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52 texto / text Madyo Couto fotos / photos Artur Ferreira Os encantos M esmo antes de chegarmos à praia de Techobanine, avista- mos um pequeno grupo de pessoas ao longo da es- trada. Acenamos, cumprimentando. Sentada no chão, uma mulher com aspecto nada saudável contorce-se. Paramos e perguntamos se necessitam de ajuda. A senhora foi apanhada pelo cheiro do mar”, diz-nos um dos homens que a amparam. O meu ar de incompreensão é de tal forma explícito que o homem adiciona logo de seguida. É espírito da água”. Reduzido a essa constatação sai-me um “Haamm” profundo, que apenas serve para declarar ainda mais profunda a minha total ignorância, ao que o homem acaba por dizer: Já vai ficar boa! Está tudo bem. Vamos nos afastar do mar, e vai pas- sar ”. Esperamos um pouco, observando a mulher a levantar-se devagarinho, caminhando ainda um pouco zonza com o apoio dos seus companheiros. O meu colega biólogo apressa-nos de regresso ao carro, abanando a cabeça. Temos que nos despachar, tenho um compromisso em Maputo no fim do dia”, explica. Não andamos muitos mais metros até estacionarmos a viatura por debaixo de uma boa sombra. Começamos a escalar uma enorme duna. Parece que subimos nas costas de um gigante”, comento, parando para recuperar o fôlego. Este sistema dunar que se estende de Machangulo a Santa Lúcia, na África do Sul, é referido como possuindo as dunas com vegetação mais alta do mundo. Chegados no topo do dorso daquela gigante duna a vista embarga-nos a voz. As palavras querem sair, mas se desfazem por completo num reduzido “Huauuh”! Este era certamente o trono de um rei gigante. À nossa frente, o Oceano Índico, deitado sobre uma imensidão de azul, estende-se para lá do horizonte. A Norte e a Sul, vemos a praia desdobrando- se em diversas pontas. Serão Milibangalala, Namuli e Mamoli? Para trás é uma terra verde espalhada até às cordilheiras dos Libombos. Alguns anos antes, tinha caminhado com um grupo de amigos desde a Ponta Santa Maria até à Ponta do Ouro. Foram cinco incríveis dias ao longo da praia. Também sentado numa destas dunas com um amigo, apercebemo-nos dos gigantes desta terra de Matutuíne. Eram os elefantes da Reserva Especial de Maputo, as baleias, as dunas com vegetação e os tubarões-baleia. Dali de cima, avistamos umas marcas estranhas na areia. Descemos para averiguar mais de perto. Mesmo antes de dizer que me parecem marcas de tartaruga, o meu colega rompe um grito: Inquestionável! Só pode ser a Dermochelys coreacea”. Olho para ele cautelosamente, e pergunto em jeito de confirmação: É uma tartaruga, né?Aquelas enormes cicatrizes são evidentes sinais deixados pela gigante tartaruga de couro. Teria vindo de madrugada depositar os seus ovos neste lugar sagrado, assim como os seus antepassados durante centenas de anos

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texto / text Madyo Coutofotos / photos Artur Ferreira

Os encantos de Tinti GalaM esmo antes de chegarmos à

praia de Techobanine, avista-mos um pequeno grupo de pessoas ao longo da es-trada. Acenamos, cumprimentando. Sentada no chão, uma mulher com aspecto nada saudável contorce-se. Paramos e perguntamos se necessitam de ajuda.

“A senhora foi apanhada pelo cheiro do mar”, diz-nos um dos homens que a amparam.

O meu ar de incompreensão é de tal forma explícito que o homem adiciona logo de seguida.

“É espírito da água”.Reduzido a essa constatação sai-me um “Haamm” profundo, que apenas

serve para declarar ainda mais profunda a minha total ignorância, ao que o homem acaba por dizer:

“Já vai fi car boa! Está tudo bem. Vamos nos afastar do mar, e vai pas-sar”.

Esperamos um pouco, observando a mulher a levantar-se devagarinho, caminhando ainda um pouco zonza com o apoio dos seus companheiros. O meu colega biólogo apressa-nos de regresso ao carro, abanando a cabeça.

“Temos que nos despachar, tenho um compromisso em Maputo no fi m do dia”, explica.

Não andamos muitos mais metros até estacionarmos a viatura por debaixo de uma boa sombra. Começamos a escalar uma enorme duna.

“Parece que subimos nas costas de um gigante”, comento, parando para recuperar o fôlego.

Este sistema dunar que se estende de Machangulo a Santa Lúcia, na África do Sul, é referido como possuindo as dunas com vegetação mais alta do mundo. Chegados no topo do dorso daquela gigante duna a vista embarga-nos a voz. As palavras querem

sair, mas se desfazem por completo num reduzido “Huauuh”! Este era certamente o trono de um rei gigante.

À nossa frente, o Oceano Índico, deitado sobre uma imensidão de azul, estende-se para lá do horizonte. A Norte e a Sul, vemos a praia desdobrando-se em diversas pontas. Serão Milibangalala, Namuli e Mamoli? Para trás é uma terra verde espalhada até às cordilheiras dos Libombos.

Alguns anos antes, tinha caminhado com um grupo de amigos desde a Ponta Santa Maria até à Ponta do Ouro. Foram cinco incríveis dias ao longo da praia. Também sentado numa destas dunas com um amigo, apercebemo-nos dos gigantes desta terra de Matutuíne. Eram os elefantes da Reserva Especial de Maputo, as baleias, as dunas com vegetação e os tubarões-baleia.

Dali de cima, avistamos umas marcas estranhas na areia. Descemos para averiguar mais de perto. Mesmo antes de dizer que me parecem marcas de tartaruga, o meu colega rompe um grito:

“Inquestionável! Só pode ser a Dermochelys coreacea”.Olho para ele cautelosamente, e pergunto em jeito de confi rmação: “É uma tartaruga, né?“Aquelas enormes cicatrizes são evidentes sinais deixados pela gigante

tartaruga de couro. Teria vindo de madrugada depositar os seus ovos neste lugar sagrado, assim como os seus antepassados durante centenas de anos

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Os encantos de Tinti Gala

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The Charms of Tinti Gala

Just before arriving at Techobanine beach, we see a small group of people on the side of the road. We wave to greet them. An unhealthy looking woman

squirms while seated on the ground. We stop and offer to help. “The woman has been struck by the smell of the sea,” says one of the men

assisting her. My bewilderment must have been so obvious that the man shortly after says:

“It is the spirit of the water”.This said, I can only utter a strong “Hmmm”, which only serves to display

even more obviously my total ignorance. The man sums up:“She will get better now! Everything is alright. We will move away from the

sea and it will pass”.We wait while the woman gets up slowly and starts walking still a little dizzily

with the help of her companions. My biologist colleague hurries us back into the car, shaking his head. “We must get going, I have an engagement in Maputo later today,” he explains.

We drive only a few yards ahead, park the vehicle under a nice shade and begin climbing an enormous sand-dune.

“It seems as though we are climbing on the back of a giant,” I observe while stopping to catch my breath.

This dune system that stretches from Machangulo to St. Lucia in South Africa is referred to as the sand-dunes with the highest vegetation in the world. Upon arriving at the summit of the giant sand-dune, the view leaves us speechless. Words struggled to come out but are completely reduced to a “Wow!” This was surely the throne of a giant king.

The Indian Ocean, in front of us, rests on a vastness of blue and stretches out into the horizon. To the North and to the South, we see the beach unfold in various locations. Are they the beaches of Milibangalala, Namuli and Mamoli? Behind us, a green land spreads out to the mountain ranges of the Libombos.

Some years ago, I had walked with a group of friends along the beach from Ponta Santa Maria to Ponta do Ouro for five incredible days. Sitting on one of these sand-dunes with a friend, I had seen the giants of this land of Matutuíne, the elephants from the Maputo Special Reserve, the whales, the sand-dunes with vegetation and the whale sharks.

From the top of that sand-dune, we spot some strange prints in the sand. We then descend to take a closer look. Just as I was about to say that they seemed to me to be turtle footprints, my companion cries out:

“Unquestionable! It can only be a Dermochelys coriacea”.I look at him cautiously and ask, for the sake of confirmation:“It is a turtle, isn´t it?”These huge scars are evident signs left by a giant leatherback turtle. She must

have come at daybreak to deposit her eggs in this sacred place, as her ancestors had done for hundreds of years. This ability that turtles have to recognise and return to their place of birth is one of nature’s great mysteries.

My colleague explains to me that right in front of us, in the Techobanine area, are the best preserved corals of the entire Matutuíne coast.

The coral reef extends from Machangulo to South Africa, forming part of a marine park in which the corals are protected and constantly studied. Due to

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Voos Regulares em parceria com a LAMVoos Charter de Passageiros e de Carga

Tel: 258-21-466008 • Fax: 258-21-465562email: [email protected]

Aeroporto Internacional de Maputo, Moçambique

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its richness, biological importance and environmental value, this South African marine zone was declared a World Heritage Site. In Mozambique, however, the need to create a marine park for the protection and preservation of these

precious resources has still not passed from words to action.

“I hope that there will still be corals left by the time some sort of a decision is taken,” my colleague says.

We watch the prints and the spawning-ground of the gigantic leatherback turtle for some time before returning to the car. Only 12 kilometres separated us from the Tinti Gala Lodge. We return in little less than half an hour.

The Tinti Gala Lodge is a very welcoming small community lodge that grew out of a partnership between Helvetas, a Swiss non-governmental organisation, and the Gala Community. After years of bureaucratic obstacles, it was officially opened in August 2006.

Gala was the name of the first territorial chief of this area. He was called Gala Massale and the inhabitants of the area have called themselves the Gala Community ever since. Tinti is the name of a small lagoon situated right in front of the campsite.

“With this name we wanted to proclaim a marriage between nature and man. So it became: Tinti Gala!” explains the guide

têm vindo a fazer. Esta capacidade das tartarugas reconhecerem e regressa-rem ao seu lugar de nascimento é um dos grandes mistérios da natureza.

O meu colega explica-me que, ali mesmo em frente, nesta zona de Te-chobanine, se encontram os corais mais bem conservados de toda a costa de Matutuíne. O recife de coral estende-se desde Machangulo até à África do Sul, fazendo parte de um parque marinho onde os corais são protegidos e estudados regularmente. Pela sua riqueza, importância biológica e valor ecológico, esta zona marinha sul-africana foi declarada como Património Mundial da Humanidade. Em Moçambique, porém, ainda não se passou da discussão da necessidade de criar um parque marinho para protecção e conservação destes valiosos recursos.

“Espero que ainda haja corais quando tomarem alguma decisão”, co-menta o meu colega.

Ficamos algum tempo observando as marcas e o local de desova da gigante tartaruga de couro antes de regressarmos ao carro. Apenas 12 quilómetros nos separavam do Tinti Gala Lodge. Em pouco menos de meia hora estamos de volta.

O Tinti Gala Lodge é um pequeno lodge comunitário bastante acolhedor que nasceu de uma parceria entre a Helvetas, uma organização não gover-namental suíça, e a Comunidade de Gala. Após anos de burocracias, foi inaugurado em Agosto de 2006.

Gala foi nome do primeiro chefe de terras daquela área. Chamava-se Gala Massale, e desde então a comunidade que ali vive assume-se como Comunidade de Gala. Tinti é o nome de uma pequena lagoa que se encontra mesmo frente ao acampamento.

“Com esse nome quisemos casar a natureza com o homem. Assim, ficou Tinti Gala!”, conta o guia do acampamento, enquanto tomamos um refresco e comemos uns enormes e saborosos ananases.

Um dos aspectos mais interessantes do lodge é a sua forma de gestão. A Comunidade de Gala elegeu dez dos seus membros para comporem uma Comissão de Gestão Social, que designa um grupo executivo encarregue de gerir as actividades do dia-a-dia com o apoio técnico da Helvetas, sendo os lucros divididos em partes iguais entre a gestão do lodge e a comunidade.

“Antes não havia nem escola nem posto de saúde. Tínhamos que caminhar até Zitundo para encontrar um médico. Hoje, já reabilitámos e equipámos uma escola e construímos um posto de socorro, onde semanalmente somos visitados pelo médico do distrito”, explica-nos o guia com grande satisfação.

Para além dos postos de trabalho, com esta iniciativa a Comunidade de Gala conseguiu também iniciar a produção de ananases, hortícolas e mel.

“Esses ananases, por exemplo, são produzidos pelo curandeiro aqui da zona”, explica o guia. “Vão-lhe proteger contra maus espíritos”, acrescenta em jeito de brincadeira, ao que o meu colega reage rindo e abanando a cabeça como que em desapro-vação. O seu olhar parece querer revelar descrença nessas histórias de espíritos. O seu ser é científico, não havendo espaço para esse outro mundo de coisas incertas.

“Não vai faltar muito para começarmos a servir mel feito aqui mesmo. Venham, vou mostrar-vos o lodge”, diz o guia.

Carrego mais algumas rodelas de ananás comigo. “Mais vale prevenir que remedir”

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from the campsite, while we have a refreshing drink and eat a couple of huge, tasty pineapples.

One of the most interesting features of the lodge is the way it is run. The Gala Community elected ten of its members to form a Social Management Commission, an executive group in charge of managing the daily activities. Helvetas provides them with technical assistance and the profits are divided in equal parts between the management of the lodge and the community.

“Before, there was neither a school nor a health centre. We had to walk to Zitundo in order to see a doctor. Today, we have already refurbished and equipped a school and built a health centre in which we are visited on a weekly basis by the district doctor,” the guide proudly tells us.

Besides creating jobs, this initiative of the Gala Community also managed to launch the production of pineapple, vegetables and honey.

“These pineapples, for example, are produced by a local witch doctor,” the guide explains. “They ll protect you against evil spirits,” he adds jokingly, to which my colleague reacts with a smile and shaking his head as in disapproval. His look seems keen to display disbelief in these stories about the spirits. His worldview is scientific, with no room for this other world of uncertainty.

“It won´t be long before we start serving honey that is produced right here. Come, I ll show you the lodge,” says the guide.

I take with me a few more slices of pineapple. “It is better to prevent than to treat,” I say to myself.

We follow our guide along a cool path between the trees. After a little more than a year of activity, the infra-structure still looks new. The family houses have a view of the Tinti Lake. Suddenly, while the guide shows us inside one of the houses, we hear the towering noise of hippopotami.

“They are our friends,” says the guide. “There are fifteen of them living in the lagoon. We already know all of them and each has a proper name”.

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He explains that of all the activities on offer, the most popular so far is the boat trip on the Tinti lagoon.

“We take the tourists to watch the group of hippopotami. We do not come too close because it’s a shy animal,” says the guide jokingly. “It is because of their being overweight. That is why they stay in the water during the day and only come out at night when no one can see them”.

Tourists can also visit the Gala Community, taste indigenous fruits, and watch the process of sewing mats and the uses of local health plants.

“The track of health plants starts over there,” the guide indicates. My colleague looks at a shrub next to us with truly peculiar seeds in the

shape of wings. “Unquestionable!” I say provokingly to my colleague. “This can only be the

Acridocarpus natalitius”.Commonly known as Mabope, its roots are used by witch doctors to cure

spiritual problems. It is also said that if a person is late for a party or any other meeting, by carrying a twig in the pocket the party will not start until he or she arrives.

The guide from the campsite laughs and we follow along the track under the trees, returning to the restaurant. As I look back, it seems to me that my colleague is quickly stuffing his pocket with a twig from the shrub.

We bid farewell to the Tinti Gala Lodge, promising to return on a longer visit. I look at my watch and remind my friend of his engagement. I ask him if he would like me to go a little faster. He shakes his head dismissingly and replies:

“They’ll wait. They won’t start without me”.

digo para mim mesmo. Seguimos o guia por um caminho fresco entre as árvores.

Com pouco mais de um ano de actividade, as infra-estruturas ainda se encontram com aspecto novo. As casas familiares possuem uma vista para a lagoa Tinti. De súbito, enquanto o guia nos mostra o interior de uma das casas, ouvimos o barulho incomparável de hipopótamos.

“São os nossos amigos”, afirma o guia. “Vivem quinze ali na lagoa. Já conhecemos todos, e cada um tem o seu nome próprio”.

O guia explica-nos que das actividades que oferecem, a mais concorrida até agora é o passeio de barco na lagoa Tinti.

“Levamos os turistas a apreciarem o grupo de hipopótamos. Não chega-mos muito perto porque o hipopótamo é muito envergonhado”, diz o guia em jeito de brincadeira. “É por causa da gordura dele. É por isso que fica todo o dia dentro de água e só sai à noite para que ninguém o veja”.

Os turistas podem também visitar a Comunidade de Gala, provar os frutos indígenas, observar a forma de costura das esteiras, e os usos das plantas medicinais da zona.

“Por ali começa o trilho das plantas medicinais”, aponta o guia.O meu colega olha para um arbusto ao nosso lado com umas sementes

bastante peculiares em forma de asas.“Inquestionável!”, digo em provocação ao meu colega. “Só pode ser

a Acridocarpus natalitius”. Vulgarmente conhecida como Mabope, as suas raízes são usadas pelos curandeiros para tratar problemas espiritu-ais. Diz-se também que se uma pessoa estiver atrasada para uma festa ou outro encontro e levar um ramo no bolso, a festa não se iniciará sem a sua presença.

O guia do acampamento ri-se, e se-guimos pelo trilho em baixo das árvores de regresso ao restaurante. Olho para trás e parece-me ver o meu colega a colocar rapidamente no bolso um ramo do arbusto.

Despedimo-nos do Tinti Gala Lodge, prometendo uma visita mais demorada. Olho para o relógio e lembro-me do compromisso do meu amigo. Pergun-to-lhe se quer que ande um pouco mais rápido. Ele abana a cabeça em sinal de reprovação e responde:

“Vão esperar. Não começam sem eu chegar”.

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