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IMPACTOS DA MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NA PAISAGEM

RURAL DE COLORADO

Autor: Elisabete Aparecida Rosseto1

Orientador: Claudivan Sanches Lopes2

Resumo

Este artigo é resultado da implementação do projeto Impactos da Modernização da Agricultura na Paisagem Rural de Colorado, realizada com alunos do sétimo ano da Escola Estadual Cecília Meireles da cidade de Colorado, PR, no segundo semestre de 2011. Visando, de modo geral, contribuir para a melhoria do ensino de Geografia nos anos finais do ensino fundamental, a intervenção pedagógica tinha como finalidade estudar as transformações ocorridas na paisagem rural deste município, desde a chegada dos primeiros moradores e a consequente derrubada da mata nativa e a introdução da cafeicultura (ocorrendo aí à primeira transformação na paisagem), até os dias atuais, em que se verifica o predomínio da cultura da cana-de-açúcar e das pastagens. Durante as aulas, por meio de ações docentes e discentes planejadas na unidade didática, foram analisados os fatos históricos que determinaram as transformações identificadas na paisagem rural de Colorado, com destaque para o processo de modernização da agricultura das últimas décadas. Verificou-se que os alunos precisam e querem saber mais sobre o lugar onde residem. Como, normalmente, os materiais disponíveis para estudo durante o período que estão cursando do 6º ao 9º ano, não oferecem conteúdos e exemplos mais específicos relacionados ao município em que vivem o material produzido [a unidade didática] e a eles disponibilizados, revelou-se de grande utilidade. O estudo do lugar no ensino de Geografia oferece, portanto, uma grande e rica possibilidade para explorar os conteúdos desta disciplina escolar.

Palavras-chave: Ensino de Geografia; paisagem; modernização da agricultura; cafeicultura; cana-de-açúcar.

1 Professora PDE, pós-graduada em geografia pela Universidade do Oeste Paulista, atua na Escola Estadual Cecília Meireles na cidade de Colorado-PR.2 Professor Doutor, atua no Departamento de Geografia, na Universidade Estadual de Maringá.

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Introdução

Este artigo tem por objetivo relatar os resultados obtidos com a

implementação do projeto de intervenção pedagógica denominado: impactos da

modernização da agricultura na paisagem rural de Colorado, vinculado ao PDE

(Programa de Desenvolvimento Educacional), oferecido pelo governo do Estado do

Paraná como possibilidade de formação continuada aos professores que compõem

os quadros da Secretaria Estadual de Educação – SEED. Foi realizada, como se

verá em detalhes a seguir, com os alunos do sétimo ano do ensino fundamental da

Escola Estadual Cecília Meireles localizada na cidade Colorado-PR.

No segundo semestre de 2011, foi realizada a implementação deste projeto

em contraturno uma vez por semana. As aulas, em parte, foram realizadas em sala

de aula com a utilização de alguns recursos que facilitaram e, ao mesmo tempo,

chamavam a atenção dos alunos, como, data show, mapas e imagens relacionadas

ao assunto em questão. No caso do trabalho com imagens, merece destaque a

utilização de fotos antigas e recentes da paisagem rural de Colorado, associadas a

depoimentos importantes de moradores antigos que relataram como era a paisagem

rural deste município quando aqui chegaram e, ainda, recursos menos sofisticados,

porém importantes, como o mapa político do Paraná.

No decorrer das aulas foram trabalhados aspectos relacionados à localização

do município de Colorado e, mais especificamente, às transformações pelas quais a

paisagem rural desse município passou ao longo do tempo, bem como, os fatos que

provocaram essas mudanças e suas consequências.

Como a paisagem rural deste município foi mudando até chegar às

características dos dias atuais? Para responder essa pergunta e proporcionar aos

alunos aprendizagens significativas, ou seja, para que alcançássemos os objetivos

formulados no projeto, foram desenvolvidas práticas pedagógicas diversificadas tais

como, aulas expositivas em sala de aula e leitura de material bibliográfico, realização

de entrevistas com moradores antigos, aulas de campo e pesquisa como visita ao

museu da cidade, às áreas rurais do município e coleta de fotografias antigas.

Os resultados, como veremos ao longo deste artigo, foram satisfatórios e

acreditamos que o trabalho deve ser estendido para todas as turmas dos sétimos

anos, uma vez que, estudar e conhecer os processos históricos que determinam as

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transformações das formas que compõem as paisagens do local em que se vive, é

fundamental para o ensino e aprendizado de Geografia e, mais amplamente, para o

viver mais crítico e consciente no espaço geográfico.

Desenvolvimento

Este artigo, como já ressaltamos, é resultado da implementação do projeto de

intervenção pedagógica realizada no segundo semestre de 2011, e vinculado ao

PDE. Durante um ano estudei as transformações ocorridas na paisagem rural do

município de Colorado-PR para, em seguida, com o material didático em mãos,

colocá-lo em prática com um grupo de alunos do sétimo ano.

Trabalhamos uma unidade didática composta de uma parte teórica, análise

histórica com o apoio de tabelas e gráficos, uma parte com atividades práticas tais

como a realização de entrevistas e coleta de fotografias que revelassem as formas

da paisagem do município em décadas passadas, associadas a aulas de campo. O

objetivo, como já destacado, foi levar o aluno a vivenciar como era a paisagem rural

do município de Colorado quando o mesmo surgiu, comparando com as mudanças

provocadas pela modernização da agricultura verificada ao longo das últimas

décadas até os dias atuais.

Iniciamos a implementação, com a localização do município de Colorado

utilizando-se de representações com mapas do Brasil, destacando o Paraná, mapa

do Paraná destacando o município de Colorado, para que o aluno visualizasse e

identificasse onde está inserido. Cada aluno recebeu um material impresso e tinha

como auxilio visual, a exposição do mapa em data show. Neste momento foi

interessante a participação dos alunos, que fizeram perguntas sobre o município e,

também, os questionamentos de um aluno deficiente visual que acompanhou este

estudo com auxilio de um mapa com seu contorno perfurado para que manuseasse

e entendesse o assunto que estava sendo trabalhado.

Na explicação sobre o mapa foi importante localizarmos o município de

Colorado na região Norte do Paraná, mais precisamente na porção denominada de

Norte Central Paranaense, a região a que pertence (sul do Brasil), os estados

vizinhos (Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul); bem como sua

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extensão territorial (403741 Km2) e a localização geográfica, latitude e longitude

(22º50`15”s e 51º58`23”w).

Um dos pontos positivos verificados no desenvolvimento do projeto foi o

interesse e a participação da turma. Os alunos que participaram da implementação

foram, portanto, participativos, questionadores e se mostravam muito interessados

pelos temas tratados. No dia em que foi explicado sobre a localização do município

de Colorado além de visualizarem os mapas, eles tiveram a curiosidade de procurar

outros municípios do Estado do Paraná e aproveitaram para falar de outros locais

que eles já moraram ou visitaram. O pouco conhecimento sobre o município onde

vivem, imaginamos, fez com que os alunos demonstrassem grande interesse pelo

assunto.

Depois de realizada esta primeira etapa, passamos a estudar os fatos

históricos relacionados com a produção da paisagem rural do município de

Colorado. Neste momento foi realizada, “uma volta ao passado”, desde a época em

que foram dados os primeiros passos para o surgimento do que é hoje o município

de Colorado, até os dias atuais. Desta forma trabalhamos com os alunos que a

companhia que adquiriu as terras que deram origem ao município de Colorado foi a

Companhia Imobiliária Agrícola de Catanduva (CIAC), originária da cidade de

Catanduva no Estado de São Paulo. Observamos o mapa do Estado de São Paulo

para localizarmos este município junto com os alunos e, na oportunidade, esclarecer

que o município recebeu muitos colonizadores oriundos das redondezas de

Catanduva e também do próprio município, uma vez que a companhia que adquiriu

as terras que deram origem ao município de Colorado vendeu grande parte dos lotes

para pessoas da região de Catanduva. Algumas perguntas surgiram entre os alunos,

como por exemplo; “como eram compradas as terras pelas companhias?” Para

respondermos essa pergunta recorremos a Fonseca (2008).

De acordo com a autora, a Companhia Imobiliária Agrícola de Catanduva

(CIAC) adquiriu de Cesariano Afonso dos Santos uma área de terras de 1.586.200

m/2, parte de uma gleba de 5.000 alqueires, situada no atual município e comarca

de Sertanópolis, o qual denominava Bacia do Pirapó. Em 19 de junho de 1948,

passou a ser chamado de “Patrimônio de Colorado”, no município de Jaguapitã,

iniciando o loteamento da área de 488 Km2 com o objetivo de comercializá-lo. Em

seguida foi realizada a localização dos municípios de Sertanópolis, Jaguapitã, e do

rio Pirapó para que assim os alunos pudessem se localizar de acordo com a

explicação.

Conforme pesquisa realizada por Fonseca (2008), informamos aos alunos

que a Companhia Imobiliária Agrícola de Catanduva iniciou a demarcação da área

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rural e urbana do atual município de Colorado em meados de 1948, e em seguida

começaram a chegar às primeiras famílias nesta localidade. De 1949 a 1954, o

então patrimônio de Colorado obteve um grande crescimento populacional, quando

foi elevada a categoria de município e desmembrado de Jaguapitã pela Lei nº 253

de 02 de dezembro de 1954, tornando-se oficial em 10 de dezembro do mesmo ano,

com posse do primeiro prefeito e dos vereadores. Esse crescimento é explicado

devido à economia cafeeira.

Com a explicação surgiram várias outras perguntas, tais como: “por que a

população de Colorado cresceu nas décadas subsequentes tão rapidamente?” “O

que foi a economia cafeeira?” “Quem foi o primeiro prefeito?” O questionamento

sobre o nome do primeiro prefeito, foi respondido, o Sr. Jerônimo Ribeiro e, as

demais, passamos a estudar tendo-se base a unidade didática produzida para este

fim. Com a leitura do texto que faz referência à parte histórica do município de

Colorado, foi possível entender que o município foi colonizado por agricultores que

tinham como objetivo o plantio de café. Portanto da parte destinada à zona rural

deste município, a mata foi rapidamente retirada. A vegetação que compunha a

paisagem natural, a mata nativa, deu lugar ao plantio de café. Em poucos anos,

após o surgimento do município, no meio rural só se via vastas plantações de café,

produto que deu muito lucro na época para os agricultores, especialmente para os

grandes fazendeiros, pois possuíam milhares de pés de café em plena produção.

Fig. 1: Plantação de café, município de Colorado-PR em 2010. Fonte: autora.

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Fig. 2: Café secando no “terreirão”, município de Colorado-PR em 2010.Fonte: a autora

No decorrer das aulas algumas definições e conceitos, fundamentais à

promoção do raciocínio geográfico dos alunos e consecução de nossos objetivos,

foram sendo apresentados e aprofundados. Um deles, de suma importância para

nossos estudos foi à definição de paisagem, pois assim os alunos compreenderiam

tanto a minha fala quanto o que estava sendo estudado na unidade didática.

Trabalhamos com os alunos que não só a paisagem rural do município

passou por transformações na época de sua colonização. Mas em todo o Norte do

Paraná ocorreu o desmatamento, ou seja, a retirada da mata para o plantio de café.

A forma como eram plantados os pés de café permitia que a família aproveitasse o

máximo possível da propriedade. A fala da pesquisadora Cancian (1981, p. 95) é

mais adequada para essa explicação e revela aspectos da paisagem de uma antiga

fazenda de café:

[...] os cafeeeiros eram plantados nos lugares mais altos, menos sujeitos a geadas; próximo a um córrego ou mina d’àgua situava-se a residência. Perto, localizava-se um pasto, mangueirões para a criação de porcos, pomar, horta e lavouras temporárias: milho, arroz, feijão, de acordo com as necessidades familiares e do pequeno mercado local [...].

Em uma terceira fase os alunos foram orientados a realizarem entrevistas

com antigos moradores do município visando aprofundar o entendimento do assunto

trabalhado, bem como, identificar as mudanças que ocorreram na paisagem rural do

município de Colorado nas falas das pessoas que vivenciaram essas mudanças e

que podem transmitir, de forma mais intensa, as dificuldades que enfrentaram e as

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alegrias que viveram. A atividade foi bem aceita pelo grupo de alunos e, após

dialogarmos a respeito de como deveriam ser organizadas as mesmas, divididos em

duplas, formularam as questões e foram a campo para realizá-las. Os alunos tiveram

um prazo de quinze dias para apresentar o resultado das entrevistas para o grande

grupo em sala de aula.

Os resultados das entrevistas foram ótimos, pois não devemos nos esquecer

que se trata de alunos com uma faixa etária de doze anos, a maioria tímida para

realizar entrevistas com qualquer pessoa e conversar sobre o passado com os

primeiros moradores de Colorado. Assim, nos surpreendemos com a colocação da

maioria dos alunos, realmente eles entenderam o objetivo das entrevistas, algumas

duplas gravaram a fala de seus entrevistados, outras escreveram, como por

exemplo, uma das falas de um dos entrevistados: “Colorado no início era só mato,

depois foi derrubado o mato e plantado em seguida o café”. A aluna “Paula”3

complementa que o entrevistado chegou a Colorado em 1949, e acrescentou que

durante sua conversa com o “Sr. Cido”, disse que antes era só café e as coisas, ou

seja, a paisagem rural de Colorado foi mudando e agora só se vê cana de açúcar e

pastagens.

Seu “Cido” diz a aluna “Paula”, “que tudo era muito difícil, complicado no

começo de Colorado, não havia transportes modernos como os de hoje, só animais

e carroças, se ficasse doente até chegar ao hospital, não era nada fácil, só havia

mato e café”.

Em outra entrevista, realizada pelo aluno “Luís”, ele relata que seu

entrevistado o avô, também chegou a Colorado em 1949 e que tudo, afirmou na

entrevista, “[...] era muito difícil, à noite para iluminar as casas era preciso acender

lamparina ou lampião, não tinha televisão, a diversão à noite era o rádio ou bate-

papo com os amigos das colônias”. Cada aluno comentou um pouco suas

entrevistas e perguntavam uns aos outros para ver se conheciam o entrevistado,

como se conhecessem todos.

Terminado as apresentações das entrevistas continuamos nossos estudos.

Considerando que, agora, os alunos possuíam certo conhecimento e maior interesse

que no início da implementação (o que facilitava, cada vez mais, as leituras dos

textos propostos e das atividades que foram sendo desenvolvidas), aproveitamos

para ler a fala de um dos moradores que havia sido entrevistado. A fala lida foi do

Sr. João que relatou o seguinte:

Era o começo de uma grande temporada e, com algum sofrimento, nós chegamos de mudança no dia onze de setembro de 1952. Eram

3 Os nomes dos entrevistados e alunos que são mencionados no texto são fictícios.

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sete horas da noite e o caminhão não conseguiu encostar na casa onde íamos morar para descarregar a mudança, porque a nossa derrubada foi mal feita, havia muitos garranchos e o caminhão não passava. Tivemos que carregar tudo nas costas, quinze a vinte metros longe da casa. A casa era de madeira em cima de troncos de árvores, popular “toco”, depois de construída se fazia uma cerca de pau a pique por dentro para aterrar, foram grandes as dificuldades encontradas. Nós éramos acostumados com um lugar bem avançado, civilizado, com trem de ferro passando pertinho de casa. Seu João disse nunca ter visto aquilo antes, já tinha dezesseis anos, e acrescenta que foi um grande sofrimento, que se reverteu numa grande esperança.

Após a leitura do fragmento da entrevista, os alunos disseram que alguns dos

seus entrevistados, também comentaram a respeito das dificuldades encontradas

quando chegaram a Colorado: de fato “nada era fácil mesmo”. Os alunos

representaram a fala do Sr. João em forma de desenho. Alguns alunos desenharam

com certa facilidade e criatividade inclusive com a derrubada da mata e o fogo,

outros já demonstraram certa dificuldade para representar o trecho da fala em

desenhos, porém um aluno deficiente visual não se intimidou e com sua máquina de

Braille fez seu desenho que a meu ver ficou ótimo. Os desenhos foram colocados

em exposição em um mural no pátio da escola, os alunos sentiram-se orgulhosos.

Fig. 03: Desenho representando a chegada do Sr. João e família no

município de Colorado, em 2011. Autora: Sônia.

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Durante a implementação foram realizadas várias leituras seguidas de

explicações e exercícios, para que os alunos pudessem fixar os conteúdos

trabalhados entenderem as transformações ocorridas na paisagem rural de

Colorado. Muitas fotos, como já apresentamos, mostrando plantações de café foram

analisadas pelos alunos (fotos antigas e recentes), alertando-os para a maneira

como era plantado o café no passado e como é agora, com novas e modernas

práticas de plantio do produto.

Outro aspecto importante na implementação do projeto foram às análises de

gráficos e tabelas. Os alunos analisaram o crescimento da população do município

de Colorado, desde quando surgiu o município até o ano de 2010, último censo

realizado pelo IBGE. Percebemos que a população de Colorado se concentrava na

zona rural em virtude da cafeicultura e essa concentração perdurou até a década de

1970, mudando essa realidade populacional juntamente com as mudanças que

aconteceram na zona rural, onde muitos cafeicultores deixaram de cultivar os

cafezais em virtude dos baixos incentivos que o governo oferecia e também devido à

ocorrência de geadas, dificultando a permanência de muitos trabalhadores na zona

rural, os quais tiveram que vender suas propriedades e ir para a zona urbana ou

plantar outros produtos agrícolas que substituíssem a cafeicultura.

Alguns alunos relataram que seus familiares mudaram-se para a zona urbana

de Colorado nessa época, ou seja, que seus avós moravam na zona rural e no final

da década de 1970 tiveram que mudar para a cidade, pois não dava mais para

plantar café, era difícil para os pequenos proprietários de terra, pois gastava-se

muito dinheiro, tinha que emprestar no banco e ficar endividado; por isso muitos

desistiram de continuar na zona rural, venderam a propriedade e foram morar na

cidade e arrumar outra maneira de viver.

Os alunos observaram que aos poucos a população que era

predominantemente rural nas décadas de 1950 e 1960, foram-se transferindo para a

zona urbana e, hoje, de um montante de 22.282 (vinte e dois mil, duzentos e oitenta

e dois habitantes), mais de 20.000 (vinte mil habitantes) estão residindo na cidade. A

utilização de tabelas e gráficos facilitou a visualização, entendimento e análise por

parte dos alunos. No mesmo material havia tabelas e gráficos tanto da população do

Paraná, quanto da população do Brasil, para que pudessem comparar entre a

população rural do Paraná e do Brasil nas mesmas décadas em que analisaram as

mudanças que ocorreram na população rural de Colorado, chegando à conclusão

que o processo de evasão da população rural na década de 1970 não aconteceu

somente em Colorado, mas no Paraná e, de forma geral, no Brasil. Por que

aconteceu dessa forma em praticamente todo o Brasil na mesma época?

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Os alunos foram levados, então, a refletirem sobre o processo que provocou

as transformações verificadas na paisagem rural de Colorado – e como vimos não

só neste município, mas, simultaneamente, em diversas regiões do Brasil –, ou seja,

a modernização da agricultura. Uma vez que, na agricultura o processo de

mecanização tornou-se mais evidente e necessário e, tendo em vista o agravamento

da crise cafeeira, uma grande quantidade de pessoas foi obrigada a abandonar o

meio rural e procurar outros meios de sobrevivência nas cidades. Este fato, como se

sabe, ficou conhecido como êxodo rural.

Os alunos do sétimo ano, normalmente, ainda não têm bem definido vários

conceitos geográficos sendo necessário, portanto, explicar e questionar significados

de vários termos e assuntos estudados. Por isso foi importante reforçar a definição

de êxodo rural dos autores Coelho e Soares (2001, p. 275).

O êxodo rural, um dos mais importantes exemplos de migração interna, constitui-se no deslocamento de pessoas do campo para a cidade. Via de regra, o êxodo rural tem caráter definitivo, e suas principais causas tem sido a industrialização, a expansão do setor terciário e a mecanização da agricultura.

Para fixação dos conteúdos foram realizados exercícios, às vezes em dupla

ou individual dependendo do grau de dificuldade que apresentavam, mas sempre

com orientação. Muitos chamavam na carteira para perguntar sobre as dúvidas que

surgiam sobre o conteúdo. Deste modo, a interação entre os alunos e professora foi

muito boa durante todo o período de implementação.

Um dos textos contidos na unidade didática fazia referência às geadas que

ocorreram no município de Colorado e no Paraná, sendo este o relato que o “Sr.

João” descreveu com detalhes e caracterizou como uma das piores e maiores

geadas ocorridas no Paraná: de 1953 e 1975. Esta última, como se sabe, contribuiu

para a grande diminuição dos cafezais do Norte do Paraná. Sempre que era

apresentado aos alunos trechos ou falas de antigos moradores, os mesmos

mostravam-se mais interessados e questionadores e até citavam um ou outro

comentário que escutavam dos avôs ou relatado nas falas de seus entrevistados. É

riquíssima, neste sentido, a fala do “Sr. João” que transcrevemos a seguir:

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As geadas foi uma das situações mais críticas que nós vivemos. Em 1953 houve uma geada bem forte, os cafés dos parentes que moravam aqui há mais tempo queimaram tudo, o nosso estava dentro da cova protegido por madeira, não matou o nosso café. No dia 31 de julho de 1955 o café estava todo preparado para uma grande florada com mais ou menos um metro de altura ai veio à grande geada de 55, essa arrasou, tivemos que cortar todo aquele café dentro da cova para tirar o broto, como se fosse um pé natural. Essa foi à maior catástrofe que sofremos aqui no Paraná. Tinha que esperar o café brotar, crescer para começar a produzir para vender. Enquanto isso foi plantado um pouco de algodão e milho; mais milho não tinha valor nenhum; chegava a apodrecer na roça. O milho, feijão não tinha comércio, só o café. Plantavam-se essas culturas para o sustento da família e para tratar dos animais. O início da década de 1960 não foi muito boa para a cafeicultura, teve uma geada em 1963, depois uma geada seca, preta em 1966, essa geada praticamente incendiou quase todo o Paraná. Em 1975 ocorreu outra geada que marcou o Paraná, só que com um detalhe, nessa época já se tinha uma estrutura diferente da época que ocorreu geada em 55. Essa estrutura se baseava muito na economia que se fazia do ano anterior, em 75 tivemos uma grande geada que arrasou o Paraná, mas tínhamos uma safra estocada e consequentemente o preço do café subiu, melhorando o preço. Ás vezes se fazia duas safras numa só, essa era à estrutura no nosso caso.

As geadas, aliada aos baixos preços do café no mercado internacional e a

falta de incentivos dos governantes brasileiros, contribuíram para a crise na

cafeicultura paranaense. Sendo assim, a paisagem rural de Colorado passa por

mais uma mudança em seu cenário com a retirada dos cafezais e a introdução de

outras culturas destacando-se, com o passar de poucos anos, a cultura canavieira

juntamente com a pecuária.

Agora com a maioria da população não mais na zona rural como nas décadas

de 1950 e 1960 e sim na zona urbana originou novos e populosos bairros sem

infraestrutura adequada para acomodar toda a população que se deslocou para a

cidade. Foram analisados juntamente com os alunos as tabelas e gráficos da

população do município de Colorado, do Paraná e do Brasil nas épocas estudadas.

Na sequência segue a tabela e o gráfico com a evolução da população do município

de Colorado.

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Tabela1: Colorado: evolução da população urbana e rural.Fonte: IBGE. Organizadora: a autora.

População urbana e rural do município de

Colorado.

Gráfico 01: População urbana e rural do município de Colorado-PR

Fonte: IBGE Organização: a autora.

Como ficou a paisagem rural de Colorado? Perguntas assim eram feitas

sempre aos alunos, que tentavam responder, pois queriam saber sobre o passado

de seus pais e avós. Entre os próprios alunos surgiam respostas como o aluno

“Paulo”, que disse: “os cafezais foram arrancados, pois foram queimados pela geada

de 1975 e começou plantar no lugar, cana-de-açúcar”.

Devido às transformações ocorridas com a modernização da agricultura e o

declínio da cafeicultura surge na paisagem rural de Colorado a introdução da cultura

canavieira no final da década de 1970, que evoluiu de forma significativa no

município de Colorado, transformando a paisagem rural de Colorado. Com novas e

Ano População Urbana População Rural Total

1960 2.794 18.908 21.702

1970 5.143 10.983 16.126

1980 10.346 6.724 17.070

1991 15.617 3.356 18.973

2000 18.772 2.185 20.973

2007 19.323 1.726 21.049

2010 20.991 1.291 22.282

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modernas técnicas de plantio e colheita, empregando muitos dos trabalhadores

rurais que no passado plantara e produzira café. Para presenciarmos e aprendermos

um pouco mais sobre a cultura canavieira visitamos a usina instalada no município

de Colorado. Lá os alunos tiveram a oportunidade de conhecer como funciona uma

usina de açúcar e álcool, bem como tirar suas dúvidas, tiraram fotos e mostraram-se

interessados em saber como tudo funcionava, foi uma aula de campo motivadora e

produtiva, relataram por escrito sobre o que viram e aprenderam.

Figura 04: Usina Alto Alegre, Unidade Junqueira, município de Colorado-PR,

em 2011. Fonte: autora.

Fig. 05: Usina Alto Alegre, município de Colorado-PR, caminhão

descarregando cana-de-açúcar, em 2011. Fonte: autora.

Outras aulas de campo foram realizadas no decorrer dos estudos sobre a

transformação da paisagem rural de Colorado como a visita ao museu de Colorado.

Neste lugar, os alunos foram orientados a observarem fotos, utensílios domésticos

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da época da cafeicultura e ferramentas utilizadas na lavoura cafeeira. Nesta visita

foram interessantes as expressões dos alunos ao verem uma ferramenta

desconhecida e útil no passado como o traçador, a foice, um chuveiro de balde, o

ferro à brasa utilizado para passar roupas, o rádio antigo, enfim, tudo era novidade e

fácil de todos perceberem como a vida moderna traz, evidentemente de modo

diferenciados, “mordomias” e “facilidades”. O comentário que se ouvia entre eles

era: “Deus me livre ter que tomar banho todos os dias de balde ou passar roupas

com este ferro, ainda bem que as coisas mudaram.” O importante de tudo o que

viram foi perceber que nos dias de hoje a tecnologia, a modernização, ainda que não

atinja igualmente todas as pessoas que compõe a sociedade, faz diferença em

nossas vidas, já no passado tudo era mais difícil, um simples banho necessário a

higiene do corpo era bem mais complicado.

Fig. 06: Museu de Colorado, ferro à brasa, em 2011. Fonte: autora.

Fig. 07: Museu de Colorado, chapéu utilizado por agricultores, em 2011.Fonte: autora.

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A aula de campo realizada para conhecer uma fazenda que atualmente

produz café foi “cansativa”, mas muito bem-sucedida. Andamos entre os pés de café

observando como é plantado atualmente, sendo possível comparar com as fotos

antigas, como é colhido, secado e armazenado. Os alunos tiveram a oportunidade

de tocar nos pés de café, no café colhido em coco, “fizeram a maior festa”. Estas

aulas de campo foram produtivas, e o resultado na aprendizagem era visto de

imediato. Vimos deste modo, para além de seu aspecto lúdico, a importância da

realização dessas práticas pedagógicas no ensino de Geografia. Essas atividades

formam um verdadeiro patrimônio da ciência geográfica, motivando tanto os alunos

como professores e promovendo, não temos dúvida, uma educação escolar mais

próxima da vida e significativa para todos.

A implementação, em suma, foi encerrada com a confraternização entre os

alunos participantes e a professora. O que marcou todo o processo de

implementação, além, evidentemente, do companheirismo e respeito foi a

aprendizagem geográfica já destacada.

Conclusão

Com a implementação do projeto Impactos da modernização da agricultura na

paisagem rural de Colorado, realizado com alunos do sétimo ano de ensino

fundamental da Escola Estadual Cecília Meireles de Colorado, no segundo semestre

de 2011, concluímos que os alunos precisam e querem saber mais sobre o lugar

onde residem. Como, normalmente, os materiais disponíveis para estudo durante o

período que estão cursando do 6º ao 9º ano, não oferecem conteúdos e exemplos

mais específicos relacionados ao município em que vivem o material produzido [a

unidade didática] e a eles disponibilizados, relevou-se de grande utilidade. O estudo

do lugar onde vivem no ensino de Geografia oferece, portanto, uma grande e rica

possibilidade para explorar os conteúdos desta disciplina escolar.

Foi possível verificar tal necessidade logo no início da implementação

quando, perguntado aos alunos sobre a localização do município de Colorado

utilizando o mapa político do Paraná, os mesmos não sabiam por onde começar a

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procurá-lo ou localizá-lo nos mapas a eles disponibilizados. Desta forma, ficou

evidente que o assunto trabalhado foi de suma importância para o aprendizado da

geografia local e, ao mesmo tempo, uma importante base para aprendizagens

futuras. Assim, a qualidade da aprendizagem que o desenvolvimento do projeto

proporcionou aos alunos que participaram dessa implementação, aponta para a

possibilidade efetiva de estendê-lo aos demais alunos da escola.

Provavelmente, por ter sido um conteúdo geográfico muito próximo da

realidade dos alunos, os mesmos se esforçaram para participar de todas as aulas

oferecidas durante a implementação, tanto as realizadas em sala de aula como as

aulas de campo.

As entrevistas realizadas por eles trouxeram para a sala de aula um

conhecimento rico em informações dos antigos agricultores do município de

Colorado ressaltando de forma simples, porém com clareza, as mudanças pelas

quais a paisagem rural de Colorado passou nas últimas décadas.

Quanto às aulas de campo, foram gratificantes para a implementação, pois

foram momentos que os alunos puderam observar e vivenciar na prática as

paisagens rurais trabalhadas em sala de aula, possibilitando deste modo, fazerem

comparações com as diversas fotografias coletadas e que retratavam paisagens

rurais do passado. Os alunos puderam compreender como funciona atualmente uma

usina que produz açúcar e álcool, como é hoje uma lavoura de café e como se dá

esse plantio, a colheita e armazenagem do mesmo.

Já a visita ao Museu de Colorado possibilitou, por meio dos utensílios e fotos

lá expostos, uma “volta ao passado”, uma volta aos primeiros tempos do município

de Colorado, desde a derrubada da mata nativa até o plantio do café. Com a visita

ao museu – e sua relação com os trabalhos de campo realizados – ficou mais fácil

para os alunos perceberem e compararem as mudanças que acontereceram na

paisagem rural de Colorado nas últimas décadas.

Diante dos fatos relatados, acredito que essa implementação foi fundamental

e contribuiu com a melhora no aprendizado dos alunos do sétimo ano do ensino

fundamental da escola em que leciono, bem como, foi de suma importância para

aprofundar meus conhecimentos tornando-me uma profissional mais preparada para

enfrentar os desafios que a educação nos proporciona a cada dia.

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Referências

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COELHO, Marcos de Amorim e SOARES, Lygia Terra. Geografia Geral: O espaço natural e socioeconômico. 4ª ed. São Paulo: Moderna, 2001.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio: o dicionário da Língua Portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FONSECA, Solange Aparecida Valério. Investigando o passado com um olhar na história local. Trabalho final de conclusão da disciplina de história para certificação do Programa de Desenvolvimento Educacional. Maringá, 2007.

IBGE. Censo Agrícola de 1960: Paraná – Santa Catarina. VII Recenseamento Geral do Brasil. Série Regional, v.2, tomo 12, Rio de Janeiro, 1967.

____. Censo Agropecuário – Paraná, VIII Recenseamento Geral – 1970, v.3, tomo 19, Rio de Janeiro: IBGE, 1975.

_____. Censo Agropecuário – Paraná, IX Recenseamento Geral do Brasil, 1980, v.2, tomo 3, Rio de Janeiro: IBGE, 1983.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO do PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Geografia do Estado do Paraná. Curitiba, Imprensa Oficial. 2008.

Consultas on line:

http://www.biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao acesso 07/06/2011

http://www.ibge.gov.br/home/ acesso 05/06/2011

http://www.altoalegre.com.br /acesso 25/06/2011

http://www.altoalegre.com.br acesso 05/06/2011