Histórias de Vila Anglo Brasileira - Contadas por alguns de seus mais antigos moradores.

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Histórias de Vila Anglo Brasileira Contadas por alguns de seus mais antigos moradores

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Histórias de Vila Anglo-Brasileira – Contadas por alguns de seus mais antigos moradores, é um trabalho pioneiro na busca do resgate deste importante bairro da capital paulista, que forneceu “mãos e pés de obra” para o engrandecimento da cidade, seja através do trabalho, ou mesmo para o desenvolvimento esportivo, através da formação de variados e numerosos times de futebol...

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Histórias de Vila Anglo Brasileira

Contadas por alguns de seus mais antigos moradores

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São Paulo 2012

Leandro Antônio Gatti

Histórias de Vila Anglo Brasileira

Contadas por alguns de seus mais antigos moradores

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Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa e Projeto GráficoAline Benitez

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________________________________________________________________G235h Gatti, Leandro Antônio Histórias de vila Anglo Brasileira : contadas por alguns de seus mais antigos moradores / Leandro Antônio Gatti. - São Paulo : Baraúna, 2012. ISBN 978-85-7923-629-7 1. Vila Anglo Brasileira - São Paulo (Estado) - História. 2. Cidades e vilas - São Paulo (Estado) - História. I. Título. 12-7175. CDD: 981.61 CDU: 94(815.61)

03.10.12 17.10.12 039576 ________________________________________________________________

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Sumário

Introdução ..................................................................7

“Mãos e Pés de Obra” ................................................10

Sr. Walter - entrevista realizada em 19 de janeiro de 2010.......................................................................... 13

Miguel Lopes - entrevista realizada em 26/07/2010 ...43

Baltazar - entrevista realizada em 14/01/2011 ............89

Considerações Finais ...............................................132

Agradecimentos .......................................................134

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Introdução

“Vila Anglo Brasileira? Onde fica? É em São Paulo?”Quantas e quantas vezes os moradores deste bairro

não escutaram semelhantes perguntas em momentos em que tinham que dar referências residenciais?

Sem falar que só a partir do momento em que men-cionavam a proximidade com a Pompeia, é que a loca-lidade passava a soar como “algo conhecido” e familiar.

Contudo, este bairro cujas delimitações não são exatamente conhecidas, até mesmo por muitos de seus próprios habitantes, porém localizado imediatamente próximo da Avenida Pompeia, tem importante papel na história do desenvolvimento da região, talvez até em escalas muito maiores do que se possa imaginar. Basta citar, por exemplo, o fato de que fundadores da escola de samba Águia de Ouro (frequentemente associada à Pompeia), e que realmente impulsionaram os primeiros passos da mesma, são oriundos de Vila Anglo Brasileira, como veremos no decorrer dos depoimentos aqui trans-critos, e que constituem, em realidade, o conteúdo prin-cipal do trabalho aqui proposto.

Que fique claro a todos os que porventura virem a ler estas páginas, que não se trata aqui de uma história oficial de Vila Anglo Brasileira, e sim histórias contadas

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por alguns dos mais antigos moradores, ainda residentes na região e/ou proximidades, sobre o mesmo.

E, desta forma, o que o leitor encontrará nas pági-nas que se seguem são depoimentos coletados pelo autor do presente trabalho, transcritos na íntegra, acompanha-dos, sempre que possível, de reproduções fotográficas de cunho pessoal, que se relacionam com a memória do bairro sem comentários ou comparações, para dar a li-berdade para aqueles que desejarem futuramente a virem dar maiores contribuições a este “pontapé inicial na his-tória de Vila Anglo Brasileira” de acrescentar “um passo a mais” na reconstrução e preservação da memória do lo-cal, até porque documentos sobre o mesmo são escassos, e, muitas vezes, nem sequer mencionam o nome de Vila Anglo Brasileira!

Que nenhum habitante do bairro sinta-se “discrimi-nado” por não ter participado das entrevistas, ou por não ter sido mencionado, até porque coletar depoimentos de todos os moradores da região seria algo impraticável e tornaria este trabalho interminável, correndo-se também o risco de torná-lo demasiadamente repetitivo.

Assim sendo, foram priorizadas pessoas com mais de 50 anos de residência na localidade, que compartilha-ram curiosidades a respeito de inúmeros locais do bairro, como, por exemplo, a Igreja Nossa Senhora Aparecida de Vila Anglo Brasileira (mais conhecida como “Capelinha” pelos moradores), ou da Escola Estadual de Ensino Fun-damental e Médio Professor Mauro de Oliveira.

E, como encaminhamento do término desta intro-

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dução, detenho-me em um agradecimento especial ao meu pai, João Carlos Gatti, que muito incentivou-me para a realização deste trabalho, que só foi possível com a igual colaboração das pessoas que concederam seus de-poimentos, bem como cederam reproduções de fotos (a quem também expresso minha gratidão), tornando este “Histórias de Vila Anglo Brasileira” em rica referência para as futuras gerações de moradores do bairro.

Dedico também estas páginas à minha mãe, Sandra Maria Castro Gatti e minha irmã, Lizandra Cristina Gat-ti e a um grande amigo do bairro: o Sr. Orlando Bruno, figura muito querida dos moradores de Vila Anglo Bra-sileira, cuja “parada para um cumprimento” em sua casa, localizada na Rua Bica de Pedra, de frente para a “Mundo Novo” é obrigatória.

Leandro Antonio Gatti.

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“Mãos e Pés de Obra”

Um depoimento de João Carlos Gatti, morador de terceira geração no bairro de Vila Anglo Brasileira.

“As pessoas daqui foram, e ainda são mão de obra para os bairros vizinhos, como Sumaré, Vila Romana, Vila Pompeia, Água Branca, etc.

São trabalhadores de indústrias como: Matarazzo, Corneta, Vidraria Santa Marina entre tantas outras.

São trabalhadores domésticos, pintores, pedreiros, encanadores, ou mesmo cocheiros (condutores de carro-ças ou carroções), já que na Vila Anglo havia uma imensa área de extração de saibro, com o qual se promovia o levantamento das casas, não apenas da Vila Anglo, como também dos bairros vizinhos.

Enfoquei a profissão cocheiro, porque meu pai e meu tio herdaram a profissão e o carroção de meu avô, que extraíam saibro das barrancas de Vila Anglo.

Do que me foi contado, soube que do loteamento aqui feito por volta de 1910 e 1920, havia uma completa deficiência estrutural, já que não havia água encanada, entre tantos outros itens básicos, sendo que só por volta de 1968 houve progresso na iluminação, quando todas as lâmpadas dos postes das ruas da capital paulista passaram

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de incandescentes para vapor de mercúrio, e a rede de esgotos, só foi instalada aqui por volta de 1974.

A Vila Anglo, não só fornecia mão de obra, como também “pés de obra”, já que no bairro existiam três times de futebol, com primeiro e segundo quadros, que eram: o Rabo de Galo F.C; Floresta F.C e Peñarol F.C, que pro-moviam muitos festivais entre clubes das redondezas, e, para o lazer desse povo trabalhador, jogos do tipo: Negros x Brancos; Mulheres (homens vestidos) x Homens; Casa-dos x Solteiros (sendo esses realizados nos campos atrás das Indústrias Matarazzo, ou nos campos do Nacional A.C.).

Bailes, Festas Juninas com quadrilhas eram pro-movidas em suas sedes ou nos seus tablados, construí-dos nas margens dos córregos existentes nas décadas de 1940/1950, até meados da de 1960

Isto, sem esquecer-se de mencionar os que ainda con-tribuíam com “Mãos e Pés” para o Corinthians Pompeiano.

Havia uma família que sempre que podia, ligava para a Cervejaria Antártica, solicitando o Cinema Ambu-lante (um furgão com projetor), para a exibição de filmes na Praça do Rabo de Galo, hoje Praça Araçariguama.

Na década de 1940, quando algumas famílias tira-vam fotos no “Morro do Cruzeiro”, hoje Praça Dr. Pente-ado Médici, possibilitava, ainda que indiretamente, uma visão paisagística do bairro naquela época.

Nessa mesma época, na Rua Gurupá, havia um se-nhor, que todos os anos, nas festas juninas, atravessava um trecho de chão com brasas espalhadas, mostrando sua fé, o que atraía os moradores, além, é claro, das quermes-ses, que eram feitas ao redor da “Capelinha”, com bar-

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racas de pesca, comidas típicas, enquetes humorísticas, violeiros e cantores...

Eu mesmo, e um amigo, cantamos músicas da Jo-vem Guarda num dos palcos dessas quermesses levantan-do fundos para a construção da Nova Igreja Nossa Se-nhora Aparecida.

Meu pai, Orlando Gatti, estudou no Grupo Escolar de Vila Anglo Brasileira, entre os anos de 1937 e 1941, onde ob-teve o diploma do curso primário (hoje, Ensino Fundamental I), num prédio construído pela Família Ferreirinha, em 1935, com administração do governo do Estado, tendo funcionado até 1955, quando foi construído na Rua Daniel Cardoso, o novo Grupo Escolar Clóvis Bevilácqua, que também abrigou o Colégio Mauro de Oliveira, no “Curso Noturno”.

O prédio do Clóvis, hoje, abriga uma creche da pre-feitura de São Paulo.

Com a população crescendo, na década de 1970, o Estado construiu entre as ruas: Rifaina e Pedro Soares de Almeida, o Colégio Mauro de Oliveira, mesma época em que voltou o Faísca F.C., e foi fundada a Escola de Samba Águia de Ouro.

Estas são as “mãos e os pés” de obra, dentre os quais também me incluo, e que destaco como lembranças deste bairro que tanto amo, de um povo trabalhador, amigável, que mantém aquilo que a maioria das famílias de nos-sos bairros da capital paulista perderam: o maravilhoso hábito dos moradores de se cumprimentarem, trocarem experiências, além de conversarem nos portões, sem falar, ainda, de crianças que brincam nas ruas, com suas pipas, jogos de bola, bicicletas, etc., por falta de área de lazer.”

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Sr. Walter

Entrevista realizada em 19 de janeiro de 2010

Legenda = L = Leandro; W = Walter

L — Seu nome completo, por gentileza?W — Walter Story. S — T — O — R — Y.

L — Qual a idade do senhor?W — 66.

L — Há quanto tempo está morando no bairro?W — 66.

L — Senhor Walter, conta aqui pra gente, então, sobre histórias que marcaram o senhor aqui, no bairro de Vila Anglo Brasileira, que podem ser desde episódios de sua infância, grupo escolar onde o senhor estudou, histórias que os seu pais contaram para o senhor; enfim, aquilo que o senhor puder espontaneamente contar...

W — Veja bem! Inicialmente, o que os mais velhos

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passaram, que eu ouvi, que aqui a Vila Anglo Brasileira, aqui onde nós estamos, aqui na “Barroca”, como é cha-mado, era uma olaria. Então é esse o motivo do bairro ser assim esses morros, como são!

W — Nós tínhamos, aqui, o grupo escolar Clóvis Bevilácqua, aqui na Rua Mundo Novo! Hoje, não existe mais! Este grupo, ele também passou a ser, também o Hospital Anglo Brasileiro, e depois o Hospital São Mar-cos. Hospital e Maternidade São Marcos.

W — E mais, nós tínhamos aqui clubes de futebol. Nós tínhamos sedes, nós tínhamos os bailes, aos sábados. Tínhamos as matinês, aos domingos...

W — Esses clubes foram: Rabo de Galo, Mundo Novo, Faísca de Ouro, São Lourenço, Corinthians Pom-peiano, Glorioso da Pompeia (e esse foi um clube que teve uma duração de aproximadamente seis anos, que era no bar do “Seu” Mário na rua via 15). Nós tivemos mais: o Maracanã, tivemos o Acadêmicos da Pompeia, tivemos o Floresta. Nós tivemos, também, o Caveira de Ouro. Tivemos o Ás de Ouro, que era na Rua Miranda de Aze-vedo. (...) Tivemos o Santos da Vila. Tivemos o União Paulista. Tivemos, também, o Galo de Ouro. São mais, ou menos, os clubes que me passam, assim, por enquan-to... São esses...

L — Algum imóvel, aqui no bairro, que tenha servido de sede para algum desses times, que o senhor se lembre?

W — Sim! O bar, aqui, onde era o bar do “Seu” Alfredo, que hoje, eu sou proprietário dele, e, aonde era o bar do “Seu” Alfredo (...), era onde tinha a sede do Mun-

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do Novo! Inclusive, o campo de futebol do Mundo Novo era onde hoje é o escadão que sobe pra ir pra Rifaina... O campo de futebol que tinha do Mundo Novo que era aqui no fim da rua, onde tem o escadão que sobe, que vai sair na Rua Rifaina! Então, o pessoal se trocava aqui na sede, e ia pra lá!

W — Tínhamos mais a sede do Rabo de Galo, que tinha os bailes! O São Lourenço, também tinha os bailes! Corinthians Pompeiano, também tinha! São esses os clu-bes que faziam... inclusive, o Corinthians Pompeiano fa-zia anualmente as festas dele, e também as festas juninas, que era feito na Rua Guiará!

L — A respeito aqui do próprio bairro, onde nós te-mos esse “Morro do Cruzeiro”.... O que o senhor poderia falar a respeito desse morro?

W — Bom, primeiramente, o que eu posso dizer a respeito do Morro do Cruzeiro, é que eu nasci nele. No Morro do Cruzeiro! E do Cruzeirão, uma lenda que nós temos aqui do bairro, é que nos anos 50, havia uma cruz de madeira grande, e quem foi que colocou essas cruzes de madeira grande, lá — (...) no Cruzeiro, foram os mis-sionários! O ano, infelizmente eu não posso falar, porque não é do meu tempo, né?

L — A respeito de muitas casas, aqui, sempre ouvi dizer, que foram construídas com o saibro deste morro. Isto é verdade, senhor Walter?

W — Perfeitamente! Eram tirados, como eu disse, anteriormente! Aqui era olaria, e o pessoal usava muito o