IMPERIALISMO E AGRONEGÓCIO

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NPGEO: “30 ANOS DE CONTRIBUIÇÃO À GEOGRAFIA” UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA - POSGRAP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA - NPGEO “30 ANOS DE CONTRIBUIÇÃO À GEOGRAFIA” São Cristóvão, 29 e 30 de Agosto de 2013. IMPERIALISMO E AGRONEGÓCIO Autor: Lucas Gama Lima Universidade Federal de Sergipe Membro do Grupo de Pesquisa Estado Capital Trabalho e as Políticas de Reordenamento territorial (GPECT) [email protected] Orientadora: Prof. Dra. Alexandrina Luz Conceição Universidade Federal de Sergipe Coordenadora do Grupo de Pesquisa Estado Capital Trabalho e as Políticas de Reordenamento territorial (GPECT) [email protected] 1-Introdução O presente estudo dedica-se a desvelar o imperialismo no campo brasileiro no século XXI, tendo como fulcro de investigação, a análise da dinâmica de acumulação de capital sob égide do capitalismo financeiro ou monopolista. Nas últimas décadas o imperialismo como categoria de análise, perdeu centralidade nas análises da macroeconomia e geopolítica mundial, sendo substituído por categorias como globalização, mundialização e neoliberalismo. Não raramente, o imperialismo passou a ser concebido como uma investida militar de uma nação sobre outra ou, o que representa um pensamento mais simplificador, uma ação militar e econômica dos Estados Unidos. Prima facie, todos estes pressupostos parecem estar corretos quando se prescinde do estudo das contradições imanentes ao movimento do capital e do significado do imperialismo. Diametralmente diferente, afirmamos que o imperialismo como categoria analítica segue válido, não obstante as “mudanças” no/do capitalismo – pois como disse Fontes (2010) as transformações no interior desse modo de produção destinam-se a preservá-lo – ao largo de mais de um século que impele a uma atualização da crítica imperialista cunhada pelos autores da Segunda Internacional, a saber, Hilferding (1985), Bukharin (1984) e Lenin (2002). Consideramos que o advento do imperialismo na segunda metade do século XIX, correspondeu a um momento singular do desenvolvimento capitalista que consistiu na

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O presente estudo dedica-se a desvelar o imperialismo no campo brasileiro no século XXI, tendo como fulcro de investigação, a análise da dinâmica de acumulação de capital sob égide do capitalismo financeiro ou monopolista. Nas últimas décadas o imperialismo como categoria de análise, perdeu centralidade nas análises da macroeconomia e geopolítica mundial, sendo substituído por categorias como globalização, mundialização e neoliberalismo.

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  • NPGEO: 30 ANOS DE CONTRIBUIO GEOGRAFIA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE - UFS PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA - POSGRAP PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA - NPGEO

    30 ANOS DE CONTRIBUIO GEOGRAFIA So Cristvo, 29 e 30 de Agosto de 2013.

    IMPERIALISMO E AGRONEGCIO

    Autor: Lucas Gama Lima Universidade Federal de Sergipe

    Membro do Grupo de Pesquisa Estado Capital Trabalho e as Polticas de Reordenamento territorial (GPECT)

    [email protected]

    Orientadora: Prof. Dra. Alexandrina Luz Conceio Universidade Federal de Sergipe

    Coordenadora do Grupo de Pesquisa Estado Capital Trabalho e as Polticas de Reordenamento territorial (GPECT)

    [email protected]

    1-Introduo O presente estudo dedica-se a desvelar o imperialismo no campo brasileiro no sculo

    XXI, tendo como fulcro de investigao, a anlise da dinmica de acumulao de capital sob gide do capitalismo financeiro ou monopolista. Nas ltimas dcadas o imperialismo como categoria de anlise, perdeu centralidade nas anlises da macroeconomia e geopoltica mundial, sendo substitudo por categorias como globalizao, mundializao e neoliberalismo. No raramente, o imperialismo passou a ser concebido como uma investida militar de uma nao sobre outra ou, o que representa um pensamento mais simplificador, uma ao militar e econmica dos Estados Unidos. Prima facie, todos estes pressupostos parecem estar corretos quando se prescinde do estudo das contradies imanentes ao movimento do capital e do significado do imperialismo. Diametralmente diferente, afirmamos que o imperialismo como categoria analtica segue vlido, no obstante as mudanas no/do capitalismo pois como disse Fontes (2010) as transformaes no interior desse modo de produo destinam-se a preserv-lo ao largo de mais de um sculo que impele a uma atualizao da crtica imperialista cunhada pelos autores da Segunda Internacional, a saber, Hilferding (1985), Bukharin (1984) e Lenin (2002).

    Consideramos que o advento do imperialismo na segunda metade do sculo XIX, correspondeu a um momento singular do desenvolvimento capitalista que consistiu na

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    unidade entre o capital monetrio portador de juros e o capital industrial cujo resultado a formao do capital financeiro e na nova fase do desenvolvimento capitalista, assinalada pelo poder dos monoplios. At meados da dcada de 1960, a economia imperialista dos pases centrais protagonizou invases, saques, guerras, expropriaes, lucros extraordinrios e toda sorte de expedientes contra os pases perifricos para assegurar a reproduo ampliada do capital dos monoplios e remunerar o capital monetrio portador de juros e, em menor quantidade, o capital fictcio. Entretanto, a crise de acumulao do capital nos albores dos anos de 1970 ensejou alteraes na organizao do capitalismo. Houve uma reestruturao produtiva do trabalho baseada na incorporao de tecnologia altamente poupadora de capital varivel, que incidiu deleteriamente na fragmentao sindical e poltica dos trabalhadores; o rompimento unilateral do acordo de Bretton Woods, que ps fim ao padro ouro-dlar e impulsionou a livre especulao cambial; a criao de meios de comunicao que permitiram a integrao do sistema financeiro e a sincronizao do ciclo de acumulao do capital entre as empresas multinacionais; e a desregulamentao das polticas fiscais e monetrias dos pases perifricos, que flexibilizou a entrada/sada de capitais. Estas alteraes estavam balizadas nas tendncias do desenvolvimento do capital, j anunciadas por Marx (1988), e cujo devir foi o maisculo descolamento do processo produtivo da propriedade do capital em propores bem superiores ao observado por Hilferding, Bukharin e Lenin.

    No capitalismo atual vigoram relaes sociais que j no esto pautadas somente na busca pela explorao de mais-valor. Embora esta permanea indispensvel para o capitalismo, compreende-se que a economia comanda pela lgica onisciente do D-D, e os Estados contribuem para o aprofundamento deste quadro com sua prpria participao no mercado financeiro, atravs da venda de ttulos de sua dvida soberana, alm da concesso de emprstimos e desregulamentao dos mercados. Ademais, nas novas condies em que se delineia o processo de acumulao do capital, verifica-se que a escala de sua atuao (re)ssignificada. O capitalista continua a depender da escala do local para a valorizao do valor, produo de mais-valia por meio do trabalho explorado, porm, a acumulao do capital, paulatinamente, descolou-se da escala local, forjando um processo de auferio de lucros (fictcios) que se consuma em escala global. Trata-se de um imperialismo distinto daquele analisado pelos pensadores da II Internacional, haja vista que o capital financeiro eminentemente especulativo se desenvolveu assumindo dimenses inauditas.

    No campo, o imperialismo assinala a proteo aos grandes empreendimentos agropecurios, a commoditizao da produo alimentar, a apropriao privada das fontes mundiais de gua potvel e a perda da soberania alimentar de vrios pases perifricos. O

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    agronegcio emergiu como um processo que combinou a integrao tcnica das atividades industriais junto s atividades agropecurias, associado ao financiamento bancrio e financeiro. No agronegcio, a produo agropecuria dedica-se a obteno de lucros que assegurem o pagamento de dividendos e a continuidade do processo especulativo. frente do agronegcio e vidas pelos referidos lucros esto empresas monopolistas de atuao em escala internacional, associadas aos bancos ou outras modalidades de financiamento, a exemplo dos fundos de penso, que controlam a produo, a distribuio e a circulao de sementes, os fertilizantes, os agrocombustveis, as fontes de abastecimento aqfero, etc. A vinculao com o capital financeiro alienou os cultivos de sua funo precpua, qual seja, a alimentao dos povos, haja vista que em vrios pases produtores de gros (Estados Unidos, Canad, Argentina, Brasil, entre outros) as colheitas se destinam a atender a produo de energia industrial dentro e fora de seus territrios, tendo seus preos controlados pelo mercado de futuros nas bolsas de valores de todo o mundo.

    as bolsas de mercadorias e futuro tornaram-se o centro regulador dos preos mundiais das commodities. Na Bolsa de Chicago se decide os preos da soja, milho, trigo, farelo e leo de soja. Na Bolsa de Londres so definidos os preos do acar, cacau, caf, etc. Na Bolsa de Nova York correm as cotaes do algodo, acar, cacau, caf e suco de laranja, etc. No Brasil, no tem sido diferente, a BM&F Bovespa atua no mercado futuro de soja, milho, caf, etanol e boi gordo. Na Bovespa esto as aes da SLC Agrcola, Brasil Agro, BRF-Brasil Foods, JBS, Marfrig, Minerva, Cosan, So Martinho, Tereos, Fibria, Suzano, Klabin, Duratex, Eucatex e Ecodiesel (OLIVEIRA, 2012, p. 06).

    A singularidade desse processo de sujeio do campo aos interesses do imperialismo que a terra enquanto bem no reproduzvel e fonte de vida (alimentos, gua, etc) para a espcie humana est sendo paulatinamente subsumida formal e realmente pelo capital, atravs da atuao dos monoplios. Assim, podemos considerar que a expanso do agronegcio nas terras agricultveis do mundo assinala o momento mais ameaador sobrevivncia da humanidade.

    2-Metodologia A proposta metodolgica objetiva estabelecer uma discusso terica sobre a sntese

    em que se plasma o capitalismo imperialista na produo do espao geogrfico. Abordando as contradies no como uma inconformidade, mas como um motor que move a histria, o estudo em curso est sustentado no materialismo histrico dialtico, tendo como condio bsica o entendimento processual da totalidade contraditria das relaes polticas e sociais, subordinadas pelo capital mundializado.

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    3- Expectativa de resultados A pesquisa em questo ainda d seus primeiros passos. Entretanto, podemos anunciar

    que os resultados at o presente momento, indicam que o imperialismo no campo representa a hegemonia do agronegcio, resultando num cenrio desalentador para a humanidade, haja vista que a apropriao monoplica sobre um bem natural e no reproduzvel pode significar para alm do aprofundamento das desigualdades de classe a extino da espcie, a longo prazo.

    4- Referncias BUKHARIN, N. A economia mundial e o imperialismo: esboo econmico. So Paulo: Abril Cultural, 1984. FONTES, Virgnia. O Brasil e o capital-imperialismo: teoria e histria. Rio de Janeiro: EPSJV/ Editora UFRJ, 2010. HILFERDING, Rudolf. O capital financeiro. So Paulo: Nova Cultural, 1985. _______. O imperialismo: fase superior do capitalismo. Traduo de Silvio Donizete Chagas. 2 ed. So Paulo: Centauro, 2002. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A mundializao da agricultura brasileira. Bogot: XII Colquio Internacional de Geocrtica, 2012.

    Eixo de Inscrio: Anlise agrria