II Ciclo Seminários Regionais ABDE-WWF (Sudeste) · 2019. 10. 16. · Jared Diamond Colapso Jared...
Transcript of II Ciclo Seminários Regionais ABDE-WWF (Sudeste) · 2019. 10. 16. · Jared Diamond Colapso Jared...
II Ciclo Seminários Regionais ABDE-WWF (Sudeste) CARLOS AGUEDO PAIVA
D IR . PRES. DA PARADOXO CONSULTORIA E V ICE-COORDENADOR DO MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL DA FACCAT
11 DE OUTUBRO DE 2019
“Na minha opinião, os ambientalistas nãoconseguirãoenfrentaradequadamenteosdesafiospostos à frente à qualidade de vida e à própriasobrevivência do planeta se se recusarem adialogar com uma das maiores forças polí@cas eeconômicasdomundocontemporâneo:asgrandesempresas”. JaredDiamond Colapso
Jared Diamond, WWF e ABDE JaredDiamondéumgeógrafo,biólogoeantropólogonorte-americanofamosopelolivroArmas,GermeseAço.OquepoucossabeméqueeletrabalhouporanosparaaWWF,naNovaGuiné.Lá,elesesurpreendeucom respeito estrito às normas de controle ambiental adotadas pelaChevron em sua área de exploração petrolífera. Nenhum ParqueNacional chegavaaospés: todosos animaispasseavamemsegurançadurante o dia. Perguntou a um alto funcionário omo@vo da Chevronadotar regras tão respeitosas com o meio ambiente. Reproduzo arespostadotextoeasconsideraçõesposterioresdeJared: “Exxon Valdez, Piper Alpha, Bhopal”. Ele se referia ao grandevazamentodeóleodocampoValdezdaExxonnoAlascaem1989;aoincêndiodaPlataforma33daPiperAlphanoMardoNortequematou167pessoaseoescapamentoquímicodaUnionCarbidena Índiaquematou 4.000 e feriu 200.000 . Estes foram os três acidentes maisfamosos com companhias petroquímicas do mundo. As indenizaçõesforambilionárias.Eosprejuízosàreputaçãoforamaindamaiores.SERRESPONSÁVELPODESERLUCRATIVO.
Jared, Gabriela e a WWF SegundoJared,oqueeleentendeunaquelemomentoorganizouboapartedo livro Colapso: soluções ganha-ganha em jogos sociais dilemá@cosusualmente são ob@das sob pressão.Ou o Estado impõe, ou o jogadormaisforteseevadedesuaobrigaçãodereciprocidade. Eistolevaaumaperda,nolongoprazo,paraoprópriojogadormaisforte.
Omaisforte–valedizer,aempresa–precisademercadoedeprofissionaisqualificados. Mercado e profissionais qualificados pressupõem saláriosmínimos elevados, impostos pagos (semevasão), inclusão social, respeitoaosdireitoshumanos, respeito aomeio ambiente. Isto atrai turistas.Quealimentao…mercado.Earodasefecha.Temosumcírculovirtuoso.
Que não ocorre sem a pressão do Estado. Pois o mais forte não querconceder.OEstadodeveobrigar.Eomaisforteagradeceráamanhã.FoioespíritodarespostadeGabrielaaMarcoAntônioLimanoiníciodosnossosdebatesJaredconcordaria.Euconcordo.100%.
A questão da síntese entre desenvolvimento e sustentabilidade A questão posta pelo Marco Antônio Lima à exposição deaberturadaGabrielaYamaguchiédamaior importância.Eladizrespeito à síntese possível entre desenvolvimento esustentabilidade.ArespostadadaporGabrielavainosen>dodeJared:a sínteseadvémda regulaçãoexigenteedanegociaçãoeficiente.Jamaisda“vistagrossa”.
Éumenganopensarquepodemosobtermaisdesenvolvimentocommais concessões às empresas em termos de legislação oufiscalizaçãoambiental.Asempresassãoatraídas,acimadetudo,pormercado. Em segundo lugar, por regras claras e segurançajurídica.DuascoisasqueestãofaltandonoBrasilhoje.Equeurgeresgatar. Com inclusão social, distribuição de renda,republicanismoecontrolesocialdoEstado.
Samarco e a Fundação Renova O relato do RobertoWaak sobre a atuação da Fundação Renova na áreaa@ngida pelo rompimento da represa de Brumadinho apenas confirma aspalavrasdeGabriela. Semdúvida,orelatofeitonosanimaealenta. Mas,aomesmotempo,nostrazàmemóriatudooqueseperdeu. Perderam-seinúmerasvidas. Oimpactonomeioambientefoienorme. AValeperdeucapitalsocial;emaisaindaperdeuaArcellorMitall. E perdemos a grande oportunidade de cons@tuir o nossomarco, omarcobrasileiro“ExxonValdez,PiperAlpha,Bhopal”.Aqui,naterrinha,parecequeos“equívocos”con@nuamsendomaisoumenos“toleráveis”.Osambientais,bemmaisqueoutros. QUOSQUETANDEM?
Explorando a Tensão (Saudável) Adespeitodisto,váriasempresasestão,sim, tomandoconsciênciadopesodaavaliação social sobre suas decisões estratégicas. Algumas, adquiriram estaconsciência de forma trágica. Por conta própria, ou observando a trajetóriaalheia. Alguns“causos”: 1) A Souza Cruz (Santa Cruz do Sul/RS), há anos promove a diversificaçãoprodu@vadosfumicultoresdaregiãodoValedoRioPardo,preocupadacomasconsequênciasfunestas(ereaçãosocial!)daprevisívelquedadotabagismonosanospróximos; 2)Frimesa&Lar,apontamparaprá@cassemelhantescomosprodutoresdoleitenoOestedoPR; 3) JBS (entre tantas outras pressionadas pela crise polí@co-midiá@ca recente)poderiaassumir compromissos similares (naverdade,muitomais radicais!)decontroleambiental. E, aproveitandooensejo: Seráqueaspressões sofridas sobreas construtorasbrasileirasnão teriamsidooequivalenteaos caos “ExxonValdez,PiperAlpha,Bhopal”paracons@tuirummarcodereferênciaparacustosdeautorregulação?
Não estaríamos sendo ingênuos?
SIM.Sesupuséssemosqueasempresasajustamcomportamentospor“bommocismo”.NÃO, se entendermos que as empresas estão cada vez mais subme@das a pressõescompe@@vaspesadaseaoescru{niopúblico.Eestãoconscientesdequeprecisamdemarke>ng fidedigno. E poucas organizações podem fornecer marke>ng fidedigno. AWWFpode.Justamenteporqueimpõecondições.
NEGOCIEMOS,POIS!JAREDNELES!!
Até onde pude entender, esta também foi a perspec@va defendida por todos ospar@cipantesdamesasobresaneamentoefinanciamentoaosinves@mentosnaárea.Pormais que tenham sido apresentados novos sistemas de funding e financiamento aUnidades Federadas, um elemento foi consensual: os custos são muito elevados, osresultados são muito lentos e de baixa visibilidade. Resultado: inves>mentos emsaneamentonãosãoaprovadosemanálisesdebeneScio-custodemarke>ngeleitoral.Cadavezficamaisclaroqueéprecisodividiroônusdestesetorcomagentesquetêmoutros obje@vos além da polí@ca. Mas há que ter cuidado com os termos dofinanciamentodadooobje@voespecíficodestesagentes:–olucro.Afiscalizaçãodeumterceiropode sera condiçã[email protected] funcionar comotal?
Juros, lucro e crescimento De qualquer forma, a questão do financiamento, dos juros e dos lucroscoloca uma outra dimensão do conflito – e da síntese possível – entredesenvolvimento e sustentabilidade que,me parece, tem que vir à tona.Nãoadiantataparosolcomapeneira.Éprecisodestaparestapanelaeveroquetemosdentrodela. Quedimensãoéesta?Adimensãodocrescimento! ComomuitobemnosensinouSchumpeter,nãosepodepagar juros, semcrescimento.Ouelesetornausura.Osistemadefinanciamentoajurosóéviável se aquele que paga ganhamais a cada ano que passa. E isto só éviávelseosistemaestácrescendo.Eossistemascrescemcomalgum@pode depleção de seus recursos naturais. Alguns crescem de uma forma,outrosdeoutra forma.Alguns crescemaceleradamente.Outros, devagar,quaseparando. Como o Brasil vem crescendo? Sabemos bem! Temos crescido pouco ecombasenoagronegócioenamineração.Eprecisamosfalarsobre isto!Antesquesejatardedemais!
Ora! Nem toda a agropecuária é insustentável! Semdúvida.EMAIS:todaaagropecuáriapodeedevesersustentável. Porém,pensoeu,partedelasóoseráapar>rdeaçõescompensatórias. AexposiçãodeJoelSiqueirasobreafantás@caexperiênciadaCooperuaçudemonstra cabalmente o sucesso social e econômico de alterna@vasplenamente orgânicas e baseadas em tecnologias desenvolvidasautonomamente. Não obstante, parece-me que seria um equívoco pretender contrapor aagriculturaorgânicaàempresarialeàintegradacooperadaqueproduzemescalaindustrial. Euprefiropensaremumgradientedesistemas,comfunçõesdis>ntas, enãoexcludentesnumprocessodedesenvolvimentosustentável.Desdeospovos da floresta até as firmas processadoras de proteína animal paraexportações geradoras de divisas, há inúmeras formas de organizaçãoparaproduçãoeprocessamentodealimentosqueenvolvemcole>vidades– conservas, farináceos, la>cínios, abatedouros e frigoríficos - de baselocal que não são especificamente coopera>vas, mas que mobilizamcomunidadesegeramrendaeocupaçãoparacomunidades.Muitasdelastradicionais.Ou,pelomenosdebaselocal,debaseregional.
A síntese entre os agentes locais, as cidades e os Estados Oquenoslevaaumanovareflexão:comoar@cularoquefoipostonasmesas1e3?Aprimeiramesatratoudopapeldosagenteslocais.Aterceiramesatratoudo papel dos agentes municipais e dos estaduais. Mais: Rodrigo Perpétuolembrouqueascidadestambémsãoumâmbitodeaçãopróprio.Paraalémdeserem um ente federa@vo brasileiro, contam com voz e representaçãointernacionalatravésdaICLEI,queoperanoBrasil.
Cadaumadelasnosconvenceudacentralidadedecadaumdestesagentes.Doqueafinalelasnosconvenceram?
QUETODASASESCALASSÃOFUNDAMENTAIS!QUEOFUNDAMENTALÉOPERAREMTODOSOSNÍVEIS.
Desenvolvimentorealiza-seem:
ASSOCIAÇÃO,COMUM-UNIDADEEEMLEQUE.Docampoàcidade.
Há18milhõesdepessoasemSãoPaulo.Elesdependemdasmaisdiversasfontesprodutorasdealimentos.DaCooperuaçuà Lar, da FrimesaàsCoopera@vasdeportemédio.
De volta à agropecuária Já nos referimos à relação schumpeteriana entre juro-crescimento-desenvolvimento. Mas é preciso aprofundar a questão do motor donossocrescimentorecente.
NummundocrescentementehegemonizadoporumpaíscomoaChina(de alta competência industrial e tecnológica e de grande carênciaagropecuária e mineral) para o Brasil sobrou o papel do megafornecedordematérias-primas.Estaéabasedonosso“crescimento”.Umabasequeépar>cularmenteagressivaaomeio-ambiente.
Poderiaserdiferente?Claroquesim!Desdeque@vé[email protected]áquereconstrui-lo.Notempo!
Atétentamos,emanosrecentes.Deformaalgo{mida.Mastentamos.Houve projeto industrial. Mas o financeirismo foi vitoriosoconjunturalmente.Hoje,omantradominante,cantaloasàeficáciadoeà sabedoria do mercado. Se seguirmos os sinais do mercado, ondeestessinaisnoslevamnomundocontemporâneo?
Mercado e vantagens compe]]vas naturais Ora,asvantagenscompe@@vasimediatasdoBrasilsãoclaras.Somosoúnicopaísdomundocapazdegeraraté três safrasagrícolasdeverãoporano.Aabundância de água, solo fér@l e sol são únicas no mundo. Não é precisoentendermuitodevantangensrela@vas,dedeterminantesdataxadecâmbioedesuarelaçãocomataxadejurosparasaberquenãohácomosustentaruma indústria nacional com tamanha compe@@vidade agropecuária, jurosescorchantes, polí@ca cambial an@-inflacionária e riquezas mineraisabundantes.
DE FATO, O BRASIL DESINDUSTRIALIZOU-SE NOS ÚLTIMOS ANOS. E ASREGIÕES E LOCALIDADES QUE TIVERAM PIOR DESEMPENHO FORAMJUSTAMENTEASMAISINDUSTRIALIZADAS.EVICE-VERSA.
ALGUMASURPRESA?….NENHUMA.IMPOSSÍVEL!!!
O que o Brasil exportava em 2005 e em 2018
Em 2005, 31,1% das nossas exportações eram de produtos agropecuários e13,2% eram de produtos minerais, totalizando 44,3%. Em 2018, 37,1% dasnossasexportaçõeseramdeprodutosagropecuários innaturae22,6%eramminériosnãoprocessados,totalizando60%dovalortotalexportado.Viramosexportadoresdematériasprimas.
Neste mesmo período, as exportações de desdobramentos básicos damineração (chapas de aço, molas, ar@gos de cutelaria, etc.) caíram de 14%para 10%. Produtos industriais de baixa tecnologia – tecidos, vestuário,calçados,móveis,alimentos–caíramde13%para10%.Produtosdaindústriademédiaealtatecnologia–peçasparaautomóveis,carros,turbinas,tratores,guindaste,aviões,etc.–caíramde29%para20%
EM200544%ERAMATÉRIA-PRIMAE56%ERAINDUSTRIALIZADO.
EM201860%ERAMATÉRIA-PRIMAE40%ERAINDUSTRIALIZADO.
O Papel da China na desindustrialização do Brasil
O quadro acima mostra a evolução da demanda Chinesa sobre a produçãobrasileira. Em 2005 ela já era bastante concentrada em matérias primas, masquaseumquartodovalortotaldademandaaindasevoltavaàindústria.Em2018nemmesmo10%dademandachinesaincidesobrebensindustriais.
Ora, esta inflexão de demanda não poderia deixar de se fazer sen>r sobre aregião mais industrializada do país: a região sudeste. O Brasil também vemvivenciando uma crise de demanda interna não desprezível. Que se fazacompanhar (eéparcialmentedeterminado,por)umarrochodegastopúblico,emespecialdosinves@mentospúblicos.Quetambémrepercutemsobrearegiãomaisindustrializadadopaís.
Oresultadoéoquadroabaixo:Dentre todoosEstadosBrasileiros, aquelesquemaisperderampar@cipaçãonoValorAgregadoBrutodopaísforamdoisEstadosdoSudeste:SãoPauloeRiodeJaneiro
Sim, mas Minas e Espírito Santo ampliaram!! Sem dúvida! E a lâmina abaixo explica porque.EstasduasUFs–aocontráriodeSãoPauloeRiodeJaneiro – ampliaram sua par@cipação no VABagropecuárionoBrasil. E também ampliaram sua par@cipação nasexportações brasileiras em geral e de produtosprimárioseminerais. “Minas e Espírito Santo entraram na onda”. Vejaabaixo
Em síntese GabrielaYamaguchimostrouqueasínteseentredesenvolvimentoesustentabilidadeexigequeasempresasobservemesesubordinemàs regrasvigentes (porvezes, jádemasiadoflexíveise frouxas!)de respeitoaoambienteequeoEstadofiscalizedeformaconsistenteepunaseveramenteasfalhas. JoelSiqueiraeosdemaismembrosdaprimeiramesalembraramqueascomunidadestambém podem contribuir produzindo de forma ambientalmente consistente econtribuindoparacontrolarefiscalizarempresaseopróprioEstado. LucianaCapanemalembrouquealgunsagentesdeEstado–maisespecificamente,ospolí@cos eleitos – podem adotar uma lógica econômica na gestão de recursos. OEstadonãoéumDeuxEx-Machina. Jared,exWWF(queeuouseiconvidarparafalarnoencontro)chamaaatençãoparaanecessidadededialogarcomasempresas,tecendo“acordosfiscalizatórios”.Questãoque já havia sido abordada pela mesa do saneamento, que tanto falou de PPP aotratarfinanciamentoejuros.Que–lembreieu–passaporcrescimento.E,portanto,porinserçãointernacional.Oqueremeteàscommodi@esagrícolaseminerais. Enfim, belíssimo debate. Parece que destampamos uma panela. O caldo estáfervendo. E urge tratar de todos estes temas. Qualificação aos palestrantes edebatedoreséoquenãofalta.Parabénsaospromotores.