Identidade - O Estudo Da Identidade No Âmbito Da Psicologia Social Brasileira - Revista Uniara N16...

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REVISTA UNIARA, n.16, 2005 109 O ESTUDO DA IDENTIDADE NO ÂMBITO DA PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA Wilson José Alves Pedro* Apresentação “Não há coisa alguma que persista em todo o universo. Tudo flui, e tudo só se apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa como um movimento contínuo, como um rio... O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova.” In: Ovídio (poeta romano) Metamorfoses. Pensar a Psicologia Social contemporânea implica pensar a diversidade de correntes, sua perspectiva histórica, os desafios da indissociabilidade teórica e metodológica. Pensar a Psicologia Social contemporânea, implica também enveredar pelas especificidades de suas categorias de análise, seus pressupostos, bem como suas modalidades de intervenção. Acreditamos ser este, um dos desafios postos às investigações e intervenções psicossocias. Afinal, a que se destina o trabalho do Pesquisador Social? Não seria pesquisar/intervir nas relações e interações homem-sociedade? É desta interação que emerge as preocupações com a construção da identidade humana. Neste contexto, o presente artigo propõe refletir especificidades da categoria identidade, resgatando alguns de seus pressupostos epistemológicos, elementos conceituais, teóricos e metodológicos das recentes produções brasileiras. O que apresento remete ora à um pouco das investigações realizadas durante o meu processo de capacitação ao nível de Mestrado e Doutorado junto ao Núcleo de Pesquisa sobre Identidade, do Programa de Estudos Pós- Graduados em Psicologia Social, da PUC/SP; ora à nossa prática de professor- pesquisador social e que tem encontrado na Psicologia Social/Gestão de Pessoas * Doutor em Psicologia Social (PUC/SP) Professor Universitário áreas Psicologia Social e Admi- nistração de Recursos Humanos. Coordenador Curso Pós-Graduação Lato Senso em Administra- ção de Recursos Humanos da Uniara. Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Identidade “José Roberto Malufe” (PUC/SP), Políticas e Práticas em Saúde (Ufscar) e Psicologia Social e Trabalho (Uniara). Bolsista FUNADESP. E-mail: [email protected]. 110 um fecundo campo de produção de conhecimentos. Centrados na realidade brasileira, início do século XXI, entre os paradoxos da globalização e das grandes transformações tecnológicas, político, econômicas e sociais, com certeza muito temos por descobrir e desvelar, especialmente sobre a constituição da identidade humana. Afinal, quem sou eu, quem somos nós neste mundo de constantes e aceleradas transformações? Para melhor contextualizar, gostaria de destacar a relevância do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC/SP no âmbito dos estudos da Psicologia Social. Pioneiro nos estudos psicossociais brasileiro, consolidou duas grandes linhas de pesquisas nas últimas décadas: 1) análise crítica das categorias presentes na Psicologia Social (dialética inclusão/exclusão, emoção e linguagem na constituição do psiquismo, história da psicologia e identidade); aportes da psicologia social na compreensão dos problemas sociais (adolescente brasileiro, organização, psicanálise e sociedade, psicologia da saúde, trabalho e tecnologia, psicologia e movimentos sociais, relações de gênero, raça e idade). É dentro deste contexto que tenho refletido e investigado a temática Identidade e a seguir passo a perscrutá-la. Breve contextualização Procurando superar a visão dicotômica, fragmentada que se tem do ser humano e compreendê-lo em sua totalidade, a Identidade, enquanto uma categoria científica, ocupa hoje um locus privilegiado na psicologia social brasileira contemporânea. Captando não apenas a igualdade do sujeito - pois em sua etimologia - identitate (do latim escolástico) é a qualidade de idêntico (Ferreira, 1995, p.349); inúmeros são os estudos que visam apreender a identidade em sentido amplo: as “metamorfoses humanas”, a diferença, a singularidade. A cada momento, em cada ação, em cada relação com o mundo social, a consciência desenvolvida pelo indivíduo sobre “quem sou eu?” (a questão central para quem pesquisa identidade), acompanha, não somente sua trajetória individual, mas o movimento da realidade, construído socialmente. Bem sabemos das polissemias e ambiguidades das diversas apropriações e utilizações da palavra “identidade”. Vamos portanto, nos empenhar para explicitar o que é que compreendemos por “identidade”. 1 Para a Psicologia Social, a Identidade representa e engendra sentimentos que o indivíduo desenvolve a respeito de si e que é construída socialmente, a 1. O texto a seguir está adaptado a partir de nossa Dissertação de Mestrado, quando discutimos “Identidade Masculina. Uma Abordagem Psicossocial”, especificamente no capítulo 2.2: A categoria Identidade. Desde então temos procurado explicitar junto aos nossos interlocutores a importância dos estudos sobre identidade no mundo contemporâneo, priorizando as questões: gênero, trabalho, gestão de pessoas e qualidade de vida. O estudo da identidade no âmbito...

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Publicação de parte de uma dissertação de mestrado em uma revista sobre Identidade

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  • REVISTA UNIARA, n.16, 2005 109

    O ESTUDO DA IDENTIDADE NO MBITODA PSICOLOGIA SOCIAL BRASILEIRA

    Wilson Jos Alves Pedro*

    Apresentao

    No h coisa alguma que persista em todo o universo. Tudo flui, etudo s se apresenta uma imagem passageira. O prprio tempo

    passa como um movimento contnuo, como um rio... O que foi antesj no , o que no tinha sido , e todo instante uma coisa nova.

    In: Ovdio (poeta romano) Metamorfoses.

    Pensar a Psicologia Social contempornea implica pensar a diversidadede correntes, sua perspectiva histrica, os desafios da indissociabilidade tericae metodolgica. Pensar a Psicologia Social contempornea, implica tambmenveredar pelas especificidades de suas categorias de anlise, seus pressupostos,bem como suas modalidades de interveno. Acreditamos ser este, um dosdesafios postos s investigaes e intervenes psicossocias. Afinal, a que sedestina o trabalho do Pesquisador Social? No seria pesquisar/intervir nasrelaes e interaes homem-sociedade? desta interao que emerge aspreocupaes com a construo da identidade humana.

    Neste contexto, o presente artigo prope refletir especificidades dacategoria identidade, resgatando alguns de seus pressupostos epistemolgicos,elementos conceituais, tericos e metodolgicos das recentes produesbrasileiras. O que apresento remete ora um pouco das investigaes realizadasdurante o meu processo de capacitao ao nvel de Mestrado e Doutoradojunto ao Ncleo de Pesquisa sobre Identidade, do Programa de Estudos Ps-Graduados em Psicologia Social, da PUC/SP; ora nossa prtica de professor-pesquisador social e que tem encontrado na Psicologia Social/Gesto de Pessoas

    * Doutor em Psicologia Social (PUC/SP) Professor Universitrio reas Psicologia Social e Admi-nistrao de Recursos Humanos. Coordenador Curso Ps-Graduao Lato Senso em Administra-o de Recursos Humanos da Uniara. Pesquisador do Ncleo de Pesquisa em Identidade JosRoberto Malufe (PUC/SP), Polticas e Prticas em Sade (Ufscar) e Psicologia Social e Trabalho(Uniara). Bolsista FUNADESP. E-mail: [email protected].

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    um fecundo campo de produo de conhecimentos. Centrados na realidadebrasileira, incio do sculo XXI, entre os paradoxos da globalizao e das grandestransformaes tecnolgicas, poltico, econmicas e sociais, com certeza muitotemos por descobrir e desvelar, especialmente sobre a constituio da identidadehumana. Afinal, quem sou eu, quem somos ns neste mundo de constantes eaceleradas transformaes?

    Para melhor contextualizar, gostaria de destacar a relevncia do Programade Estudos Ps-Graduados em Psicologia Social da PUC/SP no mbito dosestudos da Psicologia Social. Pioneiro nos estudos psicossociais brasileiro,consolidou duas grandes linhas de pesquisas nas ltimas dcadas: 1) anlisecrtica das categorias presentes na Psicologia Social (dialtica incluso/excluso,emoo e linguagem na constituio do psiquismo, histria da psicologia eidentidade); aportes da psicologia social na compreenso dos problemas sociais(adolescente brasileiro, organizao, psicanlise e sociedade, psicologia da sade,trabalho e tecnologia, psicologia e movimentos sociais, relaes de gnero, raae idade). dentro deste contexto que tenho refletido e investigado a temticaIdentidade e a seguir passo a perscrut-la.

    Breve contextualizaoProcurando superar a viso dicotmica, fragmentada que se tem do ser

    humano e compreend-lo em sua totalidade, a Identidade, enquanto uma categoriacientfica, ocupa hoje um locus privilegiado na psicologia social brasileiracontempornea. Captando no apenas a igualdade do sujeito - pois em suaetimologia - identitate (do latim escolstico) a qualidade de idntico (Ferreira,1995, p.349); inmeros so os estudos que visam apreender a identidade emsentido amplo: as metamorfoses humanas, a diferena, a singularidade.

    A cada momento, em cada ao, em cada relao com o mundo social,a conscincia desenvolvida pelo indivduo sobre quem sou eu? (a questocentral para quem pesquisa identidade), acompanha, no somente sua trajetriaindividual, mas o movimento da realidade, construdo socialmente. Bem sabemosdas polissemias e ambiguidades das diversas apropriaes e utilizaes da palavraidentidade. Vamos portanto, nos empenhar para explicitar o que quecompreendemos por identidade.1

    Para a Psicologia Social, a Identidade representa e engendra sentimentosque o indivduo desenvolve a respeito de si e que construda socialmente, a

    1. O texto a seguir est adaptado a partir de nossa Dissertao de Mestrado, quando discutimosIdentidade Masculina. Uma Abordagem Psicossocial, especificamente no captulo 2.2: A categoriaIdentidade. Desde ento temos procurado explicitar junto aos nossos interlocutores a importnciados estudos sobre identidade no mundo contemporneo, priorizando as questes: gnero, trabalho,gesto de pessoas e qualidade de vida.

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    partir de seus dados pessoais, sua histria de vida e seus atributos (conferidospor si mesmo e pelas outras pessoas), acompanhando o movimento deste nomundo social. Uma questo central no mbito da Psicologia Social comocompreender a interao indivduo-sociedade.

    Pensar a identidade implica resgatar as atividades e o processo deconscincia do indivduo. Implica nas mudanas processadas em sua histriapessoal e em suas relaes. A identidade um processar contnuo da definiode si mesmo, das representaes deste e de seu estar no mundo. portanto,movimento e dialtica.

    Nesta perspectiva, constatamos as origens desta categoria a partir defins dos anos setenta e incio dos anos oitenta, um momento de profundasreflexes tericas e metodolgicas, denominado crise da psicologia social.Questionando-se a prxis dos conhecimentos produzidos pela psicologia, dianteda conjuntura scio-histrica e poltica do Brasil e da Amrica Latina, agregados influncias de estudos de Marx, dos vrios marxistas e outros liberais, asprodues da psicologia social apontam uma significativa alteraoepistemolgica tendo em vista a construo de uma psicologia crtica.

    Contemplando avanos tericos e prticos na rea da psicologia social, aIdentidade tem seus estudos preliminares realizados atravs do Programa deEstudos Ps-Graduados em Psicologia Social da Pontifcia Universidade Catlicade So Paulo, particularmente na dissertao de mestrado do Prof. Antonio daCosta Ciampa, em 1977, quando pesquisa sobre o tema A Identidade Sociale suas relaes com a ideologia.

    Posteriormente na tese de doutoramento do Prof. Antonio da CostaCiampa, intitulada A Estria do Severino e A Histria da Severina - UmEnsaio de Psicologia Social (1993), a categoria Identidade discutida apartir das influncias do materialismo histrico de Hegel, Marx e Habermas,mostrando a sua complexidade. Ao lado das categorias Atividade e Conscincia,a categoria Identidade firma-se como eixo central de estudos e pesquisas daPsicologia Social brasileira.2

    A identidade considerada como um processo, ao qual o autor d onome de metamorfose, que descreve a constituio de uma identidade, querepresenta a pessoa e a engendra (Ciampa, 1993, p.143)

    Identidade: alguns aspectos epistemolgicosAo introduzir o conceito de Identidade, enquanto questo terica do ponto

    2. Importante registro no desenvolvimento dos estudos sobre identidade em nossa perspectiva, que a concepo de Identidade, diferente da concepo de personalidade desenvolvida porLeontiev, como categoria, analisada ao lado de Atividade e Conscincia.

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    de vista da Psicologia Social, afirma Ciampa (1993, p.127): Cada indivduoencarna as relaes sociais, configurando uma identidade pessoal. Uma histriade vida. Um projeto de vida. Uma vida-que-nem-sempre--vivida, noemaranhado das relaes sociais. Uma identidade concretiza uma poltica, dcorpo a uma ideologia. No seu conjunto, as identidades constituem a sociedade,ao mesmo tempo em que so constitudas, cada uma por ela. A questo daidentidade, assim deve ser vista no como questo apenas cientfica, nemmeramente acadmica: sobretudo uma questo social, uma questo poltica

    Para compreender a Identidade precisamos resgatar e desvelar algumasreferncias tericas e metodolgicas que embasam a construo deste conceitoe que de certa maneira deve nos facilitar a compreenso de sua abrangncia ecomplexidade.

    Para fins de anlise exploro a seguir algums fragmentos da terceira parteda tese de Doutorado do Prof. Ciampa (1993, p.121-244), denominada LivroIII - Identidade - Que trata da Identidade como questo terica, sob pontode vista da Psicologia Social. Desde o incio, devemos advertir quanto slimitaes e impossibilidades de elencar todas as fontes de influncias quepermearam a construo desta categoria. Por tratar-se de uma leituraepistemolgica sobre identidade e metamorfose humana, ousamos identificare mapear algumas das principais influncias, cientes dos avanos tericos naspesquisas sobre Identidade nestes ltimos anos.

    O ponto de partida para a compreenso da categoria Identidade ocontexto scio-histrico da prpria Psicologia Social. Da crise dos anos setenta,emerge a necessidade de buscarmos novos referenciais tericos e metodolgicosque superassem as contradies existentes, procurando avanos sistemticose articulao entre teoria e prtica.

    A Identidade passa a ser concebida atravs de uma dialtica morte-e-vida, que possibilita desvelar seu carter de metamorfose.

    Em outro contexto Lane (1992, p.15-6) j advertia: dentro domaterialismo histrico e da lgica dialtica que vamos encontrar os pressupostosepistemolgicos para a reconstruo de um conhecimento que atenha realidadesocial e ao cotidiano de cada indivduo e que permita uma interveno efetivana rede de relaes sociais que define o indivduo.

    Ciampa (1993, p.147-151), por sua vez, declara a importncia domaterialismo histrico, refletindo as ambigidades e diversidades dos pontos devista dos marxistas, recorrendo Habermas (1983) para repensar esta corrente.

    Em sntese, a trajetria proposta por Ciampa consiste em ver a progressivaformao da Identidade partindo do nome (do sujeito), j que este nome o representa.Implica portanto na predicao e personagens (conceito este extrado da metforateatral) estabelecendo elementos de igualdade e diferenciao que se articulam.

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    Tais personagens so fetichizados, modificam-se, apresentando-se comomisteriosos e fantasmagricos, objetivando-se situaes onde quase impossvelo indivduo atingir condies de ser-para-si, ocultando a natureza da identidadeenquanto metamorfose. O ponto de partida a identidade pressuposta que d oser posto, que reposto.

    A realidade sempre movimento e transformao. Recorre filosofiade Hegel (1980) para quem conceito indivisivelmente o do pensamento e doser para estabelecer relaes entre Conceito, pensamento e ser. Sua unidade:o sujeito e Identidade, conscincia e Identidade, refletindo a dificuldade doindivduo em atingir a condio de ser-para-si, buscando a autodeterminaoe portanto, a aproximao do que chama identidade metamorfose, como aAunidade da atividade, da conscincia e da identidade (Ciampa, 1992, p.146);para esclarecer que no se trata de uma tautologia. Recorre tambm Heidegger(1979) para quem o ser determinado a partir de uma Identidade, como traodessa identidade.

    Resgata os conceitos de formao material - ao estudar um ser humano,deve ficar claro que se est sempre estudando uma formao materialdeterminada, qualquer que seja o corte feito na universalidade das relaesrecprocas em que se est inserido - o que autoriza, sem ilogicidade, por exemplo,falar tanto em identidade pessoal com em identidade(s) coletiva(s) no mbitodas cincias humanas - e possibilidade, enquanto categoria filosfica, opondopossibilidade realizada realidade potencial, para introduzir o conceito de no-metamorfose.

    A no-metamorfose compreendida como a manuteno da mesmice,ou seja, a aparncia da no-mudana. Esto presentes nas marcas das condiesscio-econmicas desumanas, onde as pessoas so privadas ou impedidas detransformar-se, so foradas a se reproduzir como rplicas de si,involuntariamente, a fim de preservar interesses estabelecidos, situaesconvenientes, interesses e convenincias que so, se radicalmente analisadas,interesses e convenincias do capital (e no do ser humano que assim permaneceum ator preso mesmice imposta (Ciampa, 1993:165); ou mesmo naquelesem condies scio-econmicas favorveis, cuja mesmice insuportvel em simesmo e/ou no outro e caminham para autodestruio.

    Esta aparente inalterabilidade, resulta de um esforo para a conservaode uma condio prvia de um ser-posto, onde a reposio da identidade deixade ser vista como uma sucesso temporal, passando a ser vista como simplesmanifestao de um ser sempre idntico a si mesmo na sua permanncia eestabilidade.

    A estrutura social e o momento histrico so importantes para pensarmosos padres de identidade: atravs da articulao de igualdades (equivalnciasde fato) e diferenas, cada posio minha me determina, fazendo com que

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    minha existncia concreta seja a unidade da multiplicidade, que se realiza pelodesenvolvimento dessas determinaes. Em cada momento de minha existncia,embora eu seja uma totalidade, manifesta-se uma parte de mim como desdobramentodas mltiplas determinaes a que estou sujeito (Ciampa, 1993, p.170).

    A identidade hojeHoje, a categoria identidade, configura uma Linha de Pesquisa junto ao

    Conselho Nacional de Pesquisa denominada Identidade Social e MetamorfoseHumana, com os seguintes objetivos:

    1. Desenvolver fundamentos conceituais, metodolgicos e histricos paraelaborar uma proposta terica a respeito da identidade humana comometamorfose;

    2. Analisar as condies e possibilidades de desumanizao no mundocontemporneo, discutindo-as de forma prospectiva e considerando aspectostanto emancipatrios quanto regulatrios;

    3. Estudar personagens sociais que, num contexto social e histrico,constituem-se como referenciais identificatrios, analisando processos deconstruo e mudana de identidades sociais caracterizadas como definidorasde - e definidas por - categorias sociais;

    4. Examinar produes simblicas (cosmogonias, universos simblicos,ideologias, discursos, narrativas, etc) que se expressam como polticas deidentidade, apresentadas normativamente como discursos cientficos, ticos,estticos, jurdicos, teolgicos, tcnicos, etc.

    Considerando as anlises das situaes concretas, bem com asespecificidades tericas e metodolgicas, vamos encontrar no contexto daPsicologia Social brasileira ampla produo interdisciplinar, sendo a identidadeindividual/coletiva, eixo estruturante de investigaes e intervenes sobrequestes contemporneas de gnero, trabalho, educao, sade, religiosidade,dentre outros.

    guisa de uma concluso gostaria de finalizar, destacando que partilhamosda premissa (Ciampa, 1997) que a questo central da Psicologia (ou pelo menosda psicologia social que prope estudar a pessoa humana) compreender asmetamorfoses humanas. Nosso esforo tem sido buscar elementos tericos emetodolgicos para compreender e promover, eticamente, a metamorfose humana.Emancipao, autonomia e respeito diferena so princpios fundamentais desteprocesso. Um exerccio que no se esgota, mas propicia o dilogo. Esses soaspectos que nos tem proporcionado fecundas reflexes. Afinal, um dos papisfundamentais do pesquisador social diante da realidade brasileira contempornea justamente desvelar identidades individuais e coletivas, de modo dialgico ecrtico. Um desafio contnuo, instigante e apaixonante!

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    Resumo:O presente artigo prope refletir especificidades da categoria identidade-metamorfose, apresentando alguns de seus pressupostos espistemolgicos,tericos e metodolgicos. O que apresento remete concepo de identidadedesenvolvida pelo Prof. Dr. Antonio da Costa Ciampa e que utilizei no decursode minha capacitao junto ao Ncleo de Pesquisa sobre Identidade, do Programade Estudos Ps-Graduados em Psicologia Social, da PUC/SP, bem como emminha prtica de professor-pesquisador social na Psicologia/Gesto de Pessoas.Nesta perspectiva discorro sobre a temtica Identidade explorando suasconfiguraes num importante campo de estudos e intervenes psicossociais,cuja finalidade compreender a interaes e as transformaes indivduo-sociedade.

    Palavras-chave:Identidade-Metamorfose; Psicologia Social; Gesto de Pessoas.

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