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Impacto: Quanto ele vale?

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The Sustainability Yearbook 2017 • RobecoSAM • 13

Impacto:Quanto ele vale?

14 • RobecoSAM • The Sustainability Yearbook 2017

A valoração de impacto é um conceito emergente. Embora as empresas

entendam a necessidade de ir além da pegada ambiental e passar a valorar

o impacto social, muitas ainda lutam para determinar o que deveriam medir

e como, e de que forma colocar isso em termos financeiros. A Analista de

Investimentos em Sustentabilidade, Rashila Kerai, explica por que a valoração

de impacto é importante tanto para empresas quanto para investidores, e

destaca algumas das principais conclusões do novo critério para Mensuração e

Valoração de Impacto deste ano.

As empresas enfrentam cada vez mais pressão de uma

série de stakeholders, incluindo clientes, funcionários,

comunidades locais, governos e investidores para fazer

uma contribuição positiva no chamado “triple bottom

line”. Além de esperar que as empresas passem do

“causar menos mal” para causar mais o bem, espera-

se que elas continuem a dar retorno financeiro. Cada

vez mais, os investidores, e em especial os investidores

institucionais e os fundos de pensão, também estão sob

pressão dos seus beneficiários para oferecer estratégias

de investimentos que gerem impactos sociais positivos

juntamente com retorno financeiro. Para conseguir isso,

as empresas devem entender de que forma o valor é

criado e reduzido, e usar essas informações para melhor

mitigar riscos e aproveitar oportunidades. Por sua

vez, isso precisa ser comunicado aos investidores para

ajudá-los a entender a importância dos impactos e de

que forma a empresa está se posicionando. Mas o que

exatamente significa impacto?

O que é impacto?A Figura 1 representa o roteiro dos impactos de forma

bastante simplificada. As empresas monitoram suas

atividades e insumos necessários para gerar seus

produtos e serviços. Além de produtos e serviços da

empresa, outros produtos incluem quaisquer resíduos

e outros subprodutos gerados ao longo do processo

de negócios. Esses impactos, ou efeitos externos

(externalidades), são consequências ou efeitos desses

outros produtos − tanto intencionais quanto não

intencionais e positivos e negativos para a sociedade e

o meio ambiente em geral.

Rashila Kerai

Analista de Investimentos em

Sustentabilidade

Para conseguir isso, as empresas devem entender de que forma o valor é criado e reduzido, e usar essasinformações para melhor mitigar riscos e aproveitar oportunidades.

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Resultado & Impacto

Negócios usuais: a maior parte das mensurações e reportes pára

por aqui

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cial

Avançar em termos da valoração

de impacto

Uso da água

A empresa fabrica bens

Insumos & Atividade Produção

Maior potencial futuro para

geração de renda

Número de bens fabricados e comercializados

Toneladas de emissões

Resíduos e poluição do ar

Disponibilidade limitada de água para a

comunidade local

Melhor qualidade de vida para funcionários e familiares

Melhores perspectivas de carreira

para funcionários

Melhores resultados para

a empresa

Maior número de contratações

internas

Retenção de funcionários

Maior produtividade

Empresa investe no aprimoramento

das habilidades dos funcionários

Reciclagem de subprodutos

resíduo

Problemas de saúde para a

população local

Matérias-primasFornecedoresAtividades da empresa(produção & vendas)

Consequências dos produtos

da empresa para a sociedade em geral

ProdutosServiçosSubprodutos das atividades e da produção (pegada)

1 21 2 33

Figura 1: Roteiro do impacto

Fonte: RobecoSAM, WBCSD, PWC, EY

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Econômico

Valo

r

Impactos

Social Valor RealAmbiental

Limites deste relatórioOs relatórios de sustentabilidade de hoje contam

apenas uma parte da história. As empresas ficaram

muito boas no monitoramento de suas atividades de

sustentabilidade e na elaboração de relatórios sobre

insumos, tais como o uso de água ou emissões, mas

geralmente não vão além desse ponto. Isso significa

que os impactos sociais e ambientais das atividades das

empresas, tais como aqueles descritos nos exemplos

do roteiro de impactos na Figura 1 ficam invisíveis.

Além disso, os produtos são reportados com disparidade

entre as unidades, dificultando a compreensão da

importância relativa desses produtos. Por exemplo, como

uma empresa consegue comparar a importância dos m3

de seus resíduos gerados com as toneladas de emissões

de NOx? Como dados isolados, as toneladas de emissões

de uma empresa não têm contexto suficiente para dar

suporte a decisões de negócios. Como uma empresa

pode usar esses dados para decidir se deve investir na

redução de suas emissões ou concentrar-se na redução

dos resíduos? Uma maneira de fazer melhor uso desses

dados é medir o impacto real dessas externalidades e

converter esses impactos díspares numa métrica financeira

comum que permita uma melhor tomada de decisão.

Da mesma forma, a maioria dos relatórios financeiros

não mostra um quadro completo do real valor de uma

empresa; em geral, esses relatórios ficam limitados aos

lucros financeiros da empresa e ao valor econômico

gerado aos beneficiários, tais como funcionários,

governos, acionistas e credores, e deixam de incluir

o valor ambiental e social gerado ou destruído pelas

atividades da empresa. Contudo, caso uma empresa

decida internalizar suas externalidades ao quantificar os

impactos ambientais e sociais em termos financeiros e

analisá-los frente a seus relatórios financeiros, seu valor

real ficaria muito diferente, como apresentado na Figura 2.

Figura 2: Em resumo: como os impactos sociais e ambientais afetam o valor real

Caso uma empresa decida internalizar suas externalidades ao quantificar os impactos ambientais e sociais em termos financeiros, seu valor real ficaria muito diferente.

Fonte: RobecoSAM, WBCSD, PWC, EY

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E se as empresas pudessem acompanhar, de forma

consistente e comparável, o quanto esse valor é

gerado ou reduzido? Uma maneira mais abrangente

de medir o desempenho da empresa, incluindo

não apenas o valor financeiro, mas também o valor

social e ambiental, poderia destacar os principais

fatores de crescimento positivo e reduzir os impactos

negativos. Para as empresas, isso significa saber

quais são seus aspectos materiais e entender a

extensão dos riscos e oportunidades associados.

Ao compreender qual parte de suas cadeias de valor

está associada aos seus maiores impactos ambientais

e sociais, bem como a extensão desses impactos, as

empresas também podem começar a entender alguns

dos riscos associados aos seus impactos negativos. Da

mesma forma, por entender quais de suas atividades

geram os impactos mais positivos, as empresas podem

identificar oportunidades de inovação. Isso também

pode ajudar as empresas a entender vários “trade-

offs” associados às diferentes decisões de negócios.

Ter melhores percepções sobre o valor de determinados

impactos pode levar a decisões corporativas diferentes

daquelas que são tomadas hoje. Essas percepções podem

viabilizar um entendimento mais profundo em toda a

organização sobre a importância da sustentabilidade

para os promotores de valor dos negócios, e assim

integrá-la às decisões sobre alocação do capital

para diferentes projetos, mudanças nas matérias-

primas usadas ou produtos e serviços ofertados.

Em resumo, dar visibilidade à importância dos impactos

permite que uma empresa tome melhores decisões

para minimizar seus impactos negativos e maximizar

seus impactos positivos, e em última análise,

levar a uma maior integração da sustentabilidade

na estratégia de longo prazo da empresa.

A perspectiva dos investidoresOs investidores também estão interessados em como as

empresas medem e percebem seus próprios impactos,

e o mais importante, de que forma elas usam essas

informações em seus processos internos de tomada de

decisões para gerar valor em longo prazo. Entretanto,

para alcançar esse objetivo, os investidores também

precisam de informações que ajudem nas tomadas de

decisão, convertendo dados desconexos em informações

coerentes e comparáveis que permitam avaliar:

• A influência das externalidades sociais

e ambientais sobre os fatores de

geração de valor para os negócios

(crescimento, rentabilidade e risco)

• Informações financeiras e extra financeiras juntas

• Vantagem competitiva das empresas

Monetizar impactos traduz a sustentabilidade para uma

linguagem de negócios e dá suporte a essa necessidade.

Por que a valoração do impacto é importante?

Empresas líderes perceberam as limitações das

medições atuais e abordagens dos relatórios e já estão

calculando seus Lucros e Perdas Social e Ambiental

(SE P&L) buscando viabilizar uma melhor tomada de

decisão. Com o lançamento do Natural Capital Protocol

em 2016 e a publicação do Social Capital Protocol

ainda neste ano, uma maior absorção é esperada.

Ao reconhecer que a valoração de impacto é

um tema emergente, a RobecoSAM fez algumas

perguntas básicas para algumas indústrias para:

1. Recompensar e reconhecer melhores práticas

2. Obter percepções sobre o que as

empresas estão fazendo e por quê

Fizemos três perguntas simples às empresas:

1. Sua empresa faz valoração de

impacto das externalidades?

2. Que tipo de valoração?

3. Sua empresa reporta essas informações?

Por que introduzimos o critério de valoração de impacto

1 O Natural Capital Protocol utiliza ferramentas de medição e metodologias existentes para desenvolver uma estrutura padronizada para ajudar empresas a identificar, medir e valorizar os impactos de suas atividades sobre recursos ambientais − ou capital natural. A estrutura tem como objetivo gerar informações que permitam que as empresas considerem seus impactos no capital natural ao tomarem decisões de negócios.

2 Liderado pelo WBCSD, o Social Capital Protocol visa desenvolver uma abordagem harmonizada para medição e valorização da interação das empresas com as pessoas e a sociedade

Monetizar impactos traduz a sustentabilidade para uma linguagem de negócios.

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O que aprendemos até aqui?

Figura 3: Empresas avaliadas quanto à mensuração e valoração de impactos

Das empresas avaliadas, quase 80% afirmaram que medem

e valoram os próprios impactos. No entanto, quando

analisamos os exemplos de valoração mencionados em suas

respostas, descobrimos que na verdade, apenas 25% dessas

empresas realmente valoram seus impactos (reportando

‘Sim’ e ‘Sim, estamos de acordo’). Isso significa que mais

de 50% que relatam ‘Sim’, mas Não, não concordamos

que elas estejam valorando suas externalidades.

Outros 10% das empresas ou estão desenvolvendo ou

testando uma metodologia de valoração de impacto.

Por que tamanha discrepância entre o que as empresas

reportam e o que elas realmente fazem? Essa disparidade

pode ser explicada pela falta de entendimento sobre

o que realmente significa uma valoração de impacto,

o que é razoável, já que este é um tema bastante

emergente. À medida que a conscientização aumenta

e as empresas cada vez mais entendem a necessidade

de passar de uma mentalidade de produtos para uma

de impactos, esperamos que essa distância diminua.

As respostas das empresas no grupo “Sim, mas

Não” em termos de insumos e produtos (ou seja,

primeira e segunda etapas do roteiro do impacto

representado na Figura 1) caíram, na maioria

das vezes, numa das três categorias abaixo:

1. Pegada ambiental (ex.: emissões evitadas/reduzidas,

eficiência de materiais/energia, ou CapEx/ OpEx

para melhorar o desempenho ambiental)

2. Filantropia ou envolvimento da comunidade

(ex.; voluntariado , investimentos monetários)

3. Receitas oriundas de mais produtos sustentáveis

(por exemplo, redução no uso de matérias-

primas, matérias-primas recicláveis, degradáveis,

redução de substâncias perigosas, maior

conteúdo de recicláveis ou renováveis)

As 25% das empresas que estão valorando seus próprios

impactos estão usando uma das muitas metodologias

existentes ou aplicando os Protocolos de Capital Natural

ou Social para medir os impactos ambientais e/ou

sociais. Algumas empresas estão internalizando algumas

das externalidades através do uso do preço sombra.

Figura 4: Avaliação de impacto: o que as empresas imaginam que estão fazendo, e o que elas realmente estão fazendo

Sim, e Sim* Em andamento Não Sim, mas Não**

10%

25%

53%

12%

Fonte: RobecoSAM

* Sim e Sim: empresas que reportam que avaliam os seus próprios impactos, e Sim, aceitamos a resposta delas

** Sim, mas Não: empresas que reportam que avaliam seus próprios impactos, mas Não, não concordamos que elas estejam avaliando seus impactos

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Classificação por indústria

12

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6

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60

50

40

30

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Núm

ero

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África Ásia-Pacífico Europa América Latina

América do Norte

Classificação por região

5862

42

4

18

Fonte: RobecoSAM

Avaliamos as respostas de 184 empresas de 15 indústrias em 30 países. A cobertura das industrias é bastante

diversificada, variando de fabricação pesada até empresas que interagem com consumidores, empresas com

uso leve ou intensivo de ativos, empresas com cadeias de suprimentos complexas ou simples, geograficamente

diversificadas, com representação em todas as regiões.

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Onde está a liderança?

Mais de 30% das empresas avaliadas nas seguintes

indústrias estão realizando valoração de impacto: bebidas,

produtos químicos, materiais de construção, mídia, e

tecidos, vestuário e artigos de luxo. Embora a razão para

isso não esteja clara, podemos ver que a liderança vem

de uma série de empresas, abrangendo desde a indústria

que interagem com consumidores até a indústria pesada.

A motivação para que as empresas passem por esse

tipo de avaliação confirma nossa expectativa: as

empresas perceberam que precisavam de percepções

que incluíssem mais fatores de sustentabilidade para

permitir uma melhor tomada de decisão. Isso inclui

a definição de estratégia, medição e melhoria de

desempenho, alocação de CapEx, desenvolvimento

de produto e gestão da cadeia de suprimentos.

O que é realmente interessante é que, em geral,

quando as empresas realizam a valoração de impacto,

a maioria (65%) está monetizando. Isso faz sentido.

Quando as empresas passam pelo esforço de identificar

as técnicas adequadas e coletar os dados necessários

para as avaliações, conseguir monetizar esses impactos

é apenas um pequeno passo adicional. As empresas

têm então informações comparáveis relevantes sobre

questões econômicas, sociais e ambientais. Trata-se

de uma linguagem facilmente entendida por todos

na empresa. É também uma linguagem facilmente

compreendida por investidores e, portanto, a nossa

preferência é que os impactos sejam monetizados.

Apenas 31% das empresas divulgam suas valorações. Essa

relutância confirma o fato de que elas fazem isso para

a gestão interna e definição de rumo, em vez de ser por

motivos de comunicação ou relatórios. Todavia, assim

como a valoração de impacto pode ajudar as empresas

a aumentar a compreensão de seus aspectos materiais

internamente, ela também pode ajudar as empresas a

informar os investidores sobre seus impactos em termos de

sustentabilidade e o que estão fazendo com relação a isso.

Olhando para o futuroO conceito de valoração de impacto é um tema novo

e emergente. Com iniciativas como os protocolos de

Capital Natural e Social, que estão trabalhando para

melhorar a compreensão das empresas sobre o que

envolve a avaliação de impacto e fornecem às empresas as

ferramentas e recursos para realizar avaliações, esperamos

ver um aumento no número de empresas realizando a

contabilidade de Lucros e Perdas ambiental e social.

À medida que mais e mais empresas fazem essa análise

para aprofundar a integração da sustentabilidade

nos negócios, encorajamos as empresas a também

divulgar e compartilhar essa informação com os

investidores. Monetizar esses impactos garante a

comparabilidade entre as dimensões econômicas,

sociais e ambientais, colocando essas questões invisíveis

em foco e, dessa forma. proporcionando uma imagem

mais completa do valor gerado hoje e no futuro.

A monetização dos impactos dá uma imagem mais completa do valor corporativo gerado hoje e no futuro.

Figura 5: Percentual de empresas em cada indústria que realizam valoração de impacto

60

50

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Núm

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Fonte: RobecoSAM