Hoje Macau 25 NOV 2013 #2981

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PUB DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 SEGUNDA-FEIRA 25 DE NOVEMBRO DE 2013 ANO XIII Nº 2981 • SUFRÁGIO UNIVERSAL Novo Macau enviará relatório à ONU “em breve” PÁGINA 6 • DOMÉSTICAS Governo Central autoriza quota de 300 pessoas PÁGINA 7 Quem o defende é o médico português José Silva Nunes. O endocrinologista - que esteve no território para participar no primeiro Fórum das Associações Médicas de Macau - diz mesmo que em 2035, Macau fará parte do top 10 mundial dos países e regiões com mais casos de diabetes. A culpa é do estilo de vida sedentário e pouco saudável, numa sociedade em que o crescimento económico não pára. Pouco saudáveis Casos de diabetes em Macau vão subir em flecha nos próximos anos • PESSOAL BILINGUE LEONEL ALVES PEDE MAIS FORMAÇÃO PÁGINA 4 hojemacau AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB • ALICIA KEYS CANTORA INCENDIOU PLATEIA COM DOSE DUPLA CENTRAIS PÁGINAS 2 E 3

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Edição do jornal Hoje Macau N.º2981 de 25 de Novembro de 2013

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DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 S E G U N DA - F E I R A 2 5 D E N O V E M B R O D E 2 0 1 3 • A N O X I I I • N º 2 9 8 1

• SUFRÁGIO UNIVERSAL

Novo Macauenviará relatório à ONU “em breve”

PÁGINA 6

• DOMÉSTICAS

Governo Central autoriza quotade 300 pessoas

PÁGINA 7

Quem o defende é o médico português José Silva Nunes. O endocrinologista - que esteve no território para participar no primeiro Fórum das Associações Médicas de Macau - diz mesmo que em 2035, Macau fará parte do top 10 mundial dos países e regiões com mais casos de diabetes. A culpa é do estilo de vida sedentário e pouco saudável, numa sociedade em que o crescimento económico não pára.

Pouco saudáveis

Casos de diabetes em Macau vãosubir em flecha nos próximos anos

• PESSOAL BIL INGUE

LEONEL ALVES PEDE MAIS FORMAÇÃO

PÁGINA 4

hojemacau

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

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CANTORA INCENDIOU PLATEIA COM DOSE DUPLA

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HOJE

MAC

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2 hoje macau segunda-feira 25.11.2013ENTREVISTA

ANDREIA SOFIA [email protected]

Que casos clínicos apresentou no Fórum das Associações Médicas de Macau?Trouxe um caso particular, pela sua especificidade, da necessidade do inicio de insulino-terapia no contexto de um acidente cardiovas-cular agudo. Isto porque, e penso que em Macau também será um problema, a insulina muitas vezes não é iniciada quando deveria ser. Muitas vezes há a tentativa de retardar a terapêutica, não só pelo doente, por ter medo das agulhas, e ter aquela ideia pré-concebida de que quando se inicia a insulina já se está numa fase próxima do fim da vida. Mas também há barreiras por parte do profissional de saúde, porque para iniciar insulina é pre-ciso saber como fazê-lo, e depois é necessário tempo para ensinar a pessoa a manejar e administrar a insulina. É muito mais fácil adiar por mais seis meses e dizer ao do-ente “vamos ver, se daqui por seis meses as coisas não melhoram”.

Porque diz que em Macau tam-bém há uma forte probabilidade de isso acontecer? É algo transversal a vários países e sociedades. Acredito que em Macau se passe o mesmo, que existam essas barreiras por parte do doente e do profissional de saúde em introduzir a terapêutica. Não há-de ser muito diferente do que se passa na América ou na Europa.

Falou do medo das agulhas na ad-ministração da insulina. Ainda há muitas ideias pré-concebidas em relação a esta doença?Sim. Porque cada vez mais se introduz insulina mais cedo, mas ainda assim não cedo o suficiente. Muitas vezes quando é introduzida, a pessoa já tem cegueira ou um

Se Hong Kong já integra o top 10 das regiões com mais casos de evolução futura para diabetes, Macau deverá entrar no grupo em 2035. A culpa é do estilo de vida sedentário e pouco saudável, advindos de uma economia que não pára de crescer. José Silva Nunes coordena uma equipa de tratamento de obesidade no hospital Curry Cabral, em Portugal, e não tem dúvidas: as dietas só servem para casamentos

JOSÉ SILVA NUNES, MÉDICO ENDOCRINOLOGISTA, SOBRE A ALIMENTAÇÃO NA CHINA

“A geração antiga comia de uma forma menos exuberante”

membro amputado, ou já está em insuficiência renal. Já há o desenvol-vimento de novas situações decor-rentes de um novo desenvolvimento metabólico. Aquela ideia de que se inicia insulina perto do fim da vida não está tão longe da realidade. O que está mal é iniciar tardiamente. Atrasa-se, e no fundo só se está a justificar essa ideia pré-concebida. Quando essas barreiras são quebra-das, (a insulina) inicia-se quando a pessoa já está no final da vida.

Têm surgido cada vez mais casos, em pessoas mais novas? Vem da alimentação que se faz hoje em dia.Sim. Tem a ver não só com a má alimentação, mas, mais importante do que isso, com o sedentarismo. Sedentarismo e alimentação errada, conduzem à obesidade, que é um dos principais factores de risco para a diabetes. A componente genética é a mesma, mas os genes que circulam na nossa sociedade são os mesmos de há 100 ou 200 anos. Presentemente a obesidade é uma pandemia mundial. As previsões, segundo a Federação Internacional de Diabetes, em 2012, era que a nível mundial houvesse 371 milhões de pessoas com diabetes, sendo que entre 85 a 90% seriam diabetes tipo II. As estimativas para 2025 são que se vão atingir os 522 milhões. É um aumento substancial em 13 anos. No próximo mês vai decorrer o Congresso Mundial da Diabetes e adianto já que os números já são ainda piores. Prevê-se que em 2013 haja 382 milhões de doentes, e as estimativas para 2035 que sejam 592 milhões. Depois há variações regionais muito grandes. Aqui em Macau, já surge dentro das condições de pré-diabetes.

O que se entende por pré--diabetes?Correctamente chama-se hipergli-cémia intermédia. Engloba duas

condições: uma é a anomalia da glicemia em jejum, quando atinge entre 110 a 125 mg por decilitro. Já está alta mas não o suficiente para fazer o diagnóstico de dia-betes. Ou na prova de tolerância à glicose oral, com o nível entre 140 e 199. São duas condições de risco acrescido de evolução para diabetes, e que acontece com me-tade das pessoas. A federação tem um ranking para a tolerância dimi-nuída à glicose. E para este ano há uma região do mundo, não Macau mas Hong Kong, que já está no top 10. As previsões para 2035 é que dentro desse top 10 continue Hong Kong, mas entre também Macau. Prevê-se, em termos globais, que esta região do mundo, a Ásia Paci-fico, entre 2013 e 2035, tenha um crescimento na ordem dos 46% na prevalência da diabetes.

Acha que isto acontece pelo facto desta região atravessar um grande crescimento económico?Sim.

As pessoas tendem a comem pior, porque a vida é mais agitada?É essa mesmo a explicação encon-trada. Embora não seja das piores regiões do mundo. Por exemplo o sudeste asiático, e a Índia em par-ticular, prevê-se um crescimento de cerca de 70%. Mas ainda há outras região do mundo que é pior: a região de África. Porque em África actualmente a obesidade ainda não é um problema tão pre-mente, porque a subnutrição ainda é um problema mais critico. Mas como há cada vez mais regiões a saírem do estado de subnutrição e a passarem para o oposto, o cres-

cimento que ultrapasse o dobro. A África subsariana deve haver mais do que uma duplicação do caso de diabetes.

AS DIETAS-CASAMENTO

Têm surgido cada vez mais die-tas no mundo ocidental: umas cortam o consumo de hidratos de carbono, outras só permitem a ingestão de proteínas. Mas há

cada vez mais pessoas com pro-blemas de obesidade e diabetes. Como explica isso?Essas dietas funcionam a curto prazo. Eu costumo dizer que essas dietas são boas para as pessoas que querem casar e que querem caber num vestido de noiva com medidas certas. Mas depois do casamento voltam ao peso. Porque o nosso organismo tem um órgão, uma região hipotalâmica, que regula o controlo do apetite. E o que essa região faz é, por uma questão benéfica até, se uma pessoa perde muito peso, essa região vai dirigir todos os mecanismos de re-ganho de peso. A pessoa até pode perder peso, mas depois volta a ganhar, e ainda mais. Ao fim de várias tenta-tivas de perda de peso, essa pessoa, ano após ano, vai ficando cada vez mais obesa. Há uma solução.

Qual é? A cirurgia da obesidade, que ago-ra não se chama assim, porque resulta mesmo que a pessoa não

UM FÓRUM DIFERENTEEspecialista em endocrinologia, diabetes e metabolismo, com um doutoramento na área, e secretário-geral da Sociedade Portuguesa de Diabetes, José Silva Nunes foi um dos oradores do primeiro Fórum das Associações Médicas de Macau, que decorreu este fim-de-semana e que foi organizado em parceria com a Universidade de Ciências e Tecnologia. À TDM, Rui Furtado, presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa (organizadora), disse que “nunca se tinha feito um evento destes”, e que se trata de “uma maneira de debater problemas comuns ligados à actividade médica. Saúde Mental, obesidade e doenças infecciosas foram temas em debate.

Como em Macau é tudo relativamente perto, é possível fazer deslocações a pé. Pode-se aumentar a actividade física mesmo que não se vá para um ginásio

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3 entrevistahoje macau segunda-feira 25.11.2013

JOSÉ SILVA NUNES, MÉDICO ENDOCRINOLOGISTA, SOBRE A ALIMENTAÇÃO NA CHINA

“A geração antiga comia de uma forma menos exuberante”tenha muita obesidade, e que tem a mais valia da pessoa poder curar a diabetes. É a cirurgia metabólica. Verifica-se um tipo articulado de cirurgia, que é o ‘bypass’ gástrico, e mesmo pessoas que são diabéticas, deixam de o ser. Nós não sabemos, nesta fase, se deixam mesmo de ser de vez, ou se voltam passados uns anos. Há alterações ao metabolis-mo que são introduzidas por essa cirurgia que conseguem a melhoria do controlo dos hidratos de carbo-no. Já a cirurgia variática é, sim, uma solução eficaz a longo prazo para tratamento de casos severos de obesidade.

Mas uma pessoa com uma vida profissional muito activa, que não tem tempo para uma ca-minhada ou para uma ida ao ginásio, que dieta pode fazer? Corta nos hidratos de carbono?O que recomendo é fazer uma dieta saudável. Não é a dieta A, não é a dieta hiper-proteíca. É aquilo que é do senso comum. Cortar nos

hidratos de carbono de absorção rápida, os açucares. Depois, uma coisa importante, e nem todas as pessoas têm essa noção, que é cor-tar com as gorduras. É muito mais nefasta uma dieta rica em lípidos do que em hidratos de carbono. Mas quer uma, quer outra, são nefastas. Mas a mensagem, em termos de prevenção de diabetes, é: mesmo que a pessoa não tenha tempo para ir a um ginásio, que não seja completamente sedentária, e não usar, por exemplo, a viatura para o emprego. Como em Macau é tudo relativamente perto, é possível fazer deslocações a pé. Pode-se aumentar a actividade física mesmo que não se vá para um ginásio.

E a alimentação?Deve-se comer aquilo que todos

entendemos por alimentação sau-dável: consumo de fibra, porque, além de ter o efeito de enchimento do estômago, tem um efeito bené-fico que é o atraso na absorção dos hidratos de carbono de absorção rápida, como os açucares. Falo de vegetais, aveia, muesli, fruta. Esta ideia do consumo de fibras está um pouco abandonada na sociedade ocidental e utilizamos alimentos ricos em açucares refinados, e como não há fibra para absorver, há picos de hiperglicémia logo após a refeição.

Considera então que cada vez menos a sociedade sabe comer melhor.Exactamente. É a questão da falta de tempo, e há outro factor que são os grandes intervalos de tempo

sem comer. O facto de não haver snacks entre as refeições propicia o excesso de peso, o que parece um contra-senso. O problema é que é outro mecanismo de defesa do nosso organismo: se há grandes períodos sem ingerir comida, assim que ele tem qualquer coisa, toca de armazenar tudo porque nunca se sabe quando é que a pessoa volta a comer. Isso vem dos tempos primi-tivos, em que quando havia grandes períodos de escassez alimentar, o nosso organismo desenvolveu um mecanismo. O problema é que nós armazenamos quando não há e não gastamos, porque há sempre. É só armazenar sem gastar. Crê-se que a nossa sociedade seja composta pe-los sobreviventes de uma selecção natural dos tempos primitivos: só sobreviveram os que conseguiram armazenar.

CHINA, O PAÍS DOS DIABETES

A China vive hoje uma socieda-de de consumo, e se há alguns anos era rara a existência de um McDonald’s hoje é o contrário e há cada vez mais crianças obe-sas. Como se pode mudar esta mentalidade?A resposta é simples, a sua im-plementação é que é difícil. É promover a alimentação saudá-vel. A China é o país com maior

número de diabéticos do mundo, e é o país, para 2035, que vai ser ainda mais dominador. Para esta região da Ásia-Pacifico a previsão é de que actualmente existem 135 milhões de diabéticos. Na China, em 2013, há 98 milhões de pes-soas com diabetes, entre os 20 e os 79 anos.

É uma questão de...De mudança de mentalidades.

Mas é também uma questão política, mais do que chamar a atenção dos pais, dos professores, das escolas?Passa também por uma questão educacional, de prevenção no meio escolar. Mas passa obvia-mente por uma questão política nomeadamente pela questão do urbanismo. Porque muitas vezes o sedentarismo é influenciado por um urbanismo completamen-te anárquico. O Médio Oriente é um ponto do Globo onde o crescimento da diabetes é ex-ponencial. No caso do Dubai, que conheço, não é uma cidade construída para se andar a pé. Se não há uma organização urbanís-tica que permite que as pessoas façam caminhadas, está tudo comprometido. O urbanismo limita a prevenção da diabetes.

Se, por um lado, há cada vez mais crianças obesas na China, continua a imagem, principal-mente no mundo ocidentalizado, de que os mais velhos vivem mais tempo, sem doenças, e que ainda conseguem manter uma actividade física diária.É a geração antiga, que viveu segundo um padrão de vida mais saudável. Comia de uma forma menos exuberante, não havia ‘fast food’. A alimentação era mais correcta e havia uma prática de actividade física que era, em termos de sociedade rural, uma pessoa trabalhava no campo e era uma forma da pessoa queimar energia. E as pessoas não usavam o carro, mas sim a bicicleta ou andavam a pé. Os idosos chi-neses são a prova viva de que a prevenção da diabetes é possível através da intervenção no estilo de vida.

A China é o país com maior número de diabéticos do mundo, e é o país, para 2035, que vai ser ainda mais dominador

Se não há uma organização urbanística que permite que as pessoas façam caminhadas, está tudo comprometido. O urbanismo limita a prevenção da diabetes

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4 hoje macau segunda-feira 25.11.2013POLÍTICA

JOANA [email protected]

L EONEL Alves quis saber quais os prin-cipais problemas face à colocação de traba-

lhadores bilingues no territó-rio e, na sexta-feira, durante o segundo dia de debate das Linhas de Acção Governati-va da área da Administração e Justiça, questionou Flo-rinda Chan sobre o assunto. “Existe muito interesse em frequentar estes cursos de estudos portugueses, mas são poucos os formados –apenas 20% - que ingressam nas carreiras de intérprete/tradutor”, começou por dizer à secretária da tutela. “Foi esta a informação que tive. Há muitos formados, mas a percentagem deles que ingressam é relativamente baixa e todos sabem que existe carência destes profis-sionais.” Leonel Alves inda-gou sobre eventuais razões para isto estar a acontecer, colocando duas hipóteses: será que há outras carreiras mais atractivas ou será por causa do vencimento? O deputado pediu que fossem feitos estudos no sentido de se apurar as razões.

Florinda Chan – que falou em português – tentou expli-car as eventuais razões, mas focou-se apenas no número de alunos que se inscrevem nos cursos bilingues. “Temos programas de cooperação com a União Europeia e

J OSÉ Pereira Coutinho cri-ticou, sexta-feira, Florinda Chan por a secretária para

a Administração e Justiça não estar presente em plenários onde são feitas interpelações orais. O deputado frisou que existe um Regulamento Administrativo que prevê a presença dos titulares dos principais cargos na Assembleia

AL LEONEL ALVES SUGERE MELHOR REMUNERAÇÃO PARA BILINGUES COM MESTRADO

Formados a mais, ingressos a menos

PEREIRA COUTINHO ACUSA FLORINDA CHAN DE NUNCA TER ESTADO PRESENTE EM SESSÕES DE INTERPELAÇÕES

“Quem decide é o Chefe do Executivo”

tem sido um sucesso, mas o número de participantes e candidatos aprovados não é, de facto, muito bom, muito grande. É porque o exame de admissão é rígido, muito

rigoroso”, disse. Leonel Alves, contudo, insistiu, não considerando que sua pergunta foi respondida. “O que eu gostaria é de ter mais informação sobre o porquê

de a taxa de ingresso desses formados não ser significati-va. Gostaria de saber a causa desta situação.” Florinda Chan não respondeu, por não ter dados, mas assegu-rou que ia tentar saber o que causa este baixo ingresso na função pública de intérpretes/tradutores.

MESTRES DEVEM RECEBER MAIS A secretária para a Admi-nistração e Justiça deixou a promessa de que iria tentar, com reciclagens e formação contínua, tentar ter meios para poder aproveitar mais candidatos. “Temos feito uma série de actividades, inclusive sobre o curso de mestrado. Vamos organizar com a Universidade de Lisboa mais cursos, mas queremos gradualmente for-mar mais [pessoal bilingue]. Vamos apostar mais.”

Sobre os mestrados, Leonel Alves também não deixou escapar o que con-sidera ser uma falha na Administração: existem mestrados e, apesar de não haver um número grande de alunos que os frequentam, quem o tem não tem qual-quer reflexo na carreira. Ou seja, diz, os indivíduos com mestrado não têm nenhum benefício a nível da carrei-ra profissional e isso deve mudar. “Parece-me que se deve ponderar, no futuro, que quem tem mais habilitações deve ter incentivos, ter o

que Macau é plataforma para os negócios com os países de língua portuguesa. O deputado quis acrescentar algo mais. “A formação de pessoal bilingue é uma ne-cessidade própria de Macau por as duas línguas [chinês e português] serem oficiais e usadas nos órgãos judiciais e na Administração Pública. Não é apenas por causa da ligação ao mundo lusófono, é porque a Lei Básica assim o exige. Gostaria de chamar a sua atenção. Florinda Chan disse concordar com a expo-sição do deputado.

VISÕES OPOSTAS NO PLENÁRIO SOBRE A NECESSIDADE DE BILINGUES Vítor Kwan não está de acordo com Leonel Alves ou Cheang Chi Keong. Numa intervenção quase no final do segundo dia de debate na AL, Vítor Kwan referiu que não vê tanta necessidade de ter bilingues em Macau, numa ideia oposta a uma intervenção anterior do deputado Leonel Alves. “A formação bilingue é necessária, mas não vejo que seja assim tão urgente. Macau tem quatro mil falantes de português, mas quantos empresários precisam de tradução? Não se deve trabalhar cegamente. Trabalhamos com a União Europeia, mas só Portugal é que fala português.” O deputado chegou mesmo a aconselhar Florinda Chan a não ficar preocupada quando alguém “faz barulho” sobre a formação de bilingues, porque “não é realista” essa grande necessidade deste tipo de profissionais. Vítor Kwan deixou mesmo uma sugestão. “O salário em Portugal, agora, está baixo. Por isso, [para ensinar português] mais vale recrutar dois professores para trabalhar, fica mais barato.” Já para Cheang Chi Keong, que interveio depois do colega, é muito importante elevar o nível de bilingues em Macau “porque a tradução de leis é muito demorada”. O deputado juntou-se ainda a Leonel Alves, para pedir salários mais baixos para os magistrados bilingues, sendo mesmo irónico na intervenção. “Conheço formados que me dizem que é mais vale trabalhar no escritório do advogado Leonel Alves [por causa das remunerações].”

benefício correspondente. Tendo mestrado, deveria ter melhor remuneração.” A se-cretária disse concordar com a exposição do deputado, mas afirmou que seria ne-cessário estudar a situação, ressalvando, no entanto, que carreira de intérprete/tradu-tores é “muito específica”.

Dentro da intervenção de Leonel Alves ficou ainda um pequeno recado à secre-tária para a Administração e Justiça. É que nas LAG para a tutela de Florinda Chan é escrito que a formação de pessoas bilingues, uma vez

Há carência de profissionais bilingues, mas apesar de haver muitos formados a percentagem dos que ingressam na carreira é de apenas 20%. Os dados foram apresentados por Leonel Alves, que deixou ainda a sugestão de que os profissionais bilingues com mestrado deveriam ser melhor remunerados

A formação de pessoal bilingue é uma necessidade própria de Macau por as duas línguas [chinês e português] serem oficiais e usadas nos órgãos judiciais e na Administração Pública. Não é apenas por causa da ligação ao mundo lusófono, é porque a Lei Básica assim o exige. Gostaria de chamar a sua atenção LEONEL ALVES Deputado, para Florinda Chan

Legislativa, mas diz que isto nunca acontece. “Ao longo de 14 anos não fez nada, deveria assistir aos plenários. Há um Regulamento Administrativo que faz o Chefe do Executivo ordenar à secretária a ter de assistir aos plenários da AL, mas nunca se verificou a sua assistência quando há interpelações orais, está bem claro neste documento”,

disse, mostrando o regulamento. “Desde a transferência de sobera-nia, nunca cumpriu as ordens do Chefe”, frisou, rasgando as folhas em pé na AL.

Florinda Chan, contudo, descar-ta que as ordens tenham alguma vez sido dadas. A secretária explicou que, de acordo com a Lei Básica, quem decide é o Chefe do Exe-

cutivo, no que toca a enviar – ou não – alguém para a AL. “Sabemos que compete ao Governo designar funcionários para estar nas sessões e, quanto ao regulamento adminis-trativo que o deputado Coutinho referiu, diz que os titulares dos principais cargos devem responder às interpelações e assistir às sessões, consoante a decisão do Chefe do

Executivo”, retorquiu. “Quem deci-de é o Chefe do Executivo, mesmo havendo muitas interpelações é ele quem decide. Peço a todos que respeitem isso, temos de cumprir essas regras.” - J.F.

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TIAGO ALCÂNTARA

5 políticahoje macau segunda-feira 25.11.2013

JOANA [email protected]

A secretária para a Admi-nistração e Justiça está a ponderar a imple-mentação de um novo

mecanismo para monitorizar a aplicação das leis. A promessa foi deixada na sexta-feira, dia em que Florinda Chan apresentou as LAG de 2014 para a sua tutela.

Numa resposta ao deputado Leonel Alves – que sugeriu que

houvesse grupos de funcionários a verificar se os serviços públicos cumprem as leis -, a secretária diz considerar a existência de um mecanismo como este “uma boa ideia”. Florinda Chan deixou disse que os trabalhos iriam co-meçar. “Uma das nossas funções, além de aprovar a lei pela AL e de aplicar a lei é também a for-mação do próprio pessoal. Mas, concordamos que seja necessário um mecanismo de controlo e monitorização das leis e vamos

encetar esse trabalho, porque achamos importante.”

Florinda Chan não deu mais pormenores, nem disse se havia data prevista para a implementação deste novo mecanismo.

LEIS MAIS ORGANIZADASMas, Leonel Alves debruçou-se ainda sobre outras questões rela-cionadas com leis. À semelhança de José Pereira Coutinho, que ques-tionou a secretária sobre o facto de não haver um plano legislativo

com calendarização para o próximo ano, o deputado macaense falou também em sucessivos atrasos na elaboração da legislação, de ano para ano. “A tutela da Economia e Finanças tem sempre uma lis-ta grande de diplomas, que são mencionados de ano para ano [nas LAG], mas há dificuldades que estas leis prossigam o normal pro-cedimento legislativo até chegarem aqui à AL.” O deputado quis saber se existirá algum mecanismo que possa permitir dar prioridade a leis

“muito importantes” para a RAEM, que são “sucessivamente adiadas”, e que lhes seja dada hipótese de serem aprovadas.

Florinda Chan não respondeu exactamente a esta questão, mas numa resposta a Pereira Coutinho disse que, devido à eleição do Chefe do Executivo no próximo ano, não houve hipótese de calendarizar a apresentação das leis, garantindo, contudo, que as que estão a ser pensa-das para a apresentação (7) chegarão antes de Agosto do próximo ano.

G ABRIEL Tong su-geriu, na sexta-feira, que os salários dos

magistrados fossem desin-dexados do vencimento do Chefe do Executivo. Frente a Florinda Chan, que esteve na AL para apresentar as LAG da sua tutela, o deputado no-meado disse discordar que os ordenados fossem indexados, como actualmente acontece, por causa da falta de actuali-zações. “A remuneração dos magistrados não deve ser indexada, deve ser superior aos [ordenados] dos chefes de departamento”, começou por dizer.

Os vencimentos dos magistrados, recorde-se, não são actualizados há mais de três anos. Na quinta-feira da semana passada, Florinda Chan prometeu que em breve iria ser apresentada uma lei à AL sobre a subida destes salários, mas Gabriel Tong não se limitou a ficar por aqui e pediu mais bene-fícios para estes profis-

IACM não terá mais funcionários,só vai fazer transferência de alguns Uma das promessas deixadas nas LAG do próximo ano na área da Administração e Justiça é a reestruturação do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Mas, se Florinda Chan não deu muitos detalhes sobre que modificações irá sofrer o organismo, a secretária assegura que não vai ter mais trabalhadores. “Não vai haver reforço de pessoal, uma vez que as tarefas vão ser desempenhadas pelos mesmos funcionários. Vai haver apenas transferência de pessoal para o Instituto Cultural e o Instituto de Desporto.” A secretária deixou, na sexta-feira, o aviso de que a reestruturação do IACM não poderia ser repentina, em resposta às diversas perguntas dos deputados sobre as modificações do organismo. Tudo o que foi adiantado por Florinda Chan é que os trabalhos já começaram a ser feitos em 2008, mas que a restruturação tem de ser ponderada. “É preciso cuidado para que a reestruturação não cause impacto à população. Após essa reestruturação, vamos ter as definições do IACM mais claras. Vão manter algumas funções novas vão ser integradas.” Uma das mudanças é a saída da inspecção sanitária da tutela do IACM, bem como algumas transferências das questões de desporto e culturais.

Reinserção social Reclusos a trabalhar André Cheong garantiu que o Governo tem planos para a reinserção social. Na passada sexta-feira, o director dos Serviços para os Assuntos de Justiça disse que iria incentivar as grandes empresas a aderir a um plano de reinserção para os reclusos de Macau que já tenham cumprido as suas penas. Cheong assegura que este é um plano que está em andamento há algum tempo e que é o ideal tendo em conta que as empresas de Macau “precisam de trabalhadores”.

FLORINDA CHAN ACEITA SUGESTÃO DE DEPUTADO SOBRE MECANISMO PARA MONITORIZAR A APLICAÇÃO DE LEIS

As ideias do deputado Leonel Alves

TONG SUGERE A NÃO INDEXAÇÃODOS VENCIMENTOS DOS MAGISTRADOS AO DO CHEFE DO EXECUTIVO

Aquilo que a vida lhes ensina

sionais. “As suas regalias devem melhorar, tendo em conta o desenvolvimento económico. Além disso, a desindexação deve ser

ponderada. Não se pode comparar os salários dos magistrados com os dos chefes de departamento.”

Sobre o assunto, a

secretária para a Adminis-tração e Justiça não teceu comentários, tendo apenas frisado que vão continuar os cursos de formação para magistrados e oficiais de justiça e que, este ano, 37 formados ingressaram na magistratura.

UMA QUESTÃO DE IDADEA formação de magistrados em Macau e óptima, diz Vítor Kwan, mas é preciso experiên-cia. O deputado falou também do assunto na presença de Florinda Chan, tendo demons-trado algum desconforto com os juízes jovens. “O juiz não julga apenas com base nos de-poimentos, mas sim com base na sua experiência de vida. Se há magistrados que não a têm, devem ter. Só depois de alguns anos na sociedade é que devem ser juízes.”

O deputado considera que Macau devia seguir o exemplo de “outros paí-ses”, onde “os juízes só são nomeados depois de terem alguma experiência”. - J.F.

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6 política hoje macau segunda-feira 25.11.2013

CECÍLIA L [email protected]

O presidente da Associação No- v o M a c a u (ANM), Jason

Chao apresentou, ontem, um seminário com o professor assistente da Universidade de Macau (UMAC), Bill Chou, onde discutiram o direito polí-tico e a liberdade de expressão.

Jason Chao lamenta que a liberdade política em Macau seja muito menor do que Hong Kong, um vez que ambas as cidades são regiões administrativas especiais da China, porque na Lei Bási-ca de Hong Kong foi logo

O S deputados da 2.ª Comissão Per-manente da As-

sembleia Legislativa (AL), encarregues de analisar o Orçamento governamental para o próximo ano, estão preocupados com as dife-renças existentes entre os orçamentos iniciais e aquilo que é realmente gasto nos diversos departamentos da Função Pública. Isto porque nos primeiros três trimes-tres deste ano as diferenças foram grandes, o que pode condicionar o Orçamento para o próximo ano.

Apesar das entidades não terem gasto um terço do orçamento previsto, pediram mais dinheiro para 2014, o que alarmou os deputados. “Quando nós vemos o Orçamento de 2014, temos de ter em consideração também o

Orçamento de 2013. Nos primeiros nove meses deste ano, vemos que dez servi-ços públicos só utilizaram um terço do respectivo orçamento de 2013”, disse Chan Chak Mo.

Desta forma, serão dez os departamentos a serem chamados à AL para se explicarem, segundo o de-putado. Na lista constam o Gabinete para o Desenvol-vimento de Infra-estruturas (GIF), Estabelecimento Prisional de Macau (EPM), Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) e o Gabinete para a Protecção dos Dados Pessoais (GPDP). - A.S.S.

O deputado Mak Soi Kun entregou ontem

uma interpelação escrita onde questiona os projec-tos em Hengqin. Depois de mencionar que a Asso-ciação de Beneficência do Hospital Kiang Wu fez um pedido, no ano passado, para criar um lar de idosos em Hengqin, o Governo deu luz verde à intenção da associação, referindo que o local onde o lar pode nascer será perto no novo campus da Universidade de Macau (UMAC). Apesar de satis-feito, Mak Soi Kun quer ainda saber em que fase está essa intenção. Além disso, o deputado também lembrou o Executivo das recomendações dos espe-cialistas sobre a construção de habitação pública na

Ilha de Montanha. “Até o vice primeiro-ministro Wong Yang disse ao Chefe do Executivo da RAEM que Macau precisa fazer um avanço no sistema, ou seja, para aprofundar a co-operação económica com o continente.” Mak Soi Kun perguntou se o Governo aproveitará a oportunidade para construir habitação pública em Hengqin, já que a recomendação foi feita na Assembleia Legislativa na última semana. O de-putado disse que construir habitação pública na Ilha da Montanha pode ajudar a expandir a fronteira en-tre Zhuhai e Macau, e ao mesmo tempo, sob a alçada legal do Continente, criar uma zona de economia livre.

NOVO MACAU RELATÓRIO SOBRE SUFRÁGIOUNIVERSAL SERÁ ENVIADO “EM BREVE” PARA A ONU

O direito políticoe a liberdadede expressão

estipulada a possibilidade de o Chefe do Executivo vir a ser eleito por sufrágio universal, embora não tenha um calendário certo. “Temos de criar um calendário para a execução do sufrágio ge-ral, tanto para a eleição do Chefe do Executivo como da Assembleia Legislativa (AL). O que a ANM defende é 2017 como data do sufrágio geral da AL e 2019 para o Chefe do Executivo”, frisou o presidente da ANM.

Chao explicou que isso já não é apenas um pedido de Macau mas também uma recomendação da Organi-zação das Nações Unidas (ONU). “Este ano estou a

fazer um relatório de direitos humanos de Macau com o professor Chou. Já apresen-támos o relatório de 2012 e vamos enviar o de 2013 para a ONU em breve. Contudo, o Governo não toma acções para a implementação da reforma política. Isto é pre-cisamente o que precisamos mais para proteger o direito humano porque a política é garantia para o quadro da Administração.”

Bill Chou acrescentou que o Governo foge sempre à responsabilidade do su-frágio universal para a Lei Básica porque o sufrágio geral não é adaptado com a Lei Básica. “Mas o anexo à

Lei Básica pode ser alterado bem como a alteração sobre a reforma política no ano pas-sado. Macau está há muito tempo à espera. O Governo responde sempre que a refor-ma política deve ser aplicada progressivamente mas o progresso não significa es-perar mais 30 anos, depois de 1976, quando tivemos as primeiras eleições na AL.”

PALAVRA SOBREDURÃO BARROSOJason Chao foi convidado para a celebração do 20.º aniversário do Acordo de Cooperação Comercial União Europeia-Macau, no sábado. O presidente da ANM foi “surpreendido” pelo pensa-mento maoísta do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso – desconhecendo as suas raízes políticas no PCTP--MRPP, partido português de inspiração maoísta -, mas Chao elogia o trabalho da UE sobre a igualdade de género. “É complicado comentar o trabalho do mandato de Durão Barroso e avaliar se ele é ou não um bom presidente. Vejo que a UE continua a promover as leis, os direitos humanos e outros assuntos. O que não concordo é com uma protec-ção comercial excessiva da UE.”

ORÇAMENTO 2014 ANÁLISE CONTINUA PARA A SEMANA

Gastam pouco e querem mais

Mak Soi Kun questiona planos para a Ilha da Montanha

• O encontro entre o Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, e o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, este Sábado, revestiu-se de grande aproximação, nomeadamente em diversas parcerias no incremento e alargamento nos domínios da aviação, das indústrias culturais e criativas, educação e protecção ambiental.

UMA BOA BASE DE COOPERAÇÃO SÓLIDA

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7SOCIEDADEhoje macau segunda-feira 25.11.2013

CECÍLIA L [email protected]

JOANA [email protected]

F OI finalmente autori-zada a contratação de empregadas domés-ticas da China conti-

nental para Macau. De acor-do com um anúncio feito na sexta-feira pelo Gabinete de Recursos Humanos (GRH), a autorização foi já dada pelo Governo Central, ainda que a título experimental.

No total, são 300 as empregadas que poderão chegar a Macau vindas do interior da China e mais de metade chegam de apenas duas províncias. “Destas quotas, 200 são para tra-balhadores oriundos da província de Guangdong e cem da província de Fujian”, pode ler-se num comunicado do GRH.

Os pedidos para a im-portação vão ser feitos pelos próprios interessados e po-dem ser entregues ao GRH a partir de 16 de Dezembro e durante um mês e meio, até ao final de Janeiro, mas há quem tenha prioridade. “Nesta fase experimental, será dada consideração aos pedidos que se destinem a cuidar dos residentes que completem 65 anos de idade antes de 31 de Dezembro de 2013.”

Os requerentes têm de preencher determinados requisitos para poderem contratar as empregadas domésticas do interior da China, com critérios que passam, por exemplo, pe-las mesmas regras que as actualmente aplicadas às trabalhadoras domésticas – entre estes, destaca-se que o alojamento só pode ser assegurado pelo empregador no local onde vai ser feito o trabalho.

POUCAS PARA MUITOSJá desde 2011 que se espera que o Governo Central auto-rize a importação das empre-gadas domésticas da China continental para Macau e já nesse ano, Francis Tam, secretário para a Economia e Finanças, tinha referido que o pedido de autoriza-ção tinha sido entregue às autoridades do continente. A promessa de que seriam mais as empregadas de Fujian e Guangdong também foi feita há dois anos, porque o secretário afirmou que o facto de os habitantes de Ma-cau serem essencialmente oriundos dessas províncias iria pesar na decisão de ex-

EMPREGADAS DOMÉSTICAS GOVERNO CENTRAL AUTORIZA IMPORTAÇÃO DO INTERIOR DA CHINA

Quota limitada nas 300 pessoas

portar “a título experimental ajudantes familiares” dessas zonas.

Ainda que a decisão tenha sido finalmente co-nhecida, são mais de quatro mil as famílias que apresen-taram já pedidos junto de agências de contratação de empregadas domésticas para conseguirem uma empre-gada do interior da China.

Segundo o jornal Ponto Final, no início deste ano, a Associação de Agências de Emprego de Trabalhadores Não-Residentes estimava que o número de famílias possa chegar aos seis mil, tendo em conta que nem to-das as agências de emprego fazem parte desta associa-ção. As quotas, contudo, correspondem apenas a 5%

dos pedidos que podem vir a ser feitos. O GRH diz ter so-lução. “Considerando que a importação de trabalhadores provenientes do interior da China e destinados à pres-tação de serviço doméstico tem um número de quotas limitado, caso o número de pedidos que satisfaçam as condições exigidas exceda o número de quotas dispo-

níveis, o GRH vai proceder à selecção por sorteio.”

Em Março deste ano, Francis Tam chegou ainda a defender que o salário mínimo a pagar às emprega-das domésticas que venham do interior da China deve ser de três mil patacas. O valor apontado por Francis Tam não agradou a algumas agências de emprego, que entendem que esse montante não chega para atrair empre-gadas com experiência em cuidar de bebés. Recorde--se, no entanto, que não existe salário mínimo para empregadas domésticas em Macau.

Outras das controvér-sias faladas na altura pelas associações de contratação de empregadas é a questão de se rever a actual legis-lação, de modo a impedir que estas se transfiram para trabalhar nos casinos depois de chegarem ao território e a implementação de um limite de idade para estas empre-gadas. Sobre isto, nada foi dito pelo GRH.

DIFICULDADE EM ATRAIR AS EMPREGADAS DOMÉSTICASO jornal Ou Mun entrevistou a gerência da Zheng Xiang Heng, uma das top 100 em-presas que dispensa serviços prestados por empregadas domésticas em Cantão. A responsável da empresa, uma senhora de apelido Li, salientou que com o de-senvolvimento económico as trabalhadoras tornam-se populares em Cantão porque a procura é maior do que a oferta, logo, o salário tam-bém vai sendo aumentado. “É impossível pagar um salário a estas empregadas domésticas inferior a dois mil yuan, não aceitam. Já o rendimento para empre-gadas com habilidades es-peciais pode mesmo atingir os oito mil yuan sendo que ainda há lugar a que o salário aumente.”

Li considera que Macau tem dificuldade em atrair as empregadas domésticas de Guangdong. Segundo

a responsável, um salário mensal de três mil patacas só serve para recrutar as pessoas de pequenas cidades sem licença de trabalho. “Muitas empregadas prefe-rem ficar mais próximo das suas terras natal, por isso, como a política obriga a que as empregadas domésticas vivam com os patrões, elas preferem não abandonar as suas casas. Acredito que para importar empregadas domésticas qualificadas, o salário precisa de ser mais elevado.”

Uma empregada domés-tica de Cantão, com mais de dez anos de serviço, disse ao Ou Mun que se o salário de Macau não chegar aos quatro mil yuan e se não houver um acréscimo de refeições gratuitas, não vai considerar o emprego. A senhora, que se recusou a dar o nome, disse ainda que, embora queira vir para Macau, os seus familia-res também não deixarão.

WONG KIT CHENG FALA OS IDOSOSA vice-presidente da Asso-ciação Geral das Mulheres, Wong Kit Cheng, também falou do problema. Wong referiu que desde 2003 a associação já apresentou uma recomendação sobre a importação das empregadas domésticas do Continente. A política que regula os pedi-dos de idosos, maiores de 65 anos, como prioritários, lan-çada na passada sexta-feira, leva a deputada a considerar que isso pode ajudar Macau a resolver o problema de envelhecimento.

Considerada a necessi-dade especial em alimenta-ção e cuidados médicos aos idosos, a enfermeira do hos-pital Kiang Wu recomenda que se criem mais agências de formação às emprega-das domésticas da China continental para oferecer os serviços mais adaptados às necessidades das famílias locais, bem como ajudar as empregadas domésticas a integrar a comunidade de Macau.

Dois anos depois, o Governo Central autorizou a importação de domésticas do interior da China, sendo que a maioria tem de vir obrigatoriamente de Fujian e Guangdong. A quota, contudo, está nas 300 pessoas, quando se prevê que os pedidos ascendam a mais de seis mil

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8 hoje macau segunda-feira 25.11.2013CHINA

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MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 412/AI/2013-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se os infractores ZHANG YUFEN (portadora do Passaporte da R.P.C. n.° G52289XXX) e CAO ZHIBIN(portador do Salvo-Conduto de dupla viagem da R.P.C. n.° W40012XXX), que na sequência do Auto de Notícia n.° 79/DI-AI/2012, de 31.07.2012, levantado pela DST e por despacho da signatária de 13.11.2013, exarado no Relatório n.° 479/DI/2013, de 16.10.2013, lhe foi desencadeado procedimento sancionatório, por controlar a fracção autónoma situada na Rua Cidade de Coimbra, n.° 342, Edf. Kam Yuen, 16.° andar H e utilizada para a prestação ilegal de alojamento. -------------------------------------------------------------------------------------No mesmo despacho foi determinado, que deve, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, apresentar, querendo, a sua defesa por escrito sobre a matéria constante daquele Auto de Notícia, oferecendo nessa altura todos os meios de prova admitidos em direito. Nos termos do n.° 2 do artigo 14.° da Lei n.° 3/2010 não é admitida apresentação de defesa ou de provas fora do prazo. ---------A matéria constante daquele Auto de Notícia constitui infracção ao artigo 2.° da Lei n.° 3/2010, tal facto é punível nos termos no n.° 1 do artigo 10.° da Lei n.° 3/2010. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d'Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

-----Direcção dos Serviços de Turismo, aos 13 de Novembro de 2013.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

O presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, ga-rantiu sexta-

-feira que a China não era responsável pela ruptura das relações diplomáticas com a Gâmbia, decisão que surpreendeu Taiwan e reduz o número de aliados da ilha. “Não houve qualquer sinal (...) antes da ruptura anunciada pela Gâmbia. É um incidente isolado e, com base em informações de diferentes fontes, a Chi-na não esteve envolvida”, declarou Ma.

A imprensa de Taiwan deu a entender que Pequim estava envolvido na decisão de Banjul e afirmou recear um efeito de dominó, entre os 22 países com os quais Taipé mantém relações di-plomáticas.

Na passada semana, o Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, anunciou a ruptura das relações di-plomáticas, estabelecidas há 18 anos, com Taiwan e evocou “o interesse nacional estratégico”.

Taiwan enviou dois di-plomatas à Gâmbia, que não foram recebidos pelo Presidente Jammeh.

Pequim, que não reco-nhece Taiwan e considera a ilha uma província chinesa, negou ter pressionado a Gâmbia a tomar esta deci-são, mas o ministério dos Negócios Estrangeiros afir-mou que “o apoio à reunifi-cação pacífica da China era uma tendência irreversível”.

Actualmente, Taipé

Q UARENTA e sete pessoas morre-ram na sexta-feira

devido à explosão de um oleoduto na cidade de Qing-dao, no leste da China, anunciaram as autoridades locais, precisando que 18 mil pessoas foram retiradas do local na sequência do acidente.

Um balanço anterior dava conta de 44 mortos e 166 feridos.

A explosão ocorreu às 10h30 de sexta-feira no dis-trito de Huangdao, quando os trabalhadores reparavam uma fuga no oleoduto da empresa estatal Sinopec.

O governo local afas-tou a possibilidade da explosão ter resultado de um ataque planeado.

As autoridades anun-ciaram também que foram retiradas 18.000 pessoas residentes nos arredores do local do acidente, mas sem dar mais pormenores.

Devido aos fumos libertados pela explosão, as autoridades entregaram máscaras na sexta-feira aos habitantes da zona do acidente.

O exército chinês testou o primeiro avião não-tripulado de combate furtivo, que

realizou um voo de cerca de 20 minutos e aterrou sem qualquer problema aparente, no sudoeste da China, noticiou sexta-feira a imprensa oficial.

Semelhante ao ‘drone’ militar norte--americano ‘Northrop Grumman X-47B’, com uma asa delta, o aparelho chinês foi baptizado “Lijian” (“Espada Afiada”), e pode realizar missões de vigilância e ataque à distância.

Como acontece muitas vezes na China, este baptismo de voo, que decorreu na quinta-feira, foi inicialmente divulgado, através de fotogra-fias e vídeos amadores, em blogues na Internet.

Os média estatais - a agência noticiosa Xinhua, a televisão CCTV, o jornal Diário

do Povo - retomaram a notícia, sublinhan-do que as capacidades militares chinesas aproximam-se das exibidas pelas grandes nações ocidentais.

Pequim apresentou o primeiro protótipo de caça-bombardeiro furtivo no início de 2011, mais cedo do que o esperado pelos observadores, o que de certo modo veio confirmar a rápida modernização das forças armadas chinesas, de acordo com a agência noticiosa francesa AFP.

A China, com o maior exército do mundo (Exército Popular de Libertação) e um arse-nal nuclear, tem o segundo maior orçamento de defesa do planeta, depois dos Estados Unidos, o que preocupa os países vizinhos e Washington.

EXPLOSÃO CAUSOU 47 MORTOS

O fim do mundoem Qingdao

Testado avião não-tripulado de combate furtivo

No entanto, os media oficiais asseguravam este sábado que “a concentra-ção de partículas tóxicas se mantinha dentro dos limi-tes das normas nacionais”.

A distribuição de gás, electricidade e de água foi interrompida em vários bairros de Qingdao.

O presidente da Sino-pec, Fu Chengyu, declarou sábado, citado pela televisão estatal chinesa, que a em-presa “expressa profundas condolências” às famílias das vítimas e “apresenta profundas desculpas ao povo chinês” pelo sucedido.

O mesmo responsável garantiu que a Sinopec está “determinada em apu-rar o mais depressa possí-vel as causas do acidente e apresentar explicações sérias”.

De acordo com a empre-sa, o oleoduto onde foi re-gistado o acidente estava em funcionamento desde 1986 e tinha 248 quilómetros.

As autoridades de Qingdao estavam sábado a procurar evitar uma fuga do petróleo, na sequência do acidente.

TAIWAN GARANTE QUE CHINA NÃO É RESPONSÁVEL PELA DECISÃO DA GÂMBIA

Receio de efeito dominó

mantém relações diplomá-ticas com 22 países, em África, América Latina ou Pacífico.

Em África, continente onde a China investe milha-res de milhões de dólares, Taiwan conta apenas com três aliados: São Tomé e Príncipe, Suazilândia e Burkina Faso.

Ao longo dos 18 últi-mos anos, Taiwan investiu milhões de dólares em pro-jectos relacionados com a

agricultura, saúde, educação e infra-estruturas na Gâm-bia, o país mais pequeno de África continental.

Taiwan e a China sepa-raram-se em 1949, na se-quência de uma guerra civil, mas Pequim considera que a ilha autónoma é parte do território chinês, o que torna inevitável a reunificação e, se necessário, será feita pela força.

Durante vários anos, Taiwan e a China manti-

veram um ‘braço de ferro’ diplomático, tentando atrair os aliados do rival com ge-nerosas somas de dinheiro.

Mas as tensões diminuí-ram quando Ma Ying-jeou, partidário de uma coope-ração económica com o poderoso vizinho, foi eleito presidente da ilha em 2008 e reeleito no ano passado.

Para a oposição taiwanesa, este incidente ilustra o fracas-so da trégua diplomática de Ma com Pequim.

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9 chinahoje macau segunda-feira 25.11.2013

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A China saudou on-tem o acordo de Genebra sobre o programa nucle-

ar iraniano, considerando que vai “ajudar a salvaguar-dar a paz e estabilidade no Médio Oriente”, declarou o chefe da diplomacia chinês, Wang Yi. “Este acordo vai contribuir para manter o programa internacional de não proliferação nuclear (e) salvaguardar a paz e a esta-bilidade no Médio Oriente”, declarou o ministro dos Ne-gócios Estrangeiros chinês.

O acordo “também vai ajudar as partes a começa-rem a fazer trocas normais com o Irão e a providenciar uma vida melhor para o povo iraniano”.

O ministério dos Negó-cios Estrangeiros chinês afir-mou que o acordo segue-se “a uma década de trabalho duro, particularmente nos últimos dias, quando se entrou na fase final de ne-gociações difíceis”.

A China é um dos cinco membros do Conselho de Segurança da ONU, que com a Alemanha e o Irão negocia-ram o acordo para que Tee-rão limite o enriquecimento de urânio, a actividade que suscita maiores suspeitas sobre a vontade do Irão de criar a arma nuclear.

A câmara alta do Japão aprovou sexta-feira uma resolução que proíbe o senador Antonio Inoki de entrar no hemiciclo durante 30 dias como castigo por se ter deslocado recentemente à Coreia do Norte sem autorização do parlamento. A sanção, aprovada por unanimidade, é a primeira do género em 60 anos. O partido a que pertence este senador, o Partido pela Restauração do Japão, já suspendeu a sua afiliação durante 50 dias devido a este episódio. O senador, de 70 anos, esteve seis dias na Coreia do Norte no início deste mês para promover o intercâmbio desportivo, abriu aí uma representação da

NUCLEAR PEQUIM SAÚDA ACORDO DE GENEBRA SOBRE PROGRAMA IRANIANO

Mais paz para o Médio Oriente

Pequim está interessada em evitar a instabilidade no Médio Oriente, já que depende fortemente do pe-tróleo para sustentar o forte crescimento económico.

A China também apelou para que os problemas na

região fossem resolvidos através da diplomacia e não de intervenções militares.

Com a Rússia, a China bloqueou anteriormente es-forços de países do Ocidente na ONU para intervir mili-tarmente na Síria. “Também

queremos saudar as partes envolvidas nas negociações por terem demonstrado fle-xibilidade e pragmatismo”,

REGIÃOFilipinas Metade dos presos que se evadiram de prisão regressou

Coreia do Norte Senador japonês castigado por ter ido ao país

Cerca de metade dos presos que se evadiram de uma prisão na província filipina de Leyte, afectada pelo super-tufão Haiyan, regressou à cadeia depois de ajudar as suas famílias, informaram as autoridades locais. A prisão provincial de Leyte, junto à localidade de Palo, tinha cerca de 600 presos quando o tufão devastou a região no dia 8, tendo o tecto desabado com os ventos para além de ter sofrido inundações, o que permitiu a fuga dos detidos. Um guarda prisional citado pela agência AFP indicou que todos os presos tinham fugido e que 251 já regressaram, estando detidos numa área da prisão que

sofreu menos danos. Alguns presos disseram à AFP que escaparam para ver e ajudar a família, tendo regressado porque não queriam viver como fugitivos. O tufão Haiyan causou mais de 5.200 mortos nas Filipinas.

organização não-governamental que dirige e reuniu-se com funcionários do regime, incluindo um tio do líder norte-coreano, Kim Jong-un. O Japão não tem laços diplomáticos com a Coreia do Norte.

referiu ainda o chefe da diplomacia chinesa.

No âmbito do acordo al-cançado, o Governo iraniano

comprometeu-se a parar o enriquecimento de urânio até 20% e só poderá fazê-lo abai-xo de 5%, apenas o suficiente para ser utilizado em activida-des civis, a não expandir as centrais nucleares de Fordo e Natanz e a parar a construção da central de Arak, onde se poderia produzir plutónio.

Com este compromisso, as potências garantem o alí-vio das sanções contra o Irão, avaliadas em cerca de 50 mil milhões de patacas, durante seis meses, mas se o país não cumprir por completo o acordo as sanções voltarão a entrar em vigor.

O acordo entre o Irão e as seis potências mundiais (os cinco membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha), concluído on-tem em Genebra, prevê que o Irão também desmantele “os conectores técnicos” que permitem o enriquecimento acima de 5%.

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10 hoje macau segunda-feira 25.11.2013

RITA MARQUES [email protected]

D ESCREVE-SE co- mo “um persona-gem forte” que, em carreira musical,

leva já uma bagagem de mais de dez anos de experiência e outros 14 Grammy no currículo. Alicia Keys - mais madura do que em “Songs in A Minor”, quando se estreou - consegue hoje ser a fonte de inspiração para as mulheres que sempre aclamou nas suas músicas.

ALICIA KEYS FEZ DUPLA ESTREIA EM MACAU NO ÂMBITO DA TOURNÉE “SET THE WORLD ON FIRE”

“É o melhor espectáculo que já fiz”

Acho que a razão que faz com que as coisas se eternizem é, de facto, porque o que é provocante é o que gera mais atenção, mais do que simplesmente a música

SEXTO ÁLBUM DE ORIGINAIS SERÁ LANÇADO “EM BREVE”Depois de 20 de Dezembro, data da conclusão de “Set the World on Fire”, as atenções de Alicia Keys voltam-se para um novo álbum de originais. Sem desvendar muito sobre este sexto álbum de estúdio, a artista explica que em inícios de 2014 abraçará exclusivamente o novo projecto. “Vou começar a gravar o álbum no início do [próximo] ano e estou muito entusiasmada com isso. Há tanto para dizer e de tantas maneiras que, de alguma forma, parece que ainda só agora estou a começar a completar [as peças de] quem sou e quem quero ser e como me quero relacionar. As novas músicas vão sair brevemente, tal como muitos novos projectos e estou muito entusiasmada.” Sobre a data de lançamento, nada adianta ainda, mas desvenda a possibilidade de incluir colaborações. “Nunca sei até meio caminho [do novo trabalho] porque primeiro crio e vejo como sinto a música e depois descubro com quem gostaria de fazer duetos. Mas já há sugestões com vozes da Indonésia e da China”, revela. A vontade de vir buscar vozes orientais partiu dos jornalistas em sala de imprensa mas a receptividade de Alicia Keys mostra que poderá haver de facto surpresas. “Eu adorava [incluir alguns elementos chineses nas suas músicas]. Quanto mais viajo mais realizo o quão incrível é juntar pessoas de lugares tão distintos. É algo que temos vindo a falar há já algum tempo: quais seriam os melhores sítios para fazer umas colaborações interessantes. Aqui seria um óptimo lugar.”

Mas, se olhasse para trás, diria que “Fallin’” - o seu primeiro single - faz tão parte da sua carreira como do seu percurso até aqui, sobretudo, enquanto adolescente. Porque as “quedas” (não apenas por

MÚSICA

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11 músicahoje macau segunda-feira 25.11.2013

COMEÇOU em Nova Iorque e acabou em

Macau. Alicia Keys abriu e fechou os dois concertos, de sexta-feira e sábado, com “Empire State of Mind”. A noite encerrou-a em pura apoteose mas não sem antes chamar Jay Z a palco (por meio de tela) e já depois de envergar um sensual vestido roxo que levou o público ao rubro. O segredo na receita foi adaptar o refrão a Macau: “concrete jungle where dre-ams were made of” (“selva de cimento onde sonhos se criam”).

Pelo caminho percor-reu “Karma”, do segundo álbum, “Diary of Alicia Keys”(2003), “Like you’ll never see me again” de “As I Am” (2007), recuou depois até “Songs in A Minor” (2001) com os primeiros êxitos - a “Woman’s Worth” e “Fallin’” -, fez lembrar “The Element of Freedom” (2009), com “Try Sleeping with a Broken Heart” e “Un--Thinkable (I’m Ready)”, e, claro, fez jus ao motivo da tourneé “Set the World on Fire” e explorou o mais re-cente “Girl on Fire” (2012). Aliás um dos pontos altos da noite foi, inevitavelmente, o ‘single’ que deu o nome

ao álbum, onde arrefeceu o público ao aparecer a tocar tambores.

Mas, desde o primeiro momento, as vibrações fortes da sua voz depressa chegaram ao público que respondeu com aplausos muitos, alguns elogios e, cla-ro, com a vontade de chegar até à deusa do R&B. Porque se o “Venetian Theatre” não oferece plateia, garante, por outro lado, a livre iniciativa dos espectadores e a empatia entre artista e público.

O piano, imagem de marca, teve também pa-pel de destaque no centro do palco onde, em vários momentos, interagiu com Keys. Em “No One”, a estrela nova-iorquina de 32 anos pediu ao público para iluminar a sala com os telemóveis no ar para “ce-lebrar o amor”; em “Tears Always Win” conquistou quem não conhecia de cor as letras do novo CD e “If I Ain’t Got You” (18.ª do alinhamento) dedicou a Macau, justificando: “é a minha primeira vez aqui e sinto-me tão bem recebida”.

No final, a conclusão foi apenas uma. A hora de pre-sença em palco soube a pouco mas foi intensa. - R.M.R.

Subconscientemente acredito que haja também uma mudança de energia das pessoas, uma força e desejo para sermos nós próprios [disse, em relação aos asiáticos]

ALICIA KEYS FEZ DUPLA ESTREIA EM MACAU NO ÂMBITO DA TOURNÉE “SET THE WORLD ON FIRE”

“É o melhor espectáculo que já fiz”

amor) foram a condição que a fez aprender com os erros. “O maior conselho que deixaria a uma ‘jovem Alicia Keys’ seria não tentar agradar tanto a toda a gente. Às vezes uma pessoa fica tão concentrada a querer passar uma boa imagem a todos que perde a felicidade. Se não formos felizes, não podemos cair na ilusão de fazer os outros felizes. Essa foi uma grande li-ção que aprendi”, explicou em

‘não queres sair, pois não?’”, reagiu Keys sobre as primeiras impressões da cidade, a qual não lhe fez soltar mais do que um “uau, que lugar, Meu Deus”. Ainda assim, assegurou ter recebido uma energia enor-me entre as quatros paredes do hotel-casino.

Desafiada a descrever as mudanças no continente asi-ático após a última vinda, há quatro anos, Keys adivinhou as previsíveis mudanças que em Macau talvez se tenham feito sentir mais do que em qualquer outro lugar. “Só fizemos quatro espectáculos e em Xangai [tal como cá] estreei-me, por isso, não estou segura do que mu-dou mas presumo que muitos prédios foram construídos. Subconscientemente acredito que haja também uma mudan-ça de energia das pessoas, uma força e desejo para sermos nós próprios”, avaliou, antes de revelar que gostaria muito de regressar um dia para conhecer Taiwan.

Sobre a tournée, que se aguenta há quase um ano e está próximo do fim, Alicia Keys não tem pudores em afirmá-la como “o melhor espectáculo” que já alguma vez protagonizou.

“Uma selva de cimento onde sonhos se criam”conferência de imprensa, antes

do seu primeiro concerto no Venetian Theatre, sexta-feira, no âmbito da tournée “Set the World on Fire”.

Por outro lado, entende, nem tudo é apenas um processo de aprendizagem de uma jo-vem artista. Até porque, hoje, se ainda há jovens cantoras na “vanguarda” que “vão mais longe do que os limites co-mummente aceites” é porque a mentalidade das pessoas ainda não suporta que as mulheres tenham o seu poder, factor que ainda as leva a chocar o mundo. “Acho que a razão que faz com que as coisas se eternizem é, de facto, porque o que é provocante é o que gera mais atenção, mais do que simplesmente a música. Talvez seja algo que devemos mudar para encorajar as pesso-as a serem mais equilibradas. É uma mentalidade cultural: nós como mulheres somos demais, muito sensuais, muito poderosas, inteligentes, em-presárias, líderes, criadoras de toda a vida. Quer dizer, somos

mesmo fenomenais. Somos indivíduos muito dinâmicos”, defende, numa improvisada ode às mulheres.

Na quarta paragem da sua tournée asiática (depois de Du-bai, Tóquio e Xangai), foi Ma-cau onde estacionou por mais tempo. Aliás, a “Las Vegas da Ásia” pode orgulhar-se de ser uma das poucas cidades – a par com Nova Iorque, Londres e Paris – onde até agora Alicia Keys provou duas vezes o seu talento.

Quem ficou mais decepcio-nado foram, com certeza, os fãs que não a puderam ver ao vivo e a cores pelo palco multicul-tural de Macau. Isto porque, segundo a própria, não houve grande abertura para que se aventurasse pelos trilhos da cidade. “Aparentemente não consigo sair deste hotel [no Venetian] porque é demasiado grande. De facto, essa é a razão por que me atrasei [em cerca de uma hora para a conferência de imprensa]. O meu quarto é tão grande que me perco. Isso foi o que vi até agora. E dizem-me:

AJUDAR AS FIL IP INAS É INTENÇÃO DE KEYSMulher filantropa, Alicia Keys criou a sua própria organização não-governamental – “Keep a Child Alive” – para levar ajuda, nomeadamente médica, aos países mais pobres. Por essa razão, a artista foi inquirida se a sua passagem pelas Filipinas, onde actua hoje à noite, pode traduzir-se em algo mais, atendendo às vítimas do tufão Haiyan. “A razão por que actuo nas Filipinas é um pouco por isso. O espectáculo é em Manila, que embora seja um pouco longe de onde aconteceu [a catástrofe], é muito importante para mim ir lá levar alegria, amor e inspiração. E também perceber em que posso ajudar, o que posso fazer mais além de alertar consciências. Acho que todos somos sensíveis e quando uma coisa destas acontece queremos ajudar.”

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12 publicidade hoje macau segunda-feira 25.11.2013

Page 13: Hoje Macau 25 NOV 2013 #2981

13EVENTOShoje macau segunda-feira 25.11.2013

A 55.ª Exposição Inter-nacional da Bienal de Arte de Veneza, sob o tema “O Palácio Enci-

clopédico”, encerrou ontem após seis meses de exibição de 88 pro-jectos artísticos nacionais, entre os quais o de Portugal, o cacilheiro “Trafaria Praia”, ou a obra “PATO.MEN” do representante de Macau, Carlos Marreiros.

O certame, que constitui a mais antiga e importante bienal de arte contemporânea, foi dedicado ao tema geral “O Palácio Enciclopé-dico”, e teve como vencedor, este ano, do Leão de Ouro, o Pavilhão de Angola, país que se estreou, tal como o Vaticano, as Bahamas, e as Maldivas.

Fontes da organização do Pa-vilhão de Angola e do Pavilhão de Portugal indicaram à agência Lusa que o primeiro recebeu 50 mil visitantes e o segundo, 100 mil.

A 55.ª Exposição Internacional da Bienal de Arte de Veneza encerrou com uma conferência de imprensa com a presença do presidente do evento, Paolo Baratta, e Massimilia-no Gioni, curador da mostra.

Durante a tarde teve lugar um encontro sobre “Museus e Bienais”, com a presença de curadores e di-rectores de museus como Cristiana Collu, Alfredo Cramerotti, Bice Curiger, Abdellah Karroum, Achil-le Bonito Oliva, e Vicente Todolì.

“Luanda, Cidade Enciclopédi-ca” foi o título do projecto de Ango-

la, instalado num palácio que esteve encerrado nos últimos vinte anos.

O cacilheiro “Trafaria Praia”, criado pela artista Joana Vascon-celos para representar Portugal na Bienal de Arte de Veneza 2013, regressa a Lisboa em Dezembro com um programa de convites para ir à Colômbia, Monte Carlo, Macau e Estados Unidos, como adiantou a artista à agência Lusa.

O “Trafaria Praia” chegou a Veneza no final de Maio, depois de cerca de duas semanas de viagem desde Lisboa, e foi oficialmente inaugurado ao público no dia 31 des-se mês, atracado junto aos Giardini.

Antes da partida, ainda em Lisboa, o “Trafaria Praia” foi alvo de um restauro no estaleiro da

Navaltagus, no Seixal, e de uma transformação no interior, e no exterior, concebida pela artista para esta 55.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza.

O barco foi coberto no exterior com uma faixa de azulejos que mostram uma vista panorâmica de Lisboa, e o interior foi revestido a cortiça, material também usado para mobiliário do barco.

Também no interior, a artista criou uma intervenção em têxteis em tons de azul e branco, semeados de pontos de luz.

A viagem de regresso a Lisboa, disse Joana Vasconcelos à agência Lusa, pode demorar de 14 a 20 dias, e será feita nos mesmos moldes que a ida, rebocado por um navio.

Stones chegama Macau em Março Os Rolling Stones vão estar pela primeira vez em Macau, para actuarem no Venetian, em Março do ano que vem, embora a data só seja confirmada no início de Dezembro. A confirmação da actuação daquela que é uma das bandas mais famosas do mundo chegou ontem de manhã. A Sands China já tinha demonstrado vontade de trazer a banda britânica ao território, dando seguimento a uma política de aposta em grandes nomes do espectáculo, como aconteceu recentemente com a vinda de Rihanna ou de Alicia Keys. Lady Gaga, Avril Lavigne e Justin Timberlake são outros dos nomes que estão na calha para uma viagem até ao território. Êxitos como “Satisfaction”, “Start Me Up”, “Sympathy for the Devil”, “Jumping Jack Flash”, “Miss You” e “Angie” fazem dos Stones uma das bandas mais conhecidas do rock mundial. Agora, no âmbito da digressão por solo asiático, Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charlie Watts chegam a Macau.

Banda americanaKool & the Gang no VenetianA banda norte-americana Kool & The Gang vai actuar, no próximo dia 8 de Dezembro, em Macau, foi sexta-feira anunciado. Em comunicado, a operadora Sands China, proprietária do complexo The Venetian, que acolhe o maior casino do mundo, informa que os bilhetes para o concerto dos Kool & The Gang, que se tornaram célebres com temas como “Celebration”, “Cherish” ou “Jungle Boogie”, encontram-se já disponíveis para venda. Os Kool & The Gang, um grupo mítico de R&B formado na década de 1960 que ao longo da carreira já vendeu mais de 70 milhões de álbuns e influenciou a música de três gerações, vão actuar no teatro do Venetian, com uma lotação de 1.800 lugares. Os preços dos bilhetes para o espectáculo oscilam entre 200 e 600 patacas.

BIENAL DE ARTE DE VENEZA ENCERROU ONTEM COM DEBATE SOBRE MUSEUS E EXPOSIÇÕES

“Trafaria Praia” pode vir até Macau

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

O DOMÍNIO DO OCIDENTE • Ian MorrisUma história construída ao longo de cinquenta mil anos, O Domínio do Ocidente reclama o seu lugar entre os clássicos modernos da história mundial. O autor Ian Morris, um polímata e um académico de renome internacional, bem como «o historiador antigo mais talentoso do mundo» (Niall Ferguson) — explica a história do domínio ocidental numa teoria unificada de todas as coisas geopolíticas. Descrevendo os padrões da história humana, Morris reúne as mais recentes descobertas de várias disciplinas, da história antiga à neurociência, não só para explicar porque acabou o Ocidente por dominar o mundo, mas também para prever o que nos trarão os próximos cem anos.

UM DIA DE CADA VEZ • Danielle SteelCom espíri to e intel igência, Danielle Steel explora o amor nas suas diversas facetas, convidando-nos a mergulhar na vida de três casais pouco comuns, mas maravilhosamente reais. Engraçado, sensual e inteligente, “Um Dia de Cada Vez” é comovente, provocador e impossível de pousar.

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14 hoje macau segunda-feira 25.11.2013

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

O NASCIMENTO DO HOMEM NOVO

DIZER que 2001 – Odisseia no Espaço se tornou em algo parecido com o mo-nólito negro que é um dos

seus protagonistas não é original mas também nunca fica muito mal. Desde que Kubrick o lançou para o espaço, em 1968, vagueia, vai e volta, apare-ce e desaparece, e de cada vez que nos cruzamos com ele ficamos como as personagens do filme, astronautas ou homens-macacos, em estupefacta contemplação. Há poucos filmes as-sim, que pareçam tanto uma espécie de parêntesis, que inventem tudo como se não houvesse mais nada, nem antes nem depois, nem precur-sores nem seguidores. Podia-se dizer que toda a obra de Kubrick, autista genial em permanente conversa com os seus botões, é assim mesmo, todo um parêntesis, razão por que o seu lugar na história do cinema (e não apenas em termos “hierárquicos”) continua a ser uma das discussões mais abertas entre críticos e cinéfilos. Não há cineasta mais difícil de “pôr em relação” do que Kubrick. Nesse sentido, ele foi como que uma versão

2001 – ODISSEIA NO ESPAÇO

HÁ POUCOS FILMES ASSIM, QUE PAREÇAM TANTO

UMA ESPÉCIE DE PARÊNTESIS, QUE INVENTEM TUDO

COMO SE NÃO HOUVESSE MAIS NADA, NEM ANTES

NEM DEPOIS, NEM PRECURSORES NEM SEGUIDORES

comercialmente bem sucedida de Or-son Welles, outro megalómano que a cada filme refez (ou tentou refazer) todo o cinema à sua imagem e à sua medida. Há uma célebre entrevista de Orson Welles aos Cahiers du Ci-néma, nos anos 50, em que desanca sucessivamente todos os cineastas so-

2001, por exemplo. Muito se falou dele a propósito do Gravidade de Cua-rón, exemplo claro de uma “imitação de Kubrick” pela epiderme, tão óbvia que é impossível não reparar. Mas o gesto de Kubrick, a golfada impossí-vel que anima 2001 (engolir, através dum raccord, milhares de anos na his-

“solidão do astronauta” (em Estado de Guerra), Malick a entender um filme como uma cosmogonia (em A Árvore da Vida). Não há muito mais.Porque hoje nos dá para aí, apetece--nos aproximar Kubrick de outro “pa-rêntesis” aparentemente nos seus antí-podas, a obra do cavalheiro francês de nome Jacques Tati. 2001, que aborda entre outros “temas” identificáveis a questão antropológica da passagem do homem à “idade da máquina”, é praticamente contemporâneo (1968) de Playtime (1967), que verificava os efeitos dessa passagem num quotidia-no artificioso mas quase documental, onde Hulot era um “astronauta” e o HAL 9000 podia ter imensas formas. Três anos depois, em Trafic, Tati pon-tuou o filme com imagens, vistas atra-vés da televisão, da chegada do ho-mem à Lua, sucedida um ano depois da estreia de 2001. Está tudo ligado, evidentemente: a modernidade tec-nológica ia trazer um homem novo – provavelmente, o bebé com que o filme de Kubrick termina. Ninguém o adivinhou, ninguém o registou, como Kubrick e Tati.

bre quem lhe pedem um comentário, de Nicholas Ray a Vincente Minnelli. Excepto o então muito jovem Kubri-ck, que ainda só tinha dois filmes no currículo. “It takes one to know one”, dirão, e com razão.A megalomania, ou mais simpatica-mente o gesto larguíssimo de Kubrick, fazem dele aparentemente um cineas-ta fácil de copiar. Mas só na superfície.

tória da humanidade para contar o seu passado e o seu futuro), a superação das tradições narrativas e figurativas em função de qualquer coisa que é ao mesmo tempo muito abstracta e mui-to concreta (o uso que Kubrick fez da música é um sinal claro da vontade de chegar a esse balanço), isto nun-ca mais ninguém ousou. Bocadinhos, só: Bigelow a filmar a guerra como a

Luís MigueL OLiveiraIN PÚBLICO

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PEDRA SOBRE PEDRA

15 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 25.11.2013

próximo oriente Hugo Pinto

“– As imagens da memória, depois de fixadas com as palavras, apagam-se – disse Polo. – Talvez eu tenha medo de perder Veneza toda de uma vez, se falar dela. Ou talvez, ao falar de outras cidades, já venha a perdê-la pouco a pouco.”

“As Cidades Invisíveis”, Italo Calvino

A CONTECEU-ME mal che-guei a Macau. Ainda que pela primeira vez aqui as-sentasse pé, à primeira vista

a cidade tornava-se invisível. Não via a cidade que estava diante de mim, mas sim a que trazia nos retalhos do imagi-nário e de uma memória inventada. Via também uma cidade a ser, uma cidade em transformação. E a cidade que era não era a cidade daquele momento e a cidade daquele momento não era a cidade que viria a ser. E assim sucessi-vamente.

Escrevi, então: “Dizem-me que há dez anos o ritmo das transformações é o que se vê. Creio que perante tamanha pressa a tendência natural seja abran-dar, se não mesmo parar. O que vejo, confesso, também a mim me transfor-ma. Estarei a ficar conservador. As-sim mesmo: a ficar. Como se parasse. Como se parasse a olhar para Macau.

Esqueçam os conservadores filósofos políticos, Oakeshott e Burke, as infin-dáveis discussões, a sociedade e o indi-víduo, a tradição e o progresso. Atente--se no significado mais lato: ‘aquele que conserva’, que ‘guarda bem, retém na memória’. Imagine-se o conservador, alguém que manuseia minuciosamente um objecto antigo. Que desce às caves escuras, que sobe aos sótãos abafados. Alguém que se lembra. Lembrar é, afi-nal, a razão de ser deste conservadoris-mo. Quem pode dispensar a memória?”

Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, ensina-nos a lei da natu-reza. Mas pode esta ordem natural ex-plicar, por si, que esta cidade se tenha transformado ao longo dos séculos de “porto e ponte para as ligações entre a China e o Ocidente” num “centro in-ternacional de turismo e lazer”?

Escreve Wu Zhiliang na introdução à “Breve Monografia de Macau”, tra-duzida por Jin Guo Ping: “Uma nação vai-se formando ao longo da História estreitamente ligada à identidade na-cional. Macau, reintegrada na China, deverá possuir uma História própria que reúna pelo menos o consenso dos seus habitantes. De outra maneira será difícil tentar encontrar a identidade cultural de Macau.” Defende Wu que “precisamos de reexaminar e reconhe-cer a História de Macau”.

Julgo que o apelo, ainda que lança-do aos que se dedicam à historiografia, pode ser estendido a todos os que, aqui vivendo, fazem, no fundo, parte desta história. E podemos questionar-nos: é a “História própria” de Macau uma mera narração das transformações? É uma simples cronologia da inauguração dos grandes “resorts” e demais empreendi-mentos turísticos? É a lista de epitáfios dos pequenos e tradicionais comércios e restaurantes, substituídos pelas ca-deias de “fast food” e de joalharias? É a necrologia dos bairros antigos e dos antigos ofícios? Em suma, que identi-dade resta?

E o que sobra da “cidade de estilo europeu”, quando a calçada portugue-sa e os edifícios de “estilo manuelino” atravessam a fronteira, alastrando des-de a Ilha da Montanha aos arrabaldes do grande delta do Rio das Pérolas cen-tros históricos ao “estilo ocidental”, “la-tino” ou outra inanidade que lhe quei-ram chamar, enquanto aqui são erigidas medonhas venezas de cartão?

O pior é que já se terá perdido de vista onde tudo isto começou. A cada passo soa um grito de alerta, mas nada com a força ou a veemência de pene-trar os duros ouvidos dos mercadores que põem e dispõem até a cidade não ser mais do que o que deixou de valer. Até não restar pedra sobre pedra.

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Page 16: Hoje Macau 25 NOV 2013 #2981

16 DESPORTO hoje macau segunda-feira 25.11.2013

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RITA MARQUES [email protected]

D AVID Beckham pode passar a ser uma presença as-sídua em Macau.

Na sexta-feira, o ex-jogador de futebol pisou pela primeira vez a cidade, mas uma vez acordada uma nova parceria com a Sands China se não for visto em pessoa por cá, decerto será a partir de agora associado a muitas campa-nhas deste hotel-casino bem como do hotel Marina Bay Sands, em Singapura.

O acordo foi selado no Venetian e tem por base o desenvolvimento de restaura-ção, lojas e outros conceitos de lazer nas propriedades Sands. “Estou muito entu-siasmado por vir trabalhar em novas ideias de negócios numa parte do mundo, que

é tão cheia de optimismo e cresce a olhos vistos, onde adoro passar o meu tempo”, disse David Beckham, agora empresário e embaixador da liga de futebol chinesa.

Poucos foram os detalhes conhecidos mas para Edward Tracy, presidente e CEO da Sands China, a ideia é “providenciar uma panóplia diversa de ofertas turísticas mas também alcançar acordo com marcas de renome e pro-videnciar uma experiência única nos resorts do Cotai

Strip”. “Os valores pessoais e empenho de David Beckham tanto no desenvolvimento de negócios como junto da comunidade criam um casa-mento perfeito entre as duas marcas [Sands e Beckham Ventures] de uma forma que trará impacto ao mercado asiático”, antevê Tracy.

O evento contou ainda com George Tanasijevi-ch, presidente do Marina Bay Sands, que acolheu Beckham e pôde já ex-perienciar o potencial da parceria. “O entusiasmo e energia que a sua presença provoca é entusiasmante. Ele participou num festival da Sands para a comunidade de Singapura e foi inspi-rador para os jovens que conheceu, bem como para as associações de caridade locais que beneficiaram da sua generosidade”, frisou.

Boxe Manny Pacquiao derrota Brandon Rios em MacauManny Pacquiao voltou a vencer. Em luta contra Brandon Rios, o lutador filipino voltou a conquistar o título mundial de pesos médios em boxe. Pacquiao ganhou por pontos ao fim de 12 rounds e junta assim mais um título a uma longa e gloriosa carreira. Foi o primeiro campeão mundial em oito categorias de peso diferentes e tinha já conquistado seis títulos mundiais. Em 61 combates, tinha alcançado 54 vitórias.

A DIFÍCIL DECISÃO DE DIZER ADEUSDavid Beckham, 38 anos, abandonou a carreira futebolística este ano. A decisão, diz, não foi fácil de tomar e assume já sentir saudades. “Sinto muita falta de jogar. Foi uma das decisões mais difíceis porque foram 20 anos de carreira. Mas, senti que já era tempo e estava preparado. Tinha tudo pronto para saltar para outra carreira.” Como momentos de destaque, pelas melhores e piores razões, Beckham escolheu, positivamente, o campeonato da Inglaterra e, negativamente, uma lesão e o cartão vermelho no Mundial de 1998. Desafiado a distinguir a pessoa de maior influência na sua vida, à parte da família, o jogador indicou o ex-treinador do Manchester United, Sir Alex Ferguson.

SANDS CHINA CHAMA BECKHAM PARA PARCEIRO

De corpo e alma

INTENÇÃO DE TER CLUBE DE FUTEBOL EM MIAMIO antigo internacional inglês quer erguer o seu próprio clube de futebol na liga americana - a Major League Soccer. O acordo ainda não foi assinado mas o entusiasmo de Bekcham mostra que já há para lá de uma intenção de posse. “Nada foi confirmado e é algo com o qual estou muito entusiasmado. Quando me juntei ao [Los Angeles] Galaxy, há seis anos, era não apenas um jogador mas um embaixador do jogo e da liga. E é algo que me deixa muito orgulhoso, o facto de poder elevar um desporto naquela parte do mundo. Acho que consegui. (...) Quero continuar a ter sucesso na América e ter a posse de uma equipa é algo com o qual estou muito entusiasmado. Miami é um lugar que realmente me arrebata e estão preparados para receber uma equipa de futebol”, revelou ex-jogador.

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C I N E M ACineteatro

hoje macau segunda-feira 25.11.2013 FUTILIDADES 17

TEMPO POUCO NUBLADO MIN 16 MAX 21 HUM 50-85% • EURO 10.8 BAHT 0.2 YUAN 1.3

João Corvo

Os números mentem sempre.

fonte da inveja

SALA 1ENDER’S GAME [B]Um filme de: Gavin HoodCom: Hailee Steinfeld, Ben Kingsley, Viola Davis, Abigail Breslin14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SALA 2 LIBRARY WARS [C](FALADO EM JAPONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Shinsuke SatoCom: Junichi Okada, Fukushi Sota, Eikura Nana14.30, 19.15

SALA 3INSIDIOUS CHAPTER 2 [C]Um filme de: Kees van OostrumCom: Patrick Wilson, Rose Byrne, Barbara Hershey, Lin Shaye16.45, 21.30

INDIA, COM NATURALIDADE

É assim que a britânica de 22 anos se costuma apresentar nas diversas revistas masculinas do Reino Unido. Tudo nela é natural e India Reynolds tem prazer em mostrar isso. Fanática por comer dumplings, a modelo do glamour já recebeu diversas menções pelo corpo fresco que apresenta. É, juntamente com Rosie Jones, uma das modelos mais badaladas das terras de Sua Majestade. Dúvidas?

HOJE NA CHÁVENA

Amieiro-negro

Paula BichoNaturopata e Fitoterapeuta • [email protected]

Criado “detector de gays” para impedir entrada no Kuwait• Segundo a Rádio 970 AM, do Grupo Nacional de Comuni-cações no Kuwait, foi criada um teste para “detectar” gays quando estas pessoas entrarem no país. As autoridades aduaneiras do Kuwait e as suas agências de segurança dizem que passam a dispor deste teste que detecta se determinado cidadão é ou não homossexual. Ou seja, se para kuwaitianos determinada pessoa é homossexual é deportado imediatamente. O teste foi desenvolvido por um grupo de médicos, a fim de impedir a entrada de gays no seu país. De acordo com membros da Assembleia Nacional - o parlamento árabe -, ser gay é “contrário à natureza humana e prejudica e destrói a humanidade”. Os princípios operacionais do “detector de gays” são muito básicos, como dizem os seus criadores: se o sujeito está fica entusiasmado com a imagem de um homem, então, não há dúvida de que é gay e, por isso, a máquina fará disparar um alarme sonoro e o visitante terá que deixar o país imediatamente.

Fotos para “fazer inveja” estão a virar moda nas redes sociais• A palavra do ano é “selfie” (autorretrato na web), de acordo com os editores dos dicionários Oxford. “Selfie” bateu “twerking” (termo derivado dos clubes de striptease nos EUA, onde a dançarina move o traseiro de forma circular, para cima e para baixo e para os lados) e “binge-watch” (acto de passar muito tempo diante da televisão). O ano foi mesmo dos auto-retratos, que viraram febre mundial nas redes sociais da web, atraindo pessoas comuns e celebridades. Mas se “Selfie” acabou de ser eleita a palavra do ano pelo dicionário Oxford, os seus dias de reinado podem terminar antes mesmo do fim de 2013. De acordo com uma nova pesquisa no Reino Unido, “selfie” está a perder cada vez mais espaço para uma nova tendência na web: o “braggie“. Explicando: trata-se de postar uma foto nas redes sociais na Internet com o objectivo de provocar inveja nos amigos ou nos seguidores.

Nome botânico: Frangula alnus Mill. = Rhamnus frangula L.Família: Rhamnaceae

Arbusto que pode atingir os 4 ou 5 metros de altura, o Amieiro-negro cresce na Europa e nordeste dos Estados Unidos sendo espontâneo em Portugal. Habita nas margens dos cursos de água em bosques e lugares húmidos. Os seus ramos frágeis deram origem ao nome botânico frangula (do latim frangere, partir). Com pequenas flores brancas e aromáticas, apre-senta frutos (drupas) de cor verde, vermelha ou negra, de acordo com o grau de maturação.Desconhecido ou menosprezado como planta medicinal na Antiguidade, o Amieiro-negro é mencionado pela primeira vez no início do século XIV por Pietro de Crescenzi, um conceituado agrónomo italiano. No século XVI, Andrea Mattioli codifica o seu uso e refere que a casca do Amieiro-negro é um purgante muito suave, que limpa admiravelmente o fígado. (...) Porém só deve ser empregada seca; verde produz vómitos. Atualmente, o Amieiro-negro figura nas farma-copeias de diversos países, sendo igualmente utilizado em fitoterapia. São usadas as cascas envelhecidas do tronco e ramos.

COMPOSIÇÃOCompostos antraquinónicos; amido, matérias gordas, flavonoides, fitos-teróis, saponósidos, sais minerais, taninos e mucilagem. Sabor amargo e adstringente.A casca recente, tóxica e com efeito vomitivo, deve ser envelhecida du-rante pelo menos um ano, para que os compostos antraquinónicos se transformem, perdendo a toxicidade e adquirindo apreciado valor terapêu-tico. Em alternativa, a casca recente pode ser submetida a uma secagem a 100ºC durante pelo menos uma hora.

AÇÃO TERAPÊUTICACom uma ação mais suave do que a Cáscara-sagrada (Frangula purshiana) ou o Sene (Cassia an-gustifolia), mas igualmente eficaz, o Amieiro-negro é uma planta com propriedades laxativas. A estimula-ção do peristaltismo intestinal ocorre cerca de 8 a 12 horas após a sua ingestão. Esta planta restabelece ainda a regularidade dos movimentos intestinais, não criando habituação

nem necessidade de aumentar a dose para que o seu efeito se mantenha constante ao longo do tempo. Por estes motivos, é uma boa opção para combater não só a obstipação ocasional, mas também a crónica, devida a preguiça intestinal (falta de tónus na musculatura do cólon). Neste último caso, a sua utilização, face a outro tipo de laxantes, oferece algumas vantagens: a sua ação suave não se faz acompanhar de cólicas nem de evacuações líquidas, não produz perda de potássio ou de outros sais minerais, nem provoca colite secundária. Além disso, aumenta a produção de bílis no fígado e favorece o seu esvaziamento da vesícula biliar para o duodeno, o que beneficia o funcionamento intestinal. Em doses elevadas, é purgante.O Amieiro-negro é igualmente indica-do como adjuvante no tratamento de parasitoses intestinais e da obesidade. Sempre que exista necessidade de tomar um laxante é conveniente seguir uma dieta rica em fibras (vegetais, frutas e cereais integrais) e beber bastante água.

COMO TOMARUSO INTERNO• Cozimento das cascas: 1 colher de chá por chávena de água, 2 minutos de fervura. Deixar em infusão até arrefecer. Tomar 1 ou 2 chávenas à noite, ao deitar. A dose mínima deve ser ajustada em função das necessidades individuais.• Em gotas (tintura), xarope, compri-midos ou cápsulas; integra diversas fórmulas para a drenagem intestinal.

PRECAUÇÕESApesar da sua boa tolerabilidade, o uso de laxantes deve ser feito com a dose mínima e por curto espaço de tempo, e sempre acompanhado das medidas dietéticas adequadas. Caso contrário, as vantagens atrás enunciadas deixam de se manifestar. O Amieiro-negro está contraindicado em caso de gravidez, amamentação, durante o período menstrual ou hemorroidas sangrantes, na doença inflamatória intestinal, oclusão intestinal, dores no estômago ou abdómen. Não deve ser tomado em concomitância com substâncias alcalinizantes (bicarbo-nato de sódio, sais de frutos, leite de magnésia) por reduzir o seu efeito. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.

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18 OPINIÃO hoje macau segunda-feira 25.11.2013

cartoonpor Stephff

N A semana passada falámos dos exames de admissão para a universidade na Coreia do Sul. As pessoas levam estes exames muito a sério. O metropolitano passou a funcionar entre 7h e as 8h. As empresas abriram uma hora depois do horário normal. A polícia levou

alguns estudantes para os locais de exame. Os aviões não tinham ordem de levantar voo ou de aterrar durante o período em que o exame estava a ser feito. Os exercícios militares sofreram alterações. Foi proibida a circulação de veículos motorizados no espaço de 200 metros ao redor da univer-sidade. O mercado de acções operou até às 13h. A grande maioria dos familiares dos estudantes foi até aos templos rezar. A estrela sul-coreana Hye-Kyung escreveu a mensagem “boa sorte para os exames” numa folha que colocou no peito, dando a sensação de estar nua da cintura para cima.

Hoje vamos falar de um método de estudo mais relaxado: o ensino no domicílio. As

macau v is to de hong kongDAVID CHAN*[email protected] • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog

Ensino obrigatório e ensino domiciliário (II)Tal como Macau, Hong Kong também adoptou o ensino obrigatório. O ensino em casa é permitido em circunstância especiais. Existem pelo menos três casos conhecidos de ensino domiciliário

*Professor Associadono Instituto Politécnico de Macau

características do ensino domiciliário são as seguintes:

• Não existe uma progressão específica do processo de ensino nem materiais curriculares• O método de ensino pode ser adaptado a qualquer aluno • Os estudantes de um mesmo grupo podem ter idades diferentes

No dia 7 de Novembro a televisão de

Hong Kong, TVB, disse que na China havia cerca de 10 mil jovens a estudar em casa. Os pais destes jovens defendem que face à política do filho único, é mais fácil ensinar as crianças em casa.

Uma reportagem, “Ensino domiciliário na China 2013”, publicada pelo “Instituto de Educação século XXI” indicou cinco razões para o ensino domiciliário:

• Lógicas aprendizagem diferentes entre o ensino tradicional na escola e o ensino domiciliário • Os progressos na escola são inferiores• As escolas não respeitam os jovens • Os jovens não gostam de ir à escola • Problemas de religião

A reportagem indica ainda que a maioria

dos alunos que estudam em casa tem entre os 4 e 10 anos. 62,01% das crianças que estudam em casa já foram à escola e 37,99% nunca recebeu a educação tradicional das escolas.

A distribuição de género no ensino do-miciliário é de 62,3% de rapazes e 37,99%

raparigas. 75,42% dos pais têm formação universitária. A distribuição das tarefas de aprendizagem em casa é a seguinte:

Um académico disse que a lei na China requer que as crianças recebam educação, mas não clarifica se esta deve ser dada em casa ou na escola. Logo, o ensino domici-liário não vai contra a lei.

Tal como Macau, Hong Kong também adoptou o ensino obrigatório. O ensino em casa é permitido em circunstância especiais. Existem pelo menos três casos conhecidos de ensino domiciliário. O caso de Zhang é interessante. Em 2005, a família Zhang de-cidiu viajar pelo mundo no barco. Durante a viagem de cinco anos a família foi adquirindo materiais de estudo para ensinar as crianças. Nalgumas alturas as crianças frequentaram a escola. Quando regressaram a Hong Kong, as crianças foram para a escola, mas não mostraram interesse em estudar. Os pais acabaram por requerer o ensino domiciliário ao departamento educacional. O pedido foi aceite depois de ter sido feita uma entrevista.

Os argumentos a favor do ensino em casa no caso de Zhang são contrários a de outros caso que ocorreram na China. Existem contradições entre os dois tipos de ensino. O ensino na escola assegura que os professores têm habilitações académicas.

Está delineado um método de ensino progressivo e os resultados dos alunos podem ser avaliados por um método específico.

Os alunos que saem deste sistema têm assegurado um controlo de qualidade aca-démica. No entanto, já é mais difícil que o ensino domiciliário preencha os três requi-sitos acima mencionados.

O exame de admissão para a universidade é outro dos problemas do ensino em casa. Tanto na China como em Hong Kong existe exame de admissão para a universidade. Por isso é que as crianças estudam em casa ao nível da primária e não do secundário.

Nestas duas semanas podemos concluir que o ensino tradicional na escola ainda é o método mais importante de aprendizagem. Actualmente em Macau, o ensino obrigatório é de 15 anos. Face às experiências do exterior cabe-nos pensar se devemos, ou não, adoptar o ensino em casa. Se o aceitarmos como uma excepção, as razões têm de estar especificadas na lei. Outra questão é se devemos unificar o exame de admissão para a universidade em Macau. Se o fizermos temos de lidar com muito cuidado com a pressão exercida sobre os estudantes e os pais. A situação da Coreia do Sul é uma boa referência para não pressio-namos muito a população. Devíamos, de uma vez por todas, implementar uma lei de política educativa.

Ensinados pelo pai 24.68%Ensinados pela mãe 45.81%Ensinados por ambos 24.02%

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19 opinião

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau segunda-feira 25.11.2013

E M Macau, o consenso é merca-doria rara. Numa cidade com quase seiscentas mil almas e com um futuro insaciável pela frente, existem porven-tura outras tantas formas de interpretar os dilemas, as necessidades e as maleitas com que se acomete a Região Administrativa Especial e

nada há de errado com uma tal diversidade.Onde a questão se complica é na enfer-

miça natureza de uma tão grande variedade de pontos de vista. O pressuposto de que o consenso é espécie ameaçada na margem direita do ramal do Rio das Pérolas é tanto mais notório quanto o facto de Macau pa-decer, mais por defeito do que por feitio, de uma esquizofrenia muito própria. Nunca um nome de baptismo terá sido tão bem apregoado como a onomástica designação com que D. João IV engalanou o burgo em 1654. “Cidade do Nome de Deus”, Macau raramente foi una, sempre se afigurou multi--facetada e hoje, possivelmente mais do que nunca, subsiste sob a forma de uma Trindade pouco santíssima em que as expectativas da população chinesa ombreiam umas vezes e esbarram por outras com os paradigmas mo-rais e civilizacionais de que os portugueses – singelos e rectos representantes dessa outra divindade impoluta que é o “Ocidente” - se julgam paladinos. Não bastasse a fricção natural entre o conservadorismo e a passi-vidade do pai e as estouvadas aspirações do filho, há um diletantismo latente que paira sobre Macau com os trejeitos de uma opilada pomba do Espírito Santo: terra de oportu-nidades, a RAEM é também uma terra de oportunismos e nenhum é mais sintomático que o pendor oportuno do silêncio. Os que cá desencantaram a árvore das patacas raramen-te cospem no prato onde comem, sejam eles magnatas, iconoclastas, simples domésticas ou estivadores. Menos frequentemente ainda se deixam enlear pelo incómodo fervor com que outros permitiram que Macau se lhes embrenhasse sub-repticiamente na alma.

Entre os complacentes, os inconfor-mados e os indiferentes, há os que não dissimulam a consciência por detrás de uma névoa de aceitação mas também digerem com cepticismo a validade de respostas universais. Incomoda-os a flexibilidade dos conceitos, a descaracterização da lin-guagem, os vocábulos que são ao mesmo tempo vazios e latos de mais. As muralhas que circundavam a cidade cristã não ruíram com a voragem dos anos e alçam-se hoje mais do que nunca pela força dissemina-dora das palavras. No alicerce de todos os equívocos está o carácter polissémico dessa galáxia cheia de mundos que é a noção do segundo sistema. Nos dias áu-reos das negociações que desembocaram com leviana tranquilidade na Declaração Conjunta ninguém se importunou, ao que parece, para definir com rigor as garantias e as possibilidades com que se viria a

expediente c ín icoMARCO CARVALHO

Para o Governo, o segundo sistema está vivo e recomenda-se e a prova que assim é radica na frenética escalada dos preços das rendas. O Executivo nunca o formalizou com palavras, mas a vigorosa saúde da faceta capitalista de Macau é prova mais que cabal de que o segundo sistema funciona e, enquanto assim for, tudo o mais são minudências

Circo de feras

urdir a argamassa de uma China múltipla. Lisboa depositou secretamente esperança nos princípios da democratização, Pequim acenou com a cartada do capitalismo e o no imenso campo aberto que separa ambas as visões conceptuais germinaram indagações, alternativas de trajecto e um sargaçal de incertezas. Quase catorze anos após a criação da Região Administrativa Especial de Macau o luar dos equívocos é ainda o único rasgo de luz que nos ilumi-na. Ninguém em seu perfeito juízo poderá afirmar que os preceitos do segundo sistema descambaram, ainda que a liberalização do sistema político e a democratização das regras do mercado tenham progredido com um desfasamento tal que a própria noção de segundo sistema se tornou por estes

dias paradoxal. Para o Governo, o segundo sistema está vivo e recomenda-se e a prova que assim é radica na frenética escalada dos preços das rendas. O Executivo nunca o formalizou com palavras, mas a vigorosa saúde da faceta capitalista de Macau é prova mais que cabal de que o segundo sistema funciona e, enquanto assim for, tudo o mais são minudências.

Numa cidade onde o consenso é merca-doria rara e os equívocos despontam com a voragem das urtigas, o consenso que a de-terminada altura tomou conta das bancadas do hemiciclo do território a propósito da transmissão televisiva das sessões plenárias da Assembleia Legislativa não pode causar senão estranheza. A câmara parlamentar da Região Administrativa Especial e os ele-

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mentos que a compõem recusam-se a chegar a acordo sobre algo tão aviltante como a natureza de uma agressão perpetrada dentro de portas e convivem sem reservas com uma noção servil e medieval do casamento, mas não têm pejo aparente em transformar uma necessidade acessória e trivial numa prio-ridade premente. Uma única possibilidade explica tão sórdido consenso: os nossos de-putados, ou pelo menos uma boa parte deles, acreditam visceralmente que o trabalho que fazem é admiravelmente impoluto e tem o dom de mudar o mundo. Não obstante mais de metade do hemiciclo não ter sido legitimado pelo voto popular. Não obstante a Assembleia ser o mais das vezes anódina e pouco crítica. Não obstante nunca em treze anos se ter alça-do como uma voz reivindicativa e ter como característica basilar um certo traço tétrico, o de se encenar ali política como se encena uma farsa. A transmissão em directo dos plenários do hemiciclo – por muito nobre e sensata que a ideia seja – pode ter em Macau efeitos perniciosos por legitimar o que é de um certo modo uma forma ilegítima de se fazer política. Uma Assembleia onde nada se decide (que já não tenha sido decidido) é um circo e ao Governo convém atirar os telespectadores às feras.

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hoje macau segunda-feira 25.11.2013

Ambrose So diz que Stanley Ho “está bem”A debilitada saúde do magnata Stanley Ho foi tema de conversa nos últimos dias, com diversos rumores, mas o presidente do Conselho de Administração da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Ambrose So, já saiu a terreiro e garantiu que Stanley Ho está bem de saúde.. “Não sei de onde vieram esses rumores. Ainda ontem falei com ele e ele está bem. Mas como sabem um homem com uma idade avançada não pode ter uma saúde extra. Mas ele está bem, em boas condições e consegue falar. Visito-o algumas vezes e está bem.”

MARCO [email protected]

A Casa do Sport Lisboa e Benfica de Macau rematou em glória a

temporada futebolística, ao conquistar ao início da noite de ontem o Campeonato de Futebol de Sete da Segunda Divisão, mercê de uma inequívoca vitória por três bolas a zero frente ao Weng Kei no encontro decisivo da competição.

Depois de a meio da semana ter garantido a ascensão ao prin-cipal campeonato de “Bolinha” da RAEM, as águias do território junta-ram o útil ao agra-dável e asseguraram a conquista de mais um troféu, num encontro em que o domínio encarnado nunca esteve propriamente ameaçado. Com um futebol fluído e uma boa cobertura do terreno de jogo, a formação orientada por Fernando Silva entrou melhor na partida, soube fazer circular a bola e foi somando oportu-nidades de forma inequívoca. Fabrício Lima e Iuri Capelo foram os primeiros a colocar à prova o último reduto da formação adversário, forçando o guarda-redes do Weng Kei a mostrar valor com uma série de defesas atentas.

Os adversários da formação encarnada só aos doze minutos se conseguiram libertar do es-partilho montado pela defensiva do Benfica e procuraram surpre-ender Bruno Capitulé com um remate arqueado, mas o guardião das águias do território respon-deu com um toque enérgico e afastou para canto a primeira grande iniciativa do Weng Kei. O sete de matriz chinesa voltou a criar uma oportunidade flagrante a três minutos do fim da primeira parte na sequência de uma de-satenção defensiva do grupo de trabalho orientado por Fernando Silva. Ao Benfica valeu sobre-tudo o pouco acerto ofensivo do camisola onze do Weng Kei, que rematou por cima da barra da

BOLINHA ÁGUIAS VENCEM WENG KEI POR 3-0

Benfica campeãobaliza encarnada quando tinha tudo para fazer o golo.

A derradeira oportunidade da primeira parte pertenceu ao Macau e Benfica, com Iuri Ca-pelo rematar à malha lateral da baliza adversária, no que viria a ser um bom prenúncio para a etapa complementar. O sete en-carnado voltou a entrar melhor na segunda parte e inaugura o placard ao fim de apenas quatro minutos, com o brasileiro Mar-

quinhos a empurrar para o fundo das redes vazias

da baliza do Weng Kei na recarga a um primeiro remate da linha avançada do Benfica. O Weng Kei ainda tentou

responder na mes-ma moeda, mas não

teve acerto para tal e acabaram por ser as águias

quem capitalizaram de novo. Aos 34 minutos, Iuri Capelo coroou uma grande exibição com um golo de belo efeito, apontado na sequência de um remate desferido de fora da área adversária.

A vencer por duas bolas a zero, o Benfica limitou-se a gerir a vantagem de que dispunha no marcador e acabou por marcar o terceiro e último tento da noite a cinco minutos dos cinquenta, numa iniciativa concluída por Cuco. Para Duarte Alves, Di-rector Desportivo do Benfica, a vitória no encontro decisivo do Campeonato de Futebol de Sete da Segunda Divisão ajudou a encerrar em glória uma época em cheio. O jovem dirigente assegura que o Macau e Benfica vai tentar fazer mais e melhor na próxima época: “Este ano de 2013 foi um ano muito bem conseguido para o Benfica. Me-lhorámos a nossa prestação no futebol de onze, conquistámos a Taça e agora encerrámos em alta a temporada com o triunfo na “Bolinha” e a subida de divisão. São conquistas que não caíram do céu e que são fruto do trabalho que temos vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos. O nosso objectivo é fazer sempre melhor”, assegura Alves.