III ENCONTRO SOBRE MINISTÉRIO PASTORAL FEMININO...

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III ENCONTRO SOBRE MINISTÉRIO PASTORAL FEMININO Reflexão sobre 3 nossa Realidade Histórica Eclesiástica, Social e BÍblico-Teológica SETOR BÍBLICO-TEOLÓGICO Participação da Mulher na Bíblia e na Igreja Joana D'are Meirelles Vilma Joan Roberts Rosângela Soares de Oliveira Ernesto Barros Cardoso

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III ENCONTRO SOBRE MINISTÉRIO PASTORAL FEMININO

Reflexão sobre 3 nossa Realidade Histórica Eclesiástica, Social e BÍblico-Teológica

SETOR BÍBLICO-TEOLÓGICO

Participação da Mulher na Bíblia e na Igreja

Joana D'are Meirelles Vilma Joan Roberts Rosângela Soares de Oliveira Ernesto Barros Cardoso

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INTRODUÇÃO

Os pontos referenciais desta reflexão são a constata-ção da presença da mulher na história da Igreja Metodista e da mulher numa visão social.

A reflexão não se prende a análise do papel da mulher na Bíblia, por compreender que este passo já foi dado nos encontros anteriores A reflexão se desenvolve em torno do evangelho do. Jesus Cristo que anuncia o Reino de Deus à mu lher e a chama a contribuir na transformação da realidade de discriminação em que vive a mulher e todos os oprimidos.

A MULHER NA IGREJA E NO MUNDO

1. A Igreja Metodista de uma oude outra tem existido com a contribuição de mulheres. Segundo a reflexão histórica vi-mos que a Igreja Metodista foi introduzida no Brasil atra-vés de escolas dirigidas por mulheres e para mulheres. Es-ta missão resultou de uma visão teológica liberal. A expan-são de paroquias se dou através de ponto de pregação nos lares, sendo que as primeiras organizações a surgir são as Sociedades de Senhoras, Junta de Ecônomos e Escola Domini-cal. esta privilegiando a educação de crianças.

2. A Sociedade de Senhoras e o maior grupo organizado na I-greja Metodista (vide gráfico). Segundo as Atas e Documen-tos do XXI Concílio Regional em 1979 , na la. RE., o grupo feminino constitui 65% (10.16 7) da totalidade de membros (15.463). Esta estatística não surpreende mais os grupos de mulheres metodistas, porque já estão habituadas a saber que são a maioria, no entanto esta estatística pode provo-car perguntas, como: a Igreja Metodista tem se voltado par-ra a problemática existencial e social vivida por este gru-po? Pensando na Sociedade de Senhoras, qual a força políti-

ca deste grupo exercida pela Federação de Senhoras junto à

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estrutura eclesiástica? O Concilio Geral é o orgão superi-or de unidade da Igreja e suas funções são legislativa e deliberativa. Portanto, é o lugar político da estrutura e-clesiástica. Por que as mulheres neste orgão não ocupam o mesmo lugar que a Sociedade de Senhoras ocupa na vida diá-ria da Igreja? Uma minoria deste grupo feminino são pasto-ras, e participam da historia da Igreja a nível estrutural, ou seja, através de ordens clericais. Como esta participa-ção pode ampliar e reforçar a presença da mulher na vida estrutural da Igreja? Que prática ministerial a pastora da Igreja Metodista precisa ter para estar voltada à problema tica da mulher?

3. A metade da população brasileira (50,3%) e constituida de mulheres e são duplamante exploradas como trabalhadoras e como mulheres.1 Não gozam de direitos mínimos dentro da sociedade, vivem num estado de total merginalização, dis-criminadas e oprimidas no local de trabalho, de estudo, no

seio da família, na vida política administrativa, na vida cultural e desportiva do país.

4. Atualmente tem surgidos vários grupos organizados preo-cupados com a problemática da situação da mulher. (Por e-xemplo: Associação das Empregadas Domesticas, Centro de De-fesa da Mulher (BH), Movimento Feminista para Anistia, Con-gresso da Mulher Fluminense (RJ)). Há grandes massas femini-nas à margem da sociedade, vítimas das discriminações que pesam sobre a condição feminina, agravadas pelo tipo de de senvolvimento econômico de nosso país.2

5. Como transformar essa situação? "Como modificar a condi-ção da mulher, fazer que ela, de força de atraso se trans-forme em força de progresso e renovação social protagonis-ta de sua emancipação e a emancipação do povo brasileiro? Como torná-la protagonista da luta pelas liberdades e pela

1BULIK, Linda, O Salário da Mulher: Um complemento de salário-panorama atual da mulher no Brasil. II "Encontro" Pastoral Feminino, agosto 1979, SBC, p. 16.

2cf. grupo de reflexão - setor social.

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04 democracia e nossa pátria?"3

6. Construir o mundo (o Reino) significa seguir Jesus. E seguir Jesus Cristo significa participar de sua vida e c compartilhar de seu destino, tentar traduzir continuamen-te sua boa-nova do Reino em práticas libertadoras e gera-doras de fraternidade e de benquerença entre mulheres e homens. É estar disposta a sacrificar a vida pelos outros, oferecer seu tempo, suas forças, seus dotes humanos na construção da graça de Deus no mundo. Os conflitos que es-ta opção pode gerar deverão ser assumidos à luz da atitu-de de Jesus que "ultrajado não replicava com injurias, e atormentado, não ameaçava, senão que entregava aquele que julgava com justiça" (I Pe 2 . 22-23). Nós mulheres, seres esmagados e oprimidos dentro desta sociedade, precisamos ser sensíveis a toda enorme gama de reinvindicações espe-cíficas que começam no trabalho, passam pela família, de-sembocam na sociedade em geral (vida política, social, re-ligiosa, economica, cultural).

A ESPERANÇA DO REINO

1. A mulher era social e religiosamente discriminada, e é neste quadro que devemos situar a mensagem central de Je-sus Cristo - Reino de Deus, que tem como destinatários primeiros os pobres, marginalizados e oprimidos (Mt 5.1--12, 21.28-32, Lc 4. 18-20).

2. O propósito fundamental de Jesus é especialmente refle-tido: trazer para o presente o Reino, futuro de Deus. Rei-no é a palavra-chave para definir o desígnio último e li-bertador de tudo o que nela diminui e humilha o homem e a mulher, a liquidação do pecado e a glorificação de todas as coisas. Esta novidade se destina principalmente aos po-bres e desfavorecidos deste mundo. Por isso os textos de Lc 4.16-21. (a pergunta dos discípulos de Jesus na sinago-ga de Nazaré), Lc 7.18-23 (a pergunta dos discípulos de João: és tu aquele que há de vir?), Mt 11. 25-26 ( o Pai

3ALAMBERT, Zuleika, Mulher-Direitos-Democracia, Encon-tro com a Civilização Brasileira, 21 de março de 19 80, p. 23.

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cristãos anônimos, Jesus presente nos famintos, etc.) cons-tituem o cerne da cristologia latino americana.

3. "Em suma, as atitudes e a mensagem de Jesus significa-ram uma ruptura com a situação imperante e uma grande no-vidade dos quadros daquele tempo (Jo 8.1-11, Mt 19. 13-15, e outros). A mulher emerge como pessoa e filha de Deus, destinatária também da boa nova e convidada a ser, como o varão, membro da nova comunidade do Reino de Deus"4. A tendência geral de sua pregação ética consiste em libertar os seres humanos de uma moral legalista e discriminada, pa-rauma moral de decisão, da liberdade e de fraternidade. Este Reino não vem por um toque de mágica, mas começa a se instaurar na medida da conversão. Esta implica em rup-tura , porque o Reino de Deus se constrói contra o Reino deste mundo organizado em seu poder egoístico, em sua re-ligião alienada.

4. Jesus não anuncia apenas uma grande esperança, a irru£ ção do Reino de Deus para o presente. Mostra concretamen-te como se vive na nova situação. Sua praxis, suas pala-vras, seus gestos querem historificar o Reino: por isso cura, exorciza, perdoa pecado, acalma tempestade, ressusci-ta mortos. O mais fraco vence o forte. Suas reações face ao legalismo farisaico, face às tradições que oprimiam pie-dosos. face às formas de dominação de uns sobre os outroa, sua acolhida dos doentes, pecadores, crianças e mulheres mostram o modo de ser novo do Reino de Deus.

UMA TEOLOGIA A PARTIR DA MULHER

1. O fazer teologia é um processo novo para a mulher, mas fundamental para sua caminhada de libertação. 2. O que seria um pensar teológico a partir da mulher so-frida, marginalizada, dominada? 3. Uma teologia a partir da mulher é uma teologia que tem uma tarefa de denunciar as relações de opressão sobre as quais se constroem a sociedade, a família, a estrutura e-

4BOFF, Leonardo, O Rosto Materno de Deus, Vozes, p. 79.

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clesiástica, trabalho. Aa relações de opressão são desmas-caradas pela mensagem evangélica e condenadas pelo amor que Deus tem pelos seus "pequeninos". 4. Apesar da sociedade judaica ser patriarcal condicionan-do a mulher às leis de purificação e apedrejamento, a nar-rativa javista associa as imagens do sofrimento da gravi-dez, o desejo da mulher subordinado ao do mrido, governo do homem sobre a mulher, trabalho com fadiga, e a morte à narrativa do pecado (Gn 3). As relações de dominação em que vive a mulher e o homem não pertencem à narrativa da criação, mas ã narrativa do pecado. As relações de domina-ção não vem de Deus. Na consciência de fé judaica o ser humano é reflexo de Deus. Mulher e homem são criados a i-magem e semelhança de Deus para zelarem pelo mundo criado. 5. A denúncia que brota da consciência da fé, sempre se a companha de anuncio. Não só denunciar, mas também anuciar. 6. Em Cristo aprendemos a mensagem da nova vida, do novo mundo o Reino de Deus. Portanto, aprendemos a ser uma nova mulher participante do "propósito de Deus em libertar o ser humano de todas as coisas que o escravizam. Conce-dendo-lhe uma nova vida à imagem de Jesus Cristo, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim de que, como Igre-ja, constitui neste mundo e neste momento historico, sina-is concretos do Reino de Deus"5. 7. A afirmação básica que temos feito nesta reflexão é que o Reino de Deus se dirige aos cativos, os pobres, os oprimidos, prostitutas, mulheres, pecadores. É com estes que Deus está contando para a transformação deste mundo. Portanto, não é mais possível ser maioria leiga ou mino-ria clerica sem esta consciência evangélica. 8. No Congresso Internacional Ecumênico de Teolgia, rea-lizado no inicio do ano em São Paulo, na PUC, Elza Tames, teóloga, metodista testemunha: "A tarefa prioritária na A-mérica Latina não é uma luta para libertar a mulher. A lu-ta engloba todo o povo a ser libertado: o índio, o pobre, o camponês, o operário a mulher. Dentro deste processo, queremos lutar para libertar todos".6

5Plano Quadrienal 1979-1982 da Igreja Metodists, Base Teológica, n°4, p. 10.

6O São Paulo, Jornal da Arquidiocese de São Paulo, n° 1251, p. 7.

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9. No documento final deste Congresso, no ítem sobre a Con-versão e Estrutura da Igreja, afirma "Nas estrturas minis-teriais tal novidade (a novidade do Espírito de Jesus res-suscitado exige uma Igreja sempre nova a serviço do mundo novo do Reino) obriga a Igreja a escolher como dom do Espí-rito os novos ministérios que as comunidades requerem e ge-ram. Nesta nova visão, a discriminação que a mulher sofre nas Igrejas não se justifica ne biblica, nem teologica, nem pastoralmente"7. 10. A fé verdadeira e salvífica implica o amor comprometi-do com a libertação dos oprimidos. Foi por obediência à Pa lavra de Deus lida e meditada nas Escrituras que, nos mu-lheres e pastoras, nos sentimos impulsionadas pelo Espíri-to Santo a nos compromenter com a realidade dos que sofrem.

O maior conhecimento desta realidade nos ajudou a ler com masi clareza as Escrituras e a compreender com mais preci-são a preferência de Cristo.

7O São Paulo, Jornal da Arquidiocese de São Paulo, n° 1254, p. 7, item 84-85.

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ANOS 1930 1934 1938 1942 1946 1950 1955 1960 1965 1968 1969 1970 1972 1973 Socied. de Crianças 2763 324 0 3744 4534 4677 5466 5690 6663 7370 - - 5862 — 4437 4023 Socied. de Juvenís — - - 107 528 893 1778 1827 2529 3812 — 2640 2882 3149 Socied. de Jovens 3260 2950 3427 3683 4677 6071 6376 6663 6903 5479 — 4437 5271 Socied. de Senhoras 5000 4500 4860 5900 6338 7731 9057 10712 11857 10829 — 10235 10087 Socied. de Homens 430 511 1117 1540 2353 3082 4089 4303 3502 — 2648 2393 Escolas Dominicais 17092 23299 25426 30357 31758 43218 48798 61483 69410 60266 — 58576 58601 Membros da Igreja 48387 57756 60608 — 61618 64686 Membros ñ Professos 32898 25287 30779 Instit. de Ensino 17896 19040 20677

30779

Levantamento financeiro para comparar com o crescimento: 1969 - 4. 902 , 972 1972 -12.176.172 1973 -13.902.000

Aumento financeiro 20% a.a. ano-base 1969: 1969 - 4 .902;972 1972 - 8.472.335 1973 -10.166.802

Total de pessoas envllvidas no trabalho metodista atualmente -1973 e 1974: membros professos 64.686 - 1973 metodistas não professos 30.779 - 19 73 alunos matriculados nas instit. de ensino 29.648 - 1974

125.113 É esta a comunidade que sustenta e devera sustentar o trabalho global da Igreja, usando-se os elemen-

tos humanos e os recursos patrimoniais para a Missão.

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