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VI CONVIBRA – Congresso Virtual Brasileiro de Administração
IMPACTOS DE PROJETOS SOCIAIS NO DESENVOLVIMENTO LOCAL: O CASO DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO MUTÁ, BAHIA
Cristina Maria Dacach Fernandez Marchi – Professora da Escola de Administração de Empresas da Universidade Católica do Salvador – autora principal
Roberto José Tripodi Marchi - Professor de Empreendedorismo do Instituto Federal de Educação Tecnológica da Bahia – Campus de Simões Filho - co-autor
Edmilson de Jesus das Dores - Aluno da Escola de Administração de Empresas da Universidade Católica do Salvador – co-autor
RESUMO:
Diante de diversas perspectivas a respeito de enfoques teóricos sobre voluntariado,
trabalho comunitário ou capital social, visando o Desenvolvimento Local, verifica-se a
necessidade de estudos que contribuam para um maior entendimento e auxílio na
construção desses conceitos. Este trabalho objetivou analisar voluntariado e cooperação,
questionou-se se essas práticas seriam alternativas de desenvolvimento e de superação da
crise social em pequenos municípios brasileiros. Para isso, inicialmente, foi feita uma
discussão sobre desenvolvimento e empreendimentos economicamente solidários. Em
seguida, apresentou-se um estudo de caso em uma pequena comunidade localizada no
Recôncavo Baiano. Conclui que bons resultados têm sido alcançados na área voltada para
empreendimentos sociais. Entretanto, ainda há muito a ser estudado e compreendido no
que diz respeito aos condicionantes básicos, impactos e dimensões dos objetos estudados.
Palavras-Chave: Desenvolvimento Local, Empreendimentos Solidários, Capital Social, Estudo de Caso.
ABSTRACT:
In front of diverse perspectives regarding theoretical approaches on
volunteer work and Socializing Activities, many academic studies are trying to
increase the concept of the particular form of regional development: the Local
Development. This paper aims to analyze volunteer work and questioned if these
alternatives, based upon local initiatives and locally created comparative
advantages, would prepare smalls Brazilian communities for developing.
KEY-WORDS
Local Development; Volunteer work; Socializing Activities, Case Study
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INTRODUÇÃO
O movimento associativo popular é reconhecidamente lócus de mudança social e
desenvolvimento local. O associativismo é a expressão da ação voluntária1, coletiva, de
participação democrática de funcionamento, análise, discussão e execução participativa
de projetos.
Todos os anos, o dia cinco de dezembro foi o escolhido pela Assembléia Geral das
Organizações das Nações Unidas (ONU) para valorizar o trabalho voluntário em mais de 140
países. No ano de 2011 será celebrado o décimo aniversário do Ano Internacional do
Voluntariado, o “IVY+10”.
Em dezembro de 2007, em Genebra na Suíça, durante um Workshop dos apoiadores
do IVY+10, o Programa de Voluntários das Nações Unidas (UNV) ouviu algumas sugestões e
opiniões sobre de que forma o IVY +10 poderia ser festejado em 2011. As sugestões mais
populares para comemorar esta data foram: realizar uma campanha global com uma única
logomarca, promover concursos, exposições, documentários, competições, campanhas
publicitárias, selos postais, concertos musicais; nomear uma categoria intitulada
"Voluntários Embaixadores" em cada região geográfica do planeta; e realizar campanha
'boca a boca” viral, dentre outras. O Programa UNV trabalha com as agências das Nações
Unidas e outras organizações de desenvolvimento através das Delegações Nacionais do
PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) espalhadas pelo mundo. No
Brasil, estima-se que apenas 8% dos brasileiros praticam algum tipo de trabalho voluntário
(PNUD, 2009).
O incentivo a cultura do voluntariado e da participação ativa nos interesses
comunitários contribui para a construção de uma sociedade mais autônoma, democrática e
sustentável. Putnam (1993) afirma que é importante a organização comunitária e o
engajamento cívico, principais potencializadores do capital social, importante ferramenta
para o desenvolvimento econômico. Assinala que o Estado tem o dever de proporcionar
capital social através de políticas publicas criativas, que encoraje e criem condições
favoráveis à livre organização dos agentes e instituições. Para o autor, a criação das
condições à livre organização de agentes pode ser no sentido do desenvolvimento de
sistemas horizontais de participação cívica, que favorecem o desempenho do governo e da
economia. Este autor acredita que tanto os Estados como os mercados funcionam melhor
em contextos cívicos.
Tendler (1998) discute o atual entusiasmo pela descentralização e participação na
comunidade de desenvolvimento onde governo local e sociedade civil se aproximam na
busca de uma “dinâmica bidirecional de pressões para a accountability, resultando num
governo melhor” (TENDLER, 1998:31).
Milani (2003), no seu estudo sobre as Teorias do Capital Social, constatou que,
desenvolvimento local envolve fatores sociais, culturais e políticos que não se regulam
exclusivamente pelo sistema de mercado. Para Boiser (2003) a viabilidade de um alto nível
1 Nesse trabalho o conceito de voluntariado estará relacionado ao seu valor coletivo, não se reportando à idéia de voluntariado de caráter social e caritativo, de iniciativa individual.
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de capital social é questionável, além de não garantir a superação de problemas
específicos, nem combater subdesenvolvimento. Embora admita capital social como uma
importante semente de desenvolvimento. Entretanto não o considera mais relevante que
outras formas de capital, uma vez que a pobreza e o desenvolvimento são fenômenos
sistêmicos e complexos.
Para Marchi et al (2008) em resposta às transformações ocorridas no ambiente
econômico brasileiro das últimas décadas, cujo desenvolvimento local apresenta-se como
alternativa possível para a superação das desigualdades regionais e mazelas sociais, é
necessária a interação entre prosperidade socioeconômica e níveis de associativismo e
cooperação. O trabalho voluntário, quando estruturado formalmente, pode contribuir para
um processo de mudança social.
Diante de diversas perspectivas a respeito de enfoques teóricos sobre voluntariado,
trabalho comunitário e capital social, visando o Desenvolvimento Local, verifica-se a
necessidade de estudos que contribuam para um maior entendimento e auxílio na
construção desses conceitos. Este trabalho objetiva analisar voluntariado e cooperação,
questiona-se se essas práticas seriam alternativas de desenvolvimento e de superação da
crise social em pequenos municípios brasileiros. Para isso, inicialmente, será feita uma
discussão sobre desenvolvimento e empreendimentos economicamente solidários. Em
seguida, apresentar-se-á um estudo de caso em uma pequena comunidade localizada no
Recôncavo Baiano.
O ARQUÉTIPO DA PARTICIPAÇÃO CIDADÃ: EMPREENDIMENTOS SOLIDÁRIOS
A situação da população de pequenos municípios e distritos brasileiros,
principalmente aqueles localizados no Nordeste, é grave. Segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em 2003, o Nordeste tinha 77,1% de municípios com mais da
metade da sua população vivendo na pobreza, embora a desigualdade em relação a outras
regiões do país fosse menos intensa. As ciências sociais, incessantemente, buscam modelos
que impliquem evolução, crescimento e avanço para as comunidades que residem nestas
áreas. A exclusão social é um ato que priva os indivíduos de seu valor humano, impedindo
que se tornem sujeitos de seu processo social.
Goulart Viera e Carvalho (apud Knopp, 2007), colocam que as reflexões feitas
acerca da sociedade moderna dizem respeito ao aumento da riqueza global, às inovações
tecnológicas, ao avanço no campo científico. Ao mesmo tempo em que, se fala das
mazelas sociais provocadas pelo fenômeno da globalização de mercados, pelo modelo de
produção e sistema econômico capitalista vigentes.
O associativismo ou co-operação pode facilitar a produção e a distribuição dos bens
necessários ao desenvolvimento por meio da participação e da decisão responsável das
comunidades, construindo, de forma compartilhada, o progresso e a cidadania. Para Offe
(1998), é inegável o resultado positivo da ação comunitária. A família, os vizinhos, a
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comunidade em que cada um vive é a reserva moral da sociedade, é lá que o cidadão vai
encontrar a solidariedade sem interesses.
Para Knopp (2007), promover o progresso é dotar indivíduos de instrumentos e
oportunidades que lhes possibilitem transformar sua realidade, propiciar desenvolvimento
da sua consciência histórica, social e cultural, e de seu reconhecimento como sujeito
ético-político. Uma sociedade só pode se desenvolver plenamente se tiver consciência de
si, de suas raízes históricas, de sua identidade cultural, deve buscar a autocrítica, e
resgatar a auto-estima de seus indivíduos. Desenvolvimento não se limita a crescimento
econômico, e sim, a inclusão social, resgate e valorização cultural.
Muitos estudiosos (Boisier, Lopez, Max-Neef) e algumas instituições como a ONU,
contribuíram para o progresso do conceito de desenvolvimento. Há complexidade e
multidimensionalidade neste conceito. Para Boisier (2001) entender o desenvolvimento
requer enfoques holísticos, sistêmicos e de recursos. Neste estudo, buscou-se levantar e
analisar alguns tipos de desenvolvimento, que são apresentados no Quadro 1.0, juntamente
com os seus significados:
Tipo Descrição
Desenvolvimento Humano Criado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU). Mede o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Desenvolvimento Sustentável Conceito introduzido pelas Nações Unidas. Pensa o desenvolvimento presente sem comprometer as gerações futuras.
Desenvolvimento Endógeno As comunidades dispõem de recursos que estabelece o seu potencial de desenvolvimento, que servem para melhorar a qualidade de vida da população. O Capital Social é fator principal para o desenvolvimento local integral.
Desenvolvimento Territorial Acepção mais ampla do desenvolvimento. O território organizado possui atividades mais complexas, existe uma comunidade que se reconhece a partir dele, apresenta um tecido político, administrativo e institucional
Desenvolvimento Regional Ligado à idéia de transformação do território em sujeito coletivo, um processo de fortalecimento da sociedade civil, entendida como indivíduos, comunidade e região.
Desenvolvimento Local A noção de local é colocada quando se olha de cima. Um estado pode ser olhado como local se visto desde um país, ou um município é local se olhado desde um estado. Assim, ao invés de a localidade conter, – como ocorre com o território – ela está contida.
Dimensão Institucional de Desenvolvimento
Entende que as instituições são como regras que regulam as interações entre indivíduos e
organizações
Fonte: López (apud Knopp, 2007). Boisier (2001, 2003). Max-Neef, 2007. Elaboração dos autores.
Quadro 1.0 - Tipos de Desenvolvimento
O fortalecimento dos mercados internos, principalmente nos países pobres, com
maior estímulo às pequenas empresas locais é elemento fundamental para a promoção do
desenvolvimento sustentável. Defensor do desenvolvimento local, Max-Neef concebeu,
junto a outros pesquisadores, a Tese do Umbral, a qual estabelece que, a partir de um
determinado ponto do crescimento econômico a queda da qualidade de vida dos cidadãos é
inevitável, e o sistema econômico passa a ser antropofágico. Defende pequenos
empreendimentos baseados na cultura local, respeito pela natureza e mudanças do
pensamento até então vigente, de que só a partir do desenvolvimento econômico pode-se
ter desenvolvimento social.
Dentro deste contexto é que se apresentam os empreendimentos econômicos
solidários. Teixeira (2007), afirma que a economia solidária tem ganhado espaço frente ao
combate contra os efeitos do capitalismo, geração de renda e inclusão social. A autora
coloca que as diferentes formas de denominar empreendimentos econômicos solidários, na
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maioria das vezes, são causadas por partirem de realidades sociais e experiências distintas.
Entretanto, ainda segundo a autora “... as características destas experiências possuem um
núcleo comum, qual seja: a substituição do individualismo competitivo, característico do
comportamento econômico padrão nas sociedades capitalistas.” (TEIXEIRA, 2007:2).
Finalmente, discorre sobre as distintas compreensões entre a Europa e América Latina em
relação à conceituação da economia solidária; afirma que a tradição européia é a mais
antiga, e advêm da economia social que surgiu no século dezenove com o movimento
operário associativista, inspirada pelos ideários da ajuda mútua, da cooperação e da
associação.
Ideário, este, ausente em empresas capitalistas, onde os empregados geralmente
competem entre si por promoções, prêmios, chefias; no empreendimento solidário, a
tomada de decisão, em princípio, é feita com o conjunto de todos os trabalhadores; a
confiança e a ajuda são valores fundamentais.
Analisando os empreendimentos econômicos solidários, França et al (2006)
acreditam que existem características básicas entre estes empreendimentos: pluralidade
de princípios econômicos, autonomia institucional, democratização dos processos
decisórios, sociabilidade multidimensional e inserção cidadã. Já Moura e Meira (2002)
afirmam que existem vários tipos de representações para eles, que podem ser visualizadas
no Quadro 2.0.
TIPOS CARACTERÍSTICAS
Organizações de Finanças Solidárias Conhecidas como bancos populares. Voltadas para o microcréditos para iniciativas de organizações coletivas e populares.
Empresas Autogestionárias São empresas falidas ou em vias de falência, aproveitadas por seus trabalhadores que utilizam a tecnologia da empresa antecessora
Redes Voltada para a troca de bens e serviços, a maioria garante a sustentabilidade de seus empreendimentos.
Associações Podem ser de vários tipos, o que lhe confere um caráter mais amplo que as Cooperativas.
Clubes de Trocas Sistemas de trocas, objetivando o trânsito de bens e serviços, sem recorrer a uma lógica mercantil.
Grupos Informais Aproximam-se das cooperativas, mas quanto à Legislação, encontram-se em um patamar inferior.
Fonte: Moura e Meira (2002), Cattani, 2003. Elaboração dos autores.
Quadro 2.0 - Tipos e Caracteristicas dos Empreendimentos Econômicos Solidários
Cooperativismo Popular Muitas não conseguem auferir renda. Alto nível de instabilidade, gerada nas condições precárias de desenvolvimento.
A recomendação do Projeto do Milênio das Nações Unidas 2005, intitulado
“Investindo no Desenvolvimento: Um plano prático para atingir os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio, Visão Geral”, é que para se atingir estes objetivos os governos
precisam trabalhar ativamente com todos os segmentos, particularmente com as
organizações da sociedade civil e do setor privado. Assim, as vilas e as cidades para se
tornarem parte do crescimento econômico global precisariam ser providas de infra-
estrutura e capital humano para tal. Este Projeto identificou as “melhores práticas” em
oito conjuntos de investimentos e políticas, que são fundamentais para a consecução dos
Objetivos; o voluntariado, ou associação mundial para o desenvolvimento, é um deles.
Os graves problemas sociais sentidos pela população e a falta de resposta do Estado
estimulam um crescente sentimento de indignação e de necessidade de encontrar
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respostas coletivas e associativas para as necessidades dos diferentes grupos sociais. Em
diversas regiões do país, observam-se algumas vantagens do trabalho cooperado em
relação ao trabalho assalariado, destacando-se a autonomia e a flexibilidade. Para Teixeira
(2007) os empreendimentos econômicos solidários representam o nível da economia
solidária em que as relações econômicas ocorrem.
Neste trabalho, se abordará os empreendimentos associativos, que podem ser de
trabalho ou de moradores, por possuírem caráter mais amplo que os outros tipos de
empreendimentos econômicos solidários. Além disso, enquanto as associações são
organizações que têm por finalidade a promoção de assistência social, educacional,
cultural, representação política, defesa de interesses de classe, filantrópica, os outros
empreendimentos possuem finalidade essencialmente econômica.
Algumas vantagens do associativismo podem ser citadas: autonomia institucional;
fortalecimento comercial a nível local, regional e nacional; acesso à capacitação e
consultoria gerencial e técnica a custos menores; possibilidade de realização de compras e
vendas em conjunto; participação em feiras e eventos com menor custo; exercício da
cidadania mediante participação em projetos sociais, e promoção do crescimento de
segmentos econômicos locais. Desvantagens também são sentidas, como: ausência de
consciência sobre a importância do associativismo; receio de se expor ao concorrente;
difícil manutenção de nível de atratividade da associação, e comprometimento do grupo
com as ações planejadas. Essas duas últimas desvantagens são oriundas do
desconhecimento ou irregularidade de participação em movimentos comunitários;
principalmente no que se refere ao nível de direção.
Para se fundar uma associação, o primeiro passo é formalizar um estatuto, ir a um
cartório e se informar sobre os documentos e requisitos necessários para legalizar a
entidade. A sua estrutura de funcionamento é relativamente simples: uma diretoria eleita
pelos sócios (constituída de presidente, vice-presidente, tesoureiro e secretário),
assembléias - órgão máximo, onde são decididas questões a ser empreendidas pela
diretoria, ou referendadas as ações realizadas, conselhos de representantes e conselho
fiscal.
As associações de moradores contam com recursos organizacionais mínimos. São
pouco freqüentes a existência de um corpo de funcionários e suficiente fundo financeiro.
No próximo capitulo, se tratará das ações empreendidas por uma Associação de Moradores
de um pequeno distrito, com a finalidade de investigar as ações que são promovidas, o
suporte encontrado e se efetivamente vem contribuindo para a superação da crise social e
econômica da região onde se insere.
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ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO MUTÁ: METODOLOGIA E RESULTADOS ENCONTRADOS
Em termos metodológicos, este estudo é oriundo de pesquisa-ação. Neste tipo de
pesquisa não há separação entre pesquisados e pesquisadores, pois todos são considerados
sujeitos do processo. Segundo Boaventura Santos (2000), é necessário que se busque uma
racionalidade mais plural, um conhecimento compreensivo que não nos separe e sim nos
una pessoalmente ao que estudamos. Trata da “ecologia de saberes”, ou seja, do diálogo
entre sistemas de saberes de origens diferentes, e não apenas científicos. A metodologia
da pesquisa-ação interage com a de constituição de capital social, que valoriza as
interações sociais formais e informais, como a solidariedade entre vizinhos, ou a presença
de associações comunitárias.
Também foram realizados estudos bibliográficos, e construídos fichamentos para o
aprendizado dos alunos. O lócus da pesquisa é a Associação de Moradores de Mutá – AMMU,
situada na região de Jaguaripe, Bahia. A AMMU é formada por pessoas ligadas aos trabalhos
junto à pesca e à mariscagem. Os dados foram coletados mediante aplicação de
questionários, e tabulados pelos alunos de Iniciação Científica.
Inicialmente, buscou-se criar e consolidar relações de parcerias entre a AMMU e a
comunidade por meio de ações assistencialistas, a fim de promover a confiança necessária
para trabalhos associativos. Posteriormente, elaborou alguns projetos que se inserem em
aporte na luta contra a pobreza, no desenvolvimento da integração social, na geração de
renda, no fortalecimento de valores comunitários, solidários e participativos. Dentre
alguns projetos se encontram o Leite Amigo, iniciou em fevereiro de 2008, o qual fornece
uma cesta de alimentação mínima para crianças de 0 a 2 anos; o Projeto Catadoras de
Esperança, início em julho de 2008, que apoiou a capacitação em artesanato, e geração de
renda; e, o Arte na Praia, maio de 2009, que promoveu exposição cultural visando
propiciar incentivo, e uma maior conscientização e participação comunitária. Os resultados
desses projetos serão aqui apresentados e analisados.
1- Projeto voltado para Parceria e Ações Sociais: o Projeto Leite Amigo inicialmente assistia a 10 crianças; em março de 2009, contava com 28 crianças, houve um
aumento de 180%. Mas, o resultado mais significativo foi o aumento de peso e melhoria na
saúde das crianças assistidas. A proporção inicial de crianças abaixo do peso era de 80%,
em um ano essa proporção baixou para 10,7%, conforme pode ser visualizado no Gráfico
1.1.
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Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores.
Figura 1.1 - Gráfico do Projeto Leite Amigo – Relação Atendimento às Crianças e Evolução do Peso no Primeiro Ano.
Um importante passo dado foi a parceria com a Pastoral da Criança, instituição
ligada à Igreja Católica. Esta parceria ampliou o atendimento às crianças, tanto nas suas
necessidades de reforço alimentar, com a inclusão da farinha multimistura na dieta de 54
crianças, quanto na formação de líderes para acompanharem a saúde das crianças e de
suas famílias, Gráfico 1.2.
Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores.
Figura 1.2 - Gráfico da Evolução de Parcerias junto ao Projeto Leite Amigo – Relação Atendimento às Crianças, Peso e Uso da Farinha Multimistura.
Em setembro de 2008, foi promovida uma atualização da Logo do Projeto Leite
Amigo, que contou com a participação de professores e alunos, incentivando repassar aos
alunos a importância da fixação da marca em projetos sociais.
Figura 1.3 – Nova Logo do Projeto Leite Amigo
Essas ações foram implementadas para estreitar os laços de confiança entre a AMMU
e a comunidade, a confiança é considerada como componente básico do capital social.
Para Fukuyama (1996), o estímulo a capacidade de associação “... depende do grau de
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1º Ano 2º Ano
CriançasAtendidas
Crianças abaixodo Peso
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1º Ano 2º Ano
CriançasAtendidas -LeiteAmigo
Crianças abaixodo Peso
CriançasAtendidas -Pastoral
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partilha de normas e valores no seio de comunidades e da capacidade destas para
subordinarem os interesses individuais aos interesses mais latos dos grupos” (FUKUYAMA,
1996, p. 22).
2- Projeto voltado para Geração de Renda: o Projeto Catadoras de Esperança visou criar e ampliar a renda de associadas da AMMU com o oferecimento de cursos de
artesanato, fixação de ponto de venda e promoção dos produtos criados, Figura 1.3.
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Início Atual
Mães Artesãs
Mães Atendidas- Leite Amigo
Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores.
Figura 1.4 – Fotografia do Artesanato e Gráfico da Evolução de Mães participantes do Projeto Catadoras de Esperança.
Em julho de 2008, foram oferecidos cursos de artesanato para as associadas da
AMMU, onze delas aceitaram o desafio. No final de 2008, barracas foram instaladas na
praça central do distrito do Mutá para exposição e venda das peças. Alguns resultados
parciais podem ser apresentados: peças vendidas: 360 unidades; valor arrecadado com a
venda das peças: R$ 520,00, percentual revertido para AMMU (seguindo o acordo firmado
entre associadas participantes e diretoria): 20%, ou seja, R$ 104,00. A formação de
empreendimentos de caráter solidário erige-se como forma de valorizar o trabalho e as
relações democráticas, assentando-as em ideais de ajuda mútua e auto-sustentabilidade.
3- Projeto voltado para o Fortalecimento Comunitário: Projeto Arte na Praia, que levou os trabalhos e a cultura de alguns pintores da arte cristã junto à comunidade inserida
na área de atuação da AMMU. O objetivo foi valorizar o espaço social no qual vivem e
repensar a identidade dos seus moradores. O intuito deste Projeto foi incentivar a
comunidade do Mutá, a partir do conhecimento que já tem, a apreender novas
perspectivas e a importância da construção e da organização do espaço. A importância de
valorizar a arte, em locais desprovidos de alternativas de lazer, se dá pela necessidade de
estimular o universo restrito percebido por muitos moradores de comunidades carentes,
desafiando e confrontando a sua visão restrita de outras informações, permitindo a
exploração de novos conhecimentos. Acreditou-se que desta forma, esta exposição poderia
ampliar horizontes e promover uma maior consciência dos desafios enfrentados pela
comunidade, o que poderia se traduzir em maior participação comunitária.
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Figura 1.1
Figura 1.2
Figura 1.3
Fonte: Marchi, 2009.
Figura 1.5 - Fotografias da Divulgação e Participação no Projeto Arte na Praia
(Foto 1.5.1 – Cartazes promocionais divulgando o Evento; Foto 1.5.2 – Reproduções apresentadas na Exposição do Projeto Arte na Praia; Foto 1.5.3 –Participação da Comunidade)
A fim de avaliar as primeiras impressões causadas aos visitantes que compareceram à inauguração da exposição do Projeto Arte na Praia, e apreciaram obras que retratavam símbolos religiosos de pintores de renome e reconhecimento internacionais, se procurou apreender aspectos relacionados ao conteúdo e impactos daquele acontecimento, e expectativas futuras para os próximos eventos culturais.
O conteúdo da exposição foi satisfatório para 88% das pessoas entrevistadas. Este
resultado pode estar ligado ao impacto moral e emocional positivo que a exposição causou
na comunidade local, especialmente o pintor Giotto di Bondone. Seus trabalhos foram
escolhidos por 59% dos participantes, como as obras que mais lhes chamaram atenção
(Tabela 1.0).
Tabela 1.0 – Obra Mais Interessante
Satisfação quanto ao Conteúdo
Freqüência Percentual
El Grecco 2 11,8
Michelangelo 2 11,8
Caravaggio 3 17,6
Giotto 10 58,8
Total 17 100,0
Fonte: Pesquisa Direta. Elaboração dos autores.
Constatou-se que a totalidade das pessoas entrevistadas afirmou que a apreciação
das obras expostas lhes causou sentimentos diversos. Quando questionados quais reflexões
afloraram mais fortemente quando apreciavam estas obras, as respostas foram as que
seguem: “motivação” para perceber outros pontos de vista; “alegria” por poder enxergar
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coisas bonitas e coloridas; “admiração” pelas formas e cores; ”paz”; “auto-estima” por
estar tendo acesso a obras de mestres da pintura, e “bem estar” por poder apreciar pela
primeira vez uma exposição de arte, dentre outras. Quando questionados sobre a
expectativa por futuros acontecimentos culturais similares, 100% dos entrevistados
responderam que gostariam de participar de outros eventos.
CONCLUSÃO
A AMMU, apoiada pela Igreja e pela Universidade vem investindo em projetos
sociais e culturais, que contribuem para a promoção do desenvolvimento local com
igualdade de oportunidades e valorização das potencialidades, como é o caso do projeto
de geração de renda.
Porém, existem limitações em termos dos resultados efetivos ligados ao
desenvolvimento local das pequenas comunidades. Iniciativas locais necessitam reconhecer
a existência de interesses distintos, e conflitos latentes. A idéia de que o desenvolvimento
local é uma possibilidade decorrente de uma conjugação de esforços de atores locais é
ingênua. Associações ou Cooperativas, se conduzidas por um grupo de interesses comuns,
podem ser injustas, corporativas e egoístas (Offe, 1998). Por outro lado, paradoxalmente,
a capacidade de mobilização e articulação da comunidade pode ser vista como importante
papel para contribuir na geração de renda e melhoria econômica da localidade. O
desenvolvimento local e a cultura possibilitam a promoção da solidariedade grupal,
emancipação individual e coletiva por meio da participação social. Para Offe (1998),
apesar de tudo, é inegável o resultado positivo da ação comunitária.
Este trabalho objetivou responder se voluntariado e cooperação seriam alternativas
de desenvolvimento e de superação da crise social em pequenos municípios brasileiros.
Apesar de ser possível trazer algum nível de desenvolvimento a partir de iniciativas locais,
desde que apoiada por instituições e/ou organizações, uma real melhoria na qualidade de
vida de uma pequena comunidade não é tarefa fácil. As pequenas comunidades
nordestinas, como é o caso do distrito do Mutá, são dependentes de um contexto maior,
caracterizado por uma crise do capitalismo global, aumento da pobreza, do desemprego e
da exclusão.
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