II ENPES Encontro Nacional de Pesquisa sobre Economia ... · associações entre a Educação...

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II ENPES Encontro Nacional de Pesquisa sobre Economia Solidária “A economia solidária sob diversos olhares” 22 de setembro de 2012 Anhembi Parque, São Paulo Processos educativos na Incubação de Empreendimentos Solidários: associações entre a Educação Popular e a Pesquisa-ação. Cezar Nonato Bezerra Candeias UFAL Evelyne Wagna Lucena Lima Candeias UFAL Amélia Virgínia Lucena Oba UFAL Resumo Ao entender a incubação de empreendimentos da economia solidária como um processo educativo, a presente comunicação busca analisar esse processo a partir da filosofia da práxis (GRAMSCI, 1978; MARX e ENGLES, 2001 e VASQUEZ, 1977) identificando as convergências com os aspectos epistemológicos e metodológicos da pesquisa-ação (BORDA, 2009; BRANDÃO 2006) e da Educação Popular (FREIRE, 1983 e 1987). Ressaltamos em nossa abordagem o aspecto emancipatório desse processo, entendendo a emancipação como o ato da conquista do governo de si próprio (ARRUDA, 2009), e por isso demandante de uma educação reflexiva. Concluímos a nossa comunicação sugerindo a tecnologia social “Mandala de Saberes”, como uma interessante estratégia de incubação ao fundir diferentes saberes (popular, acadêmico, comunitário, social e individual) numa perspectiva de educação integral e integrada, incorporando em sua execução, aspectos da pesquisa- ação e da educação popular de matriz freireana. Palavras-chave: Incubação, Educação da Práxis, Pesquisa-ação

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II ENPES – Encontro Nacional de Pesquisa sobre Economia Solidária

“A economia solidária sob diversos olhares”

22 de setembro de 2012

Anhembi Parque, São Paulo

Processos educativos na Incubação de Empreendimentos Solidários: associações entre a Educação Popular e a Pesquisa-ação.

Cezar Nonato Bezerra Candeias – UFAL

Evelyne Wagna Lucena Lima Candeias – UFAL

Amélia Virgínia Lucena Oba – UFAL

Resumo

Ao entender a incubação de empreendimentos da economia solidária como um

processo educativo, a presente comunicação busca analisar esse processo a

partir da filosofia da práxis (GRAMSCI, 1978; MARX e ENGLES, 2001 e

VASQUEZ, 1977) identificando as convergências com os aspectos

epistemológicos e metodológicos da pesquisa-ação (BORDA, 2009; BRANDÃO

2006) e da Educação Popular (FREIRE, 1983 e 1987). Ressaltamos em nossa

abordagem o aspecto emancipatório desse processo, entendendo a

emancipação como o ato da conquista do governo de si próprio (ARRUDA,

2009), e por isso demandante de uma educação reflexiva. Concluímos a nossa

comunicação sugerindo a tecnologia social “Mandala de Saberes”, como uma

interessante estratégia de incubação ao fundir diferentes saberes (popular,

acadêmico, comunitário, social e individual) numa perspectiva de educação

integral e integrada, incorporando em sua execução, aspectos da pesquisa-

ação e da educação popular de matriz freireana.

Palavras-chave: Incubação, Educação da Práxis, Pesquisa-ação

Introdução

A Economia Solidária vem ao longo dos anos conquistando um espaço

cada vez maior na sociedade revelando-se como uma experiência que não se

resume a situações pontuais ou efêmeras. Com um universo de 21.859

Empreendimentos, isso em 2007 (MTE, 2007), espalhados em todas as regiões

e estados do Brasil, a Economia Solidária é hoje uma realidade.

Nesse cenário de construção do que vem se configurando como o

Movimento da Economia Solidária, uma experiência vem se destacando

enquanto ação estratégica para o desenvolvimento dos empreendimentos

vinculados a Economia Solidária, a Incubação desses Empreendimentos.

Tendo sua origem na extensão universitária, a incubação de

empreendimentos da economia solidária se expandiu e hoje outras instituições

desenvolvem ações de incubação como Organizações Não-Governamentais e

o próprio poder público através das incubadoras vinculadas a muitas

prefeituras em todo o país.

É importante destacar que a origem da Incubação de Empreendimentos

ocorre fora do âmbito da Economia Solidária, mais especificamente surge nos

EUA nos anos 50 e na década de 80 já está difundido em todo o mundo sendo

incorporado principalmente pelas universidades com a criação das Incubadoras

de Empresas de Base Tecnológica.

Ao adentrar no campo da Economia Solidária, a idéia da constituição do

espaço de incubação de empreendimentos que estão dentro do universo da

economia solidária, ganha contornos que procuram responder as demandas

colocadas pelos próprios princípios da economia solidária.

Iniciadas com as experiências da UFRJ e da UFC, as incubadoras

universitárias vinculadas à Economia Solidária vem buscando aprofundar e

consolidar uma metodologia de incubação específica e é sobre o aspecto da

metodologia que o presente texto procura trazer contribuições.

Metodologia de Incubação

Como bem observa Culti (2009), a incubação pode ser definida como um

Processo prático educativo de organização e acompanhamento

sistêmico a grupo de pessoas interessadas na formação de

empreendimentos econômicos solidários, tendo em vista a

necessidade de dar suporte técnico a esses empreendimentos

(CULTI, 2009, p. 153)

Essa dimensão educativa da qual fala a referida autora, nos sugere o

estabelecimento de uma relação entre a incubação e a educação popular,

sobretudo pelo princípio epistemológico do respeito ao senso comum e ao

cotidiano dos setores populares (problematizando e buscando a teoria presente

na prática popular).

A incubação de empreendimentos da Economia Solidária, nessa

perspectiva, se revela como um ato dialógico entre a universidade e os

trabalhadores e trabalhadoras desses empreendimentos, aos moldes do que

propõe Paulo Freire na sua defesa da educação libertadora.

...o educador já não é o que apenas educa, mas o que,

enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que,

ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam

sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os

‘argumentos de autoridade’ já não valem. Em que, para ser-se,

funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com

as liberdades e não contra elas.

Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se

educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,

mediatizados pelo mundo. (FREIRE, 1987, p. 68-69)

Nessa perspectiva, a incubação assume a práxis enquanto fundamento

de construção do conhecimento e por isso se configura enquanto campo do

exercício de uma ação político-pedagógica e por isso podemos identificar a

incubação como uma educação emancipadora.

Emancipação é aqui entendida como o ato de governo de si próprio

(Arruda, 2009) e está diretamente articulada à incubação na medida em que a

mesma, assim como a educação libertadora, apoia o “ o Homo na conquista da

autonomia e da autogestão no pensar e no agir, enquanto indivíduo e

coletividade,(...)na construção de sujeitos conscientes e ativos de sua própria

evolução e desenvolvimento, da sua própria história e devir” (ARRUDA, 2009,

p. 22).

Como nos diz Marx e Engels (2001) a ação transformadora que busca a

emancipação, perpassa necessariamente por uma relação indissociável entre

teoria e prática, articulada ao contexto social e histórico, ou seja, perpassa pela

práxis.

A práxis entendida como unidade entre teoria e prática, nos alerta

Gramsci (1978), não pode ser tomada como uma negação de qualquer tipo de

filosofia, mas sobretudo, como uma afirmação de uma análise do mundo de

forma total, aonde o ser humano não pode ser separado da natureza, a

atividade da matéria e muito menos o sujeito do objeto.

Arruda (2009), seguindo as proposições de Marx e Gramsci, formula a

idéia de uma Educação da Práxis, conceituando a mesma como uma educação

que contribui para um desenvolvimento centrado no ser humano sob um lastro

da vivência da democracia integral1. Essa Educação da Práxis teria então os

seguintes princípios fundamentais:

“O ato de conhecer é um caminho para a compreensão da

realidade; em si, conhecer não transforma a realidade; só a

conversão do conhecimento em ação transforma a realidade.

Chamamos Práxis esta contínua conversão do conhecimento em

ação transformadora e da ação transformadora em conhecimento.

O ato de conhecer, portanto, não tem um fim em si; são o ser e o

fazer conscientes, críticos e criativos, que dão sentido ao

conhecer.

O ato de conhecer, quando convertido pelo sujeito em ação

transformadora, gera ao mesmo tempo uma transformação no

1 Segundo Arruda e Boff (2000) a democracia integral envolve a plena realização dos direitos humanos

em todos os seus aspectos e dimensões – econômicos, políticos, sociais, culturais, materiais, vitais, psíquicos e espirituais.

próprio sujeito; a Práxis é também, portanto, o caminho de

construção da consciência humana e universal.

O educando deve tornar-se desde o início sujeito do processo

político-educativo, pois só aprenderá a sentir, sentindo, a agir,

agindo, e a pensar sobre a ação e sobre o mundo, pensando.

Portanto, o educador é apenas um guia, um apoio num processo

de descobrimento permanente dos próprios sujeitos da

aprendizagem. O desafio para ele é, em essência, tornar-se um

sujeito entre sujeitos, potencializando as capacidades criativas de

cada um na dinâmica do trabalho coletivo” (ARRUDA, 2009, p.59-

60)

Esses princípios podem ser atribuídos também para a incubação na

medida em que o encontro entre a universidade (agente incubador) e os

trabalhadores organizados nos seus empreendimentos (sujeito incubado)

também vislumbra uma ação educativa/dialógica com fins de transformação

para a conquista da emancipação.

O caráter de intervenção da incubação, por sua vez, somado aos

princípios da educação da práxis, nos faz perceber que a incubação também

pode ser caracterizada enquanto uma pesquisa-ação.

Brandão (2006), nos fala da pesquisa-ação2, observando que

...a investigação social deve estar integrada em trajetórias de

organização popular e, assim, ela deve participar de amplos

processos de ação social de uma crescente e irreversível

vocação popular (...) Um instrumento científico, político e

pedagógico de produção partilhada de conhecimento social e,

também, um múltiplo e importante momento da própria ação

popular. Esta alternativa de investigação social é “participante”

porque ela própria se inscreve no fluxo das ações sociais

populares. Estamos numa estrada de mão dupla: de um lado, a

participação popular no processo da investigação. De outro, a

participação da pesquisa no correr das ações populares.

(BRANDÂO, 2006, p. 31).

O trecho acima descrito, ainda que tenha sido escrito para caracterizar a

pesquisa-ação, possui grandes aproximações com os princípios da Educação

2 Destacamos que nesse texto trataremos pesquisa-ação como sinônimo de pesquisa participante.

da Práxis e por sua vez retrata também o trabalho de incubação realizado junto

aos empreendimentos da economia solidária.

A intervenção que busca construir autonomia a partir de uma postura

participativa, aonde os setores populares são também sujeitos e com isso se

estabelece uma relação de mão dupla, fazem parte da natureza da incubação e

por outro lado são pilares da pesquisa-ação.

Talvez o principal fundamento que aproxima a pesquisa-ação da

incubação seja o fato de se perceber que o conhecimento está inevitavelmente

articulado à intervenção social. Como diria Paulo Freire (1983), o ato de

conhecer é também um ato de implicar-se.

Orlando Fals Borda, um dos principais formuladores da perspectiva

latinoamericana da pesquisa-ação, seguindo esse preceito, faz a defesa do

pesquisador enquanto sujeito implicado a partir do conceito compromisso-ação.

El compromiso-acción es, esencialmente, una actitud personal

del científico ante las realidades de la crisis social, económica y

política en que se encuentra, lo que implica en su mente la

convergencia de dos planos: el de la conciencia de los

problemas que observa y el del conocimiento de la teoría y los

conceptos aplicables a esos problemas. (...) Por eso el

compromiso-acción, aunque ideológico, no queda por fuera de

los procesos científicos; antes por el contrario (…) los

enriquece y estimula. (FALS BORDA, 2009:244).

O compromisso-ação também é observável no processo de implicação

dos agentes incubadores (professores, estudantes e técnicos vinculadas às

universidades) na medida em que os mesmos pautam as suas ações

incorporando os agentes sociais populares, ou seja, os trabalhadores e

trabalhadoras, não como meros beneficiários diretos e indiretos de suas

intervenções, mas como sujeitos ativos e críticos, cujo diálogo também faz

deles atores do processo de incubação pelo qual estão passando.

Retomando o aspecto da participação destacado por Brandão (2006),

ele nos diz que a pesquisa é participante não porque esses agentes aparecem

numa posição secundária, de coadjuvante, mas porque essa pesquisa se

potencializa e se desdobra com a participação ativa dos mesmos.

Assim como ocorre na pesquisa-ação, o processo de incubação, a

participação é sem sombra de dúvidas o coração do processo de

aprendizagem. É na ação que os sujeitos envolvidos com o processo de

incubação conseguem dar saltos qualitativos na direção de processos sociais

emancipatórios.

A ação impõe a formulação do conhecimento à dinâmica da reflexividade

presente no ato da práxis, simplificado na expressão: ação-reflexão-ação. Essa

dinâmica reflexiva por sua vez, favorece ao entendimento de um determinado

evento ou realidade em sua totalidade sob uma ótica dialética e não apenas

como sendo essa realidade o simples somatório das partes.

Todavia é importante destacar a necessidade de estarmos atentos para

que a relação da produção do conhecimento com a participação, não seja

tomada sob a perspectiva da experimentação aos moldes do Behaviorismo, o

qual entende que só há produção do conhecimento quando o mesmo se revela

sob a forma de comportamento observável. Se estamos falando da apreensão

do mundo a partir da sua totalidade, é preciso perceber que o conhecimento

produzido também se revela nas diversas dimensões da vida humana, muitas

delas não observáveis.

Gonsalves (2006, p.251), observa que,

Deve-se considerar que a participação dos sujeitos na

pesquisa [e na incubação] permite a substituição dos

ideais teóricos de explicação e controle pelos de

compreensão, significado e ação. É justamente essa

aproximação com o paradigma interpretativo (ou

hermenêutico) que precisa ser evidenciada.

A busca pela compreensão crítica dos mecanismos que fazem funcionar

o mundo, durante o processo de incubação, aqui entendida como pesquisa-

ação, segue a idéia de que esse entendimento inevitavelmente se transforma

em ação, assim como nos mostra Freire (1983, p. 106),

...toda a compreensão de algo corresponde, cedo ou

tarde, uma ação. Captado um desafio, compreendido,

admitidas as hipóteses de resposta, o homem age. A

natureza da ação corresponde à natureza da

compreensão. Se a compreensão é crítica ou

preponderantemente crítica, a ação também será. Se é

mágica a compreensão, mágica será a ação. (Freire,

1983:106)

A construção dessa compreensão crítica dar-se-á com a

problematização da realidade e no caso da economia solidária, reforçada pelo

exercício cotidiano de princípios como autogestão, solidariedade, trabalho

cooperativo, eficiência e eficácia.

Hoje é possível encontrar um consenso nos estágios da incubação,

divididos em 3 momentos: pré-incubação, incubação e desincubação. Se bem

observadas, essas fases correspondem aos níveis de aprofundamento do olhar

crítico que os empreendimentos têm da realidade e de si mesmos e como os

mesmos se mobilizam na direção da concretização das suas autonomias.

Esse é um processo que demanda um autoconhecimento e um

conhecimento da realidade a qual se deseja transformar e, por conseguinte, o

estabelecimento de objetivos e metas concretas para efetivar essa

transformação.

O processo acima descrito pode ser percebido no “passo a passo” da

incubação que segue abaixo:

1. Primeiros contatos com o grupo interessado

2. Levantamento/mapeamento da trajetória ocupacional e pessoal dos

interessados, como os objetivos e motivos de cada um para a formação

de empreendimento

3. Formação do grupo beneficiário

4. Discussão sobre o cooperativismo e associativismo e suas modalidades

em relação à empresa privada,

5. Avaliação de alternativas e decisão da atividade fim do

empreendimento, tais como: pesquisa de mercado, concorrentes, pré-

projeto econômico-financeiro

6. Avaliação sobre as possibilidades de parceria;

7. Avaliação das possibilidades de inserção em cadeia produtiva assim

como em Planos/Políticos de desenvolvimento local ou regional

8. Capacitação teórica

9. Capacitação administrativa

10. Elaboração do Estatuto e Regimento Interno do Empreendimento

11. Legalização do Empreendimento

12. Acompanhamento sistemático ou assessoria pontual para inserção e

manutenção do Empreendimento

13. Avaliação do grau de autonomia do grupo

14. Final do processo de incubação. (Culti, 2002)

Como é possível perceber, a incubação demanda uma série de saberes,

que vão desde o resgate da trajetória de vida e profissional dos sujeitos

implicados, até conhecimentos mais focados na gestão, produção e

comercialização, além de aspectos éticos e políticos necessariamente

presentes no cotidiano dos empreendimentos.

Enquanto proposição e provocação, queremos aqui nesse texto propor a

utilização da Mandala de Saberes como uma estratégia de construção de

saberes que possa potencializar a incubação, pois a mesma favorece a

articulação dos procedimentos da pesquisa-ação com os princípios da

pedagogia freireana.

.

Mandala dos Saberes: uma possível estratégia de aperfeiçoar a incubação

A metodologia da Mandala dos Saberes surge aliada a experiência de

educação integral no Rio de Janeiro na tentativa de enfrentar desafios

pedagógicos envolvendo ações das áreas da educação e cultura para

educandos de favelas. Com seu significado histórico relacionado à totalidade,

vem representar a integração entre o homem e a natureza, tomando no

processo educativo o desafio de articular os conhecimentos comunitários do

cotidiano e do senso comum aos conhecimentos sistematizados, escolares,

acadêmicos e científicos. Este encontro de diálogo e reconhecimento de

riqueza cultural exige uma postura ativa de todos os envolvidos nas

aprendizagens possibilitando inúmeras trocas, diálogos e mediações na

construção do conhecimento a partir do encontro de diversas vivências e

realidades (MEC, 2009).

A Mandala dos Saberes pretende ser um sistema livre, aberto e

dinâmico, onde o processo educativo pode ser um laboratório de experiências

culturais, sociais e históricas e o contexto e a criatividade dos sujeitos

envolvidos vão construindo/reconstruindo os caminhos pedagógicos, as

demandas de aprendizagens de acordo com seus ritmos necessidades.

Consideramos que essa pode ser uma perspectiva de atuação

importante para o processo de incubação em economia solidária, podendo

favorecer o reconhecimento do poder de participação ativa dos trabalhadores e

trabalhadoras dos empreendimentos na sua formação a partir da valorização

dos seus conhecimentos, dos contextos de vida, das suas trajetórias,

compreendendo as especificidades locais e integrando esses dados aos

conhecimentos técnicos e científicos sistematizados nas diversas áreas.

As Mandalas dos Saberes da economia solidária, dos processos

relacionados à organização coletiva e da produção econômica dos grupos

poderá ser construída e desenvolvida associada as Mandalas de Saberes

comunitários, escolares e tantos outros encontros de conhecimentos que se

fizerem necessários tanto no plano dos empreendimentos quanto, numa

perspectiva mais ampla, dos territórios. Dessa forma, o processo de formação

pode se integrar a totalidade de aspectos da vida dos envolvidos, respeitando

os seus ambientes internos e externos de existência.

A metodologia Mandala dos Saberes foi criada em 2007, pela ONG

Casa da Arte de Educar3 e a mesma ao se configurar como um sistema não

linear e contextualizado, procura representar e explicitar de forma gráfica e

3 Para maiores informações sobre as Mandalas dos Saberes acessar: http://www.artedeeducar.org.br/

estética os saberes e as articulações que os empreendimentos têm e podem

ter.

Abaixo apresentamos algumas mandalas como exemplificação. No

primeiro exemplo, temos 2 mandalas. A primeira representando a mandala de

demandas de um determinado empreendimento procurando observar

objetivos/contextos dessas demandas. Ainda nesse exemplo, a mandala do

Empreendimento é seguida de uma segunda mandala, a qual procura detalhar

uma das demandas apresentadas. Nesse caso, a mandala retrata os aspectos

vinculados a demanda Formação, identificando os tipos de formação que o

empreendimento identifica como necessários bem como também, os atores

sociais com os quais o empreendimento pode interagir e se articular para

desenvolver a formação demandada.

No segundo exemplo, trazemos outras 2 mandalas. A primeira

exemplifica um Empreendimento, explicitando as pessoas que compõem o

empreendimento e seus produtos. De forma vinculada, uma segunda mandala

procura exemplificar os saberes de uma das componentes do empreendimento.

Vejamos,

É importante destacar que as mandalas, como as que acima

exemplificamos, na verdade são estágios finais de um processo participativo e

interativo, que ao explicitar várias dimensões do empreendimento e da

realidade com a qual o empreendimento interage, favorece ao estabelecimento

de um caminhar na direção da autonomia e da emancipação.

O exercício de sua construção pretende superar a distinção hierárquica

entre os conhecimentos científicos e do cotidiano, aproximando os objetos de

estudo e tornando mais visíveis as possibilidades de interseção e de

transformação do pensar e do agir para organizar melhor as dinâmicas da vida

e do trabalho dos empreendimentos econômicos solidários que por ventura

venham a passar pela incubação.

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