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223 HISTÓRIA LOCAL: DISCUTINDO CONCEITOS E PENSANDO NA PRÁTICA. O HISTÓRICO DAS PRODUÇÕES NO BRASIL SANDRA CRISTINA DONNER Doutoranda em História- UFRGS [email protected] 1. HISTÓRIA LOCAL, UMA OPERAÇÃO HISTORIOGRÁFICA? 1.1 HISTÓRICO, DEFINIÇÃO E CONCEITOS: As pesquisas em história local, municipal, genealógica são uma prática antiga no Ocidente. Iniciaram com a história das famílias, dos feudos, passando para as províncias, paróquias, condados. É possível encontrar monografias e livros sobre praticamente todos os lugares da Europa e também na América. Sua temática varia de acordo com a região: na Noruega, os livros das famílias e das fazendas fazem parte da História Local 1 juntamente com os livros das comunidades; na Inglaterra os estudos de genealogia ocupam um importante espaço, nos países do Leste Europeu, após o fim do Comunismo, os livros de história local tem sido um elemento de coesão social. Em alguns países europeus existem associações que promovem a História Local, em outros, as pesquisas ocorrem de maneira independente. O alcance dos livros de história dos municípios, das regiões é significativo. Este material é utilizado nas escolas como um “manual”, é relembrado nas festas e datas comemorativas da região e é ali que muitos dos mitos de fundação da cidade e do povoado estão escritos. Os autores destes trabalhos podem ser historiadores amadores 2 ou profissionais, mas, em geral, são pessoas vinculadas com comunidade pesquisada. Pelo seu apelo junto à comunidade, este material torna-se um espaço para formação de identidades e memórias coletivas. A História Local acadêmica, devedora dos Annales e das novas correntes historiográficas do século XX contribui ao escapar de ser uma mera comprovação da 1 Quando utilizamos História Local, estamos nos referindo a um gênero historiográfico, com temática, público alvo e “regras” próprias, já, história local seria a produção historiográfica com recorte local. 2 A definição de historiadores “amadores” será apresentada ao longo deste artigo.

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História LocaL: discutindo conceitos e pensando na prática. o Histórico das produções no BrasiL

Sandra CriStina donner

Doutoranda em História- [email protected]

1. História LocaL, uma operação Historiográfica?

1.1 Histórico, definição e conceitos:

As pesquisas em história local, municipal, genealógica são uma prática antiga no Ocidente. Iniciaram com a história das famílias, dos feudos, passando para as províncias, paróquias, condados. É possível encontrar monografias e livros sobre praticamente todos os lugares da Europa e também na América. Sua temática varia de acordo com a região: na Noruega, os livros das famílias e das fazendas fazem parte da História Local1 juntamente com os livros das comunidades; na Inglaterra os estudos de genealogia ocupam um importante espaço, nos países do Leste Europeu, após o fim do Comunismo, os livros de história local tem sido um elemento de coesão social. Em alguns países europeus existem associações que promovem a História Local, em outros, as pesquisas ocorrem de maneira independente. O alcance dos livros de história dos municípios, das regiões é significativo. Este material é utilizado nas escolas como um “manual”, é relembrado nas festas e datas comemorativas da região e é ali que muitos dos mitos de fundação da cidade e do povoado estão escritos. Os autores destes trabalhos podem ser historiadores amadores2 ou profissionais, mas, em geral, são pessoas vinculadas com comunidade pesquisada. Pelo seu apelo junto à comunidade, este material torna-se um espaço para formação de identidades e memórias coletivas. A História Local acadêmica, devedora dos Annales e das novas correntes historiográficas do século XX contribui ao escapar de ser uma mera comprovação da

1 Quando utilizamos História Local, estamos nos referindo a um gênero historiográfico, com temática, público alvo e “regras” próprias, já, história local seria a produção historiográfica com recorte local.2 A definição de historiadores “amadores” será apresentada ao longo deste artigo.

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História Geral e buscar, através dos estudos regionais, compreender como o processo se desenvolveu para aquelas pessoas, que soluções elas encontraram para seus problemas cotidianos. Todavia, o risco de buscar o local apenas pensando em fazer dele um campo de testes da história nacional deve ser evitado. A história da comunidade se legitima através da personalização dos laços sociais tecidos no seu solo: “Desde este punto de vista, uno de los argumentos más utilizados para legitimar la historia local es su capacidad de aleccionar contra la generalización desde la particularidad.”(CORTE E FERNANDES 2007, pg. 223)

Esse breve relato abre a possibilidade de pensarmos a produção histórica em seu contexto e sua relação com as demandas da sociedade que a produziu. Pois, segundo Certeau (1982, pg. 66).:

“Encarar a história como uma operação será tentar, de maneira necessariamente limitada, compreendê-la como a relação entre um lugar (um recrutamento, um meio, uma profissão, etc.), procedimentos de análise (uma disciplina) e a construção de um texto (uma literatura). É admitir que ela faz parte da ‘realidade’ da qual trata, e que essa realidade pode ser apropriada ‘enquanto atividade humana’, ‘enquanto prática’. Nesta perspectiva, gostaria de mostrar que a operação histórica se refere à combinação de um lugar social, de práticas ‘científicas’ e de escrita. Essa análise das premissas, das quais o discurso não fala, permitirá dar contornos precisos às leis silenciosas que organizam o espaço produzido como texto. A escrita histórica se constrói em função de uma instituição cuja organização parece inverter: com efeito, obedece regras próprias que exigem ser examinadas por elas mesmas.

A partir desta reflexão de Certeau, podemos observar que existem múltiplas práticas de história local, que nos levam a diversas escritas de história. A pesquisa e o texto produzido pelos amadores observa métodos e temáticas diferentes dos trabalhos acadêmicos. Estes costumam fazer uma história com recorte local no lugar de uma História Local. O que seria então essa “História Local”? A História Local é utilizada em muitos países e já se constitui em uma tradição, ainda sim, deve ser definida. Quando realizada por amadores, ela é um gênero de publicações que pretende dar conta das especificidades de uma cidade, região, etnia, não tem como público alvo a Academia, mas sim, os grupos aos quais se refere. Tomaremos o conceito clássico de Goubert (1992, pg. 70):

“Denominaremos história local aquela que diga respeito a uma ou poucas aldeias, a uma cidade pequena ou média (um grande porto ou uma capital estão além do âmbito local), ou a uma área geográfica que não seja maior do que a unidade provincial comum (como um county inglês, um contado italiano, uma Land alemã, uma bailiwick ou pays francês). Praticada há tempos atrás com cuidado, zelo, e até orgulho, a história local foi mais tarde desprezada — principalmente nos séculos XIX e primeira metade do XX — pelos partidários da história geral. A partir, porém, da metade desse século, a história local ressurgiu e adquiriu novo significado; na verdade, alguns chegam a afirmar que somente a história local pode ser autêntica e fundamentada.”

É a referência ao local, à terra onde o pesquisador vive e realiza sua pesquisas, focaliza seu interesse que caracterizaria esta prática histórica. O marcador seria a região,

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espaço físico. A operação histórica se refere à combinação de um lugar social com as práticas científicas:

“Toda pesquisa historiográfica é articulada a partir de um lugar de produção sócio-econômico, político e cultural. Implica um meio de elaboração circunscrito por determinações próprias: uma profissão liberal, um posto de estudo ou de ensino, uma categoria de letrados, etc. Encontra-se, portanto, submetida a opressões, ligada a privilégios, enraizada em uma particularidade. É em função desse lugar que se instauram os métodos, que se precisa uma topografia de interesses, que se organizam os dossiers e as indagações relativas aos documentos.” (CERTEAU, 1982, pg. 18)

Mattoso, ao referir-se a História Local portuguesa, utiliza o termo “monografia de história local”, este historiador valoriza o aspecto comunitário desta produção, pois o leitor primeiro desta obra são os moradores do local, o vocabulário deve estar adequado, o resultado da pesquisa leva, ou pretende levar, a repensar sua identidade, seu pertencimento:

“Volto aqui portanto, ao meu ponto de partida: a atitude vivencial do homem perante os círculos sociais a que pertence e em que se apóia para se realizar, cumprir os seus desejos ou se sentir feliz. A monografia local ou regional com o seu estudo da terra e o que ela dá, dos homens que nela viveram com a reconstituição dos poderes que nela se exercem e aí consomem ou distribuem os bens, com o traçar dos diversos círculos espaciais que a dividem ou envolvem, com a análise da cultura que aí recria e transfigura a realidade – tudo isso ajuda a tomar consciência da comunidade através do conhecimento da sua gênese e da sua evolução por um lado, e do conhecimento da sua identidade específica, por outro.(...) Em qualquer das hipóteses, o estudo do passado local ou regional pode ser extremamente gratificante para quem procure conhecer-se a si próprio e ao mundo a que pertence.”( MATTOSO, 1988, pg. 180)

1.2. crescimento no número de traBaLHos com a temática LocaL:

A busca pela História Local passou por um crescimento ao longo das últimas décadas. Muitas pessoas se interessam por esta história por razões nostálgicas, para elas, conhecer e pesquisar sua história traz um sentido de pertença, de lugar no mundo. Outro motivo tem sido o desenvolvimento do interesse turístico. Cada vez mais o turismo cultural e histórico tem ganhado mercado. Segundo Kate Tiller (1993, pg. 53): “Others have taken up local history as part of the commercialization of heritage, making it into some kind of theme park, some kind of pseudo-experience, some kind of compensation for modernization, some kind of escapism, and that is not what I think local history should be.” O crescimento da produção de história local, acadêmica ou amadora, pode ser analisada de várias formas. Originalmente, o estudo da história local ficava restrito aos nobres, aos letrados, atualmente, a proliferação de revistas, programas de televisão, publicações sobre História demonstra uma crescente valorização. Vários teóricos procuram compreender esse fenômeno. François Hartog apresenta a onda de patrimonialização e

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de busca pela “sua” história como uma necessidade de identidade. Exemplifica isso ao apontar que até mesmo nas cidades-dormitório e nas periferias se produzem lugares de patrimônio para construir uma identidade; escolhendo uma história inventada, reinventada e exumada (HARTOG, 2006,pg. 268). Essa necessidade de monumentalizar, ou patrimonializar o passado está ligada as políticas de memória empreendidas pela mídia, pelo poder público, e atingem em cheio a história local. Andreas Huyssen, em seu livro, “Seduzidos pela memória”, apresenta uma explicação para essa realidade:

“É fácil atribuir o dilema em que vivemos a maquinações da indústria da cultura e à proliferação da nova mídia. Algo mais deve estar em causa, algo que produz o desejo de privilegiar o passado e que nos faz responder tão favoravelmente aos mercados de memória: este algo, eu sugeriria, é uma lenta mas palpável transformação da temporalidade nas nossas vidas, provocada pela complexa interseção de mudança tecnológica, mídia de massa e novos padrões de consumo, trabalho e mobilidade global. Pode haver, de fato, boas razões para pensa que a força da rememoração tem igualmente uma dimensão mais benéfica e produtiva. No entanto, muito disso é o deslocamento de um medo do futuro nas nossas preocupações com a memória e, por mais dúbia que hoje nos pareça a afirmação de que somos capazes de aprender com a história, a cultura da memória preenche uma função importante nas transformações atuais da experiência temporal, no rastro do impacto da nova mídia na percepção e na sensibilidade humanas.” (HUYSSEN, 2000, pg. 25 e 26)

Sendo assim a produção da História Local, seja por amadores ou profissionais poderia estar cobrindo uma lacuna, participando desta necessidade de história/memória contemporânea. Pierre Nora ao refletir sobre os lugares de memória indica que a necessidade de celebrar datas, manter aniversários, pronunciar elogios fúnebres surge onde a memória já não é mais espontânea (NORA, 1993, pg. 13). Portanto, os próprios livros de História Local poderiam tornar-se lugares de memória, dependendo do uso e da apropriação que a comunidade tivesse com material, já que, segundo Nora os “lugares de memória” podem ser identificados:

“São lugares, com efeito nos três sentidos da palavra material, simbólico e funcional, simultaneamente, somente em graus diversos. Mesmo um lugar de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é lugar de memória se a imaginação o reveste de uma aura simbólica. Mesmo um lugar puramente funcional, como um manual de aula, um testamento, uma associação de antigos combatentes, só entra na categoria se for objeto de um ritual. Mesmo um minuto de silêncio, que parece o exemplo extremo de uma significação simbólica, é, ao mesmo tempo o recorte material de uma unidade temporal e serve, periodicamente, para uma chamada concentrada da lembrança. Os três coexistem sempre.” (NORA, 1993, pg. 21, 22)

Outra faceta da produção de história de recorte local ou de História Local é sua conexão com a “história de massa” ou de “grande circulação” indicada por Beatriz Sarlo. Ela apresenta a idéia de que, o método histórico supervisiona os modos de reconstrução do passado, já a história em modalidades não acadêmicas, por não ter esse compromisso,

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apresenta o passado não através de um sistema de hipóteses, mas de certezas. Segundo ela tem ocorrido uma mudança de foco na História:

“Mudaram os objetos da história- a acadêmica e a de grande circulação- embora nem sempre em sentidos idênticos. De um lado, a história social e cultural deslocou seu estudo para as margens das sociedades modernas, modificando a noção de sujeito e a hierarquia dos fatos, destacando os pormenores cotidianos articulados numa poética do telha e do concreto. Do outro, uma linha da história para o mercado já não se limita apenas à narração de uma gesta que os historiadores teriam ocultado ou ignorado, mas também adota um foco próximo dos atores e acredita descobrir uma verdade na reconstituição dos fatos.” (SARLO, 2007, pg.22)

1.3. amadores e profissionais

Uma das grandes questões que envolve a produção da História Local diz respeito aos seus autores, a maior parte deles são diletantes, amadores, intelectuais, pessoas letradas que se dispõem, por vários motivos, a coletar a história de sua comunidade:

“O historiador diletante é aquele que reconstitui o passado tornando-o história, sem formação específica. Mesmo sem essa formação acadêmica, seu papel é importante na medida em que trabalha com vocação política. Por sua vez, o historiador profissional é aquele que possui formação específica universitária, seja como professor ou pesquisador ou ainda em ambas; é aquele que torna seu trabalho a profissão básica e, como ativo participante de eventos, congressos, trabalha baseando-se em regras metodologicamente orientadas pela vocação científica.” (DIHEL, 2002, pg. 22)

Existem poucos estudos detalhando sua produção, formação, percepção da História, métodos. O mundo acadêmico, em geral, não considera suas obras como “História”, embora por conhecerem as fontes, possuírem contato com moradores ou com a prefeitura, sejam boas referências quando se desenvolve uma pesquisa de recorte local. Outra possibilidade é nomearmos estes pesquisadores como memorialistas. Pois eles não produziriam História, e sim memórias. A história como fruto de uma operação racional, e a memória como resultado da experiência, uma construção do passado pautada pelas necessidades do presente e elaborada a partir das experiências posteriores3. Via de regra, estes trabalhos não seguem métodos e procedimentos próprios do saber acadêmico. Certeau define o que seria um texto histórico:

“De forma mais geral, um texto ‘histórico’ (ou seja, uma nova interpretação, o exercício de métodos próprios, a elaboração de outras pertinências, um deslocamento na definição e no uso do documento, um modo de organização característico, etc.) enuncia uma operação que se situa no interior de um conjunto de práticas. Esse é o primeiro aspecto, essencial numa pesquisa científica. Um estudo particular será definido pela relação que estabelece com outros contemporâneos, com um ‘estado da questão’, com as problemáticas exploradas pelo grupo

3 Marieta de Moraes Ferreira. História, tempo presente e história oral. Pg. 321.

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e os pontos estratégicos constituídos por elas, com os postos avançados e às distâncias assim determinadas ou tornadas pertinentes em relação a uma pesquisa em curso. Cada resultado individual inscreve-se num conjunto cujos elementos dependem estreitamente uns dos outros, cuja combinação dinâmica forma, num momento dado, a historia.” (CERTEAU, 1988, pg. 23.)

Além da não explicitação dos métodos e princípios teóricos utilizados em seus trabalhos, estes pesquisadores de História Local não apresentam diálogos com produções anteriores sobre a mesma área, ou até mesmo traçando paralelos com municípios que tiveram uma trajetória similar. Suas obras são apresentadas como versões “definitivas”, como o “resgate necessário” da história esquecida de um determinado lugar. Por isso, seus trabalhos não são reconhecidos como válidos na academia, pois não atendem aos critérios para serem considerados obras de História. Segundo Certeau esses critérios seriam:

“Finalmente, o que é uma ‘obra de valor’ no âmbito da história? Aquela que é reconhecida como tal pelos pares. Aquela que pode ser situada num conjunto operatório. Aquela que representa um progresso em relação ao estatuto atual dos ‘objetos’ e dos métodos históricos, e que, ligada ao meio no qual é elaborada, torna possíveis, a partir daí, novas pesquisas. O livro ou artigo de história é ao mesmo tempo, um resultado e um sintoma do grupo que funciona como laboratório.” (CERTEAU, 1988, pg. 23)

Esta questão sobre o papel dos amadores e dos profissionais na escrita da História Local está em pauta no Brasil, e também na Inglaterra onde o campo da História Local possui uma longa tradição. Lá os amadores convivem com acadêmicos e, em muitos casos estabelecem redes de colaboração. Com a constituição das universidades a partir dos anos 70, a convivência entre esses dois grupos de pesquisadores passa por constantes tensões e a divisão entre o acadêmico e o não acadêmico se aprofundou, colocando a carreira dos amadores em decadência. Beckett, apresenta esta situação a partir de seu posto de editor do “The Local Historian - The Journal of the British Association for Local History” :

“The development of the profession of historian towards the end of the nineteenth century had significant implications for local historians. With the academy came a view that the history of the nation state, studied from the public records, was the only proper history. Whereas most history had been local history, even if it took the form of antiquarian history, the local historian was marginalized – fit only to provide the examples which would serve to justify the arguments and hypotheses developed by the professional. The result over time was that nation-state history was written by professional historians, either university or archive based, and local history was written by amateurs who were, in general, considered to be outside the academy, although in England a few ‘gentleman’ scholars were allowed fellowship of the Royal Historical Society.Local historians probably did not worry overmuch about their exclusion. Their arena was the local historical society” (BECKETT, 2004, pg. 22)

Um dos problemas é a distância entre as discussões teóricas acadêmicas e a dos historiadores locais. Um exemplo, a noção de que o passado não pode ser reconstruído, e que temos apenas uma “visão” dele que, por sua vez, pode ser afetada pela nossa visão de mundo atual. Muitos amadores partilham de uma postura positivista em relação à História.

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Neste sentido, as Associações de História Local tem convidado acadêmicos para suas palestras e formações, a fim de tentar superar a deficiência teórica destes pesquisadores4.

Por outro lado, vários autores apontaram para a riqueza da História Local escrita pelos amadores. Jackson e Tiller (ambos historiadores acadêmicos) colocam que os amadores possuem um acesso privilegiado às fontes escrita por serem organizadores de arquivos pessoais e orais e conhecem a região em seus aspectos econômicos e geográficos. Segundo o testemunho de Tiller:

“I work in the part of Oxford University, the extramural or continuing education department, with is devoted to trying to take academic study beyond the walls of the university, to try and build bridges between people who are actively interested in history in the context of their place and the academic approach to subject. I firmly believe that one can achieve a two-way traffic across that bridge, that the university historian can learn a great deal about major issues of current concern in historiography, and equally that we can help people have an informed understanding of what was important in the history of the place that they are concerned with. In doing this, we produce research with contributes to the overall corpus of academic historical knowledge” (TILLER, 1993, pg. 43)

Uma reatualizaçao desta discussão aparece na obra de Marieta Ferreira, que nomeia as produções não acadêmicas como sendo produto de History Makers. Segundo ela, existe uma confusão entre o que é história e memória, e entre os historiadores e os history makers, estes não fazem uso das regras acadêmicas e coletam depoimentos orais interpretando-os como se expressassem a história em si mesmos. Seria uma disputa entre a história-objeto e a história-conhecimento (FERREIRA, 2000, pg. 326).

2. História LocaL no BrasiL:

A História Local no Brasil ainda está cercada pela aura do amadorismo. Inicialmente, falar em história local, ou apresentar seu trabalho como sendo de História Local era o caminho certo para taxá-lo de monográfico. Hoje, com os centros de Pós Graduação e uma maior discussão teórica e metodológica sobre o tema existem avanços representados principalmente pelas publicações em revistas acadêmicas. Todavia, se compararmos com o desenvolvimento da História Local inglesa, encontraremos as mesmas discussões sobre a relação entre amadores e profissionais mas sem a organização dos centros ou associações de História Local, por exemplo.

4 Andrew J. H. Jackson. Process and Synthesis in the Rethinking of Local History: Perspectives contained in essays for a county history society, 1970-2005. Pg. 22.

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2.1. Histórico, conceitos e oBjetivos:

Como já foi mencionado, a História Local no Brasil ainda precisa de mais reflexão por parte da academia seja como objeto (que produtos são elaborados por ela? Qual passado é apresentado?) seja como prática (quem são estes pesquisadores? Quais seus objetivos?). Já entre os amadores, existem muitos trabalhos publicados por pequenas editoras, praticamente todas as cidades do Rio Grande do Sul possuem ao menos um livro apresentando sua história. Uma das características desses trabalhos de memória municipal é o fato de possuírem um vocabulário mais acessível, e uma construção textual narrativa muito mais “interessante” ao grande público e aproxima mais esse gênero do romance histórico e da literatura do que da história acadêmica.

Outro tipo de historia local é a realizada pelos Círculos Literários Municipais, nas Secretarias de Cultura, por encomenda das prefeituras, e etc. A maior parte dos trabalhos é feita de maneira empírica, utilizando fontes oficiais, sem um olhar crítico sobre a construção das mesmas, apropriando-se de memórias pessoais, coletivas e sem a uma reflexão sobre as implicações disso. Estes escritores, normalmente são pessoas de destaque dentro da comunidade local, professores, advogados, políticos, jornalistas, e, eventualmente, professores de história. Alguns dos livros produzidos propõem uma reconstrução histórica dos municípios, e para isso utilizam documentos oficiais e memórias, enquanto outros se encontram no campo das reminiscências e do anedotário5. Esses livros provocam um grande debate entre os moradores, são lidos e discutidos por boa parte das pessoas da cidade, que emitem opiniões, enfim, interagem com a obra, provocando, muitas vezes conflitos com o autor que pode, conforme o tema e a opinião de alguns, angariar desafetos entre a população.

Uma das análises sobre a questão da História local e Regional nos meios acadêmicos brasileiros foi o livro “República em Migalhas” (SILVA, 1990, pg. 200). Nele vários autores tentam delimitar o objeto da História Local os métodos e uso da História Oral. Hoje, passados quase vinte anos-‘ de sua publicação, é possível perceber que em vários pontos a reflexão historiográfica avançou, como nas discussões sobre o conceito de região.

Essa mudança aparece de maneira direta com o artigo de Rosa Maria Godoy Silveira, que apontava o fato de que, no Brasil, fazia-se História Local sem questionar o conceito de região(SILVA, 1990, 15). Hoje, na Academia, esse debate já está consolidado6, embora, dentro da história produzida pelos amadores muitas vezes ainda se pense o local tendo como limites as demarcações políticas e geográficas. O que se nota é, perpassando

5 Correa, Sílvio Marcus de Souza. História Local e seu devir historiográfico. Pp. 15.6 Ver os vários artigos sobre História local e Regional que fazem parte da Revista Unisinos, número 10, 2004.

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os vários artigos contidos no livro, a idéia de justificar e valorizar os estudos locais, apresentando elementos para legitimá-los enquanto forma de acesso ao conhecimento histórico:

“A História é um campo rico de investigação que justifica variados modos de acesso e de compreensão. Como método, o regionalismo configura o objetivo da História regional e assim oferece elementos essenciais para a Historia Comparada. Como enfoque interpretativo o regionalismo aponta para a complexidade de focos de articulação da ação coletiva, nem sempre inteiramente explicável por referencia às classes e à estratificação econômica das sociedades modernas.”(SILVA, 1990, pg. 49)

Uma experiência, para tomarmos um exemplo, em História Local foi desenvolvida por Rejane Penna e seu grupo de estudos. Em artigo publicado na Revista Estudos Leopoldenses7, ela expõe o trabalho elaborado pela faculdade de História do Centro Universitário La Salle no município de Canoas. Nessa cidade, os historiadores investigaram a história dos bairros, pretendendo descobrir qual era o papel desempenhado pelas pessoas na construção do município e verificando a forma como elas se identificavam nos processos que resultaram na atual forma política, econômica e social de Canoas. Em seguida, os pesquisadores foram convidados a realizar um trabalho semelhante junto à prefeitura de Nova Santa Rita, onde iriam produzir material sobre a História Local que servisse de subsídio para as escolas e a organização do arquivo municipal. A importância desse artigo está em pontuar uma experiência prática, que efetivamente mobilizou a região e trouxe ganhos em identidade às pessoas envolvidas através de sua participação como informantes orais.

Este trabalho de Pena se enquadra na proposta da historiadora Núncia Constantino, a autora destaca que a História Local e Regional deve partir do estudo da relação entre o homem e o espaço habitado em que ele vive. Mas no Brasil, por não termos amplos conjuntos arquivísticos como foi citado no caso inglês, precisaríamos utilizar as fontes qualitativas como a História Oral, e as pequenas coleções de documentação (CONSTANTINO, 2004, pg. 161).

Para Constantino, a importância dos trabalhos de pesquisa local residiria em: “Conhecer realidades do processo histórico local e regional é indispensável à construção da identidade do grupo humano. Além disso, satisfaz a necessidade de entender aquilo que está próximo de nós, diretamente relacionado à nossa vida social, econômica e cultural.”(CONSTANTINO, 2004, pg. 176)

Outra reflexão sobre História Local é um artigo de Agnaldo Barbosa publicado em 1999 na revista História e Perspectiva, neste texto ele apresentou questões que ele compreende como “estatutos para a História Local e Regional”. O autor destaca que o

7 Penna, Rejane; Ávila, Manoel e Gayeski, Miguel. Fontes orais e história municipal, avanços e dificulda-des na parceria La Salle e a prefeitura de Nova Santa Rita.

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principal mérito da História Local é a busca das singularidades e da diversidade histórica, que fica apagada quando tratamos a História do Brasil de maneira uniforme:“A importância da História Local e Regional está, assim, no fato de que, enquanto a historia generalizante destaca as semelhanças, homogeneizando o amálgama das vivências dos locais, a história elaborada com base nas realidades particulares dos locais trabalha com a diferença, com a multiplicidade.”(BARBOSA, 1999, pg. 127).

No meio acadêmico rio grandense também ocorreu um debate sobre a relação entre a História Local e a Micro-História. Os artigos de Núncia Constantino Santoro (2004) e de Cláudio Pereira Elmir (2004) apresentam uma discussão sobre a validade da conexão entre a História Local e o movimento historiográfico da micro-história italiana e francesa. Ambos concordam com a importância dos estudos sobre História Local e apontam que o amadorismo dos historiadores não acadêmicos prejudica esse gênero. Uma história, realizada dentro dos padrões acadêmicos sobre uma temática local estaria sim, para estes autores, filiada à micro-história e deveria se apropriar da reflexão metodológica consolidada por essa corrente:

“Em outras palavras, a História Regional/Local que se pretende, antes de ser uma história do microespaço regional, local, é uma história produzida em perspectiva diferente e em concepção dialética. Sua diretriz metodológica contempla etapas de desconstrução, análise de elementos particulares, elaboração do metatexto ou síntese final, criativa, original, como é a verdadeira síntese. História Regional/Local na perspectiva da micro-história significa revitalização nas formas de produção histórica com reconstrução do que aconteceu perto de nós, buscando respostas a problemas que se impõem no presente, em diferentes esferas e âmbitos.”(CONSTANTINO, 2004, pg. 177)

2.2. amadores e profissionais:

No Brasil, os estudos sobre história local estão intimamente ligados aos cronistas, e, quando se imagina um tratamento “científico”, na figura de “pesquisadores”8, ao Instituto Histórico Geográfico. Praticamente todos os estados e municípios possuem uma elite intelectual que se propõe a historicizar seu ambiente. Não iremos apresentar os trabalhos desenvolvidos pelos amadores, em primeiro lugar pelo seu volume, e também porque, em sua maioria, eles não se dedicam à reflexão sobre a sua prática, ou a conexões mais teóricas ligadas à historiografia.

O artigo que trabalha com História Local estabelecendo uma reflexão sobre sua prática, é de Silvio Marcus de Souza Correa (2002). Sua descrição sobre as pesquisas desenvolvidas nos últimos anos no Rio Grande do Sul é muito pertinente para compreender

8 O termo foi colocado entre aspas, pois, em muitos casos, os autores se consideram: jornalistas e pes-quisadores, advogados e pesquisadores, médicos, odontólogos, geólogos e pesquisadores. Mas, embora utilizem o termo, seus trabalhos não seguem normas como referência a autores, fontes, citações.

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as obras dos autores municipais:

“Desprovidas de teorias e métodos reconhecidos pela historiografia, a história local no Sul do Brasil apresenta uma escrita individualizada, cujo estilo depende da erudição literária de seus autores. Em geral, esses são clérigos ou leigos de profissão liberal. Os primeiros são responsáveis pelo tom demasiadamente paroquial, e os segundos pelo caráter mais biográfico ou genealógico que predominam na história local de comunidades formadas à época da imigração européia.”(CORREA, 2002, pg. 15)

Correa critica o amadorismo principalmente pelos seus problemas no manuseio das fontes e na visão sempre positiva, encontrada na maioria dos livros de história local. Eles se constituem em uma mistura de memórias pessoais, com fontes não declaradas e citações a outros moradores, o que prejudica a credibilidade do gênero. Existem ainda, vários estudos de caso e relatos de pesquisa sobre História Local sendo produzidos em alguns centros de pós-graduação, como é caso da Universidade Estadual de Ponta Grossa, que edita uma revista de História Regional que já conta com 14 volumes. E a Universidade de Passo Fundo, entre outras, que tem promovido Seminários de História Regional e possui um curso de Pós-Graduação em História Regional. Deste centro encontramos um livro de história municipal produzido totalmente por historiadores e organizado por Astor Antônio Diehl. Nele, vários artigos apresentam a História de Passo Fundo, com questões sobre a configuração de lugares de memória e tendo como abertura um artigo do referido autor, traçando um panorama das questões historiográficas sobre Historia Regional e Local (DIHEL, 1998). Por fim, com o aumento do turismo histórico no Brasil, os historiadores, formados pela academia, encontram um nicho de trabalho em museus municipais, e no planejamento e organização dos centros históricos, rotas turísticas e arquivos locais. Este trabalho é importante, pois uma pesquisa em História Local obedecendo aos critérios e método da prática historiográfica qualifica este trabalho local, é necessário, todavia, escapar das explicações fáceis e da onda comemoracionista, facilmente utilizada de forma política pelas prefeituras e organizações locais.

BiBLiografia

BARBOSA, Agnaldo Souza. A proposta de um estatuo para a História local e Regional. Algumas Reflexões. In: História e perspectiva, Uberlândia, janeiro/dez, 1999.BARROS, José D’Assunção. História, região e espacialidade. Revista de História Regional 10(1): 95-129, Verão, 2005CERTEAU, Michel. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

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