema provisório.

Este artigo busca relatar as experiências da SANASA com a operação da ETE Móvel inicialmente

para tratar o esgoto proveniente do condomoínio Residencial Casas do Parque durante um

período de 3,5 anos e seu descomissionamento e transferência com aproveitamento de seus

componentes utilizando para tratar o esgoto proveniente de um outro conjunto Residencial

denominado Residencial Takanos.

METODOLOGIA

A unidade móvel de tratamento de esgoto Casas do Parque é concebida por um sistema biológico

acoplado ao físico químico, com tecnologias de sistemas inovadores que ocupam um menor

espaço com qualidade de tratamento. Foram combinados os processos CEPT (Chemically

Enhanced Prymary Treatment) – Tratamento Primário Quimicamente Assistido para o tratamento

primário e para o tratamento secundário um MBBR (Moving Bed Biofilm Reactor) – Reator de

Leito Móvel de Biofilme acompanhado de um Decantador Lamelar de alta taxa. Na figura 2 tem –

se uma visão geral da ETE.

Conforme relata (JORDÂO et al 2002) o CEPT, se baseia na remoção de sólidos suspensos

através de processos físico-químicos de coagulação, floculação e sedimentação. O processo

permite a obtenção de elevadas eficiências na remoção de sólidos, matéria orgânica e fósforo

mesmo sob altas taxas de aplicação superficial (TAS). Quando empregado antecedendo o

tratamento secundário, face às elevadas remoções, permite a redução das dimensões das

unidades subsequentes. Apresenta-se também como solução tecnológica aplicável, para casos de

estações de tratamento de esgoto sujeita a variações temporárias de vazão em função, por

exemplo, do atendimento a populações flutuantes. Este fato possibilitará o aproveitamento da

unidade em uma grande faixa de vazões nos projetos futuros. Estudos relatam que o CEPT

apresenta eficiências de remoção de até 85% de sólidos suspensos, de até 60% de matéria

orgânica e até 90% de remoção de fósforo.

Tecnologias de processos biológicos com biofilmes desenvolveram-se rapidamente nas últimas

duas décadas e são frequentemente utilizadas em estações de tratamento devido à alta

concentração de biomassa conseguida, resultando em um pequeno espaço utilizado na

instalação, facilidade operacional e alta eficiência de remoção de poluentes. Odegaard et al (1994)

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relata que sistemas que apresentam biomassa aderida, além de dispensarem o tradicional reciclo

de lodo encontrado em sistemas convencionais, possibilitam que a biomassa permaneça sempre

dentro do meio reacional, fator esse que torna mais especializada a função a que se destina.

Figura 2 – Foto da Estação Móvel de Tratamento de Esgoto Casas do Parque

O Tratamento passa por 5 etapas:

• 1º Etapa: tratamento preliminar com poço de sucção, gradeamento, peneira e caixa de

gordura;

• 2º Etapa: pré sedimentador seguido de um tanque de equalização;

• 3º Etapa: dosagem de produtos químicos (PAC e TANINO);

• 4º Etapa: tanque de mistura; sedimentador primário; tanque de mídia livre (MBBR);

• 5º Etapa: tanques de mídia fixa e decantador secundário.

O tratamento preliminar possui um cesto retentor de resíduos no poço de sucção, seguido de uma

peneira, passa por medidor de vazão eletromagnético segue para uma caixa de gordura, as

únicas unidades construídas de concreto, porém de pequenas dimensões, além dos diques de

contenção das unidades operacionais móveis.

Este efluente é bombeado para um tanque móvel de fibra de vidro com divisória interna, o qual

tem a função de reter sólidos sedimentáveis no primeiro compartimento (Pré Sedimentador) e

equalizar o efluente no segundo compartimento. Neste tanque também será acumulado o lodo de

excesso e depois retirado com uso de caminhão esgota fossa.

O efluente é bombeado para uma câmara de mistura situada na entrada do container do sistema

biológico onde se inicia o processo CEPT onde são aplicados os produtos químicos PAC (cloreto

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de poli alumínio) e TANINO (polímero orgânico catiônico) para acelerar a aglutinação dos sólidos,

parte destes sólidos fica retida no decantador primário que é uma câmara seguinte à câmara de

mistura.

A fase aeróbia composta por um sistema MBBR com uma biomídia de área especifica de 500 mm

um volume de biomídia de 7 m3 com taxa de remoção de DBO de 5 KgDBO/m3dia, a qual permite

que o sistema de lodos ativados trabalhe na remoção de lodo com uma área menor, já que são

inseridas as mídias para aumentar a superfície de adesão dos microorganismos e formação de

biofilme. Esta câmara é seguida de duas câmaras com meio suporte fixo em polipropileno em

formato cilíndrico formando blocos estruturais com o com área especifica de 200m2/m3 diâmetro

de 55mm e dimensões de 55x55x55cm denominada de Biomídia Fixa.

Desta etapa o efluente segue para o decantador de alta taxa, para remoção de sólidos ainda

vindos dos processos anteriores.

Este tanque descrito acima é constituído de aço carbono, e cada câmara possui alternadamente a

entrada ascendente e descendente. Todas as unidades dispõem de válvulas de descarga de

fundo por onde são periodicamente realizados descartes e limpezas das unidades.

Figura 3 - Layout da Estação Móvel de Tratamento de Esgoto Casas do Parque

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Figura 4: Detalhes da biomidia usada na ETE Casas do Parque

RESULTADOS

A ETE operou durante o período de Setembro de 2010 a Abril de 2014 como o nome de ETE

Casas do Parque e apresentou eficiência na remoção de DBO e SST de 90%. A tabela 1 resume

os dados da ETE Casas do Parque. Como ilustração compilou-se os resultados do ano de 2012 e

2013 para remoção de DBO, SST e fósforo no gráfico mostrado nas figuras 5,6 e 7.

Tabela 1 – Resumo dos dados da ETE Móvel Casas do Parque

Dados ETE Casas do Parque Valor População atendida 1608 habitantes

Número de lotes (casas) 402

Vazão média 200m3/dia

Inicio de Operação Setembro 2010

Remoção de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) 90% em média

Remoção SST acima de 80% em média

Remoção de Fósforo acima de 80% em média

Durante a operação da ETE Casas do Parque para ajuste da dosagem de produtos PAC e Tanino

foram necessários ensaios de JAR TEST, os quais estabilizaram com uma dosagem média de

16,65 ppm de PAC apenas dispensando o uso do Tanino. Contudo, em outras estações moveis

da SANASA que utilizam o sistema CEPT torna-se necessário o uso dos dois coagulantes tais

como na ETE Santa Lúcia e ETE Porto Seguro. Provalmente o ocorrido na ETE Casas do Parque

está relacionado com ajuste de pontos de dosagem e fatores da hidrodinâmica da Estação e

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volume do Pré sedimentador das unidades que são diferentes. Este resultado foi alcançado

através de testes em bancada e práticos em escala real.

Percebeu-se que o sistema MBBR conforme já relatado na literatura especializada para se ter um

bom clarificado a operação do decantador secundário deve ser eficiente evitando “zonas mortas” e

problemas hidráulicos. Caso isso ocorra poderá ocorrer “arraste de lodo” para o tratado devido ao

desprendimento do biofilme. Este desprendimento do biofilme fica evidenciado pela quantidade de

sólidos no sistema como relatado na literatura neste tipo de processo.

Para buscar minimizar estes efeitos era realizado um monitoramento mensal através de analises

analíticas da série de sólidos dos tanques de mídia livre (MBBR) e fixa, analise da

sedimentabilidade em coluna (proveta) dos mesmos tanques e analises microbiológicas para

avaliar o desempenho do sistema MBBR. Também era realizado Cone Imhoff do Bruto e Tratado

para observar possível arraste no Tratado. Uma vez por semana era realizado a limpeza das

unidades com caminhão esgota fossa e retirada de lodo. Semanalmente eram removidos 14 m3 de

lodo que eram levados para uma estação de grande porte para serem desidratados e

encaminhados para disposição final.

Era também realizado periodicamente um monitoramento da concentração de Oxigênio Dissolvido

nos tanques de mídia livre e fixa os quais estavam acima 3 mg/l. (METCALF e EDDY, 1991) citam

a concentração mínima de 2 mg/l como sendo a mínima necessária para operar reatores

biológicos destinados a remoção de material orgânico. Durante a operação da ETE não ocorreram

reclamações de odor por parte dos moradores.

Figura 5: Gráfico eficiência de Remoção DBO ETE Casas do Parque nos anos de 2012 e

2013.

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Figura 6: Gráfico eficiência de Remoção SST ETE Casas do Parque nos anos de 2012 e 2013.

Figura 7: Gráfico eficiência de Remoção fósforo ETE Casas do Parque nos anos de 2012 e

2013.

Na data de 07/04/14 o emissário que interliga a região do condomínio foi concluído e o esgoto foi

então destinado para ETE “definitiva” EPAR Estação Produtora de Água de Reuso CAPIVARI II.

A ETE Casas do Parque foi então descomissionada com todos os equipamentos desligados,

todas as unidades foram drenadas, limpas e desinfectadas. Todo o processo levou 4 dias.

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Ao mesmo tempo, um novo conjunto habitacional destinado à população com renda de 1-3

salários mínimos estava em andamento no bairro Vila Olímpia sob o nome de Residencial

Takanos o qual iria atender uma população de 1800 habitantes. Cogitou-se então transferir a ETE

Móvel para aquela localidade.

Inicialmente foi elaborado um estudo preliminar com relação à vazão afluente prevista para o

condomínio Residencial Takanos, os quais se mostraram compatíveis com as vazões de projeto

da ETE Casas do Parque. Novos estudos com relação à disponibilidade da área e cota de

chegada foram também executados.

Em acordo com a construtora responsável pela construção do Residencial Takanos a mesma se

comprometeu a realizar as obras civis necessárias (terraplagem, poço de sucção, caixa de

gordura, construção bases de concreto para o sistema biológico, e diques de contenção). A

construtora contratou uma empresa especializada para realizar a desmontagem da ETE,

planejamento e montagem final no local desejado. A SANASA acompanharia todo o processo e

assumiria a operação assim que a obra ficasse pronta.

Iniciou-se então a transferência do tanque de equalização, containers do sistema biológico e

demais equipamentos (soprador,bombas submersíveis, bombas dosadoras, biomidias, etc) para

os quais utilizou-se dois caminhões Munk e duas carretas.

Depois de concluída a montagem hidráulica e elétrica uma equipe da SANASA realizou testes

funcionais nos equipamentos tais como bombas e sopradores. Depois de pronta a ETE ficou

aguardando a ocupação dos apartamentos pelos moradores para se dar partida no sistema a qual

ocorreu em 06/12/14. Com a chegada do esgoto na planta foram regulados níveis de altura da

lamina de trabalho nos tanques. Inoculo-se 10 m3 de lodo aeróbio nos tanques de mídia livre.

Todo o processo de implantação e transferência levou 45 dias.

Em paralelo, foi realizado o processo de desativação da ETE Casas do Parque com aterramento

do poço de sucção, demolição das obras civis e envio do entulho para unidade recicladora de

material. Todo o processo de desativação da parte operacional levou 2 dias.

Com relação a parte legal a SANASA elaborou um relatório detalhado sobre todas ações tomadas

no descomissionamento da planta juntamente com um histórico da área e solicitou a CETESB

manifestação para elaboração de um plano de desativação da ETE.

Além disso, está sendo verificado/estudado junto aos órgãos competentes qual será a definição

sobre o uso futuro da área. Atualmente a área da estação continua cercada com alambrado e para

segurança e monitoramento e realizada inspeções periódicas no local.

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Tabela 2 – Resumo dos dados da ETE Móvel Takanos

Dados ETE Takanos Valor População atendida 1800 habitantes

Número de Apartamentos 600

Vazão média 201,6 m3/dia

Início de Operação Dezembro 2014

Remoção de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) acima de 80% em média

Remoção SST acima 70% em média

Remoção de Fósforo acima de 80% em média

Tabela 3 – Resumo dos resultados analíticos iniciais da ETE Móvel Takanos

DBO SST FÓSFORO Mês Bruto Tratado Eficiência Bruto Tratado Eficiência Bruto Tratado Eficiência JAN 494 71 86% 520 146 72% * * * FEV ** ** ** ** ** ** ** ** ** MAR 503 107 79% 392 158 60% 10,8 2,58 76% ABR 477 50 90% 280 45 84% 8,67 0,85 90%

OBSERVAÇÃO: * Parâmetro não analisado ** Manutenção na ETE não foi realizada a coleta

Figura 8 - Layout da Estação Móvel de Tratamento de Esgoto Takanos

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Figura 9 – Foto da Estação Móvel de Tratamento de Esgoto Takanos.

Figura 10 – Transferência e desmontagem da ETE Casas do Parque.

Figura 11 – Início do processo de desativação da ETE Casas do Parque.

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DISCUSSÃO

Tomando como exemplo a ETE Ouro Verde uma estação do tipo lodo ativado com aeração

prolongada toda construída em concreto, sendo a vazão abaixo da ETE Casas do Parque/

Takanos devido ao número de obras civis o tempo elaboração do projeto e construção, e uma

ETE móvel, pode se estimar para este caso o tempo de implantação seria pelo menos 3 vezes

menor. Além disso, com o aproveitamento dos elementos pré-fabricados atinge-se além de uma

economia financeira uma economia ambiental com menor exploração de recursos naturais usados

como insumos da construção da ETE.

No caso de uma desativação muitos destes materiais não permitiriam um reaproveitamento como

por exemplo os aeradores que são específicos para este tipo de tratamento e somente poderiam

ser usados numa ETE com o mesmo projeto o mesmo pode se dizer das obras civis. Teremos o

mesmo cenário se compararmos com sistema de tanque séptico seguido de filtro anaeróbio onde

toda obra civil não teria reaproveitamento.

Partindo se para uma ETE pré-fabricada em plástico, fibra de vidro ou outros materiais novamente

teremos um projeto customizado onde boa parte dos componentes somente seriam aproveitados

em projetos semelhantes ou idênticos. Isto foi comprovado pela operação de outras ETEs de

pequeno porte da SANASA tais como a ETE Flavia (UASB + Filtro Aerado Submerso +

Decantador Secundário em tanques de fibra de vidro) e ETE São José (UASB + Biofiltro +

Decantador Secundário em tanque de aço carbono). Um resumo da comparação entre as

características destas ETEs é apresentado no quadro 1.

Quadro 1 – Comparação entre ETE móvel e demais ETEs.

ETE TIPO CONCEPÇÃO VAZÃO

(L/s) Projeto

VAZÃO (L/s) Real

TDH GLOBAL Projeto

TDH GLOBAL

Real AREA (m2)

Ouro Verde Alvenaria Lodos Ativados 1,80 1,75 42,0 43,2 468

Flavia Pre Fabricada UASB+ F.B.A.S 5,20 1,00 25,8 134,2 700

São José Pre Fabricada UASB+ Biofiltro 7,00 4,00 13,0 22,8 527

Bandeirantes Alvenaria Tanque Septico + Filtro Anaerobio 7,02 3,84 24,5 44,8 2.736

Casas do Parque Móvel CEPT + MBBR 2,31 2,27 16,0 16,2 310

Takanos Móvel CEPT + MBBR 2,33 3,60 15,8 10,2 350

OBSERVAÇÂO F.B.A.S =Filtro Biológico Aerado Submerso

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Por sua vez no caso das ETEs móveis poderia se fazer adaptações usando os mesmos

componentes da tabela 3, que ilustra quais os equipamentos foram reaproveitados na

transferência da ETE móvel para tornar-se a ETE Takanos.

O TDH (tempo de detenção hidráulica) para as ETEs compactas móveis constitui um fator crítico

já que este tende ser menor que outras ETEs. Isto implicara também na idade do lodo e na

concentração de sólidos no processo de tratamento e a necessidade de descartes e retiradas de

lodo constantes. Para a ETE Casas do Parque/Takanos o TDH total da Estação era de 16 horas.

Quadro 2 – Comparação entre ETE móvel e demais ETEs para sistemas provisórios.

COMPARAÇÃO ENTRE ETE MÓVEL E DEMAIS ETES

VANTAGENS DESVANTAGENS

Pequeno quantidade de obras civis, logo

menor tempo para implantação.

Necessita de acompanhamento da equipe de

operação principalmente no descarte de lodo no

decantador secundário para evitar arraste de lodo

no efluente tratado.

Aproveitamento de componentes gerando

economia financeira e ambiental.

Constantes retiradas de lodo através de caminhão

esgota fossa, visto falta de desidratação de lodo

na ETE.

Eficiência na remoção de DBO, SST e ainda

permite a remoção de nutrientes como o

fósforo.

Processo CEPT costuma gerar de 15 a 30% mais

de lodo que um tratamento primário convencional

(JORDÃO, 2009 p.234) .

A área para implantação é pequena e possui

facilidades e menor prazo para desativação

Necessidade de utilizar produtos químicos

encarecendo custo operacional.

Não ocorre problemas com odor e ruido na

circunvizinhança.

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Tabela 3 – Tabela de Aproveitamento componentes na ETE Takanos.

ITEM COMPONENTES APROVEITAMENTO PORCENTAGEM OBSERVAÇAO

1 Peneira Sim 100 Foi necessário ajustar a cota de Instalação

2 Bombas Submersíveis de Elevatória Esgoto Bruto Sim 100 Manutenção Preventiva

3 Tubulações em PVC Sim 10 Optou-se por fazer novas para facilitar a implantação.

4 Tubulações em aço (sistema de aeração Sim 50 Foi necessário adaptar a nova

instalação

5 Difusores de ar (tanque de mídia livre) Sim 100 Manutenção Preventiva

6 Bombas Submersíveis Elevatória 2 Sim 100 Manutenção Preventiva

7 Bombas Dosadoras Sim 100 Manutenção Preventiva

8 Biomidia (livre) MBBR Sim 95 Ocorreu perda de pequeno

volume durante operação de limpeza, drenagem e transporte

9 Biomidia (Fixa) Sim 95 Algumas unidades não foram

aproveitadas devido acumulo de lodo

10 Válvulas e Registros Sim 50 Alguns danificaram

11 Eletrodutos Sim 30 Alguns danificaram no transporte

12 Soprador Sim 100 Foi necessário construir nova linha de distribuição de ar

13 Container 40 FT sistema biológico Sim 100 Necessário transporte especial

14 Container 20 FT abrigo soprador e painel Sim 100 Necessário transporte especial

15 Quadro de comando acionamento bombas

submersíveis e soprador Sim 100 Necessário ajustar a nova

instalação

16 Container 20 FT escritório operador Sim 100 Necessário transporte especial

17 Tanque de equalização Sim 100 Necessário transporte especial

18 Macromedidor de Vazão Eletromagnético Sim 100 Necessária nova instalação

elétrica.

19 Pia para analises Sim 100 Necessária nova construção de suportes

20 Cesto Entrada de Esgoto Bruto Sim 100 Transporte

21 Bombas Submersíveis Elevatória 3 Sim 100 Manutenção Preventiva

TOTAL DE APROVEITAMENTO 87

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XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

CONCLUSÃO

A operação da ETE Casas do Parque, seu descomissionamento e sua transformação em ETE

Takanos comprovou os benefícios econômicos, sociais e ambientais esperados na concepção de

projeto de ETE móvel, uma vez que o deslocamento da ETE para outra localidade foi concluído

com êxito e o aproveitamento dos componentes foi acima de 80%.

A ETE Casas do Parque apresentou uma estabilidade no desempenho operacional com relação à

remoção de carga orgânica e na ETE Takanos os resultados iniciais apontam para manutenção

desta estabilidade. Houve poucas alterações no layout da ETE Casas do Parque e ETE Takanos,

contudo, existe uma grande flexibilidade possível que depende basicamente do espaço disponível,

do orçamento alvo para implantação da ETE e das obras civis projetadas ou requeridas.

Existem limitações para o aproveitamento das ETEs Móveis com relação a adequações das

vazões afluentes entre as duas localidades, pois irá influenciar os volumes dos tanques

disponíveis e o tempo de detenção hidráulica mas isso pode ser contornado fazendo algumas

adaptações e a implantação de módulos.

Para a realidade da SANASA que possui contrato com caminhão esgota fossa e também ETEs de

maior porte com sistema de desidratação de lodo a utilização da ETE móvel é indicada.

A experiência prática mostrou que para aumentar o tempo de vida do container do sistema

biológico é recomendável executar um tratamento de superfície nas paredes internas e externas

do container. Além disso, existe a necessidade de se adicionar um tanque especifico para

acumulo de lodo, pois neste sistema de tratamento a geração de lodo nas etapas de tratamento é

constante, ocasionando retiradas frequentes de lodo com caminhão esgota fossa. Efetuar

melhorias para a retirada de lodo do decantador e da ETE como um todo.

Novos estudos poderão mensurar a capacidade na remoção de nutrientes como nitrogênio uma

vez a adoção desta combinação de processos de tratamentos possui potencial para executar esta

remoção. Mensurar o benefício econômico gerado pelo aproveitamento das ETEs móveis.

Comparar os resultados analíticos das ETEs móveis com os resultados de outras ETEs

compactas em operação.

Como solução para uma instalação provisória a ETE compacta Móvel mostra-se economicamente

muito interessante devido ao reaproveitamento dos equipamentos tais como sopradores, bombas,

válvulas e tanques que por sua vez evita novas aquisições, gera menos resíduo como sucatas

metálicas e plásticas. Evita a baixa dos equipamentos e custos com armazenamento destes

equipamentos.

Como a transferência da ETE Casas do Parque foi concluída com sucesso. Uma segunda

transferência agora da ETE Movel Porto Seguro, está prevista para os próximos meses.

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No caso de Campinas onde devido a topografia e principalmente ao surgimento de condomínios e

loteamentos onde não existe coleta/tratamento de esgoto e com isso há necessidade de

construções de ETEs de pequeno porte. A utilização de ETE móvel é interessante e indicada pois

mostrou-se sustentável do ponto de vista econômico e ambiental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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São Paulo.

JORDÃO, E.P; VOLSCHAN JR.,I.; ÁVILA, R.O. E; SOUSA, E.C. (2002) Tratamento Primário Quimicamente Assistido (CEPT) e Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente (UASB) Comparação de Custos de Implantação e Operação. Simpósio Luso-Brasileiro de

Engenharia Sanitária e Ambiental – SILUBESA, 2002.

JORDÂO, E.P, PESSOA, A.C (2009). Tratamento de Esgoto Domésticos. 5 ed. Rio de Janeiro,

ABES: Synergia Editora 940 p.

ODEGAARD, H. (2006). Advanced Compact Wastewater Treatment based on Coagulation and Moving Bed Biofilm Process.

ODEGAARD, H.; RUSTEN, B.; WESTRUM, (1994) T. A new moving bed biofilm reactor – aplications and results. v. 29, n. 10-11, p. 157-165, 1994.

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