Hoje Macau 29 JUL 2011 #2421

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PORTUGUÊS maltratado hoje AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB MOP$10 macau DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ SEXTA-FEIRA 29 DE JULHO DE 2011 ANO X Nº 2421 Língua aos farrapos Futebol NELO VINGADA ENTUSIASMADO COM MISSÃO NA CHINA • PÁGINA 13 Democratas em acção ALTOS CARGOS DAS OBRAS PÚBLICAS ENXOVALHADOS • PÁGINA 4 PUB O que têm em comum as Obras Públicas, a DSAT e o GDI? Além de serem três departamentos do Governo, estão a revelar-se mestres em assassinar - ou fazer de- saparecer - a Língua Portuguesa. As justificações mais esfarrapadas repetem-se, mas parece não haver remédio para a doença. > PÁGINAS 6 E 19 Ter para ler Depois da filmagem em Abril em Macau, a projecção no Museu do Oriente em Lisboa, e hoje a conferência de apresentação do filme em volta de cinco obras emblemáticas de Manuel Vicente. José Maçãs de Carvalho, o realizador, diz que procurou questionar a prática e o pensamento arquitectónico como possibilidade e utopia. >Página 8 O universo de Manuel Vicente Serviços do Governo desprezam por completo um dos idiomas oficiais TEMPO T1 AGUACEIROS FORTES MIN 25 MAX 29 HUMIDADE 75-95% CÂMBIOS EURO 11.6 BAHT 0.3 YUAN 1.2

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Edição do Hoje Macau de 29 de Julho de 2011 • Ano X • N.º 2421

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PORTUGUÊSmaltratado

hoje

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

MOP$10macau

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ • SEXTA-FEIRA 29 DE JULHO DE 2011 • ANO X • Nº 2421

Língua aos farrapos

Futebol

NELO VINGADA ENTUSIASMADO

COM MISSÃO NA CHINA• PÁGINA 13

Democratas em acção

ALTOS CARGOSDAS OBRAS PÚBLICAS

ENXOVALHADOS• PÁGINA 4

PUB

O que têm em comum as Obras Públicas, a DSAT e o GDI? Além de serem três departamentos do Governo, estão a revelar-se mestres em assassinar - ou fazer de-saparecer - a Língua Portuguesa. As justificações mais esfarrapadas repetem-se, mas parece não haver remédio para a doença. > PÁGINAS 6 E 19

Ter para ler

Depois da filmagem em Abril em Macau, a projecção no Museu do Oriente em Lisboa, e hoje a conferência de apresentação do filme em volta de cinco obras emblemáticas de Manuel Vicente. José Maçãs de Carvalho, o realizador, diz que procurou questionar a prática e o pensamento arquitectónico como possibilidade e utopia. >Página 8

O universode Manuel Vicente

Serviços do Governo desprezam por completo um dos idiomas oficiais

TEMPO T1 AGUACEIROS FORTES MIN 25 MAX 29 HUMIDADE 75-95% • CÂMBIOS EURO 11.6 BAHT 0.3 YUAN 1.2

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SEXTA-FEIRA 29.7.2011

2www.hojemacau.com.mo ACTUAL

OBITUARYFr. Luis Ruiz Suarez, S.J., founder of Caritas Centre of Macau, and Casa Ricci Social Service passed away on July 26, 2011, Tuesday, at 7:30 am in Januario Hospital at the age of 98. May he rest in the peace of the Lord. The funeral Eucharist of Fr. Ruiz will be held on August 3, Wednesday, in the Cathedral of Macau. The corpse will be placed for prayer from noon on. The RIP Mass will be at 3 pm. After the Mass, the body will be buried at Saint Michael’s Cemetery.

Fr. Ruiz was born in Gijón, Asturias, Spain, on Sept. 21, 1913. He entered the Society of Jesus at Salamanca, Spain, on Sept. 20, 1930, was ordained to the priesthood on June 7, 1945, at Xianxian (獻縣) , Hebei (河北), China, and professed his last vows on Nov. 5, 1977. We express deep sorrow at Fr. Ruiz’s passing away. Instead of flower baskets and bouquets, any donation may be sent to Caritas Centre of Macau.

A crise da dívida nos Estados Unidos e Europa, a inflação e a lenta recupe-

ração económica do Japão do pós-tsunami ameaçam o crescimento económico da Ásia Oriental, alerta o Banco de Desenvolvimento Asiático (BDA). Num relatório divul-gado ontem, o BDA, sedeado em Manila, nas Filipinas, adverte que a região enfrenta riscos que passam também por mercados financeiros mais voláteis e operações de crédito de montante elevado a curto prazo (“hot money”).

Porém, a instituição manteve a sua previsão de crescimento económico para as 14 economias emergentes da Ásia Oriental – incluindo a China, Coreia do Sul, Vie-tname, Malásia, Indonésia, Tailândia e Filipinas -, de

O acidente de comboio de alta velocidade que ocorreu no sábado no leste da China

e causou 39 mortos deveu-se a um problema do material de sinalização por este ter sido atingido por um raio, informou ontem a agência oficial Xinhua.

O semáforo “não fez a passagem da luz verde para a luz vermelha”, causando um choque entre dois comboios de alta veloci-dade perto da localidade de Wenzhou, o que colocou em questão a segurança da rede de alta velocidade chinesa, explicou o director da Administração de Caminhos de Ferro de

Xangai, An Lusheng, que citou os primeiros resultados da investigação.

O Governo chinês, criticado pela gestão da informação sobre o acidente, prometeu na quarta-feira a realização de um inquérito “aberto e transparente” e a publicação dos seus resultados.

O acidente ferroviário de sábado foi o pior ocorrido na China desde 2008.

A rede de alta velocidade da China está a crescer e deverá aumentar de 8358 quiló-metros no final de 2010 para mais de 13 mil quilómetros em 2012 e 16 mil em 2020.

CHINA PEDE AOS ESTADOS UNIDOSQUE SE AFASTEM DA SUA COSTAA China pediu aos Estados Unidos o fim dos voos de aviões de reconhecimento norte-americanos perto das suas costas e que “prejudicam gravemente” a confiança entre os dois países, refere o diário “Global Times”. De acordo com a imprensa de Taiwan, dois aviões de combate chineses tentaram no final de Junho repelir aviões U2 de reconhecimento norte-americanos, que se encontravam em mis-são no estreito. O Ministério chinês da Defesa considera que estes voos constituem um “significativo obstáculo” nas relações bilaterais, precisamente quando as duas potências do Pacífico retomaram este ano os seus contactos militares ao mais alto nível. “Pedimos aos Estados Unidos para respeitarem a soberania e os interesses chineses em matéria de segurança, e de tomarem as medidas concretas para um desenvolvimento estável e são das relações militares”, indica o Ministério da Defesa, citado pelo diário de língua inglesa. Por sua vez, um porta-voz do Pentágono assegurou que nenhum avião espião norte-americano violou o espaço aéreo chinês, sem adiantar mais pormenores.

ACIDENTE DE COMBOIO NA CHINA

Raio impediu mudançada cor do semáforo

BDA | Crise da Europa e EUA afecta crescimento

Ásia sofre por culpa deles

cerca de oito por cento para 2011 e 2012, mas ressalvou que as previsões relativas a alguns países, incluindo a China, poderão ser revistas em baixa, embora sem espe-cificar números.

No primeiro semestre do ano, o crescimento eco-nómico da Ásia Oriental abrandou perante a inflação que tem afectado a maior parte da região e que se situa entre os três e os seis por cento – apesar de ter atingi-do os 20% no final de Junho no Vietname -, derivada de um aumento dos preços e de uma forte recuperação económica.

Na China, a segunda economia mundial, a alta dos preços atingiu os 6,4% em Junho, o nível mais elevado em três anos. “Uma inflação

crescente e rápida coloca em risco a espiral salários--preços e poderá afectar o recente crescimento forte da região”, refere o relatório do BDA.

A ameaça da inflação tem sido a principal preocupação na Ásia este ano. O BDA aler-tou em Abril que a subida de preços dos bens alimentares para uma média de 10% em muitas economias asiáticas poderia lançar 64 milhões de pessoas na pobreza.

Os economistas do BDA também advertiram para as perspectivas negativas

em relação às economias europeia e norte-americana, afectadas por problemas da dívida e desemprego, que poderão prejudicar as vendas da Ásia Oriental ao exterior por a Europa e os EUA serem grandes parcei-ros comerciais da região.

Por outro lado, a eco-nomia japonesa também está a enfrentar problemas derivados do fortalecimento do iene que está a afectar as exportações do país, tornando-as mais caras. “Se a recuperação do Japão, Es-tados Unidos e da Zona Euro

vacilar, o abrandamento da procura externa poderá vol-tar a afectar as exportações da região”, alerta o relatório do BDA.

Mas os dirigentes dos países da Ásia Oriental não deverão, porém, “reagir exageradamente à desace-leração das economias avan-çadas, porque o crescimento regional permanece sólido”, salientou o BDA. A institui-ção mantém a previsão de crescimento do PIB chinês de 9,6% para este ano e de 9,2% para 2012.

O enfraquecimento das exportações e o aumento das taxas de juros pelas autorida-des chinesas para controlar a inflação “poderá contribuir para um crescimento mais moderado e sustentável nos próximos meses”, defende ainda o BDA.

O ÚLTIMO ADEUSO primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, depositou flores e prestou homenagem às 35 vítimas mortais da colisão entre comboios em Wenzhou, na província de Zhejiang. Wen disse que todas as pessoas envolvidas num esquema de corrupção que pode ter afectado a qualidade das linhas vai ser severamente punido.

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AGÊNCIAS GOVERNAMENTAIS AINDA NÃO APRESENTARAM RELATÓRIOS DE 2010Pelo menos 12 departamentos do Governo Central, incluindo a Autoridade Anti-Corrupção, estão quase um mês atrasadas na apresentação dos relatórios das despesas do ano passado. O Escritório Nacional de Prevenção da Corrupção, o Ministério dos Negócios Estrangeiros e outros nove departamentos do Governo Central ainda não divulgaram números mostrando as despesas com recepções, viagens ao exterior e veículos oficiais de 2010. Há quase um mês, o Conselho de Estadoordenou que essas informações viessem a público antes de 30 de Junho. Entre os 86 departamentos que têm lançado as informações pela internet, o maior gastador foi a Administração Tributária do Estado e suas sucursais, que passou quase os 2,2 mil milhões de yuans só para compras e combustível, para receber convidados e para viagens ao estrangeiro. Na outra ponta, o Gabinete do grupo líder de Alívio da Pobreza e Desenvolvimento, um departamento responsável pela redução da pobreza em áreas rurais da China, gastou 1.450.000 yuans com os mesmo itens. Os recentes lançamentos marcam pela primeira vez que tais informações são mostradas ao público chinês.

SEM PRIVACIDADENO ACESSO À NETA implementação de um software de monitorização de wi-fi em bares, restaurantes, hotéis e livrarias provocou a polémica entre os proprietários e o público, na China. O software, que é para monitorizar actividades ilegais, é desenhado para passar as identidades dos clientes que utilizam os serviços de internet sem fios gratuitos para os órgãos públicos. O sistema irá custar aos proprietários da empresa cerca de 20 mil yuans e aqueles que se recusarem a pagar e oferecerem acesso à internet sem restrições podem ser multados até 15 mil yuans. Ye Jia, um dono de café em Dongcheng, disse ao “China Daily” que não iria usar o software, porque não poderia pagar os honorários caros. “Se a restrição sobre o serviço wireless é posta em prática, o meu café é afectado”, mencionou. Muitos donos de empresas na cidade que não tinham ouvido falar sobre a nova regulamentação expressaram desaprovação quando foram informados quanto aos custos da instalação. “É uma exigência de órgãos de segurança pública. Por que devemos pagar as taxas?”, referiram. Um cliente de 40 anos de idade, acredita que esta é uma violação de prioridade. Um relatório citado pelo jornal Notícias de Pequim disse que o departamento de segurança pública vai introduzir o sistema na capital e em todo o país.

CRIANÇAS chinesas adotadas por 90 famí-lias norte-americanas foram ontem recebi-

das oficialmente em Pequim, onde chegaram acompanhadas pelos seus familiares numa viagem de regresso às origens que inclui um périplo pelos locais históricos do país.

Os menores, com idades entre os quatro e os 18 anos, foram convidados a regressarem ao seu local de nascimento ou ao orfanato onde foram acolhidos antes de serem adop-tados e a desenvolverem actividades “que

os possa ajudar a perceber melhor a China”, explicou um funcionário do Ministério chi-nês dos Assuntos Civis citado pela agência oficial “Xinhua”.

A maioria das crianças adoptadas é natural das províncias do sul do país, como Jiangxi, Hunan e Guangdong e da região autónoma de Guangxi. Com os seus pais, os menores vão cumprir um programa rico em actividades que inclui visitas aos locais de interesse mais reconhecidos da China, como a reserva dos

pandas gigantes em Chengdu e o exército dos guerreiros de terracota, em Xian.

Para alguns pais adoptivos, esta viagem permitir-lhes-á conhecer o estilo de vida que os seus filhos tiveram antes de terem ido viver para os Estados Unidos. Segundo o vice-ministro dos Assuntos Civis da China, Dou Yupei, a porta da China abriu-se ao mundo exterior para ajudar órfãos chineses a terem uma família melhor e a porta mantém-se aberta para que aqueles possam regressar e viajar pela sua pátria.

Joana Freitas*[email protected]

ESCONDIDAS no meio dos dispendiosos arranha--céus, centros comerciais e apartamentos chiques dos

centros urbanos, são dezenas as gaiolas em metal ou em formato de caixão, minúsculas, a que muitos chamam de lar.

Mak, com 72 anos, já vive na sua “casa caixão” com vista para a cidade desde há uma década. O seu espaço confina-se a algo semelhante a uma cama de solteiro. “Ninguém quer viver aqui, mas precisamos de sobreviver”, disse Mak. “É um passo para deixar as ruas.”

As casas-caixão, apelidadas as-sim devido às semelhanças físicas com o objecto de madeira, são as alternativas possíveis de habitação de baixa renda para estas pessoas. Outras incluem casas- gaiola, que se assemelham aos objectos onde é transportado o gado.

Com vinte inquilinos, Mak está a construir uma casa de banho comum. Os locais de dormida são revestidos, mas têm má ventilação e são empilhados uns em cima dos outros, como armários de cozinha. “Há um estigma sobre aqueles que vivem nestes lugares. As pessoas pensam que é porque eles são preguiçosos, mas isso está longe da verdade”, disse Sze Lai San, um assistente social da vizinha RAEHK.

“Eles trabalham mas os patrões pagam-lhes muito pouco apesar das longas horas de trabalho duro”, referiu.

Mak não é excepção. Funcio-nário de uma empresa de Hong

Hong Kong | Pobres vivem em casas “caixão” ou gaiolas legais

A vida através de uma frinchaBDA | Crise da Europa e EUA afecta crescimento

Ásia sofre por culpa deles

CRIANÇAS ADOPTADAS POR NORTE-AMERICANOS REGRESSAM ÀS ORIGENS

Era uma vez na China...

Kong que foi à falência depois de uma série de empreendimentos terem sido mal sucedidos, é agora empregado camarário e recebe apenas o suficiente para pagar a sua renda na casa-gaiola – 150 dólares de Hong Kong.

Mak está agora entre os 1,2 milhões de residentes da RAEHK que vivem na pobreza. “Eu posso saltar refeições, ignorar a sujeira, as baratas e o tráfego. Mas o maior problema é a segurança, que não temos aqui”, explicou à BBC.

“Houve apelos ao longo dos anos para melhorar a segurança. Nós estamos aqui enlatados como sardinhas e não há regulamenta-ção. Se houver um incêndio mor-remos todos”, acrescentou.

Apesar das condições, a “casa” de Mak é uma das muitas insta-lações licenciadas pelo governo da RAEHK. De acordo com uma lei municipal, qualquer planea-mento com 12 ou mais “casas” deste tipo tem de ter uma licença especial. Mas de acordo com um e-mail da Porta-voz dos Assun-

tos Internos Elain Chu à BBC, a razão de existirem estas gaiolas deve-se às condições de vida, que são “determinadas por vários factores, tal como a situação do mercado, o ambiente económico e a capacidade financeira pessoal [ou a] escolha pessoal”, disse a responsavél.

Para Sze Lai San, o “caixão casa” é resultado de uma per-feita tempestade urbana: uma combinação dos preços díspares do imobiliário e da disparidades de riqueza na Ásia obrigam a que estes cidadãos vivam desta forma.

Uma pesquisa de 2011 levada a cabo pela Savills - uma empresa imobiliária sediada no Reino Uni-do - descobriu que as propriedades da cidade vendem-se a um preço superior a 10,550 dólares por pé qua-drado. Mas mesmo os apartamentos de segunda linha são mais caros cerca de 40% em Hong Kong do que noutras cidades mundiais, como Londres, Nova York ou Moscovo.

“Em Hong Kong há cada vez mais e mais ricos, mas estas pesso-

as foram deixadas para trás”, disse a assistente social. Sze Lai San, que lida com casos semelhantes aos de Mak há mais de 16 anos, defende que já “há muito tempo que estas práticas deveriam ter sido deixa-das para trás e não deveriam estar a acontecer em Hong Kong”.

Mais de 300 mil pessoas estão à espera de habitação pública em Hong Kong. E, embora o tempo médio de espera seja de três anos, em espaços apertados como estas “casas” esse período parece muito mais extenso.

Através dos olhos de Mak, há dois Hong Kongs: das janelas dos prédios, a famosa cidade personi-ficada pelo brilho e glamour. Pelas ranhuras das gaiolas, uma outra, que tem permitido a queda de cada vez mais pessoas menos afortunadas. “Não é que o Governo de Hong Kong não possa ajudar pessoas como eu, que fazem parte da sociedade e precisam de ajuda”, disse Mak. “É que eles não querem ajudar as pes-soas como nós a resolver problemas como estes.” - *com BBC

“Estávamos com pressa”, “Não temos tradutores” ou “São as férias de Verão”. Na hora de justificar os desleixos com a Língua Portuguesa em Macau, qualquer desculpa esfarrapada vale. Só ontem, três departamentos do Governo mostraram que não se importavam com o português, aquele idioma que até aparece referido na Lei Básica como uma das línguas oficiais. Vanessa Amaro, P.19

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4www.hojemacau.com.mo POLÍTICA

Democratas acusam Governo de fazer truques com opinião pública

Harry Potter e os Jardins de LisboaVirginia [email protected]

A polémica com as opiniões públicas recolhidas a res-peito do projecto

Jardins de Lisboa, na Taipa Pequena, entrou ontem num novo episódio, marcado pelo bom humor dos defensores da democracia para o território. Alegadamente ignoradas pelo Governo por irem contra o que era pretendido pelos grandes interesses, mais de um milhar e meio de opi-niões terão desaparecido, como num passe de magia, consideram os representantes da Associação Novo Macau Democrático (ANMD) que se lembraram de relacionar o episódio com o aprendiz de feiticeiro Harry Potter, célebre personagem da lite-ratura juvenil e do cinema, e lançaram uma paródia às principais figuras das Obras Públicas de Macau.

Os pró-democratas diri-giram-se ontem à sede da Di-recção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) para denunciar aquilo que consideravam ser um “buraco negro para opini-ões” e exigiram ao organismo que se deixasse de “truques de ilusionismo” para enganar a população. A ANMD chegou mesmo a apresentar o cartaz do filme “Harry Potter e a Câmara dos Segredos”, o segundo episódio da saga do pequeno mago, mas em que as caras das personagens criadas pela britânica J.K. Rowling aparecem substituídas em fotomontagem pelas faces dos protagonistas das Obras Públicas: Jaime Roberto Ca-rion, director da DSSOPT; Chan Pou Ha, subdirectora da DSSOPT; e Lao Si Io, secretário para os Transportes e Obras Públicas; sob o título “Cuppy Pukgaai e o Buraco Negro para as Opiniões” (sendo “Cuppy Pukgaai” um troca-dilho com o nome do director da DSSOPT e uma ofensa em chinês). Num outro cartaz, os democratas acusaram o Chefe do Executivo, Chui Sai On, de ter um comportamento ver-gonhoso e de fazer promessas que jamais serão cumpridas.

A polémica em relação ao empreendimento Jardins de Lisboa gira em torno de uma operação de recolha de opiniões públicas organizada

pela DSSOPT para saber o que as pessoas pensavam sobre o projecto, tendo reco-lhido cerca de oito centenas de opiniões. A ANMD não quis perder a oportunidade e organizou ela própria a sua recolha de opiniões, tendo re-cebido 1700 cartas individu-ais de pessoas a manifestarem a sua posição sobre a matéria. A ANMD fez questão de fazer

essas opiniões, na maioria contrárias ao avanço das obras, à DSSOPT, que, para efeitos de contabilização dos resultados, considerou essas 1700 opiniões como se fossem uma única: a da ANMD. Os pró-democratas consideram a atitude uma acção escandalosa de mani-pulação da verdade, já que os resultados da auscultação

ficam bem diferentes só com as 880 opiniões e sugestões recolhidas pelo Governo, e acusam o Executivo de me-nosprezar deliberadamente as opiniões contrárias ao avanço do projecto.

Para a ANMD, se o Go-verno quer apoiar o plano do promotor, deveria apresentar as provas e os princípios na base desse apoio. “Se

de planeamento urbanístico da DSSOPT, havia prome-tido anunciar os resultados pormenorizados da consulta pública e o Gabinete de Co-municação Social apressou--se a emitir um comunicado anunciando o resultado dessa reunião, mas sem avançar ne-nhuma nova abordagem aos números da consulta pública, observou.

No último comunicado emitido ontem pela DSSOPT, o organismo insiste na con-tabilização já anteriormente apresentada, ao referir que “dentre as 880 opiniões / sugestões (nas quais se insere uma associação que recolheu publicamente e entregou à Administração em forma de anexo mais de 1700 opiniões), 587 opini-ões concordaram com este plano de aproveitamento, o que representa 66,7%, e 242 opiniões discordam deste plano de aproveitamento, o que representa 27,5%”.

Há muito que a ANMD vem manifestando estar to-talmente contra a concessão de terras pela RAEM para o projecto com a respectiva alteração no uso previsto para os terrenos. A consulta pública organizada pela DSSOPT é classificada pelos democratas como uma farsa que apenas revela caos polí-tico e uma tentativa de evitar assumir a responsabilidade. Para a ANMD, essa prática apenas danifica a credibilida-de do próprio Governo. “O Governo está a enganar os residentes que estão ansiosos por participar na consulta pública”, considera Jason Chao, presidente da asso-ciação. “A DSSOPT [...] está a usar truques técnicos para distorcer a opinião pública e evitar assumir a respon-sabilidade pelas decisões tomadas, chegando mesmo ao ponto de dizer que tem de enviar as opiniões recebidas aos promotores para que eles considerem fazer ajustes. Então a DSSOPT é só um De-partamento Governamental de Reencaminhamento?”, questiona.

o Governo respeitasse os residentes participantes da consulta pública, não deveria fazer um jogo dos números, mas sim apresentar o núme-ro rectificado e correcto de cartas de opinião”, afirmam os democratas, lembrando que é “responsabilidade do Governo salvaguardar os interesses dos residentes”.

Num encontro anterior para apurar o que tinha acontecido às 1700 cartas recolhidas pelos democratas, a DSSOPT tentou explicar que aquelas opiniões não tinham sido ignoradas, mas que simplesmente, como foram apresentadas por uma associação, decidiu-se combiná-las e contabilizar como “uma opinião com 1700 anexos”. A ANMD não foi na conversa e considera a prática absolutamente “anti--científica” e inadequada numa dita “governação de transparência”.

A DSSOPT está apenas a “tentar enganar a popula-ção”, considera a associação. Scott Chiang, vice-presidente da ANMD lembrou que Lao Iong, chefe do departamento

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5www.hojemacau.com.mo

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ARRANCAM AUSCULTAÇÕES PARA A NOVA LEI DO ENSINO SUPERIORO Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) convidou os dirigentes e representantes das instituições de ensino superior a participar numa reunião do projecto da lei do Regime do Ensino Superior. O objectivo é fazer a ligação e fomentar a articulação entre as instituições de ensino superior e delas recolher opiniões, por forma a poder contribuir para o desenvolvimento geral das instituições de ensino superior. O GAES garante que vai acelerar o ritmo da revisão do projecto de lei do ensino superior durante este ano. Em simultâneo, os dados recolhidos vão servir de referência para a Administração no planeamento do desenvolvimento do ensino superior de Macau.

PRÉMIO MACAU – REPORTAGEM 2011

A Fundação Oriente criou o Prémio Macau – Reportagem, destinado a galardoar o melhor trabalho jornalístico sobre Macau, nas vertentes cultural e sócio-económica, publicado em órgãos de comunicação social da RAEM e de Portugal.

1. Âmbito1.1 – O Prémio Macau – Reportagem será atribuído a um jornalista profissional, autor do melhor trabalho produzi-do em todo o universo dos meios de comunicação social – imprensa, televisão, rádio e internet – da Região Admi-nistrativa Especial de Macau e de Portugal.1.2 – Ao prémio podem candidatar-se apenas jornalistas actualmente residentes em Macau ou com percurso pro-fissional mínimo de 3 anos de presença em Macau, inde-pendentemente da nacionalidade ou da língua de trabalho dos candidatos.1.3 – Cada jornalista poderá apresentar a concurso um máximo de três trabalhos, desde que produzidos até 2 anos antes da candidatura.1.4 – Os concorrentes deverão entregar cinco cópias de cada um dos seus trabalhos (gravações ou fotocópias), num envelope fechado, com a identificação do autor, a data e o meio de comunicação social onde foram publi-cados ou emitidos.1.5 – No envelope deverão constar ainda fotocópia do BIR ou do BI, da carteira profissional de jornalista ou certificação de

capacidade de exercício de profissão de jornalista na Região Administrativa Especial de Macau, emitida pelas entidades competentes da RAEM, assim como a indicação da morada, telefone e endereço electrónico do candidato.1.6 – Os trabalhos publicados ou emitidos em língua que não a portuguesa deverão ser acompanhados da respectiva tradução.1.7 – Os trabalhos a concurso deverão dar entrada na de-legação da Fundação Oriente, Casa Garden, Praça Luís de Camões, 13, até às 18:00 do dia 30 de Setembro de 2011.

2. Natureza do PrémioO Prémio Macau – Reportagem 2011 tem um valor pecu-niário de MOP 50 000,00.

3. Atribuição do Prémio3.1 – O prémio será atribuído por um júri presidido por um representante da Fundação Oriente e constituído por mais quatro elementos, sendo dois indicados pelo Exe-cutivo de Macau e outros dois indicados por associações profissionais de jornalistas da RAEM ou personalidades

de reconhecido prestígio ligados à Comunicação Social.3.2 – As decisões são tomadas por maioria simples e das decisões do júri não caberá recurso.3.3 – O júri poderá não atribuir o prémio caso entenda que os trabalhos não se enquadram no âmbito deste Re-gulamento ou quando não tenham mérito ou qualidade suficientes.3.4 – O resultado do concurso será publicado na imprensa local.3.5 – Os prémios serão entregues em acto público a reali-zar na delegação da Fundação Oriente em Macau.3.6 – Os trabalhos apresentados e não premiados não serão devolvidos aos seus autores, reservando-se a Fun-dação Oriente o direito de os manter disponíveis no seu Centro de Documentação em Lisboa.3.7 – A Fundação Oriente reserva-se o direito de publicar, na língua original ou em tradução, o trabalho premiado, entendendo-se que o valor do prémio correspondente aos direitos de autor a pagar pela Fundação Oriente.3.8 – A Fundação Oriente reserva-se o direito de decidir sobre a renovação anual da atribuição deste Prémio.

Joana [email protected]

A partir de Janeiro de 2012, o Executivo tem três meses para

transferir os saldos orçamentais acu-mulados para a reserva financeira. O parecer relativo à proposta de lei sobre o “Regime Jurídico de Reserva Financeira” foi ontem assinado pelos deputados da 3.ª Comissão Perma-nente da Assembleia Legislativa e determina que a reserva financeira seja composta por uma reserva básica e outra extraordinária.

Tendo em conta o saldo orça-mental deste ano, a reserva básica vai ser dotada de 74.500 milhões de patacas - um valor equivalente a 150% da totalidade das despesas do orçamento do ano anterior e que pode ser variável mediante even-tuais alterações ao orçamento – e a extraordinária vai totalizar 24.200 milhões de patacas, ficando a ter-ceira área, a reserva cambial, com 54.200 milhões de patacas.

A primeira está destinada a ser a última garantia para a capaci-dade de pagamento das finanças da RAEM, “podendo apenas ser

REGIME DE RESERVA FINANCEIRA PRONTO PARA ENTRAR EM FUNCIONAMENTO

Milhões bem geridosutilizada em casos excepcionais e só quando esgotada a reserva extraordinária”, que serve de apoio financeiro em caso de necessidade, relembra o presidente da comissão.

Cheang Chi Keong frisou que nova proposta determina as regras de utilização dos saldos acumulados e que mereceu consenso entre todos os deputados. Também a decisão do Executivo em condicionar o uso das reservas a apreciação e aprovação prévia da AL foi bem recebida pelos membros da comissão. “Esta é uma atitude muito rígida do Executivo e a comissão acolhe essa opção legis-lativa [de apresentar uma proposta de alteração orçamental] na medida em que desta forma se dá resposta às preocupações da sociedade quanto à utilização da reserva financeira”, disse o presidente.

O total de 152.900 milhões de saldo da RAEM vai começar a ser dividido assim que a lei entrar em

vigor, a 1 de Janeiro de 2012, tendo o Executivo três meses para completar as transferências. “No caso de haver saldo positivo, o mecanismo a seguir é a repartição como fixada na pro-posta”, explicou Cheang Chi Keong.

Além da alteração ao nome - que lhe vê acrescida o termo “jurídico” – a proposta de lei do regime da reserva financeira sofreu ainda outras alterações.

A Autoridade Monetária de Ma-cau (AMCM), incumbida de gerir

os juros bancários e de efectuar in-vestimentos, está agora submetida à avaliação de duas entidades – o Conselho Consultivo e o Conselho de Fiscalização da Reserva Finan-ceira. Ambos surgiram depois da sugestão da comissão em “criar dois orgãos independentes que pudes-sem fiscalizar a própria AMCM”, frisou Cheang Chi Keong.

Ainda de acordo com a versão final do documento, o saldo mensal da reserva, os resultados dos lucros

e os relatórios dos Conselhos Con-sultivo e de Avaliação têm de ser publicados em Boletim Oficial a cada dois meses, de forma a tornar públicas essas informações. Mas Cheang Chi Keong avança ainda: “sendo da competência política da AL [a análise destas informações], se os deputados entenderem que os dados divulgados não são su-ficientes podem requisitar mais dados ao Governo”.

O Governo apresentou a versão final do texto aos deputados no início desta semana, mas foi em Outubro do ano passado que a proposta de lei foi apresentada pela primeira vez e aprovada na gene-ralidade. A última reunião sobre este regime teve lugar na primeira quinzena de Junho e contou com a presença de Francis Tam. Ontem, a completar quase nove meses de trabalhos, foi finamente assinado o parecer. A lei sobe a plenário antes de 15 de Agosto.

O objectivo é gerir de forma coerente as finanças da RAEM e, acrescenta ainda Cheang Chi Keong, “a separação do saldo acumulado vai ser mais nítida”.

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6www.hojemacau.com.mo SOCIEDADE

Joana [email protected]

O português é um dos dois idiomas oficiais de Macau. Disso ninguém du-

vida. Está inscrito no artigo 9.º da Lei Básica do território com essa função e tem um lugar específico no ponto 5 da Declaração Conjunta Sino--Portuguesa sobre a Questão Macau. Pelo menos, teorica-mente. A avaliar na prática, a situação pode alterar-se, tendo em conta factos escritos e facilmente comprovados.

O Hoje Macau avançou na semana passada com a eventualidade de existirem trabalhadores ilegais no Terminal Marítimo da Tai-pa. A notícia confirmou-se quando o Gabinete para o Desenvolvimento das Infra--Estruturas (GDI) lançou um comunicado na noite de quarta-feira - na versão chinesa – onde realçava a suspensão das obras devido precisamente a esse facto. Para os jornais portugueses, no entanto, esse comunicado nunca chegou em língua portuguesa – o que fez com que, à falta de tradução, não fosse possível continuar a acompanhar a notícia.

Ontem, o GDI disse que a notícia iria ser lançada na versão em português “muito em breve, talvez na segunda--feira” – e é precisamente aqui que reside o problema para os jornais em português do território. Não só pelo senso comum, mas também pelo que é repetidamente ensinado aos profissionais do jornalismo: as notícias têm valor jornalístico apenas

Departamentosdo Governo voltama desrespeitar Lei Básica

Português, onde estásquando acabaram de acon-tecer, ou quando não foram noticiadas previamente por nenhum veículo. Entre os factores principais que in-fluenciam a qualidade da notícia está precisamente a “novidade”.

Também a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DS-SOPT) não serviu de muito a informar os jornais em português sobre a questão da Taipa Pequena e da polémica que se tem insurgido devido à discriminação de parece-res públicos, devidamente assinados pelos cidadãos. O comunicado emitido pela entidade afirmava “que a Administração valorizava a opinião pública e que já tinha compilado as opiniões” e foi colocado na versão chinesa às 19h57 de quarta-feira – só 24 horas depois os jornalistas que escrevem em português tiveram acesso à informação, que já tinha sido escrita pe-los jornais chineses no dia anterior.

As justificações repetem--se nos dois órgãos da Administração – “estavam com pressa para lançar a informação para os jornalis-tas chineses”, pelo que não puderam esperar a tradução. Além disto, “não têm tradu-tores suficientes”.

DSAT EM FALTANo início do mês de Julho (7), o Hoje Macau publicou um artigo que dava conta de erros graves num website do Governo. Intitulada “A caminho de Bamboo Bay”, a peça descrevia o novo “Posto de Informação dos Autocarros Públicos” da

Direcção dos Serviços para os Assuntos do Tráfego (DSAT) – um documento que, supostamente, serviria para informar a população sobre as novas carreiras de autocarros que começam a funcionar a 1 de Agosto.

Mas a página electrónica só estava disponível na ver-são chinesa, salvo algumas excepções, com os nomes das paragens em inglês ou tra-duções para português que não fazem parte da realidade dos locais do território, que há décadas têm nomes na língua de Camões.

Na altura, Casimiro Pin-to, líder da lista “Voz Plural, Gentes de Macau” em 2009, disse ao Hoje Macau “ter a certeza de que não fizeram de propósito, mas as pessoas que lidam com as páginas oficiais do Governo deviam preparar-se melhor. Há ali pontos de paragem dos au-tocarros que já existem em Macau, não são novos, não se está a referir a um aterro que ainda não tem nome”.

Em resposta a este jornal, a DSAT comprometeu-se a disponibilizar a página elec-trónica integralmente em português e, no dia a seguir à publicação do artigo, lançou um comunicado onde afir-mava “ter grande respeito pela Língua Portuguesa”. A DSAT pediu desculpa, justificou o erro como tendo sido um problema técnico de ordem informática e disse estar a “acelerar de uma forma intensa a tradução do conteúdo da referida página electrónica, fazendo esforços para lançar a versão portuguesa ainda este mês”.

Quisemos acompanhar

o caso. Mas até ontem nada foi feito para divulgar a in-formação ao público que fala português sobre os novos transportes que arrancam na segunda-feira. Interrogada pelo Hoje Macau, a porta--voz da entidade disse “que não acreditava ser possível colocar a informação an-tes do funcionamento do novo serviço, porque ainda estavam a trabalhar na tra-dução”. Mas segunda-feira já é Agosto, tornando vãos os “esforços para lançar a versão portuguesa ainda este mês”.

O Hoje Macau apresen-tou uma reclamação junto do Gabinete do Porta-voz do Executivo, que, depois de averiguar o caso, rapida-mente conseguiu antecipar

?para “antes da entrada em funcionamento dos autocarros” a colocação da informação totalmente em português – resta esperar que até domingo antes da meia-noite o problema esteja resolvido.

PROBLEMA SEM REMÉDIO? Quisemos deixar de parte outros exemplos de assas-sinato ao português – na publicidade, anúncios nos transportes públicos e le-treiros em departamentos públicos. E quisemos ainda deixar claro que não se trata de preconceito ou persegui-ção aos órgãos da RAEM, mas de mencionar lacunas no cumprimento do “primado da lei” e “na Governação com base no princípio ‘um país,

dois sistemas’” – tão publi-citados pela Administração.

Paulo Azevedo, pre-sidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), disse ontem ao Hoje Macau que “de forma geral, e inde-pendentemente de qualquer caso específico, tem sido uma luta muito longa” e re-fere não acreditar que os pro-blemas serão resolvidos de forma atempada. O respon-sável da associação deixou ainda clara a necessidade “de a informação ser dada nas duas línguas oficiais” e salientou que “nunca é de-mais repetir que o Governo tem a responsabilidade e a obrigação de disponibilizar à população informação nos dois idiomas”.

Paulo Azevedo diz não acreditar que os problemas sejam em decorrência de “má vontade”, mas sim por “falta de meios”. Não obstante não deixa de frisar: “Para esta pequena cidade, com receitas bilionárias, com um PIDDA que nem sequer se gasta e com os saldos orçamentais a irem para as reservas financeiras, é difícil de trazer e formar pessoal para resolver esta questão?”

A má utilização da Língua Portuguesa foi um problema que o Governo prometeu re-solver já há mais de dez anos. O que é certo é que “continua a subsistir, o que é lamentá-vel”, diz Paulo Azevedo. O presidente da AIPIM salienta ainda que o português está na génese do sistema político ‘um país, dois sistemas’ – “o segundo sistema passa pela língua, se a língua cai, o sis-tema também cai”, ressalva.

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SEXTA-FEIRA 29.7.2011

7www.hojemacau.com.mo

GOVERNO NÃO QUER ENTRAR NO FUNDO DE PREVIDÊNCIA PARA DOCENTES

Cada um por siGonçalo Lobo [email protected]

A reunião de ontem da 2.ª Comissão Permanente

da Assembleia Legislativa (AL) mostrou um Governo irredutível em participar no Fundo de Previdência para docentes. Na discussão e análise da proposta de lei intitulada “Quadro Geral do Pessoal Docente das Escola Particulares do Ensino Não Superior”, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Cheong U, vincou a posição do Governo de não participar no Fundo. “O Governo disse que, como já foi criado o Re-gime de Poupança Central e todos os anos, com os saldos acumulados, o Governo in-jecta montantes nas contas individuais dos residentes, não vai pensar em participar também na contribuição para o Fundo de Previdência dos docentes”, afirmou o vice--presidente da 2.ª Comissão, Lee Cheong Cheng.

CENTRO DE PROTECÇÃO CONTRA O CALOR DE PORTAS ABERTAS De acordo com a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos, prevê-se que o calor continue intenso, e que provavelmente atingirá os 34º C. Por isso, uma atenção redobrada deve recair sobre os idosos, doentes crónicos e indivíduos em estado débil, tomando medidas de protecção do calor. O Centro de Protecção Contra o Calor do Instituto de Acção Social, na Rua do Asilo da Ilha Verde, abriu ontem portas entre 12h00 e 17h00, para servir de apoio aos que precisem de se refrescar.

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lidade de introduzir um mecanismo de avaliação aos directores das escolas. Confrontado com essa questão, Chan Chak Mo afirmou que o assunto não voltou a ser discutido na reunião de ontem, contudo o problema será abordado pelo Governo aquando da discussão na nova pro-posta do articulado a ser apresentada brevemente à especialidade.

O prémio de antigui-dade também foi um tema levantado na reunião da 2.ª Comissão. De acordo com a assessoria, “não é explicitamente mencionado no artigo da proposta de lei referente às remunerações”. “A Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) já atribuiu aos docen-tes o prémio de antiguidade, só que isto não consta da proposta de lei e o Governo disse que também vai estu-dar essa matéria”, revelou o deputado Chan Chak Mo.

O deputado também referiu que não existe ca-rácter de obrigatoriedade de participação no Fundo de Previdência Geral para Docentes, contudo o Fundo de Previdência do Pessoal Docente previsto na proposta de lei será obrigatório em todas as escolas. Dados reve-lados ontem mostram que já existem 64 escolas de Macau a participarem desse Fundo.

Outra questão que esteve em cima da mesa prendeu--se com a retroactividade na efectivação da lei. Com férias legislativas à mistura – a Comissão não conse-guirá terminar a discussão da proposta de lei antes de 15 de Agosto -, o diploma final só deverá receber guia de marcha da AL depois de Setembro.

Contudo, os deputados quiseram saber se haverá efeitos retroactivos aquan-do da aplicação da lei. “O Governo acha que a retro-actividade é uma questão não viável, muito por culpa

da programação das aulas. Apesar disso admitiu na Co-missão estudar a aplicação de efeitos retroactivos na questão dos subsídios de de-senvolvimento profissional, podendo retroagir a Setem-

bro”, disse aos jornalistas o presidente da 2.ª Comissão, Chan Chak Mo.

CAPACIDADE DE GESTÃOJá na anterior reunião se tinha falado da eventua-

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SEXTA-FEIRA 29.7.2011

8www.hojemacau.com.mo CULTURA

Carlos [email protected]

HÁ um plano fixo inau-gural de dez minutos, e depois, Manuel Vicente, arquitecto, em voz off”:

“Eu não tenho nada para ensinar”.O depoimento integra uma

entrevista de cerca de três horas que José Maçãs de Carvalho fez ao arquitecto no regresso a Lisboa depois das filmagens em Macau, em Abril, a cinco edifícios-chave da obra de Vicente. É, no fundamental, um discurso em que o arquitecto reflecte sobre a sua prática e de-senvolve considerações em redor da (sua) arquitectura e das ramifi-cações, mais ou menos, explícitas que nela se inscrevem. Mas este é já uma excrescência face ao objecto que esta tarde reúne em Lisboa, no Museu do Oriente, o realizador, o director científico, Jorge Figueira, e Nuno Crespo, ensaísta, na apre-sentação do filme “Learning from

Apresentação em Lisboa de “Learning from Macau”, a partir da obra de Manuel Vicente

Possibilidade, ausência e utopiaMacau”, num encontro moderado por João Afonso, comissário geral da exposição “Manuel Vicente: Trama e Emoção”.

O filme arranca com essa contradição inicial que assinala o desprendimento com que Manuel Vicente falará da sua obra e, em particular, do caso Fai Chi Kei, ou com mais rigor, do buraco do Fai Chi Kei . “O que me interessava era interrogar a arquitectura como disciplina utópica e daí a filmagem da ausência, do vazio, e de como esse vazio se pode projectar num objecto fílmico”, começa por dizer, José Maças de Carvalho, ao Hoje Macau. “Pretendo que [o filme] se constitua como interrogação à arquitectura pela memória da pessoa com mais autoridade sobre o objecto que é, justamente, o seu criador. Procurei isso”, continua, “confrontar o espectador com a ausência dessa arquitectura”. Segue-se um registo a negro “em que forço o espectador a imaginar

como era o sítio e o próprio edifício do Fai Chi Kei” rematando, esse primeiro momento #1, filme com Manuel Vicente em discurso sobre a demolição. “E o que ele tem é uma reacção muito pós-moderna. Um desprendimento em relação ao objecto em que, curiosamente, ele põe em causa a arquitectura como utopia. Há amigos que morrem, e o edifício também já não está lá”, constata.

O filme avança para o momento #2: um itinerário sobre o edifício dos Bombeiros, do Arquivo Histó-rico, a sede da TDM e o Orfanato Helen Liang. “Quis organizar uma viagem sobre as vivências do edifícios e perceber como é que as pessoas usam aqueles edifícios, como os vivem, como interagem com o próprio espaço físico: com os elevadores, até com as transparên-cias”. Prevalece ali um olhar a partir do interior numa interrogação que se materializa na visibilidade dos elementos que lhes são mais

específicos e que se vinculam à sua dimensão pública. “Todos são espaços de utilidade pública”.

FIGURAS DE AUTORIDADEMaçãs de Carvalho aponta ainda para as “duas linhas paralelas” em que as imagens se organizam. “Há dois tipos de recorrências; em cada uma tento encontrar uma figura de autoridade. Nos Bombeiros, o comandante; no Arquivo Histórico, o director; na TDM, os pivots dos telejornais; no Orfanato, e uma vez que se trata de um edifício de cariz religioso, espera-se por essa figura mas ela não aparece”. Outra recorrência prende-se com o vínculo do realizador à linguagem da fotografia o que o precipita num jogo entre o espaço arquitectónico e o tempo congelado do olhar fo-tográfico. “O tempo pára e o que pretendo é projectar no filme esse congelamento que acontece na fo-tografia entre o momento antes e o que vem depois”. É uma estratégia

do realizador para ali introduzir o que diz ser uma ficção narrativa. “Pode tratar-se de arquitectura mas também quis fazer um filme sobre pessoas” na arquitectura.

Maçãs opera uma desacelera-ção “de forma a cativar a atenção do espectador para um tempo que não é o do cinema comercial, ou o do vídeo, mas o deste cinema específico que recorre a citações de fotógrafos” que constituem o universo referencial de José Maças de Carvalho.

A organização do filme em dois momentos assume esse projecto políptico patente na designação “Learning from Macau #1” e “Learning from Macau #2”, numa paródia à obra paradigmática de Denise Scott Brown e Robert Ven-turi, “Learning from Las Vegas”. “Possibilita outros learnings “, diz a rematar, “que, no futuro, podem chegar a tocar a obra de outros ar-quitectos que não apenas Manuel Vicente”.

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9www.hojemacau.com.mo

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.º 287/AI/2011-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor YE ZHIQIANG que, na sequência do Auto de Notícia n.º 90/DI-AI/2010, de 03.12.2010, levantado pela DST e por despacho do Exmo. Senhor Director destes Serviços, de 28.04.2011, exarado no Relatório n.º 212/DI/2011, de 25.04.2011, foi desencadeado procedimento sancionatório, com vista ao seu alojamento na fracção autónoma situada na Avenida da Amizade nº 1321, Edf. Hung On Center, Bloco 3, 5º andar U e utilizada para a prestação ilegal de alojamento.--------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre as matérias constantes daqueles Autos de Notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito. Nos termos do n.º 2 do artigo 14.º da Lei n.º 3/2010 não é admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo.--------------------------------A matéria constante daquele Auto de Notícia constitui infracção ao artigo 2.º da Lei n.º 3/2010, que dispõe: “a actividade de prestação de alojamento ao público, sem possuir a licença para exploração de estabelecimentos hoteleiros, em prédio ou fracção autónoma não destinado a fins de actividade hoteleira e similar, cujo ocupante é não residente da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), ao qual não foi concedida autorização especial de permanência ou autorização de permanência de trabalhador não residente”. Tal facto é punível nos termos no n.º 1 do artigo 10.º da Lei n.º 3/2010 - : “Quem prestar ilegalmente alojamento ou controlar por qualquer forma prédio ou fracção autónoma utilizado para a prestação ilegal de alojamento é punido com multa de 200.000,00 a 800.000,00 patacas”.------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Direcção dos Serviços de Turismo, em Macau, aos 25 de Julho de 2011.

A Directora dos Serviços, Substª.,Maria Helena de Senna Fernandes

DIRECÇÃO DOS SERVIÇOS DE SOLOS, OBRAS PÚBLICAS E TRANSPORTES

AnúncioFaz-se saber que em relação ao concurso público para a execução da empreitada de “Obra de Remodelação das Instalações da Polícia Judiciária no 9.º andar do Edifício Comercial Nam Tung”, publicado no Boletim Oficial da Região Administrativa Especial de Macau, n° 28, II Série, de 13 de Julho de 2011, foram prestados esclarecimentos, nos termos do artigo 2° do programa do concurso, e foi feita aclaração complementar conforme necessidades, pela entidade que realiza o concurso e juntos ao processo do concurso.Os referidos esclarecimentos e aclaração complementar encontram-se disponíveis para consulta durante o horário de expediente no Departamento de Edificações Públicas da DSSOPT, sita na Estrada de D. Maria II, Edifício CEM, n°s 32-36, 3° andar, Macau.Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes, aos 22 de Julho de 2011.O Director dos Serviços, Jaime Roberto Carion

Carlos [email protected]

FOI Jorge Morbey, ex-presidente do Ins-tituto Cultural de Macau, que atirou: “para além das pedras, existem as pes-soas”. Referia-se ao valor que considera

estar latente nas comunidades de euro-asiáticos espalhadas pelo continente. Fê-lo já nos últimos minutos da sessão dedicada à apresentação do volume editado pela Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) dedicado ao património construído de influência portuguesa e que contou com as intervenções de Rui Vilar, da Fundação Gulbenkian, Walter Rossa, coorde-nador do volume, e Jorge Cavalheiro, uma das mais eruditas figuras da história de Macau e que, segunda-feira, abandona, por um ano, o território.

A questão de Morbey não pretendia im-pugnar o esforço de sistematização entregue a este trabalho mas uma alerta “para a questão das comunidades ser integrado na agenda das instituições” portuguesas ali represen-tadas: além da FCG, o Instituto Camões e a Fundação Jorge Álvares, representada pelo ex-governador de Macau, Carlos Melancia. São comunidades cujo background reside na religião católica e na língua, que se sentem completamente abandonados”, continuou, “e que em Portugal ninguém sabe sequer que existem”. Por isso, “o meu trabalho ao longo destes anos foi a de tentar juntar todas estas pontas mas é um trabalho difícil de fazer”. Jorge Morbey insistiu que as “pedras são um tesouro mas”, salvaguardou “não sei se serão mais importantes que estas pessoas uma vez que elas até poderiam ser aliados eventuais de uma política externa portuguesa”. Rui Vilar sentiu a interpelação e na resposta a Morbey sublinhou o trabalho da FCG na promoção de projectos como o Museu da Língua Portuguesa,

Breve debate na apresentação de “Património de Origem Portuguesa” na Ásia

As pedras sim. E as pessoas?de São Paulo, defendendo que “o importante é saber juntar saberes dispersos em rede”.

Houve outros comentários, no período de debate, como o de Maria José de Freitas quan-do alertou para ausência total de referências à paisagem e ao paisagismo. Walter Rossa defendeu-se alegando a imperfeição que, desde princípio, sempre pressentiu atravessar uma obra com esta ambição. O arquitecto, docente na Universidade de Coimbra, assi-nalou a abordagem distinta de cada um dos três volumes justificando a particularidade asiática em que os textos de enquadramen-to constituíram a solução para um quadro marcado pela grande falta de sistematização do património por oposição, por exemplo ao que acontece no Brasil. Perante o argumento do património que ficou de fora, ou que não foi considerado, Rossa preferiu falar de uma “cartografia da presença portuguesa” quando antes , no discurso que dirigiu à plateia de cerca de vinte pessoas, já tinha avisado que a salva-guarda do património e do “muito relevante que não está classificado” depende em parte do “conhecimento da comunidade [reunida] em torno desta obra”. “É uma comunidade que não pode apenas ser de eruditos”. “Hoje com o passado colonial resolvido podemos avançar, sem traumas, mas com uma ética apurada e vigilante para a construção de uma comunidade mundial que encontre na influência portuguesa um elo de união”. E deixou o alertou : “Para o reforço dos valores patrimoniais de bens frequentemente singelos e frágeis perante o galope de um desenvolvi-mento que, para ser sustentável, tem de ser feito a trote, e, em alguns caso, até a passo”. Hoje à tarde, ás 18h30, inaugura no Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais a ex-posição sobre o papel da FCG na reabilitação do património português no mundo, ao longo dos anos.

“BES REVELAÇÃO 2011” JÁ TEM VENCEDORESAna de Almeida, Catarina de Oliveira e o colectivo de artistas constituído por Gonçalo Gonçalves, Luís Giestas e Almeida e Silva, foram anunciados como vencedores da edição deste ano do “BES Revelação”. Os projectos vencedores vão ser apresentados no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, a partir de Novembro de 2011, numa exposição comissariada por Ana Anacleto. Este ano o júri foi constituído por Ana Anacleto, Marianne Lanavère e Manuel Segade.

Jorge Morbey reclamou o valor das comunidades euro-asiáticas na política externa portuguesa

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SEXTA-FEIRA 29.7.2011

10www.hojemacau.com.mo ENTREVISTA

Carlos Gomes da Silva, professor do ensino secundário

“Macau não se faz, e não permanece na sua autenticidade, sem a cultura portuguesa”

ESTE professor é um homem com o vício de reflectir. Sobre o Ensino, sobre o Direito, sobre a Filosofia ou a História. Dentro

dele, a vontade compulsiva de valoriza-ção pessoal. Por isso, vai tirando cursos superiores. E não promete parar. Tudo isto, e mais o que o leitor vai descobrir na entrevista, enquanto continua a dar aulas na Escola Portuguesa de Macau.Em 1994 chega a Macau como professor do ensino secundário, com o curso de Enfermagem e ainda com o de Ensino de Biologia e Geologia. O que o trouxe até aqui?A minha esposa é de cá, eu já cá tinha estado por períodos curtos, inclusivamente vim casar a Macau em 1984, antes ainda de virmos para cá viver. Conhecia-a em Portugal quando ela trabalhava no Hospital de S. Marcos em Braga, depois dela ter feito o curso de Terapia Ocupacional no Alcoitão.Começou logo a dar aulas em Macau?Não propriamente. Trabalhei no Centro de Educação Permamente,

que pertence à Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, ligado às diferentes actividades desenvolvidas pelo Centro. No ano seguinte é que passei a dar aulas de Biologia e Geologia no Liceu. Mais tarde, em 1998, na constituição da Escola Portuguesa de Macau, ingressei neste estabelecimento.Entretanto, surgiu a vontade de acumular mais um curso superior.(risos) Bom, surgiu o curso de Direito.Descobriu uma nova vocação?Não, foi praticamente acidental. Eu explico. Foi fruto de uma conversa que na altura tive com o Doutor Manuel Trigo, então director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau. Nessa conversa, confidenciei-lhe um dos meus desejos desde muito jovem: tirar o curso de Direito. Ele respondeu-me imediatamente - “então por que não tira?” Uma conversa quase de circunstância transformou-se numa coisa muito séria. Foi em Setembro de 2006, então com 47 anos de idade, sentava-

me pela primeira vez numa sala de aulas da Universidade de Macau como aluno.Continuando como professor na Escola Portuguesa...Sim, nunca deixando de leccionar.Em casa, familiarmente, continuaram a encarar bem mais esta sua decisão?Felizmente, sim. Conversámos bastante, procurei recolher o apoio da família, pois era uma decisão que, obviamente, ía implicar alterações no ritmo da vida familiar. Obtive esse apoio que se tornou fundamental.Professor num lado e aluno no outro. Sim, algo “sui generis”. Por exemplo, estar sentado ao lado de alunos, ali colegas meus, alguns deles que poucos anos antes tinham sido meus alunos na Escola. Inicialmente, uma situação talvez um bocadinho embaraçosa, mais para eles, talvez. Eu era visto por eles ainda como o professor, o tal “s´tor”, imagem que procurei logo desmontar exigindo que me tratassem como a qualquer

outro colega, que me tratassem pelo nome e por tu. Acabou por ser uma experiência agradável. De manhã até ao fim da tarde, era professor a tempo inteiro; à noite, era aluno a tempo inteiro também. Na Universidade não entrava o professor da Escola Portuguesa e na Escola Portuguesa nunca entrava o aluno da Faculdade de Direito. Nunca misturei as coisas para não resultar em prejuízo de uma em favor da outra.Curso de Direito que completou há escassas semanas.Precisamente há duas semanas.Desta vez a intenção é deixar de ser professor?Não foi esse o meu objectivo quando me matriculei em Direito na Universidade. Em primeiro lugar, foi um desafio a mim próprio. Em segundo lugar, uma forma de valorização pessoal. Gosto muito do Direito, das questões que o Direito levanta, aprecio muito analisar vários aspectos de uma forma jurídica, mas não me considero um jurista.

Exactamente por gostar, tirei o curso. Mas, estruturalmente, assumo-me como professor, é a minha carreira, a minha genuina vocação.Noto-lhe um ar de felicidade ao falar nisto.Porque sou um homem feliz! Não costumo andar a falar nisto, como sabe, mas uma vez aceite a entrevista, digo-lhe tranquilamente que me sinto uma pessoa feliz.Principais razões?Tenho a profissão de que gosto, que me realiza pessoalmente, e trabalho numa instituição que me dá todas as condições para o exercício da minha actividade profissional. De maneira que, neste momento, não sinto qualquer apelo para uma mudança de carácter profissional. Se o convidassem a dar aulas de Direito, aceitaria?Esse convite não foi feito. Por outro lado, não esquecer que a Faculdade de Direito da Universidade de Macau está muito bem servida de professores, quer em termos da sua qualidade como da sua quantidade. Não posso falar do ensino do Direito em língua chinesa porque não conheço, mas no que respeita ao ensino do Direito em português, esse é de grande qualidade, sem ficar a dever absolutamente nada às boas universidades portuguesas. A Universidade de Macau tem um competentíssimo e muito dedicado quadro de docentes. Como observa a continuidade do curso de Direito em língua portuguesa?É absolutamente fundamental para o sistema jurídico de Macau, a continuidade do curso de Direito em língua portuguesa. A continuidade e o desenvolvimento do sistema jurídico local não é garantida somente pelo facto de constar na Lei Básica da RAEM. Obviamente, sem qualquer desprimor para a faculdade de Direito em língua chinesa, isso nunca está em causa. Se um jurista da “common law” não pode ser um bom jurista se não conhecer profundamente a língua inglesa e a própria cultura jurídica da “common law”, da mesma forma eu creio que não é possível ser um bom jurista na RAEM, desconhecendo a língua e a cultura jurídica portuguesas. Porque a matriz do Direito na RAEM é portuguesa, a doutrina que a suporta está em português. Não basta memorizar, não basta conhecer conceitos e regras

GONÇ

ALO

LOBO

PIN

HEIR

O

Macau é para sempre? Ganhei aqui raízes, a minha mulher é de Macau, a família dela também está cá, a

minha filha cresceu aqui, de maneira que é em Macau que pretendo continuar a viver

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SEXTA-FEIRA 29.7.2011

11www.hojemacau.com.mo

Carlos Gomes da Silva, professor do ensino secundário

“Macau não se faz, e não permanece na sua autenticidade, sem a cultura portuguesa”

com Helder Fernando

jurídicas para se ser um bom jurista, é preciso consultar a doutrina, é preciso compreender o Direito; e essa compreensão do Direito passa, necessariamente, pelo acesso às fontes que, na sua esmagadora maioria, estão na língua portuguesa.Em matéria de cursos superiores, parou aqui ou já está a germinar uma outra ideia?Pelo menos durante os próximos meses não haverá novidades da natureza do que me pergunta. Procuro fazer uma pausa, repousar, pois foi uma caminhada de cinco anos, simultaneamente como professor do ensino secundário e como estudante de Direito.Talvez tenham sido anos sem muito tempo para leituras, cinema... enfim, o lúdico?As leituras vão-se fazendo, gosto muito de ler, principalmente nas áreas da filosofia e história. Naturalmente que não podia dormir muito, mas arranjei tempo necessário para dedicar à família, algum tempo para conviver com alguns amigos e para os meus passeios de bicicleta.Passeia de bicicleta?Faço parte do Grupo Promotor do Ciclismo Recreativo na RAEM. Damos saudáveis passeios pela região, nos nossos tempos livres.

Nasceu há 52 anos em Lisboa. As origens estão muito mais a norte, no Minho. Vem de uma família onde oito irmãos foram crescendo no exercício imperioso da partilha de dificuldades, trabalhos e co-nhecimentos. Forjado na necessária disciplina que ainda hoje a si próprio impõe, embora com reconhecida fleuma, Carlos Gomes da Silva vai coleccionando cursos, nomeadamente cursos superiores. Não faz disso conversa, não gosta, prefere assumir-se na profissão que abraçou há 22 anos: professor do ensino secundário.Vamos por partes. Depois da instrução primária, em Fafe, fica cinco anos em Guimarães, no Seminário do Verbo Divino. Não se tratou de vocação, foi necessidade - a família numerosa e a vida que não estava para brincadeiras. Aqui concluiu o antigo 5º ano do Liceu, indo completar o ensino liceal no Liceu Nacional de Guimarães em 1977. “Seguramente, uma óptima formação, aprendi muito”, sublinha. Terminado o serviço cívico, surgiam duas opções - ano propedêutico ou o ingresso na Escola de Enfermagem em Braga. Viu como mais aliciante a Enfermagem: “não foi por vocação, ha-via uma bolsa de estudo da Fundação Gulbenkian até aos 3500 escudos mensais. Com a bolsa já me permitia fazer face às minhas despesas, aliviando o orçamento familiar apenas sustentado por meu pai como polícia de Viação e Trânsito da PSP”.Curso de enfermagem concluido, seguem-se nove anos como en-fermeiro no Hospital de S. Marcos em Braga. Verdadeira vocação, essa não existia. Outras duas hipóteses na frente: manter-se insa-tisfeito ou procurar situação mais convincente. Resolveu ingressar na Universidade do Minho para frequentar o curso de Ensino de Biologia e Geologia. Afirma ter sempre gostado de ensinar, “foi

sempre um apelo”. Concluiu este curso em 1989, abandonando a enfermagem como profissão, para ingressar no Ensino. Trabalhar como enfermeiro enquanto se tira um curso superior não é nada fácil, digo ao entrevistado. Concorda, e calmamente vai dizendo que “foi um tempo duro como trabalhador-estudante, felizmente tínhamos horário rotativo no hospital, mas na Universidade o horário era o normal, o que implicava o ter de fazer constantes trocas com os meus colegas enfermeiros e não raramente trabalhar de noite para frequentar as aulas de dia. Em grande parte devo a conclusão desse meu curso à ajuda essencial dos meus colegas”.Já com o primeiro dr. no currículo académico, é admitido no Ministério da Educação como professor do ensino secundário. Primeira escola, para terminar o estágio, foi a D. Maria II em Braga. Logo a seguir é colocado em Carrazedo de Montenegro, em Trás-os-Montes, onde nunca chegou a trabalhar porque, ao abrigo da “lei dos cônjuges”, acabou por ficar em Braga, lec-cionando na Escola C+S Dr.Francisco Sanches. Mas o capítulo da Enfermagem ainda não estava completamente encerrado para Gomes da Silva. No mesmo ano de 1989 foi convidado a leccionar Biofísica e Bioquímica na Escola Superior de Enfer-magem Calouste Gulbenkian em Braga, tão sua conhecida e, entretanto, já integrada no ensino Superior. Ali deu aulas até 1994, ano em que veio para Macau. Para leccionar, mas não somente: para continuar a ser estudante universitário e acres-centar cursos à sua ânsia de conhecimento. O curso de Direito foi outro. E, o mais certo, é a “colecção” de cursos continuar brevemente numa universidade perto de si.

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Macau é para sempre? Ganhei aqui raízes, a minha mulher é de Macau, a família dela também está cá, a

minha filha cresceu aqui, de maneira que é em Macau que pretendo continuar a viver

“COLECCIONA” CURSOS SUPERIORES

E também colaborei no Grupo de Danças e Cantares de Macau, no tempo do professor João Fonseca, meu amigo e colega na EPM. Mas desde que inicei o curso de Direito deixei de ter disponibilidade para ir aos ensaios e às deslocações; para além de, verdade se diga, eu não dançar lá muito bem.Como estudante, em criança, jovem ou adulto, nunca reprovou?Nunca reprovei. Mas falando nestes últimos cinco anos, procurei conciliar da melhor maneira possível, a minha profissão de professor e a faceta de estudante.Da sua experiência de docente em Portugal e em Macau, como observa as naturais diferenças?O facto de em Macau os alunos serem das mais diversas origens, é um desafio muito enriquecedor, particularmente para os próprios alunos. Ser professor em Macau é, apesar de tudo, mais fácil do que ser professor em Portugal. Porque aqui nós gozamos de condições materiais para o exercício do ensino que muito dificilmente poderão estar reunidas em Portugal. Existe aqui um envolvimento muito maior de toda a comunidade educativa. A qualidade do ensino de excelência na Escola Portuguesa é reconhecida em todo o lado. Vejam-se os

resultados que os nossos alunos apresentam nos exames nacionais, aparecem sistematicamente em posições privilegiadas e, no contexto das escolas portuguesas no estrangeiro, a nossa é a primeira no “ranking” de resultados. Isto deve-se, necessariamente, à dedicação daqueles que têm por função dirigir a escola, deve-se à qualidade dos professores, e ao fundamental apoio dos encarregados de educação que

colaboram de forma muito activa em todo o processo do ensino-aprendizagem.A EPM está bem onde está? Qual a sua opinião como professor, uma vez que, ciclicamente, se fala na mudança de instalações para outro local?A Escola é boa, tem funcionado bem onde está. Se se fala na proximidade do casino, lembremo-nos que os casinos são omnipresentes em Macau, é uma rotina, as pessoas convivem com essa realidade, isso não tem provocado reflexos negativos. A Escola é pequena, perto de 500 alunos, temos bom ambiente, isso permite termos um acompanhamento quase individualizado dos nossos alunos, digamos que um acompanhamento de proximidade. Situações que eventualmente possam revelar-se mais preocupantes são despistadas logo na sua origem. Em termos da comunidade estudante, não temos problemas para além dos naturais que surgem em qualquer estabelecimento.

Se acontecer a mudança de instalações, prevê que seja para instalações melhores do que as actuais?Como compreende, não tenho poderes para prevêr nada. Estou é convencido que se um dia mudarmos, os responsáveis por essa mudança, seguramente garantirão que as novas instalações venham a ser de excelência, pelo menos ao mesmo nível das actuais.Macau é para sempre?Ganhei aqui raízes, a minha mulher é de Macau, a família dela também está cá, a minha filha cresceu aqui, de maneira que é em Macau que pretendo continuar a viver.Acreditando no futuro da Escola Portuguesa...Acreditando, sim. É fundamental para a identidade de Macau, a continuidade do projecto da Escola Portuguesa. Macau não se faz e não permanece na sua autenticidade sem a cultura portuguesa; e muito do que existe aqui, dessa cultura, está ligado à Escola.

O facto de em Macau os alunos serem das mais diversas origens, é um desafio muito enriquecedor, particularmente para os próprios alunos. Ser professor em Macau é, apesar de tudo, mais fácil do que ser professor em Portugal. Porque aqui nós gozamos de condições materiais para o exercício do ensino que muito dificilmente poderão estar reunidas em Portugal. Existe aqui um envolvimento muito maior de toda a comunidade educativa

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Julho positivo para o automobilismo da RAEM

Sorte a pairar no ar

ESQUIADOR OLÍMPICO ENCONTRADO MORTO O esquiador e medalhista olímpico Jeret “Speedy” Peterson, de 29 anos, foi encontrado morto na noite de segunda-feira, nas montanhas remotas do Lambs Canyon, no estado norte-americano do Utah, com as autoridades a considerarem a hipótese de suicídio. O esquiador ‘freestyle’, que arrecadou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, em Vancouver, telefonou para a linha de emergência antes de disparar sobre ele próprio, informou a polícia. O atleta tinha sido presente a tribunal na sexta-feira por condução sobre o efeito de álcool e tinha-se declarado inocente. O corpo foi encontrado perto do seu veículo numa zona entre Salt Lake City e Park City, nos Lambs Canyon, disse a polícia.

XANANA GUSMÃO ASSINA COM REAL MADRIDO primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, desloca-se a Espanha em Setembro, a convite do Real Madrid, com cuja fundação deverá assinar um memorando de entendimento para a dinamização de escolas de futebol em Timor-Leste. O secretário de Estado da Juventude e Desporto, Miguel Manetelo, havia já anunciado que iria ser assinado um memorando de entendimento com a Fundação Real Madrid, para criar escolas de futebol nos distritos de Díli, Baucau e Bobonaro. “O Governo de Timor-Leste e a Fundação Real Madrid planeiam criar uma escola de futebol para desenvolver o talento para o futebol dos jovens timorenses”, declarou em Maio Miguel Manetelo aos jornalistas. De acordo com o Secretário de Estado da Juventude e Desporto o plano é criar polos da escola de futebol Real Madrid nos distritos de Díli, Baucau e Bobonaro, em cooperação com a Fundação Xanana Gusmão, que ficará encarregada de implementar o acordo.

Sérgio [email protected]

O mês de Julho tem cor-rido de feição as cores de Macau no desporto automóvel fora de por-

tas. Depois da vitória de Rodolfo Ávila na segunda corrida em Ordos da Taça Porsche Carrera Ásia, a primeira este ano de um piloto da RAEM num campeonato inscrito na federação internacional do automóvel, no fim-de-semana passado foi a vez de outro resi-dente de Macau e licenciado da Associação Geral de Automóvel de Macau - China (AAMC), Luís

A comissão de disciplina da Liga grega despromoveu o

Kavala e o Olympiakos Volos à II Divisão por envolvimento num esquema de viciação de resulta-dos. As duas equipas também foram condenadas ao pagamento de multas de 300 mil euros e os seus presidentes, Achilleos Beos (Volos) e Makis Psomiadis (Kava-la), foram irradiados do futebol e instruídos ao pagamento de 90 mil euros de multa.

A decisão da comissão disci-

plina é passível de recurso, mas para já é esperado o regresso do Panserraikos Serres e do FC Larissa – clubes que tinham des-cido – à I Liga, em substituição dos agora castigados.

O Volos terminou a Liga grega em quinto lugar e poderá ser banido da Liga Europa, ainda que tenha previsto disputar nesta quinta-feira o jogo da primeira mão da terceira pré-eliminatória frente ao Differdange, do Lu-xemburgo. O Kavala terminou

o campeonato em sétimo lugar.Na quarta-feira, um dia de-

pois da visita de Michel Platini, presidente da UEFA, a Atenas, o ministro grego da cultura, do turismo e do desporto, Pavlos Geroulanos, reconheceu que os campeonatos estavam corrom-pidos.

O ministro admitiu também a possibilidade de “atrasar o ar-ranque de época”, caso se verifi-quem “novos desenvolvimentos judiciais”.

DOIS CLUBES GREGOS DESPROMOVIDOS À II LIGA E PRESIDENTES IRRADIADOS

Já não bastava a crise financeira...

Sá Silva, a vencer uma corrida de carácter internacional.

O piloto angolano residente na RAEM há vários anos triunfou na primeiras das duas corridas do recém-criado campeonato “Fórmula Pilota China” no Cir-cuito Internacional de Xangai. A correr pela equipa macaense Asia Racing Team, Sá Silva, que este ano regressou às competições na Ásia após uma curta passagem pelo Campeonato Alemão de Fórmula 3 em 2010, é agora o se-gundo classificado naquele que é o mais concorrido campeonato de monolugares da região, após ter terminado na quarta posição na

segunda manga do evento patro-cinado pela Ferrari China.

Em acção no passado fim-de--semana também estiveram os ma-caenses Álvaro Mourato e Ricardo Lopes, dois rostos bem conhecidos do automobilismo local. Os dois pilotos habituais do Campeonato de Macau de Carros de Turismo (MTCC) tomaram parte da prova do “Challenge Asiático de Carros de Turismo”, mais conhecido na gíria automobilística por Campeo-nato Asiático de Carros de Turismo, na sua jornada dupla disputada no circuito de Sentul, na Indonésia.

No circuito mandado erguer pelo filho do General Suharto na

década de noventa, os dois pilotos do território, ambos ao volante de Honda DC5 alugados a equipas estrangeiras, tiveram prestações meritórias, com Mourato, vencedor do Troféu Hotel Fortuna do Grande Prémio de Macau de 2010, a con-seguir um surpreendente quarto lugar à geral na segunda corrida do evento, um lugar à frente do compatriota Lopes. Um dia antes, no Sábado, Mourato, que já tinha participado na prova anterior na Malásia, finalizou no quinto posto, enquanto Lopes levou o seu DC5 ao sétimo lugar da geral.

O mês de Julho termina no fim-de-semana de 30 e 31 com a presença de mais um piloto do território em palcos internacionais. Desta feita, André Couto irá alinhar na corrida de Sugo do campeonato nipónico Super GT, um circuito de boas memórias para o piloto português que na prova de 2009 subiu ao pódio.

DESPORTO

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GONÇ

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LOBO

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HEIR

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A Casa do Sport Lisboa e Benfica em Macau inau-gura um espaço provisório na segunda-feira. O

local, situado no primeiro andar do Edifício do Centro Comercial First National, na Avenida Dr. Rodrigo Ro-drigues, vai permitir finalmente à sucursal do território reunir os seus sócios. No entanto, os responsáveis do Benfica de Macau pretendem outro lugar como sede. “É mais um passo em frente. Este espaço será provisório. O nosso objectivo é abrir uma Casa do Benfica como existe em Portugal e tem sido difícil encontrar o local ideal”, referiu Duarte Alves, director administrativo do Benfica de Macau.

E o que é o local ideal? Duarte Alves, filho do presidente Leonel Alves, quer um espaço onde os sócios possam conviver, ver jogos de futebol, apreciar os troféus do clube e um café. “Queremos um espaço que seja uma verdadeira sede, com um bar para os sócios”, disse.

Actualmente com 200 associados, a Casa do Ben-fica de Macau quer aproveitar esta nova inauguração para angariar sócios. “Uma das grandes metas desta estabilização é a de conseguir ter mais associados.

Com este espaço no First National, os sócios já podem conviver mais e o seu número pode e deve aumentar”, explicou Duarte Alves.

A partir da próxima segunda-feira os benfiquistas de Macau podem assim ter um espaço de reunião para conviver, ver os troféus conquistados pela sucursal desde 2000, bem como assistir a jogos e tratar de questões administrativas. “Teremos projectos maiores para o futuro”, garantiu Duarte Alves, sem adiantar mais detalhes.

Quanto ao futuro da equipa de futebol, o responsável mostrou-se indisponível para tecer quaisquer comentá-rios. Fala-se da possibilidade do treinador Rui Cardoso assumir o controlo de toda a estrutura do futebol mas o director administrativo do Benfica de Macau quer concentrar-se na abertura da nova sede. “Por enquanto não vou falar sobre essa possibilidade. Estou de corpo e alma na abertura da Casa do Benfica.”

A nova sede do Benfica de Macau funcionará de segunda-feira a sábado, das 16h às 20h30 na Avenida Dr. Rodrigo Rodrigues, 600-E, Edifício Comercial First National, 1.º Andar, P1-06, no ZAPE. - G.L.P.

Gonçalo Lobo [email protected]

NELO Vingada volta a Dalian 14 anos depois, mas numa posição completamente dife-

rente. Após ter estado naquela cidade chinesa, na província de Liaoning, em 1997 com a selecção da Arábia Saudita, o treinador português volta a Dalian para treinar a equipa local. “Fui muito bem recebido num clube muito grande. É um desafio muito inte-ressante que me prestigia, pois o Dalian Shide é o clube chinês com mais títulos de campeão”, referiu Nelo Vingada em entrevista ao ao Hoje Macau.

Depois de ter levado o FC Seoul a campeão da Coreia do Sul, entre outros títulos, Nelo Vingada vai agora reencontrar o amigo Jaime Pacheco no campeonato chinês – terão um frente-a-frente já no próximo dia 6 de Agosto. “Do ponto de vista futebolístico, é um jogo normal como outro qualquer, mas claro que na perspectiva afec-tiva vai ser muito interessante”, afirmou o treinador.

Curioso é o facto de Nelo Vin-gada ter recebido um convite do actual clube de Jaime Pacheco, o Beijing Guo’ An, mas na altura não aceitou a proposta por ainda estar a negociar a sua possível renova-ção de contrato com o FC Seoul. “Houve de facto alguns contactos, mas eu estava na Coreia. Seja como for, não foi possível o acordo para

BENFICA DE MACAU ABRE PORTAS NO DIA 1 DE AGOSTO

À procura do local ideal

Nelo Vingada e o “desafio interessante” em Dalian

Vingar na China

continuar em Seul e agora estou na China, mas no Dalian Shide”, explicou-se Nelo Vingada.

Actualmente em 12.º lugar o Dalian está afastado dos tempos áureos que já conheceu. “A missão é fazer o melhor possível para man-ter a equipa no escalão principal.

Para o ano, com novos jogadores, talvez possamos atingir outras metas”, revelou.

Nelo Vingada está na China acompanhado dos eternos ad-juntos Arnaldo Pereira, Orlando Costa e Luís Matos, e de uma pessoa muito especial, a mulher.

“Ajuda-me a ter menos saudades do meu país e com a ajuda dela consigo ter refeições à moda de Portugal (risos).”

Esteve muito próximo de trei-nar a selecção principal do Egipto, mas a situação não se concretizou. “Demoraram muito a fazer uma

proposta concreta.” Afirma que não recebeu qualquer convite de clubes portugueses e, para Nelo Vingada, estar longe de Portugal é sinal de “distanciamento da pres-são mediática”. “Por outro lado, no estrangeiro pagam o valor justo e a horas. Em Portugal os meses têm 50 a 60 dias. Futebolisticamente falando, é muito melhor para mim estar cá”, assegura.

Vingada está habituado a viajar pelo mundo fora. Desde 1996 que já treinou em países árabes, na Coreia do Sul e agora a China, com espo-rádicas passagens por Portugal. “Ter treinado a selecção da Arábia Saudita abriu-me portas mas, por vezes, as saudades da família e dos amigos custam.”

Apesar de longe, o professor tem acompanhado o defeso do futebol português e critica o modo como se gasta tanto dinheiro em contratações, numa altura em que o país passa por tantas dificulda-des financeiras. “Acho que num país com tantos problemas, os três grandes, já por si só com grandes passivos e muitas dívidas, não se podem dar ao luxo de esbanjar tanto dinheiro.”

Contudo, e falando de futebol, Nelo Vingada pensa que a disputa pelo título nacional desta época pode ser menos desnivelada do que a anterior. “O Sporting reforçou--se muito bem e não quer perder terreno. O Benfica também tem um plantel com bons jogadores e o FC Porto é uma equipa muito estável”, apreciou o técnico.

Carreira de treinador

• 1981-1982 Belenenses• 1982-1983 Académica• 1983-1984 Sintrense• 1984-1986 Vilafranquense• 1988-1991 Portugal sub-20• 1994 Portugal• 1996-1997 Arábia Saudita• 1997-1998 Benfica• 1999-2003 Marítimo• 2004 El Zamalek• 2004-2005 Egipto sub-23• 2005-2007 Académica• 2007 Wydad Casablanca• 2007-2009 Jordânia• 2009 Persepolis• 2009 Al-Ahly• 2009 Vitória de Guimarães• 2010 FC Seoul• 2011 Dalian Shide

CAMPEÃ CHINESA DE PATINAGEM FERIDA EM CONFRONTOSA campeã olímpica chinesa de patinagem em velocidade, Wang Meng, ficou ferida durante confrontos que ocorreram na noite de quarta-feira em Qingdao entre membros da sua equipa durante os treinos para os Mundiais. Segundo a agência oficial chinesa Xinhua, o incidente ocorreu depois de vários membros da equipa chinesa não terem cumprido o recolher obrigatório às 22h. Wang Men sofreu cortes na mão devido a um copo partido e foi transportada para o hospital, tendo levado “dezenas” de pontos. Segundo a Xinhua, a Administração de Desporto da China está a investigar o incidente.

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IDEIASSEXTA-FEIRA 29.7.2011

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A COMPREENSÃO DOS MISTÉRIOSWen Zi文子

O texto conhecido por Wen Tzu, ou Wen Zi, tem por subtítulo

a expressão “A Compreensão dos Mistérios”. Este subtítulo hono-

rífico teve origem na renascença taoista da Dinastia Tang, embora

o texto fosse conhecido e estudado desde pelo menos quatro a três

séculos antes da era comum. O Wen Tzu terá sido compilado por

um discípulo de Lao Tzu, sendo muito do seu conteúdo atribuído ao

próprio Lao Tzu. O historiador Su Ma Qian (145-90 a.C.) dá nota

destes factos nos seus “Registos do Grande Historiador” compostos

durante a predominantemente confucionista Dinastia Han.

A obra parece consistir de um destilar do corpus central da

sabedoria Taoista constituído pelo Tao Te Qing, pelo Chuang Tzu e

pelo Huainan-zi. Para esta versão portuguesa foi utilizada a primeira

e, até à data, única tradução inglesa do texto, da autoria do Professor

Thomas Cleary, publicada em Taoist Classics, Volume I, Shambala,

Boston 2003. Foi ainda utilizada uma versão do texto chinês editada

por Shiung Duen Sheng e publicada online.

CAPÍTULO 156

Lao Tzu disse: Em termos de aprendi-zagem, se conseguires compreender a divisão entre o celeste e o humano, penetrar as raízes da ordem e do caos, manter essa consciência através de uma clarificação da mente e purificação da atenção, ver o princípio e o fim e regres-sar a uma não-reificação aberta, a tal se chama realização.As raízes da ordem são humanidade e justiça, os ramos da ordem são as leis e regulamentos. A vida humana baseia-se nas raízes, não nos ramos. As raízes e os ramos são um corpo; a sua dualidade re-side na natureza da preferência. Aqueles que dão prioridade às raízes antes dos

ramos são chamados homens superiores; aqueles que dão prioridade aos ramos antes das raízes são chamados homens mesquinhos.As leis têm origem para assistir a justi-ça; levar as leis tão a sério que a justiça seja abandonada é dar valor a chapéus e sapatos esquecendo a cabeça e os pés.A humanidade e a justiça são largas e elevadas. Se se estender a largura de algo sem aumentar a sua espessura, tal se quebrará; se se aumentar a altura de um edifício sem alargar as suas fundações, este se desmoronará. Se as vigas não forem grandes não poderão sustentar grandes pesos. Nada se compara a uma viga quando é necessário sustentar um grande peso; nada se compara à virtude,

quando se trata de sustentar a responsa-bilidade por uma nação.O povo está para um líder como as funda-ções de uma cidadela, como as raízes de uma árvore. Se as raízes forem profundas, a árvore é estável; se as fundações forem espessas, o edifício estará seguro. Aquilo que não se encontre enraizado na virtude da Via não poderá ser tomado por norma; palavras que não estejam de acordo com os antigos reis não podem servir de guia. A arte da conversa fácil, que se concentre numa acção isolada, ou numa obra isolada, não é a Via exaustiva que serve ao mundo.

Tradução de Rui Cascais Ilustração de Rui Rasquinho

Levar as leis tão a sério que a justiça seja abandonada é dar valor a chapéus e sapatos esquecendo a cabeça e os pés.

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perspect ivasJorge Rodrigues Simão

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Compreender a economia natural da Terra pode orientar o desenvolvimento de uma economia humana. A comparação dos ritmos geológicos da mudança global com as alterações provocadas pela actividade humana chama a atenção para a urgência da situação. A sociedade está afastar-se rapidamente da época em que os recursos naturais abundavam

A economiA humAnA e A nAturAl“Human society has never had a more pressing need to understand its dependence on nature. From time immemorial we have too lightly valued some of the most basic resources on which we depend, including the air we breathe, the water we drink, and the ability of the earth to support a wide variety of life. The cumulative impact of human activity on the natural systems that produce these resources, particularly over the past one hundred years, and our rather recent understanding of the dramatic scope of that impact, make it impossible for us to take them for granted any longer. We don’t protect what we don’t value.”

Nature’s Services – Societal Dependence on Natural Ecosystems

John Peterson Myers and Joshua S. Reichert

efeito de estufa atinge níveis graves com a libertação de CO2, provocada pelo homem e de gases

como o metano, os óxidos nitrosos e o cloro-fluorcarbonetos. Os riscos daí resultantes são o aquecimento global e o seu efeito desestabi-lizador nos padrões climáticos estabelecidos. O carbono proveniente dos combustíveis fós-seis, que está a ser tão rapidamente libertado por acção do homem, estava bem guardado em pântanos de carvão e em xistos argilosos marinhos, há dezenas ou centenas de milhões de anos.

De facto a fotossíntese rápida, que puxou para baixo o CO2 atmosférico desse tempo, pode ter sido uma reacção aos elevados níveis atmosféricos de CO2, que constituíam uma ameaça. Talvez a mesma reacção natural que é o acréscimo de actividade vegetal, tenha vindo para ficar, e evite uma perigosa subida de CO2. Mas se a actividade fotossintética aumentou, absorve apenas cerca de metade da carga suplementar de carbono, proveniente da combustão dos combustíveis fósseis. Sete mil milhões de toneladas sobem, das quais quatro permanecem na atmosfera.

O carbonato de cálcio existente nas partes duras doa animais, constitui outra das vias através das quais o carbono é armazenado nas rochas. O CO2 dissolvido na água do mar, é extraído pelos seres vivos e substituído por uma solução de CO2 atmosférico. Mas, tal como sucede com o carbono fotossintetizado, esta transferência de carbono para as rochas, processa-se muito lentamente, em compara-ção com os fluxos mútuos entre a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera.

Mais importante nos negócios de petróleo, é o facto de o fluxo total do carbono que fica acumulado nas rochas, ser muito mais lento do que o fluxo inverso devido à extracção de combustíveis fósseis. Esta parte do ciclo não é sustentável a longo prazo. O ciclo do carbono é o exemplo de uma economia natural, um dos sistemas de apoio à vida na Terra, em que os orçamentos estão sempre equilibrados. Com-

parada com ela, a economia humana do negó-cio dos combustíveis fósseis parece ingénua. O modelo económico é essencialmente linear.

Um modelo de pensamento consiste no carbono ser retirado de um reservatório e quase todo ejectado noutro, no pressuposto de que os dois reservatórios são grandes. De facto, dado o ritmo da extracção actual, as re-servas de combustíveis fósseis durarão pouco tempo, mesmo na perspectiva da história humana, para não se referir ao tempo geoló-gico de séculos, no caso do carvão, e décadas no caso do petróleo e do gás natural. O que é ainda mais importante, é que a capacidade infinita da atmosfera está a ser ultrapassada.

A miopia que caracteriza a economia convencional, regista subidas saudáveis dos produtos internos brutos e grandes lucros nas contas das empresas petrolíferas. O balanço da economia natural, mostra que este cresci-mento e lucros são ilusórios e foram atingidos, graças ao que se retirou às contas dos forneci-mentos de matérias-primas e do tratamento de resíduos. A menos que os economistas se apercebam rapidamente das restrições totais, impostas pela economia natural, corremos o perigo de nos ser retirado o crédito, e de os negócios humanos serem forçados a reduzir a sua dimensão dentro de pouco tempo.

Os geólogos argumentam que os impactos provocados pela utilização de combustíveis fósseis, e outros recursos geológicos fogem ao seu controlo e, portanto, estão fora da sua alçada. Estes princípios, que permitem que os cientistas se demitam dos efeitos da sua actividade de investigação a jusante, são questionáveis. São os mesmos que afastariam os químicos dos efeitos secundários dos me-dicamentos e dos pesticidas, por si criados, e que desculparam os físicos das consequências das armas nucleares.

Mas o distanciamento em geral dos geólogos em geral, dos debates sobre o

uso excessivo sobre os recursos assenta em alicerces ainda mais inseguros. Parte-se do princípio que os industriais, os economistas e os políticos estão em melhores condições de dosear os efeitos da utilização dos recursos. Na realidade, o carácter holístico da formação científica dos geólogos, prepara-os melhor do que a maioria dos profissionais, para ver os riscos que impendem sobre os sistemas de apoio à vida na Terra.

sociedade para a ciência geológica provoca grandes mal-entendidos. Os decisores da sociedade podem permitir que os recursos do subsolo se consumam insustentáveis, e que os resíduos se escoem para o ambiente subterrâneo, como se este fosse finito, ho-mogéneo e inerte. A esta fraca sensibilidade, corresponde a dos geólogos no contexto social da sua actividade científica.

Podem ser especialistas na descoberta de petróleo e na gestão do ciclo do carbono, sem questionarem as normas socioeconómicas que as unem. Um estudo do “National Research Council” dos Estados Unidos, estabeleceu que os dois objectivos da ciência da Terra, consistiam em assegurar o fornecimento de recursos naturais suficientes e minimizar os efeitos da mudança global e ambiental, e velar pela adaptação a esses efeitos. Sem comentar a incompatibilidade mútua destes dois objectivos, o rumo futuro passa clara-mente por uma melhor comunicação entre os geólogos e a sociedade, na qual estes exercem a sua actividade.

As políticas específicas devem depender das circunstâncias nacionais de cada país, mas algumas estratégias gerais, devem incluir uma melhor formação geológica nos estabeleci-mentos de ensino, quer dos estudantes, quer dos professores, no âmbito de uma ciência ho-lística da Terra, em particular, a necessidade de ensinar que o ambiente não acaba à superfície da Terra, mas que continua no subsolo; mais oportunidades interdisciplinares no ensino superior, permitindo a interacção entre os estudantes de ciências e os de humanidades; a passagem para um ensino mais holístico da ciência, nos domínios da geologia e de outras ciências da natureza a todos os níveis; uma maior disponibilidade dos cientistas para criticar e delinear programas de acção, não só em questões científicas mas em todas as áreas, como a economia moderna, cuja lógica é contrária à economia natural da Terra, e o reconhecimento pelos cientistas de que os progressos alcançados no seu domínio de actividade ficarão incompletos, e serão talvez mesmo perigosos, sem uma discussão pública mais ampla sobre a sua aplicação.

Uma maior comunicação entre os geó-logos e a sociedade pode acelerar o aban-dono da exploração dos recursos da Terra, conduzido pelas exigências da procura, que caracterizou o passado século. Compreender a economia natural da Terra pode orientar o desenvolvimento de uma economia humana. A comparação dos ritmos geológicos da mu-dança global com as alterações provocadas pela actividade humana chama a atenção para a urgência da situação. A sociedade está afastar-se rapidamente da época em que os recursos naturais abundavam.

O

Como se explica a relutância dos geólogos, e dos cientistas em geral, em se envolverem nesses debates mais alargados? O impasse, explica-se evidentemente, pelo fosso devi-damente identificado e muito discutido, que separa as ciências das humanidades. A ciência digna desse nome, é pura e objectiva e não deve ser conspurcada por preocupações de ordem social ou política.

Tem sido mais fácil manter esta atitude nas ciências da Terra do que, por exemplo, nas ciências médicas ou agrícolas. É preciso revê-la com urgência. A fraca sensibilidade da

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JANE ZHANG YIHE | JURISTA

Uma eterna gratidão a Macau

Patrícia [email protected]

PATRÍCIA FERREIRA

O gosto pelas Ciências Sociais, espe-cialmente por História, fez com que Jane Zhang Yile se dedicasse muitas e muitas horas a perder-se por entre os livros. Natural da província de Anhui, no leste da China, lá ficou até concluir os estudos secundários. Em 2002, mudou-se para Xangai para tirar a licenciatura de Direi-to na Universidade da Ásia e nada fazia prever que um dia acabaria em Macau. Actualmente, trabalha como jurista na Assembleia Legislativa. O Direito, contudo, estava longe de ser a sua primeira opção. Os livros da sua infância marcaram-na e fizeram-na perse-guir o sonho de tirar um curso em His-tória. Mas em Xangai, na instituição que havia escolhido para estudar, não havia tal opção. “Por vezes, temos que aceitar as

áreas que a universidade oferece, desde que seja uma boa instituição e seja bem reconhecida, o que foi o meu caso. Mas ainda assim nunca pensei que iria fazer o curso de Direito.” A adaptação a um curso que nunca tinha pensado tirar foi complicada. Mas com o tempo o gosto foi nascendo, assim como uma certeza: a opção foi a mais acertada. “O Direito é uma área muito interessante. No início, não pensava assim, mas passa-do todo este tempo digo que foi a minha melhor decisão. Poder conhecer mais sobre as leis é um mundo fascinante.” Os momentos da vida universitária em Xangai foram “inesquecíveis” e na maior cidade chinesa deixou muitos amigos. “A minha temporada lá mudou o rumo da mi-nha vida profissional e, ao mesmo tempo,

deu-me a oportunidade de fortalecer os laços de amizades.”Assim que acabou a licenciatura, em 2006, candidatou-se a um mestrado na área do Direito Internacional na Universidade de Macau (UMAC). Candidatura aceite, malas novamente feitas. Depois de quatro anos a viver longe da terra natal, a mudança para Macau não custou assim tanto. “Foi muito bom poder estar entre colegas de diferentes nacionalidades a fazer o mesmo curso que eu. Todos foram muito simpáticos comigo.” O maior desafio foi escrever a dissertação. “Perdia muitas noites a pesquisar. Muitas vezes tinha de mudar o que escrevi. Foi mesmo muito complicado.”Ainda a fazer o mestrado, Jane queria aprender mais e colocar em prática tudo o que sabia. Foi assim que em 2009 começou

a trabalhar na Assembleia como jurista, função que mantém até hoje. Diz que tem aprendido bastante com o trabalho em Ma-cau e que cresceu muito profissionalmente. “Gosto muito do meu trabalho e tenho aprendido muito. Não há nada melhor do que fazer algo de que gostamos.” Macau ofereceu-lhe oportunidades que nunca pensou que iria ter. Por isso mesmo, ao olhar para trás, acredita que todo o esfor-ço feito para chegar onde chegou valeu a pena. “Vou estar eternamente grata a Macau, pelas oportunidades de poder cres-cer profissionalmente e pela segurança e tranquilidade que a cidade me oferece.” Deixar Macau está fora de questão. A gratidão é tanta que a jurista quer ficar cá para continuar a crescer a todos os níveis e retribuir ao território tantos benefícios.

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[Tele]visãowww.macaucabletv.com

21:00 Football Asia 2011/12 21:30 (LIVE) Score Tonight 22:00 GP2 Series 2011

STAR MOVIES 4012:00 Date Night13:35 Alice In Wonderland15:25 Gigli17:25 The Devil’S Own 19:20 Street Fighter: The Legend Of Chun-Li21:00 A Few Good Men23:20 Edge Of Darkness

HBO 4113:00 Cirque Du Freak14:50 ClockstoPPers16:25 The Flintstones17:55 919:15 Imagine That21:00 Sherlock Holmes23:10 Couples Retreat

CINEMAX 4212:45 The Incredible Hulk14:15 Hearts And Armour16:00 Hud18:00 The Werewolf19:30 Hollywood Buzz 2620:15 Ice Twisters21:45 Epad On Max 12122:00 Spartacus: Gods Of The Arena23:00 Waterworld

MGM CHANNEL 4312:30 The Favor14:15 Kuffs16:00 Desperate Hours17:45 Stardust Memories19:15 Mystery Date21:00 The War at Home23:15 I’m Gonna Git You Sucka00:30 Neon City

DISCOVERY CHANNEL 5013:00 Mythbusters14:00 Tuna Wranglers15:00 Build It Bigger 516:00 Mega Engineering17:00 Dirty Jobs18:00 Factory Made18:30 How Do They Do It?19:00 Belly Of The Beast20:00 Extreme Forensics21:00 Mythbusters

(MCTV 30) ESPN15:30 X GAMES

Informação Macau Cable TV

TDM13:00 TDM News - Repetição13:30 Jornal das 24h14:30 RTPi DIRECTO19:00 Ásia Global (Repetição)19:30 Ganância20:25 Acontecimentos Históricos20:35 Telejornal21:00 Jornal da Tarde da RTPi22:00 Viver a Vida22:58 Acontecimentos Históricos23:00 TDM News23:30 84 Charing Cross Road (A Rua do Adeus)01:15 Telejornal (Repetição)01:45 RTPi DIRECTO

INFORMAÇÃO TDM

RTPi 8214:00 Telejornal Madeira14:30 Desafio Verde15:30 Especial Saúde16:00 Bom Dia Portugal17:00 Grande Reportagem – SIC17:30 Destinos.pt17:45 Quem Tramou Peter Pan?19:00 Estado de Graça 20:00 Jornal Da Tarde 21:15 O Preço Certo22:15 Portuguese pelo Mundo23:00 Verão Total: Especial “7 Maravilhas da Gastronomia” – Carregal do Sal

TVB PEARL 8306:00 Bloomberg West07:00 First Up07:30 NBC Nightly News08:00 Putonghua E-News09:00 CCTV News - Live 10:00 Market Update10:30 Inside the Stock Exchange11:00 Market Update11:30 Inside the Stock Exchange11:32 Market Update12:00 CCTV News – Live13:30 Market Update14:00 Inside the Stock Exchange14:03 Market Update15:58 Inside the Stock Exchange16:00 Get Squiggling!16:15 Penelope K, By the Way16:30 Gaspard and Lisa17:00 Scooby-Doo! Mystery Incorporated17:30 Ben 10 Ultimate Alien18:00 Putonghua News18:10 Putonghua Financial Bulletin18:15 Putonghua Weather Report18:20 Financial Report18:30 Green Challenge: Golfing World19:00 Global Football19:30 News At Seven-Thirty19:50 Weather Report19:55 Earth Live20:00 Money Magazine20:30 The Amazing Race and Leading Brands of the World21:30 Weekend Blockbuster: Underdog22:30 Marketplace 22:35 Weekend Blockbuster: Underdog23:20 The CEO Connection 23:25 World Market Update23:30 News Roundup 23:45 Earth Live and Leading Brands of the World23:50 Dolce Vita00:20 America’s Next Top Model01:10 State of Style01:35 European Art at the MET02:00 Bloomberg Television05:00 TVBS News05:30 CCTV News

ESPN 3012:00 Ricoh Women’s British Open 2011 Day 115:00 KIA X Games Asia 201115:30 X Games 18:30 Grand American Series - Mazda Raceway19:30 (LIVE) Sportscenter Asia 20:00 Football Asia 2011/12 20:30 KIA X Games Asia 201121:00 (LIVE) Ricoh Women’s British Open 2011 Day 2

STAR SPORTS 3113:00 Total Rugby 2011 13:30 FIA Wtcc 2011 - Highlights 14:00 Npower Test Match Series - Test Match 1 H/lts16:00 US Senior Open Championship 1st Round19:00 Total Rugby 2011 19:30 Guinness World Series Of Pool 2011 Final

22:00 I Got Away With It23:00 Solved: Old Habits Die Hard00:00 Mythbusters

NATIONAL GEOGRAPHIC CHANNEL 5112:30 Dangerous Encounters With Brady Barr13:25 Megastructures14:20 Situation Critical15:15 Salvage Code Red16:10 Big, Bigger, Biggest17:05 The Border18:00 Is It Real?19:00 Fish Warrior20:00 Dangerous Encounters With Brady Barr21:00 Naked Science22:00 Mystery Files23:00 Taboo00:00 Naked Science

ANIMAL PLANET 5213:00 The Web Of Life13:30 Fooled By Nature14:00 Nick Baker’s Weird Creatures15:00 Dogs 101 Manor16:00 Whale Wars17:00 Animal Cops Houston18:00 Meerkat Manor19:00 Caught In The Moment20:00 The Web Of Life20:30 Fooled By Nature21:00 Dogs 10122:00 Whale Wars23:00 Animal Cops Houston00:00 Meerkat

HISTORY CHANNEL 5413:00 Modern Marvels14:00 Bigfoot: The Definitive Guide16:00 Underwater Universe17:00 IRT Deadliest Roads18:00 Monsterquest19:00 Modern Marvels20:00 Seven Deadly Sins21:00 Primal Fear23:00 Return To Sandakan00:00 IRT Deadliest Roads

BIOGRAPHY CHANNEL 5513:00 Intervention14:00 Obsessed15:00 Storage Wars16:00 Kate Middleton17:00 Trauma: Life In The E.R.18:00 Intervention19:00 Rendezvous With Simi Garewal19:30 Shatner’s Raw Nerve20:00 Tough Love Couples21:00 Heavy22:00 Gene Simmons: Family Jewels22:30 Storage Wars23:00 Intervention00:00 Celebrity Ghost Stories

AXN 6212:15 Csi: Ny13:05 House14:00 Breaking The Magician’S Code14:50 Numb3Rs15:40 Csi: Ny16:30 Hawaii Five-O17:25 Chuck18:15 Ncis: Los Angeles19:10 Csi: Miami20:05 Sony Style Tv Magazine20:35 Ebuzz21:05 24 23:50 So You Think You Can Dance

STAR WORLD 6312:10 Masterchef Australia13:05 Rules of Engagement13:35 Private Practice15:25 Desperate Housewives16:20 Parenthood17:15 Got To Dance UK18:10 Cougar Town18:40 Masterchef Australia19:35 Cougar Town20:00 Hell’s Kitchen21:50 Desperate Housewives22:45 Masterchef Australia00:05 Hell’s Kitchen

Su doku

[ ] Cru

zadas

REGRAS |Insira algarismos nos quadrados de forma a que cada linha, coluna e caixa de 3X3 contenha os dígitos de 1 a 9 sem repetição

SOLUÇÃO DO PROBLEMADO DIA ANTERIOR

HORIZONTAIS: 1-FALCOARIA. O. 2-EMPERLAR. OS. 3-BA. MAIS. HUM. 4-RIO. REPOUSO. 5-ISCA. MORMON. 6-L. UDA. ULA. D. 7-MALOCA. ANOA. ENTREGA. ABC. 9-NUA. TIDO. OE. 10-TA. COTICULA. 11-E. VELARAMOS.VERTICAIS: 1-FEBRILMENTE. 2-AMAIS. ANUA. 3-LP. OCULTA. V. 4-CEM. ADOR. CE. 5-ORAR. ACETOL. 6-ALIEM. AGITA. 7-RASPOU. ADIR. 8-IR. ORLA. OCA. 9-A. HUMANA. UM. 10-OUSO. OBOLO. 11-OSMONDACEAS.

SOLUÇÕES DO PROBLEMA

HORIZONTAIS: 1-Lugar onde se criam falcões. 2-Pôr pérolas. Eles. 3-Bário (s.q.). Em maior grau. Desconfiança (Interj.). 4-Grande massa de líquido (Fig.). Acto de repousar. 5-Tira de fígado, temperada e frita. Sectário do mormonismo. 6-Graúda. Uiva. 7-Magote de pessoas que não inspiram confiança. O m. q. anã. 8-Depõe nas mãos de, confia. Cartilha para aprender a ler. 9-Desguarnecida. Possuído. Oh!. 10-Não digas mais (Interj.). Pedra-de-toque do ouro e da prata. 11-Passáramos sem dormir em vigília.

VERTICAIS: 1-De modo febril. 2- Estais a paixonado. Dê anuência. 3-Duas consoantes. Invisível, tapada. 4-Uma centena. Bolo de farinha e sal, usado pelos Romanos nos sacrifícios. Cério (s.q.). 5-Exorar, falar. Vinagre puro. 6-Juntem. Sacode, balança. 7-Roçou. Adicionar. 8-Ser levado de um lugar para outro. Tarja, bainha. Torna oco. 9-Bondosa. Primeiro. 10-Tento com audácia e coragem. Pequena esmola. 11-Família de plantas que tem tipo a osmonda (Bot.).

SALA 1HARRY POTTER AND THEDEATHLY HALLOWS: PART 2 [B] Um filme de: David YatesCom: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 2MR. POPPER’S PENGUINS [A] Um filme de: Mark WatersCom: Jim Carrey14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 3KUNG FU PANDA 2 [A] FALADO EM CANTONENSEUm filme de: Jennifer Yuh Nelson14.15, 16.00, 17.45, 19.30

SALA 3TRANSFORMERSDARK OF THE MOON [B] Um filme de: Michael BayCom: Shia LaBeouf, Markiss McFadden21.15

SEXTA-FEIRA 29.7.2011www.hojemacau.com.mo

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SEXTA-FEIRA 29.7.2011

19www.hojemacau.com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Vanessa Amaro Redacção Filipa Queiroz; Gonçalo Lobo Pinheiro; Joana Freitas; Patrícia Ferreira, Rodrigo de Matos; Virginia Leung Colaboradores António Falcão; Carlos Picassinos; José Manuel Simões; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Rui Cascais; Sérgio Fonseca Colunistas Arnaldo Gonçalves; Boi Luxo; Correia Marques; Gilberto Lopes; Hélder Fernando; João Miguel Barros, Jorge Rodrigues Simão; José I. Duarte, José Pereira Coutinho, Luís Sá Cunha, Marinho de Bastos; Paul Chan Wai Chi; Pedro Correia Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia António Falcão, Gonçalo Lobo Pinheiro; António Mil-Homens; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Laurentina Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Av. Dr. Rodrigo Rodrigues nº 600 E, Centro Comercial First Nacional, 14º andar, Sala 1407 – Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

ed i to r ia lVanessa Amaro

“Estávamos com pressa”, “Não temos tradutores” ou “São as férias de Verão”. Na hora de justificar os desleixos com a Língua Portuguesa em Macau, qualquer desculpa esfarrapada vale. Só ontem, três departamentos do Governo mostraram que não se importavam com o português, aquele idioma que até aparece referido na Lei Básica como uma das línguas oficiais.

No dia 7 de Julho, o Hoje Macau avançou com a notícia de que o portal da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) com informação referente ao novo esquema autocarros era um verdadeiro homicídio qualificado do português. As paragens do transporte público apareciam no website com nomes verdadeiramente surreais. A avenida Almeida Ribeiro passava a ser a New Road Área, e a da Praia Grande, South Bay. Traduções feitas com o tradutor do Google dão nisso. A prova é escrever na ferramenta online o nome da avenida da Praia Grande com os caracteres chineses - 澳門南灣區. O resultado: Macau Sul Bay Área. O mesmo para 及若憲山區, que passa a ser a “se a montanha constitucional”, quando, trocando por miúdos, vamos dar à Colina da Guia.

O mais chocante é a DSAT pôr tais barbari-dades na sua página oficial sem que nenhuma alma santa com os mínimos conhecimentos de português achasse estranho nunca ter passado por tais lugares. E ainda mais chocante é ver a DSAT a desculpar-se, justificando que se tratou de um “problema técnico” (leia-se “preguiça”) e a jurar que iria trabalhar intensivamente para resolver a questão, mas a varrer o pó para debaixo do tapete. O certo é que até ontem o português não fazia parte do portal dos auto-carros. Ao ser contactada pelo Hoje Macau, a

Sendo um jornal em português, e não português, o Hoje Macau sente-se lesado todos os dias porque alguém (do Governo, claro fique) não faz o seu trabalho. As traduções em simultâneo, quando há, são pouco rigorosas, e quando os jornalistas que prestam serviço em português se queixam, os chineses riem-se

Atropelos, desrespeitose discriminAções

DSAT, através do seu porta-voz, engasga-se e diz que vai averiguar a questão. Muitas horas depois, diz que a tradução (mas qual tradução? As ruas já existem há dezenas de anos!) ainda não está pronta e que não sabe quando estará. Atropelos atrás de atropelos, mesmo debaixo das barbas do Governo.

As conversas de que até Wen Jiabao, quando passou por Macau no ano passa-do, realçou a importância (económica) do português para a “mãe pátria” já cansam. O senhor disse, ficou registado, alguns deputa-dos na Assembleia que nunca antes tinham defendido o português entraram na onda de entusiasmo, mas e depois? E depois que continua tudo na mesma. Dizem que faltam tradutores. Dizem que os que há estão de férias. E também dizem que o português é essencial para a RAEM.

Para fazer coro ao problema, um grupo de pais furiosos das escolas luso-chinesas do território veio a público denunciar que depois de anos a aprender português, os filhos acabavam os estudos a saber pouco, muito pouco. A Direcção para os Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) deu então a clássica resposta. Aquela que todos os departamentos do Governo sabem de cor e salteado: “Vamos estudar a questão”. Acções, até ver, está quieto.

Sendo um jornal em português, e não português, o Hoje Macau sente-se lesado todos os dias porque alguém (do Gover-no, claro fique) não faz o seu trabalho. As traduções em simultâneo, quando há, são pouco rigorosas, e quando os jornalistas que prestam serviço em português se queixam, os chineses riem-se. No entanto, as feições mudam quando se dá o contrário: na hora de

ouvir a tradução do português para o chinês, encolhem os ombros e fazem ar de que não pescaram nem uma petinga da conversa.

Na noite de quarta-feira, a Direcção dos Serviços para os Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e o Gabinete para o Desenvolvimento das Infra-estruturas (GDI) pisaram na bola. E que grande bola. Anteciparam-se a informar, apenas em chinês, assuntos importantes para toda a população de Macau. Português, o que é isso, quem se lembra dele? Na hora de prestar contas, é um sacudir de poeira para todos os lados. O Gabinete de Comunicação Social (GCS) diz que não é da sua responsabilidade a falta de informação oficial em português. Cada depar-tamento que se vire. A DSSOPT desfaz-se em desculpas, diz que não tinha pessoal suficiente para escrever em português. Passadas quase 24 horas, lá “pinga” a informação, que os que lêem chinês tiveram a oportunidade de saber na manhã da véspera. No caso do GDI, que tinha uma palavra a dizer sobre a contratação de trabalhadores ilegais para a obra pública do Terminal da Taipa, três parágrafos em português só para a semana. É que hoje já é sexta-feira, os funcionários públicos saem do trabalho às 17h e não se podem atrasar para o fim-de-semana. “Desculpa, sinto muito, mas não vamos conseguir fazer a tradução. Lamentamos muito que os chineses tenham tido acesso à informação antes da imprensa em português”, diz a porta-voz do GDI, sem pesos na consciência.

E os pacóvios de serviço que a esta hora pensam “Os jornalistas dos jornais em portu-guês que vão aprender chinês!”, fica o recado: se falar e pensar em português não fosse tão importante para Macau, já cá não estávamos.

OPINIÃO

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SEXTA-FEIRA 29.7.2011www.hojemacau.com.mo

ECONOMIA 25 MAIS RICOS DE PORTUGAL REVELADOSA fortuna dos 25 mais ricos de Portugal aumentou 17,8%, somando 17,4 mil milhões de euros, revela a lista anual da revista Exame, liderada por Américo Amorim. Após três anos consecutivos de queda, os bilionários conseguiram aumentar os seus activos. Alexandre Soares dos Santos, presidente do conselho de administração da Jerónimo Martins, subiu do quarto para o segundo lugar. O aumento do património dos mais abastados em Portugal explica-se pelo crescimento da petrolífera portuguesa, e pelo desempenho em bolsa da Jerónimo Martins. Alexandre Soares dos Santos viu o seu património aumentar 88,9% para 1,9 mil milhões de euros e, ao subir do quarto para o segundo lugar, ultrapassou Belmiro de Azevedo (cai para o terceiro lugar no ranking).

AMY WINEHOUSE MORTE POR ABSTINÊNCIA As verdadeiras causas da morte de Amy Winehouse são ainda desconhecidas, mas de acordo com a edição de hoje do jornal “The Sun”, a família está convencida que a decisão da cantora em cortar radicalmente com a bebida poderá explicar a morte, até porque o médico a aconselhou a deixar de beber gradualmente. “Ela tinha um corpo frágil e pode não ter aguentado a abstinência total em relação ao álcool. A família está convencida que essa foi a causa da morte”, disse uma fonte ao tablóide inglês.

TURQUIA DESCOBERTO TÚMULO DE SÃO FILIPEUm túmulo, que se crê ser de São Filipe, um dos 12 apóstolos, foi descoberto na cidade de Hierapolis, na Turquia. O professor italiano Francesco D’Andria, em comando da exploração, disse que arqueólogos encontraram o túmulo da figura bíblica, um dos 12 discípulos de Jesus, enquanto trabalhavam nas ruínas de uma Igreja recém-descoberta. A estrutura do túmulo e os dizeres escritos nas paredes provam que ele pertence a São Filipe. O professor disse ainda que os arqueólogos trabalhavam há anos com a esperança de encontrar o túmulo, e que esperam que este tenha um destino privilegiado para exposição.

PLAYBOY SEXO DE DOIS SEGUNDOS COM PATRÃOA ex-noiva de Hugh Hefner, Crystal Harris, que fugiu cinco dias antes do casamento, explicou que a fraca vida sexual esteve na base do fim do relacionamento. Segundo a modelo, só tiveram sexo uma vez e “durou dois segundos”. “Deixou muito a desejar. Não me sentia excitada, lamento. Ele não tira a roupa e a única vez que fizemos sexo durou dois segundos. Nunca vi o Hef nu”, revelou a “playmate”. Hefner apressou-se a negar as declarações de Harris. Afirmou, esta quarta-feira, que a sua ex-noiva mentiu sobre a vida íntima de ambos. “Crystal mentiu sobre a nossa relação, mas não sei porquê. Talvez um noivo novo?”.

INSÓLITO GATA SOBREVIVE À LAVAGEM NA MÁQUINAUma gata bebé sobreviveu a um ciclo de uma hora dentro de uma máquina de lavar roupa. Princess, uma gatinha de oito semanas que vive com a dona, Susan Gordon, na Escócia, foi levada para a emergência veterinária já à beira da morte, mas conseguiu sobreviver. “Coloquei a roupa na máquina, o sabão, fechei a porta e liguei a máquina. Depois, voltei costas e fui ver televisão”, disse Susan. Uma hora mais tarde, quando o marido abriu a porta do electrodoméstico para recolher a roupa já lavada, encontrou o animal desorientado e frágil. “A pobrezinha estava a tremer muito. Enrolei-a numa toalha e fiquei com ela perto de mim. Tremia muito, em estado de choque.” Princess foi levada para o veterinário com hematomas, sangramento no nariz e olhos irritados pelo sabão. Ficou sob vigilância durante três dias.

VELHICE MEMÓRIA PODE SER RECUPERADA A perda de memória na velhice pode ser recuperada se atender às necessidades moleculares dos circuitos neurais. Investigadores da Escola de Medicina da Universidade de Yale avaliaram as respostas de seis macacos jovens, de média idade e velhos, de acordo com as tarefas atribuídas pelos cientistas para medir a memória a curto prazo. Nos macacos de idade avançada faltou o constante disparo de neurónios no córtex pré-frontal (PFC), uma área do cérebro muito importante para o funcionamento da memória. Essa redução dos níveis de disparo de neurónios pode ser contornada se conseguir situar o PFC num meio ambiente neuroquímico bom como o encontrado nos macacos mais jovens. Assim, a integridade fisiológica dos neurónios velhos pode ser restabelecida se forem atendidas as necessidades moleculares dos circuitos neurais, segundo os cientistas.

car toonpor Steff

Comprar como jogar num casino

O Ebay de Macau

O DEBATE AMERICANO

Virginia [email protected]

FAZER compras na Internet está a tornar-se uma práti-ca cada vez mais popular em Macau. Tanto que uma

empresa local resolveu lançar um sítio de leilões (www.macaumsn.com), à imagem do mundialmen-te famoso Ebay, com ofertas que chegam a ter um valor inicial de licitação 90% abaixo do preço origi-nal dos artigos. E com um atractivo para o cliente asiático: o sistema de funcionamento, em plataforma “seckilling” faz com que as lici-tações se assemelhem a um jogo.

Ao perceber que Macau tinha falta de um sítio semelhante, Chan Wah Keong, director operacional da Macau E-Business, resolveu investir quase 200 mil patacas para criar o Macaumsn.com, que foi colocado online há aproximadamente dois meses e obteve até ao momento 60 transacções bem sucedidas. Ac-tualmente, o site já conta com mil clientes registados e espera começar a obter retorno do investimento após o primeiro semestre de funciona-mento, quando tiver atingido os 5000 membros.

A inflação crescente, espera Chan Wah Keong, poderá jogar a favor do seu negócio: com os preços a subirem por todo o lado, é de prever que muitas pessoas optem por comprar online, à procura de produtos com desconto. Na China Continental, já

existem muitos sites de leilões que usam o sistema “seckilling”, mas os habitantes de Macau terão preferên-cia por comprar num site de Macau e pagar em patacas, o que torna mais simples a operação.

“SECKILLING”?O termo “seckilling” foi emprestado dos vídeo-jogos e descreve uma situação em que um adversário é tão poderoso que o jogador é elimi-nado antes mesmo de ter tempo de fugir. Aplicado aos sites de leilões, o conceito define uma plataforma em que os retalhistas oferecem produtos a preços esmagadoramente baixos a determinada altura para recompen-sar os consumidores pelas suas visi-tas frequentes. O primeiro utilizador a clicar no produto, vence, sendo que cada clique dos restantes candidatos contribui para baixar uma determi-nada parcela do valor final.

Acontece que, para poderem participar nos leilões, os utilizadores

têm de comprar previamente “moe-das de ouro” virtuais (“net coins”). E por cada lance num determinado produto, é preciso gastar uma “net coin”. A empresa leiloeira retira o seu lucro das “net coins” utilizadas cada vez que alguém tenta comprar um produto.

Uma compra recente que ficou célebre foi a de um estudante uni-versitário de Hangzhou que conse-guiu comprar um apartamento de 84 metros quadrados, avaliado em 800 mil yuans (980 mil patacas) por literalmente “pataca e meia”: apenas 1,1 yuan (1,35 patacas). O prémio foi oferecido pelo Taobao.com, o maior site de compras online da China, e viu Yang Jiangming, de 20 anos, bater outros 90 mil internautas na disputa.

No MacauMSN.com, por en-quanto, ainda é cedo para ir tão longe, mas já é possível tentar, por exemplo, comprar um iPad (de 5980 patacas) por apenas 597,76 patacas (preço no momento do fecho desta edição), ou cupões de 50 patacas de compras nos supermercados Royal por cerca de cinco patacas. Os responsáveis do MacauMSN.com esperam estabelecer novos acordos com empresas para apresentar mais produtos com desconto.

Para já, o MacauMSN.com está a ser promovido sobretudo através do Facebook (www.facebook.com/macaumsn) e direccionado para o mercado dos jovens compradores, mais familiarizados com operações efectuadas através da Internet. Sem-pre que algum membro arremata um produto e se dirige à empresa para o levantar, a empresa pede para tirar uma fotografia, que é depois colocada no Facebook como prova. A compra de “net coins” pode ser feita por transferência bancária ou paga directamente na sede da empresa.