House of Night Livro #08.5 - O Juramento de Dragon (P.C.cast e Kristin Cast)
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CAPTULO UM
Oklahoma, dias atuais
A ira e a confuso se agitavam dentro de Dragon Lankford. Neferet estava mesmo deixando-os
depois de to pouco tempo desde a morte do garoto e a visita catastrfica de sua deusa?
Neferet, o que h com o corpo do novato? No deveramos seguir mantendo viglia? Com um
esforo, Dragon Lankford manteve seu tom de voz calmo enquanto se dirigia a sua Alta-Sacerdotisa.
Neferet virou seus belos olhos cor de esmeralda para ele. Sorriu-lhe suavemente.
Est certo em me recordar, Mestre da Espada. Aqueles de vocs que honraram Jack com velas
de esprito prpuras, atirem-nas na pira enquanto se pem em marcha. Os guerreiros Filhos de Erebus
mantero a viglia sobre o corpo do pobre novato pelo resto da noite.
Ser como disse, Sacerdotisa.
Dragon se inclinou profundamente ante ela, perguntando-se por que sentia comiches em sua
pele quase como se estivesse coberto de sujeira e p. Ele teve de repente um desejo inexplicvel de
tomar um banho com gua muito, muito quente. Neferet, sua conscincia lhe falou suavemente. Ela
no faz a coisa certa desde que Kalona se libertou da terra. Voc costumava sentir isso.
Dragon sacudiu sua cabea e trincou os dentes. Os acontecimentos secundrios no tinham
importncia. Os sentimentos j no tinham importncia. O dever abarcava tudo a vingana era
extrema.
Foco! Devo manter minha mente no trabalho que h para fazer!, ordenou a si mesmo, e logo
assentiu rapidamente para alguns guerreiros.
Dispersem a multido!
Neferet fez uma pausa para falar com Lenobia antes de sair do centro do campus e se dirigir s
habitaes dos professores. Dragon apenas lhe deu uma espiada. Logo depois, sua ateno se voltou
para a grande pira e para o corpo em chamas do menino.
A multido est sendo dispersa, Mestre da Espada. Quantos de ns ficaremos para fazer a
viglia com o senhor? Christopher, um de seus oficiais superiores, perguntou.
Dragon vacilou antes de contestar, lhe tomou um momento para concentrar-se o suficiente para
absorver o fato de que os novatos e professores que se aglomeravam incertamente ao redor da
brilhante pira ardente estavam agitados e completamente angustiados. O dever. Quando todo o resto
falha, recorra ao dever!
Que dois guardas escoltem os professores de volta a suas residncias. O resto de vocs ir
com os novatos. Assegurem-se de que todos regressem a suas habitaes. Permanecero perto de seus
dormitrios pelo resto desta terrvel noite. a voz de Dragon estava rouca pela emoo. Os
estudantes precisam sentir a presena protetora de seus guerreiros Filhos de Erebus para que possam
ao menos sentir-se seguros, mesmo que no paream muito seguros disso.
Mas a pira do garoto...
Eu ficarei com Jack. Dragon falou em um tom que no permitia discusso. No deixarei o
menino at que o resplendor vermelho de suas cinzas se transforme em xido. Cumpra seu dever,
Christopher, a Morada da Noite precisa de voc. Me ocuparei para que a tristeza fique apenas aqui.
Christopher fez uma reverncia e logo comeou a distribuir ordens, seguindo as ordens do
Mestre da Espada com fria eficincia.
Parecia que s haviam passado segundos quando Dragon percebeu que estava s. Ali estava o
som da pira ardente o enganosamente tranquilizador estalido do fogo. Exceto por isso, s havia a noite
e o enorme vazio no corao de Dragon.
O Mestre da Espada mirava fixamente as chamas como se pudesse descobrir o blsamo que
apaziguaria sua dor dentro delas. O fogo tremeluzia do mbar ao ouro e ao vermelho, recordando a
Dragon uma joia nica, delicada, atada por um fio de cabelo cor de sangue na lenha.
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Como se por conta prpria, sua mo enfiou-se no bolso. Seus dedos se fecharam ao redor de um
disco oval que encontrou ali. Era fino e macio. Ele podia sentir o fino indcio do pssaro azul que uma
vez havia estado gravado to clara e belamente no verso. A pea dourada descansava comodamente
em sua mo. Agarrou-a, protegeu-a e segurou-a antes de puxar lentamente o medalho o bolso. Dragon
enrolou a tira de couro aveludada pelos seus dedos, esfregando-a com seu polegar num movimento
distrado e familiar que era mais por hbito que tenso. Expulsando uma profunda respirao que soava
mais como um soluo que um suspiro, abriu sua palma e mirou o que havia.
A luz da pira de Jack se refletiu na superfcie dourada do medalho, capturando o desenho
do pssaro.
Pssaro azul, Sialia sialis, a ave do estado do Missouri! Dragon disse em voz alta.
Sua voz estava desprovida de emoo, embora a mo que segurava o medalho tremesse.
Me pergunto se todavia posso te encontrar no ambiente selvagem, no alto dos girassis que
ficam junto ao rio. Ou a sua beleza e a de todas as flores se extinguiram tambm, junto com toda a
beleza e a magia deste mundo?
Sua mo se cerrou to fortemente sobre o medalho que seus ns dos dedos ficaram brancos.
E logo, to rapidamente quanto seu punho havia fechado, Dragon afrouxou o aperto, abrindo sua
mo e voltando a admirar respeitosamente a joia de ouro outra vez.
Idiota! sua voz era entrecortada. Podia ter quebrado!
Dedos temerosos tocaram nervosamente a pea, tentando abri-la. O medalho abriu facilmente,
ileso, mostrando uma imagem que, embora desvanecida pelo tempo, ainda mostrava o rosto sorridente
de uma pequena vampira cujo olhar parecia capturar e reter o dele.
Como voc pde ir? Dragon murmurou.
Um dedo traou o antigo retrato do lado direito do medalho, e logo se moveu para a metade
esquerda da joia para acariciar um nico cacho loiro que havia ali, onde seu retrato mais jovem havia
estado uma vez. Seu olhar se moveu do medalho para o cu noturno e repetiu a pergunta mais forte,
de sua alma, pedindo uma resposta.
Como voc pde ir?
Como que em resposta a Dragon, ele escutou o ressonante grasnar peculiar de um corvo. A ira
inundou Dragon, to forte e fervente que suas mos outra vez tremeram s que desta vez no de dor
ou perda, mas pela necessidade de controlar seu instinto de golpear, mutilar, vingar.
Te vingarei. a voz de Dragon era como a morte. Mirou o medalho mais uma vez e falou para
o trmulo cacho loiro. Seu drago te vingar. Corrigirei o que permiti que sasse mal. No cometerei o
mesmo erro outra vez, meu amor. A criatura no sair impune. Te dou meu juramento.
Uma rajada de vento clido da pira soprou repentinamente forte, levantando a mecha de cabelo
enquanto Dragon tentava, sem xito, det-la, o cacho flutuou fora de seu alcance cada vez mais para
cima, pela clida corrente de ar, quase como uma pluma. Imediatamente depois, com um som parecido
com o arquejo de uma mulher, o clido vento mudou, levando a mecha de cabelo at a fogosa pira,
onde se transformou em fumaa e recordaes.
No! Dragon gritou, caindo de joelhos com um soluo. E agora perdi a ltima parte de ti.
Foi minha culpa... disse, comeando a chorar. Foi minha culpa, a sua morte foi minha culpa.
Atravs das lgrimas que enchiam seus olhos, Dragon viu que a fumaa da mecha de cabelo de
sua amada companheira redemoinhou e danou diante dele e logo comeou a brilhar magicamente,
mudando de fumaa a um p com flashes amarelos, verdes e marrons que seguiram girando vrias
vezes at que comearam a separar-se e formar partes distintas de uma imagem: os brilhos verdes se
converteram em um caule largo e grosso as delicadas ptalas amarelas de uma flor com seu centro
marrom.
Dragon limpou seus olhos inundados de lgrimas para acreditar no que estava vendo.
Um girassol?
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Seus lbios se sentiam to anestesiados pelo choque quanto seu crebro. a sua flor!, sua
mente gritou. Deve ser um sinal dela!
Anastsia! Dragon gritou apesar do entorpecimento, dando um passo terrvel e
maravilhosa centelha de esperana. Est aqui, minha amada?
A imagem do girassol tremulou e comeou a flutuar e mudar. O amarelo fluiu em uma cascata
que se transformou em louro dourado. O marrom clareou para tomar o tom da pele beijada pelo sol, e o
verde se fundiu com a pele, derretendo-se e tornando-se brilhantes orbes que se converteram em olhos
que eram de um turquesa familiar e adorado.
Oh deusa, Anastsia! voc!
A voz de Dragon se quebrou enquanto tratava de alcan-la. Mas a imagem se elevou um
brilho brincalho alm da ponta de seus dedos. Ele gritou em frustrao e logo reprimiu o som de seu
sofrimento enquanto a voz de sua companheira comeava a verter-se ao redor dele como uma corrente
de gua musical sobre seixos. Dragon se conteve em alento e escutou a mensagem.
Eu enfeiticei este medalho para ti, meu amado, meu companheiro.
Chegou o dia em que a morte nos obrigou a nos separar.
Deve saber que, para sempre, estarei esperando por ti.
At que nos encontremos, mantenho seu amor seguro dentro do meu corao.
Lembre, seu juramento era equilibrar a fora com a misericrdia.
No importa quanto tempo estivermos separados, tem que cumprir esse juramento.
Eternamente... eternamente...
A imagem sorriu-lhe uma vez antes de perder sua forma e voltar a ser fumaa, e logo nada.
Meu juramento! Dragon gritou, colocando-se de p. Primeiro Nyx e agora voc me recorda.
No entende que por culpa desse maldito juramento voc est morta? Se tivesse escolhido de maneira
diferente h muitos anos, talvez tivesse evitado tudo isso que passou. A fora equilibrada pela
misericrdia foi um erro. No se lembra, minha amada? No se lembra? Eu sim. Nunca esquecerei...
Enquanto Dragon Lankford, Mestre da Espada da Morada da Noite, mantinha viglia sobre o
corpo de um calouro cado, manteve-se olhando a ardente pira e deixou que as chamas o levassem de
volta para que ele pudesse reviver a dor e o prazer a tragdia e o triunfo de um passado que havia
dado forma a um futuro desolador.
CAPTULO DOIS
1830, Inglaterra
Pai, no pode renegar-me e expulsar-me para as Amricas, sou seu filho!
Bryan Lankford, terceiro filho do Conde de Lankford, sacudiu sua cabea e olhou incrdulo para
seu pai.
meu terceiro filho. Tenho outros quatro, dois mais velhos e dois mais jovens. Nenhum to
problemtico quando voc. A sua existncia e seu comportamento fazem com que seja muito simples
fazer isto.
Bryan ignorou a comoo e o pnico que tentavam se libertar de seu interior por causa das
palavras do pai. Se forou a relaxar e se curvar despreocupadamente contra a porta de madeira prxima
enquanto lhe dava um sorriso, aquele encantadoramente belo que as mulheres no resistiam e que
fazia os homens desejarem ser como ele.
A expresso fechada e inalterada do Conde dizia que estava consciente do sorriso de Bryan
Lankford e era totalmente indiferente a ele.
Minha deciso est tomada, garoto. No se desonre ainda mais com splicas inapropriadas.
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Splicas! Bryan sentiu uma ira familiar agitar-se. Por que seu pai tinha sempre que diminu-
lo? Nunca havia suplicado por nada em sua vida e no seria agora que iria comear, sem importar as
consequncias. No te imploro, pai. Simplesmente estou tratando de raciocinar contigo.
Raciocinar? Novamente me causa vergonha por culpa de seu temperamento e sua espada e
me pede para raciocinar?
Pai, foi apenas uma briga, e com um escocs! Nem sequer o matei. Na realidade, feri mais sua
vaidade que seu corpo.
Bryan tentou uma risada, mas foi cortado pela tosse que o esteve incomodando o dia todo, s
que dessa vez foi seguida por uma onda de fraqueza. Estava to distrado pela traio de seu corpo que
no tentou resistir quando de repente seu pai diminuiu a distncia entre eles e com uma mo pegou o
leno que rodeava o pescoo de Bryan e o colocou contra a parede do estbulo com uma fora que o
pouco ar que lhe restava escapou. Com a outra mo o Conde golpeou a ainda sangrenta espada do dbil
aperto de Bryan.
Seu pequeno fanfarro presunoso! Esse escocs era um Lorde vizinho! Suas terras fazem
fronteira com as minhas, como voc sabe, j que sua filha e sua cama esto a uma curta cavalgada de
nossa propriedade!
O rosto do Conde, enrijecido pela fria, estava to perto de seu filho que sua saliva choveu sobre
Bryan.
E agora as suas aes impetuosas deram a esse Lorde todas as provas que precisa para ir ao
nosso tonto novo rei falante e pedir reparaes pela perda da virgindade de sua filha.
Virgindade! Bryan conseguiu falar a virgindade de Aileene estava perdida muito antes que
eu a encontrasse;
Isso no importa! o Conde apertou ainda mais o punho com que sustentava seu filho. O
que importa que voc foi um imbecil atrapalhado e agora esse dbil rei tem todas as desculpas que
precisa para olhar para o outro lado quando um grupo de ladres do norte se precipitar at o sul para
roubar o gado. Atrs do gado de quem acha que eles iro, meu filho?
Bryan podia apenas arquejar e sacudir sua cabea. Com um olhar de desprezo, o Conde de
Lankford soltou seu filho, permitindo-lhe cair, tossindo violentamente, no sujo cho do estbulo. Ento o
nobre falou aos jaquetas vermelhas, membros de sua guarda pessoal que estiveram observando
suavemente o infortnio de seu filho, e acenou ao alto comandante, salpicado de varola, de sua
esquadra.
Jeremy, como te ordenei, amarre-o como o sem-vergonha que . Escolha mais dois homens
para te acompanhar. Levem-no ao porto. Coloquem-no no prximo barco para as Amricas. No quero
v-lo nunca mais. J no meu filho.
Ento se virou para o rapaz dos estbulos.
Traga meu cavalo. Desperdicei tempo suficiente de meu precioso tempo com esta estupidez.
Pai! Espere, eu... Bryan comeou, mas outro ataque de tosse cortou suas palavras.
O Conde s se deteve para olhar seu filho de cima.
Como j te expliquei, substituvel e j no de minha incumbncia. Levem-no!
No pode deixar-me assim! chorou. Como viverei?
Seu pai fez um gesto para a espada de Bryan, que jazia no cho longe dele. Havia sido um
presente pelo seu dcimo terceiro aniversrio, e mesmo na penumbra do estbulo, as joias incrustadas
no punho brilhavam.
Talvez isso seja de melhor uso em sua nova vida do que foi para mim em sua antiga vida.
Permitam-lhe levar sua espada se dirigiu aos guardas. e nada mais! Tragam-me o nome do barco e
a marca de seu capito como prova de que deixou a Inglaterra que tenha ido antes que a manh
chegue, e haver uma bolsa de prata esperando para ser dividida entre vocs. falou o velho homem e
logo se dirigiu ao cavalo que esperava.
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Bryan Lankford tentou gritar a seu pai para dizer-lhe o quanto se arrependeria depois, quando
recordasse que seu terceiro filho era, de fato, o mais problemtico, mas tambm talentoso, inteligente e
interessante mas outro ataque de tosse se apoderou do garoto de dezessete anos to fortemente que
apenas pde arfar sem fazer nada e ver seu pai galopar para longe. No pde nem lutar quando a
guarda do Conde lhe amarrou e o arrastou pelo cho do estbulo.
J era hora de um pequeno galo de briga como voc ser humilhado. Vamos ver o quanto voc
gosta ser comum.
Rindo bastante, Jeremy, o mais antigo e pomposo dos guardas do pai de Bryan, atirou o garoto
na traseira de uma charrete, inclinando-se antes para alcanar a espada de Bryan e, com um olhar
ganancioso ao ver a brilhante empunhadura, meteu-a em seu cinto.
***
No momento em que Bryan chegou ao porto estava escuro, tanto o cu quanto o seu corao.
No apenas havia sido deserdado por seu pai e expulso de sua famlia e da Inglaterra, mas tambm
estava tornando-se cada vez mais claro que estava nas garras de uma horrvel praga. Quo rpido o
mataria? Antes que entrasse num dos fedidos navios, ou morreria depois de ser arrastado para dentro
de um dos barcos mercantes que se balanavam nas guas escuras da baa?
No vou levar nenhum jovenzinho tossindo como esse a bordo. o capito do barco levantou
sua lamparina mais acima, examinando o rosto do garoto amarrado que tossia. No. franziu o cenho
e sacudiu a cabea. Ele no cruzar o mar comigo.
Este o filho do Conde de Lankford. Voc o levar ou ter que responder ao senhor o porqu
de no ter feito. grunhiu o guarda superior do Conde.
No vejo nenhum conde aqui. Vejo um garoto salpicado de merda que tem febre. o homem
do mar cuspiu na areia. E no responderei a ningum, especialmente a um conde inexistente, se eu
morrer por causa da doena desse moleque.
Bryan tentou sufocar a tosse no para tranquilizar o capito, mas para descansar a queimao
no peito. Estava segurando sua respirao quando o homem saiu das sombras, alto, magro e vestido de
negro, sua pele plida em contraste com a escurido que parecia rode-lo. Bryan tremeu, perguntando-
se se seu olhar febril o estava enganando aquilo era realmente uma tatuagem de lua crescente no
meio de sua testa, rodeada de mais tatuagens? Sua viso estava borrada, mas Bryan estava quase
seguro de que as tatuagens luziam como espadas cruzadas.
Ento a razo alcanou a viso e Bryan sentiu uma sacudida de reconhecimento. A lua crescente
e as tatuagens ao redor s podiam significar uma coisa: o homem no era um homem era um
vampiro! Foi ento que a criatura levantou a mo, com a palma virada para cima, apontando
diretamente para Bryan. O garoto observou assombrado as espirais que decoravam a palma, e o
vampiro falou algumas palavras que alterariam para sempre a sua vida.
Bryan Lankford! A Noite escolheu a ti. Tua morte ser o teu renascimento. A Noite o chama;
escute a Sua doce voz. Seu destino o espera na Morada da Noite!
O dedo comprido da criatura apontou para Bryan e seu rosto explodiu em dor enquanto sentia o
contorno de uma lua crescente queimar em sua pele. Os homens de seu pai reagiram
instantaneamente. Tiraram Bryan e se afastaram dele, mirando com horror o menino vampiro. Notou
que o capito do barco havia deixado sua lamparina balanando na areia e desapareceu na escurido.
Bryan no viu nem escutou o vampiro chegar perto viu apenas os guardas moverem-se
nervosamente, se agrupando atrs de Jeremy, as espadas meio desembainhadas, a indeciso clara em
seus rostos e aes. Os vampiros guerreiros tinham uma impressionante reputao. Seus servios de
mercenrios eram muito solicitados, porm excetuando a beleza e a fora de suas mulheres, e o fato de
que adoravam uma deusa escura, a maioria dos humanos sabia pouco de sua sociedade e de seu
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funcionamento. Bryan observou Jeremy tentar decidir se aquela criatura, que era obviamente o que
chamavam de rastreador, era tambm um perigoso vampiro guerreiro.
Logo sentiu um forte agarre em seu brao, e Bryan foi posto de p para enfrentar a criatura.
Regressem de onde vieram. Esse garoto agora um calouro Marcado, e como tal, j no sua
responsabilidade. o vampiro falou com um estranho sotaque, falando as palavras languidamente, o
que s aumentava o mistrio e a sensao de perigo que ele emanava.
Os homens vacilaram, todos olhando seu chefe, que falou rapidamente, chegando a soar
arrogante e agressivo ao mesmo tempo.
Necessitamos de provas para seu pai de que deixou a Inglaterra.
Suas necessidades no me interessam. o vampiro disse solenemente. Diga ao pai do
garoto que ele estar a bordo de um barco esta noite, embora um mais escuro do que aquele que vocs
humanos planejaram. No tenho nem o tempo nem a pacincia para dar-lhes mais provas que minha
palavra.
Ento o vampiro virou-se para Bryan.
Venha comigo. Seu futuro te espera.
Com um movimento de seu sobretudo negro, o vampiro girou e comeou a andar pelo porto.
Jeremy esperou que a criatura fosse tragada pela escurido. Ento encolheu os ombros e mirou
Bryan com desgosto, antes de dizer:
Nossa misso est completa. O senhor ordenou que pusssemos seu filho doente em um
barco, e para onde ele est indo. Vamos sair deste lugar malfico e regressar s nossas camas
quentes na propriedade Lankford.
Os homens estavam se afastando quando Bryan se ergueu. Ele tomou um instante para respirar
fundo e saborear o alvio que sentiu quando a tosse debilitante e asfixiante no veio. Logo, deu um
passo a frente e falou com uma voz que era, novamente, forte e firme.
Devem deixar minha espada.
Jeremy se deteve e enfrentou Bryan. Lentamente, sacou a espada de seu cinto. Ignorou Bryan e
em seu lugar estudou as pedras preciosas incrustadas no punho. Seu sorriso era ganancioso e seus
olhos estavam frios quando finalmente virou para Bryan.
Tem ideia de quantas vezes seu pai me chamou de minha cama quente para te buscar de
alguma briga em que tinha se metido?
No, no tenho. Bryan respondeu bruscamente.
Claro que no. A nica coisa com que voc se preocupa so seus prprios prazeres. Assim,
agora que foi deserdado e no mais da nobreza, ficarei com a espada e o dinheiro que ganhar por
vend-la. Pense nisso como pagamento pela dor no traseiro que voc tem sido nesses ltimos anos.
Bryan sentiu uma onde de raiva, e com ela veio uma onde calor por todo seu corpo. Agindo por
instinto, o garoto diminuiu a distncia entre ele e o arrogante guarda. Em alguma parte de seu crebro,
Bryan sabia que seus movimentos eram inexplicavelmente rpidos, mas se manteve centrado na ideia
que era uma fora impulsiva nele: a espada minha ele no tem nenhum direito.
Como um borro em movimento, Bryan pegou a mo da espada de Jeremy, e com o mesmo
movimento a tomou. Quando os outros guardas se adiantaram, ele arremeteu por baixo e cravou a
ponta da espada diretamente no p do homem mais prximo, fazendo o guarda dobrar-se em dois e cair
no cho em agonia. Bryan puxou-a automaticamente e, mudando de direo, golpeou o segundo guarda
de um lado da cabea, deixando-o aturdido. Movendo-se com uma graa mortal, Bryan seguiu o
movimento de sua espada, girando ao redor, e terminando com a ponta afiada pressionada to
firmemente contra o pescoo de Jeremy que sua pele pingava gotas de sangue.
Essa espada minha. No tem nenhum direito sobre ela. Bryan escutou sua voz falando
seus pensamentos em voz alta, e estava surpreso do quanto soou normal no estava sequer
respirando com dificuldade.
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No havia como Jeremy ou algum dos outros guardas cados saberem que todo o seu interior
estava queimando em ira e desejo de vingana.
Agora diga porque no deveria cortar sua garganta.
Adiante. Golpeie-me. Seu pai uma vbora, e mesmo deserdado filho de uma serpente.
Bryan ia mat-lo. Ele queria sua raiva e seu orgulho pediam isso. E por que no deveria mat-
lo? O guarda era apenas um campons, e um que o havia insultado, ao filho de um conde! Porm antes
que Bryan pudesse cortar o pescoo do guarda, a voz do vampiro deslizou no ar entre eles.
No desejo ser perseguido e talvez interrogado pela Marinha Britnica. Deixe-o viver. Seu
destino, voltar a servir aqueles que deprecia, um castigo muito maior que uma morte rpida.
Ainda sustentando a ponta da espada no pescoo do guarda, Bryan olhou para trs, para o
vampiro. O vampiro falou com uma voz calma que soou quase zangada, contudo sua ateno estava na
garganta do guarda e nas pequenas gotas escarlates que a espada havia libertado. O bvio desejo do
vampiro intrigou tanto quanto horrorizou o jovem. nisso que me transformei? Bryan empurrou o guarda
para longe.
Ele tem razo. Sua vida um castigo muito maior que minha espada. Volte a ela e amargura
com que a vive.
Sem olhar ao homem mais uma vez, Bryan lhe deu a espada e caminhou para junto do vampiro.
O vampiro inclinou sua cabea em um pequeno gesto de reconhecimento.
Tomou a deciso correta.
Me insultou. Deveria t-lo matado.
O vampiro inclinou a cabea para um lado, como se pensasse na soluo de um problema.
Foi um insulto cham-lo de serpente?
Bem, sim. Chamar-me de dor no traseiro e roubar-me o que meu tambm foi um insulto.
O vampiro riu suavemente.
No um insulto ser chamado de serpente. H criaturas aliadas com a nossa Deusa, mas no
creio que ele estivesse nomeando-o como uma. Vi que venceu esses trs homens. Parece mais com um
drago que com uma serpente.
Enquanto Bryan ficava sem palavras em surpresa, ele continuou.
E os drages esto por cima dos pequenos insultos que os simples mortais pudessem lanar-
lhes.
H drages na Amrica? Bryan soltou o primeiro dos confusos pensamentos que enchiam
sua mente.
O vampiro riu novamente.
No ouviu? A Amrica est cheia de maravilhas.
Ento fez um movimento de varrer com a mo, gesticulando para mais ao longe no porto.
Vamos, temos que marchar para que possamos nos cobrir. Passamos tempo suficiente nestas
costas arcaicas. Minhas lembranas da Inglaterra no eram boas, e nada do que encontrei enquanto te
esperava fez algo para melhor-las.
O vampiro comeou a descer aos limites do porto com Bryan quase correndo para acompanhar
as longas passadas.
Disse que estava me esperando?
Sim, estive te esperando. ele confirmou, ainda movendo-se deliberadamente pelo porto
escuro.
Sabia sobre mim?
O vampiro assentiu, fazendo com que seu longo cabelo castanho cobrisse seu rosto.
Sabia que havia um calouro que devia esperar para Marcar. ele olhou para Bryan e seus
lbios se inclinaram em um leve sorriso. Voc, jovem drago, o ltimo novato que Marcarei.
Bryan franziu as sobrancelhas.
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Seu ltimo novato? O que vai acontecer?
Bryan tentou no soar preocupado. Depois de tudo, no conhecia bem o vampiro. E a criatura
era um vampiro: misterioso, perigoso e estranhamente convincente. O sorriso do vampiro aumentou.
Terminei meu servio como Rastreador de Nyx. Agora posso retornar a minha posio de
guerreiro Filho de Erebus a servio da Morada da Noite de Tower Grove.
Tower Grove? Isso fica na Amrica?
O estmago de Bryan se tencionou. Quase havia esquecido que sua vida tinha virado de cabea
para baixo em menos de um dia.
De fato, fica na Amrica. Saint Louis, Missouri, para ser exato.
O vampiro havia chegado ao final do porto o escuro final, Bryan observou, enquanto ouvia a
gua chapinhando ao redor de um grande barco, mas no podia ver mais que uma sombra descomunal
flutuando na gua. Notou que o vampiro havia parado junto a ele e o observava cuidadosamente. Bryan
olhou diretamente em seus olhos, embora seu corpo se sentisse mais como uma mola prestes a ser
lanada a qualquer momento.
Eu sou Shaw. o vampiro apresentou-se finalmente, e estendeu a mo para Bryan.
Eu sou Bryan Lankford. Bryan fez uma pausa e esboou um sorriso que era apenas meio-
sarcstico. Sou o ex-filho do Conde de Lankford, mas acho que j sabia disso.
Quando Shaw tomou a mo de Bryan, saudou-o maneira tradicional dos vampiros, agarrando
seu antebrao em vez da mo. Bryan imitou seu movimento.
Merry meet, Bryan Lankford. Shaw falou. Ento soltou o brao do jovem e fez um gesto na
direo da escurido e ao barco que estava escondido nela.
Este o Barco da Noite, que levar a mim, e talvez a ti, at a Amrica, para a minha amada
Morada da Noite em Tower Grove.
Talvez a mim? Mas pensei...
Shaw levantou uma mo, silenciando Bryan.
Deve, de fato, deve unir-se a uma Morada da Noite, e rpido. Essa Marca... Shaw apontou
para o contorno azul-safira de uma lua crescente que ainda doa no centro da testa de Bryan. ...
significa que deve estar na companhia de vampiros adultos at que complete a Mudana, ou at que...
Shaw vacilou.
Ou at que morra. Bryan completou.
Shaw assentiu solenemente.
Assim que souber algo acerca do mundo em que est para entrar, jovem drago, ou
completar a transformao em algum momento dos prximos quatro anos ou morrer. Esta noite
comeou um caminho do qual no h volta. Agora, os guardas disseram a seu pai que se uniria comigo
em minha viagem ao Novo Mundo, mas a verdade que voc no precisa ir para l. Pode escolher ficar
na Inglaterra. No foi s o seu destino que mudou quando foi Marcado.
Para melhor ou para pior? Bryan perguntou.
Para exatamente o que fizer dele, e Nyx estar de acordo. disse enigmaticamente e em
seguida continuou: No pode controlar se completar ou no a Mudana com xito, mas pode
controlar onde passar os prximos anos. Se deseja permanecer na Inglaterra, posso fazer com que seja
levado Morada da Noite de Londres.
O rastreador descansou brevemente sua mo no ombro de Bryan.
No necessita da permisso da sua famlia para perseguir o futuro que mais deseja.
Posso escolher ir com voc? Bryan perguntou.
Sim, mas antes que tome sua deciso, creio que h algo que deveria ver.
Shaw virou para enfrentar o barco, que para o garoto era uma sombra enorme e escura
descansando sinistramente sobre a gua, atada por cordas incrivelmente grossas. Como se no tivesse
problemas para ver na espessa cobertura da noite, Shaw deu dois passos para a borda do cais e fez
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algo que desconcertou Bryan totalmente. Girou para enfrentar o sul, levantou as mos e disse quatro
palavras em voz baixa:
Fogo, venha a mim.
Instantaneamente Bryan ouviu um crepitar e sentiu uma onda de calor no ar ao seu redor. Ficou
sem ar quando uma bola de fogo tremeluzente se formou entre as mos estendidas de Shaw. O vampiro
jogou o fogo, como se lanasse um bola, e o que Bryan via agora era uma comprida tocha, a parte
superior empapada em leo se acendeu instantaneamente.
Demnios! Bryan no pde conter sua surpresa. Como fez isso?
Shaw sorriu.
Nossa Deusa me abenoou com mais habilidades que as de um guerreiro, mas no era isso
que eu queria que visse.
Shaw levantou a tocha e a manteve na frente deles para que a orgulhosa proa do enorme barco,
feita de uma madeira to negra de Bryan pensou que havia sido moldada da prpria noite, tornou-se
visvel de pronto. E logo o garoto ficou surpreso quando se deu conta do que realmente estava vendo.
um drago. disse, mirando a figura da proa.
Era verdadeiramente espetacular um drago negro com as garras estendidas, mostrando os
dentes, ferozmente pronto para tomar o mundo.
Me parece que, depois dos eventos dessa noite, um bom agouro. disse Shaw.
Bryan se pegou mirando o drago e se encheu com a mais intensa inundao de sentimentos
que jamais havia experimentado. Tomou-lhe um momento para compreender o que eram: excitao,
antecipao e saudade, todos unidos em seu interior para criar um simples sentido de propsito.
Encontrou o olhar do vampiro.
Eu escolho o drago.
CAPTULO TRS
Tower Grove, Morada da Noite
Saint Louis, 1833
Merry meet, Anastsia! Por favor, venha. uma coincidncia que esteja aqui. Diana e eu
estvamos discutindo quo feliz estamos por ter um professor em tempo integral, e eu ia cham-la para
te dizer que estou contente de voc ter se adaptado aqui em Tower Grove.
Merry meet, Pandeia, Diana. respondeu Anastsia, colocando a mo direita sobre seu
corao e inclinando a cabea respeitosamente Grande Sacerdotisa, Pandeia, e depois Diana, antes
de entrar na ampla habitao decorada.
Oh, vamos, no precisa ser to formal conosco quando no estamos na companhia de
calouros. replicou Diana, professora de Sociologia e companheira vampira da Sacerdotisa.
A Sacerdotisa deu-lhe as boas-vindas enquanto acariciava uma gata Calica. um raro gato de
trs cores que repousava sobre seu colo, ronronando fortemente.
Obrigada. Anastsia disse em uma voz tranquila que soava mais velha que seus vinte e dois
anos.
Diana sorriu.
Ento, conte-nos, s est aqui faz quinze dias. J se estabeleceu? como estar em casa para
voc?
Casa, Anastsia pensou automaticamente, nunca havia estado to bem e to livre. Rapidamente
mandou os pensamentos para longe e respondeu com cortesia e honestidade.
No minha casa ainda, mas sinto que ser. Gosto muito da pradaria e dos exuberantes
jardins.
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Seu olhar se moveu da gata Calica para o macho rajado de cinza que havia comeado a andar
ao redor das pernas da Sacerdotisa. Ento ela notou surpresa que os dois gatos tinham seis dedos em
cada para dianteira.
Eles tm seis dedos nas patas? Nunca vi tal coisa.
Diana tomou a pata da gata Calica.
Alguns dizem que os polidctilos so aberraes da natureza. Mas creio que so apenas mais
avanados que os gatos comuns. So meio que como os vampiros, mais avanados que os seres
humanos normais.
Oh, Deusa, se parecem com luvas! Espero que agora que encontrei a minha Morada da Noite,
um gato me escolha tambm. Seria maravilhoso se tivesse seis dedos em suas patas! ento se deu
conta de que estava dizendo seus tolos pensamentos em voz alta e se apressou a acrescentar:
naturalmente, estou desfrutando muito de meus alunos e da minha nova sala de aula.
Me deixa feliz ouvir isso. Pandeia falou, rindo em voz baixa. E no h nada de mal em
desejar um gato, com ou sem seis dedos em suas patas. Jovem Anastsia, Diana e eu estvamos a
ponto de tomar um vinho com gelo na varanda. Por favor, junte-se a ns.
Agradeo o convite. Anastsia falou com humildade, lembrando-se de no dizer nenhuma
besteira.
Ela seguiu as mulheres e seus gatos, passou pelas portas francesas e saiu para uma varanda. A
encantadora luz da lua banhava os assentos de mrmore branco e a mesa, sobre a qual havia um vaso
de cristal gravado com uma lua crescente perfeita, cheio de rosas vermelhas, e ao seu lado havia um
cubo de prata cheio de gelo e uma jarra de vinho da cor de cerejas maduras. A vidraria gravada com os
crescentes se emparelhava ao magnfico vaso de flores que brilhava com a luz prateada da lua cheia.
As rosas, o gelo, o vinho e a vidraria. Estou acostumada simplicidade e s regras, apesar de
que ambos tenham sido atenuados pelo amor. Alguma vez me acostumarei a tais luxos?, Anastsia
refletiu, sentindo-se completamente incomodada enquanto sentava em uma das cadeiras e tratava de
no alisar seus compridos cabelos loiros ou arrumar obsessivamente o seu vestido. E logo ela se ps de
p.
Eu... Eu, deveria servir o vinho a voc, Sacerdotisa. ela falou rindo nervosamente para a
Grande Sacerdotisa.
Pandeia riu e com cuidado afastou a mo de Anastsia da jarra.
Anastsia, filha, por favor, sente-se e se recomponha. Sou uma Grande Sacerdotisa, o que
quer dizer que sou mais do que capaz de servir vinho para mim e meus convidados.
Diana beijou sua companheira suavemente na bochecha antes de sentar.
Voc, minha querida, mais do que capaz em muitas, muitas coisas.
Anastsia viu as bochechas de Pandeia corarem ligeiramente enquanto o par compartilhava um
olhar ntimo. As bochechas de Anastsia esquentaram quando pensou em seus ltimos seis anos na
sociedade da Morada da Noite. Primeiro como uma novata, logo como uma sacerdotisa em formao e
agora como professora. s vezes ela ainda se surpreendia com a sexualidade aberta.
Se perguntava o que sua me pensaria dessa sociedade matriarcal. Aceitaria tranquilamente ter
sua filha Marcada e transformada em vampira? Ou seria demais para ela uma impresso demasiada
forte e a condenaria, como o resto da comunidade?
Ns a envergonhamos? Diana perguntou com um sorriso em sua voz.
Anastsia mudou seu olhar rapidamente para a Sacerdotisa e sua companheira.
Oh, por amor a terra viva, no! ela exclamou, e logo sentiu seu rosto esquentar e sabia que
estava ruborizando.
Havia soado igual a sua me, e saber disso lhe deu vontade de meter-se debaixo da mesa e
desaparecer. Voc j no uma criana tmica, Anastsia se recordou com firmeza, uma vampira
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12
completamente mudada, uma professora e sacerdotisa. Ela levantou o queixo e tratou de agir confiante
e madura.
Pandeia lhe sorriu amavelmente e levantou uma das trs taas de cristal que acabara de encher.
Eu gostaria de propor um brinde. Ao seu sucesso, Anastsia, e concluso da sua primeira
quinzena de ensino como nossa professora de feitios e rituais. Para que possa amar a Morada da Noite
de Tower Crove como ns o fazemos.
A Sacerdotisa levantou a mo que sustentava a taa de vinho. Fechou os olhos e Anastsia viu
que ela movia os lbios em silncio, e logo fez um movimento de pegar o ramo de rosas, como se
estivesse recolhendo sua fragrncia, antes de estalar os dedos em cada uma das trs taas. Anastsia
viu com assombro o modo como o vinho de sua taa redemoinhou por um instante, e esse redemoinho
lquido era o desenho de uma rosa perfeita.
Oh, Deusa, ela evocou o esprito no vinho! Anastsia exclamou.
Pandeia no evocou o esprito. O esprito sua afinidade. Nossa Sacerdotisa fez uma petio
de amor em honra a ti, jovem Anastsia, e a rosa felizmente a cumpriu. Diana explicou.
Anastsia exalou um grande suspiro.
Tudo isso... fez um pausa e seu olhar se fixou na mesa, nas duas vampiras, em seus
contentes gatos e no ambiente que as rodeava. ... me enche com tal sentimento que como se meu
corao estivesse aponto de explodir em meu peito! ento ela se sentiu envergonhada. Perdoem-
me. Sou como uma criana. Apenas quero expressar o meu agradecimento por estar aqui, por terem me
escolhido para esta Morada da Noite como professora.
Vou compartilhar um segredo com voc, Anastsia. A afinidade de Pandeia com o esprito fez
muitos vampiros maiores e mais experientes que voc sentirem que seu corao poderia explodir.
disse Diana. S que eles estavam demasiado cansados para admitir. Gosto de sua honestidade. No
a perca medida que envelhecer.
Vou tentar no perd-la. Anastsia concordou, e tomou um gole rpido de seu vinho
enquanto tratava de ordenar seus pensamentos para decidir exatamente como revelaria a Pandeia e a
Diana a verdadeira razo pela qual ela tinha vindo esta noite.
Ento se arrependeu de ter bebido o vinho. Estava, claro, mesclado com sangue, e o poder
faiscava em todo o seu corpo, aumentando seu nervosismo junto com o resto de seus sentidos.
A mim tambm agrada a sua honestidade. a Alta-Sacerdotisa falou para Anastsia entre as
sorvidas de seu prprio vinho, que parecia no afet-la em nada. Foi uma das razes por que foi
escolhida para preencher a vaga como nossa professora, apesar de s ter tido dois anos de treinamento
formal em feitios e rituais. Voc deve saber que veio muito bem recomendada pela sede da Morada da
Noite da Pensilvnia.
Meu mentor era amvel, Sacerdotisa. Anastsia respondeu, deixando sua taa na mesa.
Recordo que tambm expressou que estava estreitamente ligada ao elemento terra.
Pandeia lembrou. Qual a outra razo pela qual sentiu que seria uma boa opo para a nossa
Morada da Noite? Esta realmente a porta para o oeste. Aqui, o mistrio e a majestosa terra selvagem
se estendem, como um convite para ns lugar que pensei que voc apreciaria e encontraria seu dom.
Sim, mas eu no pretendo ter uma afinidade real com a terra. Anastsia explicou. Admito
que sinto uma forte conexo com a terra e, s vezes, quando tenho um pouco de sorte, a terra me
empresta um pouco de seu poder.
Pandeia assentiu e sorveu seu vinho.
Voc sabe que as sacerdotisas no descobrem que tm uma verdadeira afinidade com um
elemento at que no tenham servido a deusa por muitas dcadas. Voc, por outro lado, tem uma
afinidade com a terra que bastante desenvolvida, e ainda muito jovem, Anastsia.
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No se ofenda com a minha pergunta, mas qual exatamente a sua verdadeira idade? Voc
parece quase exatamente como uma recm-Marcada que ainda no passou pela Mudana. disse
Diana, atenuando sua dura pergunta com um sorriso.
Diana. a voz de Pandeia era amvel, mas seu olhar de desaprovao era claro enquanto
olhava para sua bela companheira. Eu no convidei Anastsia para interrog-la.
A pergunta no me incomoda, Sacerdotisa. Na realidade, estou acostumada a isso. falou
para Pandeia.
Ento voltou-se para Diana. Anastsia levantou um pouco o queixo.
Tenho vinte e dois anos. Minha Sacerdotisa e mentora da Pensilvnia me disse que acreditava
que eu era o vampiro mais jovem dos Estados Unidos a lecionar integralmente. uma honra estar a
altura das expectativas e, na realidade, serei muito aplicada na sala de aula com meus alunos.
Filha, no tenho dvida de que aplicada, mas gostaria que fosse mais como a terra.
Pandeia observou.
Como a terra? Perdoe-me, mas ento entendi o que quis dizer.
Ser como a terra tomar suas caractersticas. Ser vibrante como um ramo de flores, frtil
como um campo de trigo, sensual como um pessegueiro maduro. No apenas sentir-se conectada com a
terra, mas deixar que ela te inspire com suas maravilhas.
E lembre-se que voc uma vampira e leciona para calouros. No h necessidade de se vestir
como uma professora de escola para humanos oprimidos. Diana acrescentou.
Eu... eu no quero ser leviana. Anastsia admitiu vacilante, mirando seu decote alto, a blusa
sem adornos e saia simples que sempre havia usado e odiado desde que se uniu Morada da Noite
e comeou a ensinar h duas semanas. Tenho quase a mesma idade que meus alunos, s vezes
difcil para eles lembrar que sou uma professora.
Pandeia assentiu em sinal de compreenso.
A verdade que est perto da idade de muitos de nossos calouros. Meu conselho fazer algo
mais com a semelhana entre vocs.
Estou de acordo. Diana concordou. Utilize sua juventude como algo positivo em vez de
tentar escond-la atrs dessa roupa, que qualquer anci abandonaria se tivesse gosto.
Com a pausa de Diana, Anastsia notou pela primeira vez o esvoaante vestido negro de seda
que ela usava, e ento a cala de cintura alta e a blusa de decote baixo que sua companheira vestia.
Anastsia, o que Diana est tentando dizer que no h nada de mal em ser jovem.
Pandeia falou, retomando o dilogo. Estou segura de que as crianas se sentiriam mais vontade
falando de suas preocupaes com voc, j que no tem a coragem de falar com qualquer um de ns.
Anastsia suspirou de alvio, pois era a oportunidade perfeita para falar o que tinha em mente.
Sim, verdade. Na realidade, foi por isso que as procurei esta noite.
Pandeia franziu o cenho.
H algum problema com os estudantes do qual eu deveria ser notificada?
Se refere a Jesse Biddle? Diana falou o nome como se deixasse um gosto amargo na boca.
Biddle um problema para todos ns, vampiros e calouros por igual, sobretudo desde que,
desacertadamente, o povo de Saint Louis o nomeou delegado. Pandeia acrescentou. Ento seu olhar
se estreitou enquanto encarava Anastsia. Ele est importunando nossos novatos?
No, no que eu saiba. Anastsia fez uma pausa e engoliu em seco, tratando de ordenar
seus pensamentos, de modo que sua Alta-Sacerdotisa encontrasse valor em suas palavras. Os
calouros no gostam de Biddle, mas ele no o tema principal em nossa conversa. Outra pessoa , em
minha opinio, o verdadeiro problema na Morada da Noite.
Quem a preocupa tanto?
O novato que eles chamam de Dragon Lankford. Anastsia respondeu.
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14
Ambas as vampiras ficaram caladas por vrios batimentos do corao de Anastsia. Ento
pareceu que Diana tentou ocultar um sorriso tomando um gole de seu vinho enquanto Pandeia levantou
uma sobrancelha para Anastsia e perguntou:
Dragon Lankford? Mas ele esteve longe de Tower Grove competindo nos Jogos Vampricos
nessas suas ltimas semanas. Vocs nem se encontraram ainda, e j diz que ele de alguma maneira
um problema para voc?
No, para mim no. Bom, sim, suponho que o problema tem a ver comigo, mesmo que
tecnicamente no seja meu. Anastsia massageou sua testa. Espere, comearei outra vez. Voc me
perguntou se havia um problema entre os estudantes do qual deveria ser notificada. Minha resposta
sim, realmente sei de um problema, e ele foi criado pelo que s posso chamar de uma obsesso por
esse estudante quintanista a quem os alunos chamam de Dragon.
Diana no tratou de ocultar seu sorriso por mais tempo.
Ele dinmico e popular, sobretudo entre as calouras.
Pandeia assentiu em acordo.
O rapaz em questo no apenas superou todos os seus oponentes novatos e vampiros por
igual para ganhar o cobiado ttulo de Mestre da Espada nos Jogos Vampricos; quase indito na
histria que um jovem ganhe um ttulo assim.
Sim, eu sei de sua vitria. do que todas as garotas falam hoje. Anastsia replicou com
ironia.
E voc v como um problema? O manejo da espada de Dragon j impressionante, mesmo
ele no tendo completado a Mudana. disse Diana.
Embora no me surpreendesse ver suas tatuagens de adulto logo mais. Pandeia
acrescentou. Estou de acordo com Diana, no h nada de mais sobre o fato de as garotas se
distrarem com Dragon.
A Grande Sacerdotisa sorriu.
Quando encontrar com ele, tambm poder compreender a distrao delas.
No uma simples distrao que me preocupa. Anastsia explicou rapidamente. o fato
de que depois do trmino da aula desta noite, um total de quinze calouros treze meninas e dois
meninos vieram a mim, um de cada vez, perguntar-me sobre feitios para agarrar Dragon Lankford.
Anastsia se aliviou de que dessa vez as duas mulheres mostraram expresses de assombro e
surpresa em lugar de diverso.
Finalmente Pandeia falou:
Essa notcia decepcionante, mas no to trgica. Os calouros so conscientes de minha
poltica sobre os feitios de amor, que so bobos e podem ser perigosos. O amor no pode ser obtido
por obrigao ou coao. a Sacerdotisa negou com a cabea, evidentemente chateada com os
novatos. Diana, eu gostaria de ensinar uma lio na semana que vem do que acontece quando a
obsesso se confunde com o amor.
Diana assentiu.
Talvez devesse comear com a histria de Hrcules e sua obsesso com a sacerdotisa
vampira Hiplita, e o trgico final de ambos. uma advertncia que todos deveriam saber, mas
obviamente se esqueceram.
Uma excelente ideia. Pandeia girou seus grandes olhos castanhos at Anastsia. Tenho
certeza de que voc recordou aos calouros que sob nenhuma circunstncia realizaria feitios de amor
para eles.
Anastsia respirou fundo.
No, Sacerdotisa, no foi minha resposta.
No foi sua resposta? Por que... Diana comeou, mas a mo levantada de sua companheira
a cortou.
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Explique. foi tudo o que a Sacerdotisa disse.
Anastsia encontrou o firme olhar da vampira.
Eu nunca usei os feitios de amor. Mesmo quando fui recm-Marcada e comecei a mostrar
talento em feitios, meu instinto mostrou que os feitios de amor eram desonestos. Eu sou inexperiente,
mas no ingnua. Sei que o amor no pode existir sem honra.
Esclarecedor, mas no uma explicao. Pandeia falou.
A jovem professora endireitou sua coluna e mudou seu olhar para Diana.
Lankford dinmico e popular, no?
Correto.
Tambm arrogante?
Diana deu de ombros.
Suponho que sim. Mas bastante comum. Muitos de nossos guerreiros com mais talento tem
um senso de arrogncia sobre eles.
Um senso de arrogncia, sim. Mas no temperado com a experincia e o controle de um
vampiro adulto? Anastsia perguntou.
Sim, assim. ela concordou.
Anastsia assentiu com a cabea e ento seu olhar voltou a sua Sacerdotisa.
Tem se falado muito de Dragon. E tenho escutado com ateno. Tem razo quando diz que
no o conheo, mas tudo o que ouvi falar de Dragon Lankford se baseia em sua espada e seus sorrisos
em vez de sua sabedoria e sagacidade. Meus instintos dizem que se os alunos apaixonados virem o que
ele realmente , perdero o interesse no mesmo momento.
O que foi exatamente que disse aos calouros? Pandeia perguntou finalmente.
Lhes disse que possivelmente eu no poderia quebrar as regras da Morada da Noite e realizar
feitios de amor, mas que eu poderia criar um feitio de atrao para cada um deles.
H uma fina linha entre um feitio de amor e um de atrao. Diana replicou.
Sim, e essa linha criada pela honestidade, verdade e sinceridade. Anastsia contestou.
Mas tenho a sensao de que cada estudante que veio at voc estava sendo honesto,
verdadeiro e sincero sobre o desejo de ser amado por Dragon Lankford. Pandeia falou, mirando com
decepo a jovem professora. Portanto, lanar um feitio assim em Dragon ir funcionar como um
feitio de amor. A semntica a nica diferena entre os dois.
Isso estaria correto se o feitio fosse lanado em Dragon. Em vez disso, o feitio de atrao
ser lanado em cada um dos estudantes que vieram a mim.
A decepo de Pandeia mudou para um sorriso de satisfao.
A inteno desse feitio fazer com que os calouros vejam Dragon com mais clareza.
A viso de cada um deles sobre Lankford se basear na honestidade e na sinceridade e no
estar contaminada por um superego e um sorriso bonito.
Poderia funcionar! Diana exclamou. Mas o feitio delicado e requer habilidade.
Meu instinto diz que nossa jovem professora tem sabedoria em abundncia. Pandeia
respondeu.
Agradeo a confiana em mim, Sacerdotisa. Anastsia quase gritou de animao. Ento se
levantou. Com sua permisso, eu gostaria de lanar o feitio esta noite, durante a lua cheia.
Pandeia assentiu em acordo.
o momento perfeito para faz-lo. Tem minha permisso, filha.
minha inteno pr fim a qualquer paixo obsessiva esta noite. Anastsia disse, colocando
a mo sobre seu corao e fazendo uma reverncia para sua Sacerdotisa e a sua companheira.
Algum que ganha tudo com arrogncia e sorrisos, com encantos egostas. Diana falou
depois.
Ento essa pessoa recebe exatamente o que merece Anastsia murmurou.
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CAPTULO QUATRO
O feitio comeou perfeita e completamente bem. Mais tarde, Anastsia s pde sacudir a
cabea e perguntar-se como algo que comeou to bem terminou to desastrosamente.
Talvez porque havia tomado um tempo para trocar a horrvel roupa que erroneamente tinha
comeado a usar desde que se converteu em professora. Afinal de contas, se ela no estivesse nessa
parte em particular do feitio, no momento exato e no lugar especfico se um desses elementos
tivesse se modificado, num piscar de olhos, tudo teria mudado.
Bom, tudo mudou sim, s que no como ela tinha previsto.
A luz da lua estava to boa em seus braos nus. Essa foi uma das razes pela qual ela havia ido
mais e mais longe, aproximando-se do poderoso rio Mississipi mais do que era necessrio. A lua parecia
estar lhe atraindo, liberando-a de todas as tolas restries que ela havia se imposto na tentativa de ser
algum que no era.
Anastsia usava agora o tipo de roupa que mais gostava: sua longa e macia saia azul-topzio e
uma tnica simples.
Um ms antes de ser chamada a esta nova e maravilhosa Morada da Noite, ela havia se
inspirado em um vestido das ndias donzelas Lenni Lenape e costurou contas de vidro, conchas e
franjas ao redor da bainha da saia e no arredondado decote de sua tnica sem mangas. Anastsia fez
um pequeno passo de dana e girou, fazendo as conchas e as miangas tilintarem.
Nunca usarei aquela horrvel roupa outra vez. Quando era humana, isso era tudo o que me era
permitido usar. No cometerei esse erro outra vez, disse a si mesma severamente, e logo lanou sua
cabea para trs e falou com a lua que pendia no escuro cu.
Isto o que eu sou! Sou uma professora vampira, uma especialista em feitios e rituais! Sou
jovem e livre!
Ela iria seguir o conselho de sua Alta-Sacerdotisa. Anastsia iria ser como a terra. Iria encontrar
sua fora em sua juventude.
Tambm vou me vestir como desejo, e no como se fosse uma antiga professorinha do
interior.
Ou como uma Quakeress da Pensilvnia, como a famlia humana que deixei para trs quando fui
Marcada h seis anos, acrescentou silenciosamente. Ela lembraria as partes boas e pacficas de seu
passado, sem seus limites e restries.
Sou como a terra! exclamou com alegria, praticamente danando sobre a grama alta que
rodeava a Morada da Noite de Tower Grove.
No foi apenas a liberdade fsica de uma troca de roupa que a fez se sentir melhor a confiana
que Pandeia depositou nela tambm significou muito.
A noite era clida e clara, e Anastsia ia fazer algo que lhe traria uma alegria indescritvel: ia
lanar um feitio que realmente beneficiaria uma Morada da Noite, a sua Morada da Noite.
Mas deter-se em um campo salpicado de girassis silvestres havia sido um erro descuidado. Ela
sabia que os girassis atraam amor e luxria, contudo Anastsia no estava pensando no amor,
pensava na beleza da noite e no encanto da pradaria. E a verdade que ela sempre amou girassis!
O prado era impressionantemente exuberante. Estava to perto do Mississipi que Anastsia
podia ver os salgueiros alinhados ao longo da alta e ngreme margem ocidental. No podia ver o rio
devido s rvores e ao penhasco, mas podia ouvi-lo: esse rico som que sussurrava com a fertilidade da
terra, poder e promessas. No centro da pradaria, perfeitamente situada para capturar toda a luz
prateada da lua cheia, estava uma enorme rocha plana de arenito, exatamente como o altar que
precisaria para seu feitio de atrao.
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17
Anastsia ps sua cesta de encantamentos no cho ao lado da grande rocha e comeou a dispor
os ingredientes para o ritual. Em primeiro lugar, sacou o clice prateado que seu mentor havia lhe dado
como presente de despedida. Era simples, mas bonito, adornado somente com o contorno de Nyx, os
braos levantados sustentando um crescente.
Ento Anastsia desembrulhou um tecido verde reluzente e revelou um pequeno frasco de rolha
contendo vinho com sangue e o abriu, deixando-o repousar em cima da rocha. Colocou o clice no
centro da pedra e logo puxou um grande pedao de papel encerado da cesta, abrindo-o para expor uma
grande fatia de po fresco, um pedao de queijo e as grossas fatias de toucinho cozido. Sorrindo,
colocou o papel e a comida junto ao clice, e encheu-o.
Satisfeita com os aromas e a viso do banquete, que representava a generosidade da Deusa,
retirou cinco velas da cesta. Anastsia encontrou o norte facilmente virando na direo do rio, e foi at a
parte mais setentrional da rocha para deixar a vela verde, que representava o elemento da qual ela se
sentia mais prxima, a terra. Enquanto colocava o resto das velas em suas direes correspondentes:
amarelo para o ar, no leste; vermelho para o fogo, no sul; azul para a gua, no oeste e a vela prpura do
esprito no centro, Anastsia controlou sua respirao. Tomou respiraes profundas, imaginando que
extraia o ar impregnado do poder da terra atravs do solo para seu corpo. Ela pensou em seus alunos e
o quanto queria o melhor para eles, e como o melhor significava que eles deveriam ver-se claramente e
avanar em seus caminhos com verdade e honestidade.
Quando as velas estavam prontas. Anastsia retirou o resto do contedo da cesta de
encantamentos: uma comprida trana de erva-doce, uma lata que continha fsforos, luz fluorescente e
trs pequenas bolsas de veludo uma contendo folhas secas de louro, outra, agulhas de cedro e a
terceira recheada de sal marinho.
Anastsia fechou seus olhos e enviou a sua Deusa a mesma orao sincera e silenciosa que
fazia antes de realizar algum feitio ou ritual.
Nyx, tem meu juramento de que pretendo fazer apenas o bem durante o feitio que realizarei
esta noite.
Anastsia abriu seus olhos e virou primeiro para o leste, acendendo a vela amarela para o ar e
chamando o elemento ao seu crculo com uma voz clara, utilizando palavras simples:
Ar, por favor, una-se ao meu crculo e fortalea o meu feitio.
Movendo-se no sentido dos ponteiros do relgio, ela acendeu todas as cinco velas, chamando
cada elemento em sua vez, completando o crculo do feitio ao acender a vela do esprito no centro do
altar. Ento encarou o norte, tomou outra respirao profunda e comeou a falar de corao e alma.
Eu comeo a limpar este espao com erva-doce.
Ela fez uma pausa para sustentar o final da trana sobre a chama da vela verde da terra.
Quando pegou fogo, comeou a passar ao redor de si graciosamente, enchendo o ar por cima da rocha
com uma espessa fumaa que girava em ondas.
Qualquer energia negativa deve ir sem deixar rastro.
Ela deixou de lado a trana ainda esfumaando e estendeu sua mo esquerda em concha.
Pegou ento a primeira bolsa de veludo. Enquanto esmigalhava as folhas secas em sua palma,
continuou o feitio.
Conscincia e claridade vm com essas folhas de louro. Atravs da terra, eu chamo hoje o seu
poder.
As agulhas do cedro vieram depois. Anastsia cheirou sua fragrncia enquanto as misturava com
as folhas trituradas em sua palma, dizendo:
Cedro, de ti vem a coragem, a proteo e o autocontrole que busco. Empreste-me sua fora
para que meu feitio no seja fraco.
Da ltima bolsa de veludo, retirou os pequenos cristais de sal marinho, contudo no os misturou
aos outros ingredientes. Ela levantou sua palma, agora cheia de louro de cedro. Ela inclinou a cabea
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para trs, sentindo o vento clido beijado pelo fogo levantando seus abundantes cabelos loiros e
ouvindo a gua do rio, mostrando-lhe que os elementos, de fato, haviam se unido ao seu crculo e
estavam ali, esperando para receber e cumprir seu pedido.
Enquanto comeava a dizer as palavras do feitio, a voz de Anastsia tomou uma encantadora
entonao que soava como se ela estivesse recitando um poema com uma melodia que s sua alma
podia ouvir.
Esta noite trabalho em um feitio de atrao
Meu desejo lanar clareza viso
Com folhas de louro revelarei a verdade
O amor no deve vir de arrogante atitude
O cedro protege das travessuras da juventude
Empresta coragem e controle para suas necessidades.
O sal marinho estava escorregadio contra os dedos de Anastsia no momento em que o
ingrediente final era acrescentado ao seu feitio.
O sal a chave que me ata a este feitio.
Ela se moveu a um lado da vela verde, respirou profundamente e ordenou seus pensamentos.
Era agora que precisaria evocar o nome de Dragon Lankford e, em seguida, nomear cada um dos quinze
estudantes jogando uma pitada da mistura na chama da terra enquanto esperava e rezava para que o
feitio aderisse e que cada estudante pudesse ver Dragon claramente, com verdade e honra.
Que nesta chama a magia corte como uma espada,
Invocando somente a verdade de Bryan Lankford!
Logo que falou o nome, aconteceu. Anastsia devia ter jogado a primeira pitada da mistura e dito
o nome de Doreen Ronney, que estava totalmente obcecada por Dragon Lankford, porm a noite
explodiu ao seu redor em caos e testosterona enquanto um jovem calouro saiu de trs de uma rvore
para mais perto, com uma espada na mo.
Saia! Est em perigo! gritou para Anastsia, dando-lhe um brusco empurro.
Fora de equilbrio, seus braos se moveram descontrolados, fazendo com que a mistura do
feitio fosse lanada para cima, elevando-se cada vez mais enquanto Anastsia ia para baixo, caindo
bruscamente sentada no cho.
Ela ficou sentada, mirando boquiaberta e completamente horrorizada quando o vento clido que
estivera presente desde que ela abriu o crculo soprou a mistura mgica no rosto do calouro.
O tempo pareceu parar. Foi como se a realidade, por um instante, tivesse mudado e se dividido.
Em uma hora, Anastsia estava olhando para o novato, congelado no momento, a espada levantada
como a esttua de um jovem deus guerreiro. Ento o ar entre ela e o calouro imvel comeou a brilhar
com uma luz que lhe recordava a chama de uma vela. Se mexia e agitava, to brilhante que ela teve que
levantar a mo para cobrir seus olhos. Enquanto ela fechava seus olhos por causa do brilho, a luz se
dividiu no meio, circundando o calouro em um globo de luz tangvel, e do seu centro, justaposto na
frente do garoto, Anastsia contemplou outra figura. No inicio era indistinta. Ento ela deu um passo
adiante, mais perto de Anastsia, de modo que a luz iluminou a professora e bloqueou totalmente a
viso do calouro.
No geral, a figura tinha a mesma altura e tamanho do garoto. E tambm estava brandindo uma
espada. Anastsia observou o seu rosto. Seu primeiro pensamento, seguido rapidamente por comoo e
surpresa, foi: tem um rosto amvel... e realmente muito bonito. E ento ela balanou a cabea, dando-
se conta do que estava vendo.
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Voc ele! O calouro atrs de voc! voc!
S que no era realmente o garoto. Era claro. Esta nova figura era um homem adulto, um
vampiro completo com incrveis tatuagens de aspecto extico de dois drages, com a lua crescente no
meio da testa, o corpo, asas e caudas se estendendo pelo seu rosto para marcar uma mandbula firme e
lbios cheios, lbios que sorriam de modo encantador e arrebatador para ela.
No, no o calouro. ela falou, observando de seus lbios at seus olhos castanhos, que
brilhavam em reflexo de seu sorriso.
Voc me convocou, Anastsia. Deve saber quem sou.
A voz dele era profunda e agradvel a ela.
Te convoquei? Mas eu... sua voz sumiu.
O que ela havia dito momentos antes que o calouro tivesse aparecido e acabado com seu
encantamento? Ento ela se lembrou.
Eu tinha acabado de dizer Que nesta chama a magia corte como uma espada, Invocando
somente a verdade de Bryan Lankford! Anastsia se cortou, mirando fixamente as tatuagens do
vampiro... tatuagens de drago...
Como possvel? Voc no pode ser Bryan Lankford. E como sabe o meu nome?
O sorriso dele se ampliou.
to jovem. Eu havia me esquecido. sustentando o seu olhar, ele se inclinou em uma
reverncia corts. Anastsia, minha... minha sacerdotisa, Bryan Lankford exatamente quem
convocou. Sou ele. ele riu entre dentes brevemente. E ningum me chama de Bryan h muito
tempo, exceto voc.
No quis te convocar literalmente! E est velho! ela retrucou, e depois sentiu seu rosto
esquentar. No, no quis dizer velho velho. Quero dizer que est mais velho que um calouro. Voc
um vampiro Mudado. Embora, no velho.
Anastsia desejava desesperadamente desaparecer embaixo do altar de pedra.
O riso de Dragon era suave, bondoso e muito atraente.
Pediu a verdade de mim, e foi o que conjurou. Minha Anastsia, assim eu serei no futuro, e
como disse, um velho vampiro completamente Mudado. Esse novato ali, atrs de mim, quem sou hoje.
Mais jovem, sim, mas tambm impulsivo e demasiado seguro de si.
Como me conhece? Por que me chama de minha Anastsia?
E por que faz com que meu corao se sinta como um pssaro emocionado que est prestes a
alar voo?, acrescentou silenciosamente para si mesma.
Ele fechou o pequeno espao entre os dois e se inclinou junto a ela. Lentamente,
cuidadosamente, ele tocou seu rosto. Ela no podia sentir sua mo, mas seu alento estava claramente
visvel.
Te conheo porque minha, assim como sou seu. Anastsia, olhe nos meus olhos. Diga-me
sinceramente o que v.
Ela tinha que fazer o que ele pedia. No tinha outra opo. Seu olhar a havia hipnotizado, como
tudo o mais relacionado a esse vampiro. Ela olhou em seus olhos e se perdeu em tudo o que via ali:
bondade e fora, integridade e humor, sabedoria e amor, muito, muito amor. Em seus olhos, Anastsia
reconheceu tudo o que havia imaginado em um homem.
Vejo um vampiro que poderia amar. ela falou sem duvidar. E acrescentou apressadamente:
Mas voc obviamente um guerreiro, e eu no posso...
V um vampiro que ama. ele corrigiu.
Detendo suas palavras, ele se inclinou adiante, segurando seu rosto com as mos e
pressionando seus lbios contra os dela. Anastsia no deveria ter sido capaz de sentir nada. Mais tarde
repetiu a cena vrias e vrias vezes em sua mente, tratando de decidir como um fantasma conjurado de
um homem possivelmente poderia t-la feito sentir tanto sem realmente poder toc-la. Porm tudo o
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que ela podia fazer era tremer e conter seu alento enquanto o desejo por ele, real ou imaginrio,
pulsava atravs de seu corpo.
Ohhh. ela sussurrou suspirando enquanto ele se movia lamentavelmente para longe dela.
Meu amor, minha Anastsia, sou um vampiro e um guerreiro. Sei que agora parece impossvel,
mas creio que a verdade. Para me converter na pessoa que v o homem de bondade e fora,
integridade e humor, sabedoria e amor preciso de voc. Sem voc, sem ns, sou s uma casca do que
deveria ser, sou um drago sem homem. S voc pode tornar o homem mais forte que o drago.
Lembre-se disso quando a verso jovem, precipitada e arrogante de mim tentar deix-la louca.
Ele continuou se afastando dela.
No v!
Seu sorriso encheu seu corao.
No vou. Nunca te deixarei voluntariamente, minha Anastsia. Vou estar aqui, crescendo e
aprendendo. Olhou para trs, para a esttua congelada do novato e riu, reencontrando seu olhar.
Apesar de que possa ser difcil acreditar s vezes. D uma oportunidade, Anastsia, seja paciente
comigo, valer a pena. Ah, e no me deixe matar o urso. No ir te machucar. Ele, como eu, s veio a
voc devido um feitio que saiu ligeiramente mal. Nem ele, nem eu... ele fez uma pausa e sua voz
profunda suavizou-se. ... nem sequer meu eu jovem e arrogante tem algo de malvolo em mente esta
noite. E, meu amor, nunca permitirei que algo te faa mal.
Enquanto dizia essas ltimas palavras, Anastsia sentiu um vento frio atravs de seu corpo
como se algum deus ou deusa de repente tivesse derramado gua e gelo em suas veias.
No momento em que ela contemplava, com uma estranha mescla de pressentimento e desejo, o
espectro adulto de Bryan Lankford, seu olhar, ainda preso ao dele, retrocedeu. A luz brilhou e ele foi
absorvido pela sua verso mais jovem, que imediatamente comeou a mover-se de novo.
Sentindo como se tivesse sido atingida por um trem, Anastsia viu a verso mais jovem do
vampiro, cujo toque etreo ainda fazia seu corpo estremecer. Ele estava limpando seus olhos chorosos
com uma mo enquanto com a outra brandia a espada na direo do enorme urso pardo que de repente
apareceu diante dele de p sobre as patas traseiras. Era to grande que, por um instante, Anastsia
pensou que tal como a verso do futuro de Dragon Lankford, o urso havia sido conjurado pelo seu feitio
de alguma maneira, e era apenas magia, fumaa, nvoa e sombras. S quando o urso rugiu, fazendo
vibrar o ar ao seu redor, que Anastsia descobriu que no era nenhuma iluso.
Os olhos de Lankford se clarearam rapidamente e ele avanou com inteno mortal na direo
da criatura.
No o machuque! Anastsia gritou. O urso foi atrado acidentalmente para c por meu
feitio no tem ms intenes.
Bryan retrocedeu, fora do alcance imediato das garras da enorme criatura. Anastsia o viu
estudando o urso.
Atravs da sua magia? ele perguntou, sem tirar os olhos do animal.
Sim! Te dou a minha palavra. ela disse.
Bryan olhou-a rapidamente e Anastsia sentiu uma estranha sacudida de reconhecimento com o
olhar. Ento o novato lhe fez uma reverncia e disse:
Ser melhor que tenha razo.
Anastsia teve que pressionar seus lbios firmemente para no gritar: foi a sua verso adulta
que me disse isso! Ela duvidava que ele fosse escut-la gritar. Ele tinha voltado sua ateno para o urso.
A grande criatura se levantava sobre o garoto, mas Bryan simplesmente se agachou, pegou a vela mais
prxima e levantou-a contra o urso. A chama da vela vermelha ardia como uma tocha.
X! Sai! gritou em uma voz que tinha mais autoridade do que ela esperava de algum que
ainda no era um vampiro.
Saia daqui! X! Tudo isso foi um acidente, a sacerdotisa no quis te convocar.
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O urso se afastou do brilho da vela, bufando e grunhindo. Bryan deu um passo adiante.
Eu disse que v!
Com um enorme sentimento de alvio, Anastsia observou a besta descer para as quatro patas e,
com um grunhido ao calouro, trotar serenamente at o rio. Atuando unicamente por instinto, ela se
colocou de p.
Certo, est bem, estou segura agora. Tudo est sob controle. ela falou enquanto o ignorava
e tomava a vela vermelha de sua mo, ainda acesa. No rompa o crculo. Este feitio tem poder
demais para desperdiar. disse firmemente.
Ela no olhou para ele, no queria se distrair. Em vez disso, focou sua ateno na chama,
protegendo-a com a mo e colocando cuidadosamente a vela em seu lugar antes de voltar a enfrentar
Bryan Lankford.
Seu cabelo ela loiro, longo, grosso e atado atrs, o que a fez recordar do cabelo do Bryan adulto,
que tambm era da mesma cor clara, mas caa livremente pelos ombros, emoldurando o seu rosto
amvel. Havia um pouco de cinza em suas tmporas? De alguma forma, ela no conseguia se lembrar
mais. No entanto, podia recordar perfeitamente a cor exata de seus lindos olhos castanhos.
O que foi? No rompi o crculo. A vela no se apagou. Olhe, est exatamente onde estava
antes.
Anastsia se deu conta de que havia ficado observando-o sem falar. Ele deve pensar que sou
completamente louca.
Ela abriu sua boca para dizer algo que explicasse um pouco da estranheza da noite, e ento o
olhou realmente, o jovem Bryan diante dela. Ele tinha ingredientes espalhados por todo o rosto cristais
de sal nas sobrancelhas e louro e cedro nos cabelos.
Sua repentina risada surpreendeu a ambos.
As sobrancelhas dele se levantaram.
Eu arrisco a minha vida para te salvar de uma criatura selvagem e voc ri de mim?
Ele estava tratando de soar srio e ofendido, mas Anastsia podia ver uma centelha de humor
em seus olhos castanhos.
Voc est coberto por meus ingredientes, e sim, isso te faz parecer engraado.
Tambm o fazia parecer juvenil e bonitinho, mas ela guardou essa parte para si. Ou ao menos
assim pensou. Enquanto os dois estavam de p ali, contemplando-se, o brilho nos olhos de Bryan era
cmplice.
Quando seus lbios comearam a elevar-se num sorriso, o estmago de Anastsia deu uma
estranha sacudida, e ela rapidamente falou:
Embora eu no devesse rir, sem importar o quo engraado esteja. Meu encantamento sobre
voc significa que terei que refazer toda a mistura.
Ento no devia ter jogado em cima de mim. ele replicou com um arrogante movimento de
cabea.
A diverso de Anastsia comeou a desvanecer-se.
No joguei em voc. O vento soprou em seu rosto quando eu ca porque voc me empurrou.
Verdade? ele levantou um dedo, como se testando a direo do vento. Que vento?
Anastsia franziu o cenho.
Deve ter se extinguido, ou talvez se acalmado pela interrupo do meu feitio.
Eu no te empurrei. continuou como se ela no tivesse falado. Coloquei-a atrs de mim
para poder te proteger.
No precisava me proteger. O urso foi um acidente. Estava confuso, no era perigoso. Eu
estava lanando um feitio de atrao, e de alguma forma o urso foi atrado por ele. ela explicou.
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Ento foi um feitio de atrao. a irritao que havia comeado a aparecer em sua voz se
desvaneceu para ser substituda por um riso arrogante e outro olhar cmplice. Por isso disse o meu
nome. Voc me deseja.
CAPTULO CINCO
Dragon sorriu enquanto o rosto da jovem sacerdotisa ruborizava.
Voc confundiu a minha inteno. ela falou.
Voc mesma disse: estava lanando um feitio de atrao. Escutei quando falou o meu nome.
Obviamente, estava me atraindo. fez uma pausa, pensando que tudo tinha sentido agora. No me
estranha que deixei Shaw e o restante dos guerreiros para ir para casa por conta prpria desde o porto.
Pensei que fosse por causa de Biddle. Eu j o tinha visto antes de ir aos Jogos Vampricos, assim j
sabia que no gostava dele, mas esta noite foi to dura, to estranha, que suponho que me fez sentir
diferente tambm, quase como se eu no pudesse respirar, e precisasse estar aqui fora, onde tem ar,
espao e... ele se interrompeu, rindo um pouco e mostrando o indcio de seu famoso sorriso. ... mas
no importa. A verdade que estou aqui porque me deseja. ele coou o queixo, considerando. No
nos conhecemos ainda. Eu me lembraria de tal beleza. Foi minha reputao pela proeza com a espada
que captou seu interesse ou foi um tipo de proeza mais pessoal que...?
Bryan, eu no te desejo!
Me chama de Dragon. ele respondeu automaticamente e continuou. claro que sim.
Acabou de admitir o seu feitio de atrao. No precisa ficar envergonhada. Me sinto lisonjeado.
Realmente.
Dragon. ela falou num tom que se aproximava do sarcasmo. Estou envergonhada, mas
no por sua causa. Tenho vergonha de voc.
No tem nenhum sentido.
Ele se perguntou brevemente se ela havia batido a cabea quando caiu.
A sacerdotisa respirou fundo e deixou o ar sair em sinal de exasperao. Ento lhe ofereceu a
mo e o antebrao, dizendo:
Merry meet, Bryan Dragon Lankford. Eu sou professora Anastsia, a nova mestra de Feitios e
Rituais da Morada da Noite de Tower Grove.
Merry meet, Anastsia. ele respondeu, agarrando o seu brao nu, que era macio e quente ao
toque.
Professora Anastsia. ela corrigiu. Rpido demais, soltou-o e falou: No deveriam saber
deste feitio.
Porque no quer que ningum saiba que me quer?
Incluindo eu?
No. O feitio no tem nada a ver com te querer. o contrrio, na realidade. explicou. E com
uma voz que soava como se estivesse ensinando a uma sala de calouros, continuou. Isto vai soar
cruel, mas a verdade que estou aqui para lanar o equivalente a um feitio anti-Dragon Lankford.
Suas palavras o surpreenderam.
Eu, de alguma maneira, fiz algo para te ofender? Nem sequer me conhece. Como pode no
gostar de mim?
No que no goste. ela contestou rapidamente, quase como se estivesse tratando de
ocultar algo. Aqui est a verdade: nas duas semanas que estive ensinando na Morada da Noite de
Tower Grove, quinze calouros vieram me procurar perguntando por feitios de amor com as quais te
prender.
Os olhos de Dragon se arregalaram.
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Quinze? srio? fez uma pausa e contou mentalmente. S posso pensar em dez meninas
que gostariam de me enfeitiar.
A professora no via nenhuma graa.
Eu diria que se subestima, mas no creio que isso seja possvel. Assim, apenas suponho que
melhor com o manejo da espada do que com somas. Seja como for, vim aqui fora esta noite com a
inteno de lanar um feitio que levaria a cada uma de suas admiradoras a verdade sobre voc, e
assim pudessem ver com clareza e honestidade que voc no o companheiro adequado para elas, o
que colocaria fim aos seus tontos caprichos. terminou rapidamente.
Ele no podia lembrar da ltima vez que havia estado to surpreso. No, isso no estava certo. A
ltima vez que havia sentido esse tipo de profunda surpresa foi quando a noite havia sido iluminada
para revelar o mastro de um barco e uma nova vida. Ele sacudiu a cabea e replicou a primeira coisa
que lhe veio a mente.
Isto difcil de acreditar para mim. Eu te desagrado de verdade. Eu normalmente agrado as
mulheres. Bastante, na realidade.
Obviamente. Foi por isso que treze delas me pediram para te enfeitiar.
Ele franziu o cenho.
Pensei que havia dito quinze antes.
Treze garotas. Dois garotos. ela falou secamente. Ao que parece, os garotos gostam
bastante de voc tambm.
Inesperadamente, Dragon comeou a rir.
L vai voc! Todos gostam de mim, menos voc.
O que no gosto dessa ideia de que tantos calouros impressionveis esto obcecados por
voc. Simplesmente no saudvel.
No saudvel para quem? Eu me sinto muito bem.
Ele sorriu ento, iluminando cada parte de seu encanto. Dragon acreditou ver seu severo olhar
relaxar um pouco e os grandes olhos azul-turquesa suavizarem, mas suas palavras seguintes foram
como um balde de gua fria.
Se fosse mais maduro, se importaria com os sentimentos dos demais.
Ele franziu o cenho.
srio? Tenho quase vinte. Dragon fez um pausa e a examinou de cima a baixo, apreciando
Quantos anos tem?
Vinte e dois. ela respondeu, esfregando o queixo.
Vinte e dois! jovem demais para ser uma professora e para estar me dando um sermo
sobre ser mais maduro.
E, entretanto, sou sua professora de Feitios e Rituais, e algum deveria te dar um sermo
sobre o que agir como adulto. Quem sabe, com um pouco de orientao, poderia amadurecer e ser um
guerreiro ntegro e honrado.
Acabo de regressar dos Jogos onde obtive o ttulo de Mestre da Espada. J tenho integridade e
honra, mesmo que no seja um vampiro completamente Mudado.
No pode ganhar integridade e honra nos Jogos. S se pode obt-las em uma vida dedicada a
esses ideais.
Seus olhos sustentaram os dele e se deu conta de que ela no lhe falava com condescendncia.
Sua voz soava estranhamente triste, quase derrotada. E Dragon no tinha ideia do por que quis, de
repente, dizer ou fazer algo, qualquer coisa que fizesse com que o pequeno sulco de preocupao
desaparecesse do rosto dela.
Eu sei, Anastsia. Professora Anastsia. ele se corrigiu dessa vez. J estou dedicado ao
treinamento dos Filhos de Erebus. Serei um guerreiro algum dia, e defenderei seus estandartes de
honestidade, lealdade e valor.
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Ele se alegrou ao ver o seu sorriso, apesar de leve.
Espero que sim. Creio que poder ser um extraordinrio guerreiro algum dia.
J sou extraordinrio. Dragon replicou, seu sorriso de volta.
E ento ela o surpreendeu uma vez mais ao encar-lo firmemente nos olhos, quase como se ela
mesma fosse uma guerreira, e dizendo:
Se to extraordinrio, ento demonstre.
Dragon brandiu sua espada e se inclinou ante ela, mo em punho contra o peito, como se ele
fosse um completo guerreiro Filho de Erebus e ela sua sacerdotisa.
Envie-me em uma busca! Indique o urso que tenho que matar para demonstrar o meu valor!
Desta vez seu sorriso foi to completo, que Dragon pensou que isso iluminava seu j bonito rosto
com uma felicidade que parecia brilhar ao seu redor. Sua boca, com os lbios carnudos inclinados
estavam distraindo-o, de modo que ele gaguejou confuso e disse:
Que? Eu?
Quando se deu conta de que ela estava apontando diretamente para ele.
Inclusive uma vampira que jovem demais para dar aulas deveria ser capaz de ver que no
sou um urso.
Assumi que estvamos falando metaforicamente quando me pediu que te enviasse em uma
busca para demonstrar o seu valor.
Busca? repetiu.
Ele s estava brincando. O que ela estava pensando?
Bom, suponho que na realidade no se qualifica como uma busca, mas uma maneira de me
mostrar que extraordinrio.
Deu um passou arrogante at ela.
Agora, estou gostando disso! Estou disposto a fazer sua vontade, minha senhora. respondeu
com sua voz mais encantadora.
Excelente. Ento suba ao meu altar. Vai me ajudar a lanar este feitio.
Sua arrogncia desapareceu.
Quer que eu te ajude com um feitio que far com que as garotas no gostem de mim?
No se esquea dos garotos. E o feitio no os far desgostarem de voc. Eles apenas o vero
com mais claridade, j que estaro livres de sua obsesso por voc.
Devo te dizer, isso soa arriscado. Parece mais como me cortar um brao para demonstrar que
sou um extraordinrio espadachim.
No tem que me ajudar.
Ela se voltou para o altar, onde as velas dos elementos e as trs bolsinhas de veludo estavam
colocadas ao lado do clice e da comida.
Dragon de ombros e comeou a se afastar. No era problema seu que a estranha sacerdotisa
estivesse decidida a dificultar sua vida amorosa. E se treze novatas j no estivessem interessadas
nele? (No contou os garotos). Uma das coisas que havia aprendido desde que descobriu os prazeres
das mulheres era que sempre tinha mulheres que o queriam. Havia inclusive comeado a rir de si
quando as seguintes palavras dela flutuaram at ele.
Na verdade, esquea o meu pedido. Deveria estar voltando Morada da Noite. O amanhecer
se aproxima. A maioria dos calouros j est em suas camas.
Ele se deteve e virou-se para ela, com vontade de cuspir fogo. Ela falou-lhe como se fosse uma
criana!
Mas Anastsia no havia se dado conta de como o tinha afetado. Estava de costas para ele,
como se tivesse apagado completamente Dragon Lankford de sua mente. Ela estava equivocada a seu
respeito. Ele no era uma criana e no lhe faltava honestidade, lealdade ou valor. Ele lhe provaria... e
ento se ouviu dizer:
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Eu ficarei e a ajudarei com o feitio.
A professora olhou-o por cima do ombro e ele viu surpresa e algo mais, algo que poderia ser
prazer e calor naqueles grandes olhos azuis. Sua voz, no entanto, era indiferente.
Bom. Venha aqui e sente-se ali, na borda da rocha. assinalou. Tenha cuidado para no
bagunar o altar ou derrubar uma vela.
Sim, minha senhora. O que quiser. murmurou.
Ao se reunir a ela, esta levantou uma sobrancelha, mas no disse nada e voltou a colocar as
velas e arrumar o altar.
Dragon a estudou enquanto ela trabalhava. Sua primeira impresso foi a delicada beleza de
seus longos cabelos cor de trigo que caam retos e grossos at a cintura. Apesar de pequena, possua
generosas curvas, as quais podia ver facilmente atravs de sua fina tnica de linho e sua longa e larga
saia azul. Ele no costumava prestar ateno no que as mulheres usavam preferia v-las sem pea
alguma mas a roupa de Anastsia era decorada com conchas, contas e franjas, dando-lhe um aspecto
surreal e de outro mundo, um efeito realado por suas tatuagens elegantes videiras e flores, to
requintados em detalhes que pareciam reais.
Tudo bem, estou pronta para comear de novo. E voc? ela perguntou.
Ele pestanejou e desviou sua ateno para o altar. No lhe agradava que ela o tivesse pegado
estudando-a.
Estou pronto. Na realidade, tenho vontade de ouvir os nomes das novatas que pediram feitios
de amor.
Voltou seu olhar para encontrar o dela, assegurando-se de colocar desafio em sua voz. Anastsia
se manteve imperturbvel.
J que est me ajudando com a conjurao, no terei que nomear as novatas. A sua presena
e cooperao acrescentam fora ao meu feitio, o que afetar todos que esto atrados por voc.
Dragon exalou com fora.
Soa como algo bom que eu no tenha uma namorada neste momento. O que vamos fazer sem
dvida estragaria tudo.
No, no estragaria. No se essa pessoa estivesse verdadeiramente interessada em voc e
no em sua imagem exagerada.
Me faz soar como um idiota arrogante.
E ?
No! Sou apenas eu.
Ento esse feitio no afetar ningum que te queira.
Est bem, est bem. Entendo. Vamos terminar com isso. O quer que eu faa?
Ela respondeu com outra pergunta:
Teve trs anos de aulas de Feitios e Rituais, certo?
Sim.
Bem, vou misturar as ervas do feitio em sua mo. Coloque-a em concha... ela demonstrou
com a prpria mo. ... assim. As plantas em contato o ajudaro emprestando fora ao feitio. Acredita
que poder realizar algumas partes do feitio se eu o guiar?
Ele conteve sua irritao. Ela no soava condescendente. Soou como se tivesse considerado que
ele no aproveitou nada de suas aulas como se no pudesse ser bom em nada alm do manejo da
espada. A professora se surpreenderia.
Se tem que perguntar, no deve ter checado meu histrico de trabalho nas aulas de Feitios e
Rituais com o professor anterior. falou baixinho, com a esperana de que seu tom de voz fizesse
parecer que haveria encontrado baixas qualificaes.
A jovem professora suspirou pesadamente.
No, no chequei.
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Ento, tudo o que sabe de mim quo obsessivas algumas calouras esto por mim.
Seus olhos se encontraram e, de novo, ele viu uma emoo que no pde identificar no profundo
azul.
Eu sei que algum dia ser um guerreiro, mas no significa que possa lanar um feitio.
Tudo o que posso fazer dar a minha palavra de que farei o melhor esta noite. ele disse,
perguntando-se porque se importava com o que ela pensava.
Anastsia fez uma pausa, como se estivesse escolhendo cuidadosamente sua resposta. Quando
finalmente falou, foi para soltar um simples:
Obrigada, Bryan.
E inclinou a cabea respeitosamente para ele.
Me chame de Dragon. respondeu, tratando de no mostrar o quanto esse pequeno sinal de
respeito o havia afetado.
Dragon. ela repetiu. Sinto muito se esqueo. s que Bryan me parece bom.
Saiba que Dragon me parece bom quando se est do outro lado da minha espada. ele
replicou. E logo se deu conta de que havia soado arrogante, e acrescentou apressadamente: No que
eu algum dia atacaria uma sacerdotisa. Eu s quis dizer que se me visse em um duelo de espadas,
entenderia meu apelido. Quando luto, me transformo num drago.
Isso provavelmente no acontecer logo.
Voc realmente no gosta de mim.
No! No tem nada a ver com voc. Eu no gosto da violncia. Cresci... Anastsia se
interrompeu, sacudindo a cabea.