I AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE GERMINATIVA E DO TEOR DE ... · "Não basta ensinar ao homem uma...
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MANUELA OLIVEIEU DE SOUZA RODRTGUES
I
I
AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE GERMINATIVA E DO TEOR DE
CARBOIDRATOS EM SEMENTES DE LICURI (Syagrus coronata
(Martius) Beccari) EM FUNÇÃO DA IDADE E DO MEIO DE
ARMAZENAMENTO.
FEIRA DE SANTANA - RAHIA 2004
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE CI~NCIAS BIOL~GICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BOTÂNICA
AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE GERMINATIVA F, DO TEOR DE
CARBOIDRATOS EM SEMENTES DE LICURI (Syagrus coronata
(Martius) Beccari) EM FUNÇÃO DA IDADE E DO MEIO DE
ARMAZENAMENTO.
MANUELA OLIVEIRA DE SOUZA RODRIGUES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Botânica da Universidade Estadual de
Feira de Santana, como parte dos requisitos para
obtenção do titulo de Mestre em Botânica.
FEIRA DE SANTANA - BA 2004
BANCA EXAMINADORA
' &fa. Dra. Iara Cândido Cregaldi
Orientadora e Presidente da Banca
Feira de Santana - BA
2004
A Terezinha Borges de Oliveira, pelo amor incondicional
A Luisa Ramos Senna Souza pela amizade e exemplo
de perseverança e obstinação.
Dedico
"Não basta ensinar ao homem uma especialidade,
porque se tornará assim uma máquina utilizável e não
uma personalidade. É necessário que adquira um
sentinzento, um senso prático daquilo que vale a pena ser
empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente
correto. "
Albert Einsten
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela oportunidade de aprender sempre e por me abençoar com sua infinita bondade !
1 A Universidade Estadual de Feira de Santana, por tudo que disponibilizou da melhor forma
possível para que esse trabalho pudesse ser realizado.
A FAPESB, pela concessão da bolsa.
A ProF lara Cândido Crepaldi por aceitar-me como aluna e orientar-me nas dificuldades.
I A niinlia iiiãc, Dona Terezinlia, que infiiiitainente dizia-me: Força!
A Alessandro Cunha pela apoio nos momentos de dificuldade. Você foi muito importante!
1 Aos meus queridos padrinhos Mario Augusto Cunha e Floracy Cunha, por tudo de bom que
me proporcionaram sempre!
A minha irmã Nair Souza e meu cunhado Murilo Senna pelas palavras de incentivo.
Aos meus sobrinhos Murilo Henrique e Gustavo, que sempre vinham me visitar, com suas
perguntas inteligentes e divertidas, trazendo alegria e me fazendo entender que vale a pena
sempre persistir.
A Alone Rios Brito, amiga de todas as horas que muito contribuiu para a realização desse
trabalho. Obrigado, é pouco.
A Noeli Carvalho, companheira de trabalho, com seu jeito sereno, sempre me transmitia
reflexões positivas.
A Sheila Vitória Resende pelas tardes descontraídas, momentos bons, conversas produtivas e
muito aprendizado.
A Moema Cortizo Bellintani, pelo apoio e ensinamentos dispensados sempre com muita
gentileza
Aos funcionários do Horto Florestal pela colaboração nos momentos de aperto.
A Adriana Estrela, secretária e ainiga eficiente.
A professora Angélica Luchese, que muito gentilmente a-judou-me em uma etapa importante
desse trabalho. Sua contribuição foi muito valiosa.
A Edna Dórca, que sc lèz amiga dc vcrdadc. Dc uma forma agradável, auxiliou-nie coni muita
gentileza em algumas análises. Muito obrigado!
A Clarissa Cerqueira, por me acolher em sua casa, que se fez minha também, e me animar em
muitos momentos.
A Maria Cecília Fiais, Sandra Maria e Franciane França pela amizade.
A Ana Claudia Paim, pela ajuda dispensada, que de uma forma muito alegre e positiva
csclarccia iniiihas dúvidas.
Aos amigos, Magnólia Góes, Cosme Correia, Iraildes Silva, Rosineide Braz, foi uma
experiência valiosa dividir muitos momentos com vocês.
Aos amigos do Laboratório de Física e Química de Alimentos, principalmente na pessoa da
Prof Fátima Albinati, que cedeu-me o espaço para a conclusão do trabalho. Muito obrigado!
A Claudinéia Pelacani, pelas orientações, correções e boas conversas.
Ao professor José Raniere pelas sugestões, importantes na fase final do trabalho.
A Carlos Alberto Ledo, que gentilmente aceitou realizar as análises estatísticas.
Aos funcionários do COMUT (Biblioteca Julieta Carteado - UEFS), que vibravam comigo
quando conseguíamos encontrar mais uin artigo.
As funcionárias, Georgina e Sonia, da biblioteca da Embrapa - Mandioca e Fruticultura pela
contribuição na busca dos artigos.
A Luisa Ramos, amiga irmã, de todas as horas, nos momentos de dificuldade, momentos de
alegria ...
A todos que de uma forma ou de outra contribuíram para a realização desse trabalho, meu
muito obrigado!
ABSTRACT
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
. i . INTRODUÇAO ............................................................................................................... 1
2 . REVISA0 BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 4
2.1 Conservação de sementes ..................................................................................................... 4
2.2 Armazenamento de Sementes: considerações e importância ................................................. 8
2.3 Carboidratos: definições, ocorrência e tipos ...................................................................... 1
2.4 Armazenamento de sementes em função do teor de carboidratos ....................................... 14
3 . MATERIAL E METODOS ........................................................................................ 16
3.1 Area de coleta ...................................................................................................................... 16
................................................................................................................... 3.2 Material vegetal 16
.................................................................................................... 3.3 Local de experimentação -16
............................................................................................... 3.4 Armazenamento de sementes 16
3.5 Teor de umidade das sementes ............................................................................................ 17 . - ...................................................................................................... 3.6 Germinaçao de sementes 17
. . ........................................................................................ 3 .6.1 Experimento em viveiro 17
3.6.2 Experimento em câmara de germinação ............................................................... 18
............................................................................................. 3.6.3 Parâmetros avaliados 18
......................... 3.6.3.1 Taxa de germinação (câmara de germinação e viveiro) 18
3.6.3.2 Índice de Velocidade de Germinação (IVG) .......................................... 18
.................................................................................. 3.6.4 Delineamento Experimental 19
3.7 Extração e dosagem de açúcares .......................................................................................... 19
3.7.1 Preparo das amostras ............................................................................................. 19
3.7.2 Extração de açúcares ............................................................................................. 19
3.7.2.1 Dosagem de açúcares solúveis totais (AT) ........................................... 20
3.7.2.2 Dosagem de açúcares solúveis redutores (AR) ...................................... 20
3.7.3 Delineamento Experimental ................................................................................. 20
4 . RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 21
4.1 Arinazc~ianiciito dc seniciitcs ............................................................................................... 21
4.1.1 Efeito do armazenamento sobre o teor de umidade das sementes ....................... 21
4.1.2 Efeito do armazenamento sobre a capacidade germinativa e índice de velocidade
de germinação (IVG) das sementes ................................................................................ 25
4.2 Teores de Açúcares ............................................................................................................. -35
4.2.1 Efeito do arrnazenamento sobre os teores de açúcares solúveis totais e redutores
das sementes .................................................................................................................. 35
- 5 . CONCLUSOES ............................................................................................................. 39
• .....................................................*............ 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 41
RESUMO
Syugrus coronata (Martius) Beccari pertence à família Arecaceae. IVo Brasil é
conhecida como licuri, ouricuri ou uricuri. É uma espécie bem adaptada às regiões secas e . áridas das caatingas. No semi-árido Nordestino têm grande potencial alinientício, ornamental e
forrageiro. Apesar de sua grande utilidade, essa espécie têm sido alvo de super exploração, o
que 12in acarretado a rápida diminuic;ão dc populac;0cs ilat~irais. Os objctivos desse trabalho
foram: avaliar o potencial de armazenamento das sementes de licuri, avaliar a relação entre as
taxas de germinação e os teores de açúcares solúveis totais e redutores e sugerir estratégias de
conservação da referida espécie. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado,
em arrranjo fatorial 7x4+1, sendo sete períodos de armazenamento, quatro condições de
estocagem e testemunha. Os testes de germinação foram reali~ados em duas condições:
câmara de germinação e viveiro. Os parâmetros avaliados foram: teor de umidade, taxa de
germinação, índice de velocidade de germinação (IVG), teores de açúcares solúveis totais e
redulores. Os resultados expressaram diferença significativa para todas os parâmetros
estudados, entre as sementes armazenadas nos diferentes ambientes e dentro do mesmo
ambiente entre os períodos de armazeiiamento. Durante o armazenamento o teor dc umidade
das sementes aumentou em todos os ambientes, exceto em refrigerador. A taxa de germinação
bem como o IVG apresentaram diminuição significativa em todos os ambientes com o
transcorrer do tempo de armazenamento. No entanto, essa diminuição foi mais acentuada em
refrigerador. Vale ressaltar, que ambiente seco foi que o que manteve por maior tempo a
viabilidade das sementes de licuri. Os teores de açúcares solúveis totais e redutores
demonstraram oscilações entre os períodos de armazenamento, no entanto, a tendência foi de
aumento desses açúcares com o tempo de armazenamento para todos os ambientes, exceto
ambiente saturado. Esses resultados mostram a sensibilidade das sementes de licuri a baixas
temperaturas, característica essa de sementes recalcitrantes. O aumento de açúcares solúveis
mostra que mesmo tendo rescrva disponível para gcrn1inac;ão o embrião, alèlado por iii.júi.ias
duraiiic o arm;izcnarnci~lo. Icvc siia capacid~idc gcrminativa fortcincntc coinproinctida. não
podendo com isso utilizar esses agúcares nas hses iniciais de germinação.
ABSTRACT
Syagrus coronata (Martius) Reccari belongs to the Arecaceae family. In Rrazil, it is
know as licuri, oricuri or uricuri. This spccics is wcll adaptcd to dry and arid arcas ofcaating
region. In the semi-arid region of northeastern Brazil, it7s good for food, decoration and
forage. In spite of a11 its uses, exploitation has been a factor in diminishing its populations.
The objectives of this paper were: available storage potetial of licuri seeds, available the
relation between gerrnination rates and total soluble sugars contents and reducing solubles
sugars, and suggest ways to preserve the species. The experiment was randomized in 7x4+1
factorial arrangement, with seven storage periods, and four stocking conditions and control.
'I'lic gcriiiiiialioii tcsls wcrc pcrfornicd iindcr lwo coiiditioiis: gcriiiination cliambcr and
greenhouse. The assessed parameters were: humidity content, germination rate, rate of 1
germination speed (IVG), total soluble sugars contents and reducing solubles sugars. The
results showed a significant difference for a11 variables under observation, among the seeds
stored in the different places and also in the same places during the storage period. During
storage, the humidiiy content increased in a11 places, but not in the refrigerator. As storage
time went by, both the germination rate and IVG showed considerable decrease in a11 places.
However, this decrease was more noticeable in the refrigerator. Besides, the dry place was the
one which showed the best results for the licuri seeds. Total soluble sugars contents and
reducing soluble sugars showed oscillations between storage time in a11 places, except in the
saturated ones. Theses results show licuri seed sensibility under low temperatures, a trait of
recalcitrant seeds. The increase of soluble sugars show that, evcn with a rescrve for
germination, those embryos affected by injuries during storage had their germinative capacity
strongly modiíicd, which makçs it impossiblc Iòr tlicni to usc tlicsc sugars i11 tlic initial pliascs
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Tipos de ambientes e condições de temperatura (T) e umidade relativa (UR)
utilizados no armazenamento de sementes de S. coronata ........................................................ 17
Tabela 2: Resumo da Análise de variância para os valores de teor de umidade (UMID), taxa de
gcrminaçilo ('I'G), índicc dc vclocidadc dc germinação (IVG) das scmcnlcs dc S. coronulu
submetidas a diferentes condições e períodos de armazenamento. Feira de Santana (BA), 2002
e 2003. ....................................................................................................................................... 21
Tabela 3: Resumo da Análise de variância para os valores de açúcares solúveis totais (AT) e
redutores (AR) de sementes de S. coronata submetidas a diferentes condições e períodos de
armazenamento. Feira de Santana (BA), 2003 e 2004 .............................................................. 35
Tabela 4: Teores de açúcares solúveis totais (mg.g-'ms) em sementes de S. coronata
submetidas a diferentes condições e períodos de annazenamento. Feira de Santana (BA), 2003
e 2004 ......................................................................................................................................... 36
Tabela 5: Teores de açúcares solúveis redutores (rngg-'ms) em sementes de S. corrrnafa
submetidas a diferentes condições e períodos de armazenamento. Feira de Santana (BA), 2003
........................................................................................................................................ e 2004. 36
LISTA DE FIGURAS
Figura I : Teor de umidade de sementes de S. coronata submetidas a diferentes condições e
períodos de armazenamento. Feira de Santana (BA), 2002 e 2003 .......................................... 22
Figura 2: Germinação de sementes (%) de S. coronata submetidas a diferentes condições e
períodos de armazenamento em ambiente controlado (câmara de germinação). Feira de
Santana (BA), 2002 e 2003 ........................................................................................................ 25
Figura 3: Germinação de sementes (%) de S. coronata submetidas a diferentes condições e
períodos de armazenamento em ambiente não controlado (viveiro). Feira de Santana (BA),
2002 e 2003 ................................................................................................................................ 26
Figura 4: Germinação (A) e IVG (B) das sementes de S. coronata submetidas a estocagem em
ambicntc seco c scmeadas em câmara dc germinação e viveiro. Feira dc Santana (RA), 2002 e
2003 ............................................................................................................................................ 28
Figura 5: Germinação (A) e IVG (B) das sementes de S. coronata submetidas a estocagem em
condição natural e semeadas em câmara de germinação e viveiro. Feira de Santana (RA), 2002
e 2003 ........................................................................................................................................ -30
Figura 6: Germinação (A) e IVG (B) das sementes de S. coronata submetidas a estocagem em
ambiente úmido e semeadas em câmara de germinação e viveiro. Feira de Santana (BA), 2002
e 2003 ......................................................................................................................................... 3 1
Figura 7: Germinação (A) e IVG (B) das sementes de S. coronata submetidas a estocagem em
refrigerador e semeadas em câmara de germinação e viveiro. Feira de Santana (BA), 2002 e
2003 ........................................................................................................................................... 33
A caatinga ocupa cerca de 800.000 km2 do território nacional (equivalente a 70% da
região Nordeste), abrangendo os estados de Minas Gerais, Raliia, Scrgipe, Alagoas,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Apesar de não existir um
inventário completo das espécies da caatinga cncoiitradus nas suas mais difcrcntes
situações edafoclimáticas, sabe-se que a família Arecaceae ocupa uma posição importante
como componente de sua flora (Drumond et al. 2000).
As investigações a respeito das palmeiras estão voltadas para o desenvolvimento e
expansão de técnicas de domesticação, cultivo e manejo, buscando o aumento da
produtividade, bem como o aproveitamento e comercialização de produtos e subprodutos
(Jardim & Cunha 1998, Crepaldi et al. 2004).
Juntamente com a exploração desse potencial a conservação de palmeiras tem
despertado acentuado interesse por parte de pesquisadores, no entanto, os estudos ainda são
escassos (Johnson 1995). O Brasil é o maior produtor, exportador e consumidor de palmito
do mundo, os estudos sobre conservação estão voltados para as espécies Bactris gasipaes
Kunth, Euferpe oleracea Mart. e Euterpe edulis Mart. (Bergo & Lunz 2000, Rovi 2000).
Outros gêneros de interesse para a produção de palmito já estão sendo alvo de pesquisas,
principalmente em programas de melhoramento vegetal e entre estes inclui-se Syagrus
Mart. (Sawazaki et al. 1 998).
Como muitas das angiospermas, a unidade de propagação da maioria das palmeiras
é a semente, representando assim um potencial geneticamente único, assumindo cada vez
mais importante papel na conservação (Pinheiro 1986, Slageren 2003).
A conservação das espécies de palmeiras se dá de duas formas: coiiservação in situ,
através de unidades de conservação, áreas de florestas em manejo de rendimento
sustentado, áreas de conservac;ão na propriedade rural e conservação ex sifu, através de
amostras mantidas in vifro ou em bancos de germoplasma (Nodari ef al. 2000).
Na conservação ex situ, têm-se como ferramenta o armazenamcnto de sementes.
Alguns trabalhos sobre o potencial de armazenamento de sementes de algumas espécies de
palmeiras já foram realizados (Rovi & Cardoso 1978, Broschat & Donselman 1988, Ellis
ef al. 1991b, Araújo & Barbosa 1992, Araújo ef al. 1994, Andrade & Pereira 1997,
Os principais propósitos dos cstudos de propagação por sementes dc palmeiras são
voltados para a formação de bancos de germoplasma, reposição na natureza, uniformização
e acclcração da gerininação de sementcs (Yocum 1964, Maltes & (:astro 1987, Carvalho e1
al. 1988). A análise do potencial geminativo associado ao comportamento de estocagem
torna-se importante não só para a conservação em bancos de gerrnoplasma, bem como para
o manejo racional da cultura (Cunha & Jardim 1995).
Syagrus coronaia (Martius) Beccari pertence à família Arecaceae, subfamília
Arecoideae, Tribo Cocoeae, subtribo Rutiineae. No Brasil é conhecida como licuri,
ouricuri ou uricuri. E uma espécie bem adaptada às regiões secas e áridas das caatingas,
distribuindo-se do Norte de Minas Gerais, ocupando toda a porção oriental e central da
Bahia, até o sul de Pernarnbuco, incluindo os estados de Sergipe e Alagoas. Na flora da
Bahia existem 15 gêneros de palmeiras com 8 espécies no semi-árido, importantes na
economia local (Noblick 199 1, Crepaldi 200 1).
As palmeiras, dotadas de grande potencial apresentam múltiplas utilidades no
cotidiano das pessoas (Heiser 1973, Johnson 1982, Brucher 1989). S. coronata, em
particular, têm grande potencial alimentício, ornamental e forrageiro (Drumond et al2000,
Crepaldi 200 1, Crepaldi et al. 2004)
Os frutos e as folhas são utilizadas de maneira diversa, com a produção de artefatos
para o comércio local que comercializa muitos produtos artesanais. A polpa e as sementes
são consumidas in natura ou processadas como alimento, o mesocarpo serve para
alimentação de pessoas ou animais domésticos. As folhas são largamente utilizadas para
cobertura de construções campestres, como tmbCm para paredcs e portas das mcsinas; a
folha jovem, matéria-prima no fabrico de chapéus, cordas, esteiras, cestos, mocós,
espanadores e abanadores, além da importante utilização para extração do óleo, que
cnvolvc a utilização na culinária albin da fabricação de sabão c margarina e produção de
cera (Bondar 1942, Crepaldi et al. 2004).
A importância ecológica do licuri ainda é evidenciada por ser essencial na
alimentação da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari Ronaparte), estabelecendo uma
importante relação com esta espécie. Em 1988, a população de araras-azuis-de-lear na
natureza chegou ao alarmante número de 170 indivíduos. Além do tráfico, com a captura
ilegal das aves destinadas ao mercado internacional, a degradação ambienta1 da caatinga
~an~béin proporcionou às raríssimas araras situação de risco, pois o principal alimento das
aves, o licuri, também tornou-sc escasso no scrtão, resultado do pastoreio e do manejo
inadequado desse bioma tão rico, mas bastante ameaçado. O alto grau de ameaça das araras
justificou o estabelecimento de um projeto conservacionista, para a espécie que consiste
na aquisição de sítios de dormitório e de recuperação para as araras e um projeto piloto de
manejo do licuri (IBAMA 2003, Ferreira 2003).
Estudos sobre a composição nutricional dos fí-utos de licuri indicaram um fruto
altamente calórico, rico em óleo, proteínas, açúcares e B-caroteno, sendo discutida a
utilização desse fiuto como complemento vitamínico de escolares da área rural da caatinga
(Crepaldi et al. 200 1)
Apesar da importância, essa espécie têm sido alvo de super exploração, através de
atividades extrativistas pela população local, o que têm acarretado a rápida diminuição de
populações naturais (Drumond et al. 2000, Crepaldi 2001). Em decorrência disso, desde
mcados dos anos oitenta, há no Brasil uma preocupação crescente cm estudos
populacionais, de comunidades e de germinação para maior conhecimento das espécies e
como estratégia para ações conservacionistas c dc manejo (Piiiard 1993, Pii-ihciro & Frazão
1995, Bernardes et al. 1996, Moussa et a1 1988). Os trabalhos realizados têm se
concentrado em regiões úmidas dos trópicos (Sist 1989) notadamente na Amazônia (Kahn
& Castro 1985, Kahn 1986, Scariot et al. 1989).
Apesar dos trabalhos realizados com algumas espécies de palmeiras, ainda é
necessário estudos mais aprofindados, objetivando-se estabelecer metodologias adequadas
para a estocagem das sementes, visto o grande número de espécies que esta família possui,
além das particularidades fisiológicas de cada uma delas.
O armazenamento de sementes de palmeiras apresenta alguns problemas, as
sementes são altamente sensíveis ao dessecamento, o que descarta o uso de metodologias
convencionais já bem estabelecidas para as sementes ortodoxas (Farrant 1988; Faiad 1998;
Queiroz 2000). Além disso, já foi registrado para algumas espécies, que a manutenção das
sementes em umidade elevada favorecem a germinação, bem como o desenvolvimento de
fungos e bactérias (Bovi & Cardoso 1978, Queiroz 2000).
Os protocolos existentes para o armazenamento de sementes são voltados para
espécies com fins agrícolas seja pela capacidade que estas apresentam em tolerar a
dessecação, ou por apresentarem grande importância econômica. Por isso, só recentemente
o armazenamento de sementes têm sido utilizado como um componente importante na
conservação dc espécics silvestres em pcrigo dc extinção
Miiitos fatores são importantes para a manutenção da viabilidade da semente
durante a estocagem, entre elas pode-se citar a umidade relativa e a temperatura (Robcrts
1973). Sabe-se tambbm quc diirantc o armucnan-icnto muitos processos bioquírnicos
- --
afetam a viabilidade das sementes, tendo alguns produtos metabólicos grande relevância na
manutenção do vigor, podendo-se destacar os carboidratos (Bernal-Lugo 1992, Bewley &
Black 1994).
Os carboidratos são as substâncias orgânicas de maior abundância nos tecidos
vegetais, principalmente nas sementes, tubérculos e frutos amiláceos (Robinson 1991).
As plantas utilizam desses compostos nas diversas etapas do metabolismo, o que
Ilies garante o desenvolvimento (Mayer & Poljakofr-Mayber 1975). Na gcrniinação
assumem função importante como provedor dc energia para o embrião c no
desenvolvimento inicial da plântula (Laboriau 1983).
Desse modo, a investigação dos açúcares em sementes de S. coronata submetidas a
diferentes métodos de arrnazenamento, torna-se fundamental para a compreensão do
comportamento de armazenamento assim como o seu potencial germinativo, servindo de
base para o estabelecimento de protocolos eficientes de conservação, bem como alternativa
para o manejo sustentável da espécie.
Portanto, diante do que foi exposto esse trabalho teve como objetivos: estudar a
capacidade germinativa de sementes de licuri; avaliar o potencial de arrnazenamento das
sementes, avaliar a relação entre as taxas de germinação e os açúcares totais e redutores e
sugerir estratégias de conservação da referida espécie.
As origens históricas da conservação podem estar relacionadas às antigas
convicções religiosas e filosóficas sobre a relação entre o homem e o seu ambiente
natural. Após a visibilidade dos efeitos destrutivos globais, no final dos anos 60, e com o
aumento em grandes proporções das populações humanas, houve uma mudança do
paradigma da utilização intensiva dos recursos naturais, considerando-os infinitos,
ampliando-se assim a preocupação com a conservação (Johnson 1 995, Giacometti 1993,
Guimarães & Albuquerque 2001 ).
Durantc 150 anos, a população humana aumentou seis vezes, dc um bilhão para
mais de seis bilhões. Este aumento trouxe pressão sempre crescente sobrc os rccursos
fínitos do ambiente natural para fins agrícolas e industriais. O aumento da atividade
humana levou a expansão de áreas urbanas e agrícolas, acarretando em uma depleção do
habitat natural. As grandes extinções das espécies tornaram impeditivos os processos
naturais de evolução, levando a perda da diversidade biológica (Giacometti 1993,
Johnson 1995, Santos 2000, Nodan et al. 2000).
Disso surgiu a necessidade de estudar e ampliar os modelos de conservação
existentes, sendo que a partir da década de 1970 a conservação de germoplasma foi
proposta como atividade científica, prevenindo a erosão genética e a perda da
biodiversidade (IBPGR 1993). Segundo Giacometti (1993) existem duas formas de
salvaguardar o patrimônio natural: conservação da biodiversidade e preservação de
rccursos genéticos.
A conservação da biodiversidade pode ser entendida como programas para a
manutenção permanente de coniunidades, populações naturais eni condições que
permitam a evolução continuada, representando uma estratégia de conservação
denominada in situ. Esse processo demanda proteção e fiscalização permanente que
requerem grandes áreas de unidades de conservação (Giacometti 1993, Nodari et al.
2000). Frequentemente é recomendado para espécies que devem ser preservadas
mantendo a integridade genética de seu estado natural. O estabelecimento de reserva
natural e genética é importante para objetivos de preservação a longo prazo como
necessidade para a evolução continuada dcntro dc ambicntes naturais (Ford-1,loyd &
Jackson 1986).
A preservação de recursos genéticos implica na manutenção de banco de genes
onde processos fisiológicos e reprodutivos, bem como pestes e doenças possam ser
controlados, denominado também como conservação ex situ (Giacometti 1993, Nodari et
al. 2000). A conservação ex situ é a manutenção de espécies vegetais fora do seu habitat
natural em coleções de plantas no campo ou in vitro, além de bancos de sementes
(Nodari et al. 2000, Slageren 2003).
Ainda que a conservação in situ seja ideal para a manutenção de comunidades
naturais, há situações em que se deve lançar mão da conservação ex situ, como forma de
salvaguardar populações que estão ou em perigo de destruição ou deterioração genética,
bem como manter genótipos de interesse econômico (Falk 1990).
Como a semente é uma unidade de propagação natural, a sua conservação ex sitzr
é a forma mais utilizada, sciido vantajoso 110 scntido dc qiic os bancos dc sciiicntcs
ocupam pouco cspaço e rcquercm apenas monitoração perihdica, constituindo-se assim
eni método eficiente para a preservação do germoplasma (Santos 2000, Slageren 2003).
A escolha da estratégia de conservação depende da natureza do material e do
objetivo que se pretende alcançar. A natureza do material é definida pela duração do
ciclo de vida, o modo de reprodução, o tamanho dos indivíduos e se é selvagem ou
domesticado (Ford-Lloyd & Jackson 1986).
O estudo do arrnazenamento de sementes, como ferramenta para a conservação
de espécies silvestres vegetais é de fundamental importância, principalmente para
aquelas pouco estudadas. Técnicas de armazenamento de sementes são bem conhecidas
para csp6cics de plantas de interesse agrícola. N o cntai~to, pouco se sabe no que diz
respeito a maioria das espécies silvestres, justamente as mais ameaçadas (Ferreira 1988,
Goedert 1988, Bonner 1990, Faiad et al. 1 998).
Os poucos estudos sobre a longcvidadc de scmentcs apontam ser possível
conservar o germoplasma de algumas espécies da caatinga ex silu, em câmaras frias. No
entanto, nas instituições nordestinas a conservação de sementes de espécies nativas está
restrita principalmente àquelas lenhosas de interesse econômico. Portanto, é importante
incentivar coletas e conservação de diásporos de espécies nativas, como auxílio na
preservação de recursos biológicos, o que no futuro poderá proporcionar grande utilidade
na recuperação de áreas dergradadas, principalmente espécies em risco de extinção
(Araú-jo & 17crruz 2003).
As espécies vegetais apresentam uma variação muito grande de potencial de
conservação de suas sementes. A depender da sua capacidade de armazenamento e do
tempo que se conseguem manter viáveis, as sementes são classificadas genericamente i como ortodoxas e recalcitrantes. Entretanto, devido as diferenças em função dos níveis
de recalcitrância muitos autores estudam uma reclassificação (Roberts 1973, Farrant et
al. 1988, Bonner 1990, Ellis 1990, Berjak et al. 1990).
Segundo Roberts (1973) as sementes ortodoxas são aquelas que podem ser
desidratadas entre 2 e 5% de umidade sem qualquer dano, podendo ser armazenadas sob
baixas temperaturas por 100 anos ou mais. As recalcitrantes não toleram a desidratação
com umidade abaixo de 12 e 3094, perdendo a viabilidade e quando armazenadas em
condições úmidas apresentam longevidade que varia entre poucas semanas e alguns meses.
Segundo Boniicr (1990) as scmcntcs podcni apresentar a seguitite classilicação: a)
Ortodoxas vcrdadciras: podcm scr estocadas por longos pcriodos cm baixas tcinpcraturas
(0-5°C) e baixo teor de umidade por exemplo: o eucalipto (Eucalyptus grandis FIill ex
Maiden); b) Sub-ortodoxas: sementes quc podem ser estocadas sob condições semelhantes
às ortodoxas verdadeiras, mas por curto período, exemplo: o liinão (Citrus lirnonia
totalmente desidratadas, sendo necessário a realização de estudos que possam detectar o
nível ótimo de desidratação a depender da espécie em estudo, no entanto podem ser
estocadas em temperaturas de O a 2°C; d) Recalcitrantes de áreas tropicais: são sementes
que não podem ser estocadas com baixos conteúdos de umidade, nem em condições de
baixas temperaturas, por exemplo o cacau (Thebroma cacao I,.).
Essa classificação de Ronner (1990) concorda com a de Farrant et al. (1988), os
quais mencionam que existem diferenças entre as espécies recalcitrantes referente a
I tolerância à perda de água e baixas temperaturas durante o armazenamento. De acordo com
os diferentes níveis de recalcitrância as sementes são denominadas de altamente,
I moderadamente e pouco recalcitrantes.
As mudanças bioquímicas que ocorrem na germinação de sementes pouco
recalcitrantes são muito lentas, suportando estas maior perda de água. Conseguem tolerar
temperaturas baixas, embora nunca igual ou inferior a zero. Normalmente são de regiões
temperadas, onde as condições ambientais nem sempre são favoráveis A germinação
(Farrant et al. 1988, Farrant et aZ. 1989, Rarbedo & Filho 1998).
Ellis et al. (1990, 1991a, 1991b) classificaram as sementes como ortodoxas,
intermediárias e recalcitrantes. Sendo que as intermediárias são aquelas que toleram
desidratação a níveis relativamente baixos de teor de umidade (8 a 10%), mas são
daniíicadas quando expostas a temperaturas próximas ou inferiores a O0C, por cxemplo:
café (Cofea arabica L.), dendê (Elaeis oleifera Kunth) e mamão (Caricapapaya L.).
Rerjak et al. (1990) usaram os termos "poicilohídrica" e "homohídrica" para
designar as sementes ortodoxas e recalcitrantes, respectivamente. Os autores consideram
a dessecação um evento importante, sendo um dos pré-requisitos para a germinação de
sementes "poicilohídricas".
De um modo geral, as sementes ortodoxas sofrem um processo de secagem
duranlc sua maturac;Bo, dcsprcndcndo-se da planta matriz com 20% ou mcnos dc água. dá
as recalcitrantes não sofrem secagem natural na planta matriz, sendo liberadas com alto
teor de umidade (Neves 1994, Berjak et al. 2000).
Segundo Roberts & King (1 980) as sementes recalcitrantes são produzidas por
plantas perenes, no qual durante o processo evolucionário adotaram uma estratégia de L reprodução adaptada a regiões úmidas e quentes. Nesta estratégia, a sobrevivência da l
i espécie depende mais do hábito de crescimento percne da planta adulta do que da I f longevidade das unidades de propagaqão.
j
Outros eventos no curso do processo evolutivo durante o estabelecimento das
espécies vegetais, também contribuíram para a diferenciação das sementes, alguns destes
são: habitat de origem, números de eventos reprodutivos e meios de dispersão. Espécies
vegetais que se desenvolveram em regiões com estações bem definidas, em que há
grandcs períodos desfavoráveis à germinação sofreram uma pressão seletiva, adaptando-
se a grandes perdas de umidade, mantendo-se em estados de latência até a época propícia
para que ocorra a germinação. Os eventos reprodutivos também devem ser levados em
consideração já que espécies monocárpicas (aquelas que apresentam um único período
reprodutivo), precisam manter a estrutura que persiste a períodos desfavoráveis para o
crescimento vegetativo. Assim, espécies monocárpicas desenvolveram sofisticados
mecanismos de latência, diferente de espécies policárpicas, que apresentam vários
episódios reprodutivos ao longo de sua vida. O modo de dispersão também exerceu forte
influência na capacidade das sementes se manterem em estado quiescente, pois sementes
que percorrem grandes distâncias apresentam testa dura e níveis de umidade muito baixo,
diferentes de sementes que não realizam esse percurso para se estabelecer como novo
indivíduo (Vázquez-Yanes & Hernández 1995).
Atualmente ainda não existe um método disponível para conservação a longo prazo
de sementes recalcitrantes. Como estas sementes não podem ser armazenadas nas
condições convencionais, algumas técnicas alternativas são utilizadas, dentre entre elas: a
conservação in vitro e a criopreservação de eixos embrionários. Eixos embrionários
criopreservados são resgatados usando a cultura de tecidos, originando plantas inteiras.
Existem também as coleções no campo ou em casas de vegetação, cuja manutenção se
efetiva somente por curto ou médio prazo (Faiad et a1 1998, Santos 2000, Santos 2001).
2.2 ARMAZENAMENTO DE SEMENTES: CONSIDERAÇ~ES E IMPORTÂNCIA
O armazenamento de sementes é uma técnica na qual uma semente madura deve
ser mantida com a sua parte vital, o embrião, em estado de inatividade ou latência, até
que lhe seja proporcionado condições propícias para retomar o processo germinativo
(Carneiro & Aguiar 1993; Vázquez-Yanes & Hernández 1995; Slageren 2003).
No Brasil, a conservação de gennoplasma na forma de sementes iniciou-se em
Ao longo desses anos foi possível estabelecer protocolos baseados em
metodologias bem definidas para sementes ortodoxas de interesse agrícola: milho (Zea
mays L.), trigo (Triticum aestivum L.), arroz (Oryza sativa L.), soja (Glycine max L.
Merr.) e feijão (Phaseolus vulgaris L.) (Faiad et al. 1998).
A maioria dos estudos de armazenamento é voltada para plantas de interesse
agrícola, porque além do aspecto econômico as técnicas são facilmente desenvolvidas para
a conservação por longos períodos, devido a sua alta capacidade de tolerância à
dessecaçiio. Em contraste, sementes de espécies arbóreas e arbustivas, nativas das regiões
tropicais e sub-tropicais, e mesmo muitas espécies cultivadas de importância econômica
tais como dendê (Elaeis oleifera Kunth), coco (Cocos nucifera L.), seringueira (Hevea
brasiliensis Muell. Arg.) e cacau (Theobroma cacao L.) são danificadas e perdem
rapidamente a viabilidade se armazenadas nas mesmas condições de sementes ortodoxas
(Zink & Rochelle 1964, Santos 2000, Santos 2001).
O armazenamento de sementes de espécies silvestres insere-se no contexto de
conservação ex situ de recursos genéticos, importantes para a manutenção do potencial
genômico (Ferreira 1988, Valois 1998). Os estudos com tais espécies ainda são incipientes,
sendo necessário a realização de muitos trabalhos de pesquisa objetivando-se o
estabelecimento ou a definição de procedimentos que assegurem a viabilidade durante o
armazcnamcnto (Carnciro & Aguiar 1993, Faiad et u1. 1998). Estudos sobre métodos dc
armazenamento de sementes das espécies nativas são importantes devido o seu valor
ambienta], socio-econômico e, as vezes cultural, além de ampla variabilidade genética
(Bonner 1990, Vilela-Morales & Valois 2000). Para tanto, quando se escolhe a
conservação ex situ como estratégia de preservação de uma determinada espécie, torna-se
importante conhecer o comportamento de armazenamento de sua semente (Andrade &
Pereira 1997).
Para a corrctn conservação de sementes alg~ins fatores são relevantes, como:
aptidão por perder água, redução da taxa metabólica, resistência a baixas temperaturas e
reativação do metabolismo (Roberts 1975).
Sementes com elevados teores de água, são suscetíveis a danos causados por
temperaturas negativas, devido a formação de cristais de gelo nos tecidos, provocando
perda da viabilidade (Fonseca & Freire 2003).
Portanto, a aptidão por perder água irá refletir diretamente no potencial de
armazenamento da semente. Segundo Walters (2000) as células de sementes ortodoxas
passam por processos que lhes conferem tolerância a dessecação, estes podem ser assim
enumerados: os vacúolos são preenchidos com proteínas, acumulação de açúcares,
I alteração da composição da membrana e produção de proteínas LEA (proteínas estáveis ao
calor). Após passarem por estes processos elas entram em estado vítreo. No entanto essas
mesmas modificações podem ocorrer nas sementes recalcitrantes, mas em diferentes graus.
Segundo Farrant et ai. (1989), em sementes recalcitrantes os eventos subcelulares da
germinação são iniciados logo após a queda dos fiutos, continuando até 12 dias após o
armazenamento, mesmo em ausência de água adicional. No entanto para atingirem o
I estágio de divisão celular, as sementes irão necessitar de água para completar os processos
bioquímicos da germinação e se esta não for suprida, causará danos irreversíveis ao
embrião, perdendo a viabilidade, o que as torna extremamente sensíveis ao dessecamento.
Essa sensibilidade ao dessecamento dificulta o estabelecimento de metodologias
adequadas para a estocagem das sementes recalcitrantes, pois é necessário reduzir a taxa
metabólica e essa redução relaciona-se intimamente com a perda de umidade (Harrington
1972, Ching 1973).
A temperatura exerce um papel crucial na manutenção da integridade da semente,
porque afeta diretamente a velocidade dos processos bioquímicos (Ching 1973, Popinigis
1985).
Em condições de temperatura e umidade relativa baixas, o metabolismo pode ser
mantido sob atividade reduzida, assegurando a conservação por décadas. As sementes que
( são capazes de resistir a essas condições por longos períodos de latência, têm um alto
potencial de armazenamento já que são capaies de reativar o metabolismo, com a retomada
de síntese de proteínas, e posteriormente, em condições favoráveis permite a germinação
(Vázquez-Yanes 1987, Vázquez-Yanes & Hernández 1995).
A técnica de armazenamento têm como principais objetivos proteger a semente da
deterioração, mantendo seu vigor, bem como sua integridade genética (Harrington 1972,
Roberts & King 1980, Goedert 1988). Segundo Vertucci & Ross (1993) sementes
estocadas com níveis elevados de umidade envelhecerão mais rapidamente, pois ocorre o
aumento do processo respiratório na semente.
A atividade respiratória acarreta o consumo de produtos elaborados contidos nas
sementes e de oxigênio liberando gás carbônico, água e calor. O aumento das taxas
respiratórias têm como conseqüência o esgotamento das substâncias de reserva acumuladas
nas sementes, das quais ela depende para promover a germinação e o desenvolvimento I
, inicial da plântula (Popinigis 1985, Figliolia et ai. 1987, Carneiro & Aguiar 1993).
As condições climáticas, nas quais as sementes estão submetidas durante sua
maturação também devem ser levadas em conta para adequada conservação, pois tanto o
excesso como a falta de água a que estão submetidas podem provocar a perda do potencial
germinativo (Carvalho & Nakagawa 2000).
Segundo Loomis (1 958) e Chin (1 978) as palmeiras de um modo geral apresentam
sementes recalcitrantes, que são sensíveis ao dessecamento. Segundo Johnson (1995) a
conservação de sementes como estratégia de preservação de espécies de palmeiras é um
grande desafio, devido a natureza dessas sementes que não podem ser mantidas sob
condições temperatura e umidade baixas, portanto, fatores limitantes para o
armazenamento. A proposta da conservação in situ, é a mais adequada para manter essas
espécies. No entanto, com o ambiente cada vez mais antropizado é necessário a
conccntração de esforços para formarem banco de sementes dessas espécies.
Loomis ( I 958) enumera alguns fatores que mais frequentemente causam danos a
sementes de palmeiras: secagem excessiva, provocando a desidratação do embrião e
redução da viabilidade; formação de uma superficie de fungo ao redor da semente, a qual
parece penetrar no embrião, afetando sua sobrevivência; e idade excessiva da semente.
2.3 CARBOIDRATOS: DEFINIÇAO, OCORRÊNCIA-E TIPOS
Os carboidratos são compostos aldeidicos ou cetônicos, hidrossolúveis. São
hidratos de carbono, por possuírem basicamente em sua constituição carbono, oxigênio,
hidrogênio, sendo que existem carboidratos que possuem nitrogênio, fósforo e enxofre.
Exercem papel tanto de fornecedores de energia, quanto de componentes estruturais nas
paredes celulares de bactérias, plantas e exoesqueleto de artrópodes (Karlson 1970,
Lehninger 1995, Stryer 1996, Roskoski 1997).
Os carboidratos constituem a maior parte de matéria orgânica na Terra, ocupando
uma grande importância em todas as formas de vida (Stryer 1996).
A síntese dos carboidratos nas plantas ocorre através da fotossíntese, por meio de
reações de óxido-redução, sendo que mais de 100 bilhões de toneladas de C02 e H 2 0 são
convertidos em celulose e outros produtos vegetais (Conn 1984, Lehniilger 1995).
Os carboidratos são moléculas ricas em informação, guiando muitos processos
biológicos. Além de funcionarem como clementos estruturais, ccrtos carboidratos como
o amido e sacarose são importantes na dieta humana. Outros são constituintes dc vários
metabólitos, como ácidos nucléicos, coenzimas, e numerosos glicosídeos (Karlson 1970,
Lehninger 1995, Stryer 1996).
Sementes maduras de fanerógamas contém reservas de carboidratos, proteínas e
lipídios que são degradados em componentes durante a germinaqão para prover energia e
sintetizar substâncias para o crescimento inicial e desenvolvimento da plântula (Ziegler
1995).
Os carboidratos solúveis presentes em sementes não germinadas incluem alguns
monossacarídeos, dissacarídeos (maioria sacarose) e uma variedade de oligossacarídeos I
/ (mais comumente oligossacarideos da família da rafinose), que foram desdolxados a
partir de produtos insolúveis como polissacarídeos. Servem como substrato da
respiração, extensão do tecido do eixo embrionário ou atuarn como precursores no
metabolismo para a síntese de outras substâncias (Laboriau 1983, Bewley & Black
1 994).
Alguns carboidratos solúveis como a sacarose, estaquinose e rafinose estão
associados a tolerância a dessecação, por exemplo em sementes de soja (Horbowicz & r h Obendorf 1994 apud Modi et al. 2000). i
I O modo de ação dos açúcares na tolerância a dessecação ainda não é totalmente
conhecido, mas sabe-se que grande quantidade desses compostos acumulam-se em
estruturas que são tolerantes a intensa desidratação como por exemplo fungos, esporos,
sementes e pólen da maioria das angiospermas (Crowe et al. 1988 apud Santos 2001,
Hoekstra et al. 1994).
Em estudos com Dimorphandra mollis Benth. (Legumhosae), Buckeridge et ai.
(1995) sugerem que a sacarose, estaquinose e rafinose são utilizados durante a fase
inicial de germinação, sendo decompostos em galactose, glicose e fi-utose, antes do
aparecimento da radícula.
Os carboidratos ainda estão envolvidos em outros processos, como por exemplo o
amaciamento dos fiutos de algumas espécies (Huber 1983). Segundo este autor,
mudanças relacionadas com componentes da parede celular são acompanhados por
solubilização de pectinas. O metabolismo de compostos como celulose, pode contribuir
para o amaciamento durante o amadurecimento de muitas fiutas como mangas, goiabas e
tâmaras (El-Zoghibi 1994). Em estudos com bacuri (Platonia insignis Mart., Clusiaceae),
Teixeira et al. (2001) perceberam que no amadurecimento dos fi-utos, os tecidos
geralmente amaciam e isto ocorre provavelmente devido a dissolução das paredes
celulares, como resultado da modificação dos seus polissacarídeos.
Os carboidratos podem se apresentar como açúcares simples, carboidratos de
reserva e polissacarídeos estruturais. Assim podem ser classificados em três principais
grupos, segundo o tamanho de sua moléculas: monossacarídeos, oligossacarídeos e
polissacarídeos (Conn 1984, Stryer 1996).
Os monossacarídeos são os carboidratos mais simples, com 3 a 8 átomos de
carbono, não podem ser Iragmentados em carboidratos menores por hidrólise. São
compostos sólidos, cristalinos e solúveis em água (Conn 1984, Stryer 1996). Todos os
L monossacarídeos são açúcares redutores, sendo esta propriedade bastante útil na análise i
de açúcar, pois através de um agente oxidante reduzida por uma solução de açúcar
quantifica-se o açúcar redutor (Karlson 1970, Lehninger 1995, Pomeranz & Meloan
1987). Entre os monossacarídeos mais abundantes na natureza têm-se a fnitose e a
glicose, um dos principais carboidratos solúveis presentes nos frutos (Karlson 1970,
Bewley & Black 1994).
Os oligossacarídeos são polímeros hidrossolúveis, compostos de 2 a 6 moléculas
de açúcares simples unidos por ligação glicosídica, podendo ser ligados a proteínas. O
oligossacarídeo mais comum é a sacarose, um dissacarídeo formado por uma molécula
de glicose e uma de frutose. A sacarose têm grande importância comercial, sendo um dos
compostos regulares na dieta humana (Karlson 1970, Com 1984, Lehninger 1995).
Os polissacarídeos se constitui na maioria dos carboidratos encontrados na
natureza. Proporcionam proteção, forma e suporte às células, tecidos e órgãos e os
estudos estão mais voltados para as funções daqueles que servem de reserva da parede
celular. Eles ainda participam na expansão celular ao longo do desenvolvimento da
plântula (Lehninger 1995, Ziegler 1995). Os polissacarídeos podem se apresentar nos
vegetais como polissacarídeos de reserva, a exemplo do amido e o fiutano, presentes no
interior dos protoplastos e como componente da parede celular, galactomanano, glucano
e xiloglucano (Buckeridge et al. 2000)
O amido se constitui no reservatório nutricional das plantas, encontrando-se nos
grãos de cereais, sementes de leguminosas, tubérculos e muitas fiutas (Robinson 1991).
Serve como reserva a longo prazo para a germinação, além de posterior crescimento da
plântula (Robinson 199 1, Ziegler 1995).
A celulose é um homopolissacarídeo, responsável por mais da metade do carbono
presente na biosfera. Não se constitui em fonte alimentícia para o homem, mas confere
as plantas paredes celulares, capazes de suportar diferenças de pressão osmótica entre
espaços extra e intracelulares, representando assim o principal componente estrutural das
plantas (Voet e1 al. 2000, Campbell2001).
Em paln~eiras, o estudo dos açúcares, de um modo geral, foram pautados em
função do potencial alimentar das espécies (Aguiar et al. 1980, Booij et al. 1992,
Clement et al. ? 998, Crepaldi et al. 2001). No entanto estudos relacionando teores de
carboidratos e o processo de germinação das sementes dessa família praticamente
inexistem.
Segundo DeMason (1 986) membros da família Arecaceae estão entre as espécies
que estocam m;,is polissacarídeos de reserva da parede celular em seu endosperma do
que em forma de amido.
Análises bioquímicas de polissacarídeos de paredes celulares tem sido feito para
muitas espécies de palmeiras, mostrando que os carboidrato s insolúveis são os principais
componentes do endosperma, sendo Phytelephas macrocarpa Ruiz & Pav. a melhor
caracterizada nesse aspecto (Alang et al. 1988, Dietrich et al. 1988, Boesewinkel &
Bouman 1995). ,
2.4 ARMAZENAMENTO DE SEMENTES EM FUNÇÃO DO TEOR DE CARBOiDRATOS
Bernal-1,ugo & Leopold (1992) sugerem que o declínio na qualidade da semente
durante a estocagem está associado a mudanças no teor de carboidratos solúveis, que
podem contribuir para o declínio de vigor e da taxa de germinação. Segundo esses
mesmos autores, a diminuição dos carboidratos solúveis se dá com o
envelhecimentc/rnaturação da semente, limitando a disponibilidade de substratos
respiratórios para a germinação. A depleção de dissacarídeos, pode ainda reduzir o efeito
protetor dos açiicares quando as sementes são submetidas a dessecação ou incapacidade
de manter a integridade das membranas (Koster & Leopold 1988, Bernal-Lugo &
Leopold 1992).
Em estudos com milho, Bernal-Lugo & Leopold (1992), observaram a
diminuigão do figor associado com o declínio de alguns carboidratos solúveis, entre eles
a rafmo se.
Teixeirz. et ul. (2001), em estudos com bacuri, realizaram análises químicas e
bioquímicas da polpa dos frutos em diferentes estádios de rnaturação, observando
diminuição nos teores de amido, o que segundo o autor pode ser conseqüência da sua
conversão a açúcares solúveis. Os h t o s nos estádios maduros apresentaram
concentrações significativamente maiores de açúcares solúveis e também de açúcares
redutores quando comparados aos demais estádios. Nos fiutos verdes os teores de
açúcares totais e redutores indicam que estes ainda estavam imaturos, após 16" dia de
armazenamento não apresentaram teores de açúcares equivalentes aos dos frutos
maduros no início da estocagem.
Em três variedades de café (CofJea arabica L.) Barcelos et al. (2001) verificaram
o efeito do tempo de armazenamento em função do teor de qucares, e constataram que
houve aumento nas taxas de carboidratos da casca e da polpa a medida que aumentou o
tempo de armazenamento. Segundo os autores, isso pode ser devido a decomposição
natural dos tecidos da casca e da polpa, principalmente carboidratos estruturais,
disponibilizando carboidratos solúveis. Uma vez que ao longo de um ano de
arrnazenamento o teor de carboidratos estruturais da parede celular foi inversamente
proporcional ao teor dos carboidratos solúveis, reforçando a hipótese inicial do autor.
Eichelberger et ul. (2002) observaram que em sementes de azevém (Lolium
multzflorum Larn., Poaceae), o período de annazenamento e o retardamento da secagem
influenciaram nos teores de qúcares solúveis. Eles relataram que o baixo teor de
umidade das sementes dificulta a hidrólise de amido para açúcares de menor peso
molecular. No entanto, a necessidade energética permaneceu durante o armazenarnento e
foi suprida pelos açúcares solúveis, cuja reduqão, no armazenamento, foi mais acentuado
nos períodos de maior presença de umidade. Também observaram que houve aumento
nos açúcares solúveis com o armazenamento de 4 a 8 meses.
Em estudos com sapoti (Manilkara achras L., Sapotacece) Miranda et al. (2002)
observaram que houve uma ligeira redução no teor de açúcares solúveis durante o
armazenamento dos frutos. Já o teor de açúcares redutores aumentou durante os 12 dias
de armazenamento.
Os fiutos foram coletados no município de Várzea da Roça-BA (1 1'36's e
40°09'W) localizado a 2 9 2 h da capital baiana. O município é caracterizado por
temperatura média anual de 23"C, pluviosidade média anual de 600 a 800 rnm, vegetação
intermediária entre a caatinga e floresta estaciona1 (CEI 1994).
O material vegetal utilizado foram as sementes de S. coronata retirados dos fmtos
maduros coletados diretamente dos cachos. Segundo critérios visuais, a maturidade dos
cachos foi caracterizada pela coloração amarelada uniforme da polpa (exocarpo +
mesocarpo). Os frutos recém-colhidos foram transportados até a Unidade Experimental
Horto FlorestaVUEFS, onde foram beneficiados com a retirada manual da polpa, e
colocados para secar sobre papel jornal em temperatura ambiente durante 48 horas.
3.3 LOCAL DE EXPERIMENTAÇÃO
Após o beneficiamento das sementes, armazenarnento e semeadura no decorra do
experimento observou-se a taxa de germinação e o índice de velocidade de germinqão
(IVG), no Horto Florestal (UEFS). As análise dos carboidratos foram realizadas nos
Laboratório de Química Orgânica - Departamento de Ciências ExatasIUEFS e Laboratório
de Física e Química de Alimentos - Departamento de Tecnologial UEFS.
3.4 AWlAZENAMENTO DE SEMENTES
Após a secagem, as sementes acondicionadas em sacos de papel foram
armazenadas conforme descrição na Tabela 1. Ao final de cada período de armazenarnento,
as amostras foram utilizadas aleatoriamente e submetidas as determinações de grau de
umidade, taxa de germinação e índice de velocidade de germinação das sementes.
Tabela 1 : Tipos de ambientes e condições de temperatura (T) e umidade relativa (UR)
utilizados no armazenamento de sementes de S. coronata.
AMBIENTES
Refrigerador
Ambiente úmido
Ambiente seco 25" -t 5" 53
Condição natural 25" -t 5" 72 - - -- -- -- - - -- - - -. - - - - -- - -
3.5 'TEOR DE UMIDADE DAS SEMENTES
O grau de umidade foi determinado gravimetricamente, através de estufa de
secagem (FANEM 3 15 SE) sob temperatura de 105"C, durante 72 horas, de acordo com as
Regras para Análise de Sementes (Brasil 1992), utilizando cinco repetições (lg) por
tratamento. Os resultados foram expressos em porcentagem de peso de água. peso fiesco
da semente-' (base úmida).
3.6 GERMINAÇÃO DE SEMENTES
Os testes de germinação foram conduzidos em duas condições: viveiro e câmara de
gerininação B.O.D. (FANEM 347 CDG).
3.6.1 EXPERTMENTO EM VIVEIRO
Para cada período de armazenarnento, sementes de diferentes tratamentos foram
semeadas em sacos de polietileno 24,s x 15 cm (2 Kg), contendo terra e areia na proporção
2:l . Foi colocado uma semente por saco, a profundidade de 2 cm, conforme determinado l
i por Bovi et al. (1987) e irrigados diariamente. Os sacos contendo as sementes foram
mantidos em viveiro telado com sombrite, proporcionando 30% de sombra a temperatura
18
3.6.2 EXPERLMENTO EM CÂMARA DE GERMINAÇÃO
As sementes do mesmo lote (mesmo período de armazenamento) passaram por
assepsia com soluçiZo de hipoclorito de sódio a 1% por 10 minutos e depois foram lavadas
com água destilada. Em seguida, dispostas em papel germitest, previamente esterelizado, e
urnidecidas com um volume de 50 mL de água destilada e colocadas para germinarem em
câmara de germinação (B.O.D.) com temperatura 30" f 0,5"C e fotoperíodo de 12 horas
(Crepaldi 200 1 ).
Sempre que necessário, o papel germitest foi trocado, para evitar a proliferação de
microorganismos.
3.6.3 PARÂMETROS AVALIADOS
3.6.3.1 TAXA DE GERMINAÇÃO (CÂMARA DE GERMINAÇÃO E VIVEIRO)
A germinação foi avaliada diariamente, considerando-se a semente germinada
quando surgiu a raiz primária. O experimento foi mantido por 120 dias, limite deliberado
para esse trabalho, uma vez que a literatura mostra grande variação no número de dias
(mínimo e máximo) para a germinação de sementes de palmeiras (Koebernik 1971,
Matthes & Castro 1987, Crepaldi 2001).
3.6.3.2 INDICE DE VELOCIDADE DE GERMINAÇÃO (WG)
O índice de velocidade de germinação (IVG) obtido a partir de dados do teste de
germinação, foi calculado, segundo a equação: IVG = N.D-~ + N.D- 2... Nn. D-n (onde N
corresponde ao número de sementes germinadas por dia; D = número de dias de
semeadura) (Maguire 1962).
O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado em arranjo fatorial 7x4+1,
sendo 7 os períodos de annazenarnento (30, 60, 90, 120, 180, 270 e 360 dias) em quatro
ambientes e 1 a testemunha, com 5 repetições, cada uma formada por 20 sementes,
totalizando 100 sementes para cada condição experimental.
Os dados em porcentagem foram transformados em arco-seno da raiz quadrada de
(%/100) para normalização da distribuição. Os dados foram submetidos a análise de
variância em esquema fatorial, conforme delineamento inteiramente casualizado,
comparando-se as médias pelo teste de Tukey, a 1% de probabilidade, utilizando-se o
programa estatístico SAS (SASB Institute 2000).
3.7.1 PREPARO DAS AMOSTRAS
Para o preparo das amostras, utilizou-se amêndoas das sementes estocadas nos
seguintes períodos de annazenamento: 60, 120, 180, 360 dias e testemunha (idade zero).
As amêndoas foram retiradas mediante quebra manual do endocarpo com auxílio de
uma pedra. As amêndoas foram maceradas em gral de porcelana e submetidas a
deslipidização , utilizando-se 1 50 mL de n-hexano para cada amostra em equipamento tipo
Soxleth (TECNAL TE 188) por 8 horas. As amostras deslipidizadas foram acondicionadas
em fieezer (- 14°C) até a execução das extrações e dosagem dos açúcares (Crepaldi 2001).
3.7.2 EXTRAÇÃO DE AÇÚCARES
Os carboidratos solúveis foram extraídos a partir de matéria seca, obtidas a partir de
amostras em estufa a 60°C com pesagens diárias até obtenção de massa constante (Crepaldi
A extração dos carboidratos foi feita em banho maria com agitação (QUIMIS) a
35°C por 30 minutos, utilizando-se 0.063 g. de amostra em 10 mL de água destilada. O
material foi centrifugado (centrífuga Combat Celrn) por 15 minutos a 2500g em
temperatura ambiente. O extrato foi filtrado e acondicionado em tubos com tampa e
levados ao congelador até o momento da dosagem.
3.7.2.1 DOSAGEM DE AÇÚCARES SOLWEIS TOTAIS
A dosagem do açúcar total foi feita pelo método do fenol-sulfúrico (Dubois et al.
1956).
Em 1 mL do extrato foi adicionado 1 mL de solução de feno1 a 5%. Em seguida,
adicionou-se 5 mL de ácido sulfúrico concentrado com agitação após 10 minutos. A
leitura foi realizada 30 minutos após de iniciada a reação em espectrofotômetro (FEMTO
700) a 490 nm. Os resultados das análises foram expressos em miligramas por grama de
matéria seca (mg.g-').
3.7.2.2 DOSAGEM DE AÇÚCARES SOLÚVEIS REDUTORES
A dosagem dos açúcares redutores foi realizada pelo método do Smogy-Nelson
(1945).
Em 1 mL de cada extrato foi adicionado 1mL do reagente de Nelson (A), o qual foi
aquecido a 100°C por 15 minutos. Após rápido resfiiamento, adicionou-se 1 mL de
reagente de Nelson (B). Procedeu-se então a agitação das amostras e a realização da leitura
em espectrofotômetro a 520 nrn. Os resultados foram expressos em miligramas por grama
de matéria seca (mg.g-l).
Para a constnição da curva padrão foi utilizada glicose em concentrações
conhecida.
3.7.3 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
O delineamento utilizado foi inteiramente casualizado em arranjo fatoria14 x 4 +1,
sendo 4 períodos de arrnazenamento (60, 120,180 e 360 dias), 4 tipos de ambientes e 1 a
testemunha, com 3 repetições cada uma em triplicata.
4.1 ARMAZENAMENTO DE SEMENTES
4.1.1 EFEITO DO ARMAZENAMNETO SOBRE O TEOR DE UMIDADE DAS SEMENTES
A interação ambiente x tempo de armazenamento foi significativa para o teor de
umidade, taxa de germinaqão e índice de velocidade de germinação (IVG) das sementes de
licuri. O efeito isolado do ambiente e do tempo de armazenamento foi altamente
significativo para os parâmetros avaliados (P í 0,Ol) (Tabela 2).
TABELA 2: Resumo da Análise de variância para os valores de teor de umidade (UMID),
taxa de germinação (TG), índice de velocidade de germinação (IVG) das sementes de S.
coronata submetidas a diferentes condições e período de armazenamento. Feira de Santana
(BA), 2002 e 2003.
OUADRADOS MÉDIOS
GL UMID. (%) TG (%) IVG
AMBIENTE (A) 3 22,76** 4667,31** 8843,15** O. 1 O** 0.44**
TEMPO DE ARMAZENAMENTO (T) 6 3633,78** 5448.98** 0.1 8** 0.3 1 ** 4,78**
A X T 18 3,40** 323,59** l81,32** 0.01 ** 0.02**
ADIA 18,94 24,92 35,41 0.12 0,2 1
* * = significativo ao nível de 1% de probabilidade. V =Viveiro, CG= Câmara de germinação.
As sementes apresentaram aumento de umidade em ambiente úmido. ambiente seco
e condição natural. No entanto, as diferenças significativas ocorreram principalmente entre
esses três ambientes de estocagem e refrigerador, onde a diminuição no teor de umidade
a foi bastante visível (Figura 1). l
+Remgerador -Arnb.dmido +Amb seco +Cond natural
-7- 1 -
O 30 60 90 120 180 270 360
Armazenamento (dias)
armazenarnento Condições de armazenamento
Refrigerador Ambiente úmido Ambiente seco Condição natural
18,34 abcA 19,73 abA 19,30 abcA 18,57 bA
19,02 bcAB 19,44 bA
Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas e maiúsculas nas linhas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
Figura 1 : Teor de umidade de sementes de S. coronata submetidas a diferentes condições e
períodos de armazenarnento. Feira de Santana (BA), 2002 e 2003.
A diminuição no teor de umidade das sementes em refi-igerador pode ser explicada
pelo fato de nessa condição as sementes estarem submetidas a uma temperatura e umidade
baixas, o que proporcionou perda gradativa de umidade ao longo do tempo de
armazenamento. Além disso, as sementes foram acondicionadas em sacos de papel,
embalagens permeáveis que favorecem as alterações de umidade da semente durante a