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Referência: GRÉSILLON, Almuth. O manuscrito moderno: objeto material, objeto cultural, objeto do conhecimento. In: GRÉSILLON, Almuth. Elementos de crítica genética: ler os manuscritos modernos. Tradução Cristina de Campos Velho Birck et al. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007.

PÁGINA FICHAMENTO/RECORTES

51 O campo da crítica genética é rico em questões teóricas, e isso se relaciona com a complexidade e com a riqueza do próprio objeto. O manuscrito literário oferece, com efeito uma materialidade literalmente proteiforme, que não tem muita coisa a ver com o aspecto de uma página impressa.

[...] o manuscrito opõe uma escrita em “estado selvagem”.

51-2 [...] o objeto dos estudos genéticos é o manuscrito de trabalho, aquele que porta os traços de um ato, de uma enunciação em marcha, de uma criação que está sendo feita, com seus avanços e seus bloqueios, seus acréscimos e seus riscos, seus impulsos frenéticos e suas retomadas, seus recomeços e suas hesitações, seus excessos e suas faltas, seus gastos e suas perdas.

53 Ato: “realização no tempo”.

Conjecturar a cronologia.

55 [...] transformar o objeto-manuscrito em objeto de conhecimento não é, no fim das contas, nada além do que a reconstrução dos momentos sucessivos da gênese escrita, é enriquecer a obra com a dimensão do seu devir no tempo, é dotá-la da densidade do ato da escritura com toda a gama de possibilidades, com suas alternativas não resolvidas assim como com seus extravios.

O manuscrito, antes de tornar-se objeto de conhecimento, é primeiramente um objeto cultural.

O manuscrito moderno caracteriza-se por certos parâmetros materiais, que se devem tanto às propriedades do suporte e do instrumento quanto à própria escrita e à sua disposição no espaço gráfico. A esses quatro parâmetros, é conveniente acrescentar os tipos e rituais de reescritura, pois eles determinam simultaneamente, de maneira essencial, o aspecto psicossemiótico de uma página manuscrita.

58 O suporte: o papel e os escritores

Victor Hugo: econômico e metódico no uso do papel.

Proust: escreveu Os prazeres e os dias e Jean Santevil em folhas avulsas, para, em seguida, redigir toda a obra Em busca do tempo perdido em cadernos.

Colette: seu famoso papel azul.

Flaubert: folhas grandes.

Sartre: papel quadriculado de tamanho A4.

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Valéry: a partir de 1897, utilizava papel do Ministério da Guerra.

60 Ainda nos usos do papel.

O suporte do manuscrito moderno é [...] relativamente estável: às primeiras inscrições humanas sobre a pedra, depois sobre o papiro e sobre o pergaminho sucedeu definitivamente, por volta do final da Idade Média, a escrita sobre o papel. Até a chegada dos computadores nas oficinas dos escritores, não se registra nenhuma revolução tecnológica notória que tenha podido modificar os gestos e as práticas, como o fizeram do volumen ao codex, a propagação do papel no lugar do pergaminho e dos tabletes de cera, ou a invenção da imprensa. Antes da era dos computadores, o único fator de ordem tecnológica que merece ser estudado no período de 1850-1990 resta a diminuição progressiva do preço do papel desde que a sua fabricação entrou na era industrial e que o progresso de nossas sociedades de consumo parece medir-se pela massa de papel que elas jogam no lixo.

As ferramentas: usos e preferências.

Barthes e a sua “relação quase maníaca com os instrumentos gráficos”.

Shoenberg: “Um bom compositor só precisa de uma borracha e um lápis.

Heine: a necessidade do lápis no fim de sua vida.

Koeppen: a máquina de escrever não somente como uma ferramenta mas como um meio.

63 Digitoscritos e datiloscritos: a mão do autor

[...] é ainda muito cedo para falar do efeitos a longo prazo induzidos realmente por uma escrita cujo traçado da mão está ausente. Se a máquina de escrever suprimiu o traçado individual, o computador – salvo programa específico – suprime o vestígio da reescritura [...]. Entramos numa era sem rascunhos. O terceiro milênio terá ainda, indubitavelmente, livros impressos. No entanto, provavelmente, haverá menos manuscritos de autores no sentido estrito. Reencontraremos, então, mas por razões diferentes, a situação da Idade Média: tanto em um caso como no outro, dados tecnológicos e sociológicos excluem o acesso aos vestígios manuscritos e autógrafos da criação literária. Um motivo a mais para a crítica genética aceitar este convite à modéstia. Seu poder explicativo depende imperativamente da existência de vestígios. Todavia, esses são tão numerosos que serão ainda necessárias algumas gerações de geneticistas para elucidar os processos escritos pelos quais um projeto mental torna-se texto.

A escrita.

A mão:

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[...] o papel da mão é ser este insubstituível intermediário entre o imediatismo da vivência de um tema e a forma suspensa, “congelada” da obra impressa. É porque a escrita é, em alguns momentos, “grito da emoção” (Bataille) que o geneticista pode nela ler rupturas que intervêm de súbito no desenvolvimento escriptural mais ou menos regular de um fólio.

65 Ainda outros fenômenos fazem parte da idiossincrasia de certas escrituras: cores, como nos mapas-guias de Benjamin ou nos rascunhos de Joyce, em que a cor parece corresponder cada vez a uma função precisa (prancha II, Joyce), mas também siglas, abreviações, códigos crípticos. O geneticista acha-se confrontado a essas questões notadamente em certos manuscritos ou notas autobiográficas, como o diário de Rétif de La Bretonne (1734-1806), com suas abreviações sistemáticas e o caráter alusivo das notações que ressaltam que se trata de uma escritura privada, não destinada a ser comunicada a outrem [...].

72 Escrita manuscrita: tradição cultural e nacional.

[...] o geneticista tem necessidade de modelos de referência que lhe permitam melhor situar e identificar os traçados individuais, mas esse tipo de estudos e de repertórios falta-lhe cruelmente.

73 O espaço gráfico.

Se insistimos sobre essa explosão dos sinais gráficos no espaço-página, é porque esse tipo de manuscrito suscita problemas insuspeitáveis para o geneticista encarregado de traduzir os indícios espaciais em marcas temporais, refletindo, por sua vez, a cronologia das operações da escritura. Por qual extremidade isso pôde começar? Qual é a ordem de precedência entre uma nota escrita à margem e o corpo do texto? Entre escritura e desenho? O que restaria a dizer, uma vez passado o primeiro encanto dessas páginas-paisagens?

79 Espaços gráficos, escritura e história intelectual

Essas questões teóricas que tangem à relação entre escrita manuscrita e história intelectual permanecem ainda largamente inexploradas, mas a crítica genética deverá ocupar-se disso se quiser desenvolver uma história da escritura literária.

80 O uso das margens:

Gracq: “Quase sempre, enquanto trabalho em uma frase, jogo na margem um chamariz ou um fragmento que dizem respeito à frase seguinte: uma espécie de isca”.

O uso das margens II: comentários no medievo / comentários na modernidade.

96 A escritura fluida e a rasura.

Fatos de escritura na sua materialidade: relevantes {?}

Pode-se [...] remeter a fatos aparentemente anistóricos como a rasura e estabelecer uma

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ligação, como fizemos anteriormente, entre determinado fenômeno cultural (a vanguarda tipográfica do final do século XIX) e determinado tipo de manuscrito (o tipo tabular)? No estado atual da pesquisa genética, é necessário admitir essas contradições, o pior seria varrê-las, levado pela ilusão de alcançar assim mais rapidamente uma teoria.