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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

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Gestão “Levanta, CACT!” (2011-2012) | Anderson Cordeiro Sabino, Anderson Sirini dos Santos, André Lopes de Souza, Carolina Leardine Zechinatto, Diego Luciano do Nascimento, Diogo Ronchi Negrão, Everton Vinicius Valezio, Frederico Zilioti Amorim, Guilherme Henrique Gabriel, Gustavo Henrique Beraldino Teramatsu, Guilherme Rodrigues Ramos, Jéssica da Silva Rodrigues Cecim, João Paulo Marçola, Luciano Pereira Duarte Silva, Maico Diego Machado, Rolver Bernardes Costa, Stéphanie Rodrigues Panutto, Thais Moreno de Barros, Valderson Salomão da Silva.

André Lopes de Souza, Camila Neubert Fávero, Diogo Ronchi Negrão, Gustavo Henrique Beraldino Teramatsu, Luciano Pereira Duarte Silva, Melissa Maria Veloso Steda, Stéphanie Rodrigues Panutto, Valderson Salomão da Silva, Wagner Wendt Nabarro – com apoio de Carlos Espíndola Ramos Jr., Diego Luciano do Nascimento, Éverton Vinícius Valezio, Felipe Barbosa Gomes, Gilson Alves Duarte, Lucinei da Silva Cordeiro, Maico Diego Machado, Rafael Vázquez Doce, Rolver Bernardes Costa e Thiago Corrêa Zanini

Adriana Queiroz do Nascimento, Alberto Luiz dos Santos, Ana Luisa Pereira Marçal Ribeiro, Ana Paula Mestre, Cassiano Gustavo Messias, Débora Assumpção e Lima, Fabrício Gallo, Fernanda Aparecida Leonardi, Gleyd Bertuzzo, Larissa Chiulli Guida, Luis Henrique Leandro Ribeiro, Marcel Petrocino Esteves, Marcelo da Silva Gigliotti, Maria Isabel Figueiredo Pereira Oliveira Martins, Mariana Traldi, Marina Sória Castellano, Natalia Pivesso Martins, Rafael Straforini, Rafaela Fabiana Ribeiro Delcol, Ricardo Devides Oliveira, Roberta Marquezi Bueno, Rodrigo Cavalcanti do Nascimento, Silvana Cristina da Silva, Vânia da Silva, Vonei Ricardo Cene

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Realizada desde 2005 e organizada por estudantes de graduação do curso de

Geografia da Unicamp, a Semana de Geografia vem se consolidando como um

grande evento científico e cultural no calendário acadêmico das Universidades

estaduais paulistas. Em 2012, chegou à oitava edição com o tema Brasil, sexta economia do mundo: aonde queremos chegar?, com mesas-redondas temáticas que

buscaram desvendar esta questão, além de minicursos e apresentações de trabalhos.

Na abertura da semana, o sociólogo

Ricardo Antunes (IFCH) buscou um

diálogo entre as ciências sociais e a

Geografia ao abordar as novas

concepções de trabalho trazidas à tona a

partir do fim dos anos 1960. Para o

professor, que não poupou exemplos, a

precarização do trabalho é grande

atualmente devido à grande flexibilização

dos capitais — o que explica, de certo

modo, os fluxos migratórios recentes de

brasileiros para a Europa, que vem

passando por uma crise. “O mundo está

hoje em convulsão”, declarou. O Brasil,

por sua vez, repete os padrões de um

consumo e de uma produção

insustentáveis. Contudo, resta ainda

esperança, ao vermos fervilhar

movimentos de resistência em diversos

países — como placas tectônicas, como

comparou Antunes.

A mesa explorou o caso recente da região

da Cracolândia e Nova Luz, no distrito de

Santa Ifigênia, em São Paulo. Simone, da

USP, falou do patrimônio cultural local

que deve ser considerado e preservado.

São pessoas que vivem ali há décadas e

que serão expulsas após a valorização dos

imóveis, como a jornalista Paula Ribas,

que sai às ruas com um megafone

chamando a população à luta.

Herrmann, secretário de meio ambiente

de Campinas, lembrou que as atividades

mineradoras não devem entrar em

conflito com as comunidades tradicionais.

Sevá, provocador, observou o título da

mesa: se estamos falamos de recursos

naturais no ou do Brasil, pois apenas o

fato de estarem localizados no território

nacional não significa que pertençam de

fato aos brasileiros.

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Cacete expôs algumas contradições: em

São Paulo, mais de 90% dos professores

de escolas públicas são formados em

faculdades particulares e muitos atuam

sem ter formação específica. Na

Geografia, apenas 26% são formados na

área. Algumas propostas vêm no sentido

de resolver o problema, como o PIBID,

licenciaturas plenas abrangentes, ensino à

distância e criação de cursos de

licenciatura. Ferracini vê como principal

desafio a transposição didática dos

conteúdos acadêmicos para a realidade da

escola pública.

Angelita considera que o designativo

“imperialista” não é adequado ao Brasil,

por não ser uma economia central, mas

reconhece que há o expansionismo de

empresas eleitas pelo BNDES. Gallo vê o

mesmo com objetos técnicos e sistemas

de engenharia, que são meios de poder

dispostos pelo Estado, também

ressaltando o papel do financiamento do

BNDES em territórios estrangeiros.

Archimedes relembrou histórias do

professor Aziz Ab’Sáber, de quem foi

aluno; Rui Ribeiro de Campos, que

recentemente lançou o livro Breve Histórico do Pensamento Geográfico Brasileiro nos Séculos XIX e XX, percorreu

diversos autores que trataram da

Geografia antes do nascimento de Aziz e

também alguns de seus contemporâneos.

Sotratti tratou de políticas públicas de

turismo e suas relações com o território. A

partir dos anos 1990, segundo ele, o

turismo passou a ser visto como

estratégia de desenvolvimento, com

planos elaborados pelo Governo Federal.

Turra questionou o papel do Brasil no

circuito turístico internacional, relevando

projetos que remetem a iniciativas

estrangeiras e que são postos em prática

no país já descaracterizados.

Souza percebe uma acomodação social no

país atualmente, uma vez que as taxas de

desemprego são decrescentes, bem como

o índice de Gini. De todo modo, ele vê que

o Brasil se insere perifericamente no

mercado internacional, por meio das

exportações de commodities, ao mesmo

tempo, o país é apenas o 14º maior

receptor global de investimentos diretos

estrangeiros, demonstrando que, no

período atual e no mercado internacional,

vem representando o papel de

dependente.

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Sorteio e doação de livros | A Editora Consequência, que participou vendendo livros

durante a Semana de Geografia, doou cinco livros para a Comissão Organizadora.

Quatro deles foram para a biblioteca “Conrado Paschoale” – Política, Cidade, Educação: Itinerários de Walter Benjamim, com organização de Solange Jobim e Souza

e Sonia Kramer (Contraponto/PUC-Rio, 2009), A Prisão e a Ágora, de Marcelo Lopes

de Souza (Bertrand Brasil, 2006), Indústria e Território no Brasil Contemporâneo, de

Rosélia Piquet (Garamond, 2007) e A Cidade Caleidoscópica: Coordenação Social e Convenção Urbana, de Pedro Abramo (Bertrand Brasil, 2007) – e um – Contribuição à História e à Epistemologia da Geografia, organizado por Antonio Carlos Vitte (Bertrand

Brasil, 2007), foi sorteado entre os participantes da Semana – o ganhador foi o

estudante Rafael Rigamonte.

O atual período técnico-

científico e informacional é resultado

de processos de desenvolvimento

técnico e científico, mas acima de tudo

da combinação entre estes dois

elementos sob a égide do mercado.

Foi exatamente essa união que

possibilitou a revolução informacional,

que por sua vez garantiu às grandes

corporações a possibilidade de

atuação planetária, marcando o

surgimento de um mercado global.

Também a partir deste período, os

territórios do Terceiro Mundo,

passaram a ser objeto de cobiça de

grandes corporações. O território

passou a ser objeto de disputa entre

aqueles que almejam sua apropriação

econômica e privada e aqueles que ali

já estabeleciam uma vida de relações,

os chamados agentes não

hegemônicos.

Toda a nossa análise partiu do

conceito de território proposto por

Milton Santos e María Laura Silveira

(2010), em que o espaço é sinônimo

de “território usado” no sentido de

espaço humanizado, habitado. Para

efeitos analíticos utilizaremos os

conceitos de horizontalidade e

verticalidade, as horizontalidades são

os domínios da contiguidade,

daqueles lugares vizinhos reunidos

por uma continuidade territorial,

enquanto que as verticalidades são os

pontos distantes uns dos outros,

ligados por todas as formas e

processos sociais (SANTOS, 2009).

Nosso foco teórico também gira em

torno do “circuito espacial produtivo”

(BARRIOS, 1976; MORAES, 1991) da

energia elétrica e dos “dois circuitos

da economia urbana” (SANTOS,

1979).

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A proposta teórica dos

“circuitos espaciais produtivos” busca

interpretar as várias etapas pelas quais

passa um produto, em nosso caso a

energia elétrica, desde a produção até

o consumo final. Assim, o sistema

elétrico nacional (terminologia oficial

usada pela Agência Nacional de

Energia Elétrica), é formado pela

geração (transformação de uma fonte

primária), pela transmissão (envio da

eletricidade através de linhas de alta

tensão), pela distribuição (entrega da

eletricidade aos consumidores finais

através de linhas de baixa tensão), pela

comercialização (vendas no varejo) e

pelo consumo, que pode ser final ou

produtivo, aquele cria a necessidade

de uma nova produção (Marx, 1973),

pois “tudo que é resultado da

produção é, ao mesmo tempo, uma

pré-condição da produção” (Marx,

apud Santos, 1977, p. 92).

Do ponto de vista da geração

de energia elétrica, abordou-se no

minicurso a instalação de objetos

técnicos geradores de energia elétrica,

em especial hidroelétricos e eólicos,

que nos lugares formam subsistemas

técnicos. Tais subsistemas técnicos

menores compõem um

Macrossistema Sistema Técnico

(SANTOS, 2009), o Sistema Elétrico

Nacional.

Este Macrossistema Técnico é

resultado da cooperação entre agentes

corporativos atuantes na produção,

transmissão e distribuição de energia

elétrica, que objetivam uma constante

acumulação de capital, e do Estado

brasileiro, que através do pretexto do

desenvolvimento e crescimento

econômico, viabiliza a modernização

do território, intensificando a

produção de energia elétrica. Ao

fomentar a modernização do território

o Estado facilita sua apropriação pelas

grandes corporações, que necessitam

para seu sucesso da energia produzida

por este Macrossistema Técnico em

pontos estratégicos do território.

Por outro lado, essa dimensão

sistêmica nos remete à observação das

estruturas intergovernamentais da

federação brasileira criadas a partir da

análise das transferências de recursos

provenientes da Compensação

Financeira por Exploração Mineral

(CEFEM), Compensação Financeira

pela utilização do Recurso Hídrico

(CFURH) e Royalties do Gás e do

Petróleo aos municípios. Essa

dimensão nos demonstra claramente

que, há usos que criam um fluxo

financeiro entre lugares, consolidando

o pacto federativo brasileiro.

Do ponto de vista do consumo

abordaremos o uso alternativo do

território por agentes não

hegemônicos que, através de

“estratégias de sobrevivência”, usam o

território como forma de resistência à

apropriação corporativa. A fim de

mostrar como se articula esse uso

alternativo do território, analisamos o

uso produtivo da energia elétrica pelas

parcelas mais pobres da população

paulistana, tendo como foco teórico o

circuito inferior da economia urbana.

De maneira geral, o aumento da

produção de energia elétrica é

estimulado pelos circuitos superiores

da economia, mas desse estímulo

também resultam formas menos

capitalizadas de trabalho e com baixo

nível tecnológico. Abordamos a

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

formação sócio-espacial brasileira

quanto à produção e consumo de

energia e, a partir disso, refletimos

sobre a estruturação e a reprodução

do circuito inferior na cidade de São

Paulo, subsistema criado pela

urbanização do mundo pobre.

Este minicurso teve como

objetivo provocar a reflexão crítica

sobre como se dá a atual construção,

apropriação e consumo energético no

território nacional. Buscamos, em

última instância, compreender os mais

diversos usos que se têm feito do

território brasileiro, entre eles

destacamos o uso corporativo,

resumido aqui na apropriação privada

do território pelos agentes

economicamente hegemônicos, e o

uso alternativo, como principal forma

de resistência à apropriação

corporativa.

O minicurso foi oferecido aos

moldes de aula expositiva e abordou

os seguintes tópicos:

uso do território/ território usado;

histórico e natureza da técnica dos

sistemas elétricos;

o papel dos objetos e dos sistemas

técnicos na atualidade;

discussão sobre apropriação e resistência,

enquanto formas de uso do território;

o Estado enquanto principal agente

promotor da modernização do território;

atuação dos agentes hegemônicos

econômicos e sua apropriação do território;

atuação dos agentes hegemonizados como

forma de resistência.

BARRIOS, Sonia. Dinâmica Social y Espaço. Caracas: Cendes, 1976.

BRAUDEL, F. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII. Lisboa: Teorema, 1992.

CALABI, D. e INDOVINA, F. “Sobre o uso capitalista do território”. IN: Revista Orientação n. 9, São Paulo, 1992, p. 57-66.

CATAIA, Márcio. A Alienação do Território – O papel da guerra fiscal no uso, organização e regulação do território brasileiro. In: SOUZA, Maria Adélia de. (Org.). Território Brasileiro: usos e abusos. Campinas: Edições Territorial, 2003.

HARVEY, David. A Justiça Social e a Cidade. São Paulo: Hucitec, 1980.

______________. The limits to capital. Oxford: Brasil Blackwell, 1982.

______________. O novo imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004.

HUGHES, Thomas P. Networks of Power: Electrification in Western Society, 1880-

1930. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1983.

HUGHES, Thomas P. La evolución de los grandes sistemas tecnológicos. In: THOMAS, Hermán; BUCH, Afonso (org.). Actos, actores y arctefactos: sociologia de la tecnologia. 1ªed. Bernal: Universidad Nacional de Quilme, 2008.

MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. Lisboa: Editorial Estampa, 1973.

MORAES, Antonio C. R. Circuitos espaciales de la producción y los círculos de acumulación en el espacio. In: Yanes, L. Liberalli A (org). In: Aportes para el estudio del espacio socio economico. Buenos Aires, (s/n), 1991.

RAMALHO, Mário Lamas. Território e macrossistema elétrico nacional. As relações entre privatização, planejamento e corporativismo. (Dissertação de Mestrado), Universidade de São Paulo Departamento de Geografia FFLCH/USP. São Paulo, 2006.

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SANTOS, Milton. O Espaço Dividido - Os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro, ed. S. A, 1979.

______________. O Período Técnico-Científico e os Estudos Geográficos. Anais do Seminário Interamericano sobre ensino de estudos sociais. Organização dos Estados Interamericanos. Washington, 1986.

______________. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.

______________. O Território e o Saber Local: algumas categorias de análise. Cadernos IPPUR. Rio de Janeiro, ano XIII, n. 2, 1999, p. 15-26.

______________. O retorno do território. In: SANTOS, Milton. Da totalidade ao lugar. São Paulo: Edusp, 2008.

______________. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009.

SANTOS, M; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 13ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.

SILVEIRA, María Laura. Território Usado: dinâmicas de especialização, dinâmicas de diversidade. Ciência Geográfica. Bauru, volume XV, n. 1, 2011, p. 4-12.

Este minicurso teve o propósito

de promover, nos professores e

estudantes do ensino fundamental e

médio, a conscientização de que o

solo é um componente do ambiente

natural que deve ser adequadamente

conhecido e preservado tendo em

vista sua importância para a

manutenção do ecossistema terrestre

e sobrevivência dos organismos que

dele dependem. O tema abrange em

conjunto conhecimentos sobre a

formação, composição e conservação

dos solos, além de importantes

noções ambientais, dado se tratar de

um importante recurso cujas

utilizações indevidas têm causado a

exaustão de áreas férteis, tornando-os,

desse modo, solos improdutivos. Para

auxiliar neste intento, disponibilizou-

se material com propostas de

atividades com o tema solos em

Geografia. Em um primeiro momento,

no minicurso, foram apresentados os

parâmetros curriculares nacionais nos

quais este tipo de atividade está

apoiada. Posteriormente, foram

exibidas as séries em que tal tema é

adequado, bem como também o grau

de aprofundamento de algumas

atividades conforme o nível acadêmico

no qual o aluno se encontra. Foram

materiais imprescindíveis nesta

proposta os manuais encontrados em

meio digitais em sítios da internet e

trabalhos impressos desenvolvidos

com o objetivo de atender ao ensino

dos solos nas séries fundamentais e

médias, assim, por meio destes, foi

disponibilizado material aos

professores com intuito de auxiliar no

desenvolvimento de atividades em

escola com o tema solos.

Estão entre os objetivos do

minicurso desenvolver e divulgar

material didático sobre solos para o

ensino fundamental e médio, bem

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como auxiliar professores na

compreensão e ensino do tema solos

baseados em parâmetros

pedagógicos. Para tanto, foram

abordados os seguintes itens:

O papel do professor no processo ensino

aprendizagem de geografia;

A abordagem do tema “solo” no ensino

básico;

O ensino de solos através de projetos de

educação ambiental

Material didático sobre a temática “solo”

como recurso para se alcançar o

ensino/aprendizagem.

ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação – epistemologia e didática. Piracicaba: Unimep, 2001.

AZEVEDO, A. C.; DALMOLIN, R. S. D. Solos e ambiente: uma introdução. Santa Maria: Ed. Pallotti, 2004. 100 p.

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone, 1990.

BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. 3. ed. Brasília, 2001a. v.1. 126p.

______. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História/ Geografia. 3. ed. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília, 2001b. v.5. 166p.

______. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio ambiente e Saúde: temas transversais. 3. ed. Brasília, 2001c. v.9. 128p.

______. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Geografia. Brasília, 1998. 156p.

______. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

Ensino Médio. Parte IV: ciências humanas e suas tecnologias. Brasília, 2000.

FALCONI, S. Produção de Material Didático para o ensino de solos. 2004. 115 f. Dissertação (Mestrado) – Pós-graduação em Geografia, UNESP - Rio Claro, Rio Claro, 2004.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 165p.

KIEHL, E.J.; Manual de edafologia: relações solo – planta. São Paulo: Agronômica Ceres, 1979.

LEPSCH, I. F. Formação e Conservação dos Solos. São Paulo: Oficina de Textos, 2002.

LOPES, Alfredo Scheid (trad. e adapt.). Manual de fertilidade do solo: São Paulo: ANDA/POTAFOS, 1989.

PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre (Brasil), Artmed Editora, 2000.

RIO GRANDE DO SUL.; Secretaria da Agricultura. Manual de conservação do solo e água: uso adequado e preservação dos recursos naturais renováveis. 3. ed. atualizada. Porto Alegre, 1985. 287 p.

SALOMÃO, F. X. de. Controle e prevenção dos processos erosivos. Texto não

publicado, 2000.

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São evidentes as associações

entre urbanização e degradação

ambiental, sobretudo quando se

relaciona o crescimento da população

urbana e da malha física à escassez de

recursos, a poluição e a qualidade de

vida. Mas ainda é relativamente

recente a preocupação com os efeitos

nocivos causados pela urbanização

crescente à estrutura ambiental das

cidades. As estratégias de preservação

ambiental implicam na colocação em

prática dos elementos estratégicos e

táticos do planejamento ambiental,

por meio de medidas administrativas,

jurídicas e econômicas pertinentes.

Incluindo o controle e monitoramento

da condição dos ecossistemas e da

vigilância dos usos dos recursos

naturais, com o propósito de garantir

o cumprimento do modelo de

organização ecológica e implementar

as devidas correções.

Para a compreensão das

estratégias e intencionalidades na

preservação de áreas especialmente

protegidas, optamos como estudo de

caso as sete unidades de conservação

de Campinas (SP), caracterizadas a

seguir:

Figura 1 - Localização das Unidades de Conservação no Município de Campinas. Fonte: SMMA.

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1. Área de Relevante Interesse Ecológico Mata de Santa Genebra-ARIE-MSG (Federal);

2. Área de Proteção Ambiental - APA - Piracicaba/Juqueri Mirim (Estadual);

3. Floresta Estadual Serra D’Água (Estadual);

4. Área de Proteção Ambiental do Município de Campinas - APA Campinas (Municipal);

5. Área de Proteção Ambiental do Campo Grande – APA Campo Grande (Municipal);

6. Parque Natural Municipal do Campo Grande – PNM Campo Grande (Municipal), e;

7. Parque Natural Municipal dos Jatobás – PNM Jatobás (Municipal).

A ARIE-MSG, localizada em

Barão Geraldo, foi criada por meio do

Decreto Federal nº 91.885/85, sendo a

Fundação José Pedro de Oliveira, ente

Municipal, responsável por sua

administração, preservação e

conservação. É um fragmento de 251,7

hectares de Floresta Estacional

Semidecidual e Floresta Paludosa do

bioma Mata Atlântica; o respectivo

plano de manejo foi aprovado em

agosto de 2010 através da Portaria nº

64 do Governo Federal.

A APA Piracicaba/Juqueri-Mirim

foi criada por meio do Decreto

Estadual nº 26.882/87 e abrange uma

área de 280.330 hectares, possuindo

inúmeros fragmentos de Floresta

Estacional Semidecidual e relictos de

Vegetação Rupestre nos lajedos

rochosos, além de Campos de Várzea

nas planícies de inundação e fundos

de vale. Sua abrangência perpassa

pelos municípios de Campinas (Bacia

do Rio Jaguari), Nazaré Paulista,

Piracaia, Amparo, Bragança Paulista,

Holambra, Jaguariúna, Joanópolis,

Monte Alegre do Sul, Morungaba,

Pedra Bela, Pedreira, Pinhalzinho,

Serra Negra, Socorro, Santo Antônio

de Posse, Tuiuti e Vargem (Regiões

das bacias hidrográficas do rio

Piracicaba e do rio Juqueri-Mirim). A

APA é gerida pela Secretaria do Meio

Ambiente do Estado de São Paulo e

não possui Plano de Manejo.

A Floresta Estadual Serra D’Água

foi criada por meio do Decreto nº

56.617, de 28 de dezembro de 2010,

sendo administrada pelo Instituto

Florestal vinculado a Secretaria do

Meio Ambiente do Estado de São

Paulo, responsável pela elaboração do

respectivo plano de manejo. Esse

fragmento corresponde a uma área de

51,19 hectares de Floresta Estacional

Semidecidual do bioma Mata

Atlântica. O plano de manejo deverá

ser elaborado num prazo de cinco

anos a partir da data do decreto de

criação da UC.

A APA Campinas, criada em

2001, por meio da Lei Municipal nº

10.850/01, abrange uma área de

22.300 hectares, incluindo os Distritos

de Sousas e Joaquim Egídio, e os

bairros Núcleo Carlos Gomes,

Chácaras Gargantilha e Jd. Monte

Belo; abriga inúmeros fragmentos de

Floresta Estacional Semidecidual e de

Floresta Paludosa, e relictos de

Vegetação Rupestre nos lajedos

rochosos, além de Campos de Várzea

nas planícies de inundação e fundos

de vale. A gestão desta Unidade de

Conservação é realizada pelo Conselho

Gestor da APA (CONGEAPA), sendo

que seu Plano de Manejo encontra-se

em fase inicial de elaboração.

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A área de Proteção Ambiental do

Campo Grande foi criada por meio do

Decreto Municipal 17.357/11, sendo

gerida pela Secretaria Municipal do

Meio Ambiente a qual é o órgão

responsável pela administração e

coordenação das medidas necessárias

para sua implementação, proteção e

controle. A APA abrange uma área de

959,53 hectares localizada

inteiramente dentro dos limites da

macrozona 5. A área contém

fragmentos de floresta estacional

semidecidual (47,56 ha), Cerrado

(28,30 ha), fragmento de transição

entres estes (20,36 ha), mata mista

(13,90 ha) e, em áreas de inundação,

fundos de vale e campos de várzea

(53,73 ha), totalizando uma área

vegetada de 163,85 ha. O plano de

manejo deverá ser elaborado num

prazo de cinco anos a partir da data do

decreto de criação da UC.

O Parque Natural Municipal do

Campo Grande foi criado pelo Decreto

Municipal 17.356/11. Ficou

estabelecido que a Secretaria

Municipal do Meio Ambiente é o

órgão responsável pela administração

e coordenação das medidas

necessárias para sua implementação,

proteção e controle. O Parque protege

uma área de 136,36 hectares

composta de duas fitofisionomias, a

floresta estacional semidecidual e o

campo de várzea. O plano de manejo

deverá ser elaborado num prazo de

cinco anos a partir da data do decreto

de criação da UC.

O Parque Natural Municipal dos

Jatobás foi criado por meio do Decreto

Municipal nº 17.355/11. Esta Unidade

de Conservação protege um

remanescente de Cerrado, com área

total de 107,34 hectares, localizado às

margens do rio Capivari, na região do

Campo Grande em Campinas. O plano

de manejo deverá ser elaborado num

prazo de cinco anos a partir da data do

decreto de criação da UC.

Objetivos

Tendo por estudo de caso as

unidades de conservação de

Campinas, os participantes terão

informações referentes ao meio físico,

os motes para a preservação, o

contexto de ocupação do espaço

urbano onde se insere e as

vulnerabilidades sociais presentes em

cada uma das distintas situações, bem

como apresentar os aspectos legais.

Objetivamos também estabelecer

parâmetros e promover a discussão e

para a compreensão das estratégias e

intencionalidades na preservação

dessas áreas e no caso específico de

unidades de conservação de Campinas

promover a reflexão acerca de sua

implementação, regulação e

manutenção.

Conteúdo programático

O minicurso será realizado na

forma de aula expositiva, tendo por

conteúdo:

O Sistema Nacional de Unidades de

Conservação (SNUC) e a legislação

ambiental municipal

O diagnóstico ambiental de Campinas

As áreas protegidas no município de

Campinas

A discussão sobre os conflitos de

gestão em unidades de conservação

Gestão participativa (Instituto

Florestal, Fundação José Pedro de

Oliveira, Secretaria Municipal do Meio

Ambiente, Conselho Gestor da APA de

Campinas).

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Geografia Humanista é uma

corrente que vem ganhando

importância nas últimas décadas, no

Brasil. Mesmo com o aumento dos

números de trabalhos publicados, esta

perspectiva se mantém, por vezes,

paralela às linhas de pesquisa mais

tradicionais, tendo ainda pouca

visibilidade, ao permanecer restrita a

alguns núcleos e grupos de pesquisa.

Este panorama tem

fragmentado os traços essenciais

daquilo que seria uma abordagem

humanista em Geografia. Por um lado

essa fragmentação tem pluralizado e

enriquecido as temáticas que vêm

sendo trabalhadas nesse esteio

teórico-metodológico. Por outro lado,

torna-se difícil uma consolidação e

uma clareza quanto a sua unicidade

dentro do campo da Geografia,

sobretudo, em como incorporar a

abordagem fenomenológica às

análises empírico-metodológicas.

Porém, muitos trabalhos têm

sido produtivos no sentido de agregar

elementos e tornar mais visível esta

perspectiva. Dentro deste quadro, a

forma de contato entre alunos – de

graduação, principalmente – com a

abordagem humanista ainda se detém

muito restrita às disciplinas referentes

à história das teorias geográficas.

No sentido de tornar claro

como a abordagem humanista e a

Fenomenologia podem contribuir à

pesquisa geográfica, o presente

minicurso procurou, além de trazer os

traços essências desta linha (suas

categorias e conceitos), expor

trabalhos já desenvolvidos, na

tentativa de ampliar o contato entre

esses alunos e o aporte teórico.

O intento do minicurso foi

apresentar trabalhos desenvolvidos

pelo Grupo de Pesquisa Geografia e

Fenomenologia da Unicamp (CNPq) e

discutir como a abordagem

fenomenológica, utilizada neste

campo, vem contribuindo para suprir

“lacunas” às questões relacionadas

tanto à epistemologia quanto à

metodologia e empiria.

As atividades foram divididas

em três etapas complementares. Na

primeira etapa, foram apresentados os

objetivos do minicurso e o grupo

Geografia e Fenomenologia da

Unicamp (CNPq). Contextualizamos

as áreas de pesquisa e os principais

eixos de investigação.

Texto para leitura: HOLZER, Werther. A

Geografia Humanista: uma revisão.

Espaço e Cultura, Rio de Janeiro, n. 3, p. 8-

19, 1996.

À segunda etapa foram expostas

metodologias qualitativas de

inquirição e métodos de trabalho de

campo. A intenção foi apresentar

como os pressupostos teóricos da

Fenomenologia e os preceitos da

Geografia Humanista são aplicados à

pesquisa:

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Que é metodologia qualitativa? Preceitos e

objetivos;

Metodologias qualitativas e construção dos

“dados” em Ciências Humanas e Geografia;

Trabalho de campo fenomenológico e

experiência geográfica;

Apresentação discussão de exemplos de

trabalhos do grupo: Espaços de vida,

Cartografias Pessoais, Memória e Experiência

do Lugar.

Texto para leitura: MARANDOLA JR., E.

Fenomenologia geográfica: Caminhos da

pesquisa. In: MARANDOLA JR., E. Habitar

em risco: mobilidade e vulnerabilidade na

experiência metropolitana. 2008c. 278p.

(Tese de Doutorado). Campinas, IG-

Unicamp.

Na terceira etapa, a proposta foi

abordar a relação da Geografia com a

Literatura e como o diálogo entre

esses campos permite aos geógrafos

apreender a experiência geográfica

para além do âmbito científico – arte e

poética. E a existência de diferentes

tipos de cartografia, nesse caso a

cartografia do romance.

Um panorama das abordagens em

Geografia e Literatura

Cartografia do Romance

Texto para leitura: MARANDOLA JR.,

Eduardo; OLIVEIRA, Lívia de

Geograficidade e espacialidade na

literatura. Geografia, Rio Claro, v. 34, n. 3,

p. 487-508, 2009.

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WRIGHT, J. K. Terrae incognitae: the place of theimagination in Geography. Annals of the Association of American Geographers, v.37, p.01-15, 1947.

No atual momento histórico, as

atividades do comércio não podem ser

vistas isoladas do processo produtivo:

tanto a produção material como o

comércio fazem parte de um único

processo e a cidade desempenha um

papel de articulação relevante para a

acumulação ampliada do capital.

Neste contexto, essa intervenção

pedagógica justifica-se pelo caráter

intrínseco da cidade com as formas de

comércio, sendo que as atividades

comerciais fazem parte da essência do

espaço urbano.

O referido minicurso teve como

objetivo geral compreender a

produção do espaço da cidade

contemporânea e, principalmente, das

formas de comércio amparadas pelas

técnicas, assim como da relevância do

consumo enquanto categoria de

análise geográfica. E de maneira mais

específica buscou-se analisar a

indissociabilidade entre cidade e

comércio; refletir acerca das

imbricações entre a técnica e as

formas de comércio; e, por fim,

identificar o papel do hiperconsumo

como um dos conteúdos que

preenchem as modernas formas de

comércio na cotidianidade da cidade

contemporânea.

Com o intuito de atingir os

objetivos propostos, os procedimentos

ige.unicamp.br/cact/semana2012

metodológicos se deram da seguinte

forma: exposição dialogada com base

na bibliografia proposta no minicurso;

utilização de recursos imagéticos

como fotos, mapas e charges; além de

dados estatísticos acerca da dinâmica

do hiperconsumo no Brasil.

O processo avaliativo dessa

atividade teve como base a

participação efetiva do grupo

envolvido durante o momento das

discussões dos temas contidos no

conteúdo programático desse curso: 1. INTRODUÇÃO

2. CATEGORIAS CONCEITUAIS

Produção do espaço

Cidade contemporânea

Formas de comércio

Sociedade de consumo

Agentes produtores do espaço

3. IDEOLOGIA DO CONSUMO

Fetiche

Alienação

Consumidor 4. CIDADE CONTEMPORÂNEA E AS FORMAS DE COMÉRCIO

Mercados públicos

Feira-livre

Supermercados

Franquias

Shopping center

BAUMAN, Z. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.

BOTELHO, Adriano. O urbano em fragmentos: a produção do espaço e da moradia pelas práticas do setor imobiliário. São Paulo: Annablume; Fapesp, 2007.

BRAUDEL, F. Os instrumentos da troca. In: ______. Civilização material, economia e capitalismo - nos séculos XV-XVIII. Lisboa: Teorema, 1992-1993. tomo 2, cap. 1, p.11-113.

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LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.

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_______. O consumo do espaço de consumo. In: OLIVEIRA, Márcio PIÑOM de; COELHO, Maria Célia Nunes; CORRÊA, Aureanice de Mello (Org.) Brasil, a América Latina e o mundo: espacialidades contemporâneas (II). Rio de Janeiro: Lamparina: Faperj, Anpeg, 2008. p. 121-127

SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico e informacional. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1994.

_______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

A ciência geográfica tem como

base a compreensão da produção do

espaço geográfico, visto como espaço

produzido pelas relações sociais.

Parte-se do pressuposto de que a

realidade pode ser apreendida

cientificamente a partir de diversas

técnicas, a exemplo da observação,

entrevistas e observação participante.

Assim, espera-se discutir essas

técnicas a partir do referencial teórico

e metodológico da geografia.

O objetivo geral do minicurso foi

estimular a discussão das técnicas de

pesquisa para realização do trabalho

de campo em geografia. Entre os

objetivos específicos, estão

compreender as principais categorias

da geografia; discutir a importância

das técnicas de pesquisa para o

trabalho de campo em geografia;

estimular o desenvolvimento de uma

análise crítica do uso de observação,

entrevistas e etnografia na produção

da geografia; e discutir a aplicação

dessas técnicas em realidades dos

trabalhos em andamento.

A perspectiva do desenvolvimen-

to deste minicurso esteve baseada na

Pedagogia Crítico-Social dos

Conteúdos. Entende-se que os alunos

são sujeitos do processo de ensino-

aprendizagem, e, portanto,

construtores de sua história. A

interação teve como base o diálogo,

onde a troca de experiências, a partir,

principalmente, das experiências e das

realidades dos alunos, foi a base da

construção do conhecimento e dos

produtos. As técnicas utilizadas

durante a unidade foram variadas,

atentando sempre para uma prática

educativa progressista que atente para

a formação de sujeitos mais

conscientes de sua realidade e com

capacidade de análise critica e

transformadora do seu meio social.

Conteúdo programático

Primeiro momento: Conceitos da Geografia: espaço, região, território, lugar.

Segundo momento: Técnicas: Observação, Entrevistas e Etnografia;

Terceiro momento: Técnicas sob critica: usos, desusos e abusos;

Quarto momento: Aplicando as técnicas

BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembrança

de velhos. 16 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do

Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia . 2.ed São Paulo, SP: Abril Cultural, 1978. 436 p. (Os pensadores).

MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em geografia:

ensaios de história, epistemologia e

ontologia do espaço geográfico. 1ª ed. São Paulo, SP: Contexto, 2008. 188p.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Variações

sobre a técnica de gravador no registro da informação viva. São Paulo: USP, Centro de Estudos Rurais e Urbanos, [1983]. 182 p.

WHYTE, William Foote. Sociedade de Esquina

– A estrutura social de uma área urbana pobre e degradada. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Espaços de Diálogo Geográfico | Na tarde de 26 de setembro, a partir das 14h, foi

prevista a realização das apresentações e discussões em dez eixos temáticos, que

ocuparam quase todo o prédio da Engenharia Básica: 1) “Política, planejamento e

território” (EB06), 2) “Informação e uso do território” (EB13), 3) “Dinâmica urbana e

meio ambiente construído” (EB02), 4) “Reflexões e práticas em Ensino de Geografia”

(MD02), 5) “Geografia, meio ambiente e urbanização” (EB03), 6) “Patrimônio,

turismo e Geografia cultural” (EB11), 7) “Epistemologia e história do pensamento

geográfico” (EB14), 8) “Circuitos produtivos e usos do território” (EB04), 9) “Rede

urbana, metropolização e mobilidade” (EB15) e 10) “Geografia Física e meio

ambiente” (EB16). Os eixos 2 e 8 ocorreram simultaneamente na EB04 e os eixos 3 e

9, na EB02.

Uma novidade na Semana deste ano foi o concurso fotográfico, cujos

objetivos foram divulgar as pesquisas e trabalhos dos participantes da VIII Semana

de Geografia da Unicamp, bem como os trabalhos de campo realizados em

disciplinas dos cursos de Geografia e, ao mesmo tempo, valorizar o olhar geográfico

e a sensibilidade que permeiam os estudos geográficos. Desta forma, o concurso

homenageou, ainda que de forma modesta, a obra do professor Aziz Ab’Sáber,

falecido em março de 2012, que prezava o trabalho de campo — ou excursões — em

suas pesquisas. A estudante Cibele de Oliveira Lima, autora da foto vencedora,

ganhou um exemplar do livro A Obra de Aziz Nacib Ab’Sáber (Beca, 2011).

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º

Trabalho de campo da disciplina Geomorfologia (Climática e Litorânea), realizado em maio de 2009 na Chapada Diamantina.

No primeiro dia de aula o professor Pierre Monbeig organizou um trabalho de campo. Saímos de São Paulo rumo a Itu, Salto, Campinas e Jundiaí. Até então, meu conhecimento geográfico se resumia a São Luiz do Paraitinga e arredores. Pensando melhor, aquela não foi minha primeira viagem marcante.

Quando eu tinha 5 anos, meu pai nos levou até Ubatuba. Fomos a cavalo pela velha Estrada do Café, que estava abandonada. Eu ia em um lado do jacá (cesto usado para levar alimentos no lombo de animais) e meus irmãos menores, do outro. Passamos pelas fazendas que rodeavam a cidade, entramos na zona de transição, com produção agrícola de subsistência, passamos por terras particulares, mas sem uso. Na trilha, conhecemos a floresta que precede a serra do mar. Pingava muita água das folhas, pois essa é uma região úmida, como todo setor de alto de serra. Ao fazer a excursão na faculdade, senti como se fosse a continuidade de um interesse que tinha brotado naquela viagem a Ubatuba. – Aziz Ab’Sáber em entrevista à Nova Escola, em janeiro

de 2001

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º

Trabalho de campo da matéria Geomorfologia (Climática e Litorânea). Lençois - BA. Maio de 2009.

Fizemos as primeiras excursões de campo com nossos professores e, finalmente, a mais longa e difícil excursão para o sudoeste de Goiás, em um grupo de amigos que reuniu Miguel [Costa Júnior], Pasquale Petrone (um dos mais notáveis alunos de Geografia de nossa faculdade) e eu, Aziz Ab’Sáber, para

conhecer o Centro-Oeste e compará-lo com o Brasil tropical atlântico. Fomos, ainda, até os altos do Itatiaia, à região de Itu-Salto e à Serra do Diabo, no Pontal do Paranapanema. Os acontecimentos ocorridos em cada uma dessas excursões merecem um detalhamento maior, em uma série de trabalhos que espero fazer sob o título geral de Os bastidores das pesquisas. –

Prefácio ao livro Miguel Costa: um herói brasileiro (Imprensa Oficial, 2010), de Yuri Abyza Costa

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

º

Trabalho de Campo da disciplina Pedologia realizado em maio de 2010. Andradas - MG

O primeiro trabalho de campo que fiz, sem orientação, foi sobre a geomorfologia da região do Jaraguá e arredores. Partindo de trem da Estação da Luz, em São Paulo, descrevi as colinas até chegar a Taipas e depois subir ao pico do Jaraguá. Descobri que havia outra coisa, além da história, que eu gostava de fazer e que era muito esportiva: viajar em trem de subúrbio, que

naquela época era muito barato. Foi assim que minha carreira científica começou. – Aziz em

entrevista à Ciência Hoje, em julho de 1992

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ºBarueri e Carapicuíba fazem parte da Região Metropolitana de São Paulo. Num sábado à tarde,

no lado carapicuibano, o garoto assiste, em posição privilegiada, uma partida de futebol em campinho de terra batida na várzea do Tietê, que divide os dois municípios. Na vertente oposta,

delineia-se o skyline de novos edifícios no Tamboré e Alphaville. Registro feito em trabalho de campo da eletiva Urbanização Brasileira, oferecida pela professora Adriana Bernardes, em 2 de

julho de 2010.

º

Entre Alvorada de Minas e Itapanhoacanga, nos primeiros quiilômetros do Caminho dos Diamantes (Diamantina x Ouro Preto), em Minas Gerais, as "tropas" que ainda não foram substituídas pelos caminhões de minérios, para exportação, dão conta da circulação interna de mercadorias entre os bairros e vilas. A geração de riqueza mantém a população local na subsistência.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

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Danton Leonel de Camargo Bini [email protected]

Instituto de Economia Agrícola

Silmara Bernardino da Silva [email protected]

Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Palavras-chave: concentração produtiva; atividade canavieira; Brasil

No início dos anos 1990, quando o governo brasileiro iniciou um

processo de maior abertura econômica, a competição ampliada pelo acesso das

empresas estrangeiras ao mercado nacional tornaram as privatizações, as fusões e

as aquisições os principais instrumentos usados pela economia no intuito de

acompanhar o acelerado processo de modernização globalizadora desta década

(SIQUEIRA & CASTRO JÚNIOR, 2011). Nestes movimentos de reestruturação

econômica, a verticalização de elos de produção também levou a concentração de

muitos setores para as mãos de poucos grupos empresariais. Para ocupar o espaço

gerado com a escassez de dinheiro público, financiamentos também passam a ser

buscados com a emissão de papéis das empresas no mercado financeiro.

No setor sucroalcooleiro, instituições especializadas como a Brasil Álcool

S/A e a Bolsa Brasileira de Álcool (BBA) são algumas das que surgem nessa recente

formatação organizacional para auto-regular os preços agora liberalizados.

Investidores americanos, europeus, japoneses e de muitas outras nacionalidades -

pessoas físicas e jurídicas – anexam capitais na requerente expansão da atividade

canavieira com os aumentos das demandas de açúcar no mercado internacional e de

álcool combustível no mercado interno e externo.

Barreiras às entradas nos negócios do setor são cada vez maiores devido

aos altos volumes de capitais fixos exigidos com a grande intensidade de inovações

mecânicas, físico-químicas e biológicas instaladas e precisadas pelas tecnologias de

informação em todos os elos da cadeia produtiva. São novas densidades técnicas

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

que passam a possibilitar a tão propalada diversificação de produtos derivados

(açúcar líquido, levedura, bagaço e outros) no setor. E para atingir certo grau de

produtividade, as já comentadas verticalizações, fusões e aquisições concentram, dia

após dia, em poucas mãos, a atividade canavieira, demonstrando a competitividade

vigorante principalmente nos últimos dez anos. No caso das empresas de gerência

tipicamente familiar e de capitais regionais, acostumadas com escalas pouco

competitivas e uma linha de produtos limitada à produção do açúcar ou do álcool –

situação alimentada por longos anos de proteção estatal e agravada pelas falhas de

mercado e pela instabilidade macroeconômica – estas têm perdido participação no

setor, em especial pela venda de seus ativos às empresas que flexibilizaram suas

gestões, anexaram inovações ou para novos atores – principalmente de capitais

internacionais - que vislumbram altos retornos com volumosos investimentos em

parques produtivos e abertura de canaviais. Segundo Baccarin, Gebara & Factore

(2009),

... é perfeitamente possível se supor que haja aumento da concentração

econômica, com a junção de diferentes plantas sob a direção de uma

mesma empresa ou grupo econômico. Isso pode resultar em diminuição

dos custos administrativos e em aumento do poder de negociação de

preços dos insumos e dos produtos e, portanto, da rentabilidade e

competitividade da empresa sucroalcooleira” (BACCARIN, GEBARA &

FACTORE, 2009, p. 20).

Além da construção de novas unidades agroindustriais, através da

pujança de investidores estrangeiros - que preferem adquirir ativos já em

funcionamento, sem interrupção dos parâmetros normativos autóctones - dissipa-se

atos de fusões e aquisições. Desta forma, configuram-se sistemas de ações que

reduzem os custos de expansão destes grupos empresariais (através da aquisição de

economias de escala), viabilizando suas ampliações em ciclos temporais mais

curtos: facilidade no lançamento de novos produtos, celeridade na obtenção de

patentes e licenças, remoção de barreiras à entrada, garantia de utilização de bases e

canais de comercialização já instalados e agilidade da expansão geográfica são

elementos que pesam em favor da opção pela fusão ou aquisição de sistemas de

engenharia pré-existentes no ato de instalação de investimentos internacionais no

setor sucroalcooleiro.

Durante os anos 1990 o setor de alimentos foi o mais ativo na execução

de fusões e aquisições no território brasileiro: mais da metade destas transações se

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fizeram com o uso do capital estrangeiro (SIQUEIRA & CASTRO JÚNIOR, 2011). No

setor de cana-de-açúcar,

O processo de fusões e aquisições vem se caracterizando pelo aumento da

presença de grandes grupos locais, como o grupo José Pessoa, Cosan e

Carlos Lyra e pela entrada de grandes grupos internacionais no mercado

local, como Louis Dreyfus Commodities (LDC) e Tereos. A concentração

das compras tem ocorrido na região Sudeste, principalmente devido aos

custos mais baixos de produção (SIQUEIRA & CASTRO JÚNIOR, 2011, p.

711).

Ações de incorporações nos anos 1980 pelo grupo Cosan (com a compra

das Usinas Santa Helena, São Francisco e Ipaussu) deram o pontapé inicial neste

desenrolar do movimento de concentração no setor (PIANCETE, 2006). Nos anos

1990, o primeiro registro de grande vulto deste tipo de ação desencadeado com a

reestruturação produtiva aconteceu em 1995, quando a Balli Group, trading de

capitais predominante inglês e iraniano, realizou um joint venture e incorporou parte

das ações da Usina Santa Elisa, localizada em Sertãozinho, na região de Ribeirão

Preto (a mais importante do setor no território nacional) (ROSÁRIO, 2008). Neste

mesmo ano, um Consórcio Paulista adquiriu a Usina Santa Lydia, no município de

Ribeirão Preto. De 1996 a 2000, em torno de 10 novas incorporações de

agroindústrias canavieiras foram realizadas entre fusões e aquisições (SIQUEIRA,

2004). Aprofundando este processo, na primeira década do século XXI, de 2000 a

2010, 55 incorporações de unidades de processamento e verticalizações às suas

montantes (como as compras de terras para auto-fornecimento) ou jusantes (a

posse de usinas por tradings atacadistas de açúcar) foram feitas via fusões,

aquisições, arrendamentos e joint ventures.

Quadro 1: Principais grupos empresariais no setor sucroalcooleiro (2011)

Grupo empresarial Número de

Agroindústrias

Cosan (Raízen) 26

LDC SEV 13

Usaçúcar 12

Farias 11

Eth Bionergia 09

Bunge 09

Tércio Wanderley 08

Tereos (Açúcar Guarani) 07

Carlos Lyra 06

Infinity Bionergia 06

Aralco 05

BP Biofuels 05

Fonte: Anuário da Cana, 2011.

Chega-se a 2011 e 20% das agroindústrias se concentram nas mãos de 12

grupos empresariais (Quadro 1) e suas territorializações passam a se conformar

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

como ramificações do circuito espacial de produção canavieiro, que se

materializando enquanto sistemas de objetos e ações ocupam e hegemonizam áreas

regionais na hinterlândia de suas unidades agroindustriais.

ANUÁRIO DA CANA. Safra 2010/2011. Volumes Centro/Sul e Norte/Nordeste. Ribeirão Preto: PROCANA, 2011.

BACCARIN, J. G. & GEBARA, J. J. & FACTORE, C. O. Concentração e Integração Vertical do Setor Sucroalcooleiro no Centro-Sul do Brasil entre 2000 e 2007. Informações Econômicas, v. 39, n. 3, mar. 2009, Instituto de Economia Agrícola (IEA), São Paulo.

PIACENTE, E. A. Perspectivas do Brasil no Mercado Internacional de Etanol. (Dissertação de mestrado em Engenharia Mecânica). UNICAMP, Campinas, 2006.

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

Drielli Peyerl [email protected] Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Silvia Fernanda de Mendonça Figueirôa [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: História das Geociências, petróleo, território, nacionalismo

Introdução

O presente artigo faz parte da tese de doutorado em andamento do

Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra – EHCT

(Unicamp), intitulada, a princípio, como: “O papel da Petrobras na formação de

profissionais da área de Geociências e mapeamento do território brasileiro”.

O período abordado inicia-se com a criação do Conselho Nacional de

Petróleo em 1938, o auge da Campanha nacionalista “O Petróleo é nosso”, e a

criação da Petrobras (1953). Tendo como objetivo demonstrar e descrever parte do

discurso nacionalista do período, utilizando-se de fontes da época, e como a

presença de estrangeiros no Brasil, ligados a área de exploração de petróleo no

território brasileiro ocasionaram conflitos internos e externos.

Muitos dos fatos aqui citados estão conectados com a política interna do

momento. Assim, procuramos demonstrar rapidamente algumas obras da época que

relatam a forma que o Brasil viveu o nacionalismo ligado à busca por petróleo.

Do Conselho Nacional de Petróleo à criação da Petrobras

A primeira iniciativa consistente do Estado brasileiro de regulação do

setor petrolífero foi a criação do Conselho Nacional do Petróleo em 1938.

(CONSELHO..., 2012: 01).

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Porém, antes do período citado, o discurso e aversão a estrangeiros já

consolidavam o nacionalismo no país por meio do território brasileiro e seus

recursos naturais. Mas, não vamos nos deter ao período antes do CNP.

Assim, em 1938, pouco depois do golpe de novembro que levou ao

poder, o novo Governo Vargas, promulgou vários decretos que salientaram o

nacionalismo da Constituição de 1937. (SMITH, 1976: 50).

O Decreto-Lei 366 declarou todos os campos petrolíferos ainda a serem descobertos no território nacional como de propriedade do Governo Federal. O Decreto-Lei 395 declarou o suprimento nacional de petróleo de utilidade pública, nacionalizou a indústria de refinação e criou o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), para controlar a indústria. O Decreto-Lei 538 estruturou o CNP, fixou suas prerrogativas e estabeleceu a política a ser seguida. Suas finalidades eram estimular uma indústria nacional de refinação capaz de suprir as necessidades do país e de levar avante a procura sistemática do petróleo, que, se encontrado, seria utilizado também sob controle nacional. O CNP controlaria a pesquisa, mas não era impedido de contatar essa atividade. (SMITH, 1976: 50 - 51).

Complementando a citação acima, e já aprofundando na questão

nacionalista, observamos que esse início foi enfrentado com muitos problemas,

como descreve o General Juarez Távora, militar e político brasileiro, em relação às

dificuldades técnicas enfrentadas no período do CNP:

Do ponto de vista técnico, a exploração do nosso petróleo esbarra, de início, com os seguintes óbices: a) Extensão e complexidade do território a explorar, agravadas pelas

distâncias aos principais centros urbanos do país, deficiência de vias de comunicação, falta de recursos locais agravados, algumas vezes, pela existência de endemias tropicais.

b) Precariedade das cartas geográficas e geológicas, já disponíveis, do País.

c) Desconhecimento quase completo das condições estruturais (tectônica) do subsolo a explorar.

d) Carência generalizada de técnicos e de mão-de-obra. (TÁVORA, 1955: 73-74).

O General Juarez Távora, relata no período de 1955, acontecimentos

relacionados à busca por petróleo. Conhecido ainda, por uma participação ativa no

meio político, foi considerado um dos principais líderes contra a criação da

Petrobras. Por meio dessa oposição, o General Távora também ficou conhecido

como entreguista em relação à exploração de petróleo no Brasil. Ou seja, era a favor

da entrega de recursos naturais para exploração de empresas, instituições

estrangeiras. Se opondo as questões nacionalistas da época.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Seguindo, com a descoberta do petróleo em Lobato (BA) em 1939, a

preocupação do CNP se reverteu em atitudes rápidas, começando a pensar nos

primeiros cursos de formação de profissionais especializados no Brasil. (CALDAS,

2005). Nesse mesmo ano,

[...] o CNP enviou os primeiros técnicos brasileiros para treinamento nos

Estados Unidos. Anos depois, alguns deles foram responsáveis pela

implantação dos primeiros cursos no país, através de convênios com as

Universidades federais da Bahia e do Brasil (atual UFRJ).

Com o objetivo de gerar uma mão-de-obra especializada, em 1952, dois

anos antes da criação da Petrobras, o Conselho Nacional do Petróleo criou

um setor que tinha como função a coordenação de estágios de

aperfeiçoamento de pessoal no exterior e também de criação e condução

de cursos de especialização em petróleo. (CALDAS, 2005: 10).

Além dessa dificuldade de falta de profissionais na área, outro

problema levantado pelo CNP foi a realidade referente à exploração do petróleo no

Brasil, em específico em 1947.

a) 35% da área do Brasil (mais de 3.000.000 Km²) é geològicamente suscetível de acumular petróleo. Quase nada se sabe, entretanto, a respeito da estrutura do subsolo correspondente a essa área e, menos ainda, do valor potencial das reservas petrolíferas que podem acumular. (TÁVORA, 1955: 73-74).

As dificuldades levantadas nas citações acima demonstram a

precariedade e ao mesmo tempo a necessidade de se achar petróleo no território

brasileiro; os investimentos e a carência estrutural.

O conflito entre dois tipos de nacionalismo tornou-se cada vez mais áspero. Ambos os lados – governo e indústria privada – queriam excluir os estrangeiros da pesquisa do petróleo, mas a indústria dispunha-se a arriscar o seu dinheiro e queria que os outros partilhassem do risco, enquanto o governo procurava proteger os cidadãos para que não fossem vitimados por companhias particulares superentusiastas. O papel de protetor do governo, contudo, era ineficaz, na falta de maior esforço por suplementar a iniciativa privada na pesquisa do petróleo. Na verdade, a atitude hostil dos geólogos governamentais para com a pesquisa pela iniciativa privada provavelmente retardou a exploração. (SMITH, 1976: 44).

Por trás disso tudo, destacamos que a indústria petrolífera brasileira foi

nacionalizada antes de descoberto o petróleo, com a criação do CNP. (SMITH,

1976). Outra observação ainda da época, era que países como a Venezuela, Bolívia já

avançavam na descoberta e produção de petróleo, enquanto o Brasil, o qual

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

compreendia metade do território da América do Sul, pouco investia em pesquisas

de petróleo, e quase nada se encontrava.

Nacionalismo e petróleo estiveram inseparavelmente ligados na década de 1930, enquanto o Brasil se industrializava e buscava recursos energéticos; e, basicamente pela falta de informações a respeito da geologia do petróleo, o nacionalismo em torno do assunto assumiu uma condição mística, já que os brasileiros acreditavam que o subsolo fosse rico em petróleo e que as companhias internacionais em nada se deteriam para obtê-lo. O resultado de todos estes fatores foi o controle estatal do petróleo antes de ele ser descoberto no Brasil, e uma companhia estatal monopolizadora antes de criada uma indústria petrolífera digna do nome. (SMITH, 1976: 17-18).

A frase “O Petróleo é nosso”, símbolo da Campanha do Petróleo, se

tornaria a mais importante discussão na década de 40 por envolver diferentes

agentes. (CALDAS, 2005). Mas quais agentes seriam esses? Estudantes,

profissionais, os meios de comunicação, a população em geral. A Campanha mexeu

com os ideários nacionalistas da época.

Assim, cria-se a Petrobras em 1953, entrando em atividade apenas em

1954, a empresa se estrutura absorvendo as atividades pioneiras do CNP. E essas

atividades estavam muito voltadas para a formação de pessoal especializado em

Geologia.

Considerações finais

O petróleo se tornava a principal matéria econômica mundial, um

território de grandes proporções, rico em minerais, como o Brasil não seria rico em

petróleo? Eis a questão que por muito tempo atormentou a economia e política do

país. A busca insana por um território ainda a ser pesquisado.

Mas tarde, e explorado em outros artigos pelas autoras do trabalho, as

respostas a questões que envolvem a busca por petróleo, viria dos famosos

‘relatórios Link’. Mas Walter Link era estrangeiro, e “somente anos mais tarde os

estudiosos revelariam que as ideias e proposições de Link em relação ao petróleo

brasileiro eram verdadeiras”. (PEYERL, 2010, p. 97).

Fechando, vamos ao ponto que realmente nos trouxe a todo esse

levantamento histórico e geográfico da época aliados ao nacionalismo da época: a

presença de estrangeiros no Brasil, ou profissionais empregados pela CNP e

Petrobras, ou ainda, não só a presença, mas uma necessidade.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

CALDAS, Jorge Navaes. Uma história de sucesso: 50 anos de desenvolvimento de recursos humanos. Rio de Janeiro: PETROBRAS, c2005, 1. ed. 112p.: il.

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PEYERL, Drielli. A trajetória intelectual de Frederico Waldemar Lange (1911-1988) e a História das Geociências. Ponta Grossa, 2010. 116 f. [Dissertação (Mestrado em Gestão do Território) – Universidade Estadual de Ponta Grossa].

SMITH, Peter Seaborn. Petróleo e política no Brasil Moderno. Rio de Janeiro: Artenova, 1978.

TÁVORA, Juarez. O Petróleo para o Brasil. Rio de Janeiro, RJ: J. Olympio, 2 ed. 1955. 319p.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Tiago Rodrigues Santos1 [email protected]

Universidade Estadual de Campinas

Guiomar Inez Germani2 [email protected]

Universidade Federal da Bahia

Palavras-chave: espaço geográfico, território, representação política

Introdução

Na história da sociedade brasileira perpassa a marcante condição inicial

de Colônia agro-exportadora. Durante os vários períodos históricos da sociedade

brasileira o campo e o rural sempre foi objeto de análise integradora da totalidade

das relações sociais. Numa sociedade marcada histórica e socialmente pela

característica de exportação de matérias-primas, o campo brasileiro se expressa

como possibilidade de se entender a formação da sociedade brasileira. Os impactos

da modernização do campo sobre os camponeses podem ser expressos de diversas

maneiras, sobretudo quando se destaca a militarização da questão agrária no Brasil,

como afirma Martins (1981). Por outro lado, Velho (1972, 1976) destaca a crescente

concentração da estrutura fundiária do País, com a expansão da fronteira agrícola,

possibilitada pelas políticas públicas do Estado para o setor agrícola. Conforme

aponta Grzybowski (1987) “A modernização foi a reforma agrária ao avesso, a

reforma para e pelo capital, aprofundando a concentração e a subordinando o

trabalho na agricultura à necessidade do capital” (GRZYBOWSKI, 1987, p. 78). O

salto produtivo da agricultura brasileira, nas décadas de 1970 e 1980, reativou sob

1 Doutorando em Ciências Sociais na Universidade Estadual de Campinas. É Licenciado em Ciências Sociais, Bacharel em Sociologia e Mestre em Geografia pela Universidade Federal da Bahia. Integra o Projeto Integrado de Pesquisa GeografAR (CNPq/UFBA/POSGEO). 2 Doutora em Geografia pela Universidade de Barcelona. Coordenadora do Projeto Integrado de Pesquisa GeografAR (CNPq/UFBA/POSGEO), professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFBA e Bolsista de Produtividade do CNPq.

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maior força e potencialidade os conflitos no campo brasileiro, potencializando lutas

no plano político e ideológico sobre a questão agrária no país.

Vários autores apontam o aumento de concentração de terras resultante

do processo de modernização da agricultura. Saffioti (1985) apresenta o seguinte

dado: dos mais de 850 milhões de quilômetros quadrado da área territorial do Brasil,

em 1970 tínhamos 294 milhões de hectares com estabelecimentos agropecuários,

número este que salta para um total de 369 milhões de hectares, em 1980, segundo

dados do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) de 1980, um crescimento de 25% em apenas 10 anos3.

Em 1985 é proposto pelo Governo Sarney, como forma de amenizar os

conflitos no campo o Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA). O PNRA expôs

uma grande ferida na sociedade brasileira que é a propriedade e o aceso à terra.

Nesse sentido, este trabalho busca refletir como a discussão da representação

política pode ser tomada como elemento – e conceito – de análise das disputas

territoriais no país. No caso, temos como objeto de análise a disputa territorial no

campo brasileiro nos anos de 1980, quando entraram em cena o Movimento dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com suas propostas para a reforma agrária,

e a União Democrática Ruralista (UDR), levantando a bandeira de “nenhuma

reforma agrária”.

A representação política e o espaço geográfico

O debate sobre a dimensão da representação política tem destaque nos

enfrentamentos teóricos e metodológicos das ciências sociais, em especial da

Ciência Política contemporânea. Desde “O Príncipe”, de Maquiavel, a Ciência Política

debate a função da representação dos sistemas de governo. Após a Segunda Guerra

Mundial, quando modelos de governos representativos tomaram a hegemonia da

condução da política na contemporaneidade, esse debate tem esquentado as

discussões sobre a dimensão da representação política. Se este é um debate

disciplinar da Ciência Política, quiçá da Sociologia, porque retomá-lo em um debate

geográfico? Em nosso olhar, a dimensão da política, e de suas formas como a

representação política, permite desvendar que o processo de formação e de gestão

do território perpassa pela seguinte questão: como as representações interferem nos

territórios? Qual a importância da discussão sobre representação para uma análise

3 Embora a base de dados do Censo Agropecuário do IBGE sejam os estabelecimentos agropecuários e a base do INCRA sejam as propriedades, podemos compreendê-las como complementares e ambas instituições ratificam da concentração de terras no Brasil nesse período.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

geográfica? Partindo deste pressuposto, compreendemos que as representações vão

ter papel imprescindível na formação e na ação sobre o território nacional. A

representação política, pelo formato de movimentos sociais, podem explicitar as

disputas das classes pela produção do espaço e domínio do território. Em nosso

caso a disputa entre as representações das classes dominantes e dos camponeses

pelas formas de acesso a terra tem um conteúdo que os permite compreender o

processo de disputa pelo território e pela fração do espaço.

MST e UDR: experiências de representações na disputa pelo espaço e pelo território

Diante do quadro de concentração fundiária do crescimento de

mobilizações e confrontos pela posse e uso da terra, abriu-se um vácuo de

representação específica da luta pela terra. Isso apontava a necessidade de

surgimento de uma representação que tivesse em seu objetivo lutar para se

modificar a estrutura fundiária da terra. Assim, em 1984, surge aquele que viria a ser

o movimento de luta pela terra de maior expressão de todo o país: o Movimento dos

Trabalhadores Sem Terra, o MST. Diversos autores, com os quais concordamos,

apontam que a peculiaridade do MST vai se encontrar nas “fontes” presentes em

suas formações: a experiência do sindicalismo rural no processo de negociação com

o Estado; o trabalho de base, elemento importante na atuação da CPT, e, sobretudo,

as várias experiências de ocupações das Ligas Camponesas. É, todo esse “caldo”,

aliadas às condições estruturais da sociedade brasileira, que possibilita o surgimento

do MST. Isso significa afirmar que a representação nasce sob o signo da luta pelo

acesso a terra, isto é, o objetivo do movimento é a conquista da terra e,

consequentemente, o rompimento do monopólio desta, bem como com um público

específico: os sem terras. O MST conseguiu a proeza de colocar a reforma agrária,

via desapropriação, na ordem do dia, buscando se afastar de uma discussão de

política agrícola que tanto baseou outras entidades, como a CONTAG.

Ao propor ocupações de terras e de órgãos públicos o MST nasce com a

identidade de rompimento com a ordem. Ao tocar em “clausulas pétreas” da

sociedade brasileira como a questão da propriedade privada da terra, o MST discute

o fundamento básico do capitalismo. Criado em 1984, em seu primeiro Encontro em

Cascavel (PR) em janeiro de 1985, realizou seu I Congresso, em Curitiba (PR) como

mais de 1500 trabalhadores de 23 estados da Federação. Desse modo, os sem terras

era a fração do campesinato a ser representada pelo MST.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

A Proposta do I PNRA, lançado em abril de 1985, em pleno Congresso

dos Trabalhadores Rurais, foi mais que expressão dos conflitos de classe que estava

por vir. As classes dominantes, principalmente a burguesia industrial e financeira

que, nas décadas de 1970 e 1980, tinham investido em terras e ganhado subsídios e

privilégios do Estado para terem acesso mais fácil à terra, precisavam de um porta-

voz que tivesse como bandeira de luta “nenhuma reforma agrária”. Essa

representação específica não tardaria a surgir. Era a possibilidade, e necessidade

para as classes dominantes, para o nascimento da União Democrática Ruralista, a

UDR.

Em julho de 1985, apenas três meses depois do lançamento da Proposta

do PNRA, em meio à discussão do PNRA e a crise de representação, surge em Goiás

a UDR. Ela surgia com o vácuo de representação deixado pelas outras entidades,

que não conseguiram levantar a bandeira de que nenhuma reforma agrária devesse

ser feita. A UDR, logo no inicio, deixava claro que o seu objetivo era a demarcação do

principio da propriedade da terra como questão absoluta, isto é, não passível de

discussão sobre sua posse e seu uso. Em apenas dois meses, principalmente a sua

explicita tática de agir com violência, a entidade se expande por Goiás, São Paulo,

Bahia, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná, Espírito Santo.

A “vitória” da UDR viria ainda nos seis primeiros meses de sua atuação:

o Plano Nacional de Reforma Agrária, foi apresentado, como vimos, em um Decreto

que desconfigurava a Proposta apresentada em abril daquele mesmo ano. Entretanto

a própria entidade tinha o desafio de não permitir a execução dos planos regionais,

batalha que estava aos poucos sendo ganha, mas tinha ainda a grande batalha a ser

travada: a questão da terra na Constituinte de 1987. Ai ela usa a experiência do lobby

como arma principal naquele espaço. Dessa forma, o sonho da reforma agrária

massiva e intensa foi enterrado junto com o surgimento de uma “Nova República”.

GRZYBOWSKI, Cândido. Caminhos e descaminhos dos movimentos sociais no campo. Petrópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 1987.

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

André Pasti [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: globalização, Telesur, América Latina, circulação de informação,

território usado

Uma transformação importante na produção e circulação de notícias na

América Latina ocorreu em 2005, quando foi criada a Televisión del Sur — Telesur —

rede multiestatal de iniciativa do governo venezuelano em conjunto com Cuba,

Uruguai e Argentina, e com a participação posterior de Bolívia, Equador e Nicarágua.

Segundo a própria Telesur (apud MENDES, 2008) o canal nasce de uma evidente

necessidade latino-americana: contar com um meio que permita a todos os seus

habitantes difundir seus próprios valores, ideias e conteúdos, livre e de forma

igualitária. Despontaria, assim, como uma alternativa capaz de fazer frente ao

discurso único difundido pelas grandes corporações de mídia. Como aponta

Calderón (2005, p. 49), a Telesur é um projeto político de alguns estados latino-

americanos, especialmente da Venezuela, e um meio de “exportar” suas experiências

e ideias ao mundo. Segundo Nogueira (2009a; 2009b), nesse projeto político consta

também o fortalecimento da cultura comum latino-americana e a viabilização de um

projeto de integração regional.

Para compreender, a partir do território usado, a importância das

informações da Telesur, dois conceitos nos auxiliam: as noções de verticalidade e

horizontalidade. As verticalidades seriam os vetores da racionalidade superior e do

discurso hegemônico (SANTOS, 2006, p. 284-285). Elas criam interdependências

(que tendem a ser hierárquicas), “tanto mais numerosas e atuantes quanto maiores

as necessidades de cooperação entre lugares”. As horizontalidades seriam tanto o

lugar da finalidade imposta de fora, de longe e de cima, quanto o da

ige.unicamp.br/cact/semana2012

contrafinalidade, localmente gerada. Conforme Santos (2006, p. 285), “o espaço se

compõe de uns e de outros desses recortes, inseparavelmente”. Considerando a

América Latina como uma totalidade, podemos compreender os círculos de

informações noticiosas da Telesur como horizontalidades.

Nesse sentido, e avançando no entendimento, torna-se necessária uma

distinção entre os circuitos informacionais ascendentes e descendentes (SILVA, 2010). Os

circuitos descendentes são aqueles baseados na informação que atinge

verticalmente os lugares, enquanto os circuitos informacionais ascendentes referem-

se aos “dinamismos mais arraigados ao lugar, ao dilema da sobrevivência, da

resistência e da reprodução” (SILVA, 2010, p. 2). Esses círculos ascendentes e

descendentes coexistem no espaço geográfico, que se apresenta como um campo de

conflitos entre forças descendentes (verticalidades) e ascendentes

(horizontalidades). Os círculos de notícias da Telesur podem ser compreendidos

como círculos ascendentes de informações na América Latina, contrapondo-se a

círculos descendentes das grandes agências de notícias e das redes de TV norte-

americanas.

A criação da Telesur não foi bem recebida pelas potências hegemônicas

mundiais. O congresso norte-americano aprovou uma medida para permitir

transmissões de TV e rádio à Venezuela, para enviar o que chamaram de

informações “precisas e objetivas”, contrapondo-se ao que chamaram de

“antiamericanismo” da Telesur (CALDERÓN, 2005, p. 51). Borges (2011) narra,

também, esforços norte-americanos para inviabilizar a Televisión del Sur, revelados

no vazamento de dados sigilosos norte-americanos pelo projeto wikileaks1. Entre esses esforços, estaria o fortalecimento da Voz da América, emissora estatal

americana de alcance internacional, e o convencimento dos governantes da região da

necessidade de apoio aos EUA, “de forma mais proativa”.

Em relação à produção de informações, a Telesur conta com sua matriz

em Caracas, na Venezuela, e correspondentes espalhados por outras cidades latino-

americanas. Como sua rede de correspondentes é limitada, a Telesur é, também,

consumidora de informações das agências transnacionais de notícias, como Reuters

e Agence France-Presse. A análise de sua rede ajuda a compreender, também, o fato

de diversas análises terem apontando um traço muito mais “venezuelano” do que

1 O wikileaks é um projeto que disponibiliza através de um website (wikileaks.org) informações confidenciais de governos e empresas, com o intuito de torná-las públicas. A principal base do projeto são dados confidenciais desde 2006 da diplomacia norte-americana.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

latino-americano no canal. Segundo estudo de Salö e Terenius (2007), a produção

dos programas concentra-se na Venezuela: enquanto a sede venezuelana da Telesur

realizou 168 programas exibidos, a Argentina, 21; a Colômbia e o Uruguai, 12;

México e Cuba, 6; Equador, 2; e Chile, Europa e Brasil apenas 1. Outro estudo, de

Ávila (2008, p. 64), demonstra que o tempo ocupado por cada país latino-americano

no noticiário da Telesur também privilegia demasiadamente a Venezuela: 26%2 das

informações são sobre este país, seguido por Bolívia e México (12%) e Colômbia

(8%), com o Brasil contando com apenas 3%.

Uma das estratégias da ampliação da atuação da Telesur em rede no

mundo e de sua produção de informações é a parceria com a rede de TV Al Jazira, do

Oriente Médio, organizada com semelhante proposta. Conforme Nogueira (2009a, p.

2), ambas estabeleceram entre si uma cooperação técnica e o intercâmbio de

programas e profissionais. Além disso, a Telesur possui mais de 30 parcerias com

emissoras de países latino-americanos. No Brasil, no entanto, a Telesur não

conseguiu a adesão desejada, pois o projeto político do governo Lula levou à criação

de uma rede de televisão estatal brasileira, a TV Brasil (CALDERÓN, 2005, p. 51).

Recentemente, um acordo entre os dois canais levou à incorporação de um noticiário

da TV Brasil — tratando de notícias brasileiras — à programação da Telesur.

Para a compreensão da rede da Telesur é importante, ainda,

investigarmos seu alcance territorial. Para tanto, propomos uma distinção entre o

alcance potencial, dado apenas pela possibilidade técnica, do que chamamos alcance

territorial, correspondente a essa possibilidade técnica realizada no território, isto é,

na circulação de fato existente no território e, nesse caso, no consumo das

informações. Em relação ao alcance potencial da Telesur, partimos da abrangência do

sinal no espaço mundial. O sinal aberto abrange apenas a Venezuela: Caracas,

Barquisimeto, Valencia, Puerto La Cruz, Maracaibo, Maracay e Barcelona (CANO,

2009, p. 136). Em escala mundial, o sinal é distribuído gratuitamente via satélite

para: a América Latina, com o satélite NSS806; a Europa e o noroeste de África, por

meio dos satélites Hotbird 8, Hispasat IC e Astra 1M (TELESUR, 2011). Todavia, sua

penetração nas informações que efetivamente circulam e são consumidas no

território não acompanham essa possibilidade técnica. Assim, para compreender a

circulação de notícias nos territórios latino-americanos e os atuais limites aos

2 Outro levantamento feito por Ávila (2008, p. 63) revela um número ainda maior: 43% do noticiário sobre a própria Venezuela. Todavia, este levantamento poderia estar com a amostra incorreta, em função de grandes eventos políticos que ocorreram na Venezuela durante o período analisado.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

círculos de informações noticiosas ascendentes, propomos o entendimento de que

há círculos dominantes em alcance territorial. Esses círculos seriam aqueles cujas

redes atingem mais lugares e pessoas e cujas informações são mais consumidas.

Considerando as especificidades de cada formação socioespacial latino-americana

no que se refere às comunicações, o entendimento de que as informações da Telesur

não penetram, em muitos casos — como o brasileiro3 — nesses círculos

dominantes de informações, nos aponta limites da informação contra-hegemônica.

Concordamos com Santos (2000, p. 38) quando afirma que no atual

período o modo como a informação é oferecida à humanidade constitui uma

violência central do sistema ideológico hegemônico. Consideramos que resistência à

violência da informação deve se basear na união de diversas ações, entre as quais

destacamos, com Ribeiro (2000, p. 22), a ampliação do acesso social às novas

técnicas, a defesa de usos transformadores dessas novas tecnologias e de novas

normas que garantam o controle social dessas redes informacionais do atual

período. Assim tem caminhado a luta pela democratização das comunicações em

toda a América Latina, e importantes passos foram dados, entre os quais

destacamos: a criação e expansão da rede da Telesur; as novas normas — mais

progressistas — de comunicação na Argentina e no Equador e o resgate desse

debate em outros países; o fortalecimento da pauta da universalização do acesso à

banda larga de internet; e a união de movimentos sociais de diversos países em prol

da democratização da mídia na América Latina.

Os círculos de informações ascendentes que surgem na América Latina

despontam como alternativas às verticalidades na produção de notícias. Todavia,

como afirma Sel (2009, p. 16), a batalha por uma outra comunicação envolve uma

guerra assimétrica, já que os grupos concentrados de capital que detêm o poder

político comandam, também, os meios de comunicação.

3 De forma ilustrativa, as dez primeiras referências à Telesur no acervo do jornal de maior circulação no país, a Folha de S. Paulo, todos de 2005, são críticas às ações do canal.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

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Gabriela de Costa Gomes Silva [email protected]

Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: produção de informação, urbanização do território, IBOPE

A informação adquire um papel de destaque na atual fase do mundo

capitalista e seus fluxos comandam a dinâmica da sociedade e dos objetos por ela

criados (RAFFESTIN, 1993). O processo de globalização, subsidiado pelo avançado

aparato técnico- informacional e por decisões políticas acerca dos fluxos de capitais,

reorganiza o espaço mundial de acordo com os interesses das grandes corporações

promovendo uma verdadeira “tirania das determinações econômicas” (ISNARD,

1982, p. 239).

O mundo globalizado é, em certa medida, o mundo do conhecimento

unido pela informação, (MATTELART, 1994). A ciência, a tecnologia e a informação

“estão na própria base da produção, da utilização e do funcionamento do espaço”

(SANTOS, 2002 p.238). “Entender a realidade hoje é entendê-la como realidade

informacional” (MOSTAFA, 1994 p. 23).

Neste mundo capitalista globalizado, carregado de significados

racionalizados e onde a informação se tornou variável chave para a reprodução do

capital, surgem um conjunto de novas empresas e profissões que ganharam

destaque no período atual. São aquelas que lidam diretamente com a obtenção e o

“tratamento” da informação, para que esta possa ser convertida posteriormente em

mercadorias para os agentes (políticos e econômicos) que delas precisam dispor.

Dentre essas empresas se destacam as de consultoria, publicidade, marketing e as

de pesquisa de mercado.

Neste universo de empresas destacamos, por sua vez, as agências de

pesquisa de mercado, já que desde o pós-guerra elas têm tido papel importante na

difusão e modelagem do consumo em escala planetária e no Brasil, como é o caso

da brasileira IBOPE. Essas grandes empresas procuram estabelecer suas sedes nas

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

grandes metrópoles que se constituem nos nós das redes mundiais, onde as

oportunidades estão sempre presentes dada a densidade de possíveis negócios que

existem na metrópole, não importando a que preço seja essa localização privilegiada

(LENCIONI, 2008). Ponderamos, assim, que o atual aprofundamento da divisão do

trabalho repercute diretamente em novos conteúdos da metropolização.

No Brasil, um país que alcançou relativamente tarde seu processo de

modernização capitalista e urbanização, uma empresa que detenha o conhecimento

estratégico relativo às mais variadas características da sociedade, lidera a dianteira

no direcionamento racional dos recursos que, por sua vez, compreendem os usos do

território.

Está aí a relevância estratégica de uma empresa de pesquisa do porte do

Grupo IBOPE. Seu alvo principal é a sociedade e suas mais íntimas características

nos seus mais variáveis níveis sociais e econômicos, “o IBOPE entende de gente”

<www.ibope.com.br>. Centenas de pesquisas são produzidas e encomendadas por

ano, o que demonstra o caráter essencialmente dinâmico do capital que mobiliza a

informação e transforma constantemente as feições de uma sociedade cada vez mais

imersa na racionalidade do consumo, o que reflete na construção de um território

cada vez mais racionalizado do ponto de vista do capital, e irracional do ponto de

vista das relações humanas.

O objetivo deste trabalho, fazendo um estudo de caso da principal

empresa de pesquisa de mercado do país e de grande relevância mundial, o Grupo

IBOPE, é compreender, seguindo as ideias que norteiam o pensamento geográfico

contemporâneo acerca da informação como variável chave do mundo globalizado,

como essa empresa atua e se articula no território nacional para a busca e a

produção da informação, para que esta, posteriormente, possa ser utilizada pelos

agentes representantes do capital na produção e nos usos do território nacional.

Como este trabalho encontra-se em execução muitas questões surgiram

com o levantamento dos dados iniciais e, pode-se perceber, como primeiros

resultados, que com o trabalho imaterial figurando como nova tendência no mundo

contemporâneo (ANTUNES, 2000), o IBOPE reforça a sua relevância frente às novas

necessidades do capital em constante expansão. Como agente que lida diretamente

com o trabalho imaterial, ou seja, com a produção, a coleta e a distribuição da

informação, empregando grandes contingentes de profissionais ligados ao trabalho

ige.unicamp.br/cact/semana2012

intelectual, o Grupo IBOPE se insere perfeitamente no mundo globalizado,

adquirindo um papel cada vez mais necessário ao mercado.

No território nacional podemos afirmar que é o Grupo IBOPE quem

assume a dianteira no trabalho intelectual voltado aos negócios, quando surge na

década de 1940 com o objetivo de pesquisar a opinião pública, e algum tempo

depois, com o seu crescimento gradativo, passa a se ligar indiretamente com a

produção do espaço, uma vez que se transforma em ferramenta indispensável aos

agentes do poder público e econômico.

ISNARD, H. O espaço geográfico. Coimbra, Portugal. Livraria Almedina, 1982.

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Melissa Maria Veloso Steda [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: internet, redes telemáticas, território brasileiro

“O acesso em banda larga (...) é pressuposto para o desenvolvimento

econômico e social do país”, afirmava o Governo Federal em 2010, no documento-

base do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) (BRASIL, 2010, p. 16). Há poucas

décadas, essa afirmação não faria nenhum sentido; hoje, o acesso à informação

pode ser considerado uma condição para o desenvolvimento e a universalização da

banda larga um meio para suplantar a seletividade da difusão espacial da inovação

tecnológica.

Diante dessa expressão do período técnico-científico e informacional

(SANTOS, 1994), este trabalho propõe compreender as circunstâncias nas quais o

Governo Federal formulou a proposta do PNBL, a partir de 2009, bem como os

objetivos do programa. Como princípio de método, é fundamental considerar a

relevância do estudo das redes geográficas, dado que um dos principais atributos do

período histórico atual é a constante busca por fluidez — e esta, por sua vez, está

baseada nas redes técnicas (SANTOS, 2009, p. 274).

Partimos da concepção de Santos (1994, 2007) de que a base do

entendimento do espaço geográfico é o uso do território e que, para fazê-lo com

plenitude, é preciso compreender o fenômeno técnico (SANTOS, 2009, p. 37) — ou

a combinação de técnica e política. Tendo em vista que hoje estamos diante de uma

profusão de objetos técnicos com difusão espacial cada vez mais rápida, que

conhecem diferentes arranjos sistêmicos e levam à constante implantação de novas

bases normativas, há uma série de aspectos passíveis de análise do ponto de vista

da Geografia. Considerando ainda que, no período atual, as redes de comunicação e

ige.unicamp.br/cact/semana2012

circulação asseguram a mobilidade e a fluidez do capital e do trabalho1, e as

tecnologias da informação, por sua vez, são imprescindíveis para a obtenção de uma

crescente padronização técnica dos sistemas produtivos, o estudo das redes

telemáticas é caminho para entender as relações políticas, sociais e econômicas que

compõem as dinâmicas do espaço geográfico.

Atualmente, cerca de 38% dos domicílios brasileiros possuem

computador com acesso à internet, sendo que, destes, há hoje 17,4 milhões de lares

com acesso à banda larga — um crescimento de 87 vezes na última década,

correspondente a quase 58 milhões de usuários. Além disso, entre os Censos de

2000 e 2010, o número de usuários de telefonia móvel no país cresceu 775% (ou

179,7 milhões de pessoas)2, sinalizando uma tendência, nos próximos anos, para o

uso desse tipo de aparelho também para o acesso à internet.

Dessa forma, o PNBL, proposto pelo Governo Federal com a intenção

principal de “massificar, até 2014, a oferta de acessos de banda larga e promover o

crescimento da capacidade da infraestrutura de telecomunicações do país”,

objetivando resultados sociais e econômicos (BRASIL, 2009, p. 9), procura diminuir

os custos do acesso à banda larga, de modo a permitir, inclusive, maior

acessibilidade à população. As ações do Plano, segundo matriz apresentada pelo

Governo Federal (BRASIL, 2010, p. 50), incidem sobre a normatização de

infraestrutura; a regulação de serviços; incentivos fiscais e financeiros ao serviço; a

política produtiva e tecnológica; a rede nacional da Telebrás; e os conteúdos e

aplicações do programa.

O Governo Federal afirma ainda, no documento base do PNBL (BRASIL,

2010, p. 10), que “um programa para massificação da banda larga tem efeitos

virtuosos, equaliza oportunidades, gera empregos e propicia crescimento do PIB”.

Tomando o acesso à internet como condição de cidadania e fundamental para a

1 “O alargamento dos contextos possibilitado pela eficácia das redes torna também possível aquilo que Marx previra quanto ao uso do território: a diminuição da arena da produção e o alargamento de sua área. Os progressos técnicos e científicos permitem produzir muito mais utilizando uma porção menor de espaço, graças aos enormes ganhos de produtividade. Esses mesmos progressos, que incluem as telecomunicações, permitem um intercâmbio ainda mais eficaz sobre áreas mais vastas. É sobre essa base que se edificam, ao mesmo tempo, a divisão social do trabalho, que reparte, e a cooperação, que unifica” (SANTOS, 2009, p. 278). 2 Informações da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), com base em dados preliminares do último Censo, realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

crescente democratização da comunicação no país, um plano de alcance nacional,

como o PNBL, é ainda importante meio de ampliação da conectividade3 dos lugares.

No âmbito de ministérios como os de Comunicações e de Ciência e

Tecnologia, vêm ocorrendo leilões de faixas de radiofrequência e desenvolvimento de

satélites de comunicação para ampliação da oferta do serviço no país. Para tal, são

feitos acordos com grandes empresas do ramo de telecomunicações, brasileiras e

estrangeiras, a fim de conduzir uma modernização nos sistemas técnicos para

oferecimento de banda larga no país, seja ela fixa (por meio de cabos telefônicos e de

fibra óptica) ou móvel (via equipamentos de radiofrequência). Por outro lado, há

organizações que se reúnem em grupos como o Fórum Nacional pela

Democratização da Comunicação, a fim de fiscalizar as ações do governo e propor

alternativas a partir da sociedade civil, o que inclui a análise das políticas de

universalização de serviços de comunicação (incluindo a internet) que vêm sendo

implementadas. Os pequenos provedores de internet, por sua vez, também

reivindicam maior apoio do governo, argumentando que suas propostas para o

PNBL não foram executadas.

Considerando o papel das redes como instrumento técnico e político

fundamental para a organização, a regulação e o uso dos territórios, com objetivos

de viabilizar estratégias de circulação e comunicação no espaço geográfico, elas

também se colocam como uma das bases geográficas da globalização e da

afirmação do atual paradigma produtivo, firmado nas novas tecnologias de

informação e comunicação. Tendo em vista que a difusão das redes telemáticas nos

territórios é guiada, sobretudo, pela implantação de sistemas técnicos imbuídos de

tecnologias da informação, estas são fundamentais na busca por cada vez mais

rapidez e agilidade na transmissão de dados e ordens em escala global.

Castells e Cardoso (2005, p. 17) falam, inclusive, na emergência de um

“novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de informação e

comunicação”. Alinhados com Benakouche (2007), ressaltam a necessidade de que

não se desvincule a análise das tecnologias (e da internet, inclusive) dos aspectos

sociais de utilização das redes. A depender das intencionalidades envolvidas na

instalação de infraestruturas de circulação e comunicação, desenvolvem-se usos

hegemônicos ou solidários das redes, o que suscita diversas implicações do ponto

3 Conectividade é como se chama a parcela da acessibilidade específica da internet.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

de vista geográfico. Como, então, realizar de forma justa a integração territorial e a

inclusão digital na “sexta economia do mundo”?

Dentre os elementos fundamentais para uma política de inclusão social

no Brasil, Dantas (2003, p. 41) propõe o desenvolvimento e a adoção de softwares

livres, governo eletrônico e democratização das comunicações, além da

universalização do acesso às telecomunicações e à internet. Por fim, concordamos

com o mesmo autor (2003, p. 40) ao considerar a imensa importância de se lutar

pela constituição de uma “rede pública de informática e telecomunicações que seja

não apenas, e menos, um meio técnico a serviço da sociedade, mas sobretudo um

meio de produção de conteúdos comunitários e cidadãos – um espaço onde a

informação possa circular como presente, e não como valor”.

Santos (1994) observa que “o território é o suporte de redes que

transportam regras e normas utilitárias, parciais, parcializadas, egoístas”. Dessa

forma, é fundamental pensar a implantação de grandes sistemas técnicos, como os

de universalização de internet de banda larga, também do ponto de vista político.

Analisando-se uma tecnologia como essa, pode-se pensar que, ao tomar como

prioridade e propor para o país todo a universalização do acesso, o Governo Federal

procura adaptar o território nacional, em certa medida, para o funcionamento de um

mercado global que necessita de velocidades mais e mais altas para manter um

funcionamento eficaz.

Além disso, ao organizar o aporte de novas tecnologias no território

nacional, o Estado também vem estabelecendo um diálogo contínuo com as grandes

empresas do setor de telecomunicações. Trata-se, na verdade, de um processo de

integração financeira do território (interna e externamente); objetiva-se reduzir o que

Santos e Silveira (2011) denominaram áreas opacas, em termos de densidade

técnica e informacional, o que demanda ainda grande esforço e atuação estatal.

Assim, uma tecnologia como a banda larga é de grande serventia para possibilitar o

funcionamento de um sistema que exige cada vez mais o “tempo real”: há que se ter

uma base técnica que possibilite certo grau (cada vez maior) de comunicação entre

os lugares. Podemos afirmar, então, que a escolha de tornar prioridade determinada

tecnologia pressupõe, acima de tudo, uma discussão política, que pode e deve ser

debatida à luz da Geografia.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

Wagner Wendt Nabarro [email protected] Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: informação, finanças, território brasileiro

Tendo em vista que a informação se constitui como variável-chave do

período atual e que as finanças exercem fundamental importância para a economia

globalizada, buscamos compreender como os fluxos de informações financeiras se

distribuem pelo espaço geográfico. Com essa perspectiva, investigamos as relações

estabelecidas pelo fornecimento e uso dessas informações no território brasileiro,

tomando por base a agência Bloomberg, que no presente momento figura como

uma das maiores agências especializadas no fornecimento desse tipo de informação.

A informação, em todas as suas formas, “é o vetor fundamental do

processo social e os territórios são, dessa forma, equipados para facilitar a sua

circulação” (SANTOS, 2006, p. 238). No período atual, passa a ser tratada como um

produto, passível de apropriação e portador de valor de troca (DANTAS, 2003). Silva

(2001, p. 110) apresenta uma diferenciação entre as informações banais e as

informações estratégicas, que são aquelas “destinadas à produção e manipuladas

pelas firmas”, classificação na qual se enquadra a informação financeira, veiculada

com o intuito de ser funcional às operações de mercado. Cabe lembrar que os fluxos

informacionais são, hoje, “os mais voláteis e menos controláveis” (DIAS, 2005, p.

11), sendo assim fundamental entender as consequências da movimentação das

informações estratégicas, tendo em vista a economia nacional.

Para Chesnais (1998, p. 12), a mundialização financeira representa “as

estreitas ligações entre os sistemas monetários e mercados financeiros nacionais”, e

foi justamente com ela que a globalização deu seus primeiros passos, com as praças

financeiras passando a integrar um mercado global (MATTELART, 2000, p. 123).

Podemos falar, hoje, de uma unicidade da técnica e de uma unicidade do tempo

(SANTOS, 2006), das quais tiram proveito os atores hegemônicos para

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

movimentarem suas redes e realizarem a mais-valia hegemônica, utilizando sistemas

técnicos que permitem uma ação instantânea em diversos pontos do planeta.

É nesse contexto que surgem as agências de informação financeira, para

atender e permitir a manutenção do mercado global. É importante ressaltar a

complexidade metodológica existente na denominação dessas agências, que

complica a delimitação de um setor de informações financeiras. Isso porque as

atividades de empresas dessa área englobam desde notícias a análises e dados

estatísticos1, e elas atuam em diversos nichos dos serviços financeiros, desde

consultoria a investidores pessoais até divulgação televisiva. Consideramos como

agências as empresas mais generalistas nessa atividade, Reuters, Bloomberg e Dow

Jones.

A globalização financeira, para Warf (1989, p. 262), tem sido vantajosa

para se vender informações financeiras. Dias (2005, p. 62) nos diz que “o valor da

informação financeira reside na extraordinária poupança de tempo que as

tecnologias da comunicação proporcionam”, poupança essa essencial para um

mercado que depende cada vez mais de operações instantâneas. Isso tem

rebatimento na circulação das notícias, que deve ocorrer de forma cada vez mais

rápida, e chegamos ao que Moretzsohn (2005) denomina “fetiche da velocidade”,

em que a velocidade passa a ser ela própria mercadoria, ocultando as informações

que estão por trás dela, nas notícias.

Cabe, dessa forma, investigar as implicações da presença de escritórios

estrangeiros de informação financeira no território brasileiro, o que permitirá

compreender parte das concepções de mundo, de mercado e de Estado que chegam

ao país, e como este as recebe, regulariza e utiliza. Não podemos esquecer, afinal,

que conforme Santos (2001, p. 101),

no território a finança global instala-se como a regra das regras, um conjunto de normas que escorre, imperioso, sobre a totalidade do edifício social, ignorando as estruturas vigentes, para melhor poder contrariá-las, impondo outras estruturas.

A empresa Bloomberg L.P. foi organizada em 1981 por Michael

Bloomberg, que tornou-se prefeito da cidade de Nova York em 2002, cargo que

exerce até o presente momento. A agência cresceu rapidamente desde sua criação

(MACHIN; NIBLOCK, 2010, p. 785), apesar de ter surgido em um mercado que já era

consolidado e dominado, essencialmente, pela agência de notícias Reuters e pela

1 Para uma tipologia das informações financeiras, consultar Pasti (2010, p. 26), que apresenta um quadro de informações de suporte ao mercado de capitais.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Dow Jones & Company. O crescimento da agência dependeu dos contatos e

informações privilegiadas que seu criador detinha em Wall Street. Outro fator

imprescindível no desenvolvimento da empresa foi o apelo para a “marca

Bloomberg”, que inclui a figura de seu terminal de consulta, utilizado para acessar

todas as suas informações, e uma imagem de “confiança” passada a seus usuários,

o que a permitiu vender mais, ainda que com preços superiores aos dos

concorrentes (CRAIG, 2001, p. 9). Em pouco tempo, se tornou uma forte

competidora das demais agências, e hoje domina o que se pode chamar de

“mercado de informações financeiras”, juntamente com a Reuters. Ambas estão em

um momento de grande rivalidade, sendo apontada a superação pela Bloomberg em

determinados quesitos (FLAMM, 2012).

A Bloomberg iniciou suas atividades fornecendo um sistema para

consulta de cotações de títulos de valor, vindo a consolidar um sistema global de

agenciamento de notícias em 1990 (BLOOMBERG, 2012), atuando hoje em

praticamente todos os serviços financeiros. Tais serviços ficam todos disponíveis em

seu terminal de consulta, que pode ser alugado, mas também em diversos outros

meios de divulgação, desde a internet até suas publicações próprias, contando com

as revistas “Businessweek” e “Markets” e o canal Bloomberg TV. Atualmente,

movimenta uma rede de mais de 15.000 funcionários em 192 localizações

(BLOOMBERG, 2012), fornecendo serviços para investidores, sejam eles empresas

ou indivíduos, além de notícias para jornais e revistas.

Dado o panorama do funcionamento da Bloomberg em escala global,

atentamos para sua atuação recente no território brasileiro. A agência possui nele

três escritórios, localizados nos centros de gestão do território (CORREA, 1996): São

Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Concentra suas atividades em São Paulo, a

metrópole informacional (SILVA, 2001), em um escritório localizado na avenida

Nações Unidas, numa região que vem sendo considerada uma nova centralidade

paulistana. A agência mobiliza vendas de serviços no país e coleta e distribui notícias

e dados, tendo firmado acordo com a BM&F Bovespa, e tendo também oferecido um

canal de televisão em português entre 2004 e 2010, encerrado por mudanças na

estrutura de difusão da empresa (CAMPOS, 2010). Fornece notícias para os

principais jornais brasileiros, tanto generalistas quanto especializados, entre os quais

se destaca o Valor Econômico.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

O interesse na coleta de informações no território brasileiro é

declaradamente crescente, com a ampliação da presença da Bloomberg no Brasil e o

lançamento de um serviço de notícias em português em tempo real em 2010

(CAMPOS, 2010). Segundo o editor-chefe do serviço de notícias da agência, a

expansão “está diretamente relacionada ao aumento do interesse de investidores

estrangeiros de todos os grandes centros financeiros mundiais no Brasil”. Outra

demonstração do interesse pelo país é a ocorrência das “Bloomberg Brazil Economic

Summit” em 2011 (São Paulo) e 2012 (Rio de Janeiro), reuniões para as quais foram

convidados grandes investidores para conferências e “troca de ideias” sobre

oportunidades econômicas no país.

Tendo em vista a atuação descrita, refletimos sobre as implicações de

informações tão verticais incidindo sobre pontos específicos do território brasileiro,

certamente afetando a economia nacional, pois é direcionada justamente para os

investidores ativos no mercado financeiro, sejam eles empresas ou pessoas. São

informações, além disso, com carga ideológica, pois mesmo que se considere

apenas os números, cotações e análises gráficas, já trazem consigo uma lógica de

aceleração, fluidez financeira e, no caso das análises que apresentam, de

favorecimentos e desfavorecimentos (ainda que baseados na racionalidade

científica) de empresas ou mesmo territórios.

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Bruno Pereira do Nascimento [email protected]

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Palavras-chave: gentrificação, cidade- empresa, cultura

Este trabalho faz parte do rol de atividades desenvolvidas no Programa de

Educação Tutorial (PET/Geografia/UFRJ). A pesquisa foi realizada entre os meses de

fevereiro a julho de 2012 e estudou os impactos originados pelo fechamento do

terminal rodoviário Mariano Procópio, no qual se localizava na Praça Mauá, a

população que o utilizava e ao comércio no seu entorno, associando isto ao

processo de gentrificação.

A gentrificação é um processo que significa “enobrecimento” do espaço

urbano, muitas vezes ideologicamente chamado pelos seus órgãos executores de

“revitalização”, com ocorrência predominante nas áreas centrais de grandes cidades,

em espaços que constituem atrativos aos grandes capitais, sobretudo pelas suas

privilegiadas posições geográficas.

Paralelo às revitalizações ainda há a (re)valorização imobiliária, assim

encarecendo a terra urbana. Desta forma, as pessoas de menor poder aquisitivo que

vivem e/ou utilizam estes espaços, acabam sendo expulsas pela pressão dos

capitais.

Esta pesquisa analisou os impactos do projeto “Porto Maravilha” sobre o

já fechado terminal rodoviário Mariano Procópio. Este terminal atendia cerca de

cinco milhões de passageiros diariamente, com aproximadamente mil ônibus, em

deslocamentos entre o Rio de Janeiro e localidades da Região Metropolitana,

principalmente, municípios da baixada fluminense, como Nova Iguaçu, Duque de

Caxias, São João de Meriti, Vilar dos Teles, Mesquita, Nilópolis, Cosmorama e Jardim

Redentor.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Devido a anos de obsolescência econômica, a zona portuária do Rio de

Janeiro passou muito tempo sem renovações urbanísticas. Contudo, devido aos

mega eventos que serão sediados na cidade, houve uma valorização do seu centro e

paralelo a isto uma atração dos capitais imobiliários e encarecimento do solo

urbano. A zona portuária do centro do Rio de Janeiro se encontra implantada nesta

lógica. A cidade está se inserindo em um contexto de “cidade empresa” no qual sua

imagem é primordial para atração de capital, isto acontece porque a cidade vira uma

“mercadoria” e embelezamentos urbanos se fazem necessários, como a distribuição

esculturas, museus e edifícios de elevado padrão, atraindo aqueles que têm

condições de escolher onde viver ou trabalhar.

O fechamento do terminal rodoviário Mariano Procópio, que se localizava

na Praça Mauá, para ser substituído pelo Museu de Arte do Rio (MAR) e a Escola do

Olhar está ligado ao conceito de “cidade empresa”. Desta forma, grande parte da

população de trabalhadores que realizava deslocamentos pendulares cotidianos terá

sua rotina alterada e passarão a frequentar outras áreas que estão fora da área de

interesse do projeto traçado pela prefeitura do Rio de Janeiro.

Este trabalho possui como objetivo principal a produção de uma análise

crítica referente às espacialidades concernentes ao processo de gentrificação da zona

portuária da cidade do Rio de Janeiro, executado pelo Consórcio Porto Maravilha.

O projeto propõe, ainda, associar as espacialidades que estão sendo

modificadas pelas obras que a região estudada está sofrendo com o conceito de

“cidade empresa cultural”.

Dentre as análises contidas no projeto, está sendo estudada uma

redistribuição espacial de pessoas, devido à especulação imobiliária e ao aumento

do valor do solo. Paralelo a isto temos impactos sofridos, principalmente, pelo

comércio local e pela população proveniente da baixada fluminense, cujo teve seus

ônibus deslocados da área de maior interesse do consórcio Porto Maravilha, a Praça

Mauá (onde se localizava o terminal rodoviário Mariano Procópio), em até 500

metros, ficando espalhados em pontos provisórios na Av. Venezuela.

Segundo Arantes (2007) “a cultura surge como uma espécie de isca,

capaz de atrair o investimento privado, subordinando, mesmo, o interesse público e

promovendo a especulação, nomeadamente a imobiliária.” Ou seja, ainda segundo a

autora, há um “culturalismo de mercado”, em que a centralidade da cultura é cada

vez mais comandada pela consolidação da “cidade-empresa-cultural”.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Com o período da globalização atingindo níveis complexos o consumo

passa a ser crescente e consequentemente a cidade passa a ser observada como

uma mercadoria disponível a tal consumo.

Feitas algumas considerações, a “imagem” passa a ser o principal

motivador do consumo de uma considerada cultura. Neste aspecto o conteúdo

socioeconômico das cidades passa a conviver com grandes alterações. O solo teve

uma utilização mais densa em conjunto com a valorização de certas áreas, que dão

base ao termo “cidade mercadoria-total” feita por Arantes.

O trabalho de planejadores urbanos e dos provedores culturais na

formação da cidade como uma mercadoria responde a pergunta de “quem faz a

cidade?” e “para quem se faz a cidade?”. Os grandes estruturadores e

reorganizadores das cidades passam a ser as grandes empresas que as moldam de

maneira a atrair aqueles que têm o poder da escolha e o capital cultural para as áreas

favorecidas.

Nesse sentido a questão imobiliária recebe novos aspectos no que diz

respeito a valorização. As áreas em que se encontram as grandes obras de

infraestrutura e de revitalizações irão receber pessoas com o poder de “consumo

cultural”. Para isso deve-se estruturar espacialmente de acordo com a necessidade

desse grupo social que irá consumir a “cidade-mercadoria”.

Este trabalho procurou levantar e compreender as desigualdades

territoriais, oriundas de uma política de desenvolvimento urbano caracterizado pela

estratificação e segregação espacial da população vinda da Baixada Fluminense, em

ônibus intermunicipais, da principal área de interesse de refuncionalização na zona

portuária do Rio de Janeiro, através do consórcio Porto Maravilha.

A população mencionada acima, cerca de 5 milhões de pessoas,

diariamente, em dias comerciais, foi realocada em até cerca de 500 metros do antigo

terminal rodoviário Mariano Procópio, ficando em pontos provisórios no decorrer da

Avenida Venezuela. No espaço onde ficava o terminal, na Praça Mauá, serão

construídos o museu Mar e a Escola do Olhar, além de ficar próximo do Museu do

Amanhã (que será erguido no Píer Mauá).

Este caso de deslocamento territorial sofrido por moradores da baixada

fluminense, para sua posterior substituição por outra classe populacional, mais

abastada, está sendo motivado por uma estratégia de (re)valorização do solo urbano

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

em áreas de interesse no centro da cidade do Rio de Janeiro. Um caso nítido de

gentrificação.

ARANTES, O. VAINER, C. MARICATO, E. (org.) A Cidade do Pensamento Único

desmanchando consensos. Petrópolis: Vozes, 2007. 2ª ed. 192p.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Thiago Rodrigues Leite [email protected]

Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba

Palavras-chave: Valorização, espaço, urbano, centralidade, cotidiano

A cidade de Sorocaba, situada aproximadamente a cem quilômetros da

metrópole de São Paulo, apresenta atualmente um expressivo processo de

diversificação e intensificação de sua economia. Concomitante à consolidação desta

cidade como importante polo regional do setor terciário, observa-se profundo

incremento dos negócios associados ao setor imobiliário e da construção civil.

A cidade de Sorocaba vem se caracterizando como um “verdadeiro canteiro

de obras” e seus principais eixos de expansão urbana são observados nos setores

norte e leste do Município. Nesta pesquisa, propõe-se a análise e compreensão do

processo de valorização espacial e formação de uma nova centralidade no eixo de

expansão urbana definido pela Avenida São Paulo, na denominada Zona Leste da

cidade de Sorocaba, também conhecida como “Além Ponte”.

Além da valorização imobiliária, expressa pelo processo de verticalização,

pelo aumento da oferta de serviços e a boa acessibilidade (proximidade com a

Rodovia Raposo Tavares à leste e com a Avenida Dom Aguirre, marginal do Rio

Sorocaba, a oeste), a Zona Leste da cidade se destaca ainda pelos atributos de

ordem ambiental. A área de estudo se encontra no vetor sudeste do Município, onde

se configura importante Área de Proteção Permanente (APP), relacionadas às áreas

de proteção aos mananciais.

1 Projeto financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Ou seja, ao mesmo tempo em que o atributo natural a ser preservado

(nascentes, cursos d’água, matas galerias) dificulta a implantação de

empreendimentos associados à expansão urbana, este mesmo atributo valoriza

ainda mais este espaço. Por sua vez, observa-se o desencadeando de um maior

interesse por parte das classes sociais mais elevadas em residir e estar neste setor da

cidade. O setor imobiliário e de construção civil vislumbram possibilidades de

sucesso com seus empreendimentos que, além de serem apresentados como

modernos, também possuem os atributos de valorização associados à “qualidade

ambiental”. Essa problemática vem sendo abordada pelo Plano Diretor de Sorocaba

que reúne dirigentes e estudiosos de várias áreas do conhecimento, no sentido de

rediscutir as diretrizes do crescimento urbano e suas consequências.

Pelo fato da Zona Leste ter se transformado drasticamente num período

relativamente curto de tempo, propõe-se no escopo desta pesquisa a análise das

etapas que desencadearam esse processo de valorização espacial, seus impactos

urbanos, econômicos, ambientais e sociais. Associado ao processo de valorização

imobiliária, propõe-se a análise e compreensão da configuração de uma nova

centralidade urbana que se consolida no eixo definido pela Avenida São Paulo, uma

das principais vias de acesso à cidade (com acesso ao centro histórico pela Rua XV

de novembro, percurso que define um dos trechos do antigo “caminho das tropas”).

Estas considerações têm como base o processo de ocupação que já ocorre com

grande força no setor imobiliário (principalmente condomínios de alto padrão), o

início do processo de verticalização que e a terceira ampliação do shopping Granja

Olga, além das galerias e serviços variados que estão buscando esse eixo de

expansão urbana em Sorocaba. Por sua vez, este setor da cidade apresenta uma

densa e fina rede hídrica com matas galerias que englobam áreas de nascentes da

bacia do Rio Sorocaba. Observa-se que o atributo ambiental tem sido mobilizado

para o marketing dos condomínios fechados que, gradativamente, avançam sobre a

cobertura vegetal que aos poucos vai se restringindo às matas galerias de fundo de

vale.

A delimitação do recorte de estudo foi feita entre duas vias, a Avenida

Nogueira Padilha e a Rodovia José Hermínio de Moraes (Castelinho). O foco do

estudo está baseado no desenvolvimento que vem ocorrendo nas margens da

Avenida São Paulo, a qual entra em conjunção com a Raposo Tavares. Essas vias de

ige.unicamp.br/cact/semana2012

circulação tem um papel norteador do crescimento da mancha urbana em relação à

organização espacial encontrada na Zona Leste do Município de Sorocaba (Figura 1).

Entre as referências analisadas, o embasamento teórico tem como central as

contribuições de Lefebvre (2008) que norteou as escalas de análise desta pesquisa.

Neste trabalho, a concepção do urbano foi trabalhada em níveis e dimensões, como

o mesmo descreve no capitulo “Análise Espectral” em sua obra “A Revolução

Urbana”.

Assim, analisamos o crescimento urbano e possíveis tendências de

transformação dos níveis. O nível G, correspondendo às influências e interferências

globais nos modos de produção e transformação do espaço; o nível M,

correspondendo ao nível da especulação e ação dos agentes imobiliários, esses por

sua vez fazem a mediação entre os níveis G e o P, sendo este último o nível privado,

das relações sociais mais próximas, que correspondem às alterações do próprio

cotidiano.

Este trabalho, embora esteja em andamento, já possui uma série de

resultados parciais dos quais resultaram em hipóteses interessantes que auxiliam a

compreensão do fenômeno urbano e suas peculiaridades a partir do olhar da

Geografia.

Figura 1: A Zona Leste de Sorocaba e seus principais eixos. Elaboração: Ariane Borges Falleiros Pini, 2012

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Deyse Fabrício [email protected]

Douglas Souza [email protected]

Gabriel Lima [email protected]

Jonathas Paghi [email protected]

Viviane Gomes de Araújo [email protected]

Frederico Zilioti Amorim [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: mídia, globalização,trabalho de campo

O presente artigo aborda o trabalho realizado na Escola Estadual Felipe

Cantúsio, em Campinas, no período de agosto de 2011 a julho de 2012, como parte

das atividades programadas no subprojeto PIBID-Geografia da Unicamp, que está

subdivido em três grandes eixos temáticos, a saber: globalização, modernização da

agricultura e grandes obras. Dentre estes eixos, o presente trabalho focalizará o

primeiro, isto é, a globalização, tendo como objetivo principal refletir sobre as

contradições do espaço produzidas na cidade de Campinas, utilizando como

metodologia intervenções em sala de aula em uma turma do segundo ano do Ensino

Médio, por meio de dinâmicas de discussões, visando à apresentação do programa,

das propostas de atividades, dos anseios e, sobretudo, a abertura para

questionamentos de novas propostas de observação e estudos dos processos de

construção paisagística de Campinas, que desde o século XIX, foi adquirindo a sua

importância nacional e, na atualidade, uma importância mundial.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Para a realização das intervenções em sala de aula, onde sempre havia

um docente da escola presente, por meio dos diálogos pré-estabelecidos entre a

Escola Estadual Felipe Cantúsio e o grupo PIBID Geografia – Unicamp precisávamos

de algo que realmente atraísse os alunos, ou seja, em primeiro lugar buscávamos

sempre organizar a sala de aula de formas diferentes: às vezes em pequenos grupos

de quatro pessoas, ou também se fazia um grande círculo de discussões, ou ainda, a

sala poderia manter-se na sua forma original, mas com os bolsistas sempre

próximos aos alunos, não para vigiá-los, mas para incitá-los a conversarem e

trocarem ieéias, compartilhando suas impressões sobre Campinas e os resultados

das reflexões realizadas em grupo.

Como resultado desta dinâmica, conseguimos que os alunos nos

ouvissem e que expressassem alguns conceitos geográficos, como o de paisagem,

que foi amplamente trabalhado considerando que o tema geral do subprojeto de

Geografia no PIBID se dedica à compreensão e leituras de mundo a partir das

paisagens e dos sons da cidade.

Para melhor aproximar os conteúdos programáticos com o eixo temático

em tela – globalização - e com a categoria geográfica paisagem propusemos a

realização de um trabalho de campo, aproximando, então, a teoria e a realidade,

possibilitando uma formação baseada na práxis. Consideramos o trabalho de campo

como uma atividade empírica capaz de revelar a contradição de desenvolvimento no

terceiro mundo, onde os alunos puderam se deparar com uma realidade que é

próxima do seu cotidiano, e o nosso papel foi o de possibilitar olhares diferentes

àquelas paisagens que transmitem presente, passado e futuro da cidade.

A escolha pelo estudo das paisagens não foi por acaso, pois somente no

contexto da paisagem foi que pudemos trabalhar os processos históricos da

formação sócio-territorial da cidade de Campinas.

O trabalho de campo

O trabalho de campo abordou vários pontos da cidade de Campinas, a

saber: Aeroporto de Viracopos, Parque Oziel, o Swiss Park, o Cemitério da Saudade e

o estádio da Ponte Preta. No início do campo foi distribuído um roteiro para os

alunos escreverem suas considerações prévias sobre esses pontos da cidade. Além

desses pontos previamente selecionados, durante todo o trajeto no trabalho de

campo abordamos as relações sociais que se instauram no espaço e, por isso,

percebemos também as desigualdades presentes em Campinas. Isso ficou nítido

ige.unicamp.br/cact/semana2012

quando abordamos o Parque Oziel e o Swiss Park. Também foram trabalhados os

conceitos de centro e periferia, pois o Parque Oziel não fica distante do centro de

Campinas. Por isso, o conceito se encaixa não apenas na distância, mas inclui a

carência em infraestruturas.

No aeroporto abordamos as fases de industrialização de Campinas até

chegarmos à época mais recente, de globalização e a interação que o aeroporto

estabelece entre Campinas e o mundo, exportando e importando produtos com alta

tecnologia agregada. Foram discutidas questões acerca das iniciativas do PAC, para a

ampliação do aeroporto e as consequentes desapropriações no Jardim Campo Belo.

Breve reflexão sobre os trabalhos apresentados e considerações finais

Após a realização do trabalho de campo pedimos para os alunos

elaborarem uma sistematização de duas páginas, abordando os pontos visitados,

bem como a elaboração de um croqui. Lembramos, também, que durante o trabalho

de campo distribuímos aos alunos um roteiro com várias imagens extraídas do

Google Maps sobre os lugares a serem visitados.

Os trabalhos entregues pelos alunos foram muito satisfatórios, embora

possamos perceber alguns erros de ortografia e de acentuação. A princípio, era para

entregar duas páginas e mais um desenho. Os grupos, porém, extrapolaram esse

limite, discorrendo em várias páginas sobre o tema abordado.

Dessa maneira encerramos nossas atividades com os alunos por esse

semestre, ressalvando a importância dos trabalhos de campo na disciplina

geográfica. Para entendermos melhor a complexidade das relações entre a sociedade

e a natureza os trabalhos de campo se mostram muito oportunos, nos colocando,

através de um conhecimento prático, em interação com nosso objeto de estudo. “É

preciso apreender a prática, a técnica, a pesquisa, a ciência e a reflexão do trabalho

de campo. É preciso compreender a dimensão do humano em Geografia (...)”

(SILVA, 1982, p.53).

SILVA, A. C. Natureza do trabalho de campo em Geografia Humana e suas limitações. In: Revista do

Departamento de Geografia. São Paulo: USP, 1982, n. 1, p.49-54.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Débora Resende Cordeiro [email protected]

Alison Alves [email protected]

Angélica Ribeiro [email protected]

Giovanni Miranda [email protected]

Greisse Castro [email protected]

Universidade Federal de Minas Gerais

Palavras-chave: ensino-aprendizagem, EJA, docentes, Geografia, saberes, alunos

Na UFMG, os projetos voltados para a rescolarização de jovens e adultos,

em seus estados incipientes, foram estruturados por professores da Faculdade de

Educação e da Faculdade de Letras a fim de alfabetizar os funcionários da própria

universidade. De meados da década de 1980, que datou o surgimento dos projetos,

ate o presente, a EJA (Educação de Jovens e Adultos) na UFMG foi alvo de profundas

modificações e interrupções. Entretanto, não foram constatadas mudanças na

estrutura básica dos projetos de educação de jovens e adultos, que pautam pela

priorização da escolarização e rescolariazação de jovens e adultos e a formação

docente de monitores-professores, bolsistas amparados pelo PROEX, PRORH e

CEALE. A educação de jovens e adultos não se limita apenas à aquisição de códigos,

que é a fase inicial da alfabetização, inerente à leitura e à escrita, mas também

possibilita esse cidadão a exercer plenamente a sua cidadania fazendo uso desses

códigos de forma social. Por esse aspecto a escolarização de jovens e adultos na

UFMG apresenta uma proposta diferenciada de alfabetização ímpar, e estranha ao

ensino regular.

A alfabetização de jovens e adultos na UFMG se ramifica em três

projetos: PROEF-1, PROEF-2 e PENJA. O PROEF (Projeto de Ensino Fundamental de

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Jovens e Adultos) se subdivide em 2 segmentos, sendo o que o PROEF-1 trata da

escolarização equivalente às 1ª a 4ª séries e o PROEF-2 da continuidade ao ensino

fundamental abordando os conteúdos referentes às 5 a 8 séries. Por fim, o PEMJA

(Projeto de Ensino Médio de Jovens e Adultos) conclui o ciclo da educação básica

abordando todo o conteúdo do Ensino Médio.

Para esse trabalho pretende-se priorizar o trabalho desenvolvido no

PROEF-2, que é um projeto de extensão e ensino ligado à Pró-Reitoria de Extensão da

UFMG que além de proporcionar a formação mútua entre professores-monitores,

alunos dos cursos de licenciatura da UFMG, e adultos em processo de escolarização,

também oferece condições para pesquisa e produção de conhecimento por parte de

educadores e coordenadores que estudam os processos referentes ao EJA.

No PROEF-2 a proposta para o ensino de Geografia é constantemente

reformulada e fruto de discussões e debates entre os professores-monitores e os

coordenadores de área que se ocupam em relatar e discutir algumas vertentes

teóricas e a prática dentro de sala de aula. A educação geográfica no projeto é

estruturada a base de uma visão que os membros envolvidos têm de geografia e de

ensino-aprendizagem em harmonia com as normas gerais do PROEF o que o

particulariza de outros cursos voltados para a educação de jovens e adultos. A

concepção de Geografia que se pretende passar para os alunos é a de ciência sócio-

espacial preocupada em estudar alterações espaciais que se dão no âmbito do

espaço geográfico e se concretizam na paisagem. Assim, objetiva-se estudar a

produção do espaço geográfico que se da pelas alterações sofridas no meio natural

pelas relações sociais em diferentes contextos históricos, mediadas pelo trabalho e

motivadas pela constate luta pela sobrevivência humana. Desse modo, é relevante

ressaltar as mais variadas relações dos elementos físicos e sociais para entender a

Geografia como ciência sócio-espacial. E para incitar no aluno certo domínio da

linguagem geográfica, ele deve sempre estar em contato com os procedimentos

metodológicos da construção de conhecimentos geográficos, trabalhar sempre com

a noção de escala dos fenômenos e dominar aspectos inerentes à localização e

orientação e às categorias da Geografia. Para tanto, sempre é viável o uso da

cartografia como forma de representação do espaço geográfico, dentre gráficos e

tabelas que os aproximam com o conhecimento geográfico.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Através dessa abordagem, os membros do projeto acreditam que

possam proporcionar ao aluno um entendimento de que a Geografia pode ser capaz

de guia-lo a compreender e reinterpretar o seu dia a dia fazendo o link entre suas

vivências e o que foi exposto no decorrer do semestre. É interessante também que o

aluno passe a tratar a Geografia não como um saber enciclopédico em que são

catalogados os parâmetros exatos de informações precisas, porem desconexas dos

fenômenos e dos países. Pelo contrário, no PROEF-2 é priorizada toda uma

construção de sentidos entre o aluno com o seu saber prévio e o conteúdo abordado,

a fim de que ele possa entender o seu papel como indivíduo e sujeito social do seu

tempo histórico, e a determinar quais são os agentes e os mecanismos envolvidos

no processo de metamorfose do espaço socialmente habitado.

Com o intuito de colaborar com as práticas docentes, esse trabalho

propõe discutir o processo de ensino-aprendizagem na Educação de Jovens e

Adultos (EJA), nas práticas docentes de Geografia. Serão discutidos os saberes que

os jovens e adultos construíram em suas vivências cotidianas e consequentemente

trazem para a escola. Além disso, buscar-se-á entender as várias facetas desses

saberes da vivência desses sujeitos, que podem acarretar diversos diálogos em sala

de aula, mas que podem também causar alguns conflitos durante as práticas

escolares. Isso porque, as práticas docentes são marcadas, sobretudo pelos

conhecimentos acadêmicos. Mas o aluno apreende do professor não

necessariamente o que o outro quer ensinar, mas aquilo que quer aprender. Assim, o

aprendizado do aluno pode ir de encontro aos conhecimentos disponibilizados pelo

professor. Tal proposta se justifica, pois devido à observações, durante as práticas

escolares de Geografia no PROEF II, feitas pela equipe de educadores que, por vezes,

entra em conflito por encontrar dificuldades em trabalhar esses saberes pré-

escolares nas práticas docentes. Portanto, este trabalho pode corroborar para a

discussão da importância do papel das vivências sociais dos alunos como fonte rica

de saberes que devem ser levados em consideração na escola para uma efetiva

aprendizagem da geografia, mas também devem ser bem analisados e dialogar com

os conhecimentos escolares para evitar conflitos e dúvidas durante o processo

educacional. Desta forma, serão apresentadas as percepções dos sujeitos inseridos

nesse processo, tanto aluno, quanto professor.

O aluno da Educação de Jovens e Adultos é um sujeito portador de

uma amplitude de conhecimentos construídos a partir da sua experiência e das suas

vivências. Tendo isto em mente, o objetivo do trabalho é procurar perceber, discutir

ige.unicamp.br/cact/semana2012

e desvendar como este conhecimento do aluno se apresenta para os educadores da

EJA e em especial para os da Geografia. Para tanto, tais saberes serão tratados em

duas perspectivas diferentes. Primeiro como um desafio para o docente, uma vez

que muitas vezes os conhecimentos dos alunos manifestam-se como representações

tradicionais arraigadas em relação à escola e a Geografia, o que pode entrar em

conflito com a proposta do docente e com os próprios conteúdos dessa disciplina.

Segundo como possibilidade de diálogo, pois a experiência do alunado apresenta-se

também na forma de um conhecimento do espaço.

O trabalho objetiva também apresentar e relatar situações concretas,

retiradas de nossa prática como educadores de Geografia na EJA, que evidencie uma

das perspectivas anteriormente citadas. O intuito é perceber como as

particularidades da Educação de Jovens e Adultos e dos seus sujeitos efetivam-se na

experiência do docente e no cotidiano da sala de aula.

Por fim, pretende-se retirar o sujeito da Educação de Jovens e Adultos

desta categorização genérica e abstrata. Para tanto, é necessário conhecer e escutar

estes próprios sujeitos. Sendo assim, conta-se com a participação de alguns alunos

PROEF 2 da UFMG, para que estes relatem sua experiência como alunos da EJA,

apresentando os desafios enfrentados, as suas demandas e esperanças e o impacto

do processo de escolarização em suas vidas. Além disso, pretende-se enfatizar a

relação desses alunos com a Geografia, buscando conhecer as expectativas prévias,

as decepções, a aprendizagem e a contextualização em relação a essa disciplina que

os alunos da EJA apresentam.

Tendo em vista a multiplicidade de fatores que influenciam os processos

do ensino-aprendizagem na EJA, faz-se necessário estabelecer um dialógo entre os

sujeitos destas práticas. Dessa forma, no artigo proposto, pretende-se discutir as

repercussões desses processos para os docentes e em especial para o ensino da

Geografia. Esta se baseará nas discussões sobre os possíveis diálogos e/ou conflitos

entre os saberes pré-construídos que os alunos trazem para a sala de aula e a

Geografia escolar.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

ALVES, Ana Paula Aparecida Ferreira; SAHR, Cicilian Luiza Löwen. Geografia Ensinada – Geografia Vivida? Conceitos e Abordagens para o Ensino Fundamental no Paraná. Florianópolis. 2009.

ROSA, Pedro Senna da; LUTHER,

Alessandra. O Ensino de Geografia na Educação de Jovens e Adutos à Luz da Pedagogia Anarquista. 10º ENPEG – Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia, 2009, Porto Alegre.

BUENO, Thiago da Silva; CALLAI, Helena

Copetti. A Geografia da Vida Cotidiana. 10º ENPEG – Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia, 2009, Porto Alegre.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia.

Saberes necessários à prática educativa. SãoPaulo: Paz e terra, 1996.

OLIVEIRA, Edna de Castro de.

Identidade(s) da EJA: conquistas, desafios e estratégias de luta.UFES/Fórum Capixaba de EJA.

RESENDE, M. S. A Geografia do aluno

trabalhador. São Paulo, Loyola, 1986.

VESENTINI, J.W. Geografia e ensino:

textos críticos. Campinas, Papirus, 1989.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Fernando Zanardo [email protected] Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: Pedagogia Libertária, Anarquismo, Ensino de Geografia

Partindo do conceito de Pedagogia definido por Libâneo (1993, p.52),

compreendemo-la como uma “concepção de direção do processo educativo

subordinada a uma concepção político-social”. Desta forma, pode-se dizer que

haveria tantas pedagogias quanto há diferentes concepções de Homem e de

sociedade, tornando perfeitamente plausível tratarmos de uma Pedagogia Libertária,

embasada no escopo teórico do Anarquismo.

Tomando-se seu significado etimológico, tal vocábulo é derivado

duplamente do grego: a raiz archon, que significa governo ou governante; é

antecedida pelo prefixo an, indicando negação. Sendo assim, o Anarquismo designa-

se pela condição de ausência de um governo ou governante. De maneira a evitar

ainda a sua má interpretação – resultante de processos históricos, sobrecarregando

o termo de definições negativas, sendo geralmente classificado como a negação da

ordem1 – atemo-nos à definição elaborada em 1905 por Piotr Kropotkin que o define

1 Com relação a esta ideia de desordem, Kropotkin dirá: “De que ordem se trata? Trata-se da harmonia com que nós, anarquistas, sonhamos? Da harmonia que se estabelecerá livremente nas relações humanas, quando a Humanidade deixar de estar dividida em duas classes, uma das quais sacrificada em proveito da outra? Da harmonia que surgirá de modo espontâneo da solidariedade dos interesses, quando todos os homens forem uma única e mesma família, quando cada um trabalhará pelo bem-estar de todos, e pelo bem-estar de cada um? Aqueles que censuram a anarquia, dizendo ser ela a negação da ordem, não falam desta harmonia do futuro; falam da ordem tal como é concebida pela sociedade atual” (KROPOTKIN, 2001, p.89). Além disso, a auto-organização sempre foi, e continua sendo, uma matéria muito cara aos anarquistas, extremamente importante. Com relação à discussão sobre o duplo sentido atribuído ao termo Anarquismo – positivo e negativo –, consultar Silvio GALLO, Anarquismo: uma introdução filosófica e política (Rio de Janeiro: Ed. Achiamé, 2006).

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

como um princípio ou uma teoria de vida e do comportamento (muito além da

Política ou da Economia),

que concebe uma sociedade sem governo, em que se obtém a harmonia, não pela submissão à lei, nem obediência à autoridade, mas por acordos livres estabelecidos entre os diversos grupos, territoriais e profissionais, livremente constituídos para a produção e consumo, e para a satisfação da infinita variedade de necessidades de um ser civilizado (KROPOTKIN, 1987, p.19).

Certamente o aspecto mais fecundo do Anarquismo encontra-se na sua

multiplicidade de pontos de vista. É baseado nessa incapacidade de se classificar

suas diversas tendências como algo “abstrato e definido, conceitualmente manejável

e concretamente perceptível” (COSTA, s.d.: 140) – ou seja, impossibilitando sua

classificação como uma mera doutrina ou seguindo a lógica de um programa

preestabelecido, o que acabaria por transformá-lo em uma reles matéria morta de

pensação2 – que geralmente considera-se este pensamento-prático em seu caráter

plural.

Calcando-se no princípio de liberdade como resultante de uma construção

social, o Anarquismo atribuiria ao ensino um papel fundamental neste pretenso

processo, uma vez que é através dele que as pessoas entrariam em “contato com

toda a cultura já produzida pela humanidade”. Sendo a liberdade um “fenômeno

social, de cultura, o contato com o produto da civilização é indispensável para sua

conquista” (GALLO, 1995, p.27). Caberia ao Homem, portanto, “adquirir novas

qualidades sem perder, ou melhor, reencontrando as qualidades de seus

antepassados” (CODELLO, 2007, p.204).

A principal premissa da Pedagogia Libertária estaria no fato de que

(...) o mais importante é ensinar às crianças como estudar. Ajudar as pessoas a desenvolver sua capacidade crítica e torna-las aptas a saber o que fazer com o conhecimento e não engoli-lo de qualquer maneira. A capacidade de ensinar o que as pessoas precisam aprender para sobreviver, e oferecer a elas os meios de satisfazerem suas necessidades –

2 Utilizamo-nos do neologismo “pensação” por acreditarmos que ilustraria melhor o caráter combativo do Anarquismo, uma vez que está completamente fora de cogitação o desenvolvimento de uma teoria anarquista sem a sua aplicação prática; da mesma forma que não pode haver uma verdadeira prática que não seja sustentada pela mesma teoria. A “pensação” traduz este caráter dual da teorização - ou pensamento - e da ação.

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é isso o que entendemos como as bases de uma pedagogia não-autoritária (FREIRE & BRITO, 1987, p.41-2).

Tomando como base esta assertiva, observamos o que Francesc Ferrer i

Guàrdia, idealizador da Escuela Moderna de Barcelona, irá desenvolver como prática

pedagógica nessa sua experiência. Contrastando com o que era oferecido à época3 e

mantendo um pulsante desejo de criar uma escola que fosse verdadeiramente livre,

sem as interferências do Estado e da Igreja, utilizou-se, para tal, de um Racionalismo

científico com a finalidade de minar o dogmatismo religioso e nacionalista que

imperava então.

Dentre as principais inovações metodológicas dessa experiência,

encontramos a coeducação entre sexos e entre classes sociais, com a finalidade de

não antecipar “nem ódios, nem adesões nem rebeldias” (FERRER I GUÀRDIA, 2010,

p.16); a não aplicação de exames probatórios, não existindo a necessidade de

prêmios ou castigos por partir de princípios de solidariedade e de igualdade, uma

vez que o ensino não pode ser predeterminado, sendo impossível definir-se a

aptidão ou incapacidade individual; a educação de higiene, principalmente devido às

péssimas condições em que se encontravam os ambientes de trabalho e nas

próprias moradias, “apresentando a sujeira como causa de enfermidade (...), e a

limpeza como agente principal de saúde” (FERRER I GUÀRDIA, 2010, p.19); a troca

de materiais entre escolas, como livros, cartas ou até mesmo a visita de grupos

estudantis a outras escolas; e a necessidade de formar professores racionalistas que

pudessem dar continuidade ao trabalho que vinha sendo realizado pela Escola

Moderna, uma vez que elas não eram laicas, “mas sim antiestatistas, anticapitalistas

e antireligiosas” (SAFÓN, 2003, p.38).

Dentro das inovações citadas, havia o completo apoio de Élisée Reclus.

Apesar de compulsoriamente esquecido pela Academia por não partilhar da visão

ortodoxa da burguesia e de suas conquistas coloniais, ele foi um influente pensador

3 Para se ter uma ideia de como era o ensino na Espanha de então, reproduzimos o seguinte trecho: “No início do século, a Espanha contava com 72% de analfabetos em sua população. Em 1909 (ano do assassinato de Ferrer), 30.000 vilarejos não tinham escola. A Igreja possuía 80% do ensino privado: 294 comunidades religiosas de ensino para a educação de meninos e 910 para a educação de meninas. Só na cidade de Barcelona as escolas confessionais elevavam-se a 489, contra 137 não confessionais, estatais ou privadas, as quais acolhiam apenas 20.000 alunos sobre uma população de 60.000 crianças a escolarizar” (SAFÓN, 2003, p.24-5).

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

e ativista, caracterizando-se como um dos precursores da Geografia crítica. No

entanto, irá se opor ao fato de a Escola Moderna se utilizar de livros didáticos

(apesar de serem elaborados pela editora da própria escola), defendendo que “o

ensino oral, sugestivo, dado pelo que sabe aos que compreendem, é o melhor”

(RECLUS, 1903, p.68 – tradução livre).

O senhor entende porque odeio os livros escolares. Não há nada de mais funesto para a saúde intelectual e moral dos alunos. Eles apresentam a ciência como algo feito, terminado, assinalado, aprovado, tornado quase religião, a ponto de transformar-se em superstição. É um alimento morto e que mata (Élisée Reclus apud CODELLO, 2007, p.229).

Chama a atenção à importância de se possuir um método sólido para a

progressão dos estudos particulares, defendendo a atribuição de um caráter de

interdisciplinaridade ao ensino, assim como à Ciência. O verdadeiro método, para

ele, consistiria em “ver, recriar, e não repetir mnemonicamente” (RECLUS, 1903,

p.67 – tradução livre).

Defenderá, sobretudo na ciência geográfica, que o ensino parta do real,

do concreto; para posteriormente alcançar o que é subjetivo, até então inconcebível

às crianças. Também define que antes de se tratar de fenômenos de escala global,

primeiro deve-se trabalhar com o que é local, apresentando uma leitura geográfica

do que circunda a vida das crianças, fugindo do plano puramente teórico, o que

acabaria por demandar um “ato de fé” do estudante, indo a campo para observar os

objetos de estudo diretamente (Reclus, 1903).

Os trabalhos de campo deveriam substituir, portanto, os manuais e

formulários que acabavam afastando os alunos dos livros e da natureza por gerar

desinteresse. “Os programas limitam a inteligência, os questionários ancilosam-na,

os compêndios empobrecem-na e as frases prontas acabam por matá-la

completamente” (RECLUS, 2010, p.33). Ferrer irá se apropriar dessa ideia e a

colocará em prática na sua Escuela Moderna ao propor as excursões.

Com o surgimento dessas escolas no Brasil, tais atividades passam a ser

colocadas em prática, além das proposições em se “abrir espaço aos jogos e à

iniciativa dos próprios alunos” (MORAES, 2009), potencializando a autonomia

estudantil.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Com relação à educação formal, não sabemos até que ponto uma

pedagogia libertária seria possível atualmente, uma vez que o Anarquismo sempre se

posicionou contra a reforma educacional dentro dos moldes do Estado burguês e

defendeu a ideia (princípio proudhoniano) de que “a emancipação dos trabalhadores

só pode ser obra deles mesmos” (GALLO, 1995, p.31).

Sendo o Estado moderno o proprietário dos instrumentos jurídicos,

compete a ele a “potência pública”, devendo promover, dentre outras funções, a

“coerção social em nome da justiça e a organização e desenvolvimento das

instituições que promovem os valores fundadores do contrato [social]” (GOMES,

2010, p.53), sendo a Escola um de seus elementos-chave. Em outras palavras, o que

pretendemos afirmar é que o papel das instituições tende a ser o de mero reprodutor

da sociedade, mantendo os privilégios. Desta forma, a subversão dentro do

ambiente escolar não seria apenas desejável, mas essencial para uma mudança

social efetiva.

CODELLO, Francesco. “A boa educação”: experiências libertárias e teorias anarquistas na Europa, de Godwin a Neill. vol.1. São Paulo: Imaginário/Ícone, 2007.

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

Gustavo H. B. Teramatsu [email protected]

Maico Diego Machado

[email protected] Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: roteiros de campo, ensino de Geografia, ensino de Geociências

O já extinto curso de Ciências da Terra da Universidade Estadual de

Campinas, criado em 1998, era considerado inovador, pois continha um núcleo

comum de disciplinas introdutórias e interdisciplinares que aproximavam a

formação oferecida pelos cursos de Geografia e Geologia. Não é, entretanto, o que

acontece no ensino básico. Um rápido exame aos currículos escolares do Ensino

Médio, por exemplo, comprova que, como indica Toledo (2005), os conteúdos das

chamadas Geociências estão dispersos entre diversas disciplinas como a Física, a

Química, a Biologia e a Geografia, o que "bloqueia os mecanismos de análise de

problemas reais ao não facilitar a relação de conceitos, procedimentos e de atitudes,

trabalhados em diferentes disciplinas do currículo" (COMPIANI, 2007, p. 32).

Os alunos deste nível de ensino, portanto, têm sido formados sem um

verdadeiro entendimento do funcionamento interdependente da natureza e,

consequentemente, não conseguem dimensionar as consequências da degradação

ambiental e o uso dos recursos do planeta. Questiona-se:

1 O presente relato decorre das atividades realizadas ao longo da disciplina Estágio Supervisionado de Geografia II, no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas. Agradecemos ao Prof. Dr. Maurício Compiani, orientador de estágio, à coordenadora pedagógica Márcia Marinho e ao colega Marlon Marchetti, professor de Geografia e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciência da Terra do IG-Unicamp que nos acompanhou na E. E. Francisco Álvares, em Campinas.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Como pode um cidadão ser crítico, interpretar, fazer julgamentos, atuar na sociedade (que basicamente ocupa o ambiente e usa seus materiais e fenômenos), encontrando-se privado de conhecimentos sobre o funcionamento e a organização, a gênese e a evolução do planeta e de seus ambientes e materiais, sobre as interações físicas, químicas e bioquímicas das interferências humanas na natureza? A resposta é: não pode (TOLEDO, 2005, p. 33)

Em outras palavras, com a formação cidadã e holística esperada na

educação básica, os alunos devem entender a sociedade inserida dentro da complexa

dinâmica do sistema terra, o que passa, num primeiro momento, pela compreensão

mais abstrata de que modo as esferas terrestres se relacionam. A partir daí, para

além de uma visão utilitarista e imediatista da apropriação dos recursos naturais,

como aponta Toledo, podem conseguir estabelecer relações entre os ciclos da

natureza e as atividades humanas para, então, entender ambas criticamente. Desta

forma, a compreensão destes conteúdos certamente tem a contribuir para uma

mudança da práxis no que se refere à própria ocupação do espaço geográfico.

Os diversos papéis didáticos dos trabalhos de campo

Neste sentido, defendemos que os trabalhos de campo são

fundamentais para que os alunos obtenham possibilidades de entendimento dos

processos físicos da Terra e do próprio espaço geográfico de um modo

verdadeiramente interdisciplinar. Scortegagna e Negrão (2005) destacam a função

didática do campo na formação do indivíduo e afirmam que estes permitem que os

alunos se posicionem diante do conhecimento científico, confrontando-o com sua

visão de mundo, para construir um saber mais próximo de sua realidade. De fato,

trata-se de etapa fundamental da metodologia da pesquisa geográfica e não pode ser

ignorada na Geografia escolar; ao contrário, deve ser incentivada. Compiani (2007, p.

36) exalta suas potencialidades afirmando que o trabalho de campo “é um excelente

ambiente de ensino e, se bem trabalhado, capaz de questionar a sala de aula

tradicional, fechada por quatro paredes, com um professor em posição inacessível,

distante”. Aponta também que é em campo que o estudante pode observar

evidências, adquirir informações e interpretá-las criticamente.

A elaboração de um roteiro de campo, desde o princípio, deve levar em

conta o exposto por Compiani e Carneiro (1993) que, ao discutirem os distintos

papéis didáticos do campo no ensino de Geologia no que se refere às excursões e

estudos do meio, propuseram uma classificação das excursões geológicas que pode

ige.unicamp.br/cact/semana2012

bem ser aplicada a outras disciplinas, como a Geografia. Considerando critérios

como os objetivos didáticos, a visão de ensino – formativa ou informativa –, o

método de ensino e a relação docente-aluno, entre outros, concluem que as

excursões podem ser divididas entre as seguintes categorias: ilustrativas, indutivas,

motivadoras, treinadoras ou investigativas, mas também enquadradas em mais de

uma delas. Scortegagna e Negrão (2005) avançam incluindo as saídas de campo

autônomas.

Um roteiro de campo ao longo da Rodovia D. Pedro I (SP-065)

Optamos por elaborar um itinerário de campo na região de Campinas a

ser aplicado no Ensino Médio2 e que mesclasse elementos das excursões indutivas e

motivadoras, buscando solucionar um problema – a identificação dos diversos tipos

rochosos como forma de introduzir o tema do ciclo das rochas – e, ao mesmo

tempo, realizar a observação mais ampla da paisagem e valorizar o conhecimento

tácito sobre a área de estudo, já que se tratou de um trabalho de campo realizado

em Campinas (SP) com estudantes ali nascidos3.

O município de Campinas está localizado na transição entre o Planalto

Atlântico e a Depressão Periférica, duas províncias fisiográficas paulistas (AB'SÁBER,

1956). Sendo assim, são perceptíveis na própria paisagem as diferenças, em termos

de litologia, drenagem, relevo e uso da terra, entre os terrenos do embasamento

cristalino e os terrenos dos depósitos sedimentares e basálticos da Bacia do Paraná.

Um roteiro de campo que traduza a diversidade da base física e a situação geográfica

privilegiada comentada acima, portanto, pode ser enriquecedor também do ponto de

vista pedagógico e geográfico, se tais aspectos estiverem relacionados ao contexto

histórico, político e econômico mais recente da ocupação humana, isto é, vinculado

à noção mais ampla de espaço geográfico. Desta maneira, propusemos um percurso

que avança em relação a Lopes (1988) e à sua atividade Geologia à beira da estrada

do Museu Dinâmico de Ciências de Campinas (MDCC), que, em muitos aspectos,

lembra a nossa. Aqui priorizamos os afloramentos mais acessíveis, o que explica a

2 Em 2010, a população em idade escolar entre 15 e 17 anos nos 19 municípios da Região Metropolitana de Campinas era de 130.241 jovens, segundo dados do Censo do IBGE. 3 O trabalho de campo foi realizado na manhã de 28 de maio de 2012 com estudantes da 1ª série do Ensino Médio da E. E. Francisco Álvares, em Campinas, com um roteiro semi-dirigido. Acompanhamos as aulas da

turma ao longo de um semestre. Por fim, os alunos apresentaram seminários temáticos.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

decisão de realizar o roteiro ao longo da Rodovia D. Pedro I. Hornink e Compiani

(2010), por seu turno, sugerem afloramentos da área e indicam orientações básicas,

como a importância de visitar os locais pretendidos durante a elaboração do roteiro,

a autorização dos responsáveis e dos registros da atividade de campo com

cadernetas e fotografias.

Executamos um roteiro (figura 1) com cinco paradas, que pode ser feito

durante um período, sem ser exaustivo, cujo objetivo é discutir a formação dos três

principais tipos de rochas (sedimentares, ígneas e metamórficas) e dos processos

associados, como intemperismo, erosão e formação de solos:

1. Pedreira do Cochilo (Rod. D. Pedro I, km 115) Pedreira desativada com matacões graníticos do Complexo Morungaba (590-560 Ma) em diferentes estágios de decomposição. Itens para discussão: formação de rochas ígneas intrusivas; intemperismo físico e químico; relevo e drenagem associados.

2. Trevo da Leroy Merlin (Rod. D. Pedro I, km 129) Afloramento de gnaisses do Complexo Amparo (2500-1800 Ma). Itens para discussão: metamorfismo e rochas metamórficas.

3. Afloramento próximo ao Shop. Galleria Contato das gnaisses com rochas sedimentares do Sub-grupo Itararé, Grupo Tubarão (290-251 Ma). Itens para discussão: rochas sedimentares; erosão glacial e idade relativa das rochas.

4. Afloramento próximo ao Campinas Hall Afloramento de diabásio intensamente fraturado. (120 Ma) originado por derramamentos sub-superficiais Presença de latossolos férteis. Itens para discussão: Rochas ígneas extrusivas; formação de solos; alteração da paisagem pela ação antrópica.

5. Unicamp Observação da paisagem (5a). Itens para discussão: Mudança das características do relevo; uso e ocupação da terra; erosão e rebaixamento do relevo; análise comparativa dos estágios de evolução do solo. Instituto de Geociências (5b e 5c). Possibilidade de contato com o ambiente universitário. Observação da vitrine de amostras e laboratórios. Discussão final do trabalho de campo.

Considerações finais

A ação no campo de estágio, a começar pelo tempo reduzido, é sempre

limitada. Neste sentido, aproveitamos esta etapa final obrigatória do curso de

licenciatura para ir além de uma pequena intervenção e elaborar o presente roteiro

de campo que ser melhorado por trabalhos futuros. Esperamos, de qualquer

maneira, ter contribuído para a formação desta pequena turma de alunos, mesmo

que apenas demonstrando que o mundo, de tão grande, não pode ser compreendido

apenas entre as quatro paredes de uma sala de aula, e que o conhecimento

geográfico pode e deve ser construído também fora dela.

Figura 1: Proposta de

roteiro de campo ao longo

da Rodovia D. Pedro I, em

Campinas e Valinhos, com

cinco paradas

ige.unicamp.br/cact/semana2012

AB'SÁBER, A. B. A Terra Paulista. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, Associação de Geógrafos Brasileiros, n. 23, jul. 156, pp. 5-38.

COMPIANI, M. O lugar e as escalas e

suas dimensões horizontal e vertical nos trabalhos práticos: implicações para o ensino de Ciências e Educação Ambiental. Ciência & Educação, v. 13, n. 1, pp. 29-45, 2007.

COMPIANI, M.; CARNEIRO, C.D.R. Os

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HORNINK, G. G., COMPIANI, M. GeoVirt

I: Campo virtual das rochas-tipo de Campinas. Geociências Virtual, 18 jun. 2010. Disponível em:

<http://www.ib.unicamp.br/lte/gv/visualizarMaterial.php?idMaterial=1157>. Acesso em: 20 mai. 2012.

LOPES, M. M. Museu: uma perspectiva de

educação em Geologia. Dissertação de mestrado. Campinas: Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, 1988.

SCORTEGAGNA, A.; NEGRÃO, O. B. M.

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TOLEDO, M. C. M. Geociências no Ensino

Médio brasileiro – análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Revista do Instituto de Geociências, Geologia USP, publ. esp., São Paulo, vol. 3, p. 31-44, set. 2005.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Gustavo Vitor Moreira Fialho [email protected]

Universidade Federal de Alfenas

Palavras-chave: ensino, PIBID, docente

Hodiernamente no âmbito acadêmico, especialmente aqui no caso das

licenciaturas, uma discussão tem se tornado frequente no que tange a problemática

teoria/prática.

Os princípios e diretrizes que disciplinam o estágio supervisionado

fundamentam-se na LDB (lei 9394/96), deliberação 12/97 do Conselho Estadual de

Educação, Parecer CNE/CP 09/2001 e Parecer CNE/CP 28/2001. Segundo o Parecer

do Conselho Nacional de Educação (CNE/CP 09/2001), que estabelece as finalidades

do Estágio Supervisionado,

O estágio obrigatório definido por lei deve ser vivenciado durante o curso de formação e com tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões da atuação profissional. Deve, de acordo com o projeto pedagógico próprio, se desenvolver a partir do início da segunda metade do curso, reservando-se um período final para a docência compartilhada, sob a supervisão da escola de formação, preferencialmente na condição de assistente de professores experientes.

Deste modo temos que todos os estudantes de licenciatura estão

obrigados a participarem de atividades de estágio de modo a vivenciarem o dia a dia

do ambiente de trabalho ao qual irão atuar após a conclusão do curso. Entretanto,

verifica-se que mesmo com essa obrigatoriedade essas atividades tem demonstrado

serem bastante frágeis na sua consecução.

[...] Uma preparação pedagógica que conduza a uma reconstrução da experiência por parte do professor-aprendiz pode ser altamente mobilizadora para a revisão e construção de novas formas de ensinar. O diálogo entre a experiência e a história, entre uma experiência e outra (ou outras), o confronto das práticas com as contribuições da teoria, com suas leis, princípios e categorias de análise, num movimento de desvelar, pela análise da prática, a teoria em ação, o processo de investigação da prática, de forma intencional, problematizando-a em seus resultados e no próprio processo efetivado, é um desafio e uma possibilidade metodológica na preparação pedagógica dos docentes universitários (PIMENTA et al. 2001).

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Destarte, o objetivo deste artigo é explicitar as primeiras experiências

vivenciadas em sala de aula através do PIBID Geografia da Universidade Federal de

Alfenas de forma a problematizar a questão da teoria/prática.

Instituído em Junho de 2011 no curso de Geografia Licenciatura da

UNIFAL-MG, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência, PIBID,

sempre teve como concepção a discussão e problematização da práxis do licenciado

em sala de aula.

É um Programa promovido pela CAPES - Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior no Brasil, que visa incentivar a

formação de professores e promover a melhoria da qualidade da Educação Básica,

baseados na articulação integrada dos sistemas de Ensino Superior Federal com o da

Educação Básica pública, numa relação que beneficie ambas as partes.

Assim, em setembro do mesmo ano iniciou suas atividades na Escola

Estadual Samuel Engel na cidade Alfenas. Sendo a equipe composta por 10 alunos

bolsistas, uma professora da escola como supervisora e um professor da graduação

como coordenador do subprojeto.

Ressalta-se aqui que as atividades só começaram em setembro no âmbito

escolar devido ao fato de os professores da rede estadual do Estado de Minas Gerais

estarem em greve por melhores condições de trabalho.

Inicialmente as atividades desenvolvidas foram de acompanhamento do

docente responsável pela disciplina, sendo que a escola conta com 4 professores, e

seu público é composto por alunos do ensino fundamental II e médio.

A partir desse primeiro contato, foi feita uma divisão de horários entre os

alunos bolsistas para que estivessem na escola pelo menos 2 em cada turno durante

toda a semana, ou seja, sempre algum bolsista estaria desenvolvendo atividades no

âmbito da escola.

Como um dos pilares do PIBID Geografia sempre foi o trabalho em

equipe, as atividades desenvolvidas e as experiências cotidianas sempre eram

discutidas e relatadas durante a realização da reunião semanal, contribuindo para a

formação dos participantes.

Com o caminhar das atividades e o aprofundamento das relações com

os professores, foi propiciado o desenvolvimento de planos de aula para serem

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

aplicados em sala de aula, tendo em vista algum tema que o professor estivesse

trabalhando com os alunos.

Trabalhando com alunos do 7º ano (2º semestre de 2011) e alunos do 8º

ano (1º semestre de 2012) ao lado da professora Franciane, consegui compreender

muitas questões que a teoria não era capaz de descrever, situações que só a vivência

da prática possibilitaria.

Foi possível desenvolver atividades que foram uteis aos alunos e

acabaram se transformando em artigos que foram socializados em eventos da

universidade, bem como propiciou um amadurecimento intelectual, mas acima de

tudo humano.

O contexto escolar por excelência é heterogêneo e compreender que

essas diferenças são importantes e devem ser observadas no contexto da sala de

aula faz toda diferença na construção do conhecimento.

Nessa perspectiva umas das primeiras atividades desenvolvidas foi fazer

uma pesquisa socioeconômica por amostragem com os alunos, para compreender e

melhor identificar o público da escola em que estaríamos atuando. Com esses dados

fica mais fácil verificar as metodologias que poderiam ser empregadas.

Os bolsistas desenvolveram um questionário on-line no qual os alunos

da escola puderam responder questões sobre sua percepção sobre a escola e o

ensino de Geografia. O levantamento foi feito a partir de amostragem de

30%, totalizando 281 alunos do ensino médio e fundamental nos turnos matutino e

vespertino.

Outra atividade desenvolvida junto a comunidade escolar diz respeito a

atividades em comemoração ao dia da árvore, onde cada turma da escola deveria

escolher uma árvore frutífera para plantar na escola, sendo que as característica

delas foram trabalhadas com os alunos.

Juntamente com a professora Franciane foi elaborado um projeto que

tentou desenvolver uma prática que tirasse a abstração dos seguintes conceitos:

densidade demográfica, país povoado, país populoso, população absoluta e

população relativa. Esse projeto acabou mostrando-se eficaz no seu objetivo tendo

se tornado um artigo publicado na II Semana de Socialização do PIBID da UNIFAL-

MG com o título de “Conceitos Demográficos: aspectos metodológicos aplicados no

contexto da prática escolar”.

Outro grande projeto desenvolvido pelo PIBID junto a escola,

denominado de “Concurso Cultural”, buscou trazer para a realidade escolar a prática

ige.unicamp.br/cact/semana2012

do trabalho de campo, realidade no contexto acadêmico, ainda é pouco utilizado na

educação básica.

Destaca-se aqui que em muitas ocasiões essas atividades não ocorrem

no contexto escolar, devido à estrutura existente nas escolas. Assim a sua realização

só foi possível devido à estrutura existente no PIBID, que dispõe de recursos

orçamentários e bolsistas que têm uma carga horária semanal para se dedicar à sua

consecução.

O concurso consistiu na discussão sobre os aspectos físico-sociais-

ambientais através de debates relacionados aos temas da Conferência das Nações

Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, onde seriam selecionados 35

alunos para participar das atividades de campo, que foram realizadas no perímetro

urbano de Alfenas, MG, no Complexo Minerador de Itabira, MG, (Cia. Vale) e no

Aquário da Bacia do Rio São Francisco na cidade de Belo Horizonte, MG.

Como primeira atividade realizada do 2º semestre de 2012 os pibidianos

participaram “Uso Didático das Plataformas de Mapeamento do Sistema Google

(Maps, Earth, Mapmaker)” com carga horária de 16 horas, já contando com a

participação dos novos bolsistas, já que o subprojeto de Geografia da UNIFAL foi

ampliado, atendendo agora três escolas e contando com 30 bolsistas.

Como fica demonstrado os alunos bolsistas tiveram a oportunidade de

estarem inseridos e conseguiram interagir muito mais dentro do ambiente escolar se

tornando parte daquele grupo por que houve um sentimento de pertencimento, e

consequentemente a necessidade de transformação foi algo a ser concretizado.

Esse artigo tenta demonstrar que quando é oportunizada algumas

condições a formação docente pode ser mais aprazível e interessante para o aluno

da licenciatura, estimulando a sua continuação na área e a busca por novos modos

operandi.

Entretanto, não se procura aqui de forma alguma ser um contraponto a

prática do estágio curricular, mas sim demonstrar que ele pode ser complementado

com atividades e estruturas de forma a cumprir a sua função integralizadora entre

prática/teoria.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Ou seja, PIBID e estágio curricular são processos de prática profissional

docente com estruturas diferentes, que aliados se mostraram mais eficazes,

ampliando os resultados a que se propunham.

Nesse sentido, fica claro que é de suma importância que os futuros

professores estejam desde o início da graduação na escola, se envolvendo no

cotidiano desta de forma a já compreender a dinâmica que a envolve, para quando

se emancipar da faculdade esteja o mais adequadamente preparado para

desenvolver sua profissão.

PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos; CAVALLET, Valdo José. Docência no ensino superior: construindo caminhos. In: Revista Educação & Linguagem – Revista da Faculdade de Ciências da Educação e Letras da Universidade Metodista de São

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

Josineide Kaline da Silva [email protected]

Maria José Alexandre da Silva

[email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Palavras-chave: educação ambiental, extensão, percepção

A sociedade é fortemente influenciada para o consumo e, ao mesmo

tempo, os indivíduos não se informam quanto ao destino final das embalagens de

alguns produtos, que em muitos casos, acabam sendo descartados como lixo e

jogados em lugares impróprios, ocasionando com isso degradação ambiental.

A educação ambiental é um tema bastante difundido em decorrência da

relação estabelecida entre as ações da sociedade e as futuras consequências trazidas

para o meio em que vivemos.

A educação ambiental surgiu como uma forma de encarar o papel do ser humano no mundo. Na medida em que parte de reflexões mais aprofundadas, a educação ambiental é bastante subversiva. Na busca de soluções que alertam ou subvertem a ordem vigente, propões novos modelos de relacionamento mais harmônicos com a natureza, novos valores éticos (PÁDUA, 1999).

Sachs (2000), em seu livro Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável,

foi enfático ao afirmar que a sustentabilidade tem certa unidade e que sua

dinamicidade está na harmonização das dimensões social, política, econômica,

ecológica, ambiental, territorial e cultural. Para esse autor, em última instância, o

desenvolvimento depende da cultura do povo, na medida em que implica a invenção

de um projeto.

Não se pode deter-se unicamente em aspectos sociais e econômicos,

negligenciando as relações e dimensões complexas entre o porvir das sociedades

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

humanas e a evolução da biosfera. Na realidade, esse autor está querendo dizer que

existe uma coevolução de dois sistemas que se regem por escalas espaciais distintas.

Para ele, a sustentabilidade, no tempo das civilizações humanas, vai depender da

capacidade desta de se submeterem aos preceitos da prudência ecológica e de

fazerem um bom uso da natureza. É por isso que ele fala de desenvolvimento

sustentável, dizendo que, a rigor, a adjetivação do termo deveria ser desdobrada em

socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado no

tempo (SACHS, 2000, grifo do autor).

Este trabalho visa relatar as atividades de extensão cujo enfoque é a

Educação Ambiental desenvolvidas no Assentamento Aracati- Touros/RN mostrando

os desafios e conquistas enfrentados na comunidade em relação à percepção

ambiental deles quanto aos problemas enfrentados em seu cotidiano.

Do ponto de vista metodológico, o estudo baseia-se no uso da pesquisa

bibliográfica e do trabalho de campo por meio de levantamentos de informações

inerentes aos impactos ambientais existentes no assentamento, que foram

adquiridos por meio de entrevistas semiestruturada, contendo perguntas abertas e

fechadas.

Podemos notar que a comunidade enfrenta vários problemas

socioambientais, relacionados ao destino final do lixo, ao uso de agrotóxicos em

plantações, entre outros. Isto desencadeou a aplicação de atividades que

mostrassem a importância da preservação do meio ambiente, o que foi possibilitado

através da sensibilização ambiental:

Assim conscientização é um processo de reflexão histórica e ação concreta

que implica opções política e articula conhecimentos e valores para a

transformação da relação homem-natureza estabelecidos pela história

complexa das relações sociais. Esse processo é histórico e concreto, e não

imediato. Conscientização não é um resultado imediato da aquisição de

conhecimento sobre os processos ecológicos da natureza, apropriado

pelos indivíduos; é uma reflexão filosófica e política carregada de escolhas

históricas que resultam numa sociedade sustentável, (TOZONI-REIS

p.100, 2004).

Concluímos que sensibilizar a comunidade e inserir a educação

ambiental aos poucos no cotidiano dos indivíduos é de grande importância, pois o

espaço geográfico deve ser compreendido e interpretado em sua totalidade, para que

isso ocorra é necessário que os assentados percebam novas práticas sociais com

relação ao meio ambiente, repensando suas ações podendo valorizar e preservar a

diversidade ambiental existente a nossa volta. A partir de pequenas ações locais.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. (O Mundo, Hoje, v. 24)

ISNARD, H. O espaço geográfico. Coimbra: Livraria Almedina, 1982.

JESUS, T., de. Cidadania, gestão municipal e responsabilidade ambiental. In: SEABRA, GIOVANNI (Org.). Educação ambiental. João Pessoa: Editora universitária da UFPB, 2009. p. 155-169.

MINAYO, M. C. S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. In: Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 1994.p.9-28.

RELPH, E. As bases fenomenológicas da geografia. Geografia, Rio Claro, v.4, n.7, p. 1-25, abr. 1979.

SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Garamond, 2000.

TOZONI-REIS, M., F., C. Educação Ambiental: natureza, razão e história. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.

VEIGA, J. E. da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. 220 p.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Luciano Guimarães de Souza

[email protected] Faculdade de Formação de Professores

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Palavras-chave: ensino de Geografia, práticas sócio-espaciais

Este trabalho é baseado em nossas experiências em sala de aula, através

do Programa Institucional de Iniciação a Docência (PIBID), financiado pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), no Instituto

de Educação Clélia Nanci em São Gonçalo, nas turmas do 7°ano, e de nossas leituras

a partir de um pensamento que nos persegue constantemente, no sentido de ter

uma leitura analítica mais aprofundada sobre o ensino de Geografia em sala de aula.

E num sentido geográfico mais crítico, queremos aqui considerar alguns pontos no

que tange aos aspectos relevantes para nossa análise. Nossos esforços intelectuais

se deram a partir de uma reflexão bastante intrigante que nos fez pensar, o porquê

desse total desinteresse pela Escola e em especial, sobretudo pela Geografia? O

objetivo deste trabalho é trazer para luz do debate algumas considerações sobre o

tema aqui proposto com um olhar considerando o aluno em si e seus aspectos

sociais e intelectuais no sentido que consideramos ser de extrema importância suas

práticas sócio-espaciais. E para tal, apontaremos alguns aspectos no sentido de

mostrar algumas questões do que a princípio esperamos que seja trabalhado no livro

didático e nosso intuito é de colaborar e não de corrigir, mas de propor outras

possibilidades na formulação do livro didático no que diz respeito ao aluno e que se

possam levar em conta suas práticas sócio-espaciais. Com isso colaborar para

que o aluno se reconheça nesse livro, trazendo-o para dentro desse contexto escolar

e finalmente que ele possa a partir disso ter um interesse pela Geografia e pela

escola, queremos ressaltar aqui que o aprimoramento do livro didático escolar é de

suma importância para o aperfeiçoamento do ensino-aprendizado do aluno de

Geografia nas Escolas públicas. O Instituto de Educação Clélia Nanci é uma Escola

Estadual do Rio de Janeiro, que tem por missão educacional formar professores e

professoras que irão trabalhar na formação escolar de crianças do primeiro

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segmento do Ensino Fundamental, contendo desde a 1ª série do ensino fundamental

até o último ano do ensino médio, fica situada no bairro de Brasilândia no Município

de São Gonçalo, região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. Com essa visão

mais geral da escola, queremos a partir disso fazer algumas reflexões que

consideramos de extrema importância e pela complexidade do assunto estaremos

apresentando-as de uma maneira a ser o mais simples possível.

E a partir daí colocaremos algumas considerações sobre o modelo atual

de escola no Estado do Rio de Janeiro. Nossas impressões eram as mais intrigantes

possíveis, mas queremos aqui ressaltar que por mais que pensemos as infinitas

possibilidades, nunca saberemos explicitar com clareza nossos pensamentos. Porém

nos sentimos aqui no dever de revelar, ainda que sejam pensamentos do senso

comum formulados pelo imaginário popular que temos das escolas públicas e que

mesmo que tentemos fugir desses pensamentos não conseguimos estabelecer

sentimentos positivos a priori sobre essa escola. Mas considerando todas essas

possibilidades, deparamo-nos com a realidade nua e crua da atual situação

educacional das escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro e nesse contexto de

precariedade das escolas em que alunos estão sendo tratados apenas como

números para se conseguir mais verbas, pois a atual Secretaria de Educação do

Estado do Rio de Janeiro mantém sua postura de tratar à educação nos moldes

meritocráticos e a partir disso pensa a educação pública como um balcão de

negócios, nesse sentido consideramos que isso se reflete na qualidade do ensino-

aprendizagem dos alunos e isso é uma irresponsabilidade do poder público e suas

autoridades constituídas que no mínimo se omitem para não dizer que cometem

crime contra a Educação Pública. Então diante desse contexto, fica aqui uma

pergunta, o que fazer para melhorar essa situação? Infelizmente não sabemos essa

resposta, pois entendemos que não temos aqui condições de propor uma fórmula

para tal, propomos sim que a sociedade civil como um todo possa começar um

movimento e agendar debates para se discutir as reais condições da educação

pública e se está de concordo ou não com esse modelo de Educação excludente no

qual é marcada por um modelo perverso que está vigente na atual conjuntura do

chamado “Mundo Globalizado” Como Milton Santos vai dizer:

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização (SANTOS, 2011, p.13).

Em nossas reflexões Sobre os alunos e o ensino de geografia em nossas

participações nas aulas do 7º ano do ensino fundamental, podemos visualizar um

desinteresse por completo nas aulas de Geografia por parte dos alunos. Mas na

verdade não colocamos nos alunos a total responsabilidade por não quererem

aprender sobre Localização, Mapas ou o processo de Formação Territorial Brasileiro,

por exemplo, isso só nos mostra o quanto estamos equivocados em não rever a

geografia escolar já denunciados por Lacoste (1988), em seu livro “A Geografia serve

antes de mais nada para fazer a guerra”. Analisando essa questão Ruy Moreira

(2007) faz um retorno a Lacoste e abre o texto como uma citação que explica essa

denúncia:

Toda a gente julga que a geografia não é mais que uma disciplina escolar e universitária cuja função seria fornecer elementos de uma descrição do mundo, dentro de uma certa concepção “desinteressada” da cultura dita geral [...] Pois qual poderia ser a utilidade daquelas frases soltas das lições que era necessário aprender na escola? A função ideológica essencial do palavreado da geografia escolar e universitária foi sobretudo de mascarar, através de processos que não são evidentes, a utilidade prática da análise do espaço, sobretudo para a condução da guerra, assim como para a organização do Estado e a prática do poder. É, sobretudo a partir do momento que surge como “inútil”, que o palavreado da geografia exerce sua função mistificadora mais eficaz, pois a crítica de seus fins “neutros” e “inocentes” parece supérflua. É por isso que é particularmente importante desmascarar uma das estratégias essenciais e demonstrar os subterfúgios que a fazem passar por simples e inútil (LACOSTE apud MOREIRA, 2010, p. 61).

Pegando o “barco” do pensamento de Lacoste (1988), podemos verificar

com clareza que na verdade essa “geografia simplória e enfadonha” infelizmente

continua nos currículos e consequentemente nas salas de aula nas escolas públicas e

é a partir daí que queremos abrir o debate, pois como podemos fazer o aluno se

identificar com a geografia? Sendo a geografia ainda vista como inútil? Para isso

entendemos que na verdade como diz Ruy Moreira “que a geografia, através da

análise do arranjo do espaço, serve para desvendar máscaras sociais. É nossa

opinião que por detrás de todo arranjo espacial estão relações sociais, que nas

condições históricas do presente são relações de classe” (MOREIRA, 2010, p. 62). E

para tal, queremos trazer para essa reflexão uma das partes que consideramos que

não pode ficar de fora. Falamos aqui do livro didático, pois sem fazer uma análise

aos livros didáticos esse trabalho não será completo, ou seja, não adiantará de nada

uma crítica ao modelo educacional e metodológico neoliberal sem trazer propostas

ige.unicamp.br/cact/semana2012

para uma melhor formulação dos livros didáticos de geografia nas escolas públicas.

É preciso compreender de fato as várias maneiras de ensinar a geografia e o livro

didático é uma ferramenta que por mais que não seja a única, é uma das mais

acessíveis aos alunos e é por isso que defendemos aqui neste trabalho uma melhor

formulação do livro didático. E atualmente “que o livro didático é um instrumento de

ação constante E o que buscamos sinalizar aqui (...), pois ainda o transformam em

um mero compêndio de informações, ou seja, utilizam-no como um fim, e não como

um meio, no processo de aprendizagem” (CASTELLAR, 2009, P.137). Mas essa

“melhor” produção do livro didático deve passar na nossa visão por fases de

transformação que em primeiro momento o aluno deve enxergar suas práticas sócio-

espaciais e num segundo momento ele possa expandir para outros níveis de escala

(LACOSTE, 1988). Considerando suas práticas sócio-espaciais e que ele possa se

enxergar como protagonista de sua história.

Conclusão

Em nossas análises e leituras sobre o modelo N.H.E. que ainda insiste

em permanecer nos livros didáticos, avaliamos que deveria ser repensado e

superado no sentido que entendemos que esse modelo não contempla todas as

possibilidades de se ensinar a geografia. Pois consideramos que os livros que

atualmente é utilizado nas Escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro, deixa em

nossa ótica muito a desejar em seus aspectos mais relevantes para o ensino-

aprendizagem do aluno de geografia.

CASTELLAR, S. Ensino de Geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

LACOSTE, Y. Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988.

RUY, M. Pensar e ser em geografia: ensaios de história, epistemologia e

ontologia do espaço geográfico. São Paulo: Contexto, 2010.

SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal Rio de Janeiro: BestBolso, 2011.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Marcelo de Andrade Lima [email protected]

Isabella de Castilho [email protected]

Kédima Rodrigues de Carvalho Perroti [email protected]

Marcelo Costa [email protected]

Philipe Branquinho [email protected]

Roberto Yusuke Hatada [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: escala, território, cidadãos, educação, grandes obras

Introdução

O presente projeto é referente às atividades do PIBID, (Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) realizadas na Escola E. E. Felipe

Cantúsio, localizada no Parque Industrial em Campinas, e contém análises e

descrições das práticas de ensino, que vão desde a sistematização dos conteúdos

elaborados até aplicação na escola. O tema trabalhado no projeto foi: “A importância

das políticas públicas na execução das grandes obras de engenharia ao longo dos

séculos XX e XXI para a integração do território brasileiro e seus impactos”, em que

se buscou adequá-lo à proposta curricular do Estado de São Paulo. Cabe lembrar que

as atividades foram realizadas com os alunos do 2º ano C do ensino médio do

período noturno.

O projeto foi elaborado a partir de uma periodização do espaço, uma vez

que as grandes obras não são novidade, já que houve grandes projetos de integração

nacional, sobretudo a partir da década de 1930, com os governos de Getúlio Vargas,

Juscelino Kubitschek, o período da ditadura militar, o neoliberalismo dos anos de

1990 e a configuração atual, onde verificamos novamente a ação do Estado por meio

do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), que vem promovendo obras

ige.unicamp.br/cact/semana2012

como: o pretendido trem de alta velocidade (TAV) entre São Paulo, Campinas e Rio

de Janeiro, a construção de rodovias, a ampliação e concessão de Aeroportos, o

programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”, as ferrovias e hidrelétricas etc.

Como lembra Milton Santos (2008) para a discussão dessas obras faz-se necessária

a utilização de dimensões temporais no estudo do espaço (...) Esta é razão por que devemos levar em conta as estruturas espácio-temporais (...) Não se pode atingir esse objetivo sem compreender o comportamento de cada variável significativa através dos períodos históricos que afetam a história do espaço que se está estudando (SANTOS, 2008, p. 50).

Ou seja, “a acumulação do tempo histórico permite-nos compreender a

atual organização espacial” (SANTOS, 2008, p.72). Cabe lembrar que as grandes

obras se justificam em nome de um “desenvolvimento econômico” que vem

acompanhado de conflitos sociais e ambientais, evidenciando cada vez mais que

lógicas exógenas se impõem, alterando os nexos locais.

Desta forma é imprescindível a articulação entre as diversas escalas para

o ensino do conteúdo proposto no projeto, seja na escala global, na dos territórios

nacionais, regional e dos lugares, pois percebemos a importância de trabalharmos

esse importante instrumental teórico com os alunos.

Daí a necessidade de abordar as obras de outros períodos em diversas

escalas até atingir uma escala mais local, abordando os “objetos geográficos”

presentes em Campinas como as rodovias, a possibilidade da construção do TAV, o

programa “Minha Casa Minha Vida”, a urbanização de Campinas, mas

principalmente o Aeroporto Internacional de Viracopos, oferecendo aos alunos um

rico aporte empírico para elaboração de aulas que abordam o conteúdo proposto.

Aproveitamos para abordar com os alunos os vários exemplos de grandes

projetos de engenharia que promovem, e promoveram mudanças no território

brasileiro, usando exemplos, como as obras nas cidades sedes da Copa do Mundo

de 2014 e as obras para as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, e logo, seus

impactos no território.

Objetivos

O objetivo geral foi aprofundar os temas das aulas de Geografia, tendo

como ponto de partida o estudo das grandes obras no território e suas

manifestações e impactos ao longo do século XX no território brasileiro, tendo como

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

o município de Campinas ponto final de nossa reflexão para essa atividade,

relacionando dialeticamente as escalas do local, nacional e global. A ideia foi criar

espaços de reflexão e de questionamentos da realidade do indivíduo a fim de

contribuir para a formação de cidadãos participativos das tomadas de decisões por

parte do Estado, uma vez que a “natureza da educação enquanto um trabalho não-

material cujo o produto não se separa do ato de produção nos permite situar a

especificidade de educação como referida aos conhecimentos, [que nos levem] à

formação da humanidade” (SAVIANI, 2003: 29-30). O mesmo autor também lembra

que “de outro lado e concomitantemente, [se faz necessário] a descoberta das

formas mais adequadas para atingir esse objetivo”. Assim o objetivo específico foi

levar aos educandos um instrumental teórico da geografia útil pra sua compreensão

e formação como agente ativo nos debates, exercendo sua cidadania.

Resultados

Propusemos aos alunos a realização de textos e questões sintetizando o

conteúdo abordado ao longo do semestre, a fim de termos um diagnóstico das

atividades. Preparamos exercícios que sintetizavam o entendimento dos modais de

transporte, das principais obras do século XX, sobretudo no período militar, e a

importância das grandes obras para a inserção do Brasil no dito mundo globalizado.

O uso de imagens (fotos, mapas, imagens de satélite), vídeos1 curtos nas aulas, é

um importante instrumento pedagógico, possibilitando ao educando a compreensão

de fenômenos de forma didática. Cabe lembrar que, “as imagens constituem muito

do que nos educar os olhos e muito do que temos disponível para educarmos a nós

próprios e aos nossos próximos e distantes estudantes acerca do espaço geográfico”

(OLIVEIRA JR., 2009, p. 17). Entretanto é importante ter o cuidado na utilização de

imagens no ensino de Geografia, pois, como lembra Castillo, “o problema consiste

no risco de redução da disciplina aos seus meios, sob a velha alegação de que a

precisão dos instrumentos confere legitimidade científica ao conhecimento

produzido” (CASTILLO, 2008, p. 63). As atividades propostas nas aulas foram

voltadas a identificar, de forma mais próxima e palpável aos alunos, as questões

discutidas em textos e anteriormente nas aulas de geografia regular, ou seja, as

1 Transamazônica ainda espera o progresso após quatro décadas. De: TV Folha. Disponível: em: http://www.youtube.com/watch?v=euA2NbDDkNg&feature=relmfu

ige.unicamp.br/cact/semana2012

principais obras do período da ditadura militar, além de um texto relacionando as

obras no território nacional e a globalização.

Além disso, tentamos estabelecer estratégias didáticas dinâmicas para

abordagem de temas da disciplina geográfica, utilizando técnicas e materiais de

forma diferente à convencional, assim como propor novas ferramentas para o

processo educativo em geografia, criando situações educacionais a partir da

realidade, necessidade e vontade dos educandos para que haja maior integração

entre seu cotidiano e o tema proposto.

Considerações finais

A prática de ensino, a partir das atividades do eixo “As Grandes Obras”

do PIBID se mostrou interessante na medida em que os bolsistas puderam assumir

a sala de aula, propondo debates, reflexões e atividades que muitas vezes o professor

“oficial” não teria tempo para desenvolver com os alunos. Ainda que alguns

problemas tenham surgido, sobretudo em relação ao número reduzido de

intervenções, justificado em função das poucas aulas de geografia disponíveis e às

faltas coletivas dos alunos, o principal objetivo, que era expor os conhecimentos

geográficos de maneira alternativa, foi alcançado. Entendemos que as atividades do

PIBID também poderiam ser realizadas fora do horário regular das aulas de

geografia, possibilitando certa liberdade na elaboração de conteúdos diferentes dos

que são trabalhados na proposta curricular do Estado de São Paulo, dando certo

dinamismo a proposta do projeto, já que é esse o momento de realizar experiências

educacionais.

Portanto, a experiência prática foi muito proveitosa para saber o que nos

espera em uma sala de aula e como ela se encontra nos dias de hoje, sobretudo

propondo atividades diferenciadas das abordagens tradicionais. Como estão os

alunos e também os professores, e logo, como funciona essa relação Professor-

Aluno, por meio de um olhar bem próximo e crítico, possibilitando adquirir algumas

experiências e reflexões feitas neste trabalho, que irão corroborar para nossa futura

atuação como professores de Geografia.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

CASTILLO, Ricardo. A imagem de satélite: do técnico ao político na construção do conhecimento geográfico. In: PRO-POSIÇÕES. Revista quadri-mestral da Faculdade de Educação - Unicamp. V. 20, n. 3 (60) - set./dez. 2009.

OLIVEIRA JR, Wenceslao Machado de.

Grafar o espaço, educar os olhos. Rumo a geografias menores. In: PRO-POSIÇÕES. Revista quadri-

mestral da Faculdade de Educação - Unicamp. V. 20, n. 3 (60) - set./dez. 2009.

SANTOS, Milton. Espaço e Método. São

Paulo: Edusp, 2008. 5ª ed. SAVIANI, D. A natureza e especificidade

de Educação. In Pedagogia Histórico - Critica:, p. 11-22 Campinas: Autores Associados, 2003.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

1

Rafael Cesar Rigamonte

[email protected] Gabriela Fernandes Jordão

[email protected] Pedro Alexandre Prudente de Oliveira

[email protected] Stéphanie Rodrigues Panutto

[email protected] Talita de Cássia Dalmolin

[email protected] Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: PIBID, educação, Campinas, trabalho de campo, agricultura

Introdução

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID ao

qual está vinculado a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) tem como principal objetivo a “concessão de bolsas de iniciação à docência

para alunos de cursos de licenciatura e para coordenadores e professores

supervisores responsáveis institucionalmente pelo PIBID e demais despesas a ele

vinculadas” 2.

Um dos principais objetivos deste programa é a valorização de futuros

docentes da educação básica durante o seu processo de formação e a melhoria da

qualidade da educação pública brasileira, e a viabilização de tal proposta ocorre a

partir de projetos educacionais elaborados por seus proponentes - às instituições de

educação superior públicas, filantrópicas e confessionais.

1 Trabalho realizado por todos os autores citados, de forma conjunta e colaborativa ao longo do primeiro semestre de 2012. 2 Dados extraídos da CAPES, disponível em: <www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid>; acesso em julho de 2012.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

É neste contexto geral, que o PIBID da Unicamp se insere no programa

com inúmeros projetos e subprojetos destinados a determinadas áreas do

conhecimento3.

Nesse sentido, dando ênfase ao subprojeto em geografia apresentado

pelos professores e coordenadores Dr. Vicente Eudes Lemos e Dr. Márcio Cataia, a

problemática por eles levantadas evidencia os problemas atuais provindos da

globalização, ao mesmo tempo, em que salienta a importância da compreensão do

espaço geográfico sob uma perspectiva de método (ALVES, 2012).

Todavia, a partir desta concepção inicial e da subdivisão dos bolsistas

(aproximadamente 20 alunos) em três grandes eixos temáticos, tivemos: 1) A

integração do Brasil no mundo da Globalização: Desafios e Perspectivas; 2) As grandes

obras de engenharia no território brasileiro e os seus impactos: Econômicos, Sociais e

Ambientais; 3) A agricultura e a remodelagem do território brasileiro: A modernização da

fronteira agrícola. Além dos eixos temáticos, há um tema transversal referente ao uso

de imagens e sons, sugerido pelo coordenador pedagógico da escola escolhida:

Escola Estadual Felipe Cantúsio, localizada no bairro Parque Industrial, na cidade de

Campinas.

O eixo de trabalho que este grupo desenvolveu está relacionado à

temática de agricultura, e sua proposta inicial era a análise da expansão da fronteira

agrícola brasileira, principalmente, a dos grãos (soja e milho), que vem ganhando

força a partir da década de 80 com a difusão do agronegócio.

Porém, a fim de aproximar os conteúdos referentes aos processos de

configuração do território brasileiro e o cotidiano do aluno, partimos da concepção

de que, neste primeiro momento, o nosso trabalho seria voltado para a categoria de

lugar, portanto, a escala de análise fixada foi a do município Campinas.

Para a efetivação de tal proposta, a ideia norteadora das atividades

desenvolvidas intitulou-se “Os diferentes olhares na cidade de Campinas”; que

objetivava propiciar aos alunos uma melhor compreensão sobre quem eles são e do

lugar em que vivem. Portanto, o foco do semestre foi à realização da aula de campo -

destinada somente aos alunos do segundo ano do ensino médio.

3 EDITAL-2011 (início em julho de 2011) - projeto “Ampliando horizontes: formação de professores em parceria” - composto por 6 subprojetos que englobam as seguintes licenciaturas (algumas delas em continuidade ao primeiro edital): 1. Licenciatura em Pedagogia, Letras e Dança; 2. Licenciatura em Filosofia, Pedagogia, Ciências Sociais e História; 3. Licenciatura em Geografia; 4. Licenciatura em Letras; 5. Licenciatura Integrada Química-Física e Licenciatura em Ciências Biológicas; e 6. Licenciatura em Química. Contemplamos, até o momento, a participação de 101 bolsistas de iniciação à docência nesse projeto.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Objetivos e Público Alvo

Objetivos gerais: Este projeto tem como ideia fundamental vincular o

ensino entre a geografia acadêmica e geografia escolar a fim de que através da

experiência obtida pela vivência escolar e de suas demandas seja factível aprimorar

dialeticamente a formação dos alunos/bolsistas do curso de licenciatura em

geografia da Unicamp e dos alunos da rede pública selecionada para o subprojeto.

Objetivos Específicos: Aprimorar a formação dos alunos de licenciatura

em geografia através da prática; Compreender como é construído o processo

avaliativo e de aprendizagem na prática escolar; Desenvolver material didático de

apoio aos alunos da escola; Realizar oficinas extraclasses e atividades educativas;

Buscar a melhoria do IDEB da escola; Fortalecer o conceito de cidadania entre os

alunos a partir da compreensão de que é possível um uso mais justo e menos

desigual do espaço geográfico (ALVES et al., 2012).

Público Alvo: alunos do segundo ano do ensino médio, mais

especificamente a turma A, totalizando 30 alunos.

Metodologia

Ao longo do primeiro semestre de 2012 os bolsistas ministraram aulas

que objetivaram a preparação dos alunos para uma plena compreensão dos tópicos

de geografia que seriam abordados no eixo temático escolhido, no caso agricultura, e

também de aprofundar a compreensão do “olhar geográfico” dos alunos no contexto

do trabalho de campo. Foram totalizadas 5 aulas que problematizaram assuntos

como: os objetivos gerais do PIBID na escola, aspectos sócio-econômicos do

município de Campinas, noções do trabalho de campo, conceitos Cartográficos e a

relação da agricultura e processos migratórios no município homônimo.

Após as aulas foi realizado o trabalho de campo propriamente dito.

Isso ocorreu no dia 6 de Junho de 2012, com saída da escola às 8 horas, no período

da manhã durando até às da manhã durando até 12:00. Os pontos visitados, em

ordem cronológica foram: o Aeroporto Internacional de Campinas/Viracopos, o

limite entre os bairros Parque Oziel e Swiss Park, o Cemitério da Saudade e o Estádio

Brinco de Ouro da Princesa, pertencente ao Guarani Futebol Clube.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Cada um desses pontos incluiu uma fala dos bolsistas para os

aspectos geográficos e respostas às eventuais dúvidas. Os alunos também foram

incentivados a tirar fotos e fazer vídeos, proposta do eixo transversal da escola. O

trabalho de Campo também incluía a entrega de um relatório, onde os alunos seriam

avaliados em razão da sua compreensão do trabalho de campo.

Resultados

Os resultados obtidos até o presente momento foi por meio da

preparação para a atividade de campo e o próprio campo e a compreensão do lugar

de vivência, da cidade e de suas paisagens, por parte dos alunos, na tentativa de dar

sentido à sua identidade, aproximando o estudo dos processos de formação do

espaço geográfico ao cotidiano do aluno, relacionando e compreendendo o fazer e

ser no espaço.

Para apresentar os resultados do projeto realizaremos em setembro/2012

uma exposição no Museu de Imagem e Som (MIS) de Campinas, na qual será

apresentado o material audiovisual feito pelos alunos da Escola Estadual Felipe

Cantúsio durante o trabalho de campo.

Considerações Finais

É perceptível que o trabalho de campo em nosso projeto tornou-se uma

ferramenta pedagógica fundamental para um estudo e aprendizagem significativos

das ideias apresentadas em sala de aula, ilustrando, motivando, e, portanto

despertando no aluno o interesse de estudar e compreender determinado fato,

treinando seu olhar a fim de que este reconheça e desvende toda a estruturação que

cada lugar possui.

O seguinte trecho consegue concluir nossa pesquisa e sintetizar o papel do

trabalho de campo mostrando os objetivos desta atividade:

Nessa análise, as reflexões para uma aprendizagem significativa encontram nas atividades de campo um papel pedagógico fundamental, pois o campo é o contexto de aprendizagem onde “... O conflito entre o real (o mundo), o exterior e o interior, as ideias, as representações, ocorre em toda a sua intensidade” (Paschoale apud Compiani 1991). [...] Em nossa opinião, a afirmação destaca que as atividades de campo facilitam

uma aprendizagem construtivista (COMPIANI e CARNEIRO, 1993, p. 91).

ige.unicamp.br/cact/semana2012

ALVES, V. E. L.; CATAIA, M. A.; DINIZ, V. L. Iniciação à docência em Geografia: o PIBID abrindo novos caminhos para o processo de formação de professores. Maio de 2012. Disponível em: <www.prg. unicamp.br/pibid/index.php?option

=com_docman&Itemid=11>.

COMPIANI & M., CARNEIRO, C.D.R Os papéis didáticos das excursões geológicas. Enseñanza de las Ciências de la Tierra, 1(2):90-98, 1993.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Shaylla do Carmo Netto Vieira [email protected]

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Palavras-chave: educação, ditadura militar, geopolítica, território, fronteira

A presente pesquisa busca discutir a influência do pensamento

geopolítico no ensino de Geografia durante o período da ditadura militar no Brasil

(1964 - 1985). Sabe-se que a escola de geopolítica militar brasileira foi muito forte

durante este período, auxiliando na elaboração de políticas públicas internas e

externas e influenciando a forma como os brasileiros imaginavam seu próprio

território (BURNS, 1995).

A incorporação de elementos da geopolítica clássica alemã no

pensamento e na prática de militares latino-americanos durante as décadas de 1960

e 1970 é um tema que vem sendo intensamente estudado nos últimos anos

(KACOWCIZS, 2000). No entanto, pouco se discute sobre a influência do

pensamento geopolítico no ensino de geografia, considerando suas principais

abordagens teóricas e sua transposição didática para o universo escolar (i.e

KUNZLER e WIZNIEWSHY, 2007).

No intuito de contribuir com este debate, o objetivo específico da

presente pesquisa é analisar as abordagens utilizadas durante a ditadura militar para

se trabalhar nas escolas com dois conceitos-chave da geopolítica clássica: Fronteira e

Território. Consideradas como “epiderme do estado nação” as fronteiras, enquanto

“frentes de batalha” (RAFFESTIN, 1993), foram geralmente representadas como

espaços de conflito, ameaça e expansão nas teorias geopolíticas clássicas. Já os

territórios eram frequentemente entendidos no âmbito exclusivo do estado-nação,

enquanto “espaços vitais” que poderiam estar em expansão ou retração (SOUZA,

2001).

Atualmente as fronteiras são definidas também como espaços de

interação e troca (RIBEIRO, 2002) e os territórios têm sido considerados em escalas

temporais e espaciais variadas, quebrando com a ideia de exclusividade nacional na

delimitação espacial do poder (SOUZA, 2001). No entanto, essas concepções ainda

não eram vigentes no período da ditadura militar e pode-se supor que uma das

fontes de saber (TARDIF et al., 1991) importantes sobre as fronteiras e territórios

eram as ideias inspiradas na geopolítica clássica.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Mas até que ponto as concepção do pensamento geopolítico clássico

pode ter influenciados formas de se ensinar e aprender os conceitos de fronteira e

território durante a ditadura? No intuito de responder a essa indagação os

procedimentos da pesquisa seguem em duas direções distintas que podem produzir

resultados complementares.

Por um lado, serão analisados livros didáticos da época estudada,

considerando como os autores selecionavam imagens e definições teóricas

específicas para trabalhar com os conceitos em questão. Por outro, serão

entrevistados dez professores que atuaram no ensino de geografia no período da

ditadura, estabelecendo um diálogo sobre as teorias da época e os desafios

encontrados em sala de aula na prática docente. Através deste duplo procedimento,

pretende-se discutir até que ponto as concepções geopolíticas clássicas

desenvolvidas pelos militares influenciavam o cotidiano escolar das aulas de

geografia durante a ditadura.

Com relação aos livros didáticos, foram escolhidos os livros do autor

Aroldo de Azevedo, que era o maior autor de livros didáticos de geografia no período

analisado. Para se estudar o papel dos livros e da própria geografia durante a

ditadura, também serão levantados alguns documentos históricos oficiais. Estes

documentos complementares são relativos tanto a conteúdos programáticos e

planos oficiais, quanto a projetos de lei e decretos sobre a adoção de livros didáticos

e outros materiais nas escolas.

Já as entrevistas serão realizadas com professores aposentados ou em

atividade no ensino médio e fundamental que trabalharam diretamente com o

ensino de geografia durante a ditadura militar. Um questionário aberto está sendo

construído no intuito de discutir com os professores não apenas as suas práticas

docentes no ensino de fronteiras e territórios, mas também o próprio contexto de

ensino-aprendizagem em um governo ditatorial.

Os resultados esperados desta pesquisa serão fruto da convergência

entre uma análise atenta dos textos e imagens presentes em documentos oficiais e

livros didáticos, com as narrativas dos professores, que darão vida aos materiais

coletados através de suas experiências cotidianas. Por um lado, espera-se encontrar

certa presença das ideias da geopolítica clássica nos livros e programas de geografia

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

durante a ditadura. Por outro, um importante resultado a ser atingido pelo trabalho

seria a catalogação de experiências de “contra-usos” e práticas docentes alternativas

desenvolvidas pelos professores através dos materiais didáticos fornecidos pelo

Estado.

BURNS, E. B. Frontier and Ideology. Pacific Historical Review, Vol. 64, No. 1 Feb, pp. 1-18. Brazil: 1995

KACOWICZ, A. M. Geopolitics and

territorial issues: Relevance for South America. Geopolitics, 5:1,81 — 100. 2000a.

RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do

Poder. São Paulo: Ática,1993 KUNZLER E WIZNIEWSHY. Terra Livre.

Presidente Prudente Ano 23, v. 1, n. 28 p. 15-26 Jan-Jun/2007

RIBEIRO, L. P. Zonas de Fronteira

Internacionais na Atualidade: Uma

Discussão. In: Atlas da Fronteira Continental do Brasil. Coleção de Textos. UFRJ. 29p. 2002.

TARDIF, M.; LESSARD, C; LAHAYE, L.

Os professores face ao saber: esboço de uma problemática do saber docente. Teoria e Prática, n. 4, p. 215-234, 1991.

SOUZA, Marcelo L. O Território: sobre

espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In. Castro, Iná Elias de (org.) et alli. Geografia: Conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.

.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Camila Pontin Novaes [email protected]

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus Experimental de Ourinhos

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Palavras-chave: urbanização, enchentes, problemas ambientais

A ocupação e expansão urbana no Brasil, do ponto de vista do

planejamento, se deram de maneira inadequada, desordenada e acompanhada de

uma falta de estrutura que garantisse uma qualidade ambiental e social, além de um

processo de industrialização recente e acelerado que contribui para os danos

ambientais em áreas urbanas (UGEDA JR., 2009).

Esse modelo, muito comum entre os países em desenvolvimento, traz

como consequências alguns problemas ambientais nessas áreas urbanas. Tais como

a ocupação de áreas irregulares e de risco geomorfológico como a ocupação de

fundos de vale e encostas, o que também gera exclusão social devido à falta de

acesso a infraestruturas adequadas. A falta de saneamento básico, a alta produção

de resíduos sólidos, vetorização de doenças, chuva ácida, ilhas de calor, problema de

drenagem e enchentes, também são consequências deste modelo (BRAGA, 2003).

As enchentes constituem um dos problemas ambientais mais comuns no

território brasileiro. Segundo o IBGE (2005), entre 2000 e 2002, 2.263 municípios

brasileiros (41% do total) declararam ter sofrido algum tipo de alteração ambiental

que afetou as condições de vida da população, sendo que 19% decorrentes das

inundações. E ainda, de acordo com o IBGE citado por Mattes (2005, p. 62), nos

anos de 1998 e 1999, 1235 municípios brasileiros sofreram inundações, resultando

em 48.809 hectares de áreas afetadas, com maior incidência nas regiões Sudeste e

Sul.

Em Piracicaba, São Paulo, o processo de urbanização não ocorreu de

forma muito diferente do restante do País. Por volta de 1720, as margens do Rio

Piracicaba começaram a ser ocupadas na então chamada Rua da Praia, atual Rua do

Porto. Mostrando-se presente, desde o início, a ação e exploração antrópica dos

recursos hídricos e de seu entorno, com a pesca, abastecimento de monçoneiros e

da cultura de cana-de-açúcar. A partir de 1940, o êxodo rural influenciou o

crescimento urbano. Nos anos 1950 começaram a surgir bairros que se formaram

desordenadamente deslocando os habitantes mais pobres para loteamentos

ige.unicamp.br/cact/semana2012

distantes do centro para escapar da valorização imobiliária (BARRETO et al, 2006). O

contraste pobreza/riqueza se fez evidente através destes bairros mais distantes que

não possuíam infraestrutura, como falta de esgoto, de água encanada e ruas de

difícil acesso. A Rua do Porto, assim como outras áreas, sofreu com a falta de

atenção do poder público no que diz respeito à infraestrutura, tal como saneamento

básico, segurança e habitação (ELIAS NETO, 2000).

As enchentes na Rua do Porto sempre ocorreram, desde 1896 se tem

relatos de grandes enchentes (ELIAS NETO, 2000, p. 78). Até hoje a cidade sofre

com as enchentes e os moradores, os trabalhadores e os donos dos

estabelecimentos comerciais da Rua do Porto sentem os prejuízos.

O Rio Piracicaba entrecorta a cidade, tendo suas margens caracterizadas

pelo intenso processo de ocupação, o que leva a impermeabilização do solo e

insipiente cobertura vegetal. Margeando o rio destaca-se a Rua do Porto, que contém

atividades comerciais e residenciais.

Tendo isto em vista, o presente estudo trabalha com o conceito de risco,

que é entendido por Lopes e Reis (2011, p. 15) como a probabilidade de

consequências prejudiciais, ou perdas esperadas (mortes, pessoas afetadas, danos

às propriedades, meios de subsistência, atividade econômica interrompida ou danos

ambientais) resultado das interações entre o perigo natural ou por indução humana

e condições de vulnerabilidade.

Dessa forma esse trabalho teve como objetivo abordar como se deu a

ocupação e expansão urbana no município de Piracicaba/SP, levantar as possíveis

causas e a dimensão das consequências das periódicas enchentes da Rua do Porto,

além de determinar o grau de risco em que se encontra essa área.

Como possíveis causas foram levantadas as naturais e antrópicas, que

podem agir de maneira isolada ou integrada. Entre as causas naturais temos: a) o

fenômeno natural periódico das cheias dos rios com tempo de recorrência e; b) o

aspecto climático, que colabora com a alta pluviosidade e vazão do rio, inclusive nas

cidades a montante.

Dentre as causas relacionadas à ação do homem temos: a) a ocupação

das áreas ribeirinhas que provocam alterações no solo, compactando-o, diminuindo

sua porosidade e, consequentemente, sua capacidade de absorção de água; b) a

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

ocupação destas áreas também leva a retirada de vegetação. Essa vegetação nas

áreas ribeirinhas, consideradas áreas de preservação permanente devido à função

ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a

biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e da flora, proteger o solo e assegurar o bem-

estar das populações humanas, acabam sendo suprimidas levando ao desequilíbrio

ecológico; c) o processo de urbanização, que contribui com a impermeabilização de

superfícies reduzindo assim o tempo de concentração da água e aumentando o

volume escoado superficialmente; d) a expansão da urbanização, que leva uma parte

da população a ocupar áreas irregulares que geralmente apresentam risco

geomorfológico; e) um sistema de drenagem inadequado ou insuficiente que pode

sobrecarregar córregos receptores levando ao transbordamento; f) ausência de um

sistema de alertas eficiente e integrado e falta de medidas preventivas.

As principais consequências registradas foram casos de doenças como a

leptospirose; o comprometimento do sistema de tratamento de água e esgoto;

interdição das vias de transporte e desabamento de pontes; prejuízos materiais nas

residências e estabelecimentos comerciais com perdas de equipamentos e danos à

estrutura física, além de danos afetivos como perda de fotos e documentos;

desvalorização imobiliária na área; acentuação de problemas sociais como violência

e exclusão; durante os períodos de alerta e de eventos de enchentes as pessoas têm

de se deslocar para casa de parentes ou em lugar cedido para abrigo pela Prefeitura

Municipal.

Frente a esse quadro, alguns procedimentos podem ser tomados,

adotando a Bacia Hidrográfica como unidade de gestão. São elas as medidas

estruturais e medidas não-estruturais. Sendo as estruturais de caráter corretivo,

relacionadas a modificações físicas, como alteração do sistema fluvial e obras de

engenharia. As medidas não-estruturais possuem caráter educativo e de

planejamento, atuando de forma preventiva, apresentando resultados a médio e

longo prazo, geralmente de baixo custo, de fácil aplicação permitindo uma correta

percepção do risco. Essas medidas adotadas conjuntamente às medidas estruturais

podem minimizar os custos e os impactos catastróficos das enchentes (TUCCI,

1997).

Dessa forma, a determinação do grau de risco é importante para o

planejamento e o ordenamento do território norteado para a identificação das áreas

suscetíveis de serem caracterizadas e avaliadas como de risco. Para a determinação

do grau de risco a enchentes na Rua do Porto foi utilizada a metodologia de Oliveira

ige.unicamp.br/cact/semana2012

e Robaina (2004), que leva em consideração a suscetibilidade natural (relevo,

hidrologia), o padrão urbano da área (características construtivas de padrão médio,

alto ou baixo) e o registro de acidentes (eventos). Estas informações foram obtidas

através de observação a campo, mapa geomorfológico e de rede de drenagem, e

coleta de dados em três jornais locais, “Jornal de Piracicaba”, “Tribuna” e “Gazeta de

Piracicaba”. Onde os estabelecimentos comerciais apresentaram o grau de Risco II –

Alto, se encontrando em área suscetível naturalmente por estarem em área sujeita a

inundação, padrão urbano médio e registro de acidentes; e os imóveis residenciais

apresentaram um Risco I – Iminente, se encontrando em área com suscetibilidade

natural de área sujeita a inundação, padrão urbano da área baixo e registro de

eventos.

Essa informação pode ser utilizada na distribuição espacial dos

aglomerados populacionais, otimizando o uso e diminuindo os impactos sobre as

mesmas. As áreas mais suscetíveis aos processos naturais possuem,

consequentemente, uma capacidade menor para uma série de usos. O mapeamento

de risco também auxilia na definição de planos de ação e prioridades de ajuda que

devem ser associadas à política de defesa civil, que sejam realizáveis e eficazes.

BARRETTO, A. G. O. P.; SPAROVEK, G.; GIANNOTTI, M. Atlas rural de Piracicaba. Piracicaba: IPEF, 2006.

BRAGA, R. Recursos hídricos e

planejamento urbano e regional. Rio Claro: Laboratório de Planejamento Municipal-IGCE-UNESP. 2003, pp. 113-127 - ISBN 85-89154-04-01.

ELIAS NETO, C. Almanaque 2000:

Memorial de Piracicaba – Século XX. IHGP; Jornal de Piracicaba; UNIMEP. Piracicaba, 2000.

LOPES, E. S. S.; REIS, J. B. C. Desastres Naturais: conceitos e classificações. In: PURINI, Sérgio Roberto de Moura. Programa educacional Jc na escola: promovendo a leitura: JC na Escola - Ciência; organizado por Sérgio Roberto Purini e outros. Bauru; JC; São Paulo: FEBAB, 2011.

MATTES, D. A sustentabilidade do sistema de drenagem urbana. IN: DOWBOR, L.;

TAGNIN, R. A. Administrando a água

como se fosse importante: gestão ambiental e sustentabilidade. Editora: Senac, São Paulo, 2005.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

OLIVEIRA, E. L. A.; ROBAINA, L. E. S.

Mapeamento das áreas de risco geomorfológico da bacia hidrográfica do Arroio Cadena, Santa Maria/RS. Revista Ciência e Natura, UFSM. V Simpósio Nacional de Geomorfologia: I Encontro Sul Americano

Geomorfologia. Ago/2004, até pag 478.

TUCCI, C. E. M. Plano Diretor de

Drenagem Urbana: Princípios e Concepção. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. v2, n.2, jul/dez, 1997, 5-12.

Gustavo Henrique Peres

[email protected]

Manuel Baldomero Rolando Berríos Godoy [email protected]

Departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento Instituto de Geociências e Ciências Exatas

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Palavras-chave: planejamento ambiental, gestão de resíduos, lixo domiciliar, restos orgânicos

ige.unicamp.br/cact/semana2012

A geração de resíduos é um problema que afeta o mundo todo, todas as

classes sociais, raças, idades e gêneros. Resíduos são gerados sem parar, todos os

dias da semana, durante o ano inteiro; e como afirma Berríos (1994), “o lixo se gera

constantemente, sendo impossível deter em emergências”. Reforçando ainda mais a

ideia da “perenidade” desse tipo de produção, podemos lembrar também, ainda de

acordo com Berríos (1986), que “o despejo de detritos sólidos por parte do homem é

inerente à sua existência como tal e às atividades que realiza”. Com isso, temos esse

problema constante e incessantemente batendo às nossas portas: o que fazer com o

lixo ou para onde levá-lo? Assim, é preciso deter essa produção desenfreada de

resíduos, seja diminuindo o consumo de bens pela população e/ou realizando uma

eficaz gestão deles, possibilitando uma correta destinação final, reciclando e

reutilizando aquilo que é possível.

De acordo com Ribeiro e Morelli (apud ABRELPE, 2009):

em 2007 foram gerados cerca de 174,4 milhões de toneladas de resíduos sólidos. Destes, 61,5 milhões de toneladas são urbanos (RSU), 400 mil toneladas são provenientes de serviços de saúde (RSS), 86 Mton são industriais (RSI) e 26,5 Mton são de construção e demolição (RCD) (RIBEIRO e MORELLI apud ABRELPE, 2009, p. 12).

Todo esse lixo urbano produzido precisa ser destinado a algum lugar

e/ou processado por alguma técnica para que se tenha o menor impacto ambiental

possível, ou conseguir, principalmente, sua eliminação, assim como afirma Pereira

Neto (2007, p. 14): “É necessário repensar o nosso modelo de desenvolvimento

econômico e criar mecanismos que disciplinem a geração de bens de consumo de

longa vida útil, reaproveitando, ou reciclando, seus resíduos para minimizar e

controlar o desperdício e os impactos ambientais associados”.

Nessa mesma linha de raciocínio, sobre o repensar do modelo de

economia e desenvolvimento que vigora hoje em dia, ao analisarmos os parâmetros

de geração e descarte de lixo atual, percebemos que não existe qualquer tipo de

preocupação com sua destinação nos países em vias de desenvolvimento, ou seja,

sabemos que devemos colocar o lixo para fora, porém, a partir daí, já não nos é mais

a responsabilidade de cuidar ou saber o que é feito com ele. Uma minoria de

indivíduos se pergunta ou já se perguntou para onde vai o descarte de tudo o que se

produz diariamente, onde é colocado e qual o volume que isso ocupa, que tipo de

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

impacto causa ao meio em que vivemos ou ainda quais as utilidades possíveis para

esse material quando reaproveitado (BERRÍOS, 2002).

Não menos importante do que o descuido do indivíduo na segregação e

destinação correta do seu próprio lixo, as autoridades municipais também têm a

responsabilidade de encarar o problema de fato e se organizar de acordo com as leis

vigentes na elaboração de um Plano de Gerenciamento de Resíduos gerados no

município. As políticas públicas municipais voltadas ao assunto são falhas e cheias

de lacunas, quando existentes. E como lembra bem D´Almeida (2000):

O acelerado processo de urbanização, aliado ao consumo crescente de produtos menos duráveis, e/ou descartáveis, provocou sensível aumento do volume e diversificação do lixo gerado e sua concentração espacial. Desse modo, o encargo de gerenciar o lixo tornou-se uma tarefa que demanda ações diferenciadas e articuladas, as quais devem ser incluídas entre as prioridades de todas as municipalidades (D´ALMEIDA, 2000, p. 8).

Como é inegável, o lixo das atividades humanas precisa ser reduzido,

assim como os ritmos de produção e consumo. Além disso, é preciso haver um

melhor planejamento sobre as necessidades e gerenciamento sobre o manejo

(BERRÍOS, 1994).

De acordo com a bibliografia especializada consultada, a fração orgânica

que compõe o lixo residencial nas cidades brasileiras é predominantemente maior

quanto ao peso e, às vezes, volume sobre os outros tipos de resíduos encontrados,

ou seja, a maior parte do peso do resíduo domiciliar constitui-se de matéria

orgânica. Essa alta porcentagem de elementos orgânicos varia de acordo com

diferentes autores, citando alguns: 62,8% para Berríos (1987), de 55 a 67% para

Pereira Neto (2007), 51% para o CEMPRE (2012).

Se compararmos os índices de reciclagem da parcela inorgânica do lixo

brasileiro com a correta destinação dada à parte orgânica e seu tipo de reciclagem –

cerca de 4%, segundo o CEMPRE (2012) –, a variação é discrepante. A coleta seletiva

no Brasil tem crescido com taxas relevantes.

Como já preconizavam Ribeiro e Morelli (2009, p. 44),

No ordenamento do Brasil há a lacuna de Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Projetos desta Política Nacional tramitaram por muitos anos no Congresso Nacional sem chegar à aprovação do que pode vir a ser um importantíssimo marco regulatório. Carece estabelecer diretrizes

ige.unicamp.br/cact/semana2012

de gestão em todo o País, com a descentralização político-administrativa das ações e estabelecendo parâmetros da responsabilidade compartilhada entre a sociedade, a iniciativa privada e o Poder Público (RIBEIRO e MORELLI, 2009, p. 44)

A PNRS, Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei Nº 12.305, de 2 de

Agosto de 2010, dispõe sobre os objetivos, instrumentos e diretrizes relacionados à

gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluindo também os

resíduos perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos

instrumentos econômicos aplicáveis nesse assunto (DOU, 2010). Desse modo, o

conceito chave que vigora com a promulgação da PNRS é a gestão integrada dos

resíduos. Com a instituição da lei, o ciclo de vida dos produtos será de

responsabilidade dos fabricantes, consumidores e do gestor municipal, a chamada

responsabilidade compartilhada.

Sobre os objetivos do presente trabalho, temos como o objetivo geral

desta pesquisa conhecer a atual destinação final da parcela orgânica dos resíduos

domiciliares da cidade de Rio Claro, em São Paulo. Com isso, surgem alguns

objetivos específicos, os quais podemos citar a identificação das potencialidades do

resíduo orgânico gerado na cidade de Rio Claro, a identificação de possíveis

negligências nas gestão dos resíduos sólidos urbanos dessa cidade, o estudo das

práticas e técnicas de destinação final da parcela orgânica do lixo gerado na cidade, a

análise da destinação dada à parcela orgânica comparada com o crescente incentivo

dado à reciclagem, a verificação sobre a adequação da gestão local com a PNRS,

aprovada em Agosto de 2010, entre outros.

À medida que crescem as cidades e o poder aquisitivo dos indivíduos,

também há um consequente crescimento da produção de resíduos por parte da

sociedade. Os resíduos sólidos domiciliares ou domésticos apresentam-se em

quantidades inferiores aos Resíduos Sólidos Industriais (RSI) quanto à produção em

milhões de toneladas (Mton), porém, são esses resíduos, também chamados de

residenciais, que ficam mais visíveis diariamente, tanto dentro das cidades pelo

manejo inadequado, tanto na periferia urbana, pela gestão errada, e que também

oferecem, assim como os resíduos industriais e até mesmo os agrícolas, diversos

tipos de efeitos nocivos à população quando tratados e/ou destinados de forma

incorreta ou negligente. Desse modo, a pesquisa busca auxiliar os estudos sobre a

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) para um eficiente Planejamento Urbano

e Ambiental. Com isso, o projeto tem como finalidade analisar na cidade de Rio

Claro, como se realiza a destinação dos resíduos sólidos orgânicos domiciliares e se

essas práticas apresentam efetiva melhora no tocante à boa gestão de resíduos, da

mesma forma que a reciclagem consegue tal efeito.

BERRÍOS, Manuel B. R. O lixo domiciliar de Rio Claro e a organização do espaço. Dissertação (Mestrado em Geografia). IGCE/Universidade Estadual Paulista. Rio Claro, 1986.

BERRÍOS, Manuel B. R. O lixo domiciliar e

seu destino na cidade de Rio Claro-SP. Trabalho apresentado no I Encontro de Geógrafos da América Latina, em Águas de São Pedro-SP, entre 05 e 10 de Abril de 1987. Publicado no volume comunicações Cidade I e na Revista Geografia Teorética 16-17 (31-34).

BERRÍOS, Manuel B. R. Papel da

sociedade moderna na produção de resíduos. Paper, em co-autoria, apresentado durante o V Congresso Brasileiro, organizado pela Seção Nacional da AGB e pelo DG/UFPR, evento efetuado em Curitiba, PR, entre os dias 17 e 22 de julho de 1994.

BRASIL. Lei Nº. 12.305, de 02 de Agosto

de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e

dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 03 de Agosto de 2010. Disponível em: <http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa/legislacao>. Acesso em 10 ago. 2012.

COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA

RECICLAGEM – CEMPRE. Fichas técnicas: Composto Urbano. São Paulo, 2012. Disponível em: <http://www.cempre.org.br>. Acesso em 9 ago. 2012.

D’ALMEIDA, M.L.O.; VILHENA, A. Lixo

Municipal: Manual de Gerenciamento Integrado. 2ª edição. São Paulo: IPT/CEMPRE. 2000.

PEREIRA NETO, João Tinôco.

Gerenciamento do lixo urbano: aspectos técnicos e operacionais. Viçosa, MG: Ed. UFV, 2007.

RIBEIRO, D. V., MORELLI, M. R. Resíduos

Sólidos: problema ou oportunidade? Rio de Janeiro: Interciencia, 2009.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Letícia Cassanelli Braga [email protected]

Universidade Estadual de Campinas

O modo pelo qual se dá a ocupação do solo é um dos principais

elementos que interferem nas dinâmicas ambientais. Uma das manifestações dessas

dinâmicas ambientais que mais é sentida cotidianamente pelo homem é a dinâmica

climática, que nas cidades se reflete através do clima urbano. Esse texto tem por

objetivo fazer um estudo sobre o modo como o clima urbano vem sendo abordado

pela ciência nacional e está inserido em um projeto que visa estudar a

vulnerabilidade e as mudanças climáticas na cidade de Limeira, desenvolvido pelo

Laboratório de Geografia dos Riscos e Resiliência (LAGGER), do Centro de Ciências

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Humanas e Sociais Aplicadas (CHS) da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O dinamismo urbano é responsável por modelar, estruturar e

funcionalizar as cidades de modo a essas atenderem as exigências econômicas do

momento. A cidade aparece, no sistema urbano, como sendo a representação mais

precisa de como a ação antrópica é capaz de alterar e afetar o ambiente e seus

modos de organização espacial. A evolução da técnica possibilitou ao homem

desenvolver mecanismos que facilitaram a alteração e a remodelagem do meio à sua

volta com maior rapidez e intensidade, gerando ambientes artificiais destinados a

suprir suas necessidades e exigências locais.

Essa relação entre o homem e o meio afeta diretamente a atmosfera e a

superfície terrestre. Assim, o clima é considerado um dos mais importantes

componentes ambientais. As diferentes formas com que se dá a ocupação urbana no

território e como há essa relação entre o ambiente natural e o ambiente artificial

interferem diretamente nas dinâmicas atmosféricas locais.

Considerando-se que os sistemas climáticos têm como uma das

características principais a imprevisibilidade e a capacidade de se reorganizar a partir

da introdução de novos fluxos de matéria e energia é possível abordar as dinâmicas

climáticas como sendo parte de um sistema.

Essa interação entre diferentes componentes, superfície (ambiente

alterado pela ação antrópica) <=> atmosfera, permite compreender o clima a partir

da Teria Geral dos Sistemas (TGS). Essa teoria sistêmica defende que os estudos de

ambas as partes têm que se dar de modo conjunto. “Um sistema pode ser definido

como o conjunto dos elementos e das relações entre si e entre os seus atributos”

(CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 1). O modo como vem se dando o aumento

populacional, principalmente no meio urbano, não deixa dúvidas quanto ao papel

ativo da sociedade dentro do sistema (MONTEIRO, 2001). A descrição e o estudo do

clima urbano “trata-se de uma tarefa bastante difícil, pois ousa tentar para o estudo

do clima da cidade uma conduta de investigação que seja nela não um antagonismo

entre o homem e a natureza, mas uma co-participação” (MONTEIRO, 2003, p. 15).

Assim, pensar no urbano como sendo o reflexo direto da ação do homem

sobre o meio e que este se relaciona e interage diretamente com a atmosfera nos

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permite compreender o que seriam os climas urbanos, concebidos por Monteiro

(1999, p. 28), como “[...] climas locais muito alterados por ação antrópica”.

Segundo Landsberg (2006), as diferentes maneiras com que o homem

ocupa o solo fazem com haja reflexos distintos nas características locais do clima.

Os primeiros estudos meteorológicos registravam diferenças existentes entre as

características atmosféricas observadas no campo e na cidade. Ao se discutir as

alterações climáticas ocasionadas pelo processo de urbanização, o referido autor

indica três eixos principais que influenciam o clima das cidades: a alteração da

superfície a fim de estruturar e funcionalizar os espaços urbanos, interferindo nas

dinâmicas da circulação do ar local; aumento da temperatura nas cidades

relacionado com os fluxos de veículos e de pessoas; e a alteração na composição

atmosférica, consequência da introdução de núcleos poluentes típicos da atividade

urbana.

Para Monteiro (2003, p.19) o clima urbano é compreendido como sendo

“um sistema que abrange o clima de um dado espaço terrestre e sua urbanização”.

O clima urbano trata então, da interrelação entre o natural (atmosfera) e o artificial

social (urbano) e da divisão e integração entre microclimas e climas regionais. O

Sistema Clima Urbano (S.C.U.)

visa compreender a organização climática peculiar da cidade e, como tal, é centrado essencialmente na atmosfera que, assim, é encarada como operador. Toda ação ecológica natural e as associações aos fenômenos da urbanização constituem o conjunto complexo sobre o qual o operador age (MONTEIRO, 2003, p. 21).

Para se compreender os fundamentos do clima urbano é necessário

analisar os seguintes mecanismos de percepção: o conforto térmico, a qualidade do

ar e os impactos meteóricos (hidrometeóricos). É preciso que o geógrafo adentre os

perímetros urbanos e sinta a cidade como sendo um “fato geográfico” (MONTEIRO,

1990, p. 10) e não como uma anormalidade no ambiente natural. A verificação das

estruturas da cidade se dá através da observação do local de estudo, para isso é

necessário que o pesquisador explore o lugar de estudo e então levante as

informações relevantes para a compreensão do clima local. O uso de imagens de

satélites e de mapas do uso solo permite reconhecer a constituição dos materiais

das superfícies e o estudo das áreas de maior adensamento de edificações. É

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

necessário, também, que haja coleta de dados de temperatura, umidade, direção dos

ventos, condições do ar em vários períodos do dia e sazonalmente através de postos

de coletas que devem ser estabelecidos após alguns campos de reconhecimento da

área de estudo e do uso de termohigrômetros.

Considerando-se que a maior parte da população brasileira reside em

áreas urbanas (segundo o Censo de 2010, 84% da população) e que o país, devido à

sua grande extensão territorial e suas características geográficas, apresenta grande

variabilidade climática, o estudo de clima urbano se apresenta como de suma

importância para compreensão das dinâmicas climáticas das distintas regiões e suas

relações com o uso e ocupação do território nacional. Seus principais objetivos são o

de investigar a influência geoecológica do espaço urbano nas variações diárias e

sazonais do campo térmico da cidade, de modo a caracterizar o campo térmico

urbano.

Apesar da constante necessidade de esclarecimentos sobre as dinâmicas

atmosféricas, a investigação do clima urbano é algo que apresenta grande carência

no quadro de produção cientifica nacional. Monteiro, em um artigo publicado na

Revista Geosul de 1990, descreve como são escassas as produções científicas

nacionais sobre o assunto. Segundo o autor, Magda Lombardo, em 1986, foi um dos

primeiros autores, depois de Monteiro, a contribuir e dar continuidade aos estudos

de clima urbano na metrópole paulista. “Escassez tanto mais lamentável porquanto

mais e mais se agravam os problemas de qualidade ambiental urbana neste país”

(MONTEIRO, 1990, p. 9).

Os estudos de climas urbanos permitem compreender como vêm se

dando as dinâmicas atmosféricas em escala local, o que permite que sejam

desenvolvidas ações governamentais e estudos de ambientais voltados para atender

e resolver alguns dos problemas que afetam a população.

CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia.

São Paulo,: Edgard Blucher Ltda, 2º Ed., 1980.188p.

LANDSBERG, H. E. O clima das cidades. In: Revista do Departamento de Geografia. V. 18, 2006. p. 95-111.

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MONTEIRO, C. A. F. Derivações

Antropogenéticas dos Geossistemas terrestres no Brasil e alterações climáticas. Perspectivas urbanas e agrárias ao problema da elaboração de modelos de avaliação. RA’ E GA – O Espaço Geográfico em Análise. V. 5 (2001).

MONTEIRO, C. A. F. O Estudo Geográfico

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MONTEIRO. C. A. F. Por um suporte

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Urbano. In: MONTEIRO, C. A. F.; MENDONÇA, F. Clima Urbano. São Paulo: Contexto, 2003. p. 9-67.

Maibi Cossalter Tasqueti [email protected]

Instituto de Geociências e Ciências Exatas Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

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Palavras-chave: enchentes, impactos sócio- econômico- ambientais, plano de ação anti-enchente, urbanização, escoamento superficial

O município de Ribeirão Preto, cidade do interior do estado de São Paulo,

localizado a noroeste da capital paulista, possui um histórico antigo e com dados

significativos relacionados às enchentes, inundações e alagamentos, desde o início

do século XX. A cidade é banhada por diversos córregos e ribeirões, com extensão

total em torno de 65 quilômetros. O córrego Ribeirão Preto, o mais extenso e um dos

mais importantes deles, encontra-se na área urbana da bacia hidrográfica do ribeirão

Preto. Sua nascente está localizada na área urbana do município de Cravinhos e

deságua nas águas do Rio Pardo.

A área conhecida e popularmente denominada por "baixada” da cidade é

formada pelo encontro dos córregos Ribeirão Preto e Retiro Saudoso, nas

proximidades com as avenidas Jerônimo Gonçalves e Francisco Junqueira, onde hoje

se encontram os edifícios decadentes da área central, o comércio e o local prestador

de serviços mais antigos e tradicionais da cidade, como o mercado municipal, o

Centro Popular de Compras, união de alguns antigos camelódromos e pequenas

empresas, e a estação rodoviária, além de alguns prédios e estabelecimentos antigos

que foram ou não desativados e desfuncionalizados e poucas residências, já que

esse local é predominantemente comercial.

O processo acelerado e desenfreado da urbanização produziu uma

ocupação irregular do solo urbano no qual surgiram inúmeras consequências

sociais, econômicas e ambientais. O município de Ribeirão Preto apresenta um

histórico significativo de inundações desde o início do século XX, como um dos

impactos oriundos da ocupação irregular em áreas de risco. Em decorrência dessa

situação, a prefeitura vem aplicando soluções de caráter paliativo e corretivo para

tentar controlar os efeitos oriundos das enchentes. É o passado que deixa resquícios

no presente e o presente interferindo no futuro.

Enchentes são eventos naturais que ocorrem com determinada

periodicidade nos cursos d´água, sendo causadas por chuvas intensas e rápidas ou

de duração considerável, sendo influenciadas pela ação antrópica. São problemas

geoambientais derivados de fenômenos ou perigos naturais de caráter

hidrometeorológico ou hidrológico, ou seja, aqueles de natureza atmosférica,

hidrológica ou oceanográfica. As cheias, termo técnico utilizado pelos especialistas,

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são situações de transbordamento de água do seu leito natural, atingindo o leito

menor, seja ele qual for, lagos, rios, arroios, córregos, mares e oceanos, sendo

sempre relacionadas com a quantidade e intensidade de precipitação atmosférica.

Nas inundações ocorre uma situação de transbordamento da água para o leito maior

ou planície de inundação, sendo resultado de uma chuva que não foi suficientemente

absorvida pelo solo e outras formas de escoamento. Além disso, também podem ser

provocadas de forma induzida pelo homem através de, por exemplo, rompimento ou

abertura de comportas de represas.

A frequência e a magnitude das inundações ocorrem em função da

distribuição e da intensidade da precipitação; da taxa de infiltração da água no solo;

do grau de saturação do solo e das características morfológicas e morfométricas da

bacia de drenagem. Desse modo, as enchentes aumentam em magnitude e em

frequência, por influência da ocupação do solo, impermeabilizando o mesmo e

diminuindo sua capacidade de infiltração. Já que os efeitos da urbanização dentro de

uma bacia hidrográfica estão no aumento da vazão máxima, na antecipação no pico

da vazão e no aumento do volume do escoamento superficial. O aumento das áreas

urbanizadas e, consequentemente, impermeabilizadas, ocorreu, em geral, a partir

das zonas mais baixas, próximas às várzeas dos rios, em direção às colinas e

morros.

Dessa forma, a parcela da água que infiltrava, passa a escoar pelos

condutos, aumentando o escoamento superficial. O volume que escoava lentamente

pela superfície do solo e ficava retido nas plantas, com a urbanização, passa a escoar

no canal, exigindo maior capacidade de escoamento do leito menor. Deve-se

ressaltar também que a intensificação do processo de urbanização provoca

alterações no ciclo da água devido ao aumento da demanda de água provocado pelo

crescimento populacional, aumento da carga poluidora descarregada nos corpos

d’água, modificações de bacias naturais podendo provocar aumentos nos picos de

enchentes devido à impermeabilização do solo que reduz a infiltração das águas das

chuvas, rebaixamento nos aquíferos provocado pelo uso crescente de águas

subterrâneas, alterações no micro-clima das cidades. Além disso, o crescimento das

cidades produz alguns fatores associados ao uso do solo como a erosão do mesmo,

modificando as condições naturais do escoamento, gerando assoreamento nos

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cursos d’água.

De outubro a março, principalmente durante os meses de verão, estação

mais problemática para a cidade, as chuvas tornam-se mais frequentes e mais

intensas, ocasionando um aumento significativo dos índices pluviométricos,

causando danos à sociedade e ao meio urbano. Desse modo, há também um

aumento da frequência das inundações no município de Ribeirão Preto,

representando 60% das mesmas, mais especificamente na região “baixada”. Há um

destaque para o ano de 2002, pois esse apresentou a maior altura pluviométrica nos

últimos 40 anos e os impactos causados pela enchente foram visivelmente maiores.

As consequências dessa falta de planejamento, regulamentação e

controle de ocupação do solo nas áreas de riscos são sentidas em praticamente

todas as cidades de médio e grande porte do país, como é o caso do município de

Ribeirão Preto que, de acordo com fontes 2011 do IBGE, possui 612.339 habitantes

em sua população total. Depois que o espaço está ocupado, as soluções disponíveis

são extremamente caras, tais como canalizações, retificações, diques com

bombeamentos, reversões e barragens, entre outras.

As construções de obras hidráulicas nos cursos d’água provocam

alterações no regime do córrego tanto para jusante, por exemplo, a realização de

canalizações, como para montante, por exemplo, a construção de barragens.

Controlar as inundações significa intervir nos diversos processos e elementos

envolvidos, objetivando minimizar seus efeitos. As medidas de controle de

inundações são divididas em estruturais e não estruturais. As primeiras são as que

se caracterizam pela construção de obras hidráulicas de grande porte, destinadas a

reter, confinar ou escoar com maior rapidez e menores cotas o volume de enchente.

Normalmente, apresentam grande área de influência e envolvem frequentemente a

aplicação maciça de capitais. São as medidas mais divulgadas, solicitadas e

empregadas, constituindo-se de obras de retificação, ampliação da calha,

canalização, diques de proteção e reservatórios regularizadores de vazão. Possuem

caráter corretivo, visto que solucionam os problemas já existentes, não eliminando a

total possibilidade de inundação, apenas diminuindo a frequência. Já as segundas,

são as ações que abrangem toda a bacia, ou de natureza institucional, administrativa

ou financeira, adotadas individualmente ou em conjunto, espontaneamente ou por

força da legislação, destinadas a atenuar os deflúvios ou adaptar os ocupantes das

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áreas parcialmente inundáveis para conviverem com a ocorrência periódica do

fenômeno. Por seu caráter preventivo, dispensam a alocação de enormes somas de

recursos exigidos para a execução das obras chamadas estruturais.

Dentre as medidas não estruturais é de suma importância o controle do

crescimento das áreas urbanas através do disciplinamento do uso e ocupação do

solo para que no futuro não se intensifiquem os inconvenientes provocados por

inundações, que aumentam os riscos de insegurança das populações e atividades

localizadas nas várzeas, pois controlar e regularizar a ocupação do solo é agir de

maneira preventiva.

Medidas a fim de corrigir o problema e mitigar os impactos causados

pelas enchentes e inundações são utilizadas e aplicadas em detrimento das medidas

que previnem a causa provocadora de tal situação. O solo já foi ocupado e utilizado

irregularmente por parte da população e a prefeitura, através de processos lentos e

graduais, tenta reverter essa situação depois que ela já foi instalada.

Em conjunto com essas modificações corretivas físicas, a prefeitura

investe também em programas e projetos de conscientização coletiva ambiental,

como por exemplo, a criação de um grupo de estudos anti-enchentes no qual

objetivava o Plano Geral de Macrodrenagem em 2009; do Programa Integrado de

Educação, sendo esse oriundo da Secretaria Municipal da Educação em parceria com

a Secretaria do Meio Ambiente, o mesmo envolve um grupo de discussão sobre as

causas das enchentes.

Desse modo, as enchentes e inundações na “baixada” da cidade, geram

inúmeros impactos que estão envolvidos nos âmbitos econômicos, sociais e

ambientais e que são (inter) relacionados. Podem-se citar alguns prejuízos tangíveis

como danos materiais, devido aos alagamentos em residências, em

empreendimentos comerciais, indústrias e no sistema viário implantado na várzea;

desabrigados que perdem total ou parcialmente suas residências; proliferação de

doenças; a geração de custos das emergências para o poder público; carros e ônibus

inundados, pontes danificadas que também estão associadas à queda de árvores;

falta de transporte público; congestionamento do tráfego de veículos e sua circulação

desordenada; corte na energia elétrica, entre outros. Deve-se destacar os danos não

materiais como o desaparecimento de pessoas; mortes e pessoas atingidas

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

indiretamente. Além disso, a região da baixada sofre também com a desvalorização

imobiliária e os imóveis desocupados são utilizados para o tráfico, consumo de

drogas e prostituição.

Os comerciantes e prestadores de serviços atingidos pelas constantes

inundações têm que adaptar seus estabelecimentos para não sofrerem com perdas

de mercadorias, deterioração dos espaços e com os estragos físicos nos

estabelecimentos. Além das comportas construídas para impedir ou pelo menos

tentar barrar a passagem da água, os comerciantes adaptaram suas empresas em

um nível superior ao da calçada, atingindo até dois metros de altura. Uma medida

eficiente tomada pelos comerciantes do mercado municipal foi a instalação de

bombas de sucção para retirar a água que ultrapassa as comportas. Mesmo com tais

adaptações, alguns proprietários resolveram vender suas lojas e afins, devido

tamanho prejuízo.

Há um projeto, estabelecido por um plano de ação contra enchentes, que

entrou em vigor no ano de 2008 durante o governo da prefeita Dárcy Vera,

representante do partido Democratas (DEM), quando foi eleita, no qual objetiva

minimizar e mitigar ao máximo os impactos sócio –econômicos –ambientais e seus

consequentes efeitos, com a ideia de diminuir a frequência das ocorrências de

enchentes no município.

CANHOLI, P. Drenagem urbana e controle de enchentes. Oficina de textos, 2005.302p.

CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geografia. São Paulo: HUCITEC, 1979. 106p.

DAEE. Plano Estadual de Recursos Hídricos: Primeiro Plano do Estado de São Paulo. São Paulo.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Jorge Luiz Fernandes de Oliveira [email protected]

Marina Aires

[email protected] Universidade Federal Fluminense

Palavras- chave: Bacia Aérea III, aeroporto Santos Dumont, modelos numéricos

O presente trabalho tem por objetivo analisar a influência do aeroporto

Santos Dumont na qualidade do ar da Bacia Aérea III, tendo em vista que essa bacia

engloba parte da cidade do Rio de Janeiro. A aviação civil, a nível mundial está em

constante expansão e consome de 2 a 3% dos combustíveis fósseis. Dessa forma, as

aeronaves são fontes emissoras de poluentes, que comprometem a qualidade do ar.

Para o presente artigo foram utilizados modelos numéricos para analisar o

comportamento da atmosfera e as trajetórias dos poluentes emitidos no referido

aeroporto.

No inverno, estação na qual ocorre o fenômeno da inversão térmica,

verifica-se um número expressivo de internações causadas por problemas

respiratórios. Esse é um dos problemas de difícil solução nos grandes centros

urbanos, onde veículos leves (motocicletas e automóveis) e pesados (ônibus e

caminhões) são os principais emissores de poluentes. Além do setor transporte as

indústrias emitem substâncias nocivas precursoras de oxidantes fotoquímicos, que

prejudicam a saúde dos seres vivos, deterioram bens materiais e comprometem a

qualidade do ar.

A área de estudo do presente artigo faz parte da RMRJ que fora dividida

em 4 Bacias Aéreas pela antiga Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente

(FEEMA) na década de 1980 e retificada por Oliveira (2004) e Farias (2012). “Uma

bacia aérea, embora o nome sugira um volume da atmosfera, é uma área cujo relevo,

delimitado por uma cota altimétrica mínima, dificulta a dispersão de poluentes

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gerados pelas atividades sócio-econômicas” (OLIVEIRA, 2004). Nessa bacia existem

2 aeroportos e 2 refinarias de petróleo. O aeroporto Santos Dumont está localizado

na Bacia Aérea III.

Além do setor transporte rodoviário, o transporte aéreo tem um papel

importante na qualidade do ar. Hoje, milhares de aviões transportam milhões de

passageiros por todo o mundo. A dimensão da frota mundial tem aumentado

consideravelmente durante as últimas décadas, contribuindo com grande carga

poluidora para a atmosfera.

Dados e metodologia

Utilizou-se as reanálises (KALNAY et al., 1996) baixadas do National Center of

Environmental Prediction (NCEP) e do National Center for Atmospheric Research

(NCAR), do mês de junho de 2007. O modelo Brazilian Regional Atmospheric

Modeling System (BRAMS) foi alimentado com as reanálises para simular o

comportamento da atmosfera com o tempo máximo de integração de 48 horas, com

3 grades centradas na bacia III, tendo a fina resolução de 2,5 x 2,5 km. O campo de

escoamento gerado pelo BRAMS foi utilizado para calcular as trajetórias avante

(forward), com o modelo de trajetória cinemática 3D (TC3D) (FREITAS, 1999), dos

poluentes emitidos na área de estudo no dia 15 de junho de 2007, nos horários de 9

e 18 horas local.

Resultados

Trajetórias dos poluentes no dia 15 de junho de 2007

Na Figura 1 verifica-se que a trajetória dos poluentes emitidos no aeroporto

Santos Dumont segue em direção ao Oceano Atlântico Sul, com altitude de 500 m,

desvia em direção ao estado de São Paulo com altitude em torno de 2600 m, retorna

ao estado do Rio de Janeiro com altitude aproximada de 2400 m.

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Figura 1: Trajetória dos poluentes emitidos no aeroporto às 9 horas

Na Figura 2 verifica-se que a trajetória dos poluentes emitidos no aeroporto

Santos Dumont segue em direção ao Oceano Atlântico Sul, com altitude de 500 m.

Figura 2: Trajetória dos poluentes emitidos no aeroporto às 18 horas

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Conclusão

Os poluentes emitidos no aeroporto Santos Dumont no dia 15 de junho de

2007 às 9 horas seguiram em direção ao oceano Atlântico Sul, passaram pelo estado

de São Paulo e retornaram à Bacia Aérea III. Os poluentes emitidos no horário das

18 horas seguiram em direção ao Atlântico Sul não retornando ao continente no

período de integração. Verifica-se que os poluentes emitidos no aeroporto Santos

Dumont influenciam na qualidade do ar não só da RMRJ como também do estado de

São Paulo.

FARIAS, H.S. de. Espaços de risco à saúde humana na Região Metropolitana do Rio de Janeiro: um estudo das trajetórias de poluentes atmosféricos do Arco Metropolitano, CSA e Comperj. Niterói, 2012,149p. Tese (Doutorado em Geografia – PósGEO - UFF) Universidade Federal Fluminense.

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OLIVEIRA, Jorge Luiz Fernandes de.

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Henrique Albiero Pazetti

[email protected] Instituto de Geociências e Ciências Exatas

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Palavras-chave: Geografia, lugar, cururu

Introdução

Este trabalho é fruto de algumas indagações e reflexões que vem sendo

feitas no programa de pós-graduação (mestrado) na Universidade Paulista Júlio de

Mesquita Filho (UNESP), campus de Rio Claro. Ele tem como anseio principal

analisar a relação do homem com o espaço (principalmente na escala local) e o

modo como é expresso através da música, neste caso específico o foco será a

música caipira e o cururu.

O viés fenomenológico presente na Geografia Humanista norteará este

trabalho. A Geografia Humanista surge como uma crítica à ciência positivista que

sendo “dogmática, abstrata e estreita em sua abordagem [...]” (ENTRIKIN, 1980, p.

21) deixa de lado aspectos importantes na relação do homem com o espaço

geográfico. Diferenciando-se do espaço matemático, a Geografia Humanista

compreende este (o espaço) como carregado de sentimentos e emoções, símbolos e

imaginações, muito presentes na música, foco primordial neste trabalho.

O trabalho acompanha o movimento crescente na Geografia que tem

trabalhado com novos temas nos últimos tempos, diversos assuntos que antes não

eram considerados no campo desta ciência vêm sendo estudados. A música é um

destes temas, porém, temos poucos trabalhos que procuram aliar música e

Geografia, principalmente aqui no Brasil.

Esta renovação temática é muito importante, pois, possibilita rever e

aprofundar conceitos importantes da Geografia através de outros ângulos. Procurar

compreender o espaço geográfico através da música nos abre novas possibilidades

de análise da relação do homem com o meio, permitindo que avancemos no corpo

teórico e prático de nossa disciplina.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

A origem da música caipira e do cururu

Sua origem é a mistura de dois elementos principais, o índio e o europeu.

Desde sua chegada ao Brasil o colonizador encontrou na música uma forma de

“cativar” os índios no processo de catequização através de seus instrumentos e

tradições musicais, dentre eles a viola (fundamental na realização deste estilo

musical). Por sua vez os indígenas tinham sua música marcada pelas danças com

forte ênfase rítmica, com o bater das mãos e dos pés. Deste encontro surgiram o

cateretê e o cururu, sementes da música caipira (ABREU, 2001).

A música caipira apresenta uma grande amplitude de ritmos e tradições.

O foco deste trabalho é o cururu que surge como uma adaptação a uma dança

indígena, utilizada com fins religiosos pelos europeus. Com o passar do tempo sua

forma foi se alterando, tornando-se uma espécie de repente paulista, onde dois

canturiões (os cantadores) duelam através de versos improvisados em uma mesma

rima (chamada de carreira), sobre os mais variados temas, sagrados ou profanos.

Existem duas versões principais para determinar a origem do termo

cururu, para alguns pesquisadores o termo surgiu da dificuldade que os índios

tinham em pronunciar a palavra cruz, assim ela foi se transformando até chegar ao

termo cururu (OLIVEIRA apud VILELA PINTO, 1999, NEPOMUCENO, 1999;

ANASTACIO, 2010). A outra versão afirma que o termo cururu se origina da palavra

Kuru´ru (um tipo de sapo na linguagem tupi), pois os índios dançavam pulando,

como sapos (OLIVEIRA, 2004).

O cururu se enraíza e se espalha pelo interior do estado de São Paulo

principalmente através dos Bandeirantes e posteriormente pelos Tropeiros, que

levaram consigo não somente cargas e produtos, mas também a cultura caipira,

difundindo-a sertão adentro.

Geografia, lugar e música: diálogos possíveis

Na música caipira, bem como nas trovas de cururu podemos perceber a

íntima relação do homem com o lugar: a saudade da terra natal e da casinha de

criação, da paisagem local, os cheiros, as cores e o cotidiano que tanto alimentam a

mente do cantor. Isto nos aponta para uma direção importante neste trabalho: a

música e sua ligação com o lugar que com suas características específicas, oferece

condições para a formação de estilos musicais diferentes: são como as cores e

pincéis fornecidos ao pintor para que faça sua obra.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

O lugar é um conceito muito importante para a Geografia, e recebe uma

atenção especial na Geografia Humanista (vertente que tem na fenomenologia uma

de suas bases filosóficas e alicerce na apreensão da relação do homem com o

mundo) que analisa o espaço pela dimensão da experiência humana e “significa

muito mais que o sentido geográfico de localização. Não se refere a objetos e

atributos das localizações, mas a tipo de experiência e envolvimento com o mundo, à

necessidade de raízes e de segurança” (RELPH, 1979, p.17). A pessoa se faz no

lugar, alterando-o e sendo alterada ao mesmo tempo, uma experiência cotidiana

expressa nas manifestações culturais, como a música.

Sendo a música um atributo humano, permeada por sentimentos, fruto da

vivência do homem com o lugar, entendemos que este viés geográfico (o humanista)

é quem melhor atende nossas necessidades para o presente trabalho, pois, focando

o espaço pelo olhar humano é possível abarcar coração e mente, razão e emoção,

música e ciência, quesitos fundamentais nesta jornada.

Conclusão

Como já foi mencionado acreditamos ser de suma importância uma

renovação temática na Geografia que possibilite analisar a relação do homem com o

meio em que habita por outros ângulos que possam engrandecer e fortalecer o corpo

teórico e prático em nossa disciplina.

Outra relevância enxergada neste trabalho é a revalorização das tradições

e culturas locais que são fundamentais para o sentido de pertencimento a um lugar e

a um habitar1. Isto é essencial para o ser humano se sentir seguro, acolhido no

espaço em que vive (na verdade tornando espaço em lugar (TUAN, 1983)), ainda

mais nos tempos atuais em que somos bombardeados pelos diversos meios de

comunicação com “culturas” que nem sempre nos são pertencentes e que pouco ou

quase nada nos acrescentam.

Este cenário pode deixar o homem desnorteado, sem chão, sem uma

referência sobre si mesmo e sobre o lugar em que vive, é neste contexto que o

trabalho pretende fazer um resgate das raízes da cultura caipira e do cururu,

1 O habitar na Geografia Humanista está embasado no conceito de dwelling do filósofo Martin

Heidegger e “[...] implica mais do que morar, cultivar ou organizar o espaço. Significa viver de um modo pelo qual se está adaptado aos ritmos da natureza, ver a vida da pessoa como apoiada na história humana e direcionada para um futuro, construir um lar que é símbolo de um diálogo diário com o meio ambiente ecológico e social da pessoa” (BUTTIMER, 1982, p.166).

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propondo uma revalorização das identidades locais, consequentemente, uma

revalorização do homem e de sua manifestação através da música.

ABREU, Martha Campos. Histórias da Música Popular Brasileira, uma análise da produção sobre período Colonial, 2001. Disponível em: http://www.historia.uff.br/nupehc/files/martha.pdf. Acessado em: 10/03/2011.

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Ponteados da Viola Caipira do Médio Tietê: Nheengatu- a Identidade Caipira. Sorocaba: Edição do autor, 2010.

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Ovo. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes. Campinas, 1999.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Mariana Ferreira Cisotto [email protected]

Ângela Cruz Guirao

[email protected] Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: floresta urbana, preservação ambiental, Campinas

Introdução

A maioria das florestas urbanas do município de Campinas foi

transformada em bosques naturais urbanizados, dotados de infraestrutura para lazer

e abertos à visitação pública. As áreas de vegetação remanescente existente dentro

dos parques e bosques municipais somam 38 ha, sendo que o aproveitamento

desses fragmentos como bosques públicos minimiza a ação de alguns fatores de

perturbação, tais como incêndios, extração seletiva, mas por outro lado, sofrem com

o acentuado isolamento devido à urbanização do entorno e medidas de manejo

inadequadas (SANTIN, 1999).

Muitos desses bosques e fragmentos de vegetação nativa de Campinas

foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de

Campinas (CONDEPACC), sendo considerados, portanto, patrimônios naturais.

O patrimônio natural, segundo Zanirato e Ribeiro (2006), pode ser

definido como uma área natural que apresenta características particulares com

registro de eventos do passado e a ocorrência de espécies endêmicas, o que justifica

a sua manutenção, uma vez que permite o reconhecimento da história natural e,

também, possibilita analisar as consequências que o estilo de vida hegemônico pode

causar na dinâmica natural do planeta. A beleza cênica ou sua importância para o

desenvolvimento de processos naturais são os atributos que fazem a área merecer

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

sua elevação à condição de patrimônio natural.

Nesse sentido, o patrimônio natural não representa apenas um

fragmento de uma vegetação nativa intocada ou ecossistemas com pouca

interferência humana, pois, pertencendo à memória social, ele incorpora paisagens,

que são objeto de uma ação cultural pela qual a vida humana se produz e se

reproduz, possuindo assim um duplo caráter: de memória natural e cultural

(RODRIGUES, 1998). Assim, este estudo tem como objetivo relacionar a resolução

de tombamento do Bosque dos Jequitibás (Campinas- SP) com sua preservação.

Proteção ambiental

Em 1915, a Prefeitura de Campinas adquiriu do cidadão Francisco Bueno

de Miranda o parque denominado Bosque dos Jequitibás, de tradicional memória na

cidade, tornando-se o principal espaço de lazer de Campinas até os dias atuais. Ele

possui uma diversificada infraestrutura: área de alimentação, com diversas

lanchonetes; área de recreação, com brinquedos infantis; fontes e um trenzinho; o

Teatro Carlos Maia; o Museu de História Natural, o Aquário e o Zoológico Municipal.

O Bosque dos Jequitibás teve sua proteção garantida por meio dos

seguintes instrumentos legais: o Tombamento do Zoológico pelo Conselho de

Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico, Artístico e Turístico do Estado de São

Paulo (CONDEPHAAT) em 1970; o Tombamento do Bosque dos Jequitibás pelo

Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (CONDEPACC),

em 19 de outubro de 1993, por meio da Resolução n° 13/93 e; Reconhecimento do

zoológico pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) em 1995.

O tombamento é uma das iniciativas possíveis de serem tomadas para a

preservação dos bens culturais e ambientais, na medida em que impede legalmente

a sua destruição e descaracterização. A Resolução de Tombamento pelo

CONDEPACC estabelece uma área envoltória de 300 metros, onde as edificações

posteriores à referida resolução devem obedecer a um zoneamento de preservação

específico quanto ao gabarito de altura. As alturas máximas das edificações variam

de 5 a 30 metros, a partir do nível da rua até a cumeeira do telhado, conforme zona

de proteção detalhada na resolução. Também são determinadas regulamentações

para a garantia da área permeável, conforme a área do lote, variando de 2 a 10% de

permeabilidade para os lotes com área total ou inferior a 300 m². Já os lotes com

área superior a 300 m², a área permeável é estabelecida em função de uma fórmula

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específica.

Para o Bosque dos Jequitibás como patrimônio tombado do Estado de

São Paulo as restrições e possibilidades são especificadas, submetendo a área a um

regime jurídico, que atrela os usos da terra às regras de preservação, interferindo na

ação dos agentes públicos e privados na produção do espaço geográfico. O

instrumento de tombamento também valoriza determinadas áreas, ao reconhecê-las

como patrimônio do Estado, fomentando novas perspectivas de exploração

econômica (SCIFONI, 2006).

Ocupação do entorno x preservação ambiental

Em 1981, houve uma grande alteração da dinâmica de ocupação da

região do entorno do Bosque dos Jequitibás durante a administração do prefeito

Francisco Amaral, quando foi instituída a Lei Municipal nº 5138 de 24/09/81, que

proibiu a construção de prédios com mais de dois pavimentos em um raio de 100

metros do Bosque, o que alterou consideravelmente a dinâmica de ocupação da

terra, alterando a dinâmica imobiliária do bairro e aumentando o valor dos lotes e

promovendo uma dispersão da população para regiões mais afastadas.

Além disso, essa proibição foi uma tentativa de minimizar a influência

direta das construções no entorno do Bosque, que alteram a características de

sombreamento, nível do lençol freático e radiação solar no remanescente. Segundo

especialistas, as fundações dos prédios que circundam o Bosque, em forma de

cinturão, alteram o curso d´água no subsolo, e as construções fizeram com que

fosse reduzido o número de horas de luz solar que a mata precisa. Além disso, o

referido paredão faz com que a haja a formação de uma corrente de ventos que pode

eliminar água das plantas e até derrubar árvores (HEURI et al., 1993).

O entorno do Bosque dos Jequitibás é uma área de urbanização

consolidada e muito verticalizada, onde há o predomínio de usos múltiplos, de

comércio, serviços e residências. A região teve rápido adensamento urbano a partir

da década de 1960, tendo aumentado o número de imóveis em 11 vezes entre 1971 e

1980 quando comparado ao período de 1961 a 1970 (EMPLASA, 2005). A região

sofreu drástica alteração, passando de majoritariamente não urbano (0,89% em

1962) para, na prática, integralmente urbano (99,30% em 2005) (FUTADA, 2007).

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

A moderna preocupação com a qualidade de vida e ambiental, fez da região

do Bosque dos Jequitibás, uma das mais valorizadas nas últimas décadas, com

terrenos à custos elevadíssimo e promovendo uma intensa verticalização.

O que se observa, portanto, é que a legislação de tombamento como

patrimônio ambiental urbano, quando analisada para inibir o adensamento urbano

devido a grande valorização do entorno dessa área, não foi suficiente, devido à falta

de fiscalização e regulação.

Considerações Finais

A necessidade de uma distribuição mais igualitária de áreas verdes na cidade é

destacada por vários urbanistas, pois a localização destas, na maioria das vezes, está

associada à especulação imobiliária. Assim, os espaços destinados ao lazer, parques

e praças públicas, quando bem equipados, tornam as áreas em seu entorno mais

valorizadas e, consequentemente, procuradas pela garantia de uma vida mais

saudável devido aos diversos benefícios que esses espaços lhes oferecem.

As medidas de proteção e as propostas da preservação ambiental em área

urbana, como o tombamento de áreas verde, sem a adoção de políticas urbanas

pautadas por compromissos e ações de cunho social por parte da administração

pública, tornam-se meros instrumentos de recuperação do valor imobiliário de áreas

degradadas dos centros urbanos.

EMPLASA, Região Metropolitana de Campinas – Padrões urbanísticos da região metropolitana de Campinas, dezembro de 2005. CD-ROM

FUTADA, S. M. Fragmentos

remanescentes da bacia do ribeirão das Anhumas (Campinas-SP): evolução e contexto. Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Campinas, 2007.

HEURI, D.; VARJABEDIAN, R.; SCIFONI,

S.; ESMERIZ, C.M.R.P.; GERALDI, S.M.; RODRIGUES, A.A.V. Revisão da regulamentação da área envoltória do Bosque dos Jequitibás, 1993 in Processo de

Tombamento Bosque dos Jequitibás (CONDEPACC, Resolução n°13 de 02/09/1993).

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SANTIN, D. A. A vegetação remanescente

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

SCIFONI, S. A construção do patrimônio natural. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 2006.

ZANIRATO, S. H.; RIBEIRO, W. C.

Patrimônio cultural: a percepção da

natureza como um bem não renovável. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 26, n. 51, 2006.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Sergio Elias Caperuci [email protected]

Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”

Palavras-chave: comunidade caiçara, turismo, associações de moradores

Esta pesquisa foi realizada na comunidade caiçara da Praia do Sono

localizada na Região sul do estado do Rio de Janeiro, no perímetro pertencente ao

município de Paraty. Uma vila de pescadores e agricultores de aproximadamente 300

moradores, que vivem nessa região a aproximadamente 400 anos, tendo o acesso

apenas pelo mar, ou por trilha pela mata atlântica.

Durante o vasto período que vai do século XVIII ao início do século XX,

verificou-se no Brasil a formação de várias comunidades litorâneas cujos membros

viviam, sobretudo ou parcialmente, da atividade pesqueira. Essas comunidades, “os

caiçaras”, estavam dispersas por todo o litoral sudeste e seus modos de vida e

culturas específicas puderam imergir, diferenciando profundamente seus membros

dos grupos que viviam na órbita de outras atividades e outros nichos ecológicos.

(SILVA, 1993).

Na realidade dessa comunidade ainda tem-se o fato de estar inserida no

interior de duas áreas de proteção ambiental sobrepostas, sendo essas a “APA- Área

de Proteção Ambiental do Cairuçú” e a “REJ- Reserva Ecológica do Juatinga”. Fato

que influencia diretamente o cotidiano dessas, e a dinâmica de organização do

espaço.

Atualmente essa área esta passando por um processo de intensa

valorização pela atividade turística, que observa grande potencial em virtude de suas

potencialidades paisagísticas. Esse processo porem tem efeitos profundos na vida

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cotidiana e na configuração espacial de pequenos núcleos de povoamentos em meio

à densa vegetação.

Sobre turismo, Cruz (2003) aponta que segundo a OMT (Organização

Mundial do Turismo) turismo é uma modalidade de deslocamento espacial, que

envolve a utilização de algum meio de transporte e ao menos uma pernoite no

destino; esse deslocamento pode ser motivado pelas mais diversas razões, como

lazer, negócios, congressos, saúde e outros motivos, desde que não correspondam a

formas de remuneração direta.

Conflitos em lugares apropriados pelo turismo são resultantes das

diferenças de territorialidades que caracterizam o uso de seus territórios, que quer

dizer, entre a territorialidade nômade dos turistas e a territorialidade sedentária dos

residentes locais. As lógicas que movem a apropriação dos aspectos por um e por

outro ator social. Nesses casos, turistas e residentes têm naturezas muito diferentes

e, por isso, muitas vezes conflitantes. Se por um lado, a apropriação dos lugares

pelos turistas se da a partir de relações por mais fugazes com os lugares que visitam,

por outro os residentes desses lugares tem relações mais duradouras com seu

quinhão de território. (KNAFOU, 1996 apud CRUZ, 2003).

Sabendo-se dessa problemática ao redor da formação de uma estrutura

voltada a atender as necessidades trazidas com os visitantes foi realizada uma

analise de como os moradores dessa comunidade estão lidando com essa nova

demanda e de certa maneira se “defendendo” dos efeitos negativos trazidos com o

turismo.

Observou-se nesse estudo de caso que os moradores se organizam na

forma de uma Associação de Moradores, que se trata de um espaço onde os

integrantes da comunidade, que residem e retiram seu sustento da natureza e do

turismo podem expor e debater suas ideias, suas aspirações e reivindicações, na

intenção de pressionar a prefeitura de Paraty, e de certa forma organizar a atividade

turística para que essa possa se desenvolver da maneira menos nociva possível para

a cultura e o ambiente.

O alto fluxo de visitantes nos meses de alta temporada e a baixo numero

nos meses de inverno no Brasil caracterizam o turismo nessa região como sazonal,

ocorrendo que em determinada época do ano os moradores se preparam para

receber turistas e captar da melhor forma possível seus recursos, e nos meses de

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

baixa temporada buscam seu sustento de outras atividades principalmente a pesca,

muitos ainda saem da comunidade e buscam trabalho nas cidades mais próximas.

Com esse fato é possível perceber o quanto o turismo reconfigura o

território dessa comunidade, e o quanto de certa forma já se desenvolveu certa

dependência dessa atividade, que segundo os próprios moradores pode ser

interpretada de muitas formas, tanto positivas quanto negativas, dependendo quais

variáveis que estão sendo levadas em consideração.

Pode-se tirar algumas conclusões desse estudo sendo que, mesmo em

uma escala reduzida, a associação de moradores desenvolve um importante papel

na questão da conscientização e do engajamento político da comunidade, também já

foram obtidas algumas melhorias significativas no cotidiano dessa comunidade em

virtude de manifestações organizadas pela associação na intenção de se pressionar o

poder público para o processo de especulação imobiliária que acontece nessa região.

Porém, levando em consideração o potencial turístico, e a realidade de

inúmeras comunidades caiçara que residem nessa região, as melhorias na vida e na

acessibilidade ao espaço, a educação, e cultura podem ser muito mais relevantes se

os moradores se conscientizarem de sua condição e se motivarem por um

comportamento comum, que pode trazer mudanças e melhorias profundas em sua

realidade.

CRUZ, Rita de Cássia. Introdução à geografia do turismo. São Paulo, Editora Roca, 2003.

CRUZ, R. A. Turismo e o mito do

desenvolvimento. Espaço e Geogra-fia, vol.3, jan-jun. 2000.

SILVA, L. G. S. da. Caiçaras e jangadeiros:

cultura marítima e modernização no Brasil. CEMAR: Centro de Culturas Marítimas, USP. São Paulo, 1993.

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Thiago Rodrigues Gonçalves [email protected]

Instituto de Geociências e Ciências Exatas Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”

Palavras-chaves: geograficidade, geosofia, lugar

Quanto da vida humana a Geografia é capaz de compreender fora do

lugar? Até que ponto a análise fria de dados “duros” pode alcançar da vida cotidiana?

E mais: é do escopo da Geografia o dia-a-dia, o corriqueiro, o cotidiano? Cabe ao

geógrafo atentar para o que não está aparentemente determinado pelas

macroestruturas que comandam o mundo?

Tais questionamentos nos levam a enxergar geografias, para além de

uma única geografia. Nos faz atentar para o mundo das infinitas experiências

humanas, que conseguem criar a cada novo momento de encontro um novo mundo

construído pelo conhecimento geográfico que todos e cada um possuímos. A

“geosofia” (WRIGHT, 1947; MARANDOLA JR., 2010) que, então, vai tratar desse

mundo tornado lugar, obriga o trabalho do geógrafo a se expandir infinitamente e

apreciar com olhar neófito, até mesmo, o hábito que faz com que as pessoas

prefiram este ponto de ônibus àquele. Porque a cada nova escolha, a cada nova crise

criada pelo meio, a cada nova resposta a essa crise, temos novas geografias.

A partir daí, tudo é geográfico. Isto porque, de fato, tudo é geográfico. E a

relação das pessoas com seus lugares passa a conter todas as possibilidades de uma

existência no mundo, atenta e consciente. Um contínuo suceder de novas

experiências que significam a vida humana e o planeta, uma relação íntima,

umbilical, com o telúrico – uma “geograficidade” (DARDEL, 2011) da existência.

E a “geograficidade”, como nos ensinou Eric Dardel, toma a todos e a

tudo de surpresa, porque existir enquanto “ser-no-mundo” só é possível num mundo

em que aquilo que me rodeia ganhou sentido profundo de valoração e

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

pertencimento. É bom ter em mente alguns poucos exemplos daquilo a que nos

referimos aqui. O ser armênio é o sentimento de armênio que emana do Monte

Ararat – que se vê todas as manhãs da janela com sofrimento, uma vez que já não

pode mais ser alcançado, já que jaz além da fronteira turca –; um negro quilombola é

aquilo que sabe e extrai da terra onde seus antepassados pisaram, marcando com

suor e sangue um território de luta contra a escravidão; um homem de negócios, alto

executivo, tem nos aeroportos que frequenta o porto seguro de sua existência

frenética. Um sentido de proximidade com o planeta percorre todas essas relações

humanas, tão distintas, com distintos atores, símbolos e lugares.

Quanta geografia existe nos meandros dessas jornadas existenciais que a

Geografia escolhe não ver…

De mesmo modo que ocorre com quilombolas, armênios e altos

executivos, essa relação íntima também pode ser vislumbrada na Arte

(MARANDOLA JR., GRATÃO, 2010). Em alguns casos mais obviamente, noutros

demandando maior atenção, mas sem dúvida que o sentido de “geograficidade” está

presente em todas as formas de expressão artística que a imaginação e o intelecto

humanos foram capazes de criar. Dança, pintura, escultura, teatro – música. Uma

infinidade de explosões criativas, resultado do encontro nem sempre pacífico entre

Homem e Mundo – carregando em si as experiências daqueles que as utilizam como

válvula de escape.

Sem dúvida trata-se de uma perspectiva que torna a aproximar a

Geografia de suas ciências irmãs – a Antropologia, a Sociologia, a História. Mas sob

um viés muito mais ontológico que epistêmico. Resgatando dessas ciências o

conhecimento construído ao longo de séculos de separação e distanciamento, a fim

de poder mergulhar profundamente nos sentidos do mundo.

Porque, como olhar para um ensaio de uma escola de samba, por

exemplo, e querer encontrar positivamente aspectos distintos, concernentes a cada

um desses campos de saber? “Isto” é geográfico, enquanto “aquilo” é antropológico

– e o que é uma coisa não pode, positivamente, ser outra, são divisões estanques e

permanentes. Não é o que propõem outros paradigmas dentro da ciência geográfica.

Trata-se de somar antes de subtrair e classificar.

O samba “é a tristeza que balança”, disseram Vinícius de Moraes e

Baden Powell, que também avisaram que “pra fazer um samba com beleza é preciso

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um bocado de tristeza”. Cantam o “Samba da Benção” e pedem licença aos bambas

que souberam fazer desse aviso matéria-prima de músicas que estão no coração de

muitas pessoas. Ambos não podiam estar mais corretos quando dizem isso, porque,

de fato, há no “samba bonito” um fundo de lamento, que o povo expressa

alegremente e dança em festas as mais variadas.

Pedindo licença aos poetas-compositores, gostaríamos de incluir que

além desse sentimento profundo (quase ancestral) de tristeza que o samba carrega,

ele também é continente de expressões por vezes as mais singelas da

“geograficidade” de que falávamos anteriormente. Em suas letras certamente (desde

os sambas-enredo e sambas-exaltação, passando pelos partido-altos de domingos

em família, chegando até a bossa-nova e seus acordes comedidos), mas também na

sua concretização enquanto “fenômeno geográfico”.

Porque o samba tem lugar, acontece em um lugar. Lugar que é assim em

função das relações que são estabelecidas entre as pessoas e o espaço por causa do

samba. Rodas de samba, terreiros de samba, casas de samba, ruas de samba,

escolas de samba, fundos de quintais, mesas de botecos, enfim, lugares que ganham

concretude, sentido e relevância para a existência de muita gente bamba porque ali

se reúnem, se encontram (consigo mesmos) para fazer o samba.

A tripla esquina das ruas São Vicente, Cardeal Leme e Dr. Lourenço

Granado, no bairro do Bixiga (que não existe oficialmente, mas extraoficialmente,

certamente), em São Paulo é um desses lugares-samba. Num prédio acanhado para

caber tanta história (geografia, antropologia, etc.) está a sede do Grêmio Recreativo

Cultural Social Escola de Samba Vai-Vai, o Vai-Vai. Durante uma época do ano,

quando está dada a largada para o próximo desfile de Carnaval, esse lugar com

endereço fixo e paredes também fixas extravasa-se à base de suor, surdos e gentes, e

toma de assalto as ruas adjacentes, transformando o bairro e os cotidianos.

Essa transformação não acontece espontaneamente (é dizer: não é

constitutiva do espaço, uma propriedade intrínseca do lugar), nem é o resultado de

fatores facilmente explicáveis. São os milhares de participantes dos ensaios da

Escola que fazem daquelas ruas comuns (algo que, depois do exposto até aqui, é

difícil acreditar que exista) lugar. São suas experiências, descombinadas, caóticas,

descontínuas – no entanto, conscientes – do mundo à sua volta que resignificam

ruas e as tronam outra coisa; confere-lhes novas geografias, num átimo.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Do mesmo modo súbito como a transformação se dá, ela desaparece.

Mas apenas para dar lugar a outras formas relacionais com aquele espaço de São

Paulo. Espaço pequeno, mesmo diminuto, diante da dimensão da metrópole (ainda

menor se a escala é todo o globo).

Quanto da vida humana a Geografia é capaz de compreender fora do

lugar? O lugar entendido como essa dimensão geográfica da existência humana,

dimensão de amores e ódios, sentimentos, ações, cotidianos (TUAN, 1975; 1983;

RELPH, 1979; HOLZER, 1999). Responder a tal questionamento é não abrir mão de

compreender a vida humana em seus inúmeros aspectos, é buscar desvendar o que

jaz inconspícuo nesse mundo “tal como ele é”, olhá-lo de relance e vislumbrar as

possibilidades de geografias que o permeiam.

DARDEL, Eric. O Homem e a Terra: natureza da realidade geográfica. São Paulo: Perspectiva, 2011. 108p.

HOLZER, Werther. “O lugar na Geografia

Humanista”. Território, Rio de Janeiro, ano IV, n.7, p. 67-78, jul./dez. 1999.

MARANDOLA JR., Eduardo. “Humanismo

e arte para uma geografia do conhecimento”. Geosul, Florianópolis, v. 25, n. 49, p. 7-26, jan./jun. 2010.

MARANDOLA JR. Eduardo; GRATÃO,

Lúcia H. B. "Geograficidade, Poética e Imaginação" In: MARANDOLA JR., E.; GRATÃO, L. H. B. (orgs.). Geografia e Literatura: ensaios sobre geograficidade, poética e imaginação. Londrina: EDUEL,

2010, p. 7-15. RELPH, Edward. “As bases

fenomenológicas da Geografia”. Geografia (Rio Claro), Rio Claro, v. 4, n. 7, p. 1-25, 1979.

TUAN, Yi-Fu. Place: an experiential

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experiência. São Paulo: Difel, 1983, 249p.

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

David E. Madeira Davim [email protected]

Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Palavras-chave: método, fenomenologia, espaço geográfico

O contexto científico atual tem vivenciado um desafio paradigmático,

uma provação desconfiada e crítica, dirigida por um pensamento e por uma ética

pós-moderna que vem se consolidando nos últimos 30 anos. Não se trata de uma

crise funcional, pois a ciência, principalmente no que se refere à produtividade das

ciências aplicadas, segue em ritmo acelerado, o que indica sua segura continuidade.

Trata-se, porém, de uma crise de autoridade que se faz crescente devido à suspeita

de falência deste modelo racionalista que universalizou suas explicações sobre a

realidade, recusando-se, assim, a interpretar os aspectos subjetivos e singulares do

mundo que se apresenta (GOMES, 2003). A Geografia, frequentemente acusada de

não apresentar resultados satisfatórios pelo uso do racionalismo em suas

metodologias de leitura sobre o mundo, também vem sofrendo os questionamentos

desta tendência pós-moderna como mais um apelo de adequação (GOMES, 2003).

Uma de suas categorias mais usuais, o espaço, vem sofrendo os reflexos destes

questionamentos. O espaço acabou se tornando a primeira substância para a

sustentação de demais conceitos chaves como paisagem, território e região, todos

revigorados pelo marxismo e pelo estruturalismo recente (CORREA, 1995). Tanto o

estruturalismo, o marxismo, e sobretudo o positivismo ainda presentes em grande

parte do corpo metodológico das ciências sociais, vêm respondendo mal às

provocações pós-modernas. Não havendo a possibilidade de estes métodos

encontrarem alternativas próprias à valorização sobre o subjetivo, ao abandono do

racionalismo, do normativismo, da objetividade sobre o real, da universalização

imposta pelos seus modelos (Estruturalismo e Marxismo), acabaram por se tornar

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um autoritarismo dogmático dentro do conhecimento. Estes resultados vão de

encontro com o próprio papel da ciência, que de fato coloca o pensamento em uma

impossibilidade de autossuperação, resultando na tão polêmica condição de crise e

em uma falta de interlocução com as demandas pós-modernas (GOMES, 2003).

Esta proposta de trabalho leva em conta as atuais críticas e exigências do

contexto científico pós-moderno, e dá continuidade ao desenvolvimento geográfico e

ao seu repensar, baseando-se em pressupostos fenomenológicos. Esta proposta

objetiva discutir e repensar o conceito de espaço sob a regência do método

humanista, especialmente o representado pela fenomenologia e pela hermenêutica.

Pautada em um logocentrismo, a Geografia estruturou sua base

científica, sendo o espaço um dos principais conceitos que marcam essa trajetória.

Para a escola tradicional, a paisagem seria a matriz de elaboração do conceito de

espaço, e nesta visão, a noção de espaço estaria associada às condições materiais

para o trabalho. Para o positivismo, a ideia de espaço tornou-se um elemento

absoluto, independente de qualquer objeto, livre de sua associação com o tempo,

como se fosse um campo transcendental estabelecido por um conjunto de pontos

que existem por si. Posteriormente, os neo-positivistas aproveitariam desta

interpretação para disseminar uma alusão cartográfica ao conceito, uma ideia de

espaço enquanto área mensurável, distância, ou matriz da materialidade (SPOSITO,

2004). No período crítico, influenciado pelo marxismo científico, o espaço foi

apresentado enquanto o próprio evento social e não simplesmente como o palco

onde o mesmo acontecia. Dentre as interpretações seminais deste entendimento, o

espaço seria visto enquanto o próprio contexto das relações e dos conflitos sociais.

Já o estruturalismo, em interlocução com o marxismo, fragmentou o evento de

conflito em elementos que se organizam, formando o espaço enquanto uma espécie

de sistema de coisas e dinâmicas. Este sistema seria representado por elementos

essenciais constituintes: a forma, a função, a estrutura e o processo (SPOSITO,

2004).

De certo modo, tanto a proposta marxista quanto sua interlocução com o

estruturalismo ofereceram uma aproximação parcial dos modelos teóricos de espaço

com a realidade, uma aproximação correta, mas não verdadeiramente ontológica. Os

modelos interpretativos sobre o espaço geográfico absorveram os elementos de uma

condição pronta e prévia dos eventos, um constructo acumulativo de ideias e

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

modelos que foram organizados no sentido de estabelecer um universalismo de

entendimento sobre a realidade. A partir do momento em que o discurso crítico

sobre o espaço se torna um modelo a ser revalidado pelas experiências geográficas,

seu distanciamento da realidade se agrava (GOMES, 2003).

A perspectiva humanista ressurge no contexto epistemológico

contemporâneo como um colaborador em potencial para a superação desta

condição apriorística, racional e universalista que ainda orienta o pensamento

geográfico atual (GOMES, 2003). Nos argumentos de Holzer, a Geografia

Humanista, apoiada filosoficamente pela fenomenologia, busca compreender a

realidade, em um primeiro momento, por meio da experiência humana direta com os

fatos (HOLZER, 2003). Em um segundo momento, pelo pensamento e, por fim, nas

relações da própria Geografia com outros campos do conhecimento, dentre os

principais, a Filosofia. O propósito científico desta escola humanista se fez reflexo da

proposta filosófica de autores germinais como Husserl e Heidegger, e se preocupa

em promover um retorno a uma ciência primeira, entender os espaços por meio das

sensações, impressões, relações e na exploração do imaginário construído pelos

sujeitos em relação ao seu meio de vivência, o lugar, a substância possível de ser

conhecida pelo sujeito de forma plena (HOLZER, 2003). A Geografia Humanista não

se basta apenas no sensível, mas também nas impressões, idealizações e nos

pensamentos construídos pelos sujeitos, em detrimento desta realidade, noção

associada ao principio de imanência real de Husserl e pela ontologia de pensamento

proposta por Heidegger. A influência destes autores proporciona o surgimento de

novas metodologias de análise sobre a realidade e, consequentemente, sobre o

espaço geográfico e seus fragmentos.

Pautando-se em Heidegger, a primeira postura adequada para a

Geografia em atender as demandas pós-modernas e buscar a verdadeira

compreensão do espaço é, primeiramente, se desvencilhar dos pressupostos

exclusivamente racionais e universalistas da ciência. Posteriormente, seguindo a

proposta de Heidegger devemos questionar a realidade. Este questionamento toma

um caráter diferenciado na proposta de Tuan (apud Holzer, 2003, p. 116) que

direciona esta fase investigativa não para a realidade em si, como uma experiência

vivida pelo próprio pesquisador, mas para a relação de outros sujeitos do

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conhecimento com o real, entes que de fato possuem uma relação mais direta com a

fração espacial em questão, o lugar.

Outro exemplo metodológico desta busca verdadeira sobre o

entendimento dos espaços está presente na arqueologia fenomenológica criada por

Husserl, mas desenvolvida em contextos contemporâneos por Marandola Jr. Este

método de investigação dialoga com a proposta de Tuan, que buscam conhecer as

percepções e os significados revelados pelos sujeitos em suas experiências com os

lugares. Em contrapartida, o que é acrescentado neste encontro metodológico com

Tuan é a valorização que Marandola Jr. dá à interpretação do pesquisador mediante

suas próprias experiências com a realidade. A motivação central de arqueologia

fenomenológica é alcançar a imagem do espaço e seu entendimento por meio da

reconstituição do imaginário coletivo sobre o mesmo. Com este objetivo o

pesquisador parte do reconhecimento sobre a fluidez contemporânea. A fluidez dos

fenômenos, fruto da demanda do contexto pós-moderno, marca todos os aspectos

de nossa atual realidade e, dentre seus elementos, o pesquisador chama a atenção

para a relação entre sujeito e objeto. Na prática, esta relação fluida se dá por meio da

preocupação intuitiva com o objeto (o espaço, o lugar) e uma ação investigativa não

planejada, pois não há agendamento de atividades, leituras prévias e específicas

sobre o ambiente ou o estabelecimento de um arranjo de entrevistas. As caminhadas

pelos lugares se apresentam como a forma pela qual o pesquisador pode

experimentar a interação com o espaço e com seus sujeitos do dia a dia. Porém, esta

caminhada não é uma observação solitária. Acompanhada do “conversante”, o

trajeto não se torna apenas um alcance aos espaços, mas uma busca no

entendimento do simbólico dos sujeitos que com eles interagem por diferentes

perspectivas. Na proposta fenomenológica esse seria um método coerente. Desta

forma a análise pessoal do informante e o registro do pesquisador mediante a

observação estariam conectados, e a verdade, ou a essência sobre a realidade, seria

plenamente possível (MARANDOLA JR., 2008).

Tanto a topofilia, de Tuan, quanto à arqueologia fenomenológica de

Marandola Jr. se fundamentam no princípio defendido por Husserl em buscar as

infinidades de perspectivas sobre o fenômeno. Em uma preocupação geográfica,

validar este princípio seria considerar as inúmeras perspectivas de análise sobre os

espaços, uma espécie de descrição densa (GEERTZ, 1989). Esta descrição deve,

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

considerar e agregar ao seu discurso investigativo, a impressão de outras instâncias

do conhecimento, mesmo que estas impressões sejam aparentemente ilógicas,

baseadas em sentimentos, valores e interpretações simples. Com a concretização

deste princípio, a Escola Humanista conduz a investigação perguntando antes as

questões ontológicas aos informantes, depois as deparam com observações e

experiências puras e desprendidas de teoria do pesquisador, no intuito de alcançar a

primeira ciência. Em seguida, constroem interpretações que dialogam com a base

teórica da Geografia Humanística, de outras áreas do conhecimento, principalmente

a filosofia, proposta por Heidegger, criando, por fim, afirmações densas e singulares

sobre a realidade pesquisada. Sobre esta ótica o conceito de espaço ganha o âmbito

da diversidade, da peculiaridade mediante não só a uma combinação de elementos

materiais e dinâmicos, mas, sobretudo, de acordo com o sentido projetado por seu

vivente.

CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito chave da geografia. In: CASTRO, Iná Elias de (Org.); GOMES, Paulo César da Costa (Org.), CORRÊA, Roberto Lobato(Org.). Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p.15-47.

GEERTZ, Clifford. A Interpretação das

Culturas. Rio de Janeiro: Ed LTC, 1989.

GOMES, Paulo Cesar da Costa. Geografia e modernidade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.

HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferencias. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

HOLZER, Werther. O conceito de lugar na Geografia Cultural-Humanista: uma contribuição para a Geografia Contemporânea. Geographia, Ano V, n.10, p.113-123, 20 HUSSERL, Edmund. A ideia da Fenomenologia. Lisboa: Edições 70, 1990.

MARANDOLA JR., Eduardo. Mapeando “londrinas”: imaginário e experiência urbana. Geografia, v. 33, n.1, p. 103-126, 2008.

SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora da UNESP, 2004.

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Bernard Teixeira Coutinho [email protected]

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Palavras-chave: homem-natureza, além-do-homem, (re)naturização

É sabido que a dicotomia homem-natureza é herança direta da Filosofia.

Das dicotomias existentes na ciência geográfica, desde a sua institucionalização, a

que separa homem e natureza é, sem dúvida, uma das mais incômodas. O homem,

(des)naturizado, torna-se fraco diante das contínuas transformações do mundo. O

caos, a angústia, o medo, a morte passaram a ser temidas pelo homem que, cada

vez mais, recusa a experiência de suas sensações espaciais. A contínua mudança, o

repentino despertar do “novo”, a corrida para o lugar desconhecido são coisas que

ocorrem, mas o homem não entende as suas significações. A natureza é o distante e

requer determinado deslocamento para que se conceba o seu reconhecimento. O

homem torna-se maldito, pois agride a imaculada forma da natureza. Mas que

natureza é essa que se tornou tão distante do homem? E que homem é esse que se

tornou tão nefasto?

Nossa reflexão tomará como ponto de partida as questões colocadas

acima para, em linhas gerais, anunciar a dicotomia sociedade-natureza e propor um

diálogo com a filosofia de Nietzsche que, por sua vez, sempre a denunciou. Este

trabalho tem como desiderato principal, portanto, desenvolver uma breve análise

sobre a dicotomia sociedade-natureza resgatando a filosofia de F. Nietzsche, a partir

de sua obra Assim falou Zaratustra.

No prólogo III de Assim falou Zaratustra, Nietzsche trata de um termo

filosófico antigo, que remonta o século II d.C. Trata-se do além-do-homem. Em

Nietzsche, além-do-homem ganhou caráter anticristão e uma ampla dimensão,

quando relacionada às esferas políticas, culturais e artísticas (ARALDI, 2002). A

releitura deste termo pelo filósofo alemão é resultado de seu propósito em convocar

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o homem, ao reintroduzi-lo na natureza. Não de forma arbitrária ou, apenas, fruto de

um discurso filosófico vazio, mas atentando para o seu sentido, que também é o

sentido da terra. Tomemos conhecimento de sua máxima: “o super-homem é o

sentido da terra. Fazei a vossa vontade dizer: ‘Que o super-homem seja o sentido da

terra!’” (NIETZSCHE, 2006, p.36).

O homem assume um lugar importante na etapa de desenvolvimento

da natureza ou, ainda, do além-do-homem. Ele é um dos estágios por onde a

natureza se transforma e ganha sentido. Deste modo, é dever do homem superar-se,

atingir a etapa seguinte do estágio, e não retroceder. O homem possui a capacidade

de pôr em questionamento o sentido de sua presença enquanto tal. Ele se põe em

transformação constante, porque necessária, e caminha entre a condição de animal e

a condição de além-do-homem. É isto que o torna grandioso. Este movimento

constante do vir-a-ser, do devir, é importante para superar a desnaturização

provocada pela cultura judaico-cristã. O devir, portanto, deverá ser a meta do

homem, o seu “processo do desejo” (DELEUZE; GUATTARI, 1997, p. 64).

Mas o ato do não retrocesso não pressupõe a negação do que se foi.

Isto é, o homem enquanto tal não pode negar a sua completude enquanto animal,

assim como o além-do-homem não pode negar o seu passado enquanto homem. A

superação é sempre vista atrelada à criação do novo que está intimamente

relacionado com o movimento. Diante disso, torna-se claro que a busca pelo sentido

da terra advém da preocupação metafísica do filósofo alemão.

Aliás, é a partir de sua metafísica que o homem passa a ser conhecido

como um ego volo, isto é, como um homem que se dispõe e se põe na natureza a

partir de sua vontade, o que o cartesianismo teimou em destruir. Daí Kahlmeyer-

Mertens (2008, p. 10) dizer que “com isso, poderíamos caracterizar provisoriamente

o super-homem como o que está ordinalmente depois ou, mais além, do homem em

sua compreensão tradicional (animal racionale)”.

O sentido da terra, deste modo, se dá a partir da (re)naturização do

homem interpelando o além-do-homem, que agora se concebe enquanto “sistema

orgânico superior” (ARALDI, 2002). Nesse sentido, o corpo, excluído pelo

cristianismo, é (re)afirmado, (res)espacializado, rumando ao encontro com a alma.

Somente pela terra o homem toma conhecimento disto, mas negando os postulados

sustentados pelo cristianismo. Ruy Moreira (2010) assevera que...

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O nascimento do cristianismo materializa essa exclusão do corpo. Até o seu advento, é o corpo que mantém o elo do homem com a natureza. São as necessidades do corpo que lembram ao homem sua condição natural e é o uso do corpo em sua relação com a natureza que dá conta de resolver essas necessidades (p. 135).

Mas afinal, o que é a natureza na visão de Nietzsche? Em primeiro

lugar, natureza não deve ser pensada apenas sob os seguintes eixos: a partir do

binômio orgânico-inorgânico e como fonte de recursos ao homem (GOBBO, 2010).

Falamos da superação e da criação acima e pretendemos discorrer sobre a

concepção de natureza para o filósofo partindo da ideia de criação. É na natureza em

que o homem é capaz de curar-se da espiritualidade (a)espacial imposta pela cultura

judaico-cristã e, ademais, é através dela em que o homem cria e (re)cria valores.

A criação da própria natureza, e aí levando em consideração a

homogeneidade de forças entre o orgânico e o inorgânico, é regida pela teoria das

forças, “manifestando um querer-vir-a-ser-mais-forte, irradiando uma vontade de

potência” (MARTON, 2009, p. 139 apud GOBBO, 2010, p. 69). Isto é, o homem se

torna forte, pois busca a “grande saúde”. A respeito da doutrina da vontade de

potência, o filósofo retoma as formulações de Schopenhauer sobre vontade e propõe

duas formulações: a poética, encontrada no livro Assim falou Zaratustra; e a

conceitual, encontrada em Além do Bem e do Mal (além, é claro, de desdobramentos

em textos póstumos). A vontade de potência é a vida, algo que se nutre no interior a

partir de um desejo. A vida se autossupera.

A vontade de potência é aquilo que fornece ao devir o seu transcurso,

suas possibilidades, assim também o é para as ações. É o caminho que se abre ao

homem que deseja dar impulso aos seus propósitos. E aqui se instala uma forte

crítica à moralidade imposta aos homens. A vontade de potência como vida é o

desejo em poder-ser, ter o poder, o controle de decidir, de abolir valores

dominadores. É este o sentido da natureza.

Quanto ao devir, é interessante perceber a maneira como Nietzsche a

utiliza para denunciar o homem universal, homogeneizado, aquele que desconhece a

diferença. O devir é produtor da diferença, da assimetria, das forças múltiplas que

competem o juízo do poder. Em outras palavras, é a negação da mimese, isto é, da

aceitação do que já está posto, cristalizado. A coisa universal inexiste, a

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imutabilidade instalada pela imitação é um desvio e um perigo, nos termos de

Platão.

O conceito aristotélico de mimese, entendido como o prazer do homem

ou como sua essência, acontece quando o homem conjuga uma forma a partir de

sua percepção. Esta forma é o momento retirado do movimento contínuo do real

que passa por um processo de cristalização. Quando isto ocorre, há uma

equiparação de formas e a anulação da desigualdade entre forças. É importante notar

que a imitação aprisiona a criação. O devir permite a diferença e o diverso no interior

desta, reconhecendo a mudança de formas e também a sua repetição. Isto é

importante ser dito.

Nem sempre as ações que se desenvolvem num dado recorte espaço-

temporal introduzem uma novidade, pois a repetição também existe e não deve ser

desprezada. A repetição é algo que já se deu por conhecido, mas que desperta novos

sentidos, resistências, forças, direções. E é aqui que está inserida a vida em

Nietzsche.

O devir deve sempre transparecer o diferente, portanto, derrubar os

valores absolutos. A partir daí, o homem torna-se, na medida em que conhece o

novo, o diferente. O homem reconhecendo esta possibilidade (re)encontra a

natureza em seu caminho de busca e não o vê como algo externo a ele, como

existente somente quando o homem dele necessita.

Dessa maneira, as formas ganham novos significados e validade de

existência pelo homem. Gobbo (2010) diz que “o sentido da naturalização do

homem em Nietzsche é o de dessacralizá-lo, é torna-lo acaso; é abrir caminho para a

chegada do super-homem, pois a condição para a transmutação de todos os valores,

de criação de novos valores está aberta; o campo para a criatividade estará fértil” (p.

82).

Os valores devem ser pensados num mundo onde a cultura esteja

inserida na natureza. E mais, numa natureza em que o homem é imprescindível,

fundamental à sua constituição e reconhecimento. A natureza não é algo exterior,

dado, mas construído pela vontade de potência humana.

O capitalismo incorporou uma nova concepção de natureza. A produção

capitalista, alimentada pela força de trabalho do homem se vê dependente de uma

natureza, cujo papel é fornecer recursos naturais para o seu pleno desenvolvimento.

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Esta nova concepção fora incorporada pelas ciências modernas, inclusive pela

recém-formulada ciência geográfica. Nascia, neste momento, uma natureza apartada

do homem e distante do mesmo.

ARALDI, C. L. Nietzsche e a criação do além-do-homem. Dissertativo (UFPel), Pelotas, v. 15-16, p. 161-182, 2002.

DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs:

capitalismo e esquizofrenia. Trad. Suely Rolnik. Vol. 4. Rio de Janeiro: Editora 34, 1997.

GOBBO, B. A. A natureza no Pantanal e a

filosofia de Friedrich Nietzsche, 120 p. 2010. (Mestrado em Geografia Humana) – Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal de Grande Dourados, 2010.

KAHLMEYER-MERTENS, R. S. Sobre a

sentença de Nietzsche: “O super-homem é o sentido da terra”. UNIPLI (Niterói), v. 7, p. 35-40, 2008.

MOREIRA, R. O mal-estar espacial no fim

do século XX. In: MOREIRA, R. Pensar e ser em geografia. São Paulo: Contexto, 2010, p. 133-159.

NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra.

Tradução de Mário da Silva. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2006.

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Rodrigo Fernandes Silva [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: técnica, acumulação, China, objetos e meio técnico

De certa forma, podemos sabemos que a técnica está em tudo1. Ela está

no ambiente, nos processos, nos objetos, em sua função composição e na sua razão

de ser no mundo.

A técnica é a reação enérgica contra a natureza, que leva a criar entre esta

e o homem uma nova natureza posta sobre aquela, ou seja, uma sobrenatureza. Esse

é o modo que a técnica atua na reforma da natureza. Por esse motivo, o esforço para

poupar esforço é esforço diz Ortega e Gasset (1963).

Na Grécia aristotélica, em um sistema de conhecimento hierárquico e

natural dos objetos, a techné é traduzida literalmente como a arte (Granger, 1994; p.

23). Por outro lado, em seu primeiro nível de sensação, ou seja, a sensação, somada

à memória, constitui a experiência (empiria). Visto que esse campo, não se associa

nem com o simbólico da linguagem nem com o do discurso ou do raciocínio.

Aqui, a ciência (episteme) se distingue da techné mais que da arte, por

poder se exprimir numa linguagem e comunicada por signos (Granger, 1994; p. 23).

Para Granger (1994), no mundo, somente no final do séc. XVII que a ciência e a

técnica se unificaram em laços indissociáveis.

Quando chega o inverno, o homem sente frio. Querendo viver, o homem

sente a necessidade de evitar o frio e proporcionar-se calor (Ortega e Gasset, 1963).

O relâmpago da tempestade acende fogo um ponto do bosque, o homem então se

aproxima desse fogo benéfico. Podendo caminhar o homem se aproxima do fogo.

Não encontrando fonte de calor, o homem tem que deslocar-se, caminhar, ou seja,

1HEIDEGGER, Martin. A questão da técnica – Cadernos de tradução, n. 2, DF/USP. São Paulo, 1997.

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percorrer distâncias ou somente fugir. Em outros extremos, completa Ortega e

Gasset (1963), quando o homem sente frio e não encontra calor, caminha e se

refugia em alguma caverna que encontra na paisagem.

Outra necessidade humana é se alimentar. Assim, o homem reconhece

estas como suas necessidades materiais ou objetivas e, porque ele reconhece, a

sente como subjetividade e como necessidade. Como esse esforço é muito grande e

a natureza não lhe proporciona todos os meios de vivência, o homem não se

resigna, ele faz fogo, faz edifício, faz agricultura ou caçada. Notemos que, o fazer

fogo é bem diverso de se esquentar, assim como, cultivar é bem distinto de

alimentar-se, ou um automóvel não é como correr. Estes procedimentos nos

permite, dentro de seus limites, criar o que não existe na natureza, mas

necessitamos.

Estes são procedimentos usados na criação de objetos, cujo simples

funcionamento nos fornece o que necessitamos como instrumentos ou aparelhos de

trabalho. De acordo com Karel Kosik (1995, p. 105), a concepção da razão e da

realidade desta razão, aproxima a técnica da razão. Para ele, a técnica é a mais

perfeita expressão da razão e a razão, sobretudo, do comportamento e da ação

humana.

Aqui, a diferenciação entre as técnicas empíricas e as técnicas científicas,

nos parece importante. As técnicas empíricas são fundadas nas experiências e nas

práticas, não explicadas pela teoria e não penetradas de saberes científicos.

Geralmente, são transmitidas pela oralidade e relacionadas às atividades agrícolas,

metalúrgicas, tratamento dos minérios, o autoforno. De modo geral, o saber técnico

se desenvolveu com autonomia própria na história das técnicas, aplicando os

processos progressivos de associação dos saberes técnicos na ciência. Assim, são as

engenhosidade e invenções de alguns indivíduos, como a relojoaria, maquinaria a

vapor e a radioeletricidade, que conecta a ciência à técnica (Granger, 1994; p. 25).

Uma acumulação primitiva da técnica?

No antigo regime, a agricultura era a grande “indústria” dos homens.

Trata-se de um largo momento de acumulação de conhecimentos técnicos e

ambientes materiais construídos, onde a chave do problema encontra-se nas fontes

de energia e da metalurgia. Dessa forma, aceleração e concentração, são processos

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com quais passa a técnica, com os quais podemos reconhecer um fio condutor que

segue em paralelamente com a história: a substituição técnica do motor humano,

por outros motores (BRAUDEL, 1995, p. 393).

A lenha como fonte cotidiana de energia, até o século XVIII, foi o mais

importante material usado como fonte de calor. Trata-se de uma civilização de

madeira e de carão de madeira. No século XIX a civilização se converte ao carvão de

pedra. Na Inglaterra isso somente ocorreu a partir de 1600 (BRAUDEL, 1995, p. 335).

Antes desse período, a madeira constituía tudo desde os transportes terrestres

quanto os marítimos, as máquinas (teares, fiandeiras, prensas, bombas, arados, nos

relógio) e nas ferramentas. Somente no século XVII, o ferro foi utilizado em

pequenas partes. Esse uso intensivo é o fator, para Braudel (1995, p. 329), da

exaustão as florestas europeias.

Como o motor humano nos revela que nossos músculos são motores

medíocres, lentamente, os motores braçais do velho mundo dão lugar à força

animal. No novo mundo, cavalos nas minas de Prata em Kutna Hora, na atual

República Checa, em 1490 (BRAUDEL, 1995, p. 308), as lhamas na América andina,

os bois, cabras, cavalos, cães, galinhas europeus, além das mulas e dos burros

usados nas Américas do Sul e do Norte. Nos cálculos de Forest de Beldor, de 1739,

necessitamos de sete homens para realizar o trabalho de um cavalo (BRAUDEL,

1995, 306).

Podemos também, somar a força animal à força variável das ferramentas

que o homem colocou a seu serviço: martelo, machado, serra, enxadão. E ainda,

pelos motores elementares, que anima com sua própria força: trépano, cabrestante,

roldana, grua, guindaste, alavanca, pedal, manivela e o torno.

Na China, que lentamente se engendra o motor hidráulico e cedo se

inicia o uso do carvão de pedra (conhecido como coque). Como sabemos, esses são

os elementos essenciais para o desenvolvimento da metalurgia elementar no oriente

(BRAUDEL, 1995, 341). Talvez esse seja um dos motivos de as primeiras cidades

serem criadas, ao longo dos rios.

Elas são as preconcentrações (BRAUDEL, 1995, 345) do progresso que

servem ao equilíbrio entre o trabalho onipotente do homem e a utilização das

diversas formas de energia. No mundo antigo e na China, a maquinaria acabou

sendo bloqueada pelo trabalho barato dos homens. Esse é um dos indícios do fato

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de não ocorrer a revolução industrial no país oriental antes. No Brasil mesmo, os

“escravos negros substituem ocasionalmente os escravos, puxando a braço carroças

bem carregadas” (BRAUDEL, 1995, 309). Dessa forma, verificamos que, não há

progresso sem certa valorização do homem.

No ocidente, o ofício do “engenheiro” emerge lentamente. No séc. XV e

XVI ocupam-se da área militar serviços de arquiteto, técnico hidráulico, escultor

pintor. Nesse período, a ciência procurava se pouco com a solução e aplicação

prática. As técnicas surgem dos entraves, dos conflitos. Na frança do séc. XVI, as

modificações das plantas e prensas, geraram greve da categoria dos tipográficos. Em

1618, no reinado de Felipe II, Jean Tardim, médico em Tournon, na França, realizava

o primeiro estudo de gasômetro natural na fonte. Em 1635, Schwenter expõe o

primeiro telégrafo elétrico, onde dois indivíduos se comunicam por meio de uma

agulha magnética. Em 1711, Newcomen inventa sua máquina a vapor. Nesse sentido

que a alta velocidade das inovações, trouxe à Inglaterra, em 1742, a ideia de que o

progresso técnico é sinônimo de desemprego (BRAUDEL, 1995, p. 395).

De fato, do território chinês flui a maior parte dos conhecimentos

técnicos para as outras partes da terra (BRAUDEL, 1995, p. 334). Nesse bojo surge o

“moderno”, como o produto do processo de radiação que ocorreu no Ocidente,

desde o final do séc. XVIII, com rebatimento na sociedade e na cultura. Nesse

sentido, a modernização se aplica à economia e política e o modernismo, à arte,

cultura e sensibilidade (VAZ, 1991).

Do ponto de vista geográfico, no mundo ocidental dos séculos XVII e

XVIII, as regiões se formaram como locais de uso de novas técnicas. Nesse

momento a condição política focava a circulação dos capitais e mercadorias. O

grande impulso do comércio e do mercantilismo assegurou a acumulação de

capitais bancários, sobretudo na Inglaterra, e posteriormente nas encruzilhadas:

França, Alemanha Ocidental, nos Países Baixos, na Suíça, na Áustria e na Boêmia

(BRAUDEL, 1995, p. 353).

Arquitetonicamente, o estabelecimento e a criação de uma unidade

concreta de fabricação, a fábrica, sob a forma de um conjunto de construções

unitárias, de emprego unitário, define um ritmo cotidiano marcado pelo fluxo e

refluxo dos operários. Nesse conjunto, “o menor estabelecimento viável, em um

ramo específico determinado, é aquele cujo tamanho corresponde ao da unidade

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técnica elementar de lucro regular. A dimensão desta unidade é variável, segundo a

evolução da técnica” (GEORGE, 1973, p. 65).

Para Pierre George, a concentração é um fenômeno especificamente

geográfico quando se opera no campo dos estabelecimentos. Para ele, é mais

financeira do que geográfica quando se dá no campo das empresas, mas mesmo

assim, tem rebatimento sobre o âmbito geográfico (GEORGE, 1973, p. 65). Sua

tendência financeira, já se tornou grande fornecedora de lucros, pelo funcionamento

do sistema capitalista.

Seus efeitos são captados pelo desenvolvimento industrial, pela maior

quantidade e pela produção variada de objetos elaborados ou com matérias brutas

provenientes do subsolo ou da agricultura (GEORGE, 1969, p. 12). No quadro do

sistema econômico e financeiro que presidiu à revolução industrial.

Por fim, o meio técnico não é somente um ambiente de vivência

humana, mas também um período de uso territorial da humanidade. É a imposição

em ambientes circunscritos, de determinadas sistemas técnicos técnicas, sobre o

meio natural. Ele é a emergência do espaço mecanizado, precondição do meio

técnico-científico e pilar sólido do meio técnico científico e informacional (SANTOS,

2009).

BRAUDEL, Fernand. Civilização matéria, economia e capitalismo: Séculos XV – XVIII. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

GEORGE, Pierre. Geografia industrial do

mundo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1969. Coleção Saber Atual.

GEORGE, Pierre. Geografia econômica.

Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1973.

KOSIK, Karel. A dialética do concreto. Rio

de Janeiro: Paz e Terra, 1969.

ORTEGA Y GASSET, José. Meditação da

técnica. Rio de Janeiro, 1963. SANTOS, Milton. A natureza do espaço:

técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009.

VAZ, Lilian Fessler. Moradia em Tempos

Modernos. In: PIQUET, Rosélia; RIBEIRO, Ana Clara Torres (org.) Brasil, território da desigualdade: caminhos da modernização. Rio de Janeiro: Fundação Universitária José Bonifácio, 1991.

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André Lopes de Souza [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: território usado, circuitos da economia urbana, circuito espacial produtivo

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo o estudo da economia urbana de

dois pequenos municípios localizados no sul do estado de Minas Gerais, Monte Sião

e Jacutinga, em suas relações com a rede urbana. O enfoque será dado na análise da

produção de artigos de malha pesada1, visto que cerca de 80% da população se

envolve direta ou indiretamente em atividades relativas a este setor (BRUNO &

MALDONADO, 2005, p.41).

Tabela 1. População e Taxa de Urbanização dos municípios estudados

Fonte: IBGE (2010)

A agressiva especialização produtiva tem raízes históricas e promove um

uso específico do território por agentes de diversas capacidades, que caracteriza uma

produção do espaço urbano essencialmente voltada para atender as demandas da

produção de malhas. Entender o espaço geográfico como território usado permite

destacar a atuação dos múltiplos agentes, sejam eles em metrópoles ou cidades

locais.

1Malha é um tipo de tecido, assim como tecido plano e tecido não tecido (TNT). São formas diferentes de entrelaçar os fios na formação de tecidos, que serão usados para a confecção de artigos do vestuário. Por malhas pesadas, também chamadas de malhas retilíneas, entendemos as malhas feitas em lã ou acrílico (matérias-primas) na confecção de roupas de frio, como jaquetas, sobretudos, cachecóis, entre outros.

População Taxa de Urbanização

Jacutinga 22.772 83,8

Monte Sião 21.203 76,7

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As interações espaciais desencadeadas pela atividade remontam vínculos

históricos com a rede urbana paulista. Nesse sentido, em primeiro lugar

estabeleceremos uma periodização com base nas atividades dominantes na região.

Após isso, abordaremos a atualidade, tendo como foco a análise do circuito espacial

produtivo e dos circuitos da economia urbana como forma de entender a última

modernização do território brasileiro.

As cidades locais e as modernizações do território

Santos (2005, p. 91) declara que estudar as cidades locais é tão

importante quanto a análise das metrópoles para o entendimento da modernização

do território nos países subdesenvolvidos. Este autor observa a proliferação de

cidades locais com o avanço da modernização; espaços que antes se dedicavam

apenas à produção passam também a consumir. A produção agrícola de exportação

e subsistência comandava esses municípios, que após a última modernização

passam a consumir produtos globais.

Para entendermos essas sucessivas modernizações no local,

recorreremos a periodização proposta por Santos (2009 [1996], p. 235), segundo a

qual a história das relações homem natureza, a grosso modo, se dividia em três

grandes períodos: o natural, o técnico e o técnico-científico informacional.

O primeiro se caracterizou pelo fato de que a natureza era a base

material de ocupação do espaço. O homem pouco transformava o local onde

morava. As técnicas, embora existissem, não tinham existência autônoma. Na

região, esse período representou a ocupação inicial dos colonizadores e seus

descendentes. O Brasil era ocupado predominantemente em seu litoral e nas áreas

interiores responsáveis pela mineração. As ligações internas eram precárias. Em

Jacutinga e Monte Sião, em decorrência da proximidade com Ouro Fino (área de

exploração mineral), a ocupação se deu no século XVIII. As fazendas de subsistência

predominavam, com pouquíssimos intercâmbios entre elas.

A transição para o meio técnico se deu em meados do século XIX, com a

introdução da cultura de café na região. Esse período tem como base a expansão do

espaço mecanizado, “Os tempos sociais tendem a se superpor e contrapor aos

tempos naturais” (op. cit. p. 237). As distâncias medidas em tempo mudam,

ampliando a conexão entre as áreas e fazendo com que os interesses locais fossem

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

perdendo importância com relação aos externos.

A região se localiza em área contígua à de maior expressão econômica no

período cafeeiro e, com isso, se beneficiou de estradas de ferro. Com elas, surgem as

primeiras fábricas associadas ao beneficiamento do café e os aglomerados urbanos.

Desde então, vê-se sua profunda vinculação a Campinas, centro regional que

articulava grande parte das estradas de ferro paulistas e sul-mineiras (BORIN, 2002).

Com a modernização promovida pelos carros, novos sistemas de

engenharias são implantados: as estradas. Estas mudam a vida de relações entre as

cidades, entretanto, mantém basicamente os mesmos traçados das ferrovias,

reforçando os nexos relacionais com Campinas.

Após a Crise de 1929 o café entra em baixa, mas é somente depois da

Segunda Guerra Mundial que o enfraquecimento da cultura faz com que deixe de ser

a principal atividade da região.

O mundo passa a viver um novo período, chamado de técnico-científico

informacional, que se caracteriza pela junção de ciência e técnica na base do sistema

produtivo e da estruturação do espaço, sistema esse comandado pela informação. A

lógica global, implícita nos objetos técnicos que são cada vez mais movimentados

pela informação, permeia o território como um todo.

Esta nova configuração, baseada na importância da circulação (e, por

conseguinte, dos sistemas técnicos que a autorizam), permite a emergência de

especializações produtivas, assunto de nossa análise posterior.

A produção de malhas pesadas

A especialização produtiva das malhas do sul de Minas Gerais tem como

base esse contexto, em que os sistemas técnicos permitem maiores interações

espaciais. A infraestrutura herdada dos períodos anteriores é paulatinamente

reformada (para melhor se articular com o novo sistema técnico) e refuncionalizada.

Correa (1999) argumenta que as cidades pequenas têm duas

possibilidades diante da globalização, da qual “o meio técnico-científico

informacional é a cara geográfica” (SANTOS, 2009, p. 239): a especialização

produtiva ou a estagnação.

A derrocada do café foi um evento que repercutiu em muitas cidades

brasileiras. Assim, cada uma delas, para não se estagnar, teve de se refuncionalizar. A

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opção feita por Monte Sião e Jacutinga foi expandir uma atividade artesanal das

donas de casa descendentes de italianos, a produção de roupas para o frio. Antes

produzidas para consumo próprio, neste momento passam a ser vendidas nas

praças das cidades.

Borin (2002) indica que a década de 1970 foi o começo da produção

industrial, incentivada por empresas de máquinas têxteis japonesas. Os fios

comprados em Amparo e o interior de São Paulo representando o maior consumidor

reafirma o papel das infraestruturas de transporte no atual circuito espacial

produtivo e mantém as cidades mineiras vinculadas à dinâmica paulista.

Com a consolidação e radicalização do meio técnico-científico

informacional, novas variáveis foram se incorporando, como a publicidade, a venda

pela internet, a realização de feiras nacionais, a formação de mão de obra, a

administração científica das fábricas, entre outras. Porém, essas variáveis não são

usadas com a mesma intensidade pelas empresas. Daí a importância da Teoria dos

Dois Circuitos da Economia Urbana na análise da modernização seletiva do território

nos países subdesenvolvidos e, por efeito, do território usado.

Segundo esta teoria, o sistema urbano se subdividiria em dois

subsistemas: o circuito superior, resultado direto da modernização, e o inferior,

resultado indireto. Ambos são formas de produzir, distribuir e comercializar

produtos que atendem diferentes parcelas da população. Devido à baixa escala de

produção de malhas pesadas e sua sazonalidade as empresas do circuito superior

não estão presentes nas cidades analisadas.

Entretanto, observamos a existência de um circuito superior marginal,

que através das vantagens concedidas pelas Associações Comerciais e prefeituras

locais, puderam emergir. Encontramos dois níveis distintos de capital, tecnologia e

organização das malharias2, que, mesmo assim não configuram a existência do

circuito superior propriamente dito. Os elos com esse circuito são estabelecidos pela

venda dos produtos em grandes magazines, muitas vezes encomendando peças às

malharias.

A assimilação distinta das variáveis do período pelas empresas implica

em diferentes circuitos espaciais produtivos. As maiores malharias conseguem

2 O termo malharia pode ser usado tanto para o local de fabricação do tecido de malha quanto ao de sua comercialização.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

exportar parte de sua produção, enquanto que as menores dependem do turismo de

compras e da subcontratação das maiores empresas da cidade (principalmente para

as tarefas de costura) para garantir sua reprodução.

BORIN, P. Divisão interurbana no trabalho e uso do território nos municípios de Águas de Lindóia (SP), Lindóia (SP), Serra Negra (SP), Socorro (SP) e Monte Sião (MG). São Paulo. Departamento de Geografia FFLCH/USP (Dissertação de Mestrado). 2002.

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técnica e tempo, razão e emoção. EDUSP: São Paulo 2009 [1996], 4ª ed., 5ª reimp.

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Livia Cangiano Antipon [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: circuito espacial produtivo, alimentação escolar, agricultura familiar, uso do território, município de Campinas

O desenvolvimento da pesquisa pode ser entendido em duas fases, que

nos faz pensar os processos de uso do território no município de Campinas. A

primeira delas constituiu em um conhecimento do que já foi produzido sobre o

tema, através da leitura da bibliografia proposta no projeto e outras fontes

encontradas durante o estudo e de uma série de entrevistas realizadas ao longo da

pesquisa no Departamento de Alimentação Escolar no CEASA de Campinas. Esta

primeira fase possibilitou maior proximidade com o tema que será agora objeto do

aprofundamento de nossa análise e foi fundamental para compreender os processos

do circuito espacial produtivo, mais especificamente na fase da distribuição e

produção, da alimentação escolar no município.

E a segunda fase constituiu na análise dos resultados encontrados sobre

a distribuição da alimentação escolar, o que nos permitiu realizar um mapeamento

dos dados obtidos, e iniciar uma discussão sobre a dificuldade da produção

alimentar em propriedades agrícolas familiares de grandes metrópoles.

A pesquisa foi orientada pela teoria dos circuitos espaciais, onde um

circuito espacial produtivo se estrutura a partir de uma atividade produtiva até o seu

consumo final, nos servindo como ferramenta de análise para uma série de fases

correspondentes aos processos de transformação que passam esses produtos. O

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

estudo das fases (produção, distribuição, circulação e consumo final), comporta-se

como um instrumento para compreender a divisão espacial do trabalho em

múltiplas escalas. O exame da distribuição e produção dos hortifrutigranjeiros da

alimentação escolar no município de Campinas proporcionou um conhecimento de

um dos novos usos do território no município, chamando-nos atenção para o papel

do CEASA na distribuição da alimentação escolar, possibilitando-nos o mapeamento

dessa fase, e a impossibilidade do cumprimento da Lei nº 11.947/2009 para a

agricultura familiar em grandes metrópoles, o que nos levou a uma análise dessa

problemática na fase da produção. Na fase da distribuição, o Ceasa encontra-se em

uma posição intermediária entre as empresas distribuidoras e as escolas, atendendo

um papel no circuito, como órgão normativo das empresas e fiscalizador nas

escolas. Divididas por regiões, quatro empresas distribuidoras atendem 431

unidades escolares, através de um sistema just in time, que obedece, no circuito

espacial produtivo dos hortifrutigranjeiros da alimentação escolar, às condições

técnicas-sociais do município estudado.

BELIK, Walter e SOUZA, L. R. Algumas reflexões sobre os programas de alimentação escolar na América Latina. In. Planejamento e Políticas Públicas, n. 33, jul./dez., 2009.

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Luciano Pereira Duarte Silva [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: território usado, trem de alta velocidade, modernização do território,

políticas territoriais

Introdução

O projeto de implantação do Trem de Alta Velocidade (TAV) surge no

discurso político do governo federal em um momento muito emblemático da recente

história do país, no momento em que se assiste a crise do setor aéreo do ano de

2007. O projeto retorna às discussões como solucionador dos aparentes problemas

que o sistema de transporte aéreo vinha sofrendo, pois ele resolveria o principal

“gargalo” existente, o trecho São Paulo – Rio de Janeiro.

Nos anos seguintes, outros acontecimentos se incorporam no discurso

que busca justificar a instalação do TAV. Estes são: a nomeação do Brasil como sede

da Copa FIFA de futebol, que ocorrerá em 2014; e também a realização dos Jogos

Olímpicos de 2016 na cidade do Rio de Janeiro. Após esses acontecimentos, estudos

de viabilidade são produzidos por consultorias estrangeiras, que contabilizavam o

custo total da obra em cerca de R$ 34 bi, sendo assim, o projeto mais caro do

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.

Atualmente, os prazos necessários para atender os eventos esportivos já

foram perdidos e o “caos aéreo” é contornado com a privatização e ampliação dos

aeroportos de Viracopos e Guarulhos. Entretanto, o projeto permanece como uma

das principais estratégias de intervenção na estrutura do território, ou seja, uma das

principais políticas territoriais (COSTA, 1988) que o governo federal vem

desenvolvendo.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Objetivos

A pesquisa que aqui apresentamos se estrutura a partir do objetivo

norteador de identificar os principais agentes envolvidos, suas relações e

intencionalidades com o projeto de implantação do Trem de Alta Velocidade (TAV),

ou seja, buscamos compreender como vem se dando os nexos políticos que buscam

viabilizar, ou não, a implantação desse sistema técnico de transporte.

Ainda nesse sentido, buscamos compreender, a partir do território, as

relações de poder que envolvem as decisões políticas entre os agentes envolvidos.

Isso se torna possível a partir do entendimento de que o território é o espaço onde o

homem projeta o trabalho, ou seja, onde ele realiza seu programa (RAFFESTIN,

1993). Portanto, o território é capaz de revelar as relações de poder, e mais, as

dissimetrias existentes entre os agentes.

Por fim, buscamos elaborar uma pequena reflexão sobre as principais

alterações que o território sofreria com a implantação desse sistema técnico. Não a

partir de uma visão simplista de “impacto”, mas entendendo que ao se geografizar

uma nova materialidade num determinado lugar se cria uma relação dialética, onde

o objeto deve-se readequar para que entre em sistema com os demais, preexistentes,

ao mesmo tempo em que o lugar, ao receber tal materialidade, se rearranja, cria

novas dinâmicas, ganha novos conteúdos e funcionalidades.

Pressupostos teóricos

Para desenvolvermos tal pesquisa à luz da teoria geográfica elencamos

um sistema de categorias e conceitos que sejam operacionais e coerentes ao

objetivo proposto. Esse método de análise geográfico parte do pressuposto de que o

espaço geográfico, enquanto categoria de maior importância e objeto de estudo

dessa disciplina, se apresenta como híbrido de materialidades e ações, objetos e

normas (SANTOS, 2009).

Outra categoria que mobilizamos é a de território. Mas, sendo ele

entendido não como um elemento natural, mas histórico, construído e praticado a

partir do conflito e da cooperação dos agentes, de acordo com seus diversos

programas que, ora se convergem, ora se divergem. E para que essa categoria seja

entendida como profundamente social é preciso revelar seus usos, e não somente

sua forma pura, ou seja, o território usado (SANTOS, 2005).

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Resultados

Uma das principais características que definiriam um “grande projeto” de

engenharia, além da quantidade de capital investido, seria, segundo Carlos Vainer

(2011), a forte presença de grandes empresas e capitais externos ao espaço social

onde se daria o processo de implantação desse novo objeto técnico. No caso do

Projeto TAV, que pretenderia ligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de

Janeiro, essa característica é marcante.

Apesar de esse projeto participar de um programa do governo federal, ser

responsabilidade de uma agência reguladora estatal (ANTT1) e, se efetivado, ter

como principal sócio uma empresa estatal (EPL2); podemos observar que algumas

empresas multinacionais, que detêm a tecnologia do material rodante de alta

velocidade, como a como Alstom (França) e Siemens (Alemanha), agindo fortemente

junto ao Estado na tomada decisões que envolvem esse projeto. Isso se dá desde a

elaboração de estudos de viabilidade, como no caso da empresa alemã; quanto na

força política e econômica que se apresenta, dado sua infraestrutura para a

fabricação dessa tecnologia e forte relação com diversos níveis de governo, como no

caso da empresa francesa.

Outro movimento que se observa, é o do forte investimento que outras

empresas detentoras dessa tecnologia vêm fazendo, recentemente, em suas fábricas

e na participação de outros projetos de infraestrutura. Isso é visto no caso das

empresas CAF (Espanha) e Bombardier (Canadá), que nos últimos dois anos

inauguram suas fábricas no município de Hortolândia (SP), firmaram contratos com

o governo federal para instalação de seus produtos e, da mesma forma que as outras

duas empresas citadas, ampliam seus investimentos no Brasil e em outros países de

alto crescimento econômico, como China, Índia e Rússia.

Com isso, podemos observar uma forte relação, conflituosa e de

cooperação, entre os interesses das empresas e do governo federal. Onde, por um

lado, se observa o movimento de novos investimentos direcionados aos países que

têm forte crescimento econômico e se apresentam como novos mercados a serem

ganhos, feito por grandes empresas que, recentemente, não têm estabelecido

1 Agência Nacional de Transportes Terrestres. 2 A Empresa de Planejamento e Logística foi criada pelo governo federal para planejar e desenvolver estudos que tangem essa temática. E, no caso do TAV, responsável pelo processo de absorção de tecnologia, garantir o financiamento da obra e desenvolver pesquisas sobre essa tecnologia.

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projetos tão rentáveis nos países centrais, em comparação àqueles que se firmam

com esses países. E, por outro lado, vemos o governo desses países, em especial o

Brasil, estabelecendo políticas voltadas à tecnificação de seu território, a fim de se

tornarem mais competitivos frente aos países centrais da economia global.

A lógica corporativista de uso do território que emerge desse

imbricamento, entre o projeto de modernização do território e busca de novos

mercados, se revela na situação geográfica (SILVEIRA, 1999) onde se pretende

instalar tal sistema técnico. Pois, é nessa região do território brasileiro, onde se

encontram, de forma concentrada, os escritórios de grandes empresas, o maior

número de pessoas e as redes de mobilidade que possuem maior demanda. E tais

elementos, visto na perspectiva desse uso egoísta do território, são de extremo

interesse para as empresas que poderão ter altas taxas de lucro a partir de um

investimento como esse, e para o governo que busca tornar a economia do país

comparada à dos antigos centros da economia-mundo.

Podemos concluir, portanto, que da mesma forma que a implantação de

uma nova materialidade no território cria uma nova divisão territorial do trabalho

(CATAIA, 2001), o TAV, se efetivado, também redefiniria essa divisão. Entretanto, ela

não seria transformada, ou seja, a desigualdade existente entre as regiões do

território brasileiro não seriam amenizadas, pelo contrario, seria perpetuadas e

aprofundadas. Além disso, o TAV se mostraria profundamente seletivo espácio-

socialmente, sendo isso revelado pelo preço previsto das passagens, quanto pelo

posicionamento e serviços que cada estação receberia. Vemos que isso aconteceria

devido à política territorial que não abarca o território em sua totalidade, mas de

forma seletiva, fragmentada e setorial, que visa usar o território meramente como

recurso necessário a efetivação de seu programa.

CATAIA, Márcio. As desigualdades e a tecnificação do território brasileiro. In. CARLOS, Ana Fani (org.) Ensaios de geografia contemporânea: Milton Santos: Obra revisada. São Paulo: Hucitec, 2001.

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Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2009.

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SILVEIRA, Maria Laura. Uma situação

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“grande projeto”? Características, econômicas, territoriais, políticas e sociais. In: Seminário Grandes Obras e Migração. São Paulo: Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), 2011.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Mait Bertollo [email protected]

Universidade de São Paulo

Palavras chave: circuito espacial produtivo, vacinas, complexo industrial da saúde

Introdução

O objeto central da presente pesquisa são os fixos de saúde produtores

de vacinas no território brasileiro: a indústria de base química e biotecnologia

produtoras e dispersoras dos vários e distintos tipos de vacinas, atentando-se para o

evento da vacinação da gripe Influenza A H1N1, observando a grande capacidade que

esse circuito espacial produtivo tem de atender a uma demanda social importante.

Esses fixos e seus fluxos configuram circuitos espaciais produtivos (SANTOS &

SILVEIRA, 2001) conjuntamente com os círculos de cooperação (idem) constituídos

por instituições públicas e privadas, que realizam o papel de coligação entre os

agentes envolvidos na produção das vacinas. Destacam-se vários institutos públicos

de pesquisa e produção de vacinas, e consideramos como recorte o Instituto

Butantan, em São Paulo-SP, que possui grande intercâmbio de informações

especializadas, assim como exerce certo papel regulador. Destacamos que o

instituto vem se tornando um grande produtor de vacinas no Estado de São Paulo, o

que amplia o seu papel - faz parte do circuito espacial produtivo e compõe os

círculos de cooperação no espaço. No caso do combate da Influenza A H1N1, a

empresa Sanofis-Aventis transferiu tecnologia para a produção da vacina permitindo

ao Instituto Butantan produzir grandes volumes para suprir parte da demanda

nacional quando, em 2009, ocorreu a primeira vacinação em massa. Para a

realização desse acordo, foi necessária a participação do Estado (Ministério da

Saúde, Secretaria Estadual da Saúde, ANVISA), organizações multilaterais

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

(Organização Mundial da Saúde - OMS, Organização Panamericana de Saúde -

OPAS), setor privado e recentemente a Organização Não Governamental

internacional GAVI Alliance, que negocia com esse instituto e com o Bio-

Manguinhos (unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz no Rio de Janeiro-

RJ), para investir em produção de vacinas. Ressalta-se também as restrições

orçamentárias do Programa Nacional de Imunização (PNI) e do Programa Nacional

de Autossuficiência em Imunobiológicos (PASNI), que acabam por estruturar e abrir

um mercado consolidado em relação às vacinas com crescente participação do

capital corporativo. Há, portanto, uma complexa relação entre diferentes agentes

envolvidos na ação de vacinação em todo o território nacional.

Objetivos

A abordagem do objeto é operacionalizada por meio do conceito de

circuito espacial produtivo, capaz de captar o movimento do modo de produção no

território e explicitar a sua dinâmica, revelando as especializações formadas por

processos antigos e modernos (CASTILLO & FREDERICO, 2010). Pretende-se uma

análise geográfica, e, portanto, o conceito citado é utilizado em detrimento da

concepção de cadeia produtiva, já que abarca a questão espacial e as implicações

sócio-espaciais da adaptação de lugares, regiões, territórios aos ditames da

competitividade (idem). A expansão desses circuitos é definida pela circulação de

bens, produtos e informações no território (ibidem). Assim, para o estudo sobre o

Complexo Industrial da Saúde (GADELHA, 2006), é fundamental que se compreenda

quais agentes estão envolvidos nesse processo e como são capazes de coligar

unidades produtivas dispersas no território em torno de um mesmo objetivo que, no

caso das vacinas, envolve enorme produção de conhecimento e tecnologia. Também

é importante para a pesquisa analisar o funcionamento da dispersão das vacinas

pelo território, condicionados pela logística específica da “Rede de Frios” (ou Cadeia

de Frios), que consiste em distribuir com armazenagem que preserve as condições

de temperatura para que não percam sua validade.

Resultados

A abordagem da pandemia da Influenza A H1N1 na pesquisa traz

elementos para entender este componente do período de globalização, ligado à

previsão e antecipação (no caso, 3 a 4 anos) dessa pandemia em função dos

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controles informacionais relativos à saúde, controles normativos globais, criação de

fundos em organismos do direito internacional para fomentar ações específicas, etc.

A vacina em questão pode ser entendida como um “produto mundial” (MORAES,

1985), presente em vários continentes e com campanhas simultâneas de vacinação

em vários países do globo, no mesmo período. Dessa forma, podemos entender que

esse é um produto do período técnico-científico-informacional (SANTOS, 1996), pois

as organizações multilaterais como a OPAS e OMS aliadas às indústrias

farmacêuticas, institutos de pesquisa, ONGs e Estados preveem a pandemia em

2005 para ocorrer entre 2008 e 2009. Nesse período o vírus sintético da H1N1

começa a ser fabricado. O alcance planetário do circuito espacial produtivo da vacina

é possibilitado pelos círculos de cooperação, imprescindíveis para integrar diferentes

lugares, com parcerias entre institutos de pesquisa, universidades etc. A base dessas

parcerias é a revolução da biotecnologia e as múltiplas campanhas de vacinação pelo

planeta, principalmente nos países subdesenvolvidos. Logo, cresce o interesse das

indústrias farmacêuticas por potencializar a produção e venda desses produtos.

Desde o desenvolvimento bem sucedido da vacina contra a hepatite B por

engenharia genética, com tecnologia dominada pelo oligopólio farmacêutico, e com

a crescente preocupação com as novas doenças transmissíveis (sobretudo a Aids), a

lógica empresarial passou a ser dominante na área, acarretando crescente restrição à

difusão de novas tecnologias, aliado à competição entre as grandes empresas que

estabelecem bases e acordos em todas as regiões do planeta. Essas ações resultam

em crescente oligopolização do mercado de vacinas, com a produção de novas

vacinas em grande escala e baixo preço, bem como o uso dos direitos de

propriedade intelectual e das patentes, que constituem instrumentos de proteção da

produção intelectual e científica e, ao mesmo tempo, um dos principais obstáculos à

incorporação de novas tecnologias por parte dos laboratórios de países em

desenvolvimento (GADELHA, 1996). As tabelas a seguir indicam os produtores

oficiais estatais e sua produção e as chamadas “Big Pharma”: as maiores indústrias

farmacêuticas do planeta no que diz respeito à quantidade de produtos e volume de

vendas. Igualmente considera as parcerias para incrementar seu portfólio e vendas.

Ressaltamos que a GlaxoSmithKline é a indústria que produz em maior quantidade

as vacinas contra os principais tipos de gripe, inclusive Influenza A H1N1 (BUSS et

al., 2005).

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Considerações finais

Desde a concepção e da ordem para a produção da vacina até o produto

final, (abarcando a distribuição para as centrais de estocagem e sua dispersão

através da logística da cadeia de frios para os postos de saúde), é possível refletir

sobre a espacialização desse circuito e, segundo MORAES, 1985, “discutir os

circuitos espaciais da produção é discutir a espacialização da produção –

distribuição, troca, consumo como movimento circular constante. Captar seus

elementos determinantes é dar conta da essência de seu movimento”. Dessa forma,

há uma lógica internacional em território nacional, principalmente por atender uma

ordem hegemônica, proveniente de outros países e instituições (como a OMS, por

exemplo). Portando, a regulação híbrida (ANTAS Jr, 2004) dessa produção e seu uso,

se dá pelos agentes como o Estado, corporações farmacêuticas, ONGs e Instituições

Globais Multilaterais, que são investidas, no período atual, de produzir técnicas e

normas, e são capazes de produzir ações no território “sobretudo atualmente,

quando as ações se tornaram sobremaneira complexas e estão divididas em uma

grande quantidade de etapas realizadas por objetos técnicos e definidas igualmente

por um detalhado ordenamento de normas, sejam elas jurídicas, técnicas ou

morais.” (Idem). Baseamos as análises empregando o pressuposto da relação

correspondente entre saúde e território, primeiramente porque a saúde é um

elemento primordial para a sociedade (SILVEIRA, 2009), e também é uma atividade

econômica e social de peso, por isso, central para entender os objetos e ações que

constituem o território. É importante salientar o papel do Sistema Único de Saúde,

que pode ser analisado como “um sistema unificado de ordem material e normativa

[...] que tem se realizado e se reproduzido distintamente segundo os usos efetivos do

território e do conjunto de materialidades e normas presentes nos lugares e regiões”

(ALMEIDA, 2005), e que contribui de forma importante na dispersão e no uso dessas

vacinas (através das Unidades Básicas de Saúde, que efetuam a vacinação, por

exemplo). Cabe ressaltar que o Estado cumpre um papel indispensável nessa

dinâmica, pois “tem a capacidade de financiar a criação de novos sistemas de

engenharia e novos sistemas de movimento” (CASTILLO, 2008) agindo como um

indutor e consumidor destas corporações farmacêuticas. Ainda sobre a função do

Estado, que realiza a distribuição de vacinas e as campanhas de vacinação no

território brasileiro, é um agente que está presente em todos os pontos do território,

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diferentemente de outros, como corporações, por exemplo. São estas “porções do

território não rentavelmente utilizáveis, diferentemente daquelas porções mais

densamente equipadas de infraestruturas” (SANTOS, 1985). Dessa maneira, o

Estado passa a exercer um monopólio espacial (idem) nessas porções.

ALMEIDA, Eliza Pinto de. Uso do território brasileiro e os serviços de saúde no período técnico-científico-informacional. São Paulo. 2005. Tese de Doutorado, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras – FFLCH/USP.

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Sueli Almeida dos Santos

[email protected]

Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Bolsista de Iniciação Científica – FAPESP

Palavras-chave: empresa de consultoria Deloitte, informação, território brasileiro

Este trabalho pretende contribuir para o entendimento do papel da

informação, sobretudo aquela estratégica, na organização e reorganização do

território brasileiro a partir de um estudo das empresas globais de consultoria,

tomando como exemplo a consultoria Deloitte Touche Tohmatsu.

Para compreendermos o estatuto da informação no período atual, é

necessário um melhor entendimento sobre o mercado da consultoria. A ascensão

dos serviços consultivos ocorre, principalmente, com a implementação de novos

paradigmas produtivos e a complexização da produção na escala mundo a partir dos

anos 1970; nesse momento as empresas de consultoria se afirmam como peça chave

no atual modelo de acumulação capitalista. Hoje, as firmas de consultorias, segundo

Silva (2001, p. 113),

São atores centrais na trama global de produção e distribuição das informações produtivas. No Brasil é somente com o advento da industrialização nacional que haverá uma demanda efetiva por mercadorias organizacionais, isto é, uma demanda por aportes à racionalização dos negócios. E, hoje, o novo contexto político, que parece buscar no “modelo da globalização” novas formas de regulação da economia e do território, requalifica os conteúdos do sistema produtivo nacional, dinamizando ainda mais os circuitos produtivos de informações.

Nesse sentido, buscamos entender a conformação da empresa Deloitte

no país a partir da evolução da topologia da sua rede de escritórios presente no

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Brasil desde a primeira metade do século XX e a sua evolução no território nacional,

especialmente a partir da década de 1970.

Essa empresa que tem a sua a gênese no final do século XIX, sofreu a

última fusão no ano de 1989. As firmas-membro da DTTL estão presentes em 150

países e prestam serviços profissionais nas áreas de auditoria, consultoria,

assessoria financeira, gestão de riscos e consultoria tributária. Entre 2002 e 2011, o

total do faturamento da rede global Deloitte saltou de aproximadamente 12 para 29

bilhões de dólares. É interessante observar, segundo Donadone (2001), que o

processo de fusão e aquisição de empresas que ocorre no Brasil a partir dos anos

noventa abre espaço para as ações das grandes consultorias, no entanto, as maiores

empresas desse ramo já haviam passado por esse processo antes da década de

noventa como uma estratégia de fortalecimento da sua rede a nível mundial.

A história da Deloitte no Brasil está relacionada ao início do processo de

ocupação do interior do país e o projeto de instalação de ferrovias no final do século

XIX e começo do século XX, voltado principalmente para o escoamento da produção

cafeeira, importante atividade econômica do país naquele período. Em 1911, a

Deloitte se instalou no Rio de Janeiro para auditar as companhias ferroviárias

britânicas que se estabeleceram no país.

Depois do Rio de Janeiro, a Deloitte foi estabelecendo seus escritórios em

importantes centros econômicos brasileiros à medida que o país integrava o seu

território e se fortalecia nas relações econômicas globais. Hoje, a empresa possui 11

escritórios no território nacional, presentes nas cidades de São Paulo, Belo

Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Joinville, Porto Alegre, Rio de

Janeiro, Recife e Salvador, com 4.500 profissionais de consultoria e auditoria atuando

no país. Este seleto grupo de cidades apresenta, pois, alta densidade informacional.

Conforme Harvey (2005, p. 57),

As vantagens produtivas relativas rendem excesso de lucros e, se essas vantagens se perpetuam na forma permanente “diferença tecnológica”, resulta (...) que as regiões ricas em conteúdo tecnológico sempre têm capacidade de obter maiores lucros numa determinada linha de produção, em comparação com regiões pobres em conteúdo tecnológico.

É importante observar na relação de cidades apresentadas anteriormente,

a ausência de escritório da empresa Deloitte na região Norte e, ao mesmo tempo, a

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presença de escritórios em cidades da região Sul e Sudeste que não são capitais;

particularmente em Santa Catarina é interessante notar que o único escritório que a

empresa possui no estado não está presente na capital, provavelmente em função da

importância industrial apresentada pela região de Joinville.

É notável também a primazia do estado de São Paulo, sendo o único que

possui escritório na capital e numa outra cidade do estado (Campinas), além disso, é

na cidade de São Paulo que está localizado o principal escritório da empresa Deloitte

no Brasil, no qual está presente a presidência da firma-membro no país, as

lideranças das práticas de negócios – consultoria, auditoria, assessoria financeira,

gestão de riscos e consultoria tributária. Nesse sentido, observa-se que a

importância da metrópole paulista é marcada pela presença de centros de decisão de

grandes empresas. Para Santos & Silveira (2001, p. 210),

São Paulo, metrópole brasileira, já não tem o seu papel metropolitano definido por ser uma capital industrial, mas por ser uma capital relacional, o centro que promove a coleta das informações, as armazena, classifica, manipula e utiliza a serviço dos atores hegemônicos da economia, da sociedade, da cultura e da política. Por enquanto, é São Paulo que absorve e concentra esse papel no poder decisório.

Podemos considerar que há uma seletividade estratégica da rede de

escritórios da firma-membro Deloitte no Brasil, que pode ser observada nos

resultados da sua receita nos últimos anos, nos quais a empresa apresentou um

crescimento significativo em seu faturamento no país, passando de 500 milhões de

reais em 2007 para 850 milhões de reais em 2011.

A partir da análise sobre a conformação e as ações das grandes

consultorias, como a Deloitte, podemos verificar a importância crescente da

informação como variável-chave no período contemporâneo, tendo em vista a

expansão das informações produzidas e difundidas por essas empresas em pontos

estratégicos do território brasileiro, em especial, nas regiões mais densamente

urbanizadas. A nível mundial, tais empresas apresentam importantes fluxos

informacionais através das suas redes planetárias de escritórios. Daí a necessidade

de reflexão sobre ação corporativa dessas empresas, no planejamento territorial,

para atender os imperativos da produção.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

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DONADONE, J. C. “Os Hunos já

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Amaral Morais Raimundo

[email protected]

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Palavras chave: gentrificação, território, identidade, remoção populacional

O presente trabalho é parte integrante do Programa de Educação Tutorial

(PET/Geografia/UFRJ). O mesmo foi realizado pelo eixo Produção do Espaço Urbano

cuja proposta, através da Geografia Urbana, é analisar as alterações sócio-espaciais

na metrópole do Rio de Janeiro.

A cidade do Rio de Janeiro vem passando por várias transformações

urbanísticas devido aos Mega Eventos: Rio 2016. Aproveitando-se dessas

modificações urbanas na metrópole carioca, pretendemos abordar as alterações

decorrentes da transcarioca – que ligará a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional

Tom Jobim – mais detalhadamente, analisando os impactos das transformações do

BRT (Bus Rapid Transit) transcarioca e do Mergulhão Clara Nunes em Madureira-

Campinhos que está localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro.

O recorte espacial referido acima foi escolhido devido às manifestações

populares, contrárias à instalação do BRT (Bus Rapid Transit) transcarioca em

Madureira-RJ. Segundo os moradores a reestruturação irá implicar em remoções

populacionais locais e, os mesmos, reclamam de indenizações e realocações

indevidas por parte da prefeitura do Rio de Janeiro. Entende-se, que os moradores

estão insatisfeitos com as remoções arbitrarias e com a intransigência das

negociações entre as partes (prefeitura- moradores), assim como, o baixo preço das

indenizações e/ou as características do lugar de realocação.

A Transcarioca será o primeiro corredor de alta capacidade no sentido

transversal da cidade, com extensão de 39 km. A estimativa é que cerca de 500 mil

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pessoas sejam beneficiadas diariamente pelo sistema, que atenderá também os

bairros de Curicica, Taquara, Tanque, Praça Seca, Campinho- Madureira, Vaz Lobo,

Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Penha, Olaria e Ramos. Ao longo do traçado

serão 9 estações duplas e 35 estações simples; quatro terminais (Alvorada, Penha,

Ilha do Governador e Galeão); três mergulhões; 10 viadutos (incluindo as

duplicações) e nove pontes (sendo duas estaiadas). O fim das obras está marcado

para 2013. Resumidamente a transcarioca seria um sistema de ônibus de alta

capacidade que provê um serviço veloz, confortável e eficiente quando nos referimos

a deslocamento populacional no espaço, sendo corredores exclusivos, com

preferência para circulação de transporte coletivo.

Já o novo Mergulhão Clara Nunes faz parte da primeira fase da

construção da Transcarioca, logo, ele vai eliminar o cruzamento que existia entre a

Rua Cândido Benicio, Estrada Intendente Magalhães, Rua Domingos Lopes e Rua

Ernani Cardoso, todas em Madureira. A Coordenadoria de Engenharia e Tráfego do

Rio (CET-Rio) estimam que cerca de 20 mil veículos circulem por dia em cada

sentido do mergulhão. O mergulhão tem 400 metros de extensão, quase 40 metros

de largura em sua parte maior, onde irá receber uma estação de embarque e

desembarque do BRT Transcarioca. Em cada sentido haverá duas faixas para o

ônibus ligeirão (BRT) e duas outras para o trânsito em geral. Concomitantemente os

mergulhões seriam intervenções urbanísticas feita com o objetivo de melhorar a

paisagem urbana e o escoamento do tráfego de veículos automotores, ou seja, uma

espécie de túnel que passa por baixo das ruas, liberando espaço para obras e tráfego

de pessoas por cima delas.

A seguinte pesquisa exibe como objetivo geral, uma análise da atuação

do Governo Federal em relação às políticas habitacionais no que se referem a

assentamento populacional, assim como, as alterações espaciais no decorrer do

processo de gentrificação – enobrecimento do espaço urbano em detrimento da

valorização do lugar – na cidade do Rio de Janeiro visando a Copa do mundo de 2014

e as Olimpíadas de 2016.

Na elaboração da pesquisa tomou-se o cuidado de refletir acerca dos

conceitos e categorias da Geografia Urbana que ressaltassem o objetivo desejado

tanto na parte teórica como na parte técnica e empírica. No que remete ao debate

teórico, especificamos questões como gentrificação e revitalização; território

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Identidade e remoção populacional. Visando a descrição fenomênica, buscou-se

representar a abrangência espacial do traçado da Transcarioca, mas optou-se como

recorte a análise do bairro de Madureira-Campinhos, localizado na Zona Norte da

Cidade do Rio de Janeiro.

Em relação parte teórica foram priorizados conceitos como gentrificação,

território e remoção populacional e, através destes, pretendemos adentrar nos

impactos das obras da Transcarioca à comunidade Largo do Campinhos, situada em

Madureira-RJ.

Nas ideias de Smith a formação de locais gentrificados passaria por três

fases que levariam a uma “gentrificação clássica” 1. A primeira fase foi impulsionada

por precursores, isto é, pessoas de classe média que arriscam investir em um local

desvalorizado pelo mercado imobiliário, por causa do diferencial do preço do aluguel

e benfeitorias, ou, da infraestrutura ali existente. Em sua maioria, essa classe social é

composta por indivíduos com grande intelecto, mas, nem sempre com grande poder

aquisitivo.

A segunda fase é caracterizada, de acordo com Gustavo Zolini, pela

participação do mercado imobiliário em acordo com os planos de incentivos

públicos, ou seja, financiamentos e facilidades que mudam o caráter dos gentries,

antes denominados precursores. Smith afirma que a segunda fase torna a forma de

um plano de investimento em áreas degradadas, impulsionados pela promessa,

depois confirmada, de lucro certo para os investidores privados.

Já a terceira e última fase, pode caracterizar-se por uma gentrificação de

consumo, onde somente uma nova classe média adaptada a certos tipos de lazeres,

emprego e consumo poderão usufruir do espaço determinado e suas especialidades.

Na terceira fase, a gentrificação se caracteriza por moldar todo o entorno e fendas

dos bairros entre as residências gentrificadas (SMITH, 2006).

A mais recente conceituação a partir de uma história vivida por uma

comunidade que produz no território a identidade do grupo social ali residente, o

qual Haesbaert conceitua como território cultural(ista), visto como produto da

apropriação resultante do imaginário e /ou identidade social sobre o espaço, é que

pretendemos caminhar, o que não nos impede de penetrar outras vertentes. A

1 Esta gentrificação clássica, para Neil Smith, pode ser caracterizada ao se analisar a evolução da cidade de Nova York, após o período de expansão suburbana, que resultou no declínio e desvalorização dos centros urbanos.

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relação identidade-território não se dá instantaneamente. Ela toma forma com o

decorrer do tempo tendo como principal artefato o sentido de pertencimento do

indivíduo ou grupo á seu espaço de vivência (SOUZA e PEDON, 2007).

A remoção involuntária da população ocorre por diversos motivos e,

apresenta um desafio tanto para planejadores quanto para os estudiosos de

migrações. O assunto reassentamento tem ganhado visibilidade com o atual

processo de gentrificação que está passando Madureira.

Por fim, compreendemos que as obras referidas a cima estão imbricadas

à alterações espaciais no bairro de Madureira e, podem apresentar tanto impactos

positivos quanto negativos à realidade de vida da população local. Contudo, para que

essas obras ocorreram é necessário que haja remoções populacionais em

Campinhos e, é nessa perspectiva que se encontra o nosso grande desafio.

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Isabela Alves Gomes

[email protected] Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Palavras-chave: Avenida Central, Pereira Passos, Reforma Haussmann, mobilidade urbana

A discussão em torno da construção da Avenida Central envolve diversas

problemáticas, entre elas a modernização tardia da cidade do Rio de Janeiro e a

conquista da sua capitalidade, bem como a expulsão da população pobre da área

central.

Quando Pereira Passos assumiu a prefeitura da cidade, não imaginava a

transformação que seria capaz de realizar. O Rio de Janeiro do início do século XX

não transparecia sua importância política como capital. Suas ruas eram estreitas e

sujas, quiosques tomavam conta das esquinas, doenças assolavam a cidade, cortiços

e malocas serviam de moradia coletiva e a população vivia em meio a mais completa

desordem. A cidade se desenvolvia apertada entre os morros do Castelo, Santo

Antônio, São Bento e Conceição.

Foi assim, com o Rio entregue a sua própria sorte, que Pereira Passos

assumiu a prefeitura, e a partir de sua parceria com o atual presidente Rodrigues

Alves, pôs em prática um plano de melhorias que iria transformar a paisagem

carioca. O objetivo principal da dupla era poder transformar a imagem que a cidade

passava de um lugar retrógrado, com características ainda coloniais, tomado por

doenças e infestações, em uma cidade limpa e atualizada de acordo com o seu

tempo.

Porém, mudar o espaço urbano carioca, sem mudar os costumes da

população, de nada serviria para transformar a imagem negativa que a cidade

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transparecia. Para isso, foram instaurados quatro princípios fundamentais, aos quais

a população deveria se submeter, sendo eles: a expulsão dos menos favorecidos da

área central da cidade, a negação de elementos da cultura popular, a valorização do

mundo moderno na tentativa de se assemelhar a grande Paris, a proibição de

hábitos e costumes ligados à sociedade tradicional.

Com a missão de reestruturar, urbanizar e embelezar a cidade, Pereira

Passos teve a importante ajuda do sanitarista Oswaldo Cruz, que com muita

competência, fez com que o Rio de Janeiro deixasse de ser conhecido como “Capital

da Morte” e passasse a ser chamado de Cidade Maravilhosa. A primeira providência

a ser tomada pelo novo prefeito foi a de reorganizar a antiga Comissão da Carta

Cadastral, com o objetivo de fornecer o apoio logístico necessário para a realização

de suas obras.

Foi o ministro da Viação e Obras Públicas, Lauro Müller, que percebeu a

necessidade de construção de um Porto, que serviria para o escoamento e fluxo de

mercadorias, além de representar a importância brasileira como maior produtor de

café do mundo. Rodrigues Alves, com a ajuda de Lauro Müller, designa então

Francisco Bicalho, para modernizar o Porto do Rio de Janeiro. Para o presidente, essa

era uma obra de caráter fundamental para o andamento das transformações que a

cidade vinha passando.

Todavia, o projeto de melhoramentos que estava sendo implantado na

cidade não podia se limitar apenas ao porto. Eram necessárias algumas obras

complementares, no objetivo de ajudar no escoamento dos produtos oriundos do

mesmo. Assim, seria decretada a abertura da Avenida do Cais, da Avenida do

Mangue, e da Avenida Central, sendo esta última, o tema a ser abordado nessa

pesquisa. Foi então em 1903, que Lauro Müller, aprovou as instruções para o

funcionamento da Comissão Construtora da Avenida Central, nomeando o então

presidente do Clube de Engenharia, André Gustavo Paulo de Frontin, para a direção

desta comissão.

A construção da Avenida provocou grande assombro popular. Diziam que

levaria anos para ser concluída, que custaria milhões só em desapropriações, que

não haveria recursos suficientes. Mas com a ajuda de Pereira Passos a cidade já

estava empenhada em se remodelar. O objetivo era molda-la como os grandes

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Bulevares de Paris. Em 8 de março de 1904, festejou-se solenemente a demolição

dos primeiros prédios, iniciada pelas duas extremidades da Avenida.

A nova avenida que era considerada um complemento às obras do porto,

por outro lado, representava um símbolo do progresso, deixando para trás a velha e

retrógrada cidade abandonada.

Foi debaixo de grande chuva que em 15 de novembro de 1905 inaugurou-

se a Avenida Central, que nos moldes dos boulevares de Paris, se tornou o grande

marco da urbanização carioca daquela época. Porém, todo progresso tem sua

consequência, e não foi diferente com a construção da Avenida. Com a cidade em

expansão, começava a ficar cada vez mais difícil se manter no centro, próximo a

todas as melhorias que vinham sendo realizadas, ao acesso fácil a produtos e

serviços, e a um lugar privilegiado que pudesse ser beneficiado de alguma forma

pelo plano de melhorias.

O objetivo dessa pesquisa - que se encontra em andamento - é analisar e

demonstrar o deslocamento da população no início do processo de reurbanização da

cidade na primeira década do século XX, mais especificamente na área tomada pela

Avenida Central, tal como verificar as mudanças ocorridas naquele espaço com a

inauguração da grande avenida.

Sendo assim, a pesquisa segue dando foco ao processo de

desalojamento da população pobre do centro carioca. População essa que não era

vista com bons olhos pela prefeitura, ocupada por Pereira Passos, uma vez que

“empobrecia” a imagem da cidade.

O trabalho esta sendo realizado através de pesquisas em fontes

primárias, principalmente documentos encontrados em instituições públicas como o

Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, o Instituto Pereira Passos e o Arquivo da

Cidade do Rio de Janeiro, além de entrevistas com profissionais da área de estudo.

Assim, foram levantados dados importantes de base para a pesquisa tais como

informações sobre as casas desapropriadas e o valor pago a cada uma delas, mapas

referentes ao recorte espacial em questão, cartas de moradores das casas

desapropriadas, entre outros documentos levantados. Porém, até então, ainda não

foi possível chegar a uma conclusão final sobre o destino que tiveram os antigos

moradores deslocados.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

O referente autor do trabalho participou ativamente da composição,

elaboração e desenvolvimento da pesquisa. Considerando os dados levantados, a

temática trabalhada é de suma importância para o entendimento da ação

governamental na vida das pessoas, mostrando como uma obra pública pode afetar

de forma direta e/ou indireta a vida das mesmas, até os dias de hoje.

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

Jefferson Pedrosa da Silva Teixeira [email protected]

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Palavras-chave: Mobilidade, acessibilidade, espaço urbano, exclusão urbana

O transporte público é um serviço essencial para a dinâmica da cidade,

porém quando se mostra de forma desarmônica prejudica a sua articulação, além do

que o mesmo torna-se cada vez mais um modelador do espaço urbano. Não se

pretende neste trabalho apenas usar a Geografia dos transportes de modo técnico e

reduzido, e sim de maneira que ao estudar a situação dos transportes e da

mobilidade em Tamoios – RJ, segundo distrito de Cabo Frio, possa-se identificar

também as interações espaciais de sua população e sua estrutura urbana. Neste

sentido, o objetivo desde trabalho é analisar a interferência da empresa Autoviação

Salineira na mobilidade de Tamoios que apresenta um fenômeno diferenciado, onde

o transporte público é monopolizado por essa empresa local que controla todas as

linhas municipais e parte das intermunicipais. Esse fato causaria uma segregação

urbana da população de Tamoios através da distribuição irregular das linhas de

ônibus da empresa de transporte, privando essa população de serviços básicos.

Expansão urbana do município de Cabo Frio

Antes de analisar a mobilidade, deve-se revisar a formação territorial do

município e o ordenamento da sua rede urbana. O município de Cabo Frio ocupa

uma área de 403 Km2 localizando-se atualmente no sudeste do estado do Rio de

Janeiro, inserido na mesorregião das Baixadas Litorâneas e na microrregião da Costa

do Sol (CIDE, 2000).

Desde a década de 1970 que o município apresenta um adensamento

populacional expressivo, intensificado por fluxos causados pela nova ligação entre a

capital e o interior do estado, a ponte Rio–Niterói, refletindo no aumento de sua

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

população, que duplicou em apenas 20 anos. E conta atualmente com cerca de 200

mil habitantes (IBGE, 2010).

Como aponta MARAFON (2005) o turismo de veraneio e o fenômeno da

“segunda residência” movimentam os setores de prestação de serviços

principalmente relacionados aos negócios do turismo, como hotéis, pousadas,

comércio, além de entre outros como o setor de transportes e da construção civil.

Cabo Frio recebe anualmente cerca de uma população de cerca de dois milhões de

turistas flutuantes somando os períodos de alta e baixa temporada, tendo como

origem regional principalmente os da capital do estado, de Niterói e de Petrópolis,

de origem interestadual e internacional (SECTUR, 2010).

Discutindo o conceito de mobilidade

A mobilidade urbana, conceito amplamente discutido, possui variadas

definições. Uma delas, dada pelo SEMOB é a de que “a mobilidade urbana é definida

como a facilidade de deslocamento das pessoas e bens na cidade, tendo em vista a

complexidade das atividades econômicas e sociais nele desenvolvidas (SEMOB,

2005)”. Porém, pensar em mobilidade apenas pelo lado técnico empobrece a

discussão.

Sendo assim, deve-se repensar o conceito de mobilidade urbana,

acrescentado o fato de a mobilidade contribuir para a construção e modificação do

espaço urbano. Segundo Gomide (2004) a desigualdade urbana pode ser observada

de diferentes formas, inclusive através dos transportes e da mobilidade. Nesse

sentido, como diz Silveira (2011) deve-se atribuir aos transportes parte importante

da “organização da produção e da reprodução do espaço” e que não somente a

quantidade e a qualidade das vias, dos meios e dos fluxos e de suas “organizações

sobre o espaço”.

Portanto, após discutir brevemente o conceito de mobilidade urbana,

deve-se partir para a discussão do recorte espacial escolhido, no caso, Tamoios. Por

conta da sua mobilidade prejudicada por diversos fatores que serão tratados,

Tamoios apresenta-se com uma estrutura urbana singular, o que também será

tratado a frente.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Mobilidade urbana em Tamoios

A mobilidade de Tamoios é prejudicada primeiramente pelo monopólio

empresarial da Autoviação Salineira que controla todas as linhas de ônibus

municipais e a maior parte das linhas intermunicipais. A referida empresa fornece

apenas três linhas que fazem o percurso de pouco mais de 30 km ligando o primeiro

e o segundo distritos, que são Cabo Frio x Santo Antônio Via São Jacinto (Linha

municipal), Cabo Frio x Santo Antônio via Marinas e Cabo Frio x Santo Antônio Via

Maria Joaquina e Gargoa (intermunicipais).

Posteriormente, foram examinados os horários das linhas em questão

que variam seus horários de saída de 10 minutos até 2 horas. Grandes intervalos

prejudicam a mobilidade urbana, pois limita o acesso da população a partes da

cidade, tendo esses que se programar muito para que tenham como ir e voltar de

seus destinos. Mover-se pelo espaço sem ter limitações de horário é importante,

pois horários limitados prejudicam o mercado de trabalho e o mercado consumidor,

que restringe o tempo que trabalhadores e consumidores podem permanecer no

centro da cidade, onde se concentram as principais atividades econômicas.

Resultados dos questionários

Buscou-se através da aplicação de questionários caracterizar a

mobilidade urbana de Tamoios, reunindo informações e opiniões com os usuários

do transporte público rodoviário. Os questionários foram aplicados no mês de julho

de 2012, em Tamoios, precisamente nos bairros de Unamar e Aquarius,

entrevistando 22 moradores de ambos os sexos e de idades que variavam entre 15 e

64 anos.

Procurou-se descobrir entre outras coisas os destinos mais procurados, a

modo que pudesse medir a intensidade dos fluxos saídos de Tamoios. Assim,

observou-se que o primeiro distrito de Cabo Frio é tão procurado quanto o município

de Rio das Ostras, sendo o último muitas vezes citado como destino secundário. O

fato de Rio das Ostras ser tão procurado dar-se primeiramente por conta da maior

proximidade física que Tamoios tem com Rio das Ostras – cerca de 10 km – do que

com Cabo Frio – cerca de 30 km. Além disso, Rio das Ostras exerce uma centralidade

na região devido ao seu grande desenvolvimento atual devido à extração de petróleo

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

na Bacia de Campos, concentrando empregos e serviços como bancos, médicos,

escolas, comércio, entre outros.

Também se descobriu que a utilização de outras modalidades de

transporte é comum em Tamoios, principalmente o uso pessoal de transporte –

carros, motos e bicicletas – e o uso do transporte informal, as chamadas “lotadas”.

Quando questionados sobre o comprometimento da renda com as tarifas dos

ônibus, 50% dos entrevistados disseram ter sua renda comprometida, 25% disseram

não comprometer sua renda e 25% responderam ter parcialmente comprometida.

A precariedade do serviço pode ser evidenciada quando os usuários são

questionados sobre os horários, conforto, oferta de destinos e tarifa. As avaliações

dos serviços prestados Salineira são negativas. Os usuários queixam-se

principalmente da falta de destinos, da demora dos ônibus, de encontrarem-se

geralmente cheios e que constantemente os motoristas não respeitam os direitos

dos idosos e estudantes.

Conclui-se assim que os usuários têm dificuldades de se locomover no

espaço urbano pelos motivos já apresentados. As ações da Auto Viação Salineira ou

a falta delas, observadas pelos usuários, interfere negativamente para a mobilidade

do segundo distrito de Cabo Frio. Os usuários não conseguem chegar aos destinos

que buscam utilizando o transporte público local, que a principio deveria ser o

primeiro a oferecer o serviço, enfrentando dificuldades em se locomover dentro de

seu próprio território, muitas vezes ficando privados a serviços e eventos no primeiro

distrito.

Conclusão

Conclui-se assim que o transporte em si não é o causador segregação,

sendo que esse engloba outros importantes fatores, porém quando não funciona

adequadamente, afasta e isola a população contribuindo para o processo. Portanto,

assim como diz Silveira (2011), pensar a mobilidade urbana como facilidade de se

movimentar pelo espaço está correto, mas deve-se pensar principalmente como a

mobilidade contribui para a modernização da sociedade e amplia suas relações

sociais através das inter-relações espaciais. Com mobilidade urbana desenvolvida há

mais interação social com o espaço, contribuindo com a produção e reprodução do

espaço. A mobilidade urbana ultrapassa o sentido de ir e vir de pessoas e produtos, e

torna-se um fator de estruturação e reestruturação do espaço e do território,

ige.unicamp.br/cact/semana2012

aproximando ou distanciando lugares, desenvolvendo ou colocando lugares no

esquecimento.

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Ática, 2004.

GOMIDE, Alexandre de Ávila. Mobilidade

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Auro Aparecido Mendes

[email protected]

Lucas Baldoni [email protected]

Instituto de Geociências e Ciências Exatas Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Palavras-chave: Geografia da Inovação, condomínios empresariais, Geografia dos

serviços

O presente trabalho consiste em analisar a importância da troca de

conhecimento e inovação no Condomínio Empresarial Praça Capital instalado na

Região Metropolitana de Campinas (SP). O condomínio empresarial Praça Capital é

o novo espaço produtivo resultado das reorganizações que possibilitam a

reprodução do capital. Esse novo espaço produtivo, dotado de infraestrutura e

logística sofisticada é capaz de possibilitar o desenvolvimento das empresas ali

instaladas além de promover o avanço da inovação tecnológica da região devido

suas relações com laboratórios, universidades e centros de pesquisa.

As lógicas da localização dos serviços de inovação têm aspectos

semelhantes às atividades econômicas em geral, que se distingue devido ao caráter

imaterial dos serviços de alto valor agregado através do papel estratégico da

informação, pela natureza dos serviços prestados e pelo fato de existirem serviços

cuja lógica de funcionamento está para além do econômico, mas também cientifico.

Desse modo, a redefinição das estruturas e o redirecionamento espacial

das organizações trazem novos conceitos aos processos produtivos e modificam os

espaços tornando-os novos espaços produtivos. Após o período fordista, houve a

expansão de indústrias multinacionais em busca de espaços que ofereciam

possibilidades para expansão. Já no início da década de 1990, começaram a surgir no

Brasil empreendimentos como uma alternativa de aproximação das empresas ao

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maior mercado consumidor do país. Esses espaços traziam projetos de condomínios

que contemplavam empresas de segmentos voltados ao atendimento direto ao

mercado. Tais empreendimentos são empresas que na década de 1990 pareciam

inviáveis, mas que recentemente são necessárias, pois obedecem ao

desenvolvimento econômico através da evolução tecnológica, construção civil,

tecnologia da informação, ou seja, através da terceirização.

As empresas mudaram seus modelos organizacionais para adaptarem-

se às condições das novas exigências espaciais. Através da materialização dos

fenômenos no espaço podemos observar que o Condomínio Empresarial faz parte

da lógica da criação das condições gerais para as relações capitalistas de produção

de serviços, dentre eles, os que possibilitam a troca de conhecimento em suas

instalações e também o vínculo com institutos de pesquisa que contribuem para o

avanço científico e tecnológico. Neste sentido, com a construção destes

condomínios, as empresas instaladas em localizações logisticamente estratégicas,

encontram nestes espaços todos os serviços e infraestruturas necessárias para o

funcionamento viável e rentável das empresas instaladas.

A localização do Condomínio Empresarial permite não só a agilidade da

produção de serviços que contribuem para o avanço científico e tecnológico, mas,

ainda, o compartilhamento do conhecimento, do aprendizado, das trocas de

experiências e dos serviços disponíveis. Portanto, o espaço que, no passado,

encontrava-se desarticulado, no momento atual encontra-se cada vez mais dotado

de capacitações técnicas, logísticas e de serviços que possibilitam a integração entre

empresas dos mais variados ramos ou setores da atividade econômica além de

manter relações com universidades e centros de pesquisas.

A interação e a cooperação via fluxo de informações e de conhecimentos entre produtores, usuários, assistência técnica, indústrias correlatas, serviços, instituições de pesquisa; são imprescindíveis para a inovação tecnológica e para a descoberta de novos produtos e processos (MENDES e BALDONI, 2010. p. 2).

A Região Metropolitana de Campinas é um “espaço ideal” para o

desenvolvimento de atividades empresariais, pois possui fatores intensivos em

tecnologia e conhecimento.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

O objetivo geral desta pesquisa foi avaliar no Condomínio Empresarial

“Praça Capital” a importância da produção de conhecimento e inovação tecnológica

gerada na Região Metropolitana de Campinas, e também, as relações e trocas de

conhecimento que as empresas instaladas no Condomínio em estudo mantêm entre

si e com as suas sedes ou suas matrizes. Já os objetivos específicos envolveram a

análise das relações que as empresas instaladas no Condomínio possuem com as

universidades e centros de pesquisa, e, as vantagens existentes no Condomínio

quanto à produção de conhecimento e inovação. O estudo identificou como é feita a

qualificação da mão de obra empregada; avaliou os serviços de inovação tecnológica

disponível e também, o grau de importância do Condomínio para geração de

conhecimento na Região Metropolitana de Campinas, SP, por fim, constatou se a

troca de conhecimento entre as empresas instaladas no Condomínio a partir de suas

relações e sinergias com as matrizes.

Na presente pesquisa o método empregado foi o “materialismo

histórico geográfico” proposto por David Harvey (1996). O materialismo histórico

geográfico possibilita à análise das contradições existentes no real através da visão

temporal somada as transformações que ocorrem no espaço:

Mesmo a expressão “materialismo histórico”, observo, apaga a importância da geografia e se venho me empenhando nos últimos anos para implantar a ideia de “materialismo histórico geográfico” é que a mudança dessa terminologia nos prepara para olhar com mais flexibilidade e, espero mais coerência a significação em termos de classes de processos como a globalização e o desenvolvimento geográfico desigual (Harvey, 1996. p.82).

Os procedimentos metodológicos desta pesquisa visaram resgatar o

histórico do desenvolvimento econômico, principalmente dos novos espaços

produtivos em Campinas, como também, um levantamento bibliográfico sobre os

condomínios empresariais, centros de pesquisa e universidades existentes.

No trabalho de campo foi realizado o levantamento de dados que

possibilitaram a análise dos tipos de serviços de inovação e produção de

conhecimentos oferecidos às empresas e pelas empresas instaladas no referido

Condomínio. A investigação científica constituiu, também, na elaboração de

questionários e aplicação desses questionários aos empresários que permitem o

fluxo de informações dentro e fora do condomínio possibilitando a inovação e

ige.unicamp.br/cact/semana2012

produção de conhecimento. Enfim, a interpretação dos resultados promoveu a

comparação entre os resultados obtidos experimentalmente com aqueles esperados

segundo normas vigentes da demanda do grande capital.

Enfim, as empresas procuram espaços específicos para a reprodução

do capital. Espaços dotados de infraestrutura que possibilitem seu desenvolvimento

com menor custo e maior benefício. Tais espaços são os novos espaços produtivos

do século XXI, e esse espaço se apresenta sob a forma de Condomínio Empresarial,

pois ele evidencia a importância da troca de conhecimento e inovação através de

uma localização estratégica para o desenvolvimento de relações que visam o avanço

cientifico e tecnológico regional.

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Mariana Falcone Guerra [email protected]

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo

Palavras-chave: sustentabilidade, desenvolvimento urbano sustentável, loteamentos fechados

Introdução e objetivo

Neste começo de século, as perspectivas para enfrentamento dos

problemas urbanos gerados por um modelo irracional de ocupação do espaço são

bastante desanimadoras. Num contexto de incertezas quanto ao futuro das cidades,

o paradigma do desenvolvimento urbano sustentável ganhou força ao procurar

estabelecer parâmetros para um crescimento urbano equilibrado.

Termos como “adensamento urbano”, “otimização dos transportes

públicos”, “controle de resíduos sólidos”, entre outros, passaram a fazer parte da

agenda política das grandes cidades, e do vocabulário de atores ligados à produção

do espaço urbano como gestores públicos, promotores imobiliários e agências

multilaterais de desenvolvimento.

Esse trabalho tem como objetivo compreender o conceito de

desenvolvimento urbano sustentável, bem como a apropriação ideológica desse

conceito pelo mercado imobiliário.

O conceito de sustentabilidade

Publicado em 1987, o Relatório Brundtland inaugurou o debate público

internacional em torno da noção da sustentabilidade, definida por ele como aquele

que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das

ige.unicamp.br/cact/semana2012

gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. Apesar de bem intencionado,

o texto é vago e sujeito a inúmeras interpretações.

Fundamentalmente, a noção de sustentabilidade estaria relacionada à

duração quantitativa e qualitativa da base material das sociedades. Tratar-se-ia de

projetar para o futuro, o modelo urbano ideal e desejável para as cidades,

discriminando as práticas predatórias relacionadas ao modelo de “progresso a

qualquer custo”, e suas consequências para a base material das cidades, como

poluição, congestionamento, violência urbana etc.

Designaremos por sustentabilidade, pois a categoria pela qual, a partir da última década do século XX, as sociedades têm problematizado as condições materiais da reprodução social discutindo os princípios éticos e políticos que regulam o acesso e a distribuição dos recursos ambientais – ou, num sentido mais amplo, os princípios que legitimam a reprodutibilidade das práticas espaciais (ACSELRAD, 2009, p. 19).

Segundo Acselrad (2009), duas racionalidades são observadas no debate

sobre a sustentabilidade. A primeira, de caráter prático, foca a longevidade do

sistema capitalista vigente com base na racionalidade econômica e eficiência global.

A segunda enxerga além da simples lógica utilitária, vislumbrando na experiência

prática da sustentabilidade uma possibilidade de transformação social, ao incorporar

valores como ética, equidade e democracia na formulação de um novo modelo de

desenvolvimento.

Por volta do início da década de 1990, várias cidades (notadamente

europeias) se articularam para pôr em prática os princípios do desenvolvimento

sustentável. Em 1992 aconteceu no Rio de Janeiro a ECO92, cujo resultado prático foi

a elaboração da Agenda 21, documento que norteia políticas e ações voltadas ao

desenvolvimento sustentável. A partir de então, o debate sobre sustentabilidade

urbana ganha força, dando origem a diversas rearticulações políticas através das

quais atores ligados à produção do espaço urbano procuraram dar legitimidade às

suas ações, enfatizando a compatibilidade destas com os princípios da Agenda 21.

Segundo este documento, os principais preceitos do desenvolvimento

urbano sustentável seriam:

Densidades urbanas mais elevadas e forma urbana compacta

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

O maior adensamento maximizaria o uso da infraestrutura instalada,

diminuindo o custo de sua implantação e a necessidade de expansão da cidade para

áreas periféricas e ambientalmente frágeis.

Usos urbanos diversificados

A monofuncionalidade implica em maiores deslocamentos, que

normalmente são feitos através de transporte individual e queima de combustível

fóssil, além de desencorajar o pedestrianismo.

Adoção do sistema de transporte coletivo, em detrimento do

transporte individual

Esse aspecto está relacionado ao adensamento. Densidades baixas estão

associadas a transportes de baixa capacidade. Por sua vez, densidades mais altas

viabilizam a implantação de transportes coletivos de massa, notadamente trem e

metrô, que além de contribuírem para melhorar a circulação urbana, consomem

eletricidade como insumo energético, ao invés da queima de combustível fóssil.

Nobre (2004) afirma que a associação desses três fatores (cidade densa e

compacta/usos diversificados/transporte coletivo) resultaria no modelo urbano

sustentável. Com o acirramento do debate sobre sustentabilidade urbana na década

de 90, o discurso “ecológico” foi rapidamente incorporado pelos empreendedores

imobiliários que passaram a adotar algumas inovações como coleta seletiva e

tratamento de esgoto nos novos empreendimentos numa tentativa de suprir a

demanda dos consumidores por “condomínios verdes”.

A Construtora Takaoka, a mesma responsável pelos outros loteamentos

fechados de Alphaville, para fazer frente a essa nova demanda criou em 2002 o

Residencial Gênesis. Na ocasião do lançamento, a construtora dizia tratar-se de um

novo padrão de urbanização de loteamentos, no qual “procurou incorporar o

conceito de desenvolvimento sustentável de forma completa, buscando o equilíbrio

social, econômico e ambiental”.1 Segundo a construtora, no Gênesis foram

respeitadas as condições naturais do terreno, realizando um padrão de urbanização

assentado harmonicamente sob o suporte físico, e conservando boa parte dos

1 Texto retirado do site da construtora na ocasião do lançamento do Empreendimento Gênesis.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

atributos naturais: “o resultado é um empreendimento totalmente adaptado à

região”.2

Apesar de ser constantemente citado como um grande paradigma para

os “condomínios verdes” e ter ganhado vários prêmios como o “Top Ecologia

2002/2006”, não houve uma grande evolução quanto à implantação do condomínio.

O Gênesis foi erguido sobre a mesma paisagem desgastada por cortes, aterros,

muros de arrimo e terrenos com ravinamento, presente na construção dos

residenciais mais antigos de Alphaville. A “área verde preservada” equivale a áreas de

APPs protegidas por lei (o empreendimento foi erguido em um sítio íngreme, com a

presença de nascentes e lagos). O paisagismo não incorporou espécies da mata

original, não houve a preocupação com a utilização de materiais e técnicas não

convencionais como pisos drenantes, biovaletas etc. A implantação foi orientada

para possibilitar a máxima oferta de terrenos a serem comercializados.

Considerações finais

É bastante questionável atribuir o termo “sustentável” a

empreendimentos como o Alphaville e Gênesis. Em primeiro lugar, ao promover um

processo de alisamento territorial com a substituição de uma realidade pré-existente

(pequenos sítios onde era praticada a agricultura de subsistência por posseiros), por

um espaço novo destinado a uma minoria abastada, a construtora contribuiu para

aumentar o quadro de fragmentação social e segregação urbana.

Em segundo lugar, o desenho urbano desses loteamentos é constituído

de zonas monofuncionais rigidamente separadas em locais de moradia, trabalho,

lazer e consumo. A ligação entre esses elementos é feita através de longas avenidas,

que não possuem sequer calçadas adequadas, desencorajando o pedestrianismo.

Além disso, o transporte público em Alphaville é insipiente. Via de regra, os

deslocamentos são feitos através de automóvel, sendo que o trânsito é uma das

principais reclamações daqueles que ali moram e trabalham. O fato de localizar-se

distante da capital também contribui para aumentar grandes deslocamentos através

de automóveis, o que contraria o princípio da cidade compacta.

As “modernizações ecológicas” presentes nos condomínios como coleta

seletiva e tratamento de esgoto beneficiam apenas uma minoria abastada. Além

2 Idem.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

disso, a implantação de grandes empreendimentos em áreas ambientalmente frágeis

acentua a degradação dos recursos ambientais.

Finalmente, do ponto de vista social, a instalação desses loteamentos

fechados nas franjas metropolitanas de São Paulo, contribui para o recrudescimento

das tensões sociais provocadas pela presença dos muros e equipamentos de

segurança que separa esses dois mundos, o da “cidade rica”, habitada

exclusivamente por membros da mesma classe social e o da “cidade pobre”,

habitada pelos diferentes, os “de fora”.

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

Nathan Ferreira da Silva [email protected]

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Palavras-chave: habitação; condomínios-clube; Minha Casa Minha Vida

O presente trabalho, inserido na pesquisa “Entre a política e o mercado:

desigualdades, exclusão social e produção da moradia popular na Região

Metropolitana do Rio de Janeiro”, desenvolvida pelo Observatório das Metrópoles,

propõe analisar o papel novas formas de produção da moradia na construção do

espaço urbano da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Neste contexto,

destacam-se os condomínios-clubes – conceito que vem dominando os novos

lançamentos imobiliários - são grandes empreendimentos imobiliários residenciais

que contam com ampla infraestrutura urbana como ruas, centros comerciais, praças,

que tem chegado à Baixada Fluminense. Seguindo este conceito, foi idealizado um

empreendimento imobiliário em Nova Iguaçu, o Cidade Paradiso, objeto de estudo

desse trabalho, é primeiro bairro planejado da região, concebido buscando explorar

as novas tendências do mercado imobiliário na década de 2000, que se diversificou

em direção às camadas de renda média-baixa, impulso que foi reforçado e

consolidado com o lançamento do programa que é o fio condutor da pesquisa

maior, o Minha casa Minha Vida.

A respeito da origem dos bairros planejados, é importante ressaltar os

preceitos do New Urbanism, surgido no final dos anos 80 nos Estados Unidos, o qual

“procura reintegrar os componentes da vida moderna – habitação, local de trabalho,

fazer compras e recreação – em bairros de uso misto, compactos, adaptados aos

pedestres, unidos por sistema de tráfego” (SOUZA, 2001, p. 143). Nesse sentido

surgem os bairros planejados, integrando habitação, lazer, serviços, área de trabalho

e áreas verdes, em um único espaço.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Nesta perspectiva, o que percebemos hoje, no âmbito dos bairros

planejados, é que os mesmos não correspondem ao conceito de lugar e sim, às

formas homogêneas e standartizadas. A exemplo disto, observamos o caso do Cidade

Paradiso, onde há meio do controle de usos e funções dos espaços ditados pelo

planejador, inclusive criando manuais de convivência, ensinando/normatizando

como viver em condomínio e utilizar os seus espaços. Em 1961, Jane Jacobs já

advertia que a separação funcional que ocorre nesse tipo de projeto, onde não há

uma diversidade de/ nas edificações, camadas sociais, usos e funções, confronta a

dinâmica urbana que se dá através da heterogeneidade, e que é a própria riqueza da

grande cidade. Reflexões acerca do bairro planejado Cidade Paradiso fundamentam o

presente trabalho, cuja analise empírica será descrita no decorrer do trabalho. De

acordo com o site oficial do empreendimento, este é propagado como uma

minicidade em uma área de 4,6 milhões de metros quadrados no bairro de Cabuçu

na Baixada Fluminense. O potencial construtivo da área é 32 mil casas constituídas

de dois e três dormitórios com possibilidades de ampliação em alguns casos. Além

disso, este megacondomínio contará com equipamentos urbanos – comércio e

serviços - tais como: escola, creche, rodoviária, posto de gasolina, centro comercial,

estádio, museu e polo industrial. O projeto, iniciado em 2004, será desenvolvido em

fases ao longo de dez anos em parceria com a Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu.

Neste contexto enquanto estratégia de marketing – onde a moradia é compreendida

enquanto mercadoria - tais equipamentos são apresentados enquanto benefícios que

um “condomínio-clube”, oferece como exclusividade. Entre as fases de construção

deste bairro planejado, recentemente foi concluído o Jardim Paradiso, condomínio

de 242mil m², que conta com 1817 unidades habitacionais. Segundo informações

dos corretores e confirmadas por moradores, cerca de 40 famílias habitam o local.

A metodologia utilizada nesta pesquisa foi visitação in loco, e pesquisa na

rede social Orkut, através da comunidade “Morar no Cidade Paradiso”, onde foram

analisados aspectos tais como: transportes, relações com o entorno e especulação

imobiliária.Dada as dimensões do projeto, o Cidade Paradiso necessitou de uma

área com grande estoque de terras, instalando-se em uma área de expansão da

cidade, onde a provisão de serviços e equipamentos urbanos básicos para a

instauração de um empreendimento deste porte ainda é bastante tênue. Nesta

conjuntura, a área de edificação deste bairro planejado não se mostra adequada

ige.unicamp.br/cact/semana2012

principalmente no que diz respeito aos aspectos de acessibilidade articulada à

mobilidade urbana; além de permeabilidade e relações diretas com o entorno do

empreendimento.

No que tange a acessibilidade e mobilidade urbana, é possível perceber

diante da precariedade de manutenção e mobilidade de/em seus principais acessos

(Rua Severino Pereira da Silva e a Estrada do Mato Grosso) e da circulação de

somente duas linhas de ônibus, a Nova Iguaçu x Paradiso e a Cabuçu x Queimados.

Desta forma, constatamos que estes são fatores prejudiciais às famílias que ali vivem

(e viverão) e dependem de transporte público, uma vez que esses empreendimentos

são concebidos para que os deslocamentos sejam feitos através de automóvel.

Entretanto, o discurso da empresa privada incorporadora do projeto afirma que os

moradores contarão com diversas opções de transporte e excelentes acessos: várias

linhas frequentes de ônibus, Avenida Brasil, Presidente Dutra, Estações de trem de

Queimados e Nova Iguaçu e Estação de metrô da Pavuna, conforme a propaganda

recentemente divulgada (pesquisa de campo, 2011). Isto mostra uma disparidade

entre o que é publicizado e o que é vivenciado no que diz respeito ao cotidiano de

quem habita o local.

Nos condomínios fechados, tal como a Cidade Paradiso, a questão da

segurança ocupa um lugar privilegiado. Para quem vende, é um atributo a parte no

marketing do empreendimento. Em relação aos compradores, os condomínios

surgem como uma forma de resolver as inquietações no que concerne à segurança,

uma vez que o papel do poder público pode estar se mostrando ineficiente. Na

propaganda do Jardim Paradiso, há um destaque para o fato das guaritas serem

vigiadas vinte e quatro horas por dia. Os altos muros além de darem uma ilusão de

segurança, marcam na paisagem a diferença entre o condomínio e seu entorno. Por

meio deles, é feita seleção de público, através da renda, não havendo a necessidade

de se conviver com grandes distinções sociais. No entorno, podemos encontrar a

comunidade de Nova Vida, com ruas de terra e lotes delimitados por baixas cercas,

ao invés dos muros. Embora o Paradiso e Nova Vida estejam fisicamente próximos,

nos atributos sociais apresentam grandes distinções, tal como dois mundos

paralelos compartilhando o mesmo espaço. Ainda assim, o empreendimento é

responsável por mudanças no seu entorno.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

A comunidade próxima tem crescido nos últimos anos, principalmente

por trabalhadores da construção do empreendimento, que procuram viver próximo

ao local gerador de renda. Nota-se ainda, um grande número de placas de vendas de

loteamentos, muitos dos quais irregulares, com diversas facilidades de aquisição,

como a não comprovação de renda. Podemos constar então, que nas duas

localidades ocorre o mesmo fenômeno: pessoas que vão à busca de uma perspectiva

de melhora vindoura. Quanto aos serviços básicos, o empreendimento ainda não

conta com os equipamentos que foram publicizados: na área destinada ao mercado,

por exemplo, apenas foram colocados os tapumes da obra. O mesmo pode-se dizer

da escola pública municipal, localizada na entrada do Jardim Paradiso. De acordo

com relato de moradores, a padaria também não foi inaugurada. Como solução, o

padeiro do bairro próximo leva o cesto de pães em sua bicicleta todas às manhãs,

com o intuito de atender a demanda. Caso seja necessário ir ao mercado ou lotérica,

pode-se deslocar tanto a Cabuçu quanto Queimados.

Diante do exposto nesse trabalho, verificamos que o modelo de bairro

planejado do Cidade Paradiso não tem se mostrado adequado, principalmente

devido à falta de infraestrutura por parte do poder público para receber um

empreendimento deste porte. Internamente, o próprio modelo do bairro, com a

separação funcional interna, precisa ser repensado de forma que não se crie

paisagens monótonas. Além disso, o discurso de vendas é fundamentado em

promessas de que um dia, ao longo da implantação de todas as fases do

empreendimento, haverá mais oferta de comércio e serviços e a provisão de

infraestrutura será “consequência” da instalação do empreendimento Assim, para

um projeto desenvolvido ao longo de 10 anos, se faz necessário repensar alguns

aspectos já observados na fase inicial.

CARDOSO, Adauto; ARAGÃO, Thêmis; ARAÚJO, Flávia. Habitação de Interesse Social: Política ou Mercado? Reflexos sobre a Construção do Espaço Metropolitano. Anais do XIV Encontro Nacional da ANPUR. Rio de Janeiro, 2011, 21p. Disponível em:

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______- Plano Geral de Intervenções –

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Rafael da Silva Barbosa [email protected]

Instituto de Economia Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: desenvolvimento econômico, economia urbana, infraestrutura, mobilidade Espacial

Introdução

Nos últimos dez anos o Estado do Espírito Santo (ES) vem passando por

fortes transformações econômicas obtendo como marco maior as crescentes taxas

do PIB que em 2004 ultrapassou a média de crescimento dos outros estados

brasileiros. Além disso, desde 2007 o estado apresenta a 4º maior renda per capita

do país ultrapassando Santa Catarina e ficando atrás apenas do Distrito Federal, São

Paulo e Rio de Janeiro. Por conseguinte, em tempos recentes são lançados tanto

pelo setor privado como público programas de investimentos que engendram um

enorme potencial de mudança estrutural para região. Segundo estudo do Instituto

Jones dos Santos Neves (2010) os investimentos previstos em projetos no período

de 2009 a 2014 são da ordem de R$ 62,2 bilhões, sem contar os investimentos

previstos pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2) do Governo Federal, que

estão estimados em R$ 53,5 bilhões para o intervalo de anos de 2007 a 2014. Vale

ressaltar que o PIB, a preços de mercado do Estado, em 2007, foi da ordem de R$ 60

bilhões. Significa dizer que em oito anos estima-se que os investimentos em

potencial serão de 91% do PIB estadual.

Além dos investimentos, em 2000 o Estado passou a ter saldo líquido

populacional positivo de 17 mil pessoas (GOMES, 2008), atraindo mais pessoas do

que expulsando, além da recente configuração demográfica bastante concentrada,

ige.unicamp.br/cact/semana2012

onde aproximadamente 50% da população aglomeram-se na Região Metropolitana

da Grande Vitória (RMGV) que perfaz 5% do território capixaba.

Assim, numa disposição de alta concentração populacional amplificam-

se as possibilidades de distorções sociais, onde essa sobreposição de pessoas em

pequenos espaços requererá maior atenção às demandas básicas como água,

transporte, energia, habitação, saúde, entre outros. Diante da problemática o artigo

visa analisar os principais avanços e limites do trânsito e mobilidade urbana na

Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV).

Resultados e Discussão

Talvez o aspecto que mais defina a RMGV como tal, seja a mobilidade

urbana que se tem nos cinco – Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana – dos sete

municípios que a compõe. Oferece de fato – via Companhia de Transportes Urbanos

da Grande Vitória (CETURB-GV) com o sistema de transportes público TRANSCOL –

mobilidade com tarifa social onde, com apenas o pagamento de uma passagem, o

usuário consegue percorrer todo o sistema deslocando-se do extremo norte da Serra

e cruzando todo o centro de Vitória até chegar ao extremo sul de Viana. Contudo, a

grande questão que norteia tanto o trânsito urbano como a mobilidade, passa pelo

grande inchaço urbano e as formas de utilização do modal de viagens. Posto que a

opção prioritária escolhida para os deslocamentos no território brasileiro foram as

rodovias, a solução, ou passa por uma discussão da mudança estrutural com

diversificação do modal com utilização de ferrovias (metrô) e aquaviários; ou uma

melhor utilização da estrutura rodoviária com aumento da participação dos

transportes coletivos e outras formas de locomoção como bicicletas. De tal modo,

que o problema central do trânsito reside na superutilização da malha rodoviária,

enquanto a mobilidade refere-se aos limites do acesso a serviços que garantam o

deslocamento.

Em presença da problemática, duas questões se colocam para o caso

capixaba: como ampliar o acesso a seu sistema? E ainda, como garantir sua

eficiência frente ao crescente inchaço urbano?

Sobre as formas de ampliação do acesso ao transporte, qual seja o

TRANSCOL. O que as manifestações concretas revelam sobre a problemática

passam em linhas gerais por uma apropriação maior da riqueza gerada no âmbito do

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

processo produtivo na região pelas populações menos favorecidas. Devido haver

forte correlação entre mobilidade e renda da população, o que implica nos altos

índices de deslocamento do modo a pé.

Soma-se a isto, o fato da superutilização de veículos automotores

ocuparem cerca de 80% do espaço viário urbano. Assim comprometendo a eficiência

do sistema TRANSCOL como é indicado na evolução das viagens, no qual o número

de viagens pelo meio de transporte privado cresceu 5,6 vezes em 22 anos, contra 1,7

de aumento no modo transporte coletivo, sinalizando uma expressiva utilização das

formas de transporte individual privado em detrimento do transporte coletivo

público.

Gráfico 1 - Estimativa da Evolução das Viagens na RMGV - 1985 a 2020

Fonte: Revista COMDEVIT 2010. Elaboração própria.

Caso essa tendência se mantenha o agravamento será inevitável na

estrutura da evolução das viagens na RMGV. Visto que a participação do transporte

coletivo cairá dos 32% em 2011 para 23,8% em 2020. Enquanto, para o mesmo

período o transporte privado elevará em 13,2 p.p., alcançando 45,8% de participação

das viagens no último ano, como mostra o gráfico 1. Numa amplitude maior, nos 35

anos da série, o número de deslocamentos do modo individual privado crescerá 3

vezes mais do que o coletivo público. Em termos absolutos serão 1.482.906 viagens

a mais do privado em relação ao público.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

1985 1998 2007 2011 2015 2020

%

Transporte Não Motorizado

Transporte Motorizado Privado

Transporte Motorizado Coletivo

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Conclusão

Neste cenário, o meio de transporte coletivo, principal meio motorizado

de locomoção das famílias de baixa renda vem diminuindo ao longo dos anos o que

pode agravar ainda mais a situação do trânsito urbano capixaba e diminuir a oferta

do serviço de transporte público tornando-se mais um fator limitativo ao acesso a

população que necessita desse serviço.

GOMES, Érika Cunha Ferreira.

Desconcentração Produtiva Regional no Brasil: o estado do espírito santo (1990 a 2005). Dissertação de Mestrado. Instituto de Economia, Unicamp, 2008.

Instituto Jones dos Santos Neves.

Investimentos previstos para o Espírito Santo 2009-2014: investimentos previstos para as

microrregiões do sul do Espírito Santo, Vitória, n.1, p. 1-44, 2010.

Plano Diretor de Transportes Urbanos

da Região Metropolitana da Grande Vitória - PDTU-GV. Pesquisa domiciliar de origem e destino da Região Metropolitana da Grande Vitória - Atualização 2007. Vitória: COMDEVIT, 2008.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Sara Rebello Tavares [email protected]

Universidade Federal do ABC

Palavras-chave: formação espacial, vias de circulação, infraestrutura.

Introdução

As cidades sofrem hoje com os problemas de fluxos que extrapolam os

limites físico-administrativos gerados pelas aglomerações urbanas; essa colaboração

entre as aglomerações resulta na construção de infraestruturas que vão ordenar ou

não a expansão urbana. Essas infraestruturas no caso de cidades pequenas e médias

são na maioria das vezes regionais, podendo ser vantajoso proporcionando maior

acessibilidade a outros locais, ou prejudicial para o município, gerando

descontinuidade da malha urbana.

A cidade de Jacareí tem início às margens do rio Paraíba do Sul, no século

XVII, localizada entre São Paulo e Rio de Janeiro, no Vale do Paraíba, sua área total é

de 460 km², e urbana é de 192 km². Através do embasamento teórico, as

informações obtidas da formação do espaço urbano a partir de uma visão voltada

para as vias regionais de circulação pretendem mostrar a influências das vias na

formação espacial.

Objetivo

Identificar as transformações decorrentes no espaço urbano, resultado das vias de

transportes e infraestruturas de que o município foi alvo, consequência da sua

localização.

Resultados parciais

Para Villaça (2005, p. 21), o deslocamento do ser humano, “enquanto

portador de mercadoria força de trabalho ou enquanto consumidor (mais do que

pelo deslocamento das mercadorias em geral ou do capital constante)”, promove a

estruturação do espaço intra-urbano.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

O conceito de estrutura urbana remete a ideia de um determinado

arranjo espacial das atividades intra-urbanas. Em um dado momento histórico, os

diversos elementos que compõem o espaço intra-urbano apresentam uma

determinada estrutura. Esta é constantemente influenciada pelo processo de

estruturação, que a (re)cria.

A reestruturação intra-urbana significa alteração na estrutura urbana

anterior. Um espaço que se reestrutura é um espaço que muda o seu conteúdo, ou

as relações que conferem funcionalidade àquele espaço. Em resumo, um espaço se

reestrutura quando muda a sua função. Uma área residencial, invadida por

comércios de pequeno e médio porte, gestando um subcentro, é um espaço que se

reestrutura, um vazio urbano que passa por parcelamento do solo propiciando um

uso daquela área, é um espaço que se reestrutura.

É importante citar, que as vias regionais de circulação por si mesmas,

não estruturam o espaço, o poder de estruturar o espaço está contido na capacidade

de deslocamento das pessoas, mas as vias regionais tem o poder de reestruturação,

pois representam um meio importante de mobilização da própria população, e

também da mercadoria, do capital, etc.

“O objeto desta obra (...) é o processo de (re) estruturação do espaço intra-urbano. Portanto, quando se diz, por exemplo, que uma via provoca o crescimento ou desenvolvimento urbano nesta ou naquela direção, estamos nos referindo ao arranjo espacial do crescimento (...) é claro que uma via, por si, não provoca nem crescimento nem desenvolvimento urbano” (VILLAÇA, 2001, p. 80).

Para entender melhor as formação espacial e a reestruturação do

município de Jacareí, destacando as mudanças na organização e redirecionamento

no arranjo espacial por conta das vias regionais, caracterizamos a cidade em três

períodos diferentes de acordo com as vias de circulação, vias essas que permitiam a

mobilidade da população, e o escoamento de mercadorias, importantes por

promoverem mudanças significativas no arranjo espacial.

O surgimento da cidade se deu às margens do Rio Paraíba do Sul,

assim como muitas cidades do Vale do Paraíba. No século XVII iniciou-se o processo

de colonização das terras férteis ao longo do rio, e no ano de 1693 surgiram os

primeiros povoados na região.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Neste primeiro momento apontamos o rio como um importante fator de

circulação na época, mesmo que elementar. No primeiro momento o rio não foi um

objeto construído para fins de circulação, mas isso não significa que o deixou de ser,

o rio foi muito usado como via fluvial de transporte de sacas de café para o porto e

de mercadorias para a região. A presença dos índios tupis-guaranis como canoeiros

nos mostra certa locomoção primitiva. O transporte usado era a canoa ou a catraia

(barco artesanal pequeno), bastante rudimentar, mas suficiente para a transposição

do rio de um lado ao outro, ou para outras bandas da margem para caça e pesca;

uma circulação incipiente necessária à sobrevivência dos índios.

Com a intensificação da exploração do ouro em Minas Gerais, a vila de

Jacareí se tornou um caminho para as minas, e foi por muito tempo pouso colonial

para tropeiros e centro de suprimentos alimentícios para os mineradores.

A abertura de “caminhos”- estradas de terra na região foram de suma

importância na constituição das cidades. Ao longo do tempo, os caminhos já não

supriam a demanda de circulação de mercadorias e pessoas, as péssimas condições

dos caminhos eram fortes barreiras para o transporte e a locomoção.

Um dos fatos mais importantes na história do desenvolvimento do Brasil

foi a ligação Rio – São Paulo, dia 8 de julho de 1877, quando os trilhos da Estrada de

Ferro São Paulo (inaugurada em 1867) se uniram com a D. Pedro II.

Muitos barões de café se transferiram para Jacareí afim de novas terras

para o plantio de café; terra boa assegurada pela umidade dos aclives das serras do

Mar e da Mantiqueira. As casas de moradas transferiram-se das fazendas para as

cidades – principio do crescimento urbano exponencial. A ferrovia teve um

importante papel em toda a região pelo simples fato de favorecer a comunicação

entre Rio de Janeiro e São Paulo, duas das principais cidades brasileiras que viviam o

primeiro surto industrial do país.

Quando as rodovias alcançaram Jacareí, a cidade se desenvolveu

aceleradamente; foram instaladas importantes fábricas têxteis próximas ao eixo da

rodovia SP-66 (Estrada Velha Rio-São Paulo); e em 1951 a inauguração da rodovia

Presidente Dutra propiciou a instalação de várias indústrias ao longo dessa via,

valorização de terras na região central e o surgimento de vários bairros mais

distantes do centro. O parque industrial diversificou-se e consequentemente houve

um aumento das atividades econômicas e atração de mão-de-obra.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

As vias regionais mais importantes apresentam dupla função de

circulação, a circulação regional e a intra-urbana, embora essas vias não tenham sido

construídas para oferecer transporte intra-urbano, no entanto elas acabam atraindo

maior expansão da malha urbana ao longo das suas margens.

Considerações finais

As trilhas e caminhos foram sendo substituídas gradativamente por

ferrovias para melhor circulação de bens, mercadorias e população e, por

conseguinte, as ferrovias substituídas pelas rodovias, facilitando mais ainda a

circulação por causa da acessibilidade à rodovia. Existe, portanto uma periodicidade

dos sistemas de transportes na cidade de Jacareí, de acordo com o momento

histórico e divisão territorial do trabalho. Tais sistemas não são do mesmo nível, em

cada tempo, há o sistema hegemônico e o sistema que foi hegemônico, mas hoje é

subalterno, entretanto os hegemônicos são condições externas de funcionamento

anterior dos subalternos, e a cidade convive com ambos os sistemas. A formação

territorial de uma cidade ocorre por inúmeros fatores, um deles a acessibilidade,

portanto vemos a importância das vias de circulação na estruturação e

reestruturação dos centros urbanos.

CARLOS, Ana Fani. A (re)produção do

espaço urbano. São Paulo: Editora da USP, 1994. p. 83-179.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

ige.unicamp.br/cact/semana2012

André de Oliveira Souza

[email protected]

Emerson Martins Arruda [email protected]

Universidade Federal de São Carlos

Palavras-chave: geomorfologia, índices morfométricos, bacias hidrográficas

Introdução

O uso de parâmetros morfométricos para auxiliar na compreensão da

dinâmica do relevo tem sido utilizado frequentemente nos estudos geomorfológicos

que envolvem a análise de bacias hidrográficas.

O trabalho aqui apresenta parte das pesquisas desenvolvidas pelo grupo

de estudos do Quaternário da Universidade Federal de São Carlos, campus

Sorocaba, no âmbito de uma iniciação científica, cuja temática é a análise das

anomalias de drenagens da Bacia do Ribeirão dos Rodrigues, localizada nas cartas

topográficas dos municípios de Pilar do Sul e Salto de Pirapora, região de Sorocaba.

Neste trabalho tem-se por objetivo apresentar os resultados da análise da

rede de drenagem através de índices morfométricas e dos mapas de lineamentos e

da densidade de drenagem.

Como afirmam Etchebehere et alli (2006), os índices morfométricos são

importantes indicadores de mudanças nos cursos d’água, pois os mesmos reagem

de modo imediato a qualquer alteração e deformação que se apresente na paisagem.

A alta bacia do Ribeirão dos Rodrigues está localizada na Serra dos

Lopes, no município de Pilar do Sul. Tal feição é composta por granitos pertencentes

ao sistema orogênico do Planalto Atlântico, vinculados, portanto, às rochas do Pré-

Cambriano. Encontram-se ainda litologias referentes ao Grupo São Roque

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

localizadas a SSE da bacia do Ribeirão dos Rodrigues, área que compreende a

transição entre a Bacia Sedimentar do Paraná e o Planalto Orogenético.

Na média e baixa bacia são encontradas rochas do Permo-Carbonífero

pertencente ao Subgrupo Itararé, sendo os arenitos a litologia mais comum na área.

Este contato geotectônico é marcado pela zona de cisalhamento de

Taxaquara que separa o setor com rochas cristalinas das litologias sedimentares.

Entretanto, observa-se que na área a Depressão Periférica adentra de forma erosiva

no compartimento cristalino, a possível superfície fóssil em exumação (AB’SÁBER,

1969).

Com relação à abordagem teórica, o estudo se desenvolveu sobre a

perspectiva da Teoria Geral dos Sistemas, amplamente divulgada por christofoletti

(1980) no âmbito da Geomorfologia.

Nesse trabalho foram realizados os cálculos da área da bacia,

comprimento do curso principal, simetria do rio principal e elaboração dos mapas de

lineamentos e da densidade de drenagem. Sendo assim foram utilizadas cartas

topográficas, produtos da imagem SRTM (Shutter Radar Topography Mission)

disponibilizada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), além

do software ArcGIS 10.

Neste âmbito a extração dos lineamentos da área estudada se fez

mediante a análise do recorte regional da imagem SRTM, previamente selecionado,

que abrangia a bacia hidrográfica estudada. Foi elaborada uma imagem sombreada

com diferentes azimutes a fim de evidenciar diferentes lineamentos. Foram extraídos

lineamentos dos rios e de formas de relevo. Posteriormente elaborou-se um

diagrama de roseta.

A análise da simetria da drenagem do curso principal foi realizada

através da metodologia proposta por Cox (1994), onde é utilizada a fórmula

matemática T=Da/Dd, segundo o autor quanto mais próximo de T=1 maior é o grau

de asssimetria da drenagem, ainda segundo ele para uma perfeita simetria deve-se o

Da=0 e o T=0. Para a utilização de tal metodologia, optou-se em calcular os valores

dentro de um intervalo de espaço de 1,5 centímetros que corresponde a 0,75

quilômetros em relação a escala 1:50.000 da carta topográfica dos municípios de

Salto de Pirapora e Pilar do Sul.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Os índices referentes à área da bacia, comprimento do curso principal e

densidade de drenagem foram mensurados através do próprio software ArcGIS 10.

No que se refere à densidade de drenagem, o mapa foi elaborado através

do mesmo recorte regional utilizado para o mapa de lineamentos, no entanto as

drenagens foram criadas pelo próprio software e posteriormente, através da

ferramenta “Density”, elaborou-se um mapa regional que foi recortado com a

delimitação da bacia estudada.

Resultados e conclusões

O uso de índices morfométricos aplicados à rede de drenagem na análise

do relevo na bacia do Ribeirão dos Rodrigues forneceram importantes considerações

acerca das características geomorfológicas da área estudada, uma vez que foi

possível correlacionar diferentes informações sobre aspectos estruturais e formas de

relevo. A partir dos dados obtidos foi possível obter resultados mais precisos sobre

determinada característica, como por exemplo, a dissecação de vales e aquelas

relacionadas à neotectônica. De modo geral, a aplicação de tais índices contribuiu

significativamente para um estudo preliminar da área em contexto.

A análise dos parâmetros morfométricos apontou que o Ribeirão dos

Rodrigues tem aproximadamente 27 km de extensão e drena uma área de 33 km².

Os resultados obtidos através da análise da simetria da bacia mostraram

que o curso principal é relativamente assimétrico, uma vez que resultou em valores

que tiveram uma média de 0,51 (T=0,51). Contudo, as médias na alta bacia

evidenciaram uma assimetria acentuada, refletindo os fortes controles impostos à

drenagem e declividade das encostas, uma vez que a área apresenta uma intrusão de

rocha metabásica em área próxima, uma vez que o encaixamento preferencial do rio

se dá a leste da bacia, portanto é bastante plausível afirmar que houve algum

soerguimento na margem oeste da bacia.

O mapa de lineamentos possibilitou constatar que a área de estudos

encontra-se perturbada por zonas de juntas de falhas, que certamente estão

relacionadas à zona de cisalhamento de Taxaquara e Moreira. O vale assimétrico do

Ribeirão dos Rodrigues coincide com um lineamento de direção norte-sul, que

provavelmente também é responsável pelo controle e direcionamento da rede de

drenagem.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Em uma quadrícula escolhida para compreender a escala regional, foram

mapeados cerca de 220 lineamentos. O lineamento dos rios na mesma direção que

os principais lineamentos estruturais mostram que a rede de drenagem desta bacia

tem um grande condicionamento lito-estrutural.

O mapa da densidade de drenagem mostrou que as maiores

concentrações estão localizadas nas proximidades das áreas onde se encontra a

falha de Taxaquara e também no vale do curso principal que marca outro importante

lineamento.

De acordo com Hiruma et alli. (1999), a análise morfométrica em

conjunta com a análise estrutural torna possível a identificação do controle tectônico

e suas influências na espacialização da rede de drenagem e na compartimentação do

relevo de determinada área.

Deste modo, conclui-se que os produtos das análises morfométricas e

dos lineamentos, forneceram resultados importantes sobre a dinâmica da bacia

estudada, uma vez que foi possível obter importantes evidências de que a drenagem

da bacia do Ribeirão dos Rodrigues tem um forte controle estrutural que é

responsável pela sua espacialização a partir dos falhamentos encontrados

decorrentes da tectônica subatual.

Possivelmente, tal ajuste tectônico se processou após a deposição do

Subgrupo Itararé, uma vez que parte dos depósitos destas litologias foi encontrada

inclinadas, mostrando assim uma evolução tectônica mesozóica, período que se

relaciona intrusão do Maciço de Ipanema, importante estrutura regional.

AB’SÁBER, A. N. Regiões de

circundenudação pós-cretáceas no Planalto brasileiro. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, 1:1-21, 1949.

AB’SABER, A. N. A Depressão Periférica:

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Cassiano Gustavo Messias [email protected] Universidade Estadual de Campinas

Margarete Marin Lordelo Volpato [email protected]

Tatiana Grossi Chquiloff Vieira [email protected]

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG Helena Maria Ramos Alves

[email protected] Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EMBRAPA Café

Palavras-chave: mapeamento de áreas cafeeiras, imagens RapidEye, classificação automática

Introdução

Os produtos de sensoriamento remoto têm sido hoje muito utilizados

para o planejamento, visto que possibilitam uma análise territorial precisa, barata e

rápida. Para Luchiari (2005), uma das principais aplicações de dados procedentes de

aeronaves e sistemas orbitais é a caracterização do uso do solo.

A análise de uso do solo possibilita, além da visualização da distribuição

espacial das formas de ocupação antrópica no espaço, a quantificação das mesmas,

sendo de grande importância para estudos de diferentes áreas do conhecimento.

Para Moreira et. al. (2008), o conhecimento da distribuição espacial de culturas

auxilia na previsão de safras e no planejamento agrícola.

A classificação de uso do solo pode ser feita por interpretação visual ou por

classificação automática. Segundo Crósta (1992), a classificação automática é feita

associando de cada pixel da imagem a uma classe, sendo supervisionada, quando há

ige.unicamp.br/cact/semana2012

o fornecimento de amostras por parte do usuário ou não-supervisionada, quando

software decide por si só quais as classes a qual classe pertence o pixel.

Este trabalho tem como objetivo comparar diferentes métodos para o

mapeamento de áreas cafeeiras, tendo como área de estudo o município de Carmo

de Minas, MG. O município abordado está localizado na mesorregião Sul/Sudoeste

de Minas Gerais e se destaca na produção de café, considerado um dos melhores

grãos do mundo.

Metodologia

Os satélites RapidEye foram lançados no ano de 29 de agosto de 2008,

sendo eles cinco micro-satélites multiespectrais. O controle ocorreu em uma

parceria entre empresa alemã RapidEye AG e a canadense de astronáutica

MacDonald Dettwiler and Associates, Ltd (Embrapa, 2012).

Primeiramente foi feito o processamento digital das imagens, tendo sido

trabalhados o contraste, correção atmosférica, correção geométrica e recorte do

município de Carmo de Minas, MG, na imagem RapidEye, do ano de 2009 e

resolução espacial de 5 metros. Utilizou-se para isto o software Envi 4.8.

Posteriormente, a imagem processada foi importada para o software Ilwis

3.0. Nele, testaram-se diferentes algoritmos para classificação supervisionada, a fim

de verificar qual apresenta os melhores resultados para o mapeamento de áreas

cafeeiras no município de Carmo de Minas, MG.

Como base para a avaliação dos algoritmos classificadores, utilizou-se a

classificação visual realizada no município por Zanella (2011), utilizando imagens

SPOT (2,5m) do ano de 2008.

Resultados

Após testarem os classificadores disponíveis no software Ilwis 3.0,

verificou-se que os melhores resultados foram obtidos pelo algoritmo Distância

Mínima. Este calcula a distância média de cada pixel desconhecido em relação aos

valores das amostras.

A figura 1 apresenta resultados da análise de uso do solo pela

classificação manual, utilizando imagem SPOT (Zanella, 2011) e pelo classificador

distância mínima. Para quantificar as classes de uso, a tabela 1 apresenta as áreas

que estas ocupam no município, pelos dois diferentes métodos.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

O estudo de Zanella (2011) utilizando imagem SPOT aponta que as áreas

de café representam 14,90% e as áreas de vegetação natural 26,50%. Por sua vez,

corpos d'água ocupam uma área de 0,23% e os outros usos, como área urbana,

pastagem, culturas perenes etc., 58,37%.

Na classificação supervisionada, utilizando imagem RapidEye e o

classificador distância mínima, verificou-se um percentual para cultura de café de

20,5% e para vegetação natural de 21,53%. Os corpos d'água representam 0,32% e

outros usos, 57,65% da área estudada.

Apesar da baixa diferença percentual, observou-se que houve confusão do

classificador ao diferenciar as classes observadas, o que foi causado pela

similaridade espectral entre elas.

Figura 1: Uso do solo no município de Carmo de Minas-MG, utilizando o método manual e o classificador Distância Mínima

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Tabela 1: Distribuição das classes de uso do solo a partir de imagens SPOT e RapidEye

Classe Classificação manual (SPOT) Distância mínima (RapidEye)

Area (ha) Area (%) Area (ha) Area (%)

Café 4802,99 14,90 6610,10 20,50

Vegetação natural 8545,26 26,50 6942,22 21,53

Corpos d'água 73,21 0,23 103,18 0,32

Outros usos 18822,96 58,37 18588,81 57,65

Total 32244,42 100 32244,42 100

Considerações finais

É possível se obter excelente análise visual das imagens SPOT e

RapidEye, bem como se pode de maneira de fácil selecionar amostras de

treinamento para a classificação supervisionada. Isto é possível devido à alta

resolução espacial que apresentam.

Contudo, verificou-se que a classificação supervisionada apresenta

confusões entre as classes café e mata, que apresentam semelhança espectral. A

classificação supervisionada pode ser utilizada, desde que sejam realizadas trabalhos

de campo para a conferência do mapeamento e corrijam-se manualmente os erros

de classificação.

EMBRAPA. Sistemas orbitais de monitoramento e gestão territorial. Disponível em: <http://www.sat. cnpm.embrapa.br/conteudo/rapide

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Daniela Aparecida Lanza [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: Paleosuperfície, perfis de alteração, Minas Gerais, Goiás

Introdução

O trabalho apresenta uma caracterização das superfícies de aplainamento

no extremo norte de Minas Gerais e leste de Goiás, além de contribuir para a

compreensão da relação destas superfícies geomórficas mais elevadas com os perfis

de alteração, com o intuito de definir marcos estratigráficos de escala regional.

Foram identificadas e mapeadas as paleosuperfícies geomórficas mais elevadas,

relacionando estas com os perfis de alteração e, eventualmente, depósitos

associados, procurando sistematizar os conhecimentos já produzidos e realizando

outros mais específicos na área pesquisada. Para tanto, descrições detalhadas e

coleta de amostras para análise química dos perfis representativos das diferentes

áreas foram feitas. Isso permitiu a identificação de antigos processos de alteração e a

verificação de descontinuidades litológicas possibilitando a confirmação ou exclusão

da hipótese de que se pode efetivamente, através de estudos das paleosuperfícies,

indicar momentos muito específicos do quadro evolutivo geomorfológico, climático,

pedológico e biótico, especialmente do Cretáceo Superior e Terciário Inferior a Médio

da região objeto da análise. Apesar da importância do tema, ainda é raro no Brasil, a

sistematização dos conhecimentos gerados sobre superfícies geomórficas mais

elevadas e seus materiais associados na área de estudo, sendo esta a maior

justificativa do desenvolvimento do trabalho.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Objetivos

Especificamente os objetivos foram: mapeamento de maneira

sistemática das superfícies de topo; Associação das superfícies de topo com a

ocorrência de perfis lateríticos na área de pesquisa; Caracterização dos perfis e das

paleosuperfícies, descrevendo-os de maneira sistemática, classificando-os e gerando

um banco de dados georreferenciado e fotográfico; Caracterização química dos perfis

de alteração.

Resultados

Os dados observados e descritos que para o trabalho foram de grande

relevância se referem: à diferença dos perfis lateríticos, os diferentes patamares do

relevo, os aspectos químicos e físicos e a localização desses dados na área de

estudo.

Foram analisados quatro pontos, todos no estado de Goiás, um

localizado no município de Chapada Gaúcha, um no município de Arinos, outro em

Cabeceiras, e um localizado no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, no

município de Alto Paraíso de Goiás. Ao longo de todo o trajeto do estado de Minas

Gerais foram observados os diferentes patamares do relevo.

Após mapeamento dos pontos observados em campo, nota-se que a maioria deles

estão ao sul da área estudada, na unidade Planalto Divisor São Francisco-Tocantins,

que se configura enquanto estrutura sedimentar concordante.

Ao norte da área estudada localiza-se a unidade Planalto Central Goiano,

com cotas em torno de 1500 metros ou mais, configurando uma superfície capeada

por uma cobertura detrítico-laterita, datada, pelo Projeto RADAMBRASIL (1982),

como do Terciário Inferior. Essa cobertura reveste os grandes interflúvios que se

apresentavam levemente dissecados em formas tabulares, com vegetação de

cerrado. Segundo Faria (1995) os metamorfitos do Grupo Paranoá ocupam grande

parte desta área.

As formações lateríticas endurecidas observadas, desenvolvidas a partir

de rochas sedimentares e metamorfitos, caracterizam-se pela predominância de

sesquióxidos de ferro (goethita e hematita), de hidróxidos de alumínio (gibbsita

constitui a forma mais comum) em proporções variáveis com caulinita e produtos

residuais ou clásticos, onde o quartzo é o mais importante.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Sustentam solos espessos e superfícies aplainadas. Mesmo nessas superfícies

aplainadas estáveis, de reduzida morfogênese, observou-se a autoevolução do solo,

que induz processos internos que promovem dissoluções e perdas de volumes, com

reflexos na superfície, como abatimentos e geração de pequenas bacias.

Foram mapeadas as seguintes Superfícies Regionais de Aplainamento

(GOIÁS, 2005):

Superfície Regional de Aplainamento I – SRAI

Esta unidade desenvolve-se acima das cotas de 1250 até 1600 m com

agrupamentos de morros (inselbergs) sobre ela, que atingem até 1600 m de altura,

representada pela Chapada dos Veadeiros. Esta superfície corresponde à Superfície

de Aplainamento Pré-Gondwanica (pré-Cretáceo) de King (1956), e é anterior as

formações Mesozóicas, já que não corta as litologias do Cretáceo;

Superfície Regional de Aplainamento II – SRAII

Latrubesse (GOIÁS, 2005) subdivide essa SRA em duas subunidades. Na

área de estudo, compreende a subunidade SRAIIA, que abarca o Grupo Paranoá, que

se comporta como residual erosivo e, estende-se entre as cotas 900 - 1250m.

Abarcando, portanto, as Superfícies Post-Gondwana e Sul-Americana de KING

(1956);

Superfície Regional de Aplainamento IV – SRAIV

Engloba três grandes superfícies posicionadas nas cotas mais baixas

com drenagens para o norte, leste e sul do estado de Goiás, que foram denominadas

IVA; IVB; IVC1 e IVC2, respectivamente. Estas SRAs situam-se entre as cotas de 250-

900 m. Na área de estudo ocorre apenas a SRAIVA. Trata-se de uma área aplainada

situada principalmente entre as cotas 400-500 m e ocorre no Vão do Paranã

(NASCIMENTO, 1992), onde exibe extensa cobertura detrito-laterítica, na forma de

crostas ferruginosas e sedimentos friáveis na forma de um manto de lavagem da

superfície de etchplanação formado por silteargilas e silte-argilo-arenosos

frequentemente incluindo pequenos fragmentos de lateritas desmanteladas.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Conclusão

Apesar da dimensão da área de estudo foi possível identificar e nomear

as superfícies de aplainamento encontradas em campo, contextualizando a ampla

bibliografia existente.

Com as informações levantadas em campo e em laboratório, pode-se

afirmar que o uso de cotas altimétricas, bem como a análise da associação entre

superfície e material associado, são bons referenciais para determinar

paleosuperfícies, em conformidade aos trabalhos de King (1956) e Latrubesse

(GOIÁS, 2005).

FARIA, A. de. Estratigrafia e sistemas deposicionais do Grupo Paranoá nas áreas de Cristalina, Distrito Federal e São João d’Aliança – Alto Paraíso de Goiás, 1995. Tese (Doutorado em Geologia) – Instituo de Geociência, Universidade de Brasília, Brasília, 1995.

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Laura Milani da Silva Dias [email protected]

IAC – Instituto Agronômico de Campinas

Palavras-chave: mapeamento digital de solos, mineração de dados, variáveis morfométricas

Introdução

O mapeamento de solos realizado de maneira convencional, através da

análise de perfis em campo e coleta de amostras para caracterização físico-química

em laboratório é exaustivo, demanda recursos financeiros e tempo. Por esse motivo,

novas alternativas de mapeamento pedológico têm surgido, dentre elas, o

mapeamento digital que faz uso de técnicas de mineração de dados.

A mineração de dados é a principal etapa do processo de descoberta de

conhecimento em banco de dados e tem como objetivo encontrar padrões em dados

armazenados nesses bancos. Neste projeto, o banco de dados é composto por

variáveis morfométricas primárias e secundárias extraídas do modelo digital de

elevação da bacia.

Em se tratando do mapeamento digital que faz associações solo-relevo

para inferir a ocorrência de classes de solo através de modelos numéricos os índices

de acurácia tem sido satisfatórios.

A proposta de mapeamento convencional e digital da bacia do córrego

Águas da Lúcia no município de Botucatu-SP, pretende verificar o uso dessa técnica

em escalas de detalhe, com pixels de 7x7m, onde características que descrevam os

padrões das vertentes como declividade, curvatura e densidade de drenagem

representam informações importantes para inferência de classes de solo.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Objetivos

Elaborar um primeiro mapa pedológico da bacia através de técnicas

tradicionais (análise de campo e laboratorial) e posteriormente elaborar um segundo

mapa pedológico da bacia com o apoio de técnicas de geoprocessamento,

mineração de dados e associações solo-relevo. Validar os dois mapas pedológicos

através de novos pontos de coleta em campo e análises em laboratório. A

organização destes resultados em uma matriz de erros permitirá obtenção de índices

de acurácia dos mapas tradicional e digital.

Resultados

Foi elaborado um modelo digital de elevação (MDE) para a bacia

hidrográfica no software ArcGIS 10, com uso da base topográfica unificada para a

área. Deste MDE foram extraídas as seguintes variáveis morfométricas: altitude,

declividade, orientação das vertentes, curvatura vertical e horizontal, distância de

drenagem, área de contribuição e índice topográfico de umidade. Estas variáveis

georreferenciadas foram organizadas em uma base de dados textual e analisadas no

software cLHC (Hipercubo Latino), que estabeleceu coordenadas geográficas de 75

pontos aleatorizados para caracterização e amostragem de solos in situ na bacia.

Duas campanhas já foram realizadas sendo analisados 50

pontos até o momento. Em cada um dos 50 ponto já caracterizados, foi aberta uma

mini-trincheira de 0,7 x 0,7 x 0,7 m e coletadas duas amostras não-deformadas com

anel volumétrico a 0,1 e 0,6 m, totalizando quatro anéis por trincheira. Em cada

ponto, o solo foi caracterizado morfologicamente, classificado e coletado cerca de 2

kg de solo de 0-20 cm e de 60-80 cm, correspondentes a horizontes pedogenéticos,

para caracterização granulométrica e química em laboratório. Do total de 75 pontos

locados com uso do programa cLHC, a metodologia de campo descrita acima será

aplicada a 60 pontos. Baseado no mapa pedológico preliminar da Bacia, elaborado

ao longo do trabalho, serão selecionados 15 pontos remanescentes onde serão

abertas trincheiras de 2 x 1,5 x 2 m para caracterização completa dos perfis

representativos de solo e coleta de amostras por horizonte pedogenético para

caracterização em laboratório. Com estes dados será elaborado o mapa pedológico

tradicional da bacia hidrográfica.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

O mapa pedológico digital será elaborado após associação da mesma

matriz de dados geomorfométricos unidos à classificação dos solos identificados em

campo nos 75 locais.

A classificação é uma tarefa da mineração de dados, para sua aplicação

será usada a técnica da árvore de decisão. Ela é uma técnica de aprendizagem de

máquina que classifica e prediz amostras desconhecidas por meio de aprendizado

de máquina, ou seja, com base em registros conhecidos desenvolve-se um conjunto

de treinamento, do qual então uma árvore é montada e, a partir desta árvore, pode-

se classificar a amostra desconhecida sem necessariamente testar todos os valores

dos seus atributos obtendo-se as regras de ocorrência de solos para elaboração do

mapa pedológico digital.

A aplicação das regras de mapeamento para cada classe de solo permitirá

obtenção de planos de informação (PI) por classe de solo. A superposição desses PIs

em ambiente SIG formará o mapa pedológico digital da bacia.

Uma nova aleatorização com a base de dados geomorfométricos no

cLHC permitiu um novo sorteio de 25 pontos de caracterização dos solos em campo,

usados para validação dos mapas pedológicos. O solo nesses pontos será

caracterizado em mini-trincheiras, coletado e analisado em laboratório para

classificação, em campanha de uma semana.

A organização destes resultados em uma matriz de erros, onde

serão comparados os solos dos pontos analisados para o mapeamento pedológico e

os pontos de validação permitirá o conhecimento dos índices de acurácia dos mapas

tradicional e digital.

Considerações finais

Este é um subprojeto, inserido no programa “Novos paradigmas do

conhecimento de solos frágeis para a produção agrícola sustentável no Brasil”

desenvolvido pela Embrapa Solos e pelo Instituto Agronômico de Campinas.

A partir da sua realização, é esperado um mapeamento pedológico

detalhado da bacia do córrego Águas da Lúcia, bem como a produção de uma base

de dados confiável para fins de pesquisa em solos e de manejo sustentado em bacias

hidrográficas com solos frágeis. Ao avaliar a acurácia dos mapeamentos pedológicos

convencionais e digital será possível conhecer a aplicabilidade da metodologia que

utiliza técnicas digitais em escalas de detalhe.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

AMO, Sandra. Minicurso Técnicas de Mineração de Dados. Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Computação.

COELHO,F.F. Comparação de métodos

de mapeamento digital de solos através de variáveis geomorfo-métricas e sistemas de informações geográficas. Dissertação. Mestrado em Sensoriamento Remoto. Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010.

CRIVELENTI, R.C. Mineração de dados para inferência da relação solo-paisagem em mapeamento digitais de solos. Dissertação. Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical. Campinas. Instituto Agronômico.

SILVA,C.C. Mapeamento digital de classes

de solo: aplicação de metodologia na folha Botucatu (SF-22-Z-B-IV-3) e validação de campo. Dissertação. Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical. Campinas. Instituto Agronômico.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Luiz Donizetti Ruiz Junior [email protected]

Instituto de Geociências Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: Unidades de Conservação, Sistema Nacional de Unidades de

Conservação, proteção ambiental

A necessidade da criação de áreas naturais protegidas, primeiramente

surgiu na Europa durante a Idade Média, com o objetivo de proteção de recursos da

fauna silvestre e seus habitats para o exercício de caça e pesca pela realeza e

aristocracia rural, sempre fundamentada na utilização da natureza por uma seleta

parcela da população (MILANO, 2001). Mas foi nos Estados Unidos em 1872 que

houve a criação do primeiro Parque Nacional do mundo, o Yellowstone, motivado

pela beleza cênica do local e que muitos outros locais semelhantes tinham

desaparecidos. (MULLER, 1973 apud MERCADANTE, 2001).

Como afirma Diegues (1996) essas áreas foram inicialmente criadas com

a concepção naturalista de forma a preservar os resquícios de vida selvagem e áreas

intocadas da ação antrópica urbana e industrial, ou em casos de belezas cênicas,

como forma de disponibilizar tais áreas para visitação e usufruto da aristocracia.

Desde então foram desenvolvidas diferentes conceitos para a criação e

gestão das áreas naturais protegidas, sem que houvesse uma padronização dos

critérios utilizados, assim foram realizadas algumas convenções mundiais para o

desenvolvimento de conceitos básicos para a criação de parques nacionais. A

primeira convenção se realizou em 1933 em Londres e posteriormente várias outras

se realizaram; em 1948 na França foi criada a União Internacional para a

Conservação da Natureza, hoje União Mundial para a Natureza; e em 1962 em

Seattle, Estados Unidos a 1º Conferência Mundial sobre Parques Nacionais, desde

então foram discutidos e aprofundados conceitos e critérios para atividades

ige.unicamp.br/cact/semana2012

desenvolvidas em áreas protegidas e estabelecidas recomendações sobre políticas

conservacionistas em todo o mundo.

Mas foi a partir dos anos 80 do século XX que houve uma crescente

preocupação com a conservação da biodiversidade do planeta, frente à emergência

de duas situações: a da comunidade científica que começa a identificar um novo

processo de extinção de espécies com taxas muito elevadas, particularmente nos

trópicos, e a ciência faz a descoberta de novos usos e aplicações para a diversidade

biológica, como matéria prima para modernas biotecnologias em atividades

econômicas (GUERRA e COELHO, 2009, p. 25).

A existência de objetivos diversos de conservação determinou a

necessidade de criação de categorias distintas de unidades de conservação. Dessa

maneira desenvolvendo uma planificação de um Sistema Nacional de Unidades de

Conservação. (MERCADANTE apud BENJAMIN, 2001). Desta forma o presente

trabalho faz uma explanação sobre a criação deste sistema e seus principais

objetivos quanto à preservação e conservação da natureza.

Contudo foram quase 20 anos para que se concretizasse tal realização,

como nos mostra a figura abaixo extraída de Freitas (2009), onde em 1982 iniciaram-

se as primeiras etapas para a elaboração de um plano de Sistema de Unidades de

Conservação, sendo apenas em 1992, apresentado um projeto de Lei para o atual

SNUC e aprovado oito depois, no ano de 2000, na forma que o conhecemos hoje.

Figura 1: Institucionalização da conservação da biodiversidade no Brasil

Fonte: Freitas (2009)

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

O SNUC está baseado no artigo 225 da Constituição Federal, que garante

que “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. Derani (apud

Benjamin, 2001) afirma que o SNUC é “uma racionalização do espaço a partir de

conhecimentos revelados pela ciência, é um empreendimento da razão a partir de

conhecimentos obtidos da Biologia, Geografia, Antropologia”; diz ainda que o SNUC

é “uma norma geral sobre a qual devem- se orientar as normas individualizadas de

criação de unidades de conservação”.

Dessa forma o SNUC caracteriza-se como uma proposta de um sistema

nacional capaz de garantir a proteção de parcelas representativas dos biomas

brasileiros, a partir de determinadas práticas de gestão territorial. (JUNIOR,

COUTINHO, e FREITAS apud GUERRA e COELHO, 2009, p.53)

Como tece Becker (2001) apud Guerra & Coelho (2009), a biodiversidade

é também um conceito humano, pois tem uma localização geográfica e formas de

apropriação com feições específicas, o que lhe confere uma dimensão material,

concreta e, portanto, insere-na necessariamente no contexto das relações sociais, de

forma que a recuperação, a conservação e o manejo da biodiversidade se

materializam no espaço das sociedades humanas.

De acordo com o SNUC, Unidades de Conservação são definidas como:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção (Art. 2, § 1 da Lei Federal n.º 9.985 de 2000)

A Lei Federal n.º 9.985 de 2000 define dois grupos principais de Unidades

de Conservação com características específicas, a saber:

O primeiro é denominado de Unidades de Proteção Integral, tendo como

objetivo principal a preservação da natureza admitindo apenas o uso de forma

indireta (artigo 7º § 1º da Lei 9.985/2000), que são aqueles que não envolvem

consumo, coleta, uso, dano ou destruição da natureza, são as Estações Ecológicas,

Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre

(artigo 8º § 1º da Lei 9.985/2000).

ige.unicamp.br/cact/semana2012

O segundo grupo é o das Unidades de Uso Sustentável, sendo áreas que

buscam compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela

de seus recursos naturais (artigo 7º § 2º da Lei 9.985/2000), são pertencentes a esse

grupo a Área de Proteção Ambiental (APA), Área de Relevante Interesse Ecológico

(ARIE), Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de

Desenvolvimento Sustentável e a Reserva Particular do Patrimônio Natural. (artigo

14º § 1º da Lei 9.985/2000).

Estas diferentes categorizações de unidades de conservação, por diversas

vezes se sobrepõem sobre um mesmo território criando áreas de conflitos quando à

sua gestão e manejo por parte dos órgãos ambientais competentes e dos gestores de

tais áreas de proteção. Comumente unidades de conservação já nascem em meio de

conflitos territoriais, pois, inicialmente foram estabelecidas em áreas de intensa

ocupação humana e próximas a regiões de expansão urbana, bem como em terras

ocupadas por populações tradicionais. (Diegues, 1996; Guerra & Coelho, 2009)

Bespalec (2011) nos lembra que significativas unidades de conservação

principalmente as de proteção integral foram implementadas em áreas onde

residiam até então populações tradicionais, não permitindo a presença humana em

seu interior, o que culminou em vários conflitos socioambientais, pois, ignoravam os

conhecimentos destas populações e sua importância na conservação dos recursos

naturais.

Contudo diversos autores apontam que o SNUC trouxe avanços para o

campo das políticas ambientais no Brasil, voltadas para as unidades de conservação,

pois normatizou conceitos, norteando a criação, gestão e manejo de tais áreas, bem

como trouxe a obrigatoriedade do plano de manejo para todas as áreas naturais

protegidas e conceitos importantes como o mosaico de unidades de conservação e

as zonas de amortecimento, dando um passo para a melhor organização e suporte

para Estados e Municípios sobre as áreas que estão respectivamente sobre seus

controles.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

BENJAMIN, A. H. (org.) Direito Ambiental das áreas protegidas. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.

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ige.unicamp.br/cact/semana2012

Pedro Henrique Vespúcio Balloni [email protected]

Universidade Federal de Alfenas

Palavras-chave: depósitos tecnogênicos, Barão Geraldo, meio ambiente

Introdução

Atualmente é crescente a discussão em torno da problemática ambiental

e os grandes centros urbanos são o palco principal da estreita relação entre a

qualidade de vida e a degradação dos recursos naturais. Assim, a atividade humana

passa a ser qualitativamente distinta da atividade biológica na modelagem da

biosfera, desencadeando processos tecnogênicos, cujas intensidades superam os

processos naturais.

A partir do início da década de 1960, o Brasil enfrentou um acelerado

processo de urbanização, que promoveu a criação de um novo padrão sócio-espacial

nas áreas urbanas. Nos anos 80, começaram a se intensificar as migrações, que

agravaram os problemas advindos das desigualdades sociais e da pobreza.

Barão Geraldo, o maior distrito de Campinas, se insere neste contexto

desde 1963, com a vinda da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp – e a

instalação da estrada da Rhodia, que favoreceram o crescimento urbano da área,

tornando a compactação do solo rápida e expressiva em pouco tempo.

Neste período, obteve-se um crescimento acelerado, com um PIB

acentuado. Em consequência dessa expansão, não só econômica como

populacional, tiveram várias instalações, fazendo com que ocorressem também os

impactos no ambiente provenientes dessa sobreposição exagerada, até certo modo,

das relações do homem no meio ambiente.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Para Peloggia (1998), a atividade humana passa a ser qualitativamente

diferenciada da atividade biológica na modelagem da Biosfera, desencadeando

processos tecnogênicos cujas intensidades superam em muito os processos

naturais. Assim, a ação humana sobre a natureza tem consequência em três níveis:

na modificação do relevo, na alteração da dinâmica geomorfológica e na criação de

depósitos correlativos comparáveis aos Quaternários devido a um conjunto de ações

denominados tecnogênese.

Os depósitos tecnogênicos podem ser considerados como depósitos

altamente influenciados pelo homem e são, de acordo com Casseti (2005),

classificados nas seguintes categorias: materiais úrbicos (do inglês urbic) reativos a

detritos urbanos, matérias terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo

homem moderno, freqüentemente fragmentos, como tijolo, vidro, concreto, asfalto,

prego, plástico, metais diversos, dentre outros; materiais gárbicos (do inglês

garbage) que são materiais detríticos como galhos de árvores, resto de vegetal, lixo

urbano, lixo orgânico de origem humana, e que, apesar de conter artefatos em

quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos são ricos em matéria

orgânica e podem gerar metano em condições anaeróbicas; materiais espólicos (do

inglês spoli), que correspondem a materiais terrosos escavados e redepositados por

operações de terraplanagem em minas a céu aberto, rodovias ou outras obras civis.

Incluem-se os depósitos de assoreamento causados por erosão acelerada; e

materiais dragados, oriundos de dragagem de cursos d’água e, em geral,

depositados em diques, topograficamente alçados em relação à planície aluvial. O

termo “relevos tecnogênicos” abrange um conjunto associado de modelados cujo

agente geomórfico é o homem (PELOGGIA, 2005).

Nesse sentido, o estudo dos processos geológicos modificados pela ação

antrópica sobre a natureza tem consequências que podem ser relacionadas a três

níveis de abordagem: (1) quanto a formas, processos, formações e depósitos

superficiais do ambiente geológico; (2) agem na modificação do relevo e nas

alterações fisiográficas da paisagem, como na retificação de canais fluviais, na

terraplanagem e na abertura de cavas de extração de rochas; (3) em alterações na

fisiologia da paisagem, e, na criação dos depósitos superficiais correlacionados.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Objetivos

Os Objetivos propostos nesse trabalho foram os de estudar as alterações

antrópicas (tecnogênicas) produzidas nas dinâmicas dos processos naturais no

Distrito de Barão Geraldo, Campinas – SP, a partir da caracterização e estudos dos

depósitos tecnogênicos, que testemunham a ação humana / tecnológica no

ambiente, assim como caracterizar os depósitos tecnogênicos, as alterações na bacia

do Ribeirão Anhumas e sub-bacia do Ribeirão das Pedras, que testemunham a ação

humana / tecnológica na localidade.

Resultados e Discussões

Localizado a noroeste do estado de São Paulo (22º43'31" S e 47º38'57"

W), Barão Geraldo, em termos geológicos, está situado no limite entre o Escudo

Cristalino e a Depressão Periférica e o embasamento na região é formado por

granitos-gnáissicos porfiríticos e gnaisses bandados. A Bacia do Paraná está

representada pelas rochas sedimentares do subgrupo Itararé (Diamictitos, Ritmitos e

Arenitos), que estão intrudidos por diabásios e gabros da formação da Serra Geral

(CPRM, 2006; De HORNINK et al., 2010)

No distrito, em termos de área de abrangência, não são significativas as

planícies aluviais e vertentes recobertas por formações superficiais holocênicas, pois

os processos que formaram os depósitos continentais holocênicos não são mais

atuantes.

Há, por sua vez, planícies e vertentes tecnogênicas, nas quais o registro

sedimentar holocênico e/ou pleistocênico são encontrados apenas como relíquia,

que caracteriza ser a fisiologia das paisagens dominada atualmente pelos processos

tecnogênicos.

Os resultados deste trabalho apontam para o reconhecimento do ser

humano enquanto agente capaz de alterar as características dos ambientes em

períodos de tempo bastante curtos, muito menores quando comparados ao longo

período de tempo demandado pelos processos geológicos naturais (não antrópicos).

Outro aspecto caracterizado foi a degradação da área de estudo pelo

desmatamento, ocupações antrópicas próximas aos mananciais, contaminação das

águas, formação dos depósitos tecnogênicos, aceleramento de processos erosivos e

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

a formação dos depósitos de assoreamento fluvial, em função das atividades

humanas.

Conclusão

Diante dessa perspectiva, surge a importância de aprender a preservar o

ambiente em que vivemos e que envolvem as relações entre o homem e a natureza.

AB’SÁBER, A. N. Formas de Relevo: texto básico. São Paulo: EDART, 1975. 80p.

BRIGUENTI, E. C. O uso de

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SANTOS, M. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. Hucitec. São Paulo, 1996.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Pedro Michelutti Cheliz [email protected]

Núcleo de Estudos Ambientais e Litorâneos Instituto de Geociências

Universidade Estadual de Campinas

Palavras-chave: modernização, redes urbanas, impactos ambientais

Muito vem se discutindo sobre a crescente intensificação da inserção de

países do terceiro mundo nos circuitos produtivos da economia global. Dentre os

inúmeros aspectos passíveis de discussão está que a permeabilização das barreiras

nacionais quando transposta as escalas locais e regionais se sobrepõe a heranças

espaciais profundamente discrepantes.

Neste cenário amplo de desenvolvimento desigual o Brasil – comumente

retratado como uma das novas potências vindas do terceiro mundo - oferece

exemplos férteis. Seu território consolidou-se através de pulsos de ocupação

associados a ciclos econômicos efêmeros. Do exaurimento do Ciclo das Minas ao

esgotamento dos múltiplos complexos agroexportadores os exemplos repetem-se.

Cessados impulsos primordiais permanecem em seus rastros multidões de homens

isolados dos centros onde para onde a dinâmica econômica integrada migrou

(Kayser, 1969).

Tal quadro vem se modificando nas últimas décadas com a difusão de

incrementos técnicos em amplas extensões do território acompanhados de maior

difusão dos fluxos econômicos transnacionais. Insere-se amplas extensões do

território na chamada Região Concentrada (Santos e Torres, 1979), descrita como

área em que acréscimos densificados ao território dos produtos da moderna ciência

e tecnologia e sua inserção na economia mundializada teria flexibilizado as relações

entre os vários núcleos urbanos. Impactos múltiplos acompanham tal rápida e por

vezes brusca inserção: coloca-se a possibilidade de compreender tal processo

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

justamente através de análise dos impactos ambientais que acompanharam o

processo modernizador1 das vastas extensões antes marginais.

Buscou-se tal intento por meio da reconstituição da trajetória de

modificação humana da natureza na chamada microrregião de Araraquara,

representativa de vastas regiões rurais resultantes do complexo cafeeiro.

Inicialmente foi realizado mapeamento de uso do solo e compartimentação do

relevo (AB’SÁBER, 1969) para os anos de 1970 e 2010 através de uma associação

entre análise de material cartográfico, imagens de satélite e trabalhos de campo. Em

seguida buscou-se através de revisão bibliográfica e análise de dados demográficos e

econômicos (arquivos municipais da área e IBGE) segmentar a área de estudo em

relativamente similares formações sócio-espaciais (Santos, 1996) – na escala de

trabalho usada correspondentes a municípios – para constituírem norteadores na

análise comparativa entre usos de solo e impactos entre 1970 e 2010.

A área de estudo sintetiza os excepcionais quadros naturais que

possibilitaram a interiorização e difusão da rede urbana paulista pelos campos dos

quais emprestou seu nome (MONBEIG, 1984), sobretudo os atributos pedológicos e

geomorfológicos (ver figuras 1 e 2). Com a chegada da ferrovia no termino do século

XIX se somaram a dispersa estrutura agropastoril pré-existente (SOUZA, 2003)

novas unidades de uso. As imediações dos menos íngremes Patamares

Transicionais (observar figuras 1 e 2) logo foram escolhidos como unidades das

plantações e colônias rurais de povoamento pioneiras, sobretudo pelos férteis

latossolos popularmente chamados de terra roxa. Amplos interflúvios aplainados e

vertentes suavizadas das Terras Altas foram tomados para serem instaladas as áreas

urbanas nucleares (observar figuras 3).

Novos ramais ferroviários se desmembram e adéquam-se aos Patamares

Transicionais e aos terraços e planícies fluviais das Terras Baixas (ver figura 4), com

instalação pontual de novas áreas nucleares polarizando expansão de colônias e

plantações que substituem ecossistemas de cerrado. Multidões de migrantes se

espalham e fixam por rotas diversas, em sintonia com a contínua expansão do

complexo cafeeiro para o oeste.

1 Modernização aqui é entendida como a adequação do território as exigências de um novo período técnico, como definido por Santos (1996)

ige.unicamp.br/cact/semana2012

Com o fim dos mecanismos que davam impulso a principal atividade econômica

inicial da área de estudo (crise de 1929), o conjunto de núcleos de povoação da área

reagem de maneira diferenciada a tal mudança. Muitos se endurecem em

isolamento pautado em grande medida por circuitos econômicos auto-centrados

apoiados em traços do modelo rural herdado. Outros optam por busca de

alternativas ao café que pudessem mitigar perda de integração com circuitos

econômicos mais amplos trazidos pelas ferrovias, sobretudo com a intensificação da

industrialização de origem local.

Figuras 1, 2, 3 e 4: Nas duas primeiras figuras vê-se mapa de compartimentos de relevo e perfil topográfico da área de estudo. Nas duas últimas registra-se área urbana nuclear de Araraquara adequada as suaves vertentes das Terras Altas e área urbana nuclear de um dos povoados de suporte formados a partir da expansão ferroviária (Trabiju) instalada em altos terraços fluviais das Terras Baixas. Fonte: respectivamente Michelutti (2011) e autores desconhecidos, princípio do século XX

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Tais padrões se sustentam até meados dos anos 70 do século XX, como

visto por análise do material cartográfico e de fotografias aéreas e coleta de

depoimentos. Tais dados mostram para 1970 um predomínio de plantações

diversificadas e ecossistemas naturais como unidades de uso predominantes, com

áreas urbanas relativamente enxutas e ampla quantidade de colônias rurais como

unidade residencial preferencial (IBGE, 1973).

No contexto da desconcentração industrial (CANO, 1981) e difusão do

aparato técnico caráter da região muda rapidamente, sobretudo a partir do final dos

anos 70 (CANO, 1981). Intensifica-se a fricção das distâncias e compressão do

espaço-temporal (HARVEY, 2006) em detrimento das temporalidades regionais

(REDFIELD, 1954; CANDIDO, 1954). Se antes acesso a grandes centros se dava

apenas por estradas de terra ou ferrovias agora modernas rodovias passam a cortar a

área e ligam região a áreas metropolitanas centrais do estado. O complexo

agroindustrial preexistente é extraordinariamente intensificado com os recursos do

programa do PRÓ-ÁLCOOL, absorvendo muitos dos antigos domínios rurais.

Os contínuos acréscimos de tecnologia ao território fazem com que haja

crescentemente menor dependência dos atributos naturais oferecidas pelos

compartimentos de relevo, com ocupação massiva de áreas antes evitadas e novos

usos sendo praticados nos anteriormente já efetivados. Novos bairros operários se

espalham e logo tomam os lugares de alguns dos conjuntos dos mais férteis solos

antes reservados cuidadosamente a prática rural. Agrossistemas ligados ao

complexo sucroalcooleiro se disseminam mesmo pelos mais íngremes ou inférteis

segmentos dos terrenos locais, com registro de mudanças na atividade de erosão e

sedimentação (formação de voçorocas e assoreamentos de rios). Enchentes passam

a serem registradas em pontos específicos das áreas urbanas adensadas. Surge uma

nova dinâmica de impactos ambientais.

Implicações múltiplas se sucedem de forma desigual nos municípios da

área de estudo (observar tabela 1 e figura 5). Aqueles que após o colapso cafeeiro

optaram por industrialização de base local (chamados de Capitais Regionais, ver

figura 6) têm como mudança de uso de solo mais significativa a expansão de suas

machas urbanas superior a 300% e concentram a maior parte das industrias recém-

transferidas e novos bairros operários. Consolida-se como dotada atributos

acumulados capazes de atrair e replicar vetores diversificados da modernização

ige.unicamp.br/cact/semana2012

(ARROYO, 2006) e mesmo como polarizadora da mobilidade interurbana face perda

crescente de centralidade por parte dos demais municípios da área.

Os que seguiram numa vida rural pós-cafeeira (chamadas de Constelação

de Reminiscências, ver figura 7) apresentam como principal modificação em seu

quadro de uso a destruição do antigo conjunto de colônias rurais, e a tomada da

maior parte de seus ecossistemas naturais e plantações diversificadas por plantações

de cana-de-açúcar que chegam a ocupar impressionantes 80% das áreas totais deste

conjunto de municípios. Em média dobram suas áreas urbanas, entretanto não

aumentaram seu contingente populacional ao mesmo tempo em que registram uma

inversão da proporção entre populações urbanas e rurais. Se veem alijados de sua

antiga função de povoados de suporte rural sem conseguirem incorporar papel que

lhes dê alguma centralidade, convertendo-se em cidades dormitórios cada vez mais

distante das tradições e modos de vida de estreita ligação com dinâmica local que a

pautaram por extensão temporal ampla.

Nota-se que a modernização da área não só aprofundou a desigualdade

regional como mesclou a ela uma diferenciada divisão dos impactos ambientais

ilustrando bem os efeitos perversos do uso de medidas de planejamento amplas

sem as contrapartes voltadas para escalas locais e regionais. Enquanto um conjunto

de formações sócio-espaciais (Capitais Regionais) integrou a sua estrutura

diversidade de incrementos do mundo urbano-industrial outro grupo (Constelações

de Reminiscências) concentrou refuncionalizações e novos usos associados a

impactos ambientais mais intensos.

Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

Figuras 5, 6 e 7: mapa ilustrando distribuição das formações sócio-espaciais na área de estudo, área central verticalizada desmembrada a partir de área nuclear de Araraquara e área nuclear pouco modificada (Rincão) na transição entre Patamares Transicionais e Terras Baixas do Mogi Guaçu. Observar na figura 7 a onipresença da unidade geoambiental dos canaviais cercando o núcleo urbano local. Fonte: Michelutti (2012) a partir de IBGE (2010), Silvio Pórfíro (2000) e desconhecido (fim do século XX, ano exato desconhecido).

A área sintetiza assim as variedades de opções tomadas pelo conjunto

espacial legado pelas bases das redes urbanas derivadas do complexo cafeeiro. O

quadro torna-se diverso ao se considerar que algumas das opções tomadas na área –

sobretudo a tomada massiva de antigos espaços rurais pelo agronegócio – tem

crescentemente sendo apontado como paradigmas brasileiros para uma dita

dinamização de vastas extensões vistas como estagnadas em outros países de

terceiro mundo. Esboça-se no horizonte uma difusão e aprofundamento dos

conflitos de um modelo de modernização complexo e multifacetada.

ige.unicamp.br/cact/semana2012

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Anais da VIII Semana de Geografia da Unicamp 24 a 28 de setembro de 2012

aonde queremos chegar?

viii semana de geografi a da unicamp24 a 29 de setembro de 2012

6 economia do mundo:aBrasil,

Mesa-redonda

A cidade e seus usos atuais: da lógica corporativa às

possibilidades de resistência

Auditório do IEL

Espaços de Diálogo Geográfi co

Salas da EB

Mesa-redonda

O turismo e as funcionalidades dos lugares no Brasil

Auditório da FEC

Mesa-redonda

O imperialismo brasileiro na América Latina

Auditório da FEC

Conferência de abertura

A nova morfologia do trabalho: crise e alternativas

Auditório da FEC

Mesa-redonda

A política econômica dos recursos naturais do Brasil

Auditório do IEL

Mesa-redonda

Educação e Geografi a na sexta economia do mundo

Auditório da DGA

Minicursos - 25, 26 e 27.09, às 09h

Salas da EB

Trabalho de campo - sábado, 29.09, às 09h

Conferência de encerramento

Auditório da FEC

Mesa-redonda

O pensamento e a militância de Aziz Ab’Sáber: uma refl exão

sobre o papel e os rumos da ciência no Brasil de hoje

Auditório da FEC

14h

19h

qui | 27.09seg | 24.09 sex | 28.09ter | 25.09 qua | 26.09

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