Historia Geral - MÓDULO 1

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL 49 Mito e ciência na explicação da origem do homem “A atividade humana sempre esteve relacionada com uma certa visão do mundo, visão esta que, aparentemente, nunca se limitou ao mundo sensível. O ser humano conserva de maneira permanente a noção ou a obsessão de um prolongamento do seu universo, de um mundo a que chama de sobrenatural”. (ARAÚJO, Pedro H. Angueth. Mito, religião e magias primitivas.) Normalmente, associa-se, erroneamente, o conceito de mito a: mentira, ilusão, ídolo e lenda. O mito não é uma mentira, pois é verdadeiro para quem vive. A narração de determinada história mítica é uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre o qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel. Podemos considerar que o mito apresenta algumas funções típicas: Ele é narrativo (procura descrever a relação entre fatos, pessoas, símbolos... com forças desconhecidas ); Ele é pedagógico (procura ensinar a Verdade); Ele também se mostra como o que nos traz um Julgamento sobre a origem do Homem e do Mundo tentando procurar conhecer a finalidade de sua existência. Entre as fontes do conhecimento humano estão: 1- O Mito; 2- A Religião e 3- A Ciência. No sentido literal, quando tentamos compreender o mito, através da ciência, não conseguimos. Também quando tentamos compreender o mito, através da religião, não temos sucesso. O mito representa a primeira etapa do conhecimento de uma realidade. O mito é diferente da religião e nem toda religião é mitológica, como querem alguns. Contudo, a religião é, essencialmente, um conjunto de crenças e de práticas que advoga a noção de um mundo sobrenatural, simultaneamente, um esforço no sentido de entrar em contato com ele. O religioso é o “sagrado”, o que é separado do profano, por obrigações ritualisticamente próprias. Criacionismo O criacionismo contrapõe-se às teorias de Darwin sobre a evolução do homem. Baseia-se no Gênesis bíblico para defender que o mundo e a humanidade foram criados por um deus sobrenatural. Os criacionistas defendem que a Terra foi criada numa só semana há cerca de 10 000 anos. Para eles, a maioria dos acidentes geográficos aconteceram devido ao dilúvio da época de Noé e as formas de vida não evoluíram de forma significativa desde a sua criação. Por falta de uma base factual, a teoria do criacionismo, que mais não é do que uma explicação religiosa do processo evolutivo, não é reconhecida pela comunidade científica. (Fonte: FERREIRA, José Roberto Martins. História. Ed. reform., São Paulo, FTD, 1997, p.37) HISTÓRIA GERAL Pré-História

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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Mito e ciência na explicação da origem do homem

“A atividade humana sempre esteve relacionada com uma certa visão do mundo, visão esta que, aparentemente, nunca se limitou ao mundo sensível. O ser humano conserva de maneira permanente a noção ou a obsessão de um prolongamento do seu universo, de um mundo a que chama de sobrenatural”. (ARAÚJO, Pedro H. Angueth. Mito, religião e magias primitivas.) Normalmente, associa-se, erroneamente, o conceito de mito a: mentira, ilusão, ídolo e lenda. O mito não é uma mentira, pois é verdadeiro para quem vive. A narração de determinada história mítica é uma primeira atribuição de sentido ao mundo, sobre o qual a afetividade e a imaginação exercem grande papel.

Podemos considerar que o mito apresenta algumas funções típicas:

Ele é narrativo (procura descrever a relação entre fatos, pessoas, símbolos...

com forças desconhecidas );

Ele é pedagógico (procura ensinar a Verdade);

Ele também se mostra como o que nos traz um Julgamento sobre a origem do

Homem e do Mundo tentando procurar conhecer a finalidade de sua existência.

Entre as fontes do conhecimento humano estão: 1- O Mito; 2- A Religião e 3-

A Ciência.

No sentido literal, quando tentamos compreender o mito, através da ciência,

não conseguimos. Também quando tentamos compreender o mito, através da

religião, não temos sucesso. O mito representa a primeira etapa do conhecimento de

uma realidade.

O mito é diferente da religião e nem toda religião é mitológica, como querem

alguns. Contudo, a religião é, essencialmente, um conjunto de crenças e de práticas

que advoga a noção de um mundo sobrenatural, simultaneamente, um esforço no

sentido de entrar em contato com ele. O religioso é o “sagrado”, o que é separado do

profano, por obrigações ritualisticamente próprias.

Criacionismo O criacionismo contrapõe-se às teorias de Darwin sobre a evolução do homem.

Baseia-se no Gênesis bíblico para defender que o mundo e a humanidade foram

criados por um deus sobrenatural. Os criacionistas defendem que a Terra foi criada

numa só semana há cerca de 10 000 anos. Para eles, a maioria dos acidentes

geográficos aconteceram devido ao dilúvio da época de Noé e as formas de vida não

evoluíram de forma significativa desde a sua criação. Por falta de uma base factual,

a teoria do criacionismo, que mais não é do que uma explicação religiosa do

processo evolutivo, não é reconhecida pela comunidade científica.

(Fonte: FERREIRA, José Roberto Martins. História. Ed. reform., São Paulo, FTD, 1997, p.37)

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Pré-História

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“Segundo os criacionistas, o processo de criação de novas espécies nunca

ocorre, já que todas foram criadas por Deus durante os sete dias da criação. Se

considerarmos tal argumento como verdade esperaríamos encontrar, no registro

fóssil, evidências de todos os animais em todas as camadas geológicas, afinal eles

têm coexistido juntos desde os tempos mais remotos de nosso planeta. Há centenas

de dinossauros fósseis e, entretanto, nenhum foi encontrado junto a um fóssil

humano ou de alguma ave. Além disso, dois dos mais comuns fósseis encontrados

são os trilobitas e os peixes ósseos, sendo que ambos viveram nos oceanos. Se os

criacionistas estivessem corretos seria de se esperar que encontrássemos, pelo menos

alguma vez, fósseis dessas duas formas de vida juntos. Entretanto não é o que

ocorre, os trilobitas parecem ter perecido cerca de cem mil anos antes do primeiro

peixe ósseo ser encontrado no registro fóssil. De forma ainda mais drástica, o último

dinossauro fóssil aparece na camada correspondente a 60 milhões de anos, enquanto

o primeiro humano aparece, pela primeira vez, na camada próxima a 5 milhões de

anos. Dinossauros e humanos parecem ter se encontrado apenas recentemente, nos

filmes de Spielberg”. (Adaptado de R. Chico On Line. Prosdocimi, F. 2001-2. )

Darwinismo e a Seleção Natural

Com o decorrer dos séculos, para a maioria das pessoas era muito fácil

encontrar uma explicação para o aparecimento e evolução do Homem a partir da

criação divina.No entanto, desde sempre existiram alguns pensadores que, não

concordando com esta teoria, tentavam encontrar explicações mais plausíveis para a

existência humana e a evolução das espécies.

Foi assim que a mutação e desenvolvimento das espécies começaram a surgir

como uma certeza. Alguns estudos revelam que já na Grécia Antiga existia esta

noção, apesar de ter sido esquecida até ao séc. XVIII altura em que reapareceu nas

mentes de pensadores como Pierre de Maupertuis ou Erasmus Darwin. E foi Charles

Darwin (neto de Erasmus), juntamente com Alfred Russel Wallace, que estabeleceu

a teoria da evolução, que ficou conhecida como darwinismo. Nesta obra, A Origem

das Espécies, Darwin explica o processo evolutivo pelos princípios de seleção

natural. A seleção natural foi reconhecida por Darwin e Wallace como um processo

que ocorre na natureza e pelo qual os indivíduos mais bem dotados relativamente às

condições do seu meio ambiente se reproduzem melhor e produzem mais

descendentes. A seleção natural tem como efeito cumulativo à adaptação, ou seja, a

capacidade que os seres vivos, incluindo o Homem, têm de adaptar o seu corpo,

através dos anos ou dos séculos, às novas realidades ou aos diferentes meios.Um dos

exemplos desta adaptação é a alteração que os dentes do Homem têm vindo a sofrer

através dos tempos, com a progressiva diminuição do seu tamanho e força. Outro

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exemplo bem visível é a atual postura ereta do Homem, que se foi desenvolvendo

através das épocas.

A teoria da seleção natural tem como base a variação existente entre os organismos de uma

mesma população. Segundo Darwin, os elementos que apresentam características que melhor os

adaptam ao ambiente serão aqueles que mais provavelmente sobreviverão e procriarão, passando estas

características favoráveis à sua descendência. Ao longo das gerações, o acumular de pequenas

alterações terá como resultado a alteração das características da população, ou seja, a evolução.

Neodarwinismo Dá-se o nome de neodarwinismo à teoria moderna da evolução, elaborada a

partir da década de 1930 pela combinação da Teoria da Evolução através da seleção

natural, do cientista inglês do século XIX Charles Darwin, com a Teoria da

Hereditariedade, baseada no trabalho do biólogo austríaco Gregor Mendel.

A teoria da evolução dos organismos através da seleção natural, da forma como

foi sugerida por Charles Darwin em seu livro “Sobre a origem das espécies” de

1859, já provou estar correta em muitos sentidos. Darwin, entretanto, não conseguiu

mostrar como a variabilidade natural que existe entre os indivíduos podia ser gerada,

já que em sua época, mesmo o conceito de gene era obscuro. No século XX, as

novas descobertas da genética e da biologia molecular nos permitiram entender

como acontece a evolução ao nível molecular. É interessante notar que pouquíssimas

pessoas, no mundo de hoje, compreendem de fato como a evolução biológica ocorre.

“Nosso corpo é feito dos mais diferentes tipos celulares presentes em cada

tecido e, cada um deles, realiza sua atividade específica através da produção de

proteínas específicas à sua função. Essas proteínas são compostas por longas cadeias

de moléculas conhecidas como aminoácidos, e são formadas através da tradução do

DNA através do código genético.Vários problemas podem causar danos em nosso

DNA: a exposição à luz ultravioleta do sol e aos raios X, a ingestão de moléculas

muito ionizadas (como os radicais livres), erros durante a replicação, presença de

toxinas, etc. É interessante notar que, se o DNA fosse uma molécula que não

sofresse danos e que não produzisse erros durante seu processo de cópia, a evolução

não teria acontecido e é bem provável que não estivéssemos aqui”.

O neodarwinismo defende que a evolução ocorre porque o ambiente está em

lenta modificação, aplicando uma pressão seletiva nos indivíduos de uma população.

Aqueles com características mais adaptadas ao ambiente têm mais possibilidades de

sobreviver e de ter descendência e, conseqüentemente, de transmitir estas

características favoráveis. A composição genética da população altera-se ao longo

do tempo e, em última instância, uma nova espécie aparece.

O processo de hominização

Dá-se o nome de hominização ao processo segundo o qual o Homem foi

evoluindo, física e intelectualmente, desde a sua origem primata até ao estágio de

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desenvolvimento atual.Esta evolução foi fruto do condicionamento sofrido pelos

antepassados do homem, tanto a nível externo como interno. A posição erecta, o

tamanho do crânio (associado ao desenvolvimento da inteligência), a modificação

dos dentes e a proporcionalidade entre membros inferiores e superiores, foram

alterações que surgiram no Homem durante a sua evolução.

Também o desenvolvimento do engenho do Homem, e conseqüente

desenvolvimento das suas capacidades manuais, levaram-no a construir

instrumentos cada vez mais sofisticados, até chegar aos níveis de perfeição de hoje.

Desde o mais primitivo australopitecus até ao Homem atual, passou-se mais de 3

milhões de anos. A hominização foi um processo lento e gradual e nada nos garante

que o Homem não venha a sofrer mais transformações...

Do australopitecos ao Homo sapiens

Australopithecus Esta é a designação dada aos primeiros hominídeos, que

viveram há cerca de 3,5 a 4 milhões de anos. Os australopitecos são

um gênero extinto de hominídeos, que reúne os fósseis designados

por australopithecus, plesianthropus, paranthropus e

zinjanthropus.As suas características são semelhantes às dos

humanos, mas tem também algumas de origem simiesca. Os

pequenos australopitecos eram bípedes, mediam cerca de 1,20m e

pesavam entre 25 e 50 quilos, com capacidade craniana média de

500 cm³. Seus primeiros fósseis foram encontrados na garganta de Olduvai,

Tanzânia, na África, junto a seixos grosseiramente trabalhados à mão.

A postura vertical trazia a vantagem de libertar as mãos para a manipulação; a

associação dos movimentos das mãos com os olhos estimulava o cérebro. Assim, o

bipedismo constituiu uma base para as habilidades culturais. Este Australopitecos

tinham uma face parecida com a dos macacos, o nariz não era saliente, o osso da

crista supraorbitária bastante salientes. As fêmeas eram mais pequenas que os

machos (dimorfismos sexual), tinham cerca de 65% do peso do macho. O crânio é

similar ao do chimpanzé exceto nos dentes em que é parecido com o Homo sapiens.

A forma do maxilar está entre a forma retangular dos outros símios e a forma

parabólica do Homem atual. Os ossos das pernas e da pélvis são bastante

semelhantes aos do Homem o que não deixa qualquer dúvida acerca do bipedismo

destes hominídeos.

O dedo grande do pé está em linha com os outros dedos e são mais compridos

que os dos Homens, mas as mãos são bastante semelhantes às nossas o que indica,

segundo alguns especialistas, que ainda subiam nas árvores. Quanto a utensílios não

existem indícios que indiquem a sua utilização. O seu habitat era de savana semi-

árida e floresta.

O primeiro exemplar desta espécie foi encontrado por Dart, em 1925, em

Taung, na África do Sul. Lucy, um australopiteco do sexo feminino que viveu há 3,2

milhões de anos, era o mais velho antepassado conhecido pela humanidade, até à

descoberta, por uma equipa de antropólogos sul-africanos, de um esqueleto

fossilizado de um australopiteco com uma idade estimada em 3,6 milhões de anos,

encontrado em 1998 nos arredores de Joanesburgo. Este achado levanta muitas

questões sobre a origem do Homem, nomeadamente transportando-a do Leste

africano para o sul de África.

Em 1999, um grupo de cientistas identificou uma nova espécie de

Australopithecus. Batizado de Australopithecus garhi, este Australopithecus bípede,

com 2,5 milhões de anos, já manuseava utensílios para cortar carne. Os vestígios,

ossos do crânio e dentes, foram encontrados em Bouri, uma zona desértica na

Etiópia.De acordo com os fósseis encontrados, os cientistas colocam o novo

Australopithecus entre a conhecida Lucy, um Australopithecus afarensis de há cerca

de 3,2 milhões de anos, e o Homo habilis.

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Homo habilis Espécie extinta de hominídeo ereto da África Ocidental, com

algumas características do Homem atual. Existiu num período entre

1,5 a 2 milhões de anos atrás.

É considerada a primeira forma de Homo que conduziu ao

Homem moderno. Na região frontal situa-se a parte mais larga do

seu crânio. Possui características dentárias e mandibulares de tipo

mais humano e foi o autor da indústria lítica de seixos. Os seus

restos fósseis foram encontrados por Leakey, em Olduvai, na

Tanzânia. Estima-se que tenha vivido há cerca de 1 800 000 anos

atrás.

(Fonte: FERREIRA, José Roberto Martins. História. São Paulo, FTD, 1997, P 41)

Homo erectus Depois dos australopitecos, os fósseis encontrados foram classificados como

pertencentes ao estágio pitecantropóide. Os primeiros pitecantropos ou “homo

erectus” datam de cerca de 500 000 anos e foram descobertos em Java (Indonésia),

Pequim (China), Heidelberg (Alemanha), Tenerife (Marrocos), Olduvai (Tanzânia) e

na Hungria. Viveram na Segunda fase interglaciária e seu cérebro possuía

capacidade craniana média de 1 000 cm³.

(Fonte: FERREIRA, José Roberto Martins. História. São Paulo, FTD, 1997, P 41)

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Os pitecantropos conheciam o fogo, fato que lhes permitia habitar em cavernas

e prolongar o período das atividades, antes limitado pelo cair da noite. Nas cavernas

onde moravam, inclusive em lugares muito frios como na Europa, foram

encontradas boas quantidades de carvão acumuladas, indicando que

várias gerações deles acendiam fogueiras. Eram carnívoros,

andarilhos e praticavam a caça de rastreio. Proporcionando luz para

habitar as cavernas, calor para enfrentar climas mais frios e um

método para preservar a carne, o fogo representou uma grande

revolução na cultura dos hominídeos. E com sua ajuda,

provavelmente iniciaram a migração pelo planeta, visto que os

hominídeos do estágio pitecantropóide só não foram encontrados

na América e na Austrália.

Depois dos pitecantropos, há uma nova lacuna paleontológica

de mais ou menos 400 000 anos. Só então começam a aparecer os

esqueletos do homem de Neandertal.

Homo sapiens neanderthalensis O Homo sapiens neanderthalensis pertencia à extinta subespécie de humanos poderosos e fisicamente robustos, que habitavam a Europa e a Ásia Oriental e Central. Viveram entre 100 000 e 40 000 anos atrás e possuíam uma capacidade cerebral próxima à do homem moderno. Era corpulento, mas baixo, fossas nasais largas e arcadas suprafaciais pronunciadas. Eles poderiam ser descritos como possuidores de uma caixa craniana moderna e uma face próxima à dos pitecantropos. Talhou machados e facas de pedra e utilizou ferramentas e armas de madeira. Este tipo de Homem habitava nas cavernas, embora existam provas de que fazia também acampamento ao ar livre. Foi a primeira espécie do gênero Homo a enterrar os seus

mortos, utilizando, para tal, as cavernas. Descobriu-se que um esqueleto dessa espécie, desenterrado em Shanidar, foram recoberto com oito espécies diversas de flores. Isso demonstra a existência de ritos conscientes, além de uma vida social organizada tal qual a das tribos primitivas de homo sapiens-sapiens.

Homo sapiens Espécie que compreende o Homem atual e grande parte de restos de fósseis. São os elementos desta espécie que têm maior capacidade craniana, grande desenvolvimento do néocortex e uma face substancialmente mais reduzida do que a das outras espécies de Homo. Demonstrou um grande progresso técnico e social e

realização de algumas manifestações artísticas.

Homo sapiens sapiens Os esqueletos sucessivos aos neandertaleneses são denominados de Cro-Magnon ou Homo sapiens-sapiens. Foram encontrados numa localidade da França que lhes deu o nome, a cerca de 35 000

anos, no Paleolítico superior. O uso de instrumentos de caça provavelmente ativou o desenvolvimento do cérebro e a redução das mandíbulas e dos dentes até então usados como ataque e defesa. Os Homo sapiens sapiens tinham uma estatura alta, esqueleto robusto e fronte

larga e elevada, tal como a dos homens atuais. As diferentes características, tais como pele, forma do cabelo, da cara e do nariz, grupo sanguíneo, entre outras, deram origem a diferentes grupos ou raças de homens derivados do Homo sapiens sapiens. Os investigadores admitem a existência de 27 raças, divididas em 4 grupos: raças primitivas, raças negras ou negróides, raças brancas e raças amarelas.

Os períodos da Pré-História

Do aparecimento do gênero humano sobre a terra à invenção da escrita, decorreu enorme período de tempo, denominado Pré-História, cujo princípio e fim variam segundo as diversas regiões do globo. A cronologia mais utilizada para o início da Pré-História considera que os vestígios mais antigos do homem primitivo datam de cerca de 2.000.000 de anos na África, de 1.500.000 anos na Europa e de 15.000 anos na América. Descobertas arqueológicas recentes têm ampliado essas

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datas para 5.000.000 de anos na África e 40 000 na América. O fim da Pré-História ocorreu primeiramente em regiões do Oriente Próximo - no Egito e na Mesopotâmia - por volta de 4.000 a.C., com a invenção da escrita ligada ao desenvolvimento das primeiras civilizações. Na América, na África Central e na Austrália, o fim da Pré-História se deu com a conquista dessas regiões pelos europeus a partir do século XV, portanto, bem mais tarde. A Pré-História foi dividida por Lubock, em 1886, nas Idades da Pedra Lascada ou período Paleolítico e da Pedra Polida ou período Neolítico, denominações referentes ao tipo de instrumentos usados pelos homens em cada época. Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada

Esse foi o primeiro e mais longo período da Pré-História. O Paleolítico (paleo – antigo e lítico – pedra), vai desde o surgimento do ser humano, cerca de 600 mil anos atrás, até aproximadamente 12 mil anos. O nome de Pedra Lascada advém da utilização da pedra na fabricação dos instrumentos pelos hominídeos. No entanto eles não faziam instrumentos/utensílios somente de pedras. Eram utilizados também ossos e madeiras. O Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada comporta ainda três outras subdivisões: Paleolítico Inferior, Médio e Superior. No entanto optamos por traçar as características gerais de todo o período sem levar em consideração as subdivisões. O homem do Paleolítico vivia da coleta e da caça. Alimentava-se de frutos, de raízes e de bagas, capturava pequenos mamíferos, lagartos. Começou cedo a caçar animais grandes: os arqueólogos descobrem muitas vezes, entre os utensílios primitivos, ossos de mamutes e de bisontes. A sua sobrevivência era difícil não podia rivalizar com os terríveis animais carnívoros, nem pela rapidez nem pela força física. A fome espreitava-o sempre, assim como a morte, sob as garras dos animais. Os homens fósseis sobreviveram e triunfaram por duas razões: primeiro eram capazes de fabricar utensílios; depois, agiam desde o início em conjunto. A fabricação de utensílios só foi possível em coletividade, pois é esta última que conserva e consolida as aquisições, a experiência primitiva em matéria de produção, e que assegura a sua transmissão hereditária.

(Fonte: NOVAES, Carlos Eduardo & RODRIGUES, Vilma. Capitalismo para principiantes.

São Paulo, Ática, 1994, P. 06) A caça, sobretudo a dos animais grandes que eram assustados pelo fogo e afastados à pedrada para o precipício ou um pântano, era feita em comum. É esta coletividade de homens do Paleolítico que tem o nome convencional de horda primitiva. “Dentro das condições... descritas evidentemente os bandos „primitivos‟

eram nômades: os homens viviam mudando de região constantemente, à procura de novas áreas de caça, de rios mais piscosos, ou impelidos pela variação climáticas”. (Aquino). Esse modo de vida é conhecido como nomadismo.

As cavernas e as habitações feitas de galhos de árvores constituíam as moradas dos homens do Paleolítico. Já existia um artesanato rudimentar: as armas e ferramentas e o vestuário, feito de peles de animais. Os utensílios e as ferramentas eram de uso pessoal, cada homem fabricava e possuía o seu. “As florestas, os rios, eram possuídos, usados e usufruídos coletivamente. A esse regime de propriedade coletiva dos meios de produção dá-se o nome de regime de comunidade primitiva”. (Aquino) Dentro destas comunidades possivelmente já existia uma divisão natural do trabalho, em função do sexo: os homens consagram-se à

caça deixando a coleta para as mulheres e as crianças. Porém, vale salientar que os homens e as mulheres desempenhavam o mesmo papel na economia. Para fabricar seus instrumentos os primeiros homens usavam uma técnica conhecida como lascamento. Com um pedaço de rocha mais dura batiam num bloco de sílex, obtendo pedaços de lascas. Essas lascas eram amarradas a hastes de madeira, compondo machado ou zagaias. Alguns grupos criaram técnicas para afiar as lascas com areia e água: é o que chamamos de polimento. Porém a maioria dos

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primeiros homens usava apenas pedras lascadas. Usando as técnicas descritas fabricavam zagaias de marfim ou sílex, punhais de chifres, arpões de pesca e de caça, raspadores e placas para esquartejar os animais mortos e tratar as peles. Costurava-se o vestuário feito de peles de animais com agulhas de osso. Buris de sílex são preparados para trabalhar o chifre ou o osso. Uma das grandes descobertas do período Paleolítico foi o fogo. Ao dominar o fogo, o Homem acreditou nas suas capacidades e preparou novas descobertas. De fato, a produção do fogo veio alterar, profundamente, os hábitos do homem primitivo e abrir-lhe caminho a outras inovações. O Homo Erectus já sabia produzir o fogo. Com efeito, há mais de meio milhão de anos, esse antigo antepassado do homem já acendia fogueiras, como se comprova pelo fato de aparecerem vestígios de fogo em lugares por si habitados. Com esta invenção, o homem primitivo alterou, profundamente, a sua maneira de viver.

O domínio do fogo alterou a vida do homem primitivo, pois veio permitir-lhe:

• aperfeiçoar os instrumentos utilizados na caça e na pesca;

• cozinhar os alimentos, até aí comidos crus;

• defender-se melhor dos animais que o cercavam ou empurrá-los para os locais

pretendidos;

• iluminar as cavernas, de que ocasionalmente se servia, através da utilização da

gordura dos animais que abatia.

A obtenção do fogo… “Deu ao homem pela primeira vez o império sobre uma

força da natureza e, assim, separou-o definitivamente do reino animal” (F. Engels)

Neolítico

Com o significado de “nova idade da pedra”, o termo neolítico surgiu no século XIX, identificando a idade da pedra polida. “Porém o termo neolítico não mais identifica métodos de trabalho em pedra e, sim, de produção de alimentos. Durante o Neolítico o controle sobre a reprodução de plantas e animais e a estocagem de proteína animal e vegetal tornou-se possível com a criação de rebanhos e o cultivo dos campos”. (GUCLIELMO) O início do período Neolítico também é marcado pelo surgimento da agricultura. Grupos humanos que então habitavam o Crescente Fértil deram início às primeiras

práticas agrícolas, plantando algumas espécies de cereais.

(Fonte: PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. São Paulo, Atual, 1994, P. 32)

O desenvolvimento da agricultura é pouco conhecido pelos estudiosos, mas sabe-se que a observação da natureza foi importante para o desenrolar desse processo. Durante milhares de anos, os grupos humanos observaram o crescimento das plantas e o clima e descobriram a necessidade de selecionar sementes para o cultivo e de fazer a colheita no tempo certo. Algumas centenas de anos foram necessários para começar a proteger a plantação e passar a armazenar partes dos grãos em potes de cerâmica para semeá-los na estação seguinte. Além disso, os animais passaram a ser utilizados em várias atividades rotineiras. O cavalo e o boi, por exemplo, foram empregados como força de tração.

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Atrelados aos arado, podiam preparar o solo para o cultivo com maior rapidez. O desenvolvimento da agricultura e da pecuária foi fundamental para o processo de fixação ou sedentarização dos grupos humanos. O cultivo de algumas espécies de

cereais exigia a presença constante dos agricultores para cuidar das plantações. (BONIFAZI, Elio & outros, Descobrindo a história: Idade antiga e medieval. São Paulo, Ática, P 28) Com a atividade da criação e da plantação os seres humanos passaram a se alimentar melhor. Com isso ocorreu uma diminuição da mortalidade e a expectativa de vida melhorou, provocando um aumento na população. “Estima-se que a população humana entre 10.000 e 6.000 anos atrás saltou de cerca de 100.000 para 3,2 milhões de indivíduos na região do crescente fértil. (Guglielmo)”. Instrumentos de pedra – aperfeiçoaram os instrumentos e inventaram o pilão. Cerâmica -Ele desenvolveu a técnica de aquecer argila no fogo e, dando-lhe

forma, produziu os primeiros vasos cerâmicos.

(Fonte: http://www.indiana.edu/~archaeol/franchthi/images/350/Fr01.52.JPG) Tecelagem – No Neolítico, o homem começou a fiar e a tecer, confeccionando

as primeiras vestimentas de linho, algodão e lã. Casas e aldeias - O homem passou a construir sua casas, ou seja, moradias fixas. O interesse por esse tipo de habitação está relacionado ao processo de sedentarização das comunidades. Utilização da roda – Os homens tiveram grandes dificuldades para transportar

objetos pesados, então o homem pegou grandes torras que deslizavam, ou seja, rodavam. Com o aprimoramento da divisão do trabalho e o aparecimento de novas funções, a vida social foi se tornando mais complexa, surgindo, assim, aldeias agrícolas sedentárias. Com o tempo, essas aldeias foram se tornando cada vez maiores, dando origem, posteriormente, às primeiras cidades. Na medida em que novas espécies foram domesticadas, desenvolveram-se aceleradamente ferramentas, técnicas produtivas e novas formas de vida social. Recentes descobertas tornam evidente que grandes cidades eram comuns há 10.000 anos, e a presença de muralhas, fossos e torres que as cercavam desmentem a imagem romântica atribuída ao Neolítico. Sua prosperidade indica o desenvolvimento do comércio com a exportação de gado e cereais em troca de vários artigos e matérias-primas. O grau de especialização dentro como entre as cidades neolíticas têm surpreendido os arqueólogos: casas de construção de móveis, ferramentas, matadouros, curtumes, olarias etc. indicam diversificação e produção em larga escala, sugerindo que o comércio ocorria, por vezes, entre cidades muito distantes. A criação de rebanhos e a estocagem de grãos também implicaram profundas alterações econômicas e políticas que resultaram do acesso diferenciado a terras férteis, água e outros recursos básicos. Diferenciações de riqueza e poder surgiram a partir do controle desses recursos. Finalmente, graças ao desenvolvimento agrícola, houve condições para o surgimento das grandes cidades, Estados e impérios. (GUGLIELMO, Antonio Roberto. A pré-história: uma abordagem ecológica. São Paulo, Brasiliense, 1999).

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(Fonte: SCHMIDT, Mário Furley. Nova história crítica. Nova Geração, 1999. pp. 58 e 59)

Costumes A pintura pré-histórica recebeu o nome de arte rupestre ou parietal pelo fato de

ter se desenvolvido quase que exclusivamente em paredes de pedra, no interior de

cavernas e grutas e, com menor freqüência, fora delas.

O artista paleolítico não desperdiçou muito do seu tempo com a paisagem nem

com os seres humanos. Curiosamente, estes são sempre mostrados de forma irreal,

abstrata e estilizados, enquanto os animais são desenhados com absoluta atenção aos

detalhes. Como você entende a relação entre mito e ciência na explicação da origem

do homem?

Para muitos estudiosos, as pinturas rupestres podem ter um sentido mágico,

religioso, estético e educativo. As reproduções de cenas de caça, por exemplo,

podem ser uma tentativa de interferir na captura do animal. Retratando-o, o

indivíduo julgava estar aumentando suas próprias chances de sucesso nas caçadas ou

as do grupo. Mas o objetivo exato dessas pinturas ainda permanece um mistério.

(BONIFAZI, Elio & outros, Descobrindo a história: Idade antiga e medieval. São

Paulo, Ática, 2002)

(Touro vermelho em uma caverna, na França. Fonte: GIOVANNI, Cristina Visconti & outros. História:

compreender para aprender. São Paulo, FDT, 1998, P. 35)

As pinturas do paleolítico (25000 a.C. - 8000 a.C.) concentraram-se em três

temas principais:

a representação de animais, (principalmente cavalos e bisões +e, em menor

número, cervos, leões, mamutes e touros);

Page 11: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

59

o desenho de signos, cujo verdadeiro significado ainda se desconhece, apesar

das diferentes hipóteses;

e a figura humana, tanto masculina quanto feminina, ou em combinação com

formas animais.

As cores empregadas foram o preto e as tonalidades avermelhadas, ocres e violáceas, que são as

mais fáceis de se obter na natureza. Avançando em direção ao mesolítico (8000 a.C.), surgem os seixos

pintados, ou amuletos, com símbolos e cercaduras, entre geométricas e abstratas. Já no neolítico (5000

a.C. - 3000 a.C.), além das primeiras peças de cerâmica decoradas, encontram-se verdadeiras cenas

murais que documentam a vida de então. Pelo estudo dos desenhos, pode-se deduzir que o homem pré-

histórico não só pintava com os dedos, mas também com pincéis e espátulas, além de empregar um

sistema de nebulização para obter os sombreados de mão em negativo.

Por volta do ano 2000 a.C., em plena idade do bronze, produziu-se uma

evolução cuja tendência era voltada para a abstração, principalmente nas

representações rupestres.

Escultura A escultura da pré-história corresponde à chamada arte móvel e abrange tanto

os objetos religiosos e artísticos quanto os utensílios. Os gêneros desenvolvidos

foram a estatueta e a gravação, tanto em pedras calcárias quanto em argila ou

madeira queimada. As figuras femininas foram mais numerosas, sem dúvida devido

à sua clara relação com o culto à fecundidade. Todos os objetos encontrados, a

maior parte pertencente ao período paleolítico (25000 a.C. - 8000 a.C.), mostram

uma desproporção deliberada entre os genitais e as demais partes do corpo, o que

reforça a teoria de mulher-mãe-natureza.

Vênus de Lespugne – Museu do Homem, Paris

Vênus de Laussel ou Dama de Ouro – Museu de Aquitânia, Bordéus As estatuetas são conhecidas como os especialistas Vênus Esteatopígeas. Entre elas, as mais famosas são a Vênus de Lespugne, na França, e a Vênus de Willendorf, na Áustria. As gravações repetem os esquemas e motivos da modelagem, ressalvando-se que as representações costumam ser de tamanho maior. As gravações repetem os esquemas e motivos da modelagem, ressalvando-se, entretanto, que as representações costumam ser de tamanho maior. Uma das características mais evidentes dessas manifestações paleolíticas é que as figuras representadas são verdadeiras adaptações das formas naturais da pedra, fato que deve ter desafiado a imaginação do artista, mas que com certeza lhe poupou

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

60

trabalho na etapa de modelagem face aos utensílios primitivos da época. Estes tipos de gravações surgiam das formas naturais das rochas.

As primeiras peças de cerâmica eram cozidas diretamente no fogo, tendo pouca

resistência e, até o surgimento dos primeiros fornos, a terça parte das peças se

quebravam ao secar, por isso às vezes misturava-se ao barro fios de palha.

No período neolítico (5000 a.C.-3000 a.C.), o homem já conhece o fogo e

especializa-se na combinação de materiais. As comprovações desse fato são as peças

de cerâmica cozida, em forma de vasos e conchas, com cercaduras decorativas de

motivos geométricos gravadas na superfície. A partir da idade do bronze alcançou-se

uma diversificação muito grande na arte da cerâmica, em razão da importância que

esses artefatos tinham como utensílios domésticos e recipientes para o transporte de

alimentos.

Vaso antropomorfo – Museu de Oltenita, Romênia

A origem do homem na América e no Brasil: as sociedades ameríndias

Teorias do povoamento da América Acredita-se que a América foi provavelmente o último continente a ser ocupado

pelo ser humano. No entanto existem muitas controvérsias a respeito da data em que

isso teria ocorrido. As discussões giram em torno de quando e como os primeiros

povoadores aqui chegaram.

Teoria Clóvis: os primeiros habitantes teriam chegado ao continente há

aproximadamente 12.000 anos depois de cruzar a Beríngia. Naquela época, o planeta

vivia uma era glacial, e grandes geleiras ocupavam boa parte do Hemisfério Norte.

O nível dos mares desceu bastante fazendo com que emergisse uma faixa de terra de

1.500km de largura, da Sibéria ao Alasca. Criando uma nova região que os cientistas

chamam de Beríngia.

Essa teoria apoia-se nos vestígios do sítio arqueológico de Clóvis ou Folsom,

Novo México, Estados Unidos, com 11.200 anos, exatamente o tempo necessário

para que os caçadores fizessem a viagem do Alasca até o Novo México – 7.000 km

em 800 anos. Aparentemente, Clóvis era um lugar de abate, juntos aos ossos foram

encontradas grandes quantidades de pontas de flechas usadas para a caça. Além de

bonitas, as pontas de flechas eram preparadas com a técnica de acanalamento que

fascinou os cientistas por sua complexidade.

O modelo Clóvis transformou-se no grande paradigma da arqueologia norte-

americana. Atualmente, a teoria Clóvis não se sustenta devido à descoberta de dois

novos achados. Em 1976, lenhadores desenterraram presas de um mastodonte em

Monte Verde, sul do Chile, onde o arqueólogo Tom Dillehay desde então, vem

trabalhando e encontrando um tesouro arqueológico inestimável de um grupo com

horizonte cultural paleoíndio, que vai desde ferramentas de pedras até uma pegada

de um menino, de 13 cm de comprimento, gravada em argila.

Se o grupo de Monte Verde viveu na região há 12.500 anos, conforme o

reconhecimento em março de 1998 da Sociedade Americana de Arqueologia e

estava a 15.000 km de Bering, seus antepassados teriam gastado cerca de 15.000

anos para percorrer a distância que separa o Alasca do sul do Chile. Portanto, leva-se

a conclusão que o homem penetrou na América, no mínimo, há pelo menos 27.500

anos.

Outra descoberta mais recente foi anunciada por arqueólogos do Museu de

História Natural de Santa Bárbara, Califórnia, Estados Unidos; John Johnson e Lisa

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

61

Urone atestaram a existência de dois ossos da coxa de uma mulher batizada de

Arlington, encontrada na Califórnia e datada de 13.000 anos.

Ainda em relação ao povoamento da América, há muitas descobertas

arqueológicas ainda em discussão quanto à autenticidade e possibilidade, que

questionam a entrada no período de 12.000 anos passados.

A arqueóloga Maria da Conceição Beltrão afirma, após escavações no sertão

baiano, Brasil, que entre 20 e 30 milênios atrás, o homem já habitava o lugar,

apoiada nos ossos de animais que exibem marcas de ação humana.

Niéde Guidon em 1971, na serra da Capivara, Piauí anunciou a descoberta de

vestígios de carvão de uma suposta fogueira datada de 40.000 anos, sendo assim, os

primeiros grupos teriam, há pelo menos 70.000 anos, adentrado a América pelo

Estreito de Bering. Essa teoria tem sido pesquisada seriamente pela comunidade

científica de arqueologia, recebendo adesões de importantes arqueólogos.

A existência de um grande número de sítios arqueológicos que contém uma

indústria lítica de pré-pontas de projétil, como talhadores pesados de grandes

dimensões, raspadores, raspadores-planos, facas e batedores, muitas vezes em

notável abundância, por exemplo, no Chile, Argentina e Uruguai; em outros como

El Jobo e Cumare, Venezuela, os artefatos ocorrem em altos e distantes terraços

fluviais; em Farmigton, na Califórnia, eles estão soterrados abaixo de 5 metros de

aluvião. No abrigo-sob-rocha de Levi no Texas, eles estão estratigraficamente

abaixo das pontas de projétil mais antigas. Restos de animais que faziam parte da

dieta estão associados com estes artefatos em variadas áreas. As datações destes

sítios chegam a ultrapassar 24.000 anos. Porém, apesar de dois principais fatores

atestarem sua credibilidade, como a existência de uma ponte terrestre anterior há

37.000 anos, a qual foi cruzada pelo caribu e mamute peludo e provavelmente o

homem os seguiram; e a magnitude de datas procedentes do norte a sul, visto que a

expansão geográfica foi muito lenta e a população inicial muito pequena; estes

achados não são considerados como feitos pelo homem. Diversas são as razões para

o questionamento: pedras rudemente lascadas podem ter sido feitas por ação natural;

alegam que em muitos sítios, a datação pelo carbono-14 e os restos culturais não foi

correta; a antigüidade do contexto geológico ou os artefatos são intrusivos e de

origem mais recente; e, principalmente, a inexistência de fósseis humanos mais

antigos, especialmente localizados na região da América do Norte ou até mesmo em

outra região qualquer.

Outro caminho normalmente lembrado para a chegada do homem primitivo à

América e pelo Oceano Pacifico. Possivelmente, usando as inúmeras ilhas da região

como escala, os bandos humanos teriam atravessado o extenso oceano, passando da

Ásia para a costa da América do Sul. É também possível que esses caminhos e ainda

vários outros tenham sido todos eles realizados na pré-história, permanecendo a

incógnita, no entanto sobre qual teria sido o primeiro trilhado pelos homens

primitivos. (VICENTINO, Cláudio & DORIGO, Gianpaolo. História do Brasil. São

Paulo, 1998, Scipione, P. 14)

A multiplicidade biológica, lingüística e outras evidências dos ameríndios já

estudadas favorecem a hipótese de que o povoamento da América foi feito também

por australianos e habitantes das ilhas do oceano Pacifico através da Terra do Fogo e

da Antártida.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

62

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

63

O Crescente Fértil

O Crescente Fértil constituía-se numa região do Antigo Oriente excelente para

agricultura, exatamente num local onde a maior parte das terras vizinhas era muito árida para qualquer cultivo. O Crescente Fértil começa na Costa Leste do Mar Mediterrâneo, tomando a forma de uma meia-lua, avançando na direção do Golfo Pérsico. Algumas das terras mais ricas do Crescente Fértil situvam-se na faixa estreita entre os rios Tigre e Eufrates, que os gregos chamavam e “terra entre rios”. As primeiras civilizações fundamentalmente urbanas de que temos conhecimento e registros históricos surgiram nesta região.

(O Crescente Fértil na Antiguidade e hoje. Fonte. FIGUEIRA, Divalte Garcia. História. 1ª ed., São Paulo: Ática, 2000, p. 17)

A Mesopotâmia

Berço de algumas das mais ricas civilizações humanas, a Mesopotâmia viu surgir os primeiros impérios, as primeiras cidades da antiguidade e algumas importantes invenções do homem, como a escrita e a legislação. Os movimentos migratórios acabaram por fazer surgir importantes civilizações, como a dos assírios, que ocuparam a área montanhosa, e a dos sumérios e babilônios, instalados nas

planícies do sul.

Características geográficas A Mesopotâmia, “terra entre rios”, é a região da Ásia banhada pelos rios Tigre

e Eufrates, que correm no sentido norte-sul, formando uma extensa planície de 140

000 quilômetros quadrados, com solos favoráveis à agricultura e à fixação do

homem.

HISTÓRIA GERAL

A Antiguidade Oriental

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

64

O sul da Mesopotâmia, onde os rios deságuam no golfo pérsico, era conhecido

como Suméria. O centro, correspondendo ao curso médio dos rios, era chamado de

Acádia. O norte era denominado Assíria.

A revolução urbana Os primitivos habitantes da Mesopotâmia viviam em aldeias isoladas de agricultores e pastoras. Faziam instrumentos de pedra e vasos de argila; suas edificações eram moradias e templo de adobe, devido à

escassez de pedra na região. Aproveitando os diques naturais, formados pelo Eufrates ao sul, praticavam uma agricultura rudimentar, favorecida pela fertilidade trazida pelas inundações periódicas do rio. Por volta de 3 500 a.C. os sumérios fixaram-se na baixa Mesopotâmia, fundindo-se étnica e culturalmente com a população local. Com a sua chegada, deu-se o aperfeiçoamento dos métodos de cultivo e de irrigação. A agricultura, além de abastecer regularmente a população, passou a gerar excedentes para o comércio. Desenvolveu-se o artesanato especializado, o uso de metais e surgiram inovações técnicas como a roda.

(A Mesopotâmia. Fonte: SHMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica. 1 vol., São Paulo: Nova

Geração, 1999, p. 79)

A população expandiu-se, dando origem a novos grupos sociais como

sacerdotes, funcionários, mercadores, artesãos e soldados. Assim, as aldeias

transformaram-se em cidades, como Ur, Uruk, Lagash, com governo próprio e

profissões variadas. Estabeleceu-se ativo comércio entre as cidades de suméria e

seus vizinhos. A revolução urbana fez surgir na suméria e posteriormente em Acade, cerca

de 15 ou 20 cidades-estado politicamente independentes, mas com língua, religião,

organização social e sistema econômico semelhante.

O templo e os sacerdotes O centro de cada cidade da Mesopotâmia era dominado pelo “temenos”,

conjunto de templos, destacando-se o “zigurat” ou torre de degraus com um

pequeno santuário no alto da elevação. O templo era dedicado ao culto e às

oferendas ao deus, geralmente uma personificação de forças mágicas que

permitiam o nascimento da vegetação, a semeadura, a colheita e a sobrevivência do

homem. Embora cada cidade possuísse seu próprio deus, havia entre os sumérios

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

65

algumas divindades aceitas por todos, como Anu, deus do céu; Enlil, da terra; Ea,

do oceano e várias divindades menores.

Os sacerdotes, a serviço do deus e intérprete da vontade divina para o povo,

estavam livres dos trabalhos nos campos e encarregavam-se de administrar e

ampliar o tesouro do deus.

(Porta de Ishtar. Fonte: THE ART - História da Arte - Mesopotâmia_arquivos\arq_mes1.htm) O templo era o centro da vida religiosa da cidade e o centro da acumulação de riqueza. O deus, através dos sacerdotes, emprestava aos

camponeses animais, sementes, aradas e arrendava os campos. Ao pagar o “empréstimo”, o devedor acrescentava a ele uma “oferenda” de agradecimento. Da necessidade de registrar os bens doados aos deuses e prestar contas da administração das riquezas do templo teve início o sistema de contagem e a escrita cuneiforme, visto que os sacerdotes já não podiam, para as suas

transações, confiar apenas na memória ou recorrer ao simples expediente de contar fazendo nós em um lenço. Por volta de 3 000 a.C., passou a existir o rei, denominado “grande homem” ou “Lugal”, com função basicamente militar. Com a continuidade das guerras, a função de rei deixou de ser temporária, tornando-se vitalícia, hereditária e despótica.

Números sumerianos

O Império Acadiano

Coube a Sargão I, rei de Acad, estabelecer o Primeiro Império na Mesopotâmia, por volta de 2.470 a.C. em seu governo, pela primeira vez as cidades-estado perderam sua autonomia e passaram a integrar o império acadiano, que se manteve por um bom período. Segundo Jaime Pinsky, com Sargão “existe uma nova realidade na região: um Estado que tenta impor, acima dos particularismos regionais, uma política comum.” O feito de Sargão I foi posteriormente imitado, com maior ou menor êxito, pelos reis de Ur e de outras cidades.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

66

O Império Babilônico

(Babilônia no reinado de Hamurabi. PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. Atual, São Paulo, 1994, p. 63).

Aproximadamente em 1894 a.C., Hamurabi, rei da cidade da Babilônia, fundiu

novamente todas as cidades da Mesopotâmia num só império, sob sua autoridade,

formando o Primeiro Império Babilônico, que durou até cerca de 1595 a.C.

Hamurabi promoveu a unificação administrativa do Império Babilônico usando para

isso uma nova legislação – o código de Hamurabi – atingindo todo o reino. Seus

artigos regulamentavam toda a vida da comunidade: a divisão em classes sociais, o

comércio, os juros, o casamento, a herança, etc. o direito penal repousava na lei de

talião: “olho por olho, dente por dente”, variando as punições de acordo com a

classe social do acusado. “Se um homem roubou o tesouro do deus ou do palácio, este homem é passível

de morte e aquele que recebeu o objeto roubado também é passível de morte.

Se um homem furar o olho de um homem livre, furar-se-lhe-á um olho.

Se ele fura o olho de um escravo alheio ou quebra um membro ao escravo alheio,

deverá pagar a metade de seu preço.

Se um arquiteto constrói uma casa para alguém, porém não a faz sólida,

resultando daí que a casa venha a ruir e matar o proprietário, este arquiteto é

passível de morte.

Se ao desmoronar, ela mata o filho do proprietário, matar-se- á o filho deste

arquiteto.” (citado por Aquino, r. & outros. história das sociedades. das comunidades primitivas às sociedades

medievais. rio de janeiro, ao livro técnico s/a, 1982, p.114)

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

67

Estela do rei Hamurábi - Arte persa

Durante o governo de Hamurábi ocorreu o maior desenvolvimento da

agricultura, com a construção de grandes canais de irrigação, o que contribuiu para o

surgimento de uma Monarquia despótica e teocrática.

No período de Hamurábi houve um certo desenvolvimento da propriedade

privada e particularmente as atividades ligadas ao comércio. O aperfeiçoamento e a

unificação dos canais de irrigação, que controlavam as águas dos rios tigre e

Eufrates, possibilitaram um intercâmbio fluvial intenso entre as cidades,

favorecendo o desenvolvimento comercial.

As revoltas internas e as sucessivas invasões estrangeiras (elamitas e cassitas)

desorganizaram a vida econômica do Império Babilônico; à ruína dos camponeses

somou-se a destruição das redes de canais, conseqüência dessas lutas, enfraquecendo

o estado na época dos sucessores de Hamurabi. Esses estrangeiros permaneceram na

região até cerca de 1.100 a.C., quando os assírios do norte da Mesopotâmia, os

subjugaram, iniciando a formação do Império Assírio.

O Império Assírio

Os assírios eram agricultores e pastores. Chamavam seu país de Assur, que

também era o nome do deus local e de sua principal cidade, localizada às margens

do rio Tigre. A região possuía riquezas minerais como o cobre e o ferro, além de

madeira e pedra. “Os assírios ocupavam uma grande planície na região central da

Mesopotâmia, um lugar de passagem, uma espécie de porta de acesso à região, e

sem defesas naturais. Assim era alvo constante de ataques. Isso com certeza

contribuiu para desenvolver o espírito guerreiro que caracterizou a civilização

assíria”. (PEDRO, Antonio e LIMA, Lizânias de Souza. História por Eixos

temáticos. 1ª ed., São Paulo: FTD. 2002, p. 176 ). A vida urbana desenvolveu-se com a conquista da região por Sargão I, durante o império acadiano, por volta de 2 500 a.C. foi nessa época que os assírios conheceram a metalurgia e a escrita cuneiforme. Posteriormente, a Assíria permaneceu por longo período dominada pelo império babilônico.

Os reis eram representantes do deus Assur e exerciam atividades militares no

comando dos exércitos. A partir do século VIII a.C., os assírios iniciaram um

movimento de expansão territorial sobre as cidades vizinhas. No século VII a.C.,

sob o reinado de Assurbanipal, o império assírio atingiu sua máxima extensão,

englobando praticamente todo o oriente próximo: do Golfo Pérsico até a Ásia

Menor e o Egito.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

68

(Assurbanipal em desfile triunfal neste detalhe de um painel em alabastro encontrado no palácio

real de Nínive. Fonte: História das Civilizações. Volume I, São Paulo: Abril, p. 14). Após a morte de Assurbanipal, começou o enfraquecimento do império assírio. Os países subjugados deixaram de pagar os tributos; sucederam-se revoltas interna e invasões de nômades da Ásia central. O predomínio assírio termina em 612 a.C., com a tomada de Nínive pelos reis da Média e da Babilônia. Com a queda de Nínive, a cidade da Babilônia tornou a projetar-se, formando o Segundo Império Babilônico. Abriu-se uma época de desenvolvimento cultural e comercial para a Babilônia, que terminou em 539 a.C. com a ocupação da Mesopotâmia pelos persas.

A religião e a arte na Mesopotâmia

As divindades mesopotâmicas eram concebidas como seres bons e imortais,

superiores ao homem pela inteligência e poder. Entre o homem e deus, havia um

abismo intransponível: apenas o sacerdote podia interceder pelos homens, através de

preces, junto às divindades. A vida era orientada com base no temor aos deuses e

no respeito à justiça. Assim, quando alguém não cumpria seus deveres, caía em

pecado e a punição manifestava-se, geralmente sob a forma de doenças e dores

físicas. Contudo, se o mal não proviesse da cólera divina, mas sim de espíritos maus,

o doente podia recorrer, além do médico e do sacerdote, a um curandeiro.

(Pazuzu,demônio assírio da febre, estatueta de bronze

do século VII a.C. Dessas figuras assírio babilônicas

provêm as representações judaico-cristãs do diabo.).

A literatura sofreu fortes influências dos

valores dominantes na sociedade. A poesia,

por exemplo, não foi além de uma exaltação

das crenças religiosas e dos sistemas

políticos e elas ligadas. Os hinos e preces

serviam, basicamente, de formas solenes para

celebrar o poderio e o espírito de justiça dos

soberanos. Os poemas épicos tratavam, quase

sempre, das relações entre os deuses e os

homens.

Entre os numerosos escritos

mesopotâmicos que vieram à luz está “A

epopéia de Gilgamesh” e o “Poema da

Criação”. Este último relata como, a partir do

caos original e após terríveis conflitos, tinha-se

gerado o cosmo por obra de um deus –

Marduk para os babilônios e Assur para os

assírios.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

69

(Touro alado de Khorsabad,com cabeça humana de 3,30m de altura ficava na entrada do palácio de Sargão II. Foi esculpido com cinco pernas para que pudesse ser visto de frente ou de lado. Escultura assíria do século VIII a.C.).

As Ciências A arquitetura da Mesopotâmia

empregou nos seus estágios iniciais

tijolos de barro cozido, maleáveis,

mas pouco resistentes, o que explica

o alto grau de desgaste das construções

encontradas. As obras mais

representativas da construção na

Mesopotâmia - os zigurates ou

templos em forma de torre - são da

época dos primeiros povos sumérios e

sua forma foi mantida sem alterações

pelos assírios. Na realidade, os

zigurates (pirâmides com degraus e

rampas laterais coroada por um

templo), tratava-se de edificações

superpostas que formavam um tipo de

torre de faces escalonadas, dividida em várias câmaras.

Detalhe da escadaria do zigurate de Ur

Utilizando como observatório às torres dos templos, os babilônios

desenvolveram a astronomia: determinaram os movimentos dos planetas e das

estrelas e criaram um aperfeiçoado calendário. Desenvolveram também a

astrologia, originando os signos do zodíaco. Na matemática, inventaram o sistema

sexagesimal e um sistema de pesos e medidas que permitia calcular o comprimento,

a superfície e o volume dos corpos. Fizeram também progressos na medicina,

descrevendo numerosas moléstias e os remédios a serem aplicados.

Mapa-múndi babilônico

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

70

O Egito é uma dádiva do Nilo. Frase de autoria do historiador grego Heródoto,

que explica que o regime de cheias do rio possibilitou um amplo desenvolvimento da civilização egípcia ao garantir as práticas agrícolas. Fato esse, só possibilitado pelo trabalho humano, tendo como exemplo, as grandes obras hidráulicas (canais de irrigação e diques).

A formação do Estado egípcio (5 000/3 000 a.C.)

O Egito está situado no nordeste da África, entre os desertos de Saara e da Núbia. É cortado pelo rio Nilo no sentido sul-norte, formando duas regiões distintas: o vale, estreita faixa de terra cultivável, apertada entre desertos, denominada alto Egito; o delta, em forma de leque, com maior extensão de terras aráveis, pastos e pântanos, denominado baixo Egito.

(Rio Nilo. VICENTINO, Cláudio. Viver a História. 1vol., 1ª ed., São Paulo: Scipione, 2002, p. 81).

Por volta do quinto milênio antes de Cristo, com o progressivo ressecamento do

Saara, o deserto avançou e a área de vegetação diminuiu. Os bandos de caçadores e

coletores de alimentos se fixaram às margens do Nilo. Iniciaram o cultivo de plantas

e a domesticação de animais favorecidos pelas inundações notavelmente regulares e

ricas em húmus do rio.

Os grupos humanos constituíam-se em clãs, que adotavam um animal ou uma

planta como entidade protetora o totem. A cerca de 4 000 a.C., as aldeias de

agricultores passaram a se agrupar, visando a um melhor aproveitamento das águas

do rio, formando os – nomos –, primeiras aglomerações urbanas. Desenvolveu-se

um trabalho coletivo de construção de reservatórios de água, canais de irrigação e

secamento de pântanos. A agricultura passou a gerar excedentes, utilizados nas

trocas entre os nomos. Os egípcios aproveitavam também a riqueza mineral da

região, extraindo granito, basalto e pedra calcárea das montanhas que margeiam o

vale.

Os nomos eram independentes entre si e dirigidos pelos nomarcas que

exerciam ao mesmo tempo a função de rei, juiz e chefe militar. Gradualmente, os

nomos foram se reunindo em dois reinos, um no delta, baixo Egito, e outro no vale,

alto Egito, que mais tarde irão constituir um só império.

Os antigos habitantes atribuíam a unificação do país, que ocorreu por volta de 3

000 a.C., a um personagem lendário, Menés, rei do baixo Egito, que teria

conquistado o alto Egito e formado um só reino com capital em Mênfis. Segundo a

HISTÓRIA GERAL Egito

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

71

crença, o responsável pela unificação era considerado sobre-humano, verdadeiro

deus a reinar sobre o alto e o baixo Egito e o primeiro – faraó – (rei-deus egípcio).

Período dinástico

Com a unificação dos nomos em um único estado, iniciou-se o período

dinástico da história do Egito, que se divide em três eras principais:

O Antigo Império (2700 e 2200 a.C.), foi à época em que o poder absoluto dos

faraós atingiu o auge, principalmente durante a IV dinastia, dos faraós Quéops,

Quéfren e Miquerinos, que mandaram construir as enormes pirâmides (sepulcros) da

planície de Gizé, perto da capital, Mênfis.

O Médio Império (2 000 a.C., a 1 700 a. C.), com capital em Tebas, foi uma

época de expansão territorial, de progressos técnicos nos canais de irrigação e de

exploração de minérios na região do Sinai. A mando do faraó Amenemá I, da XII

dinastia, foi construída uma grande represa para armazenamento das águas, que

ficou conhecida como lago Méris ou Faium. No período intermediário que se

seguiu, houve aumento do poder dos – nomarcas – rebelião de camponeses e

escravos e ocupação do delta pelos hicsos, povo de origem asiática, iniciando um

período que durou cerca de um século e meio.

O Novo Império começa com a expulsão dos hicsos por volta de 1 580 a.C., e

marcou o ponto culminante do país como potência política. Os faraós do Novo

Império, destacando-se Tutmés II e Ramsés II, deram início a uma política externa

expansionista, com a conquista da Núbia (ao sul), da Síria, da fenícia e da palestina,

formando um império que chegava até o Eufrates.

O faraó Amenófis IV foi responsável por uma reforma religiosa, adotando, para

o Egito, uma religião monoteísta. O deus único era Aton, representado pelo disco

solar. Amenófis IV construiu Aquetaton, que seria a nova capital de seu governo;

modificou para Aquenaton seu próprio nome.

Seguiu-se um período denominado Baixo Império, de sucessivas invasões por

povos estrangeiros: assírios (671 a.C.), persas (525 a.C.), macedônios (332 a.C.) e

romanos (30 a.C.) que liquidaram o império egípcio, uma civilização que perdurou

por cerca de 35 séculos (3.500 anos).

Economia do Egito antigo

O rio Nilo exerceu importância fundamental na economia do Egito, oferecendo

água e terra cultivável a uma região situada em pleno deserto. Mas era preciso

utilizar a inundação, distribuir a água eqüitativamente, aumentar a superfície irrigada

e drenar pântanos. Isso foi feito a partir dos nomos, num trabalho coletivo que

envolvia a população de várias aldeias.

A principal atividade econômica é a agricultura com a irrigação através de

canais e reservatórios. Fabricavam também o vidro, tecidos e papiro. Cultivavam

ainda uva, utilizada na fabricação do vinho.

O rio fornecia a alimentação, a maior parte da riqueza e determinava a

distribuição do trabalho das massas camponesas nas aldeias. Durante a inundação

(jul /out), com os campos alagados, os homens transportavam pedras para as obras

de construção dos faraós, escavavam poços e trabalhavam nas atividades artesanais.

Na vazante (nov / fev), com o reaparecimento da terra cultivável, captavam as águas

e semeavam. Com a estiagem (mar / jun), colhiam e debulhavam os cereais. A

alimentação era complementada pela pesca e pela caça realizada nos pântanos do

delta do Nilo.

As atividades artesanais, de artigos destinados ao consumo da população, eram

realizadas nas oficinas das aldeias. O artesanato de luxo, de consumo da aristocracia,

de alta especialização e qualificação excepcional, ourivesaria, metalurgia, fabricação

de vasos de pedra dura ou de alabastro, faiança, móveis, tecidos finos, concentrava-

se em oficinas mais importantes, pertencentes ao faraó e ao templo. A cidade de

Mênfis possuía a melhor metalurgia.

Os funcionários do faraó eram responsáveis pela circulação dos produtos entre

as diversas regiões do país e pela organização do trabalho de mineração e das

pedreiras, exploradas através de expedições ocasionais.

O faraó, através de seus funcionários, controlava diretamente todas as

atividades econômicas, proprietário que era das terras do Egito: planejava as obras

de irrigação, a construção de tempos, pirâmides e palácios; fiscalizava a produção

agrícola e artesanal; organizava o comércio e a exploração das minas; distribuía o

excedente; cobrava os impostos dos camponeses, usados para sustentar o estado. O

palácio e o tempo dos deuses eram o centro da acumulação da riqueza.

Page 24: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

72

Sociedade egípcia

A sociedade do Egito antigo encontrava-se dominada pelo faraó e por uma

aristocracia hereditária, formada pela família real, pelos altos sacerdotes,

funcionários e chefes militares. Constituíam a parte menor da população total do

Egito.

O faraó, cujo poder sem limites possuía uma forte base religiosa, era o

intermediário necessário entre seu povo e os deuses. Considerado o proprietário de

todo o Egito, suas funções consistiam em assegurar a ordem interna, dirigir a

economia, defender o país e cuidar da religião.

Os altos sacerdotes dedicavam todo seu tempo ao serviço pessoal dos deuses;

acumulavam grandes riquezas pelas doações reais e pela administração dos

bens do tempo; desfrutavam de privilégios, como a isenção de impostos, graças à

importância da religião para os antigos egípcios.

Dentre os mais altos cargos do governo, estavam o de Vizir (primeiro

ministro), o de tesoureiro-chefe, o de chefe da coleta de impostos, o de ministro das

obras públicas e de comandante do exército. Todos esses altos funcionários

prestavam obediências ao faraó. Também se destacavam os nomarcas –

governadores dos nomos – escolhidos pelo faraó dentre os descendentes dos clãs

mais importantes.

Numa situação social intermediária, encontravam-se os numerosos escribas e

funcionários inferiores (encarregados dos registros contábeis e administrativos, da

arrecadação de impostos, da fiscalização das obras públicas e do recenseamento da

população).

Os camponeses ou felás, analfabetos, trabalhavam as terras do faraó, dos

templos, dos altos funcionários e das aldeias. Forneciam ao estado rendimento

enorme, sob a forma de impostos -in natura - sobre suas safras e rebanhos, ficando

apenas com uma pequena parte do que produziam. Na época da cheia, eram

chamados a trabalhar compulsoriamente na construção de palácios, templos

túmulos e nas obras de irrigação. Eram também recrutados para servir no exército,

se necessário.

Abaixo dos camponeses, havia um pequeno número de escravos, geralmente

prisioneiros de guerra, forçados a trabalhar nas minas de ouro e cobre da Núbia, do

Sudão e do Sinai.

O estado egípcio era assim uma monarquia despótica, em que o faraó, com

poderes ilimitados, era considerado um deus. Para governar, apoiava-se num

grupo privilegiado de aristocratas (altos funcionários), (sacerdotes e militares) que

administravam o país. Os camponeses e artesãos estavam submetidos pelo estado a

um trabalho compulsório nos campos, nas oficinas, nas minas e nas obras públicas,

caracterizando a chamada servidão coletiva.

A religião egípcia

As raízes da religião egípcias encontram-se nas aldeias neolíticas, anteriores à

organização do estado. Como a maioria dos povos primitivos, os primeiros egípcios

tinham uma atitude de respeito em relação aos fenômenos da natureza - o sol, a

lua, o Nilo - e às características marcantes dos animais - a ferocidade do leão, a força

do crocodilo, etc. As primeiras divindades que surgiram eram quase sempre

representadas sob a forma de um animal. Os egípcios veneravam especialmente o

sol: deviam ter percebido que a vida depende dele e o adoravam sob vários nomes e

diversos cultos. À medida que foram aprendendo a dominar a natureza, passaram a

valorizar as qualidades humanas e o antropomorfismo – concepção dos deuses sob

a forma humana – apareceu na religião egípcia, algum tempo antes do advento da

primeira dinastia.

Os egípcios eram politeístas. Cada nomo possuía o seu próprio deus, – senhor

do lugar –, freqüentemente associado a um animal, enfeixando atribuições e poderes

diferentes. Apenas as cerimônias do culto, executadas pelos altos sacerdotes, eram

semelhantes para os diversos deuses. Quando uma cidade se tornava importante

politicamente, o deus local tendia a aumentar de prestígio e o seu culto crescia.

Assim ocorreu com o deus Ra de Heliópolis, o Ptah de mênfis, o Hórus-falcão do

delta, o Amon-ra de Tebas, o Ibis-tot de Hermópolis.

Page 25: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

73

(Capela funerária de Tutmósis III, representado fazendo oferendas a Amon-Rá. Fonte: História das

Civilizações. Volume I, Abril, São Paulo, p.09)

A religião influenciava profundamente a vida dos egípcios. Consideravam

que os menores detalhes de seu quotidiano e tudo que os cercava das cheias

previsíveis do Nilo à morte acidental de um animal dependia inteiramente da

disposição dos deuses.

Entre as principais crenças religiosas egípcias, sobressaiu-se a do deus sol, que

foi durante vinte séculos o culto oficial da monarquia faraônica. Ao lado dele, os

mitos mais importantes foram os de Osíris, Ísis e Hórus, favoritos da devoção

popular. Os cultos do sol e das demais divindades estavam vinculados à

importância da agricultura e das cheias do Nilo, das quais dependia a vida das

aldeias.

“O mito de Osíris: o deus Osíris era um grande rei, que sucedera a seu pai

Geb (a terra); de parceria com sua mulher; a deusa-mágica Ísis ensinou aos

homens a agricultura, inventou o pão, o vinho e a cerveja (elementos essenciais da

alimentação do povo egípcio), revelou-lhes a metalurgia. Mas seu irmão Tifão ou

Sete mata-o: afoga-o no Nilo, corta-o em pedaços, que espalha pelos canaviais.

Então Ísis procura, recolhe e reúne os membros esparsos refaz o corpo (como

múmia) e, usando da sua ciência mágica, ressuscita Osíris, que viverá agora

eternamente, mas no céu. Vingando-o, seu filho, o deus Hórus, combate e vence Seth

e sucede ao pai no trono do Egito. Dele recebem em herança este reino os reis

humanos -os faraós- que assim têm caráter divino. A significação do mito osiriano:

este mito, não só procura explicar a ascendência divina dos faraós, como,

sobretudo, exprime no drama de Osíris, ao mesmo tempo deus da vegetação e

divinização do Nilo, o mistério do nascimento das plantas e seus frutos, e depois o

da sua morte, quando, na mesma ocasião em que a cheia do Nilo acaba, o vento

ardente do deserto (sete ou Tifão) sopra, e as espigas de trigo ceifadas são batidas,

para se separar o grão, de que uma parte, pela sementeira, volta à terra sua

sepultura, quando o rio tiver outra vez fecundado o solo (tiver também

ressuscitado), para renascer em novas espigas...” (Freitas, G. de., op. cit. v. 1, p.

47/48)

(Osíris, sentado no trono. BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: Sociedade & cidadania. 1 vol., 1ª

ed., São Paulo: FTD, 2003, p. 138)

Page 26: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

74

A lenda de Osíris, que conta à morte e ressurreição do deus, está intimamente

ligada à vida política e sócio-econômica do Egito. Através dela, podemos obter

dados sobre a unificação do sul e do norte, o plantio do trigo, a importância do Nilo

e a origem do poder divino do faraó.

As crenças sobre a vida depois da morte fez dos túmulos egípcios,

principalmente as pirâmides, túmulos dos faraós, os mais ricos da história humana

em oferendas enterradas com os defuntos e em pinturas retratando a vida quotidiana.

A crença na ressurreição do corpo conservado gerou a prática da mumificação por processos muito desenvolvidos e até hoje não inteiramente conhecidos.

Enormes recursos e trabalhadores foram recrutados no Egito, na construção de

templos e pirâmides para perpetuar os faraós, suas realizações e feitos, mesmo

que isso significasse o trabalho compulsório de grande parte da população, não

beneficiária desses momentos. A cada ano, os sacerdotes realizavam cerimônias para

garantir à chegada da inundação, e o rei agradecia a colheita solenemente às

divindades adequadas. Os deuses eram consultados para solucionar problemas

políticos e burocráticos, bem como os de caráter familiar. A religião penetrava,

pois, em todos os aspectos da vida pública e privada dos antigos egípcios, tornando-se a base do poder do faraó (senhor da casa grande) e marcando

profundamente a sociedade, a política, a economia, a medicina, as letras e as artes.

Escrita, literatura, ciências e arquitetura

A escrita hieroglífica, inventada em fins do período pré-dinástico e

aperfeiçoada sob as primeiras dinastias, foi utilizada até o fim da antiguidade.

Consistia numa combinação de ideogramas (sinais que representam idéias) e

fonogramas (sinais que representam

sons). Deu origem a duas outras

escritas mais simplificadas e mais

próprias a serem grafadas no papiro:

o hierático e o demótico. A escrita

hieroglífica foi decifrada pelo

francês Champollion, em 1822.

(Hieroglíficos . BOULOS JUNIOR,

Alfredo. História: Sociedade & cidadania.

1 vol., 1ª ed., São Paulo: FTD, 2003, p.141)

Os textos egípcios que se conservaram são predominantes religiosos e

funerários - textos das pirâmides, textos dos sarcófagos, livro dos mortos (coletânea

de ensinamentos de como proceder na vida de além-túmulo e durante o julgamento

de Osíris), hinos a diversas divindades, inscrições que se referem aos mitos e rituais

divinos, além de romances, poesias líricas, sátiras, tratados técnicos, etc.

A ciência egípcia consistia em

conhecimentos práticos diversos como receitas

de medicamentos, fórmulas geométricas e

trigonométricas para a agrimensura ou para a

construção. A numeração era decimal, mas não

usavam o zero; conheciam a soma e a subtração. O

calendário, ao mesmo tempo solar e lunar,

estabeleceu-se cedo, através da observação da

coincidência eventual do aparecimento conjunto

do sol e da estrela sírius. Os médicos egípcios

eram famosos na antiguidade e a prática da

mumificação levou a uma acumulação de

conhecimentos sobre anatomia. Não obstante, a

medicina, a astronomia e os outros ramos da

ciência estavam profundamente penetrados de

magia e de religião.

(Ramés II. Fonte:

http://www.civilisations.ca/civil/egypt/images/intro7b.jpg)

Page 27: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

75

A arte egípcia preocupou-se em expressar a riqueza e o poder dos governantes, destacando-se a arquitetura monumental, a decoração de templos e túmulos com relevos, pinturas e estátuas, a confecção de vasos de pedra e a ourivesaria.

(A Esfinge. Fonte: http://www.civilisations.ca/civil/egypt/images/intro1b.jpg)

A arquitetura era sólida, de proporções colossais, tentando expressar toda

a força e poder da monarquia. Os exemplos mais conhecidos são as pirâmides

(características do antigo império), destacando-se as dos faraós Quéops, Quéfren e

Miquerinos; a esfinge, gigantesca estátua com corpo de leão e cabeça humana, cuja

construção é atribuída a Quéfren; os templos de Luxor e de Carnac, erguidos no

novo império. Além das pirâmides, a arquitetura funerária criou outros tipos de

túmulos: as mastabas, de forma trapezoidal e os hipogeus, tumbas subterrâneas

cavadas nas montanhas.

Page 28: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

76

Os Fenícios

Enquanto os povos semitas e Ários brigavam pelo domínio da Mesopotâmia, o mar Mediterrâneo era posse indiscutível de um povo de comerciantes que viviam numa estreita faixa de terra: os fenícios.Esse povo levou adiante a façanha de fazer

com que as diversas culturas do Oriente Médio se conhecessem . Os fenícios foram os grandes navegadores da Antiguidade, chegando até o Mediterrâneo ocidental e o Atlântico. Além disso, dizemos que eles ensinaram o mundo a ler, já que inventaram o alfabeto que usamos hoje. Localização e clima

Chamou-se Fenícia à antiga região que se estendia pelo território do que mais tarde seria o Líbano e por parte da Síria e da Palestina, habitada por um povo de artesãos, navegadores e comerciantes. Biblo (futura Jubayl), Sídon (Saída), Tiro (Sur), Bérito (Beirute) e Árado foram as suas cidades principais.

(A Fenícia. VICENTINO, Cláudio. Viver a História. 1vol., 1ª ed., São Paulo: Scipione, 2002, p. 130).

O clima da região é variado. Nos vales faz calor e nas montanhas faz frio. A

região é muito fértil por causa dos rios que a atravessam.Porém as terras férteis eram

poucas. Além disso, suas montanhas eram cobertas por florestas de cedros, cuja

madeira era usada para construir barcos.

O povo fenício

(Rotas de comércio dos fenícios. VICENTINO, Cláudio. Viver a História. 1vol., 1ª ed., São Paulo: Scipione, 2002, p. 132).

As civilizações da Palestina:

fenícios e hebreus

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

77

Os fenícios eram um povo semita que se estabeleceu na Síria por volta de 3000

a.C. Logo depois, fixaram-se na região dos montes Líbano e na costa do mar

Mediterrâneo.

Os fenícios foram o único povo que se dedicou exclusivamente ao comércio,

fazendo a ligação entre povos e culturas distantes e desconhecidas. Foram os

maiores navegantes e descobridores da Antiguidade.

Os fenícios nunca tiveram um país unificado. Sempre foram um grupo de

cidades confederadas, que se ajudavam , mas eram independentes. A cidade mais

forte liderava as demais, embora as cidades mais fracas mantivessem muita

autonomia.

Várias cidades se sucederam nessa liderança. As principais foram:

• Biblos (2500 a.C. -1600 a.C.), cidade que comercializava papiros do Egito.Os

gregos chamavam esses papiros de “biblos”, o que deu origem a palavra “livro”;

• Sidon (1600 a.C. -1300 a.C.) e Tiro (1200 a.C. -900 a.C.), de onde saíam os

grandes comerciantes, por mar e por terra.

Os fenícios foram o primeiro povo do Oriente Médio a fundar povoamentos e

mercados no norte da África e na Europa. Exemplos disso são Cartago, no norte da

África; Malta, no mar Mediterrâneo; Marselha, na França; e Sevilha, na Espanha.

Economia A Fenícia foi um dos países mais prósperos da antiguidade. Suas cidades

desenvolveram uma florescente indústria, que abastecia os mais distantes

mercados. Objetos de madeira talhada (cedro e pinho) e tecidos de lã, algodão e

linho tingidos com a famosa púrpura de Tiro, extraída de um molusco, foram às

manufaturas fenícias de maior prestígio e difusão. Também eram muito procurados

os objetos de metal; o cobre, obtido em Chipre, o ouro, a prata e o bronze foram os

mais utilizados, em objetos santuários e em jóias de alto valor. Os trabalhos em

marfim alcançaram grande perfeição técnica na forma de pentes, estojos e estatuetas.

Os fenícios descobriram ainda a técnica de fabricação do vidro e aperfeiçoaram-na

para confeccionar belos objetos.

(Moeda fenícia de prata, com imagens de navio e hipocampo. Os fenícios, povo semita, criaram uma das grandes civilizações da antiguidade).

O comércio se fez principalmente pelo mar, já que o transporte terrestre de

grandes carregamentos era dificílimo. Essa exigência contribuiu para desenvolver a

habilidade dos fenícios como construtores navais e os transformou em hábeis

navegadores.

A decadência (701 a.C.-333 a.C.)

Quando os impérios da Mesopotâmia se consolidaram, os fenícios começaram a

participar de alianças militares. Nesse momento começou a decadência. Tiro foi

saqueada em 701 a.C. pelos assírios e em 574 a.C. pelos caldeus, que a destruíram

totalmente. As demais cidades se tornaram dependentes do império persa até que

foram dominadas pelo exército de Alexandre Magno, em 333 a.C.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

78

(Ruínas da cidade de Tiro. O atual Líbano.)

Organização política e a sociedade A história dos fenícios se confunde com a história dos demais povos do Oriente

Médio.

O governo dos fenícios não era igual em todas as cidades. Em alguns casos, era

exercido por um rei, hereditário ou eleito. Em outros, era exercido por um conselho

supremo. Apesar da existência do rei ou do conselho, quem governava de fato era

uma assembléia que reunia os comerciantes mais importantes da cidade. Ao

contrário dos demais povos do Oriente Médio, os sacerdotes e os militares não

tinham papel muito importante na sociedade fenícia.

A sociedade fenícia tinha também uma camada de homens livres, que eram

pescadores, artesãos e agricultores. Tinham também escravos. Os fenícios foram o

primeiro povo a produzir mercadorias em grande quantidade. Eles organizaram as

primeiras “manufaturas”, por assim dizer, nas quais aplicavam os avanços que

tinham aprendido com outros povos.

A religião Os fenícios acreditavam em muitos deuses: eram politeístas. Adoravam os

astros e as forças da natureza. Cada cidade tinha seus deuses particulares, mas todas

adoravam o Sol e a Lua. A religião era semelhante à de outros povos do Oriente

Médio, embora também apresentasse características e influências de religiões e

crenças de outras áreas como o mar Egeu, o Egito e mais tarde a Grécia, em

conseqüência dos contatos comerciais.

A religiosidade se baseava no culto às forças naturais divinizadas. A divindade

principal era El, adorado junto com sua companheira e mãe, Asherat ou Elat, deusa

do mar. Desses dois descendiam outros, como Baal, deus das montanhas e da chuva,

e Astarte ou Astar, deusa da fertilidade, chamada Tanit nas colônias do

Mediterrâneo ocidental, como Cartago. As cidades fenícias tinham ainda divindades

particulares; Melqart foi o deus de Tiro, de onde seu culto, com a expansão

marítima, passou ao Ocidente, concretamente a Cartago e Gades.

Entre os rituais fenícios mais praticados tiveram papel essencial os sacrifícios

de animais, mas também os humanos, principalmente crianças. Em geral os templos,

normalmente divididos em três espaços, eram edificados em áreas abertas dentro das

cidades. Havia ainda pequenas capelas, altares ao ar livre e santuários com estelas

decoradas em relevo. Os sacerdotes e sacerdotisas freqüentemente herdavam da

família o ofício sagrado. Os próprios monarcas fenícios, homens ou mulheres,

exerciam o sacerdócio, para o que se requeria um estudo profundo da tradição.

As ciências e as artes Os fenícios não criaram nenhuma arte própria, pois imitavam tudo aquilo que

os demais povos faziam. Mas eles aperfeiçoaram muitas das descobertas de outros

povos.

Os fenícios aperfeiçoaram a técnica da produção de vidro, inventada pelos

egípcios, e aprenderam a tingir tecidos com os caldeus. Foram também grandes

armadores de barcos. Sua frota foi a mais poderosa do mundo antigo. Além disso,

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

79

especializaram-se na produção de armas de ferro e de bronze. As jóias e os perfumes

feitos pelos fenícios eram muito conhecidos.

Os fenícios também desenvolveram a geografia e a astronomia, que facilitavam

a navegação e o reconhecimento das terras distantes. Eles chegaram até o oceano

Atlântico. Desenvolveram, também, a geometria e o desenho, que aplicavam a

construção de barcos.

A principal conquista dos fenícios foi o alfabeto. Eles adotaram os hieróglifos

egípcios, mas logo os simplificaram: o comércio exigia uma forma mais eficiente de

anotar as coisas. Partindo daí, criaram 22 desenhos que tinham sons diferentes. Foi

assim que nasceu o alfabeto que usamos hoje.

A arte fenícia constituiu um sincretismo de elementos egípcios, egeus,

micênicos, mesopotâmicos, gregos e de outros povos, e tinha um caráter

essencialmente utilitário e comercial. A difusão dos objetos fenícios pelo

Mediterrâneo contribuiu para estender as influências orientalizantes à arte dos

gregos, dos etruscos, dos iberos e outros. A peça mais destacada da escultura fenícia

é o sarcófago de Ahiram, encontrado em Biblo, cuja decoração apresenta motivos

talhados em relevo.

Os Hebreus

“Seres em movimento, homens em marcha, atravessadores de fronteiras”

A Palestina dos hebreus Outro povo muito importante para a formação do mundo cristão ocidental foi

os hebreus, que viveram na Palestina. O território da Palestina formava um estreito

corredor que unia os impérios da Mesopotâmia e do Egito. Foi lá que nasceu Jesus

Cristo. Atualmente, o território da antiga Palestina é ocupado por Israel.

A Palestina é a “terra prometida” dos hebreus, um povo semita que se

estabeleceu lá. A moral e a ética dos hebreus foram o seu principal legado. Elas

serviram de base para o judaísmo e o cristianismo, duas das principais religiões do

mundo.

Esse povo que acreditava num só deus e que escreveu tudo aquilo que lhe aconteceu

nos livros que depois foram incorporados a Bíblia, como Antigo Testamento.

Localização e clima A Palestina ficava entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo. Apesar de ser um

território pouco extenso, a Palestina era formada por três regiões geográficas:

• A região norte, a Galiléia, era formada por colinas cobertas de vegetação;

• A região central, Samaria, era menos fértil do que a Galiléia, apesar de

entrecortada por muitos vales;

• O sul, a Judéia, era uma região árida e montanhosa.

O rio Jordão é o único que atravessa toda a Palestina. Ele nasce nos montes da

Fenícia, percorre 220 quilômetros e desemboca no mar Morto, que é tão salgado que

nada pode viver nele.

A Palestina é hoje uma região semidesértica. Mas, antigamente, ela recebia

mais chuvas e era um lugar muito próspero, com vales e bosques. Era essa a “terra

prometida” que o povo hebreu tanto procurou.

A luta pela Palestina Por volta de 3000 a.C., a tribo dos cananeus, de origem semita, chegou ao rio

Jordão. É por isso que a região é conhecida como “terras de Canaã”. Por volta de

1500 a.C., a região foi invadida pelos filisteus, tribos de ários que vieram da ilha de

Creta. Os filisteus deram o nome à região, que passou a se chamar Filistina

(Palestina).

Em 1400 a.C., a tribo semita dos hebreus conquistou os cananeus e os filisteus

e lá estabeleceu um reino. O Antigo Testamento da Bíblia, o livro sagrado dos

hebreus, conta toda a história dos hebreus com detalhes.

O povo de Deus (1800 a.C. - 1700 a.C.)

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

80

Por volta de 1800 a.C., os semitas saídos da Arábia subiram o rio Eufrates e se

fixaram ao norte da Assíria. Naquela época, os hebreus eram pastores nômades e

adoravam muitos deuses e ídolos. Os juízes e sacerdotes ditavam as regras do clã.

A Bíblia conta que Deus escolheu Abraão para ser o pai de um

povo(Patriarca) , por meio do qual viria a salvação do mundo. Mas para que isso

acontecesse Abraão deveria abandonar os outros deuses e ídolos, e acreditar num

único deus. Além disso, Abraão deveria ir ao lugar que um dia seria de seus filhos e

netos.

Abraão acreditou na palavra de Deus, queimou os ídolos e partiu com a mulher

e um sobrinho em direção a Canaã. Deus apareceu novamente, para propor a mesma

coisa ao filho e ao neto de Abraão.

Jacó, o neto de Abraão, teve doze filhos que formaram doze famílias.José, o

penúltimo filho de Jacó, foi vendido por seus irmãos invejosos a um comerciante

egípcio. Apesar disso, Deus protegeu José e o tornou um assessor do faraó. José

perdoou seus irmãos e os levou para o Egito, por volta de 1700 a.C.

O cativeiro no Egito (1700 a.C. - 1280 a.C.)

Quando o Egito foi invadido pelos hicsos, que também eram semitas, os

hebreus se tornaram seus protegidos. Mas quando os egípcios se livraram dos hicsos,

escravizaram os hebreus.

Em 1280 a.C., os egípcios mataram todos os filhos dos hebreus para evitar que

eles se tornassem mais numerosos. Moisés se encarregou de salvar o povo.Ele os

guiou numa fuga que a Bíblia chama de Êxodo.

(A trajetória dos hebreus. BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: Sociedade & cidadania. 1 vol., 1ª ed.,

São Paulo: FTD, 2003, p. 155)

No caminho de volta à “terra prometida”, quando os hebreus atravessavam o

deserto do Sinai, fez-se um novo pacto. Conforme esse pacto, Deus protegeria o

povo hebreu se este o obedecesse. Foi nessa ocasião que Moisés recebeu os dez

mandamentos.

Os hebreus não acreditaram na palavra de Deus, e, por terem desconfiado,

ficaram vagando no deserto durante quarenta anos. Finalmente, Moisés os levou à

terra prometida e, ao chegar, morreu.

Josué, o sucessor de Moisés, liderou os hebreus que conquistaram a Palestina,

dividindo-a em doze tribos. A partir desse momento, os hebreus se tornaram

sedentários e começaram a cultivar o solo.

A monarquia (1044 a.C. -721 a.C.)

A luta contra os filisteus e os cananeus unificou as doze tribos dos hebreus. Os

juízes patriarcas sagraram o primeiro rei de Israel, Saul, em 1044 a.C.

Seu filho, Davi, assumiu o trono de Israel em 995 a.C. Davi matara o temível

gigante filisteu Golias. Como a unção de Davi como rei dos hebreus, iniciou-se uma

fase marcada pelo expansionismo militar e pela prosperidade, Durante esse reinado,

foi escolhida Jerusalém para capital do Estado, o que simbolizou a unificação das

tribos localizadas no norte e no sul da palestina.

Salomão, o filho de Davi, reinou de 966 a.C. a 933 a.C. Nesse reinado, os

hebreus viveram um período de paz e prosperidade. Salomão organizou o governo e

Page 33: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

81

fez uma aliança com a Fenícia, o que deu impulso ao desenvolvimento do comércio.

Além disso, construiu o Templo de Jerusalém, uma das sete maravilhas da

Antiguidade. No entanto, o fausto e a riqueza que marcaram seu governo exigiam o

constante aumento de impostos, que empobreciam mais e mais o trabalhador,

criando um clima de insatisfação no povo hebreu.

A decadência (721 a.C. -63 a.C.)

O sucessor de Salomão começou a cobrar muitos impostos. O resultado disso

foi o Cisma. O reino dos hebreus se dividiu em duas partes: Israel e Judéia.

(Reinos de Israel e Judá. BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: Sociedade & cidadania. 1 vol., 1ª

ed., São Paulo: FTD, 2003, p. 158)

Ao norte foi formado o reino de Israel, composto de 10 tribos que, após

disputas internas, chegaram a um acordo em 878 a.C., com a escolha de Omri para

rei. Apesar de a veneração a Iavé persistir, foi introduzido o culto a vários deuses.

O culto e o fausto da corte pesavam sobre os camponeses, que pagavam

impostos sempre maiores. O movimento profético ganhou força. O profeta Elias, por

exemplo, defendia as aspirações do campesinato pobre e liderava a oposição à

dinastia dos omridas.

Em 723-722 a.C., o rei assírio Sargão II invadiu Israel e destruiu a capital

Samaria. Concretizavam-se assim as profecias de Amós: Israel seria destruída por

um invasor. Israel tornou-se província assíria e grande parte de seus habitantes foi

transportada para a Mesopotâmia.

O reino de Judá, composto de duas tribos e com capital em Jerusalém,

permaneceu fiel ao monoteísmo. Em meados do século VII a.C., o rei Ezequias (725

a 697 a.C.) aliou-se ao Egito tentando evitar a invasão assíria; mesmo assim, grande

parte do território de Judá foi tomada pelos assírios. No reino da Judéia, por volta do

século VI a.C., os judeus tentaram se rebelar contra os caldeus, com a ajuda do

Egito, mas não conseguiram. Em 587 a.C., Nabucodonosor, o rei da Caldéia,

destruiu a cidade e o Templo de Jerusalém, e levou os judeus para serem escravos

em Babilônia.

Após cinqüenta anos de cativeiro, os persas derrotaram os caldeus, e os judeus

puderam voltar à Palestina. A liberdade relativa dos judeus terminou quando

Alexandre Magno, rei da Macedônia, os incorporou ao seu império em 330 a.C.

Em 63 a.C., o general romano Pompeu anexou a Palestina ao já extenso

Império Romano. Mas nem todos os hebreus ficaram na “terra prometida”. Muitos

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

82

se fixaram nas costas do mar Mediterrâneo, sobretudo na Europa. A dispersão dos

hebreus pelo Mediterrâneo é conhecida como diáspora.

Sionismo: retorno à Palestina no século XX que culminou com a criação do Estado

de Israel em 1948.

(O Estado de Israel. VICENTINO, Cláudio. Viver a História. 1vol., 1ª ed., São Paulo: Scipione, 2002, p.

129).

A sociedade e a cultura A sociedade dos hebreus era de tipo patriarcal. O homem tomava todas as decisões,

e a mulher e os filhos obedeciam. Enquanto foram nômades, as decisões de governo

eram tomadas pelos chefes de família. Quando se tornaram sedentários, o governo

era conduzido por um conselho de anciãos.

A monarquia dos hebreus também teve duas fases. Na primeira delas, com o

rei Davi, a monarquia se apoiava nos guerreiros. O rei Salomão, por sua vez,

governava com poder absoluto a monarquia de caráter religioso.

“Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo,

nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa

alguma que pertença ao teu próximo”. (Êxodo, 21, 17.)

Vê-se, pelo trecho acima, que a posição da mulher, nessa lista, fica bem clara:

ela pertencia ao homem, como o boi e o jumento, e, em matéria de importância

jurídica, estava apenas um pouco acima deles...

A religião A história do povo hebreu não pode ser dissociada da história de sua religião.

Há uma ligação tão íntima que se torna difícil falar separadamente de uma delas.

Nem sempre os hebreus foram monoteístas. No início de sua história, Iavé (Jeová)

era um deus entre muitos. Mas, como o desenvolvimento histórico, Iavé foi-se

sobrepondo às outras deidades. Os hebreus foram um dos primeiros povos a

sistematizar o monoteísmo.

A primeira codificação do iaveísmo foi feita por Moisés (Decálogo ou Dez

Mandamentos). Os profetas desempenha-ram importante papel na religião judaica:

reformadores religiosos, pobres, mantiveram o povo de Israel fiel ao culto de

Jeová. Os profetas mais importantes foram Elias, Oséias e Amós, no reino de Israel;

Isaías e Jeremias, no reino de Judá.

Depois dos séculos III e II a.C. começou a expectativa da vinda de um profeta

do mesmo porte de Moisés. Ele deveria ser um ungido e tornar-se o Messias, isto é,

aquele em que o povo acreditava que o salvaria. Estava nascendo o messianismo,

que resultou no cristianismo, uma vertente do judaísmo, que se espalhou por grande

parte do globo terrestre.

A Bíblia, que em grego quer dizer “os livros”, conta toda a história do povo

hebreu. Também contém um código de leis, o Torá, que regulamenta a família, as

riquezas, os contratos e as obrigações. A Bíblia foi também o legado sobre o qual os

cristãos construíram uma nova religião a partir da chegada de Jesus Cristo.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

83

As ciências e as artes A produção cultural hebraica está ligada com sua vida religiosa. Salomão

escreveu mais de 3000 provérbios, mais de um milhar de cânticos e emitiu opiniões

sobre Botânica e Zoologia. O legado cultural hebreu foi importante para a formação

de vários traços da cultura ocidental.

As artes não tiveram muito destaque na vida dos hebreus. A razão disso é que

sua religião não permitia que eles fizessem estátuas. O Templo de Jerusalém foi

construído pelos fenícios, por encomenda. No campo da literatura, entretanto, nos

legaram o Antigo Testamento, com seus 45 livros. Compuseram vários poemas A

produção cultural hebraica está ligada com sua vida religiosa. Salomão escreveu

mais de 3000 provérbios, mais de um milhar de cânticos e emitiu opiniões sobre

Botânicas e Zoologia. O legado cultural hebreu foi importante para a formação de

vários traços da cultura ocidental.

Os Salmos, de Davi. Várias festas religiosas: Páscoa, Tabernáculos e

Pentecostes.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

84

Em torno de 6000 a.C., tribos originárias da Ásia Central, pertencente a um grupo lingüístico comum chamado indo-europeu ou ariano, ocuparam a região do atual planalto do Irã. Sua população ampliou-se consideravelmente graças a novas e seguidas vagas migratórias por volta de 2000 a.C. Localização Geográfica Situada à leste da Mesopotâmia, esta área caracterizava-se pela baixa fertilidade do solo com quase um terço de seu território formado por desertos e

montanhas. A agricultura só era possível, na maior parte da região, com a utilização de técnicas de irrigação artificial. Os persas estavam separados das grandes civilizações da Mesopotâmia pelas Montanhas de Zagros. Em seu cume, o Império Persa esticou-se do Rio Indo através do Oriente Médio para a costa mediterrânea oriental, sul do Egito ao longo do Nilo até o Sudão, pela Anatólia e Macedônia.

(O Império Persa. BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: Sociedade & cidadania. 1 vol., 1ª ed., São

Paulo: FTD, 2003, p. 166)

No século VIII a.C., esses grupos achavam-se organizados em pequenos Estados, destacando-se os reinos dos medos, ao sul do mar Cáspio, e o dos persas, a leste do Golfo Pérsico.

Em meio às disputas e alianças com os vizinhos persas, o sucessor Ciáxeres acabou destronado por Ciro I, da Pérsia, completando a fusão ao novo Reino da Pérsia ou Aquemênida. Com Ciro I (559 a.C. – 529 a.C.), iniciou-se a dinastia

Aquemênida e um expansionismo territorial que levaria a civilização medo-persa a construir um enorme império. Ciro I conquistou a Lídia e colônias gregas da Ásia Menor e, a seguir, em 539 a.C., a Babilônia, libertando os judeus do cativeiro, permitindo seu regresso à Palestina (Esdras 1-1). Progressivamente a Fenícia, a Palestina e a Síria também se submeteram ao domínio persa, cujo império se estendeu da Ásia Menor a Costa Mediterrânica, no ocidente, à Índia, no oriente. O domínio de diferentes povos numa única administração era conseguido com uma política que respeitava as diferenças culturais e religiosas. Diferentemente de impérios anteriores conciliava interesses, permitindo uma autonomia política que disfarçava a sujeição econômica. Foi a hábil aliança do domínio persa com as elites locais dos povos integrados ao seu império que, justamente, originou o apelido o grande, dado ao imperador Ciro. Este, ao que parece, morreu em 529 a.C. devido a

ferimentos contraídos em guerra contra povos nômades da região do mar Cáspio. O sucessor de Ciro, o filho Cambises I (529 a.C. – 522 a.C.), continuou o expansionismo, empreendendo uma expedição persa sobre o Egito, conquistando-o na batalha de Pelusa, em 525 a.C.

Civilização Medo-Persa

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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(Ruínas Persas)

No Egito, o último faraó Psamético III foi feito prisioneiro e Cambises,

reconhecido como o rei sucessor, desenvolveu uma política sem a tolerância típica

da administração de seu pai. Com Cambises, impôs-se uma crescente centralização,

um despotismo político, tão comum aos reinos da Antiguidade oriental. Ao morrer,

sem deixar um filho herdeiro, foi sucedido por outro membro de sua família,

apoiado pela cúpula política constituída pelo Conselho Real, o conjunto de líderes

que representavam as tribos que, unidas, tinham dado origem ao Império Persa. Este

herdeiro era Dario I (512 a.C. – 484 a.C.), o soberano persa que levaria o império ao

seu apogeu e que foi considerado um administrador exemplar.

(Estátua de Dario I o Grande, rei da Pérsia)

A administração de Dario I

Dario I reforçou a diplomacia de respeito às tradições nacionais e religiosas

locais, além de estabelecer uma organização administrativa que dividiu o Império

Persa em vinte províncias, chamadas satrápias, as quais eram regidas por sátrapa

(governador) e obrigadas a pagar um imposto ao império de acordo com as posses e

riquezas da província.

Ao mesmo tempo, fixou tropas em cada satrápia cujo comando cabia

exclusivamente ao imperador, buscando evitar demasiada concentração de poder nas

mãos dos sátrapas. Para maior controle das províncias, Dario I criou um eficiente

sistema de correio e uma ampla rede de estradas que ligavam cidades-sedes de

governo (Susa, Pasárgada e Persépolis) às províncias. Além disso, o imperador

enviava anualmente os inspetores especiais, chamados de “olhos e ouvidos do rei”,

para ouvir as reclamações de governados e governantes.

Aprimorando a administração, Dario viabilizou os sistemas de impostos e

estimulou o intercâmbio comercial com a criação da moeda de ouro, o dárico,

transformada na primeira unidade monetária internacional confiável e aceita no

mundo antigo. Sob a autorização de Dario, continuava a existir o uso local das

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

86

tradicionais moedas de cobre e prata, cunhada pelos sátrapas, porém, sem a

importância da moeda imperial.

A garantia do enorme império estava no exército. O exército persa, antes

formado mediante recrutamento em tempo de guerra, foi reorganizado por Ciro e

depois por Dario, que criaram um exército profissional e permanente, só reforçado

por recrutamento geral em caso de guerra. A elite do exército profissional era

constituída pelos “dez mil imortais”, guerreiros persas ou medos, dos quais mil

integravam a guarda pessoal do imperador.

Declínio e fim

O apogeu do Império Persa foi em torno de 500 a.C., embora foram plantadas

as sementes de seu declínio mais cedo. Um problema que ocorria periodicamente era

a intriga da corte com as regras mal definidas para a sucessão. A morte de um rei

ativava freqüentemente uma briga pelo trono que esvaziava os cofres, a moral ficava

corroída e soltava as rédeas do controle das províncias. Gastos exuberantes

conduziam a inflação e aumento da taxa de impopularidade. Disputas nas

províncias, normalmente em cima de impostos, eram resolvidos freqüentemente pela

violência, criando um descontentamento crescente.

(As portas de Xerxes, restos de um dos períodos expansionistas de Persépolis)

Cinco dos seis reis que seguiram depois da morte de Xerxes em 464 a.C. eram

líderes fracos que só uniram o império pelos orçamentos. Os gregos e persas tinham

estado por muitos anos em conflito quando começou uma guerra entre as duas

culturas em 499 a.C. Os persas não derrotaram os gregos em 50 anos de guerra em

terra e mar apesar do que parecia ser uma força opressiva e com recursos

econômicos. Os gregos, vitoriosos, não eram imediatamente capazes de levar a

guerra para a Pérsia. Nas guerras seguintes Greco-Persas, os fracos reis persas

concentraram-se em manter suas frágeis fronteiras do império. Periodicamente

revoltas em províncias periféricas debilitaram a economia e exército. Antes que o

império pudesse dissolver-se interiormente, ele foi derrotado por Alexandre, o

Grande, em um curto período de tempo. Alexandre invadiu em 334 a.C., tomando a

Lídia em 333 a.C, tomou o Egito em 332 a.C e se tornou o rei de Pérsia em 331 a.C.

Economia

A economia Persa inicialmente estava baseada em rebanhos pela terra ser pobre

para agricultura. Os persas atribuíram sua resistência ao estilo de vida escasso para o

qual eles tinham sido aclimados através das gerações. A aquisição súbita do Império

Mediano, Lídia, Babilônia, Egito e áreas ricas em ouro na Índia fez da Pérsia uma

potência na economia. Controlou as áreas agrícolas ricas da Mesopotâmia, os pastos

da Anatólia, as rotas de comércio e depósitos ricos de metais e outros recursos.

O Grande Rei Dário instituiu muitas inovações econômicas e reformas:

tributação sistematizada; pesos, medidas e unidades padronizadas, monetárias (o

primeiro uso difundido próspero de moedas); melhorou as rotas de transporte, navios

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

87

de comércio; auxílio à agricultura; um sistema bancário e promoção do comércio

internacional.

Cultura e Religião

Pelo fator de ter dominado diferentes civilizações, os persas mais sofreram

influências dos dominados do que os influenciaram. Seus palácios e monumentos

lembram, quase sempre, as obras dos assírios e babilônicos. Sua escrita era derivada

da cuneiforme mesopotâmica. Executaram grandes obras da engenharia, como o

canal que ligava o mar vermelho ao Mediterrâneo (atual Suez).

(Baixo relevo de guerreiros persas - Persépolis.) Foi na religião, entretanto que os persas demonstraram certa originalidade. Primitivamente adoravam o Sol, a Lua e a Terra; até que Zoroastro (ou Zaratustra) reorganizou a religião, sofisticando-a. O deus maior era Ormuz, deus do bem, que se opunha a Arimã, deus do mal. Os homens tinham liberdade para escolher um

dos deuses. Os que fossem bons e honestos, após a morte seriam enviados para o paraíso. Acreditavam na vinda de um Messias, na ressurreição dos mortos e no julgamento final. “Os seguidores do zoroastrismo achavam que somente a alma era importante e desprezavam tanto o corpo que não viam problema em largar um cadáver para ser devorado pelos urubus”. A luta entre o bem e o mal era a essência da religião de Zoroastro, que ficou conhecida como masdeísmo, fusão entre as crenças populares e os ensinamentos

de Zoroastro. Essa religião baseava-se na sinceridade entre as pessoas e foi transcrita no livro sagrado Avesta. O imperador era quase um deus, pois, segundo

a crença, governava por ordem de deus.

Page 40: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

88

A Grécia constituiu uma civilização cuja influência foi profunda, na formação da cultura ocidental. Da Grécia antiga herdamos não só uma extensa gama de conhecimentos científicos, desenvolvidos por pensadores como Pitágoras, Eratóstenes, Euclides, Tales, Arquimedes, como também os grandes fundamentos do pensamento filosófico e político presentes nas obras de Sócrates, Platão, Aristóteles e outros. Também nossos padrões estéticos de arte e beleza foram herdados dos gregos, influenciados por sua escultura, arquitetura e teatro. As origens da civilização grega estão profundamente relacionadas à história de Creta, que viveu o processo de ascensão e queda de sua civilização entre 2000 a.C. e 1400 a.C. A privilegiada situação geográfica de Creta, a maior ilha do mar Egeu, favoreceu os contatos marítimos com o Egito, a Grécia e a Ásia Menor, regiões com as quais desenvolveu intenso comércio. Até o século XV a.C., Creta exerceu a mais completa hegemonia comercial sobre essa região do Mediterrâneo, estendendo seus domínios à Grécia continental, onde conquistou várias cidades. As características desta civilização lembram, em suas estruturas, a antiguidade oriental. Em Creta, dado o enorme desenvolvimento das práticas comerciais, o controle político concentrava-se nas mãos de uma elite comercial (talassocracia), liderada por reis, descendentes dos lendários Minos. A cidade de Cnossos era a

capital do reino, a qual, na época de seu apogeu, chegou a contar com uma população de mais de cem mil habitantes. As cidades cretenses, segundo as investigações arqueológicas, apresentavam um singular talento arquitetônico, com grandes palácios e edifícios dotados de complexos sistemas de saneamento e canalização de água. A amplitude do palácio governamental de Cnossos, com suas inúmeras dependências e a decoração, sugeriam a idéia de um verdadeiro labirinto. Em Creta, sabe-se que a mulher desfrutava de direitos e obrigações quase desconhecidos em outras regiões na antiguidade. As mulheres cretenses possuíam uma importância que transparecia na religião, cuja principal divindade era feminina, a deusa Grande-Mãe.

Isto faz supor que, na ilha, sobrevivesse uma forte influência das sociedades matriarcais pré-históricas. As mulheres participavam das grandes festas e das cerimônias religiosas, muitas eram sacerdotisas, outras fiandeiras e até pugilistas, caçadoras e toureiras. Em meados do século XV a.C., os aqueus – povo que habitava nessa época a

Grécia Continental – invadiram Creta, dando início à civilização creto-micênica, cujos representantes se espalhariam pelo mar Egeu dominando-o até o século XIII a.C.

Embora fundada por aqueus, a cidade de Micenas adotou muitos valores

cretenses, especialmente os artísticos, apesar de impor a supremacia patriarcal,

iniciando a transição para o mundo grego. O predomínio de Micenas, que vencera

também sua rival, Tróia, duraria até o século XII a.C., quando a região foi invadida

pelos conquistadores gregos chamados dórios. Provavelmente, os primeiros povos a habitar a Grécia foram os pelasgos, ou pelágios. Ao que tudo indica, por volta de 2000 a.C., esses povos, organizados em

comunidades coletivistas, ocupavam a zona litorânea e mais alguns pontos isolados na Grécia continental. Foi aproximadamente nessa época que teve início, na Grécia, um grande período de invasões, que se prolongaria até 1200 a.C. Os povos invasores – indo-europeus provenientes das planícies euro-asiáticas – chegaram

em pequenos grupos, subjugando lentamente os pelasgos. Os primeiros indo-europeus que invadiram a Grécia foram os aqueus, e ali se

estabeleceram entre os anos 2.000 a.C. e 1.700 a.C. Foram eles os fundadores de Micenas, cidade que foi o berço da civilização creto-micênica. Entre 1700 a.C. e 1400 a.C., outros povos atingiram a Grécia: os eólios, que ocuparam a Tessália e outras regiões, e os jônios, que se fixaram na Ática, onde

posteriormente fundaram a cidade de Atenas. A partir de 1400 a.C., com a decadência da civilização cretense, Micenas viveu um período de grande

(Palácio de Cnossos)

A Civilização Grega

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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desenvolvimento, que terminaria por volta de 1200 a.C., quando se iniciaram as invasões dos dórios.

(Povoamento da Grécia. BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: Sociedade & cidadania. 1 vol., 1ª

ed., São Paulo: FTD, 2003, p. 215)

Os dórios – último povo indo-europeu a migrar para a Grécia – eram

essencialmente guerreiros. Ao que parece, foram eles os responsáveis pela

destruição da civilização micênica e pelo conseqüente deslocamento de grupos

humanos da Grécia continental para diversas ilhas do Egeu e para a costa da Ásia

Menor. Esse processo de dispersão é conhecido pelo nome de primeira diáspora.

Após o esplendor da civilização micênica, segui-se um período em que as

cidades foram saqueadas, a escrita desapareceu a vida política e econômica

enfraqueceu, caracterizando um processo de regressão da Grécia a uma fase

primitiva e rural. Desse período (séculos XII a.C. a VIII a.C.), que foi a base da

civilização grega, não se tem registro, exceto os poemas Ilíada e Odisséia atribuídos

a Homero, que, tendo vivido no século VI a.C., teria recolhido histórias transmitidas

oralmente durante os séculos anteriores. Por essa razão, esse período, posterior à

invasão dórica, ficou conhecido como tempos homéricos. Em decorrência, o

período anterior a 1200 a.C., caracterizado pela imigração de povos indo-europeus e

pela formação da cultura creto-micênica, recebeu a denominação de tempos pré-

homéricos.

Período Homérico (1100 – 800 a.C.)

O período Homérico tem esse nome porque uma das fontes para o estudo da

história desse período está nas duas grandes epopéias escritas pelo poeta Homero, a

Ilíada e a Odisséia. Na Ilíada, Homero narra os dez últimos anos da Guerra de Ilíon,

no século IX a.C. Ilíon era chamada de Tróia pelos latinos e por isso o conflito ficou

conhecido pelo nome Guerra de Tróia. Na lenda, a guerra começou quando Paris,

filho do rei de Ilíon, raptou Helena, mulher de Agamenon, rei de Micenas.

A Odisséia conta as aventuras de Odisseu, rei da ilha de Ítaca, na sua volta para

casa, depois da guerra. Odisseu era conhecido entre os latinos pelo nome de Ulisses.

Na realidade, a guerra partiu de uma invasão organizada pelos aqueus contra a área

econômica centralizada na cidade de Tróia, perto da ligação do Mediterrâneo com o

mar Negro.

Depois da invasão dos dórios, a Grécia parte da população foi escravizada,

outra migrou para a Ásia Menor, onde constituiu as colônias. Este deslocamento da

população grega para a Ásia Menor foi denominado Primeira Colonização Grega

ou Diáspora. Outra conseqüência da invasão dos dórios foi à consolidação da

economia do tipo comunitário primitivo e do sistema de clãs. Isso não quer dizer,

que os dórios tenham apagado a Civilização Micênica. Se houve um retrocesso no

comércio, as forças produtivas avançaram devido à popularização dos utensílios de

Page 42: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

90

ferro. Esse metal permitiu desenvolver a agricultura, o artesanato e também a

atividade bélica. Com a invasão, não desapareceram completamente as técnicas

agrícolas e artesanais dos povos micênicos. Portanto o uso do ferro representou um

grande avanço no desenvolvimento das forças produtivas. Aos poucos o comércio

voltou a florescer. Surgiram cidades gregas, a escrita voltou a ser usada e

intensificou-se o contato entre a Grécia e a Ásia Menor. Por volta de 800 a.C., todo

o litoral da Ásia Menor era grego.

A formação social básica da Grécia do período Homérico foi o genos ou

comunidade gentílica. O genos era formado por um conjunto de indivíduos ligados

entre si por laços de nascimento e/ou religiosos. Julgavam descendente de um

antepassado comum. O geno era a unidade básica de produção, a economia

gentílica, agrícola e pastoril, baseava-se na propriedade comunitária da terra. A

sociedade era igualitária e se caracterizava pela inexistência de classes. A autoridade

política, baseada na religião e na tradição, era exercida pelo pater, o mais velho dos

membros dos genos. A economia rural (agrícola e pastoril) dos gregos homéricos era

do tipo natural, baseada na troca de produtos, não se utilizava a moeda como meio

de troca. Os bens comuns dos genos eram administrados pelo pater, que também

exercia funções militares, judiciárias e religiosas.

Por volta do século VIII a.C., teve início o processo de desintegração da

comunidade gentílica. A produção não acompanhou o crescimento demográfico,

levando à falta de alimentos, e as terras passaram a ser insuficientes para tantas

pessoas. O pater passou a dividir as terras, beneficiando seus parentes mais

próximos, dando-lhes as melhores porções. Isso resultou no surgimento da

propriedade privada e das classes sociais. Formou-se uma poderosa camada social, a

aristocracia rural. Alguns membros dos genos ficaram com terras menos férteis ou

sem terra nenhuma. Estes últimos não tiveram muita escolha. Alguns passaram a

trabalhar para a aristocracia, vários se dedicaram ao artesanato e ao comércio e,

outros ainda, abandonaram a Grécia.

(A colonização grega. BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: Sociedade & cidadania. 1 vol., 1ª ed.,

São Paulo: FTD, 2003, p. 220)

Page 43: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

91

O crescimento demográfico, a

busca de terras férteis e a

necessidade de alimentos foram

fatores que levaram os gregos a

buscar novas terras. Colonizaram

regiões do Mediterrâneo, norte do

mar Negro, Costa Asiática e norte

da África. Essa emigração grega

foi denominada de Segunda

Diáspora. As principais colônias

gregas foram: no mar Negro,

Bizâncio (hoje Istambul); na Ásia

Menor, na Península Itálica

(Magna Grécia) e na Península

Ibérica.

As colônias, apesar de

manterem vínculos com suas

metrópoles, possuíam uma certa

autonomia, considerando-se como

pertencentes à comunidade

helênica.Ao nível econômico, o

colonialismo provocou uma

expansão da agricultura, da

pecuária e do artesanato, tanto nas

colônias como a própria Grécia.

Houve um desenvolvimento comercial como resultado da abertura de novas rotas. A

Grécia importava alimentos e matérias-primas e exportava produtos elaborados

(vinho, azeite, cerâmica, etc.).

Período Arcaico

Por volta de -750 houve um substancial aumento da população, em grande parte

devido ao aumento do rendimento da atividade agrícola. Com a pressão

demográfica, entre outros fatores, muitos cidadãos deixaram suas cidades de origem

e fundaram numerosas apoikias („lares distantes‟, palavra incorretamente traduzida

por “colônias” nos livros tradicionais de História). Com isso, o modo de vida grego

se expandiu por toda a costa do Mediterrâneo e do Mar Negro.

O desenvolvimento do comércio, impulsionado em grande parte pela retomada

dos contatos com a Ásia Ocidental, e mais as numerosas guerras locais, criaram

novos estratos sociais. Com o tempo, a pressão sobre a classe dominante, a dos

grandes proprietários de terras, resultou em maior participação de toda a

comunidade na vida política da comunidade, e a pólis, cidade-estado influenciada

por modelos orientais, assumiu o formato definitivo.

Um florescimento cultural intenso acompanhou a prosperidade das póleis: mais

jogos pan-helênicos; estátuas de divindades e templos monumentais em pedra para

abrigá-las; os vasos de figuras negras e de figuras vermelhas; a poesia lírica; a

filosofia pré-socrática, para citar apenas os exemplos mais significativos.

No final do período, porém, uma guerra entre as cidades gregas independentes

e o poderoso Império Persa iria mudar, para sempre, a evolução política e cultural do

mundo grego.

Atenas Atenas localizava-se na Península da Ática, próxima ao porto do Pireu. Este

porto ligava a cidade-estado ao mar Egeu. A Ática, situada a sudeste da Grécia,

dividia-se em três regiões: a parália, o pédium e a diácria. A parália era a região

costeira próxima ao mar; o pédium era a planície formada por terras férteis; a

diácria era a região árida e montanhosa. Os atenienses descendiam dos antigos

jônios, indo-europeus que haviam povoado aquela região durante o período

Homérico. A proximidade de Atenas do mar Egeu abriu-a a influências externas,

facilitou sua participação no movimento de colonização e transformou-a numa

cidade-estado de navegadores e comerciantes.

(Fonte: VICENTINO, Cláudio. História Geral. Ed. atual. e ampl. São Paulo, Scipione, 1997. p. 67).

Page 44: Historia Geral - MÓDULO 1

MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

92

Atenas conheceu todas as formas de governo: monarquia, aristocracia,

oligarquia, tirania e democracia. Foram brilhantes também, suas realizações nas

artes, letras, ciências e filosofia. O regime democrático aliado ao desenvolvimento

intelectual fez daquela cidade-estado a “educadora da Hélade”. Se todos os cidadãos

participavam da democracia, nem todos em Atenas eram cidadãos. Aos estrangeiros,

as mulheres e os escravos estavam privados do direito de cidadania. Esta limitação

fez de Atenas uma democracia escravista, da qual participava apenas 10% de sua

população.

Nos primeiros tempos do Estado ateniense, o governo era exercido por um rei

(o basileu) que concentrava em suas mãos poderes político, religioso e militar. A

monarquia deixou de existir no início do século VII a.C., quando a aristocracia

assumiu a liderança política do Estado. O rei deixou de ser vitalício, passando a

reinar por dez anos, depois por um ano, até ser despojado de suas principais funções.

Os governantes em número de três, passaram a ser escolhidos nas famílias

aristocráticas. Os três governantes eram o basileu, que mantinha apenas suas

funções religiosas; o polemarca, que comandava as forças armadas; e o arconte,

representante do poder civil, que dirigia o poder executivo. A eles associaram-se,

mais tarde, seis arcontes subordinados, que eram os juízes e guardiões da lei. O

poder estava praticamente concentrado nas mãos do arconte e do polemarca. Os

arcontes que deixavam o cargo constituíam o Areópago. O crescimento demográfico e a expansão da economia ateniense provocavam insegurança nos pequenos proprietários, que pediam empréstimos aos eupátridas sempre que eram vítimas de más colheitas. De acordo com as tradições, quando não podiam saldar suas dívidas, restavam aos pequenos proprietários duas alternativas: empregar-se nas terras dos eupátridas, recebendo a sexta parte da colheita, ou quando o valor da propriedade não cobria o empréstimo, transformarem-se em escravos por dívidas.

Havia um clima de revolta na Grécia em geral e em Atenas em particular.

A sociedade ateniense Atenas era formada pelas seguintes camadas sociais:

• Eupátridas: os “bem nascidos”, camada aristocrática que detinha os

privilégios, constituída pelos grandes proprietários de terras férteis na planície. O

direito de primogenitura impedia a subdivisão das propriedades, cujo tamanho

tendia a aumentar; • Georgois: eram pequenos proprietários de terras pouco férteis localizadas

junto as montanhas. Sua situação tornou-se difícil com o desenvolvimento comercial, pois as importações de cereais faziam concorrência aos seus produtos. Nas épocas de colheitas ruins, esses agricultores viam-se obrigados a tomar empréstimos junto aos eupátridas, dando como penhor a própria terra. Muitos acabavam sem poder pagar o empréstimo, perdendo a propriedade ou a liberdade tornavam-se escravos; • Metecos: estrangeiros que se dedicavam em sua maioria ao comércio e ao

artesanato. Era uma classe rica, culta e respeitada. Mesmo assim, não obtinham direitos políticos nem podiam comprar terras. • Demiurgos: eram trabalhadores livres (artífices ou artesão) habitavam a

região litorânea; • Thetas: não possuíam terras. Eram trabalhadores assalariados. • Escravos: Alguns nascidos escravos, outros prisioneiros de guerra reduzidos

a escravidão.

As reformas políticas Surgiu, o Código de leis de Drácon, famoso pela sua severidade. Embora significasse um progresso, o Código draconiano não mitigou os sofrimentos e o desespero das massas. Ele apenas pôs no papel as leis conhecidas oralmente. A tensão tornou-se violenta e, a fim de ser evitada a guerra civil, os nobres e povo concordaram em confiar a Sólon a elaboração de uma nova organização política.

As reformas de Sólon (594 a.C.) A reforma de Sólon foi social e política. Aboliu as dívidas; pôs em liberdade os escravos por dividas; proibiu que a liberdade do devedor fosse garantis do pagamento; suprimiu as hipotecas sobre a terra. Não promoveu a redivisão da terra, mas limitou a extensão das grandes propriedades rurais e adotou medidas incentivando a indústria e o comércio. Na política manteve os órgãos governamentais existentes (arcontes e areópago), mas acrescentou dois novos corpos políticos: a Assembléia Popular (Eclésia) e o Conselho dos 400 (ou Bulé). A Eclésia elegia os arcontes e votava as leis. A Bule revisava e preparava as leis, a fim de serem apresentadas à Assembléia do Povo.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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Substituiu o critério de nascimento pelo de riqueza para o acesso aos cargos públicos, o que debilitou a nobreza e permitiu aos comerciantes maior participação no governo. Levando em consideração a riqueza dos cidadãos, Sólon redividiu em quatro classes a sociedade ateniense.

(Sólon à esquerda e Péricles à direita. GEOVANNI, Maria Cristina V. e Outros. História:

compreender para aprender. São Paulo, FTD, 1998. P. 128).

As reformas solonianas não tocaram no problema mais grave de Atenas, que

era o da concentração de terras em mãos de algumas famílias. O governo, na prática,

continuou na mão dos ricos.

A tirania de Psístrato (560 – 528 a.C.) Como as lutas sociais continuaram, houve condições para que um aristocrata

chamado Psístrato tomasse o poder e o governo de Atenas. Ele era apoiado por

forças populares e adversário da nobreza. Pisístrato instaurou uma nova forma de

governo chamada tirania. Era ilegal, pois não saia de eleições ou de outra maneira

que refletisse uma aprovação geral. Pisístrato tomou terras dos nobres que fugiram

quando ele assumiu o poder e distribuiu grande parte delas entre os pobres. Esse tipo

de ação ficou conhecida como demagógica, ou seja, feita para agradar os

despossuídos. Quando morreu, Pisístrato foi substituído por seu filho Hiparco. Ele

foi assassinado e sucedido por Hípias, que acabou por desistir e fugir para o Oriente.

O aperfeiçoamento da democracia (510 a.C.) Após a queda e fuga de Hípias, Clístenes de origem aristocrática, mas de tendências populares foi encarregado de revisar as leis de Sólon. E a modificou no sentido democrático.Aboliu a divisão por nascimento ou riqueza. Adotou um sistema exclusivamente territorial: A região da Ática foi dividida em três regiões ou distritos – o litoral, a polis e o interior. Cada distrito era dividido em dez tribos. Cada dez demos formava uma tribo.O demos era a menor unidade territorial da divisão feita por Clístenes. Nas tribos misturavam-se todos os atenienses, sem distinção de classes. Cada tribo escolhia 50 representantes para o Conselho dos Quinhentos (o antigo Conselho dos Quatrocentos); escolheu 10 arcontes, 1 por tribo. O direito de cidadania foi ampliado. No entanto os cidadãos eram minoria na sociedade ateniense, visto que os estrangeiros, as mulheres, as crianças e os escravos estavam impedidos de ter participação política. A fim de evitar a tirania, instituiu o ostracismo ou banimento. Quando alguém

fosse considerado perigoso, pelo seu prestígio ou influência, a Assembléia poderia bani-lo por 10 anos. Esse exílio não era considerado desonroso; tinha feição puramente política, sem perda dos bens, e com direito de ser reintegrado, depois, nos seus direitos civis. Com isso, Clístenes tentava evitar conspirações e ameaças à estabilidade. A consolidação da democracia ateniense levou muito tempo. Ela só viria no século V a.C., quando Péricles, um nobre de tendências populares, assumiu o poder. As reformas de Clístenes trouxeram a paz a Atenas: acabaram as revoluções e as guerras civis. O comércio e a industria floresceram. Iniciou-se uma era de grande prosperidade para Atenas. Logo mais, as Guerras Médicas revelariam a força militar e a capacidade política de Atenas, e a transformariam na mais poderosa e importante cidade do mundo grego. E o ateniense Péricles haveria de dar seu nome ao Século de Ouro.

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(Localização de Esparta. GEOVANNI, Maria Cristina V. e Outros. História: compreender para aprender. São Paulo, FTD, 1998. p. 127)

Esparta

O Estado de Esparta formou-se na região da Lacônia (ou Lacedemônia), ao sudeste do Peloponeso. Ocupava o vale do rio Eurotas e uma série de zonas montanhosas. O vale do Eurotas era próprio para a agricultura: fértil e protegido pelas montanhas.

Cercados por montanhas e sem saída para o mar, os habitantes de Esparta

viviam isolados, dedicando-se à agricultura e, principalmente, aos treinamentos

físicos e militares. Esparta foi “um campo entrincheirado natural, onde morou um

povo de soldados”. Ao que parece, os espartanos eram os descendentes dos

invasores dórios. Os conquistadores tinham subjugado e escravizado os aqueus.

Começou um novo tipo de vida, simples e rústico, sem os refinamentos da

civilização egéia. Regrediram todas as atividades intelectuais e espirituais, as artes e

as letras. Os povos escravizados, porém, não cessaram de revoltar-se contra os

dominadores. E sendo menos numerosos que os povos subjugados, os espartanos

deviam estar constantemente em armas, a fim de dominar as rebeliões e conservar

suas conquistas. Não puderam, portanto, dedicar-se à agricultura ou ao comércio –

atividades que consideravam degradantes; e que eram reservadas aos vencidos. Os

espartanos desprezavam o bem-estar pessoal, o conforto material e a cultura

intelectual, que na visão deles corrompiam as virtudes militares. Seu trabalho foi o

constante treinamento bélico. Seu ofício: a guerra.

O ideal espartano consistiu em organizar e manter uma comunidade militar,

onde todos os cidadãos por sentimento de disciplina e orgulho estivessem sempre

prontos e dispostos a sacrificar sua liberdade e sua vida, em prol dos interesses do

Estado. Os espartanos desenvolveram certas virtudes: a noção do dever e da

disciplina e o respeito ao passado.

A estrutura social espartana era rígida e dividia-se em:

• Espartanos ou espacíatas: Classe dominante, descendentes dos

conquistadores dórios, eram os únicos detentores da cidadania e, portanto, com

direitos políticos. Formavam uma classe privilegiada que monopolizava o poder

militar, político e o religioso. O Estado espartano, proprietário da terra cívica,

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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encarregava-se de sua manutenção. A terra cívica era dividida em lotes iguais,

chamados Kleros. Cada soldado recebia, para seu sustento, um lote e um

determinado número de hilotas encarregados de seu cultivo.

• Periecos: eram habitantes dos arredores da cidade, provavelmente

descendentes das populações nativas que se submeteram aos dórios. Livres,

possuíam terras, dedicavam-se ao comércio e ao artesanato, tarefas desprezadas

pelos espartanos.Pagavam tributos, serviam no exército (como tropas auxiliares) e

não tinham direitos políticos.

• Hilotas: eram servos pertencentes ao Estado, também conhecidos como

escravos públicos. Prováveis descendentes da população conquistada pelos dórios.

Não moravam em povoados, mas em choupanas isoladas. Eram cedidos aos

espartanos juntamente com a terra na qual trabalhavam e, por constituírem a maioria

da população, eram mantidos em obediência pelo terror.

Politicamente, Esparta era organizada de maneira a manter os privilégios da

camada dominante. “É importante frisar que toda constituição política de Esparta, assim como seu

sistema social, visava a manter os hilotas sob dominação. Toda a vida econômica de

Esparta assentava sobre a produção dos hilotas. Assim, a exploração desses

trabalhadores era a condição essencial para a sobrevivência da sociedade de Esparta.

Nada mais „natural‟, portanto, dentro da lógica da exploração escravista, do que

manter um regime social e político que visasse à segurança dos espartanos contra a

ameaça representada pela massa trabalhadora. Nesse sentido, Esparta procurou

tornar imutáveis suas leis (nomoi ), tornando-se um Estado conservador e

reacionário.” (AQUINO, Rubim Santos Leão de. & outros. História das sociedades.

1ª ed. Ao Livro Técnico. Rio de Janeiro, 1984).

Período Clássico (500 - 336 a.C.)

O Período Clássico foi o do apogeu da Grécia e, principalmente, da polis

ateniense. Floresceram o comércio, o artesanato e o escravismo. Para cada cidadão,

havia quatro escravos. Como não trabalhavam regularmente, os atenienses podiam

dedicar-se a cultura e as conquistas. O Período Clássico marcou também o declínio

da polis. Nesse período, ocorreram as Guerras Médicas ou Pérsicas, contra os persas,

e várias guerras internas, que envolveram as principais cidades-estados do país.

Também foi um período marcado pelo predomínio de algumas cidades-estados e de

política imperialista.

As Guerras Médicas

As “guerras médicas” foram uma série de conflitos bélicos entre as póleis

gregas e os persas, sucessores dos medos na Ásia, entre os anos -490 e -480.

Pressionada pelo crescimento demográfico na Grécia continental, a população

fundou várias colônias, da Anatólia e do Mar Negro à França, Espanha e Norte da

África. Os oriundos de Atenas fundaram as primeiras colônias na Anatólia, ajudados

pela Lídia. As cidades jônicas originaram-se do comércio no mar Negro. Os

habitantes das novas cidades da Ásia ou das margens do Mediterrâneo

consideravam-se gregos e mantinham laços com suas cidades de origem. No final do

século VII a.C., a cunhagem de moedas, que os gregos jônicos aprenderam com os

lídios, revolucionou o comércio. O século V a.C., foi a um só tempo infausto e

glorioso para a Grécia continental.

Os Persas invadiram por duas vezes o território grego, de forma devastadora.

Em 490 a.C. DarioI lançou uma força invasora, mas o exército ateniense rechaçou o

ataque, na Batalha de Maratona. A vitória foi importante por duas razões: mostrou

as perdas que os Hoplitas (soldados de infantaria com armadura pesada ou

fortemente armados) gregos foram capazes de impor aos persas e pôde ser usada

para fins de propaganda.

A segunda guerra greco-pérsica, dirigida por Xerxes, filho e sucessor de Dario

I, teve início com a expedição punitiva realizada dez anos depois, quando os persas

derrotaram os gregos no desfiladeiro das Termópilas e incendiaram a Acrópole.

Mesmo assim, Temístocles, comandante da frota ateniense, destruiu com as

trirremes gregas - naus dotadas de três pavimentos de remos e vela redonda - a frota

persa, em Salamina. Sem o apoio naval, o exército persa foi finalmente dizimado na

Batalha de Platéia, em 479 a.C., por uma confederação de cidades gregas.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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A Liga de Delos e a Guerra do Peloponeso Em 477 a.C., Atenas firmara com as cidades jônicas uma aliança, a Liga de

Delos, para protegê-las dos persas. No início, as cidades que faziam parte da liga

mantiveram sua autonomia, mas Atenas desde o primeiro momento assumiu a

direção militar e a administração dos recursos que os aliados haviam depositado no

templo de Apolo, em Delos. Ao afastar-se o perigo persa, a hegemonia ateniense

começou a ser discutida por algumas cidades, como Naxos e Tasos, que tentaram

sem êxito abandonar a liga; pelas cidades independentes, como Corinto, que se

sentiam ameaçadas; e pelas que faziam parte da Liga do Peloponeso, à frente das

quais estava

Esparta. Os choques entre Atenas e outras cidades se tornaram cada vez mais

freqüentes. A intervenção ateniense no conflito entre Corinto e Corcira (atual Corfu)

provocou, a pedido de Corinto a reunião da liga do Peloponeso, cujos membros

decidiram declarar guerra a Atenas. Os atenienses nada fizeram para evitá-la,

confiantes nas vultosas reservas de ouro, suficientes para financiar um longo

conflito, e na frota de navios, imensamente superior à dos peloponesos. Mas o

exército espartano era mais numeroso e estava mais bem preparado que o ateniense.

Começou assim uma guerra que se prolongaria por quase trinta anos, com resultados

desfavoráveis para ambos os lados.

(O mundo grego na guerra do Peloponeso. BOULOS JUNIOR, Alfredo. História: Sociedade &

cidadania. 1 vol., 1ª ed., São Paulo: FTD, 2003, p. 230)

Depois da guerra do Peloponeso instalou-se a hegemonia lacedemônia e

Esparta tentou impor o regime oligárquico em toda a Grécia. Descontente com o

acordo de paz e com o predomínio de Esparta, Tebas fez uma aliança com sua antiga

inimiga Atenas.

Em 379 a.C., dois tebanos, Pelópidas e Epaminondas, organizaram uma

conspiração contra a guarnição espartana da Cadméia (cidadela de Tebas), que

marcou o começo da decadência de Esparta. Ameaçados pelo avanço tebano, os

espartanos assinaram, em 374 a.C., um novo tratado de paz com Atenas: esta

reconhecia a supremacia espartana no Peloponeso, e Esparta, em troca, reconhecia a

segunda liga marítima ateniense.

Esparta, no entanto, quebrou o acordo e interveio contra Atenas mais uma vez

no oeste. Começou nessa época o apogeu da Thessalia e de Tebas, que

reorganizaram seus exércitos e

restauraram a Liga Beócia, o que motivou

a reaproximação entre Esparta e Atenas.

Na Batalha de Leuctras, em 371 a.C.,

Epaminondas, renovador da tática militar,

infligiu à infantaria espartana uma derrota

de que ela nunca mais se recuperou.

Depois da Batalha de Mantinéia (362

a.C.), em que os tebanos, apesar de terem

vencido os atenienses e espartanos,

perderam Epaminondas, assinou-se uma

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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paz pela qual nenhum estado conseguiu impor seu domínio. O equilíbrio alcançado

após Mantinéia se apoiava unicamente na exaustão a que tinham chegado

igualmente todos os estados gregos.

Com o desmoronamento definitivo dos sonhos e ambições hegemônicas de

Atenas, Esparta e Tebas, a Grécia ficou à mercê de um país do norte: a Macedônia.

A dissolução da liga ateniense ocorreu ao mesmo tempo em que a Macedônia

começava a ascender, liderada por Felipe II.

Período Helenístico (336 – 146 a.C.)

Enfraquecidas pelas lutas internas e externas, as polis gregas caíram sob a

dominação dos macedônicos, por volta da segunda metade do século IV a.C. Esses

vizinhos gregos habitavam o norte da Grécia e já haviam estado sob o domínio

oriental dos persas, por algum tempo.

A Macedônia é uma região montanhosa. Nos tempos antigos, não tinha saída

para o mar. A capital, chamada Péla, não passava de um povoado quando comparada

com uma cidade grande grega. Os macedônicos eram um povo aparentado aos

gregos, mas viviam isolados e desprezados pelas principais cidades gregas.

Depois de unificar o reino, Felipe II iniciou uma política de expansão cujo

primeiro objetivo foi proporcionar ao país uma saída para o mar. As cidades que

resistiram foram destruídas. A conquista das minas de ouro do Monte Pangeu

forneceu os recursos necessários para fazer da Macedônia uma potência.

O exército macedônico foi reorganizado por Felipe II, que o dotou da famosa

falange e de equipamentos de guerra. Atenas não se opôs ao avanço macedônico. Só

mais tarde o orador Demóstenes concitou os cidadãos atenienses a resistirem a

Felipe II, mas, juntamente com os tebanos, os atenienses foram derrotados na

decisiva Batalha de Queronéia, em 338 a.C. Felipe II uniu todas as cidades gregas,

com exceção de Esparta, e assumiu pessoalmente o comando da confederação, o que

na prática significou submeter a Grécia à Macedônia. Felipe II foi assassinado em

336 a.C., quando se preparava para realizar a conquista da Pérsia.

Seu filho e herdeiro, Alexandre o Grande, que tinha então vinte anos,

transformou em realidade esse ambicioso projeto. Toda a sociedade grega sofria

então as conseqüências de suas próprias guerras civis e dos confrontos com a

Macedônia. Alexandre o Grande se propôs unificar sob seu poder todo o mundo

civilizado. Entretanto, antes de iniciar suas campanhas contra a Pérsia precisava

assegurar o domínio sobre as cidades gregas. Primeiramente, conseguiu que a Liga

de Corinto o nomeasse comandante supremo dos gregos. Depois de submeter, em

335 a.C., os Trácios e Ilírios, que se haviam sublevado, voltou-se contra Tebas, que

também se rebelara e destruiu a cidade, matando ou escravizando todos os seus

habitantes. A Grécia comprovou a impossibilidade de opor-se a Alexandre, que pôde

então empreender suas conquistas na Ásia. Depois de confiar a Antípatro a regência

da Macedônia e o governo da Grécia, cruzou o Helesponto. Em 334 a.C., Alexandre

atravessou a Ásia, desafiou Dario III e chegou à Índia.

(O Império de Alexandre. VICENTINO, Cláudio. Viver a História. 1vol., 1ª ed., São Paulo: Scipione,

2002, p. 199).

Suas conquistas e seu projeto de construir uma ponte entre o oriente bárbaro e a

civilização grega constituíram a origem da chamada Civilização Helenística, que se

desenvolveu em grande parte da Ásia (Pérsia, Síria e Índia) e no Egito. Assim,

depois que a Grécia perdeu o poder e a independência política, sua língua e sua

cultura se tornaram universais.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

98

Alexandre concebeu o plano de um império que resultaria da união de gregos e

persas, mas morreu de febre na Babilônia, em 323 a.C. Liderados por Atenas, os

gregos se revoltaram nesse ano contra a Macedônia na chamada Guerra Lamiana,

mas tiveram de capitular depois da derrota de Amorgos e a Liga de Corinto foi

dissolvida.

O problema da sucessão de Alexandre arrastou o país a novas guerras. Por fim,

impuseram-se os Antigônidas na Macedônia, a Monarquia Selêucida no Oriente

e a Ptolomaica no Egito. Com isso, o império dividiu-se definitivamente, embora

os anseios de liberdade dos gregos os levassem ainda a novas guerras e coligações,

de êxito esporádico, até a intervenção final e a ocupação do território pelos romanos.

As primeiras relações dos romanos com as cidades gregas haviam sido

amistosas. Todavia, quando em 215 a.C. Felipe V da Macedônia aliou-se ao

cartaginês Aníbal, Roma resolveu intervir militarmente e obteve a vitória contra os

macedônios em Cinoscéfalas, no ano 197 a.C. Seguindo uma política de prudência,

Roma respeitou o reino macedônio e devolveu a autonomia às cidades gregas. A

partir de 146 a.C., porém, a Grécia ficou submetida definitivamente ao domínio da

República Romana, embora tenha continuado a manter a primazia espiritual sobre

o mundo antigo.

A religião grega A religião grega, cujas origens são múltiplas como as de todas as religiões,

apresenta, de início, um caráter acentuadamente totêmico, que se reflete no culto

pelas divindade animais. Vestígios do primitivo totem aparecem ainda nos tempos

históricos com os deuses de cauda de serpente com os animais que acompanham as

divindades antropomórficas, como a coruja de Atenéia e a águia de Zeus. Em

Delfos, que tanta influência iria ter, não sobre a vida religiosa, mas sobre a vida

política dos gregos, o antigo deus era representado por uma serpente e só mais tarde

assumiria a forma de Apolo. A divinização das forças da natureza, que encontram-se

em todas as religiões primitivas misturadas com prática de magia de caráter

imitativo, também é uma das características da antiga religião grega, e traduz-se no

culto da deusa-mãe, próprio de muitos outros povos, em que a terra primitivamente

virgem se torna fecunda pela ação das chuvas.

Os gigantes e os titãs antepassados dos homem que nascem desse conúbio mais

tarde serão escorraçados por Zeus, – deus de origem indo-ariana – o que nos faz

supor que essas formas primitivas do culto correspondem à população autóctone,

mais tarde vencida e dominada pelas tribos helênicas.

Os gregos adoravam vários deuses, e os representavam sob a forma humana.

Portanto, sua religião era politeísta e antropomórfica. Os deuses habitavam o monte

Olimpo. No monte Olimpo habitavam 15 deuses, são eles:

• Zeus - Deus do céu e Senhor do Olimpo;

• Héstia - Deusa do lar;

• Hades - Deus do mundo subterrâneo (inferno);

• Deméter - Deusa da agricultura;

• Hera - Deusa do casamento;

• Posêidon - Deus dos mares

• Ares - Deus da guerra;

• Atena - Deusa da inteligência e da sabedoria;

• Afrodite - Deusa do amor e da beleza;

• Dionísio - Deus do vinho, do prazer e da aventura;

• Apolo - Deus do Sol, das artes e da razão;

• Artemis - Deusa da Lua, da caça e da fecundidade animal;

• Hefestos - Deus do fogo;

• Hermes - Deus do comércio e das comunicações.

• Asclépio - Deus da medicina.

• As três Graças;

• As noves Musas;

• Eros;

• As Horas;

• As Morais.

O culto aos deuses era tão desenvolvido entre os gregos, que chegaram a erigir

soberbos templos as suas divindades, nos quais realizavam suas orações.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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Consideravam que os oráculos eram meios utilizados pelos deuses para se

comunicarem com eles.

Literatura

Pelo que diz respeito a literatura grega, há a considerar, uma grande obra: os

poemas homéricos.

De fato, eles são a obra comum de um povo cuja unidade espiritual, se começa

a formar, e será a mais forte, através da história, de todos os povos conhecidos.

E o seu valor não é especificamente literário. Contribuindo para a formação de

uma tradição mítica e de uma religião comum, eles estabeleceram definitivamente a

base histórica dessa unidade.

Mas logo a seguir, a literatura começou a individualizar-se e, no século VI, as

manifestações literárias de caráter pessoal já se multiplicavam por todo o mundo

grego. Esse fenômeno é particularmente evidente na poesia, que ensaia, com

felicidade, os seus primeiros vôos líricos e dramáticos.

A arquitetura e a escultura

A arquitetura e a escultura vão se desenvolvendo a par, seja no progresso

material, que se traduz pelo enriquecimento das cidades e das populações, seja no

progresso espiritual , que se revela nas instituições morais e políticas, na literatura e

na filosofia.

Por quase quatro séculos - do século VI ao III a.C. – a ordem dóricia

predominou na Grécia, Ásia Menor, Sicília e Itália meridional, criando belos

monumentos. Depois de atingir seu ápice, no Partenon de Atenas, mais ou menos no

terceiro século a ordem dórica começou a ser abandonada.

Templos baixos maciços, com colunas caneladas de capitel simples de frisos

com tríglifos e métopas alternados.

O estilo dórico mais simples, mas mais grandioso, combina-se com o jônico,

impregnado de influências orientais, com os seus graciosos capitéis cercados por

frisos esculpidos, cariátides ou motivos ornamentais como cenas descritivas, ou em

que a flor de loto predomina.

O que o dórico tem de sóbrio, o jônico tem de gracioso. O capitel jônico é

parecido com o tipo de penteado feminino então em moda na época, existindo

também certa semelhança entre a linha da coluna jônica e um traje de mulher, o

quintão.

A construção jônica, de dimensões maiores, se apoiava numa fileira dupla de

colunas, um pouco mais estilizadas, e apresentava igualmente um fuste acanelado e

uma base sólida. O capitel culminava em duas colunas graciosas, e os frisos eram

decorados em altos-relevos.

O Erecteion de Atenas, talvez o mais belo dos templos jônicos, levantando em

honra de um lendário herói ateniense chamado Erecteu, terminou sua construção em

406 a.C., estando localizado sobre a Acrópole da cidade.

Tirando a forma do capitel, os demais elementos da ordem coríntia são muito

parecidos com os da jônica, como, por exemplo, o fuste estriado, a coluna assentada

numa base e a arquitrave dividida em três partes. A coluna é um pouco mais esguia:

sua altura é igual a até 11 vezes o diâmetro. A ordem coríntia, por sua própria

natureza, exigia dos escultores muita habilidade para ornamentarem os capitéis com

duas ou três carreiras de folhas e volutas, estas últimas se enrolando acima das

folhas.

O templo de Olympeion de Atenas começou a ser construído em 170 a.C, e só

terminou muito tempo depois. Dedicado a Zeus Olímpico, foi o maior edifício

coríntio, restando apenas ruínas do templo.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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A arquitetura grega teve como mérito essencial o ter justificado e encorajado a

escultura, dado que o escultor tinha como principal função ornamentar as grandes

obras arquiteturais. Estas, mesmo no século V, confinavam-se aos edifícios públicos,

especialmente aos templos, vistos que as residências particulares conservam até a

época helenística a mesma configuração sóbria e modesta.

(Paternon)

Mas até nos templos as inovações não abundam. Os arquitetos gregos, mesmo

os maiores, que dirigiram a construção do Partenon, dos Propileus e do Erecteion, e

cujos nomes como o de Calícrates, Fílocles, Menesicles e Ictino passaram a

posteridade, não conseguiram resolver os problemas técnicos a que os obscuros

arquitetos medievais, iriam, entre o século X e o XIV, dar uma tão simples e

harmoniosa solução.

A pintura e a cerâmica

Da pintura grega, se é certo que chegaram até nos os nomes de Micon,

Polignoto e Panaínos, apenas se sabe, diretamente, que servia como decoração

interior dos templos, visto que desapareceram todas as suas composições.

(Pintura da Grécia antiga. VICENTINO, Cláudio. Viver a História. 1vol., 1ª ed., São Paulo:

Scipione, 2002, p. 215).

Pelo desenho dos vasos pode-se afirmar que ele revela um progresso nítido

sobre a pintura dos impérios antigos, embora esse progresso se refira exclusivamente

ao desenho e não à cor, que continua a ser basta e empastada.

Da cerâmica conservaram-se magníficos exemplares, alguns assinados por

Eufrônio, o mestre ceramista mais notável da antigüidade grega.

A ciência e a filosofia

Ciência e filosofia são, de começo, na Grécia, inseparáveis, e a sua cisão só se

virá a fazer – e dentro de certa medida – na época helenística, para se efetivar nos

tempos modernos, sem que, as ligações entre as duas se rompam inteiramente.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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Ciência, no seu sentido mais vasto, significa conhecimento, e assim parece

envolver a própria filosofia, que não é mais que uma tentativa permanente

desiludida, mais teimosamente persistente, de conhecimento total.

A filosofia grega foi fundada por Tales de Mileto e surgiu no século VI a.C.,

nas cidades da Ásia Menor. Ali desenvolveu a Escola de Mileto, cujos principais

representantes foram Anaxímenes e Anaximandro, discípulo de Tales. Da Ásia

Menor, a filosofia se estendeu para a Grécia continental, atingindo seu apogeu em

Atenas. Outro importante filósofo grego foi Pitágoras, que concebia o mundo

governado pelos números, aos quais atribuía qualidades mágicas.

Durante o século V a.C., surgiram os sofistas, que tinham o homem como

centro de suas especulações. Destaca-se Protágoras, que dizia: “O homem é a

medida de todas as coisas”.

No final do século V a.C., surgiu a Escola Socrática, fundamentada no

pensamento de Sócrates. Esse filósofo não deixou nada escrito. O que sabemos

sobre seu pensamento se deve aos seus discípulos, principalmente Platão.

A filosofia socrática tinha como base a moral. Entre os seus preceitos

filosóficos, podemos citar: “Conhece-te a ti mesmo” e “Só sei que nada sei”.

Sócrates dialogava com as pessoas, mostrando a elas as contradições de seus

conceitos, forçando-as a admitir a sua ignorância. A partir daí, novos conceitos

seriam formulados, sempre sujeitos a novas contestações. Esse é o método socrático.

Devido à suas críticas à política ateniense, Sócrates foi condenado à morte.

Platão, discípulo de Sócrates, considerava que a razão humana é capaz de

conhecer as idéias perfeitas (Bem, Beleza, Verdade, Justiça, etc.). Esse

conhecimento pode despertar no homem o desejo de possuí-las, alcançando, assim, a

plenitude humana.

Aristóteles, discípulo de Platão, considerava que, através da razão, o homem

pode obter um conhecimento verdadeiro do mundo. Mas, para isso, deve pensar

corretamente, e as normas para atingir esse objetivo estão contidas em sua obra, a

Lógica.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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Civilização Romana “Roma foi o último grande império do mundo antigo. Com exércitos poderosos,

dominou terras que antes pertenciam a gregos, egípcios, mesopotâmicos, persas e

muitos outros povos. Com quase 1 milhão de habitantes. Roma transformou-se na

maior cidade da Antiguidade. Para lá se dirigiam pessoas dos lugares mais distantes,

levando suas culturas”. (Piletti, 2002).

Em Roma como na Grécia predominou o trabalho escravo, no entanto a cultura

romana foi bastante influenciada pela cultura da helade, “costuma-se dizer que

Roma conquistou a Grécia pela força de suas armas, e a Grécia conquistou Roma

pela força de sua cultura”.

Por meio de conquistas militares, os romanos conseguiram dominar um vasto

império que englobava os mais diversos povos, dos quais assimilaram vários

elementos que influenciaram sua cultura. No entanto a cultura dos romanos foi

bastante original nos deixando um grande legado. Um exemplo disso é justamente o

Direito Romano, utilizado como referência para o sistema judiciário de todas as

sociedades ocidentais. Temos também vários idiomas que são derivados do latim,

como por exemplo, o italiano, o francês, o romeno e o português.

Quadro Geográfico A península Itálica possui relevo montanhoso que dificultava as comunicações

terrestres e isolava os grupos humanos. É cortada de norte a sul pelos montes

Apeninos que isolam o litoral ocidental do oriental. Ao norte, a cadeia dos Alpes

separa a península do resto da Europa. Ao contrário da Grécia, as condições naturais

das costas itálicas não incentivaram a navegação por ser desprovida de baías e

portos naturais. No entanto o litoral do Mar Tirreno é propício a navegação,

existindo baías, onde foi possível a construção de portos.

O solo da península Itálica é bastante fértil e a ocupação humana se deu nas

quatro grandes planícies: do vale do Pó, o vale do Arno, da Campânia e por último

do Tibre, ou seja, o Lácio. “O Rio Pó, ao norte, irriga uma vasta planície onde (...),

fixaram-se os prováveis primeiros povoadores da Itália – os ligúrios -, e mais tarde,

no século V a.C., os gauleses. (...) na fértil planície da Etrúria, provalvemente no

século IX a.C., estabeleceram-se os etruscos, de origem controvertida, cuja expansão

para o sul, no século seguinte, resultou no domínio sobre Roma”. (AQUINO, 1984)

Os principais povos que se fixaram na Itália foram: os italiotas (úmbrios,

latinos, sabinos, volscos e samnitas), os gregos e os etruscos.

Civilização Romana

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

103

Origem de Roma Pesquisas arqueológicas indicam que a fundação de Roma se deu por volta do

ano 1000 a.C.. Grupos indo-europeus chegaram a península e formaram aldeias.

Essas aldeias localizavam-se na planície do Lácio (ou do Latium), que deu origem

ao termo latino, usado para o povo romano e a língua falada por eles. Os latinos,

habitantes da primitiva Roma, eram basicamente povos agricultores e pastores, mas

que realizavam algumas trocas com outros povos da região. Com o passar do tempo,

cresceram e suas aldeias reuniram-se em uma pequena cidade. Ao findar o século

VII a.C., os etruscos, em processo de expansão territorial, dominaram a região do

Lácio. Esse momento representou a passagem da organização em aldeias de pastores

e agricultores para a formação da cidade-estado romana. Roma resultou de uma

coligação de aldeias de agricultores latinos e sabinos, essa coligação tinha por

objetivo a defesa contra as incursões constantes dos etruscos.

É certo também que Roma só se desenvolveu depois de ser conquistada pelos

etruscos, no século VII a.C., povos de quem os romanos assimilaram as técnicas de

construção, a metalurgia e a cerâmica.

Evolução política de Roma A evolução política dos romanos conheceu três fases distintas:

Monarquia (75 - 509 a.C.): O período monárquico teve inicio com a

fundação da cidade de Roma e terminou em 509 a.C., quando uma revolta da

aristocracia depôs o último rei - Tarquínio, o Soberbo;

República (509 - 27 a.C.): Após a deposição do último rei etrusco e a

revolta da aristocracia contra a dominação etrusca, tem inicio a República. O

senado assumiu o poder, transformando-se na mais poderosa instituição política do

mundo romano;

Império (27 a.C. - 476 d.C.): Iniciou-se em 27a.C. no governo de Otávio

Augusto, com a chamada Paz Romana e se estendeu até a data que a cidade foi

invadida e dominada por outros povos.

Monarquia ou Realeza (75 - 509 a.C.) O período da Monarquia dos romanos foi reconstituído por meio de um

conjunto de lendas, muitas delas criadas no final do período republicano e inicio do

período imperial, com o objetivo de demonstrar a grandiosidade e a força de Roma.

Essas lendas foram interpretadas a luz das pesquisas arqueológicas.

Durante o período da Monarquia, a cidade foi governada por sete reis etruscos,

que desempenhavam as funções políticas, militares e religiosas assistidos pela

assembléia se anciãos (Senado) e por um agrupamento de famílias dos três povos

que habitavam a península Itálica: sabinos, latinos e etruscos (Assembléia Curiata).

Os etruscos viviam em cidades-Estado que não possuíam unidade política ou g

overno centralizado. No século VI a.C., os etruscos formaram uma liga política que

agrupava as maiores cidades da Etrúria. As cidades etruscas eram bem planejadas e

fortificadas.

A Organização social de Roma neste período era a gens, as comunidades dos

descendentes (reais ou socialmente aceitos) de um ancestral comum real ou mítico.

Essas famílias patriarcais tinham em comum um território, possuía autonomia

jurídica, e havia uma tendência a auto-suficiência econômica. No entanto, a gens

não era desprovida de desigualdades e contradições internas. Os laços familiares

escondiam verdadeira exploração econômica. O pater famílias tinha direito de vida e

de morte sobre sua família e todos aqueles que vivessem sob seu teto. Essa

autoridade se estendia aos membros não consangüíneos, ligados ao seu poder como

clientes.

Durante o domínio etrusco, a aristocracia se fortaleceu, o comércio e o

artesanato desenvolveram-se enquanto a situação dos plebeus se agravou. Os

pequenos proprietários de terras, endividados, eram transformados em escravos dos

patrícios.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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A medida em que aconteciam essas transformações econômicas, a organização

social também passava por mudanças significativas. A gens foi desaparecendo,

surgindo famílias restritas que passaram a possuir os melhores lotes de terra.

A sociedade romana no período monárquico estava assim dividida:

• Patrícios (“filhos do pai da cidade”): eram cidadãos romanos da classe

aristocrática: nobre, rica, poderosa e rigorosamente fechada. Consideravam-se

descendentes dos fundadores e primeiros povoadores de Roma. O seu poder estava

baseado na propriedade privada da terra. Eram os únicos que possuíam organização

gentílica e que tinham acesso aos órgãos de poder;

• Clientes: Homens livres que nada ou pouco possuíam. Uniam-se a família

patrícia em troca de proteção e subordinavam-se ao seu patrono (patrício), devendo

segui-lo na política e na guerra. O patrono deveria ampará-los Assumiam algumas

obrigações econômicas como o obsequim (submissão) e opera (trabalho). O cliente

era como membro da família, mas de categoria inferior;

• Plebeus (“os filhos da terra sem linhagem”): Representava a maioria da

população romana, eram homens livres. Alguns eram camponeses ou artesãos e os

mais ricos comerciantes. Não possuíam organização gentílica, por isso encontravam-

se afastados do poder político, monopolizados pelo patriciado;

• Escravos: Recrutados entre os derrotados da guerra, eram considerados

instrumentos, sem nenhum direito político. Neste período o número de escravos era

bem pequeno. O escravismo não desempenhou papel significativo durante a

monarquia.

O Estado romano era uma extensão do princípio da família patriarcal: o rei

dominava os súditos, da forma em que o chefe de família mandava no lar. Mas,

assim como a autoridade patriarcal era limitada pelos costumes, a soberania do rei

era restringida pela antiga constituição, que não podia ser alterada sem a aprovação

dos principais do reino.

O rei era um dos senadores, a quem o Senado delegava o exercício da sua

autoridade. Embora sua escolha tivesse de ser confirmada pela Assembléia, o rei não

podia ser deposto. E era tal seu poder que ninguém ousava enfrentá-lo. As

prerrogativas do rei (que tinha o título de rex sacrorum) eram judiciais e executivas.

Julgava as questões civis e criminais. Decidia as punições (desde os açoites até a

pena de morte).

Quando vagava o trono, a autoridade passava imediatamente ao Senado, até a

confirmação, pela Assembléia, do novo rei.

O Senado, ou Conselho dos Anciãos era constituído pelos chefes dos diversos

clãs. De acordo com a tradição, inicialmente eram 100, depois passaram a 300. O

Senado discutia as propostas do rei, quando validadas pela Assembléia, e podia vetá-

las se achasse que iam de encontro aos costumes tradicionais. Daí o grande poder do

Senado e o seu espírito conservador.

A Assembléia do povo (comício) era formada pelos cidadãos em idade militar.

Tratava-se de um órgão essencialmente ratificador: não podia tomar iniciativa

legislativa ou política. Mas possuía o direito de veto a qualquer proposta do rei sobre

mudanças das leis. Tinha ainda duas atribuições especiais: a concessão de perdões e

a declaração de guerra agressiva.

A plebe no final do período lutava contra a instituição da escravidão por divida,

e por outros direitos como o de propriedade e de cidadania. Em 509 a.C., uma

revolta do patriciado, apoiada pelos plebeus, depôs o último rei etrusco de Roma. Os

revoltosos aboliram a Monarquia e implantaram uma República Aristocrática.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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A República (509-27 a.C.)

A implantação da República, obra da aristocracia patrícia resultou numa verdadeira revolução social. A República romana durou uns 500 anos e sofreu muitas modificações. No começo foi uma república aristocrática, na qual os patrícios açambarcavam cargos e privilégios. Mais tarde, a plebe conquistou direitos e o governo tomou aspecto mais democrático. Foi durante o período republicano que Roma se transformou de simples cidade-estado em um grande império, voltando-se inicialmente para a conquista da Itália e mais tarde de todo o mundo mediterrâneo. Os dois primeiros séculos da República foram crivados de violentas lutas políticas, muitas delas devido à demanda dos plebeus em participar do poder das famílias mais abastadas e nobres, dos patrícios que dominavam o Senado, principal corpo do governo, como indicam inscrições em muitos monumentos e emblemas de armas: SPQR, iniciais das palavras latinas “o Senado e o Povo Romano”. No entanto essas lutas continuaram por muito tempo sem provocar danos fatais a República. Algumas concessões foram feitas as forças populares, no entanto Roma nunca se tornou uma democracia de que estes cidadãos controlassem o governo por muito tempo.

As instituições políticas da república Quando os latinos conseguiram se livrar do domínio etrusco no final do século VI a.C., criaram uma nova forma de governo, a República. A palavra República se origina do latim res publica, que significa „coisa pública‟. Ocorreu a transferência do

poder da elite etrusca para a elite patrícia romana. A Republica romana era um regime de características elitista e centralizadora e foi marcado pelo desenvolvimento das instituições políticas. O rei foi substituído por dois magistrados cônsules patrícios, eleitos

anualmente pelo Senado. Comandavam o exército, presidiam o Senado e a assembléia centurial, propunham leis. Os dois cônsules dividiam, as suas atribuições: enquanto um dirigia a guerra (cônsul armatus), o outro tomava conta da administração (cônsul togatus). Em momentos de perigo de guerra ou invasão, os senadores escolhiam um dos cônsules e o nomeava ditador pelo prazo máximo de

um ano. Durante a ditadura, o Senado não exercia suas funções. A autoridade máxima ficava nas mãos do Senado, que se tornou a mais

importante instituição política de Roma. O órgão de maior poder. Este era formado pelos chefes das principais famílias patrícias, homens de idade e experiência. Os senadores eram vitalícios, mas podiam ser destituídos se sua vida pública ou particular não fosse digna. Constituído por 300 membros, dirigia a política externa decidindo pela guerra, paz e ou aliança. Responsável também pelo controle de questões administrativas e financeiras. As assembléias não podiam aprovar leis, sem prévia aprovação do Senado. Havia outros magistrados (funcionários administrativos) que auxiliavam os cônsules na administração do Estado: os pretores, em número de três,

posteriormente seis encarregavam-se da justiça e de substituir os cônsules no comando militar; os censores eram responsáveis pelo levantamento da riqueza dos

cidadãos (censo), com intuito de classificá-los e estabelecer seus direitos e obrigações além de organizarem as eleições. Zelavam pelos costumes e organizavam a lista dos velhos magistrados que iriam para o Senado (álbum senatorial); os edis cuidavam dos trabalhos públicos, como a conservação dos

templos, limpeza pública, festas, jogos oficiais, das estradas e abastecimento da população; e os questores administravam os bens públicos encarregando-se do

tesouro público, dos impostos, dos pagamentos. Os comícios eram assembléias populares. Durante a Monarquia só teve assembléias de patrícios. Já no início da República existiram dois tipos de Assembléias ou Comícios: Assembléia Curiata ou Curial (só de patrícios), que

tratavam em geral de assuntos religiosos; e Assembléia Centuriata ou por centúria era dividida em

centúrias (a fileira de cem soldados formava uma centúria e tinha direito a um voto). Era composta por 98 centúrias patrícias e 95 plebéias para tratar de assuntos políticos: escolher os cônsules, votar as leis, declarar a guerra e a paz com prévio consentimento do Senado. “Os plebeus também participavam dessa assembléia, mas como em primeiro

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lugar votavam as centúrias patrícias, estas praticamente detinham a hegemonia nas reuniões.” (AQUINO, 1984). Os comícios só podiam ser celebrados a requerimento dos cônsules, em dias determinados pela tradição. O caráter oligárquico da República romana deu o monopólio do poder aos patrícios, acarretando uma série de problemas para com a plebe, como: as guerras constantes, o aumento dos tributos, o endividamento e a escravidão por dívida. A marginalização e o descontentamento plebeu levaram as lutas de classe em Roma.

O equilíbrio de poderes da Constituição republicana

As lutas entre Patrícios × Plebeus A organização da República não significou, no começo nenhum progresso para a plebe. Ao

contrário, em alguns aspectos a sua situação piorou consideravelmente.

Obrigados a pegar em armas, os plebeus foram se arruinando economicamente.

Como eles viviam do produto das suas pequenas propriedades rurais, com a guerra,

diminuía o rendimento dos campos mal cultivados ou abandonados. Essa situação

levava os plebeus a se endividarem. Tinham de pagar juros elevadíssimos, e se não

conseguissem pagar a dívida o credor tinha o direito de tomar-lhes as terras e

inclusive de vendê-los como escravos. Desta forma aumentou a pobreza e a

escravidão, sem que o governo romano nada fizesse para remediar tal situação. A exclusão política (não podia compor as magistraturas e o Senado), jurídica (a justiça baseava-se em leis não escritas de domínio exclusivo dos patrícios) e social (não era permitido o casamento entre os membros das duas classes) levaram-no a intensificar as lutas no caminho de buscar a igualdade com os patrícios. Por outro lado suas obrigações só aumentavam, deviam pagar tributos e servir no Exército Romano e no caso de vitória não tinham direito ao ager publicus, o que gerou sérios problemas sociais e econômicos. Ao contrário dos patrícios, que se enriqueciam com a política expansionista, muitos plebeus se arruinaram, aumentando a insatisfação. Os plebeus iniciaram uma revolta, que culminou em uma longa luta de mais de dois séculos. Os patrícios defenderam, com tenacidade seus privilégios. Mas os plebeus conquistaram, novos direitos. Passaram então a ter consciência de que representavam a maioria e que eram muito importantes aos exércitos romanos, bem como, para a manutenção da economia romana. Em 494 a.C., às vésperas de uma guerra, organizaram-se, ameaçaram abandonar Roma e fundar outra cidade numa região próxima, o Monte Sacro. Os patrícios necessitavam dos plebeus nas atividades econômicas e militares, por isso, cederam as suas exigências, aceitando que tivessem representação no Senado. Os plebeus conquistaram sua primeira vitória política, foi permitido a eles que escolhessem dois representantes, os Tribunos da Plebe, os quais tinham o direito de proibir a aprovação de leis que os prejudicassem eram invioláveis, isto é, não podiam ser presos pelo Senado e teriam voz ativa nas decisões políticas e posteriormente a criação da Assembléia da Plebe (470 a.C.) formada apenas de plebeus. No entanto os direitos de patrícios e plebeus ainda não eram iguais, a leis romanas eram orais e os patrícios é quem interpretavam as leis nos tribunais e geralmente em seu favor. Os plebeus se organizaram e ampliaram seus direitos. Em 450 a.C., participaram da elaboração das Leis Romanas, que foram gravadas em 12 tábuas de bronze (Lei das Doze Tábuas). Os plebeus notaram que não ocorreram mudanças, pois as leis escritas eram as mesmas de antes, que os colocavam numa posição de inferioridade diante dos patrícios, pois o poder ainda pertencia ao patriciado e foram mantidas as escravidões por dívida e a proibição de casamento entre as duas classes. A Lei Canuléia aprovada em 445 a.C. permitia o casamento entre patrícios e plebeus, a plebe obtinha a igualdade civil. Segundo Rubim Aquino “á época da

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promulgação dessa lei, a expansão comercial de Roma enriquecia muitas famílias plebéias, enquanto que a desvalorização da terra como única fonte de riqueza arruinava muitas famílias patrícias. (...). Os casamentos mistos formalizaram a criação de uma aristocracia de dinheiro – a nobreza patrício-plebéia (Nobilitas)”.

Uma importante conquista plebéia aconteceu em 367 a.C., quando foi implantada a Lei Licínia, que acabava e proibia a escravidão por dívidas e determinava a distribuição do ager publicus e dava o direito dos plebeus participarem no consulado. Muito tempo depois os plebeus puderam ingressar nos colégios sacerdotais, e as decisões da Assembléia popular passaram a ter força de lei. Após duzentos anos de luta os plebeus conseguiram igualdade política, social e jurídica em relação aos patrícios, porém a República continuava sendo aristocrática, pois estava sob o controle dos mais ricos. Formou-se uma nova oligarquia dominante composta da união dos patrícios e os plebeus enriquecidos.

Ruínas do fórum romano

O expansionismo romano

Durante a República, Roma consolidou seu domínio no restante da Itália, enfrentou e venceu hordas estrangeiras e plantou a infra-instrutora do poderoso Império que dominou o mundo. A conquista da Itália terminou no fim do século III a.C. Conquistada a Península Itálica os romanos passaram então para o Mediterrâneo Ocidental e depois a conquista do Oriente.

A expansão interna ou pequena expansão Mesmo existindo as lutas entre patrícios e plebeus, Roma realizou entre 509 e 270 a.C. a conquista da Península Itálica. Inicialmente, o objetivo dos romanos era se prevenir dos ataques dos povos vizinhos. Essas primeiras guerras de conquista se revelaram vantajosas, pois além da desejada proteção, trouxeram também riquezas. Isso foi possível porque os soldados saqueavam os bens dos vencidos, e as terras conquistadas tornavam-se posse dos romanos. Roma era uma pobre cidade-Estado do Lácio, habitada por vários povos conhecidos genericamente por latinos. Quando ocorreu a derrubada da Monarquia, seus vizinhos pensavam que ela estava enfraquecida e invadiram seu território, porém foram derrotados e Roma expandiu as suas custas. No século V a.C., Roma já havia se transformado na potência dominante do Lácio. Em 395 a.C., desbancou a poderosa cidade etrusca de Veios, ao norte, e reforçou sua posição no centro da Península Itálica. O passo seguinte foi a expansão para o sul enfrentando a cidade grega de Tarento. Os gregos reagiram marchando sobre Roma, mas foram derrotados em 274 a.C. Os romanos invadiram e ocuparam a Magna Grécia. As riquezas arrebanhadas das cidades gregas foram

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enormes. Roma transformara-se numa cidade guerreira. Para combater em tantas frentes e ocupar tantos territórios, camponeses e plebeus passaram a ser recrutados constantemente para o exército. Entre os séculos V e III a.C., Roma dominou toda a Península Itálica. Em algumas regiões os povos dominados tinham os mesmos direitos que qualquer cidadão romano, em outras eram firmados tratados, em que estes se comprometiam a fornecer homens para o Exército Romano. No entanto algumas medidas foram tomadas para garantir o controle sobre os povos conquistados, algumas delas são: a adoção do latim como língua oficial, o uso de uma única moeda, a construção de estradas que interligassem as regiões dominadas, visando facilitar a locomoção rápida de exércitos em caso de rebeliões e o incentivo de casamentos entre romanos e não romanos. Para os camponeses, a expansão era um alívio, na medida em que possibilitava o aumento das unidades de produção familiares, sempre sujeitas a divisão pelo direito de herança. Além desse fator, a participação, ainda que minoritária, na divisão do butim da guerra. A disputa pelas terras do Estado, aumentava, ao mesmo tempo em que se acirrava a luta interna entre o patriciado e a plebe. Os patrícios, através da expansão, ampliavam os domínios territoriais e o poder político e militar, conquistando e aumentando os contingentes de seu exército, uma vez que Roma integrou, progressivamente, as regiões conquistadas ao seu território, admitindo seus habitantes como cidadãos romanos, em graus diferenciados. Segundo Siqueira “as conquistas romanas foram resultado de um exército bem organizado. As legiões romanas eram temidas e funcionavam como uma máquina de guerra”.

A conquista da Itália pelos romanos.

A grande expansão ou expansão externa Chamamos de expansão externa a conquista e dominação dos territórios fora da Península Itálica, que se tornaram províncias romanas. Após a conquista da Itália, foram travadas as Guerras Púnicas. A expansão dos romanos para o sul deixou os cartaginenses preocupados. Eles possuíam interesses comerciais e políticos na ilha da Sicília. Roma sabia que não podia expandir-se pelo Mediterrâneo Ocidental enquanto Cartago dominasse o rico comércio na região. Eliminando-s, Roma tornou-se a grande potência comercial mediterrânea. As Guerras Púnicas foram três, ocorreram entre 264 a.C. e 46 a.C. A primeira terminou em 241 a.C., com os cartaginenses tendo de desistir da Sicília depois de mais de vinte anos de luta (embora descontínua). Como resultado os romanos assumiram o controle da Córsega e da Sardenha e fundaram a primeira província, a oeste da Sicília. Foram os primeiros territórios romanos além-mar. Antes da segunda guerra (iniciada em 218 a.C.) os cartaginenses haviam se estabelecido na Espanha, fundando uma Nova Cartago (Cartagena) com o intuito de substituir as fontes de matérias-primas perdidas nas ilhas. Os romanos começaram a ficar alarmados com o poder cartaginês. Os cartaginenses atacaram as cidades da costa espanhola e seguiram em marcha com um exército completo, até a Itália, sob o comando de Aníbal, seu grande general. Os romanos sofreram algumas derrotas, mas mesmo assim resistiram e recuperaram o controle. Os cartaginenses foram forçados a fazer as pazes. Só muito tempo depois irromperia uma terceira Guerra Púnica em 149 a.C. encerrada com a derrota total dos cartaginenses, que tiveram

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sua cidade destruída e no seu local foram passados arados para que nada mais crescesse ali.

Movimentos militares na Segunda Guerra Púnica. Toda a Sicília passou a ser romana, e o sul da Espanha também foi conquistado. Logo os escravos e o ouro da Sicília, da Sardenha e da Espanha conscientizaram os romanos de que as conquistas podiam ser lucrativas.

O Mediterrâneo Ocidental no século II. O século II a.C. a Macedônia foi derrotada, as cidades gregas foram reduzidas a vassalagem. Foi criada uma nova província, chamada Ásia (a extremidade oeste da Anatólia). O norte da Espanha foi conquistado. Depois o sul da França (Gália). No século seguinte foi a vez do norte da França, e depois novas conquistas no leste. Na Segunda fase imperialista, quando os latifúndios escravistas (propriedades aristocráticas, com mão-de-obra escrava e produção especializada, voltada para o mercado) dominaram a economia romana, o fator determinante do expansionismo militar passou a ser recrutamento da mão-de-obra escrava, obtida a partir das populações vencidas. As relações estabelecidas com esses povos foram muito diferentes do que se deu com os da Península Itálica. Para os povos vencidos foram impostas pesadas obrigações. Todas as riquezas existentes nas Províncias (assim eram chamadas às regiões conquistadas por Roma) passaram a pertencer ao Estado Romano. Para

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elas era enviado um governante romano e impostas pesadas obrigações como: o pagamento de impostos, o fornecimento compulsório de homens para o exército e de escravos que eram adquiridos entre os prisioneiros de guerra. Estavam sob o domínio e controle de Roma todos os territórios que rodeiam o Mar Mediterrâneo, o qual passou a ser chamado pelos romanos de Mare Nostrum (Nosso Mar). As expansões territoriais resultaram em significativas conseqüências econômicas, sociais e políticas.

Conseqüências da expansão romana Roma transformou-se, de uma pequena cidade-estado, em capital de uma vasta República/Império. Os direitos de cidadania foram estendidos gradualmente a muitas pessoas que viviam fora dos territórios romanos originais. No entanto Roma continuava sendo governada pela aristocracia, através do seu principal órgão político - o senado. A camada aristocrática havia alterado sua composição, com a

incorporação dos plebeus ricos, mas não havia alterado suas concepções nem seus objetivos de controle exclusivo do poder. Mesmo essa nova aristocracia – a nobilitas – só muito lentamente recrutava novos indivíduos entre as camadas de maior renda, os eqüestres ou cavaleiros, que passavam a ser conhecidos como “homens novos”,

discriminados pela oligarquia que tradicionalmente controlava o poder. Com mais territórios e riquezas para controlar, o poder se tornou mais atraente. As conquistas abriram ainda mais à distância entre os patrícios, plebeus ricos e a massa de pobres. A plebe sofreu profunda estratificação interna, e os tribunos da plebe, pertencentes às camadas plebéias ricas, afastavam-se cada vez mais das camadas populares. Os pobres e o exército foram muitas vezes usados como massa de manobra nessas lutas. Abandono progressivo das atividades primárias na Itália, devido à mobilização permanente para a guerra, levou os camponeses a ficar cada vez mais tempo fora servindo o exército. Enquanto suas terras acabaram abandonadas e eram compradas com facilidade pelos ricos o que levou grandes contingentes populacionais a migrar para as grandes cidades. O enfraquecimento da camada de pequenos e médios proprietários rurais provocou intenso êxodo rural para Roma. Enquanto outros grupos de pequenos proprietários arruinados passaram a trabalhar como camponeses contratados por grandes proprietários – os coloni. Expansão do latifúndio fez com que o comércio crescesse muito, pois as diferentes regiões passaram a trocar produtos entre si. A produção voltada para o mercado, passou a dominar a vida econômica romana e o comércio tornou-se uma atividade econômica muito importante. O abastecimento de alimentos em Roma passou a ser com os produtos levados das províncias, que eram mais baratos do que os produzidos na Itália. A concorrência com os alimentos importados agravou a situação dos camponeses e pequenos proprietários de terra, pois para manter a produção acabavam endividando-se. Quando não conseguiam pagar suas dívidas perdiam suas terras, que passavam a pertencer aos latifundiários patrício a quem deviam. Grande fluxo de escravos para a Península Itálica (desvalorização do trabalho/plebe). Milhares de prisioneiros de guerra foram reduzidos a escravidão, e praticamente todo o trabalho passaram a ser realizado por eles. Assim a sociedade romana tornou-se uma sociedade escravista. Os plebeus que trabalhavam nas terras dos patrícios também saíram prejudicados, pois foram substituídos por escravos ficando sem emprego. Havia, portanto, em Roma, capital abundante nas mãos da aristocracia e mão-de-obra disponível, principalmente com o aumento do número de escravos. Também a política sofreu modificações. Arruinada economicamente com a expansão, parte da plebe começou a vender seus votos nas assembléias para conseguir sobreviver. Essa corrupção eleitoral concentrou o poder nas mãos de patrícios e cavaleiros, que eram os que tinham condições de corromper os eleitores pobres. Numa sociedade que passou a valorizar a riqueza acima de tudo ocorreu uma grave crise política com surgimento de líderes demagogos que manipulavam as massas miseráveis em benefício político próprio (“pão e circo”). Ditaduras ilegais e guerras civis devido os militares que passaram a interferir cada vez mais na política. E na maioria das vezes não hesitava em usar ilegalmente tropas para ocupar cargos públicos ou mesmo se livrar de inimigos e rivais políticos. Tudo isso anunciava a falência do regime republicano e o advento do Império melhor adaptado a um Estado que dominava a vários territórios e povos. Com as conquistas as culturas helênicas e helenísticas passaram a influenciar os valores romanos (religião) com a adoção de algumas características da religião grega. O gosto pelo o luxo e desperdício também se implantaram em Roma. A exibição da riqueza passou a ser um hábito. Após a expansão também o hábito de comer se modificou, os romanos passaram a ser adeptos dos banquetes.

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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A crise da república e as guerras civis

A expansão Romana gerou uma série de problemas sociais na cidade. A grande massa camponesa, convocada para o serviço militar, perdera suas terras. Os chefes militares ganharam prestígio por seu papel nas conquistas. Isso como foi visto anteriormente fez com que surgissem generais dispostos a planejar campanhas e dá início a guerras com o intuito de tirar proveito político das vitórias e ganhar popularidade e poder. Porém novos territórios foram sendo anexados. As pessoas que enriqueciam com as guerras ficaram conhecidas como os “homens novos”. A velha ordem se desintegrava. O número de salteadores aumentava e atacava vários pontos da República. Os soldados afastados do exército por mutilações ou idade avançada ficavam desamparados. Como não havia ajuda para os necessitados a crise aumentou. A terra continuou excessivamente concentrada. A tentativa de reforma social infelizmente não conseguiu resolver esse problema. A crise aumentou, a República se esvaziou no fim do século I a.C., foi proclamado o Império.

A reforma dos Graco Após a grande expansão romana, começou em Roma uma série de agitações políticas que levaram à guerra civil e a graves crises internas. No espaço de tempo que compreende os anos 133 e 123 a.C., aconteceram as “Revoltas dos Gracos”. Dois irmãos, que foram eleitos para o cargo de tribunos da plebe, tentaram promover algumas reformas. Pequenos proprietários abandonavam as suas terras, depois de sofrerem a concorrência dos latifúndios explorados por escravos. Nas cidades, uma grande massa de cidadãos romanos (livres, mas pobres) sofria graves penúrias econômicas, não conseguiam emprego, pois a maioria das vagas era ocupada por escravos. Tibério Graco – de ilustre família patrícia – ao ser eleito tribuno em 133 a.C., visava dar aos pobres de Roma acesso à posse da terra e com essa medida combater a pobreza ao mesmo tempo em que aumentava a produção e desconcentrava a propriedade. Desta forma reabilitava o pequeno proprietário de terra que era a base do recrutamento militar. Apresentou então o projeto de Lei Agrária (Lex Agrária): o Estado tomaria as ager publicus, que os latifundiários tinham ocupado sem autorização alguma, e as distribuiria entre os pobres, em pequenos lotes. Quem tivesse mais de 310 acres de terra deveria transferir o excedente para o Estado para este promover a partilha. Tibério defendeu eloqüentemente, nos comícios, o seu projeto. Alarmada com o tom revolucionário de Tibério, a nobreza opôs-se a ele por todos os meios. A lei agrária foi aprovada, mas a oligarquia vingou-se mais tarde. Tibério candidatou-se à reeleição. No dia do sufrágio, os nobres provocaram um tumulto popular e assassinaram Tibério. Durante os anos seguintes, a oligarquia abusou do poder e conseguiu, anular todos os efeitos da reforma agrária. Observe o trecho do discurso de Tibério Graco transcrito abaixo: “As feras que vagam pelos bosques da Itália – disse num discurso – têm suas tocas: os que lutam e morrem pela Itália só participam do ar e da luz e mais nada; sem teto e sem casas, andam errantes com seus filhos e mulheres. Os chefes, nas batalhas, exortam os soldados a lutarem pelos seus altares e túmulos. É falso: porque um grande número de romanos não tem altar, nem pátria, nem túmulo dos seus maiores. Lutam e morrem pela riqueza e pelo conforto alheios. Diz-se que são os senhores de toda a terra, mas não possuem sequer um pedaço de chão”. (Plutarco, Vida de Tibério Graco) Dez anos após a morte de Tibério, seu irmão Caio Graco atingiu o tribunato (123a.C.). Com programa semelhante ao do irmão, Caio obteve o apoio das classes populares e dos “cavaleiros” (plebeus enriquecidos); estes tinham atritos com a aristocracia, que lhes negava certas aspirações políticas e econômicas. Caio obteve a aprovação da lei “frumetária” (distribuição de trigo a preços baixos) e de uma lei que criava colônias na Itália e nas províncias, com o objetivo de diminuir as tensões sociais. Mas, quando tentou conceder aos aliados itálicos o direito de cidadania, seu prestígio popular decaiu. Em 121 a.C., os aristocratas organizaram um tumulto popular, durante o qual morreram Caio e 250 dos seus partidários. Logo após, mais de 3 mil foram condenados à morte e decapitados. Depois desse episódio, a vida política de Roma ficou muita agitada. Surgiram dois grupos políticos que passaram à ofensiva: O Partido Popular ou Democrático, formado por homens novos e desempregados, que apoiavam a proposta de Reforma Agrária; e o Partido Aristocrático ou Senatorial (“optimates” os melhores), conservador, oposto às reformas, composto por grandes proprietários e claro apoiado pelo Senado. Diante da crise os militares se tornaram cada vez mais populares enquanto o poder do Senado ia aos poucos sendo reduzido.

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Os governos de Mário e Sila Alguns anos após a morte de Caio Graco, a Assembléia Popular pressionou para que o líder do Partido Popular, o “homem novo” Mário, fosse nomeado general e combatesse por Roma. Em 107 a.C., Mário – cidadão de origem humilde – foi eleito cônsul e designado para a campanha militar contra a Numídia. Mário organizou um exército formado por proletários e obteve uma série de vitórias. Anos mais tarde, apoiado pelas classes populares e pelos soldados proletários, tornou-se o chefe de Roma. Em seu governo realizou reformas que favoreceram a classe popular; como pagar salários aos soldados, provocando a entrada de um grande número de pobres no exército. Os soldados ao fim do serviço militar recebiam terras. Participar do exército passou a ser uma profissão. Diminuiu os privilégios da aristocracia. Nesse momento, o partido popular adquiriu um caráter abertamente revolucionário. De 91a.C. a 88 a.C. travou-se a chamada “guerra social” – Roma conta os itálicos – na qual se destacou Sila, ardente partidário da aristocracia senatorial. Novas tentativas do partido popular, apoiada por Mário, foram esmagadas por Sila. Apesar de numericamente superiores, os membros do Partido Popular foram derrotados e muitos adeptos foram mortos. Mário e os sobreviventes foram exilados na África. Sila se tornou ditador (83 a. C-79 a. C) e realizou enérgica reforma política. Deu ao Senado enormes poderes: aboliu as leis de Caio Graco; tirou à Assembléia e aos tribunos quase toda autoridade. Conseguiu abafar, desta forma, a agitação revolucionária.

Cabeça de Sila

Contudo as revoltas não cessaram. Ocorreram novas revoltas populares, além

disso, tivemos na região da Campânia (73-71 a.C.), uma das maiores revoltas de

escravos da história romana liderados por Espártacos, um gladiador da Trácia que já

havia militado no exército romano. Em trono dele reuniram-se cerca de 120 mil

homens, cujo principal objetivo era obter melhores condições de vida e privilégios

destinados apenas aos homens livres além de deixar a Itália e regressar às suas

regiões de origem. Para Rubiim Aquino, “mesmo nas grandes rebeliões de escravos,

os revoltados não possuíam uma nítida consciência de classe: pretendiam adquirir a

liberdade individual, e não a supressão da ordem escravista”.

Primeiro Triunvirato Sila morreu em 78 a.C. o partido popular renasceu imediatamente e dispôs-se a

lutar pela reconquista dos antigos direitos. O general Pompeu e o riquíssimo Crasso,

antigo oficiais de Sila, puseram-se à frente dessas reivindicações. Apoiados pelo

partido popular, forma eleitos cônsules no ano 70 a.C. Em pouco tempo desfizeram

o poderio da oligarquia senatorial. Enquanto isso, um jovem político – Júlio César –

destacava-se pelo seu poder oratório e de 58 a.C. a 51 a.C., conquistou a Gália. No

ano 60, Pompeu, Crasso e César formaram o primeiro triunvirato (três no poder).

Uma vez reunidos o prestígio popular de César, a base militar de Pompeu e o

poderio financeiro de Crasso, a aliança logo apresentou excelentes resultados. Cada

um passou a administrar uma parte do grande domínio romano: Pompeu ficou com

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Roma, Crasso foi para o Oriente e César ficou com o governo das Gálias. Embora

houvesse coincidência de interesses no acordo dos triúnviros, sempre reinou a

desconfiança entre eles, fato que dava a união um caráter precário. Além disso, não

havia qualquer reconhecimento oficial ao Triunvirato, que contava com a oposição

dos principais representantes da oligarquia senatorial.

Crasso morreu numa campanha no Oriente. Júlio César, ambicioso e já com

grande popularidade em Roma, ganhou a desconfiança do Senado romano, que

passou a apoiar Pompeu. Mas César marchou sobre Roma e dominou as tropas de

Pompeu, que fugiu para o Egito, onde foi assassinado.

A divisão das províncias romanas entre César, Pompeu e Crasso.

A Ditadura de César Derrotadas as últimas tropas de Pompeu, tornou-se Caio Júlio César o chefe supremo do mundo romano. Em 46 (depois da batalha de Tapso) foi nomeado ditador por dez anos depois recebeu o título de ditador perpétuo. Além disso, fez com que lhes fossem atribuídos alguns dos mais importantes cargos políticos: cônsul, tribuno, censor e sumo pontífice. Embora sem ostentar o título – foi um verdadeiro imperador. Assim concentrou em suas mãos poderes para realizar o seu programa de reformas. César queria corrigir os males mais graves do regime. Desejava construir uma grande nação. E foi ele, realmente, quem lançou os alicerces do vasto Império Romano. Tudo isso, é bom destacar, foi realizado em curto prazo, com extraordi-nária rapidez. Seu governo efetivo em Roma foi muito breve: um ano apenas. César não suprimiu a assembléia, nem as magistraturas republicanas. Respeitou as formas aparentes do governo romano. Na realidade, porém, implantou uma autêntica monarquia, concentrando em suas mãos toda a autoridade. Todavia, não se arrogou o título de rei, pelo qual os romanos tinham profunda e tradicional aversão. E quando Marco Antônio, um dos seus auxiliares, ofereceu-lhe publicamente a coroa, César rejeitou-a. Reformas de César:

Distribuiu trigo e dinheiro aos soldados, mas combateu o parasitismo. Investigou as irregularidades na distribuição dos celeiros públicos e reduziu o número de recebedores para menos de 50%. Os que viviam às custas do Estado, passaram de 300.000 para 150.000; Concedeu a cidadania romana a muitos habitantes de províncias cargos importantes, em Roma; Reduziu o Senado a conselho consultivo, aumentou-lhe o número para 900, e fez com que muitos habitantes das províncias fossem eleitos senadores; Reprimiu os abusos dos publicanos (cobradores de impostos), que tanto desprestigiavam a dominação romana; Obrigou todos os latifundiários da Itália a empregarem, entre os seus trabalhadores, pelo menos 1/3 de homens livres. Isto significou mais trabalho para os desempregados – e uma prudente reação contra o incessante incremento da escravidão; Distribuiu terras aos plebeus, inclusive aos seus soldados veteranos desengajados; Empreendeu grandes obras públicas (oferecendo, assim, trabalho aos desempregados);

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Fundou colônias agrícolas, nas quais procurou introduzir, quanto possível, o progresso e os espairecimentos existentes em Roma: termas, piscinas, redes de esgotos, etc. Assim prosperaram, longe de Roma, centenas de povoações, que se tornaram centros de difusão de cultura e foram, ao mesmo tempo, vanguardas militares que reforçavam a segurança do Império. Com essas reformas, César contrariou os interesses da nobreza senatorial, dos cavaleiros enriquecidos pela inescrupulosa cobrança de impostos e até de alguns líderes populares. Seus opositores uniram-se em uma conspiração chefiada por Marco Júnio Bruto e Caio Cássio, terminando por assassinar César em 44 a.C.

Segundo Triunvirato Com a morte de César, ocorreu uma grande revolta popular, acontecimento político que foi muito explorado por Marco Antonio, um dos fortes generais de Júlio César, que juntamente com Lépido e Otávio, organizou o II Triunvirato. Isso após promoverem a eliminação dos opositores de Júlio César. Marco Antônio tornou-se senhor do Egito e do Oriente, Lépido foi para o norte da África e Otávio tornou-se senhor do Ocidente (Europa, incluindo a Itália). Ocorreu uma luta aberta entre os triúnviros, Lépido foi forçado a abandonar a vida política e os dois outros entraram em choque. Marco Antônio, apaixonado por Cleópatra (rainha do Egito) fez um testamento que a incluía como herdeira de territórios romanos.

A divisão das províncias romanas entre Antônio, Otávio e Lépido.

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O Senado romano autorizou Otávio a declarar guerra a Marco Antônio1 e Cleópatra. Na batalha naval de Actium (Ácio), Otávio venceu as frotas de Antônio e Cleópatra, tornando-se o chefe supremo do Estado Romano. Terminava a República romana, tinha início o Império.

O Império (27 a.C. a 476 d.C.)

Costuma-se dizer que o Império Romano durou até 476, quando os invasores

hérculos, comandados por Odoacro, depuseram o imperador Rômulo Augústulo.

Mas esse acontecimento marca apenas o fim do Império Romano no Ocidente. A

metade oriental – mais rica, mais populosa, menos castigada pelas guerras civis e

menos exposta às invasões bárbaras – sobreviveu como Império Romano do Oriente

até metade do século XV. Além disso, o declínio de Roma não pode ser entendido

apenas como um acontecimento isolado.

Dividimos este período da história romana em Alto Império (séculos I a.C. a III

d.C.), marcado pelo apogeu do escravismo, da riqueza e do poder romanos; e Baixo

Império (séculos III a V), fase turbulenta da decadência romana e da chegada dos

bárbaros germânicos que lançaram sua ofensiva sobre os restos do império.

O Alto Império (I a.C. – III d.C.) Caio Júlio César Otávio, o primeiro imperador romano, centralizou os poderes

sem romper oficialmente com as instituições republicanas, pois conhecia bem o

sentimento antimonarquista da aristocracia romana. Desta forma o senado, as

magistraturas e as assembléias continuaram existindo, só que descaracterizadas e

submetidas à vontade pessoal do imperador. O senado, por exemplo, foi

transformado em órgão consultivo.

O Senado ofereceu-lhe a ditadura vitalícia. Otávio habilmente recusou-a. Mas

aceitou o título de Augusto (que significa: consagrado, majestoso, venerável;

aplicava-se aos lugares santos). Foi acumulando os cargos e títulos mais

importantes: Imperator (“general vitorioso”), que lhe dava autoridade legal sobre

todos os exércitos; Princeps (“primeiro cidadão do Estado”) e presidente do Senado.

Além disso, era cônsul (comandante militar), tribuno (intocável), censor (vigiava os

cidadãos e nomeava os senadores), sumo pontífice (chefe da religião romana).

O governo de Otávio realizou muitas reformas sociais e administrativas,

inaugurando um período de grande prosperidade econômica e social. Dentre suas

principais reformas e realizações merecem destacam-se a organição da

administração das províncias, dividindo-as em senatoriais e imperiais. As províncias

imperiais eram regiões ainda não pacificadas e que inspiravam maiores cuidados. O

objetivo era facilitar o censo e a cobrança de imposto; Passou a arrecadação dos

impostos para as mãos do Estado e combateu a corrupção dos altos funcionários,

diminuindo a exploração da província; Estabeleceu a Pax Romana, pondo fim as

guerras de expansão e fortalecendo e reorganizando o exército para o melhor

controle das fronteiras e dos domínios; Promoveu a política de “pão e circo”, com a

distribuição de trigo para a população pobre e organização de festas e espetáculos

públicos regularmente, a fim de evitar as tensões sociais; Construiu excelentes

estradas garantindo assim a comunicação; O Mediterrâneo ficou livre de piratas; as

Letras e as Artes foram protegidas e estimuladas.

Durante o governo de Otávio, nasceu Jesus Cristo, na Palestina, então sob

domínio romano. A crucificação de Cristo se deu no governo seguinte, do

imperador Tibério.

O Imperador Otávio Augusto construiu em Roma um novo Estado de

instituições sólidas, no entanto seus sucessores não souberam preservá-lo. Quatro

dinastias sucederam seu governo ainda no Alto Império:

Dinastia Júlio-Claudiana;

Dinastia dos Flávios;

Dinastia dos Antoninos;

Dinastia dos Severos.

Dinastia Júlio-Claudiana (14-68 d.C.) Imperadores: Tibério (14-37 d.C.), Calígula (37-41 d.C.), Cláudio (41-54

d.C.) e Nero (54-68 d.C.).

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Principais características: vinculada à aristocracia patrícia, esse período foi

marcado por sangrentos e constantes conflitos com o Senado. No governo de

Tibério, data a crucificação de Cristo, responsável pelo nascimento do Cristianismo,

uma nova religião que se expandiu rapidamente. Nero promoveu a primeira

perseguição aos Cristãos, quando mandou incendiar Roma e os culpou por isso.

O comércio desenvolveu-se intensamente em todas as regiões, possibilitando

um grande avanço econômico, que refletiu no embelezamento das cidades,

construção de estradas, anfiteatros, termas, aquedutos.

Nero

Dinastia Flávia (68 - 96 d.C.) Imperadores: Vespasiano (68-79 d.C.), Tito (79-81 d.C.) e Domiciano (81-96 d.C.)

Principais características: Vinculada aos grandes comerciantes de outras

regiões da Península Itálica, realizaram uma administração despótica, submetendo o

Senado ao controle dos Imperadores dessa dinastia. No governo de Tito as cidades

de Pompéia e Herculano foram totalmente destruídas pela erupção do Vesúvio. Em

70 e 95 ocorreram dois conflitos com os judeus, que resultaram em verdadeiros

massacres.

Tito Flávio Vespasiano

Dinastia Antonina (96 - 193 d.C.) Imperadores: Nerva (96-98 d.C.), Trajano (98-117 d.C.), Adriano (117-138

d.C.), Antonio Pio (138-161 d.C.), Marco Aurélio (161-180 d.C.) e Cômodo (180-

192 d.C.).

Principais características: Imperadores de origem não romana, adotaram uma

postura conciliatória com o Senado. Foram excelentes governantes, com exceção do

último. Nesse período Roma chegou ao seu esplendor, sendo conhecido como a

Idade de Ouro. Novas conquistas permitiram a aquisição de mais escravos, terras e

outras riquezas, refletindo mais uma vez no investimento da arte, da arquitetura e de

grandes edificações.

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Trajano e o general Sura

Dinastia Severa (193-235 d.C.) Imperadores: Sétimo Severo (193-211 d.C.), Caracala (211-217 d.C.),

Heliogábalo (218-222 d.C.) e Severo Alexandre (222-235 d.C.) Principais características: Caracala concedeu a todos os homens livres do

Império o direito de cidadania romana. Porém, esse período foi marcado por intensos conflitos internos (sociais e rebeliões nas Províncias) e externos (ameaça dos povos bárbaros), sinalizando a decadência do Império Romano que se deu a partir do século III.

Sétimo Severo

O Baixo Império (séc. III a V)

A partir do século III, o Império Romano foi marcado por inúmeras crises,

dentre as quais se destacam a anarquia militar e as crises no campo e na cidade. Foi

um longo processo, que durou centenas de anos e teve numerosas causas. Para

muitos autores, as invasões bárbaras foram a causa. Para muitos autores, as invasões

bárbaras foram à causa decisiva. Mas há várias outras. Eis as principais:

Crise do escravismo: provocada pelo fim das guerras de expansão (Pax

romana) e pela propagação do cristianismo, que fazia restrições à escravidão. Os

proprietários foram aos poucos substituindo o trabalho escravo pelo colonato,

arrendando parcelas de suas terras para colonos, que ficavam presos a sua

propriedade e tinham que lhe entregar uma parte da produção. A crise do escravismo

foi acompanhada por uma crescente ruralização da economia, com a atrofia das

cidades e do comércio. O estado aumentava a carga de impostos e emitia moedas

para custear as despesas militares aumentando a pressão sobre as camadas populares

e gerando inflação (mais de 200% de inflação);

Crise econômica: que foi o resultado da desestruturação do modo de

produção escravista, a produção diminuía devido à redução da oferta de mão-de-

obra escrava. Ocorreu a diminuição da produção agrícola e o aumento do valor dos

produtos gerando os ciclos inflacionários;

Crise social: Surgimento de massas urbanas miseráveis e descontentes; as

imensas desigualdades sociais e o contraste entre o luxo, o ócio e a ostentação da

elite e a miséria da plebe provocaram tensões sociais e rebeliões, tanto em Roma

quanto nas províncias;

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Crise política: Governos aristocráticos, que excluíam o povo das decisões;

As dificuldades para manter a unidade e administração de um império tão grande e

diversificado, provocaram a ampliação do aparelho militar e burocrático, abrindo

espaço para o crescimento da corrupção e das disputas pelo poder. A partir do século

III o clima era de anarquia política e militar, quando as legiões entronavam seus

generais como imperadores, provocando seguidos conflitos armados, que afetavam

toda a economia. Entre os anos 235 e 284, Roma chegou a ter 26 imperadores, dos

quais 25 foram assassinados;

No panorama religioso o crescimento do Cristianismo cujos ideais

universalistas e humanistas combatiam as bases que sustentavam o Império

Romano: o militarismo, a escravidão e o caráter divino do poder imperial.

As “invasões bárbaras” que se constituíram no golpe final sobre o império

agonizante.

Alguns imperadores do Baixo Império tiveram ações concretas no intuito de

tentar reverter a crise. Destacam-se nesse intuito, os imperadores Diocleciano,

Constantino e Teodósio.

Diocleciano (284-305) foi o primeiro imperador romano a buscar soluções para

a crise. Para melhorar a administração e por um fim na anarquia militar, implantou a

tetrarquia (divisão administrativa do império em quatro unidades, correspondendo a

quatro governos). Na economia criou a Lei do Máximo, que fixava preços para as

mercadorias, esperava com essa medida baixar a inflação. Com o fim do governo de

Diocleciano, voltaram a ocorrer disputas pelo cargo de Imperador.

Constantino (324-337) tornou-se imperador único após a tetrarquia. Restaurou

a unidade do Império, cujo centro de gravidade se deslocara para o Oriente, onde o

imperador faria fundar em 330, na área da antiga Bizâncio, uma grandiosa capital –

Constantinopla, a “nova Roma”. Reorganizou a administração das províncias e

fortaleceu o exército para impedir a penetração dos bárbaros no território romano.

Em 313 por meio do “Édito de Milão”, concedeu liberdade de culto aos cristãos,

pois já era uma parcela numerosa e influente da população romana. Constantino

soube utilizar essa força nascente, apresentando-se como defensor do cristianismo.

Com o objetivo de superar a crise da falta de escravos criou a Lei do Colonato, que

fixava o colono a terra.

Teodósio (378-395) dividiu o império Romano entre seus dois filhos: Honório,

a quem coube o Império Romano do Ocidente, e Arcádio, que ficou com o Império

Romano do Oriente. Em 380, o imperador Teodósio proclamou o cristianismo como

religião oficial do império.

Enquanto no Oriente o império sobreviveria por mais um milênio, no Ocidente

seria logo desintegrado sob o choque dos bárbaros.

Cultura Romana

Religião A religião praticada em Roma era politeísta abrangia o culto familiar e o culto

público. Os deuses protetores da família eram os Lares. Os bens e os alimentos eram

protegidos por divindades especiais, os Penates. Esses deuses eram cultuados pelo

chefe da família junto à lareira, onde o fogo permanecia continuamente aceso.

Durante as refeições, os romanos espalhavam junto ao fogo migalhas e gotas de leite

e de vinho, como oferendas às divindades, para obter sua proteção. Nas festas

familiares, sacrificava-se aos deuses um animal (boi, carneiro ou porco), que depois

era dividido entre todas as pessoas da família.

Além dos deuses de cada família, havia os que eram cultuados por todos os

cidadãos. O culto público era organizado pelo Senado. Os sacerdotes se limitavam a

celebrar os cultos e estavam reunidos em edifícios chamados colégios. O mais

importante era o Colégio dos Pontífices. Outros colégios famosos eram os das

vestais, virgens encarregadas de manter aceso o fogo sagrado das cidades.

Os deuses romanos representavam as forças da natureza. Os doze grandes

deuses de Roma correspondiam aos principais deuses gregos. Os deuses eram

consultados através dos sacerdotes, realizando assim uma intermediação entre os

homens e os deuses. Era comum o romano consultar os deuses antes de tomar

qualquer decisão importante, como uma guerra, por exemplo. Seguindo as

cerimônias determinadas, os fiéis esperavam obter dos deuses boas colheitas ou

vitórias nas guerras. Pois acreditavam que se estivesse acontecendo algum ruim era

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MÓDULO I – HISTÓRIA GERAL

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porque os deuses estavam bravos. Havia festas religiosas todo mês, em honra dos

deuses e deusas. Muitas dessas festas era feriado público, em que ocorriam jogos

comemorativos.

O Cristianismo Surgiu durante o Alto Império, numa província romana, na Palestina, região

árida e pobre, que no decorrer de 600 anos foi dominada por grandes povos (Gregos

e Romanos). Habitado por Judeus, um povo muito religioso (monoteístas),

acreditava que Deus enviaria um Messias (salvador) para libertá-los da dominação e

exploração romana.

Por outro lado, havia um grupo de guerrilheiros (zelotas) que acreditavam que o

Messias viria como um deles e lideraria uma revolta que conseguiria por fim ao

domínio de Roma. Nesse contexto nasceu Jesus, numa família humilde e com

numerosos irmãos. O pai era carpinteiro, profissão que seguiu durante algum tempo.

Recebeu instruções numa escola da sinagoga, o que era comum para os meninos

judeus. Embora tenha nascido em Belém, passou toda a sua infância em Nazaré, essa

etapa de sua vida que pouco se conhece.

Aos 30 anos, passou a conviver com pessoas humildes, falava de maneira

simples, sem nenhuma autoridade, sempre disposto a ouvir o outro, mostrando-se

interessado e preocupado com o próximo. Diferente de outros mestres ia até os

necessitados e não esperava que viessem até ele. Pregava o perdão e não o castigo.

Nas suas andanças, passou a ser seguido por doze homens, os apóstolos, que

anunciavam nas aldeias e vilas a chegada do Messias.

Os seus ensinamentos também eram destinados à toda a sociedade, pregava a

existência do reino de Deus, um lugar onde apenas aqueles que desejassem

poderiam entrar, para tanto era preciso desprender-se dos bens materiais, saber amar

e perdoar o próximo, ser humilde, conversar com Deus, através de orações, pedindo

apenas o necessário.

Sua popularidade começou a preocupar os sacerdotes judeus, que não

acreditavam que este era o Messias, estes o denunciaram para as autoridades

romanas, dizendo que se julgava o novo rei dos Judeus e possivelmente era um

revolucionário. Traído por um de seus apóstolos, Judas, que levou os soldados

romanos até o local onde Jesus costumava rezar, foi preso, julgado pelo povo judeu,

incitado pelos sacerdotes e crucificado na sexta-feira, às 15 horas, sob as ordens do

então governador romano Pôncio Pilatos. Após sua morte, os apóstolos saíram pelo

Império Romano espalhando os ensinamentos deixados por Jesus, conhecidos como

a “Boa Nova”. Ganhou muitos adeptos entre os grupos mais humildes, aumentando

significativamente o número de cristãos.

Em Roma existiam inúmeras religiões de origens variadas, porém só o

Cristianismo passou a ser perseguido. Em 67, Nero promoveu um verdadeiro

massacre aos Cristãos, incendiou Roma e os culpou por isso. Nada disso os

intimidou, pelo contrário reunia-se nas catacumbas onde celebravam seus cultos.

Incomodados com o crescimento do Cristianismo e com os mistérios que envolviam

os cristãos que se negavam a participar das cerimônias religiosas realizadas pelos

romanos bem como aceitar que o Imperador fosse um dos representantes dos deuses

na terra, as perseguições tornaram-se cada vez mais constantes, muitos foram

atirados nas arenas para serem devorados vivos pelas feras.

Em 313, o Imperador Constantino, através do Edito de Milão, liberou os cultos

cristãos e em 380 o Imperador Teodósio, proibiu todos as outras religiões, exceto o

Cristianismo, adotando-as como a religião oficial.

Catacumba de São João, em Siracusa, onde se reuniam os

primeiros cristãos.

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Arte e Literatura A arte romana foi influenciada tanto pela arte etrusca quanto pela grega. Roma

é um dos centros culturais mais importantes do Ocidente e boa parte de seus

monumentos remonta à antiguidade. Caius Mecenas, conselheiro do imperador

Augustus, que reinou no final do século I a.C., foi o primeiro dos grandes patronos

da arte. Em sua época surgiram os conhecedores de arte e o turista em busca de

tesouros culturais e, pela primeira vez, os artistas obtiveram o mesmo prestígio que

políticos e soldados. Arte romana é o conjunto das manifestações culturais que

floresceram na Península Itálica do início do século VIII a.C. até o século IV d.C.,

quando foram substituídas pela arte cristã primitiva.

As criações artísticas dos romanos, sobretudo a arquitetura e as artes plásticas,

atingiram notável unidade, em conseqüência de um poder político que se estendia

por um vasto império. A civilização romana criou grandes cidades e a estrutura

militar favoreceu as construções defensivas, como fortalezas e muralhas, e as obras

públicas (estradas, aquedutos, pontes etc.). O alto grau de organização da sociedade

e o utilitarismo do modo de vida romano foram os principais fatores que

caracterizaram sua produção artística.

Costuma-se dizer que ”Roma conquistou a Grécia pela força de suas armas, e a

Grécia conquistou Roma pela força de sua cultura”. Realmente, foi muito profunda a

influência grega nas letras, nas artes e nas ciências romanas. O maior legado cultural de Roma foi o Direito. Como direito romano devemos entender o conjunto das instituições jurídicas de Roma e dos países regidos governados pelos romanos. Os romanos tinham o Jus Civile (Direito Civil), as leis dos cidadãos. Porém com a expansão romana foi elaborado o Jus Gentium (Direito das Gentes) que deveria ser aplicado a todos os homens livres que moravam nas províncias, mas não eram cidadãos romanos. Depois foi criado o Jus Naturale

(Direito Natural) se constituía em uma filosofia do Direito. Durante o reinado de Augusto, Roma viveu a idade de ouro na literatura latina. Atendendo a um pedido do imperador, que desejava uma epopéia literária para glorificar Roma, o poeta Virgílio compôs a Eneida, uma obra-prima da literatura mundial. A Eneida é um grande poema que narra a lenda do herói troiano Enéias. Depois da guerra de Tróia, conta Virgílio, Enéias fugiu para a Península Itálica e ali fundou Alba Longa. Rômulo e Remo, seus descendentes, foram os fundadores de Roma, segundo a lenda. Virgílio atribuiu a vida civilizada ao mundo, e levou Augusto como governante, como se ele tivesse sido designado pelos deuses para tornar realidade essa missão. Os gregos podem ter sido melhores escultores, oradores e pensadores, afirma Virgílio, mas apenas os romanos sabiam como governar um império. Além de Virgílio, destacaram-se também Horácio e Ovídio. No campo da História, temos Tito Lívio, Tácito, Júlio César, Suetônio e Plutarco. Na oratória, destacou-se Cícero.

Arquitetura O conhecimento atual sobre a antiga arquitetura romana provém de escavações

arqueológicas por toda a área do império e de registros escritos, como livros,

dedicatórias e inscrições. Seguindo o plano etrusco, os romanos erigiam as cidades

em torno de duas avenidas principais: uma no sentido norte-sul, outra de leste a

oeste, e uma praça (fórum) na intersecção. Os edifícios públicos agrupavam-se em

geral em torno do fórum. Inicialmente dominada pela influência etrusca, a

arquitetura romana adquiriu um estilo próprio com a descoberta do cimento, no

século II a.C., a construção com tijolos e ao aprimoramento do arco. As construções

dos dois últimos séculos do império incluem-se entre as manifestações mais

importantes da arte romana.

Na arquitetura, por exemplo, os romanos adotaram dos etruscos o arco e a

abóbada, que aperfeiçoaram, além de desenvolver novas técnicas de construção; dos

gregos adotaram as colunas.

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Vista de uma rua de Herculano. Arco de Constantino, Roma.

A originalidade maior dos romanos está sem dúvida, no urbanismo. Roma era

uma cidade relativamente organizada para os padrões da época.

Tendo como características gerais: busca do útil, senso de realismo; energia e

sentimento; grandiosidade material, realçando sempre a idéia de força;

caráter diante da beleza.

Além de muralhas, os romanos construíram túneis, templos, termas, anfiteatros,

teatros, arcos e fóruns. Ainda hoje existem, não só em Roma, mas em diversas partes

da Europa, restos dos aquedutos, sistemas de condução de água construídos pelos

romanos.

Foro de Trajano, Roma.

Anfiteatro de Nines, França.

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122

Aqueduto

O Mosaico foi muitíssimo utilizado pelos romanos na decoração dos muros e

pisos em geral. Estudiosos classificam a decoração das paredes internas dos edifícios

romanos em quatro estilos:

Placas de mármore: estilo que consistia em recobrir as paredes de determinado

ambiente com uma camada de gesso pintado; dando impressão de placas de

mármore.

Janelas abertas: estilo em que os artistas começaram a pintar painéis que

criavam a ilusão de janelas abertas por onde podiam ser vistas paisagens com

animais, aves e pessoas.

Detalhista: estilo que definia fielmente a realidade e valorizava a delicadeza

dos pequenos detalhes.

Cenário Teatral: estilo que reproduzia um cenário teatral, com plano de fundo

vermelho e ao centro muitas vezes uma cópia de uma pintura grega. Ao contrário

dos gregos, os romanos eram mais realistas e práticos do que idealizadores de beleza

humana – como faziam os gregos - em suas esculturas.

Esculpiam com mais êxito os imperadores e os principais homens da sociedade

nos retratos.

Soldado Romano com a cabeça de um inimigo daco (detalhe).

Coluna de Trajano, Roma.

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Os Reinos Bárbaros

A transição da Antiguidade para Idade Média, num primeiro momento durante a crise do Império Romano, assistiu a uma fusão da cultura dos Bárbaros Germânicos, com o Cristianismo e a herança cultural clássica greco-romana. As invasões dos povos germânicos que viviam nas fronteiras do Império Romano foi um dos fatores responsáveis pela crise que pôs fim no imenso Império Romano. Os germânicos tinham origem indo-européia e habitavam as terras situadas entre o Rio Reno, os Mares do Norte e Báltico, os rios Danúbio e Véstulo e os Montes Cárpatos, organizavam-se em aldeias levando uma vida simples. Vários povos eram classificados como germânicos. Entre eles estavam: godos, vândalos, francos, suevos, anglo-saxões, alamanos, burgúdios e escandinavos.

O conhecimento da antiga sociedade germânica provem da obra de Tácito (Germânia), escrita em 98. Nessa época, segundo Tácito, “os bárbaros germânicos eram analfabetos e não possuía conhecimento artístico”.

Os romanos chamavam de bárbaros todos aqueles que viviam além das fronteiras do Império. Por não falarem o latim e por terem costumes muito diferentes, não eram considerados civilizados. Um dos principais povos bárbaros foram os germanos, os quais exerceram grande influência na formação da Europa. A composição social dos germânicos era bastante semelhante às comunidades primitivas. A família constituía a base da organização social e política. O pai e patriarca era o chefe absoluto, e ao mesmo tempo juiz e rei. Prevalecia o casamento monogâmico. Os laços familiares eram sólidos. A ofensa a um dos membros atingia a toda a família. Todos deveriam vingar a ofensa: esta é a origem da Vendetta.

Porém, considerava o homicídio um simples fato de guerra, e podia ser redimido mediante “o preço do sangue” (wehrgeld ou componenda). As famílias se organizavam em tribos, e os guerreiros se reuniam em assembléia geral para eleger os reis. “Este era também um chefe guerreiro que liderava seus comandados nas campanhas militares e tinha seu prestígio diminuído em tempos de paz”. Para manter-se no poder, o rei recorria à pratica de conceder vários privilégios, entre esses, o de fazer doações de terras aos guerreiros, em troca da sua lealdade e do seu apoio”. (NADAI, Elza & NEVES, Joana. História Geral: Antiga e Medieval. Editora Saraiva, 1994). Na sua prática econômica, as terras eram de propriedade comum. Viviam basicamente da caça e em menor grau desenvolveram a agricultura (cereais) e a criação de gado. A importância da riqueza dependia da quantidade de bois e vacas que a família possuía. Nem todas as tribos plantavam. A guerra era a sua principal ocupação.

O direito germânico era baseado na tradição. Isto é, as leis não eram escritas. Os acusados de crimes eram submetidos a provas jurídicas chamadas de ordálios (provas de água e de fogo), isto é, forçados a andar nas brasas de uma fogueira ou mergulhar o braço na água fervendo. Os germânicos acreditavam que se fossem

A IDADE MÉDIA

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inocentes não seriam queimados. Se saísse ileso, o acusado poderia ir embora sem sofrer nenhum castigo. A religião era Politeísta. Divinizavam as forças da natureza. O deus principal era Odin ou Votã, o protetor dos guerreiros e das expedições de guerra. Eram adorados também Tor, o trovão, Suna, o sol, e Mon, a lua. Se um guerreiro fosse morto em combate, seria levada pelas valquírias para o Valhala, a residência dos deuses, uma espécie de paraíso. Quem morresse de doença ou outro motivo que não a violência na guerra iria para o Hell, uma espécie de inferno, onde havia trevas e fogo. Durante muito tempo viveram pacificamente com os romanos. Era comum grupos de germanos atravessarem a fronteira em busca de terras férteis, trabalho nas lavouras, ocupar os mais elevados postos no exército de Roma ou simplesmente para estudarem. Como camponeses receberam dos romanos terras em áreas despovoadas, ou passaram a trabalhar nas grandes vilas dos patrícios. Chegou inclusive a haver um casamento entre um Imperador romano, Galieno, e a filha de um rei bárbaro. Essa situação se alterou entre os séculos IV e V, quando os hunos grupos bárbaros de origem asiática, começaram a atacar os povos europeus que apavorados e em busca de proteção ultrapassaram as fronteiras do Império Romano. Essa invasão se deu de forma descontrolada e violenta, provocando muita morte e destruição. Alguns aristocratas em pânico fugiram para as suas propriedades rurais, acompanhados de escravos e pessoas mais humildes dispostas a trabalharem em troca de segurança. Embora a ameaça dos hunos seja a causa principal das invasões bárbaras, não foi a única, muitos povos, aproveitando-se da vulnerabilidade das fronteiras do Império o invadiram em busca de terras férteis e das riquezas lá existentes. Aos poucos os povos bárbaros foram se estabelecendo no interior do Império Romano, formando seus reinos. No entanto o único que conseguiu dar continuidade foi o dos Francos, todos os outros encontraram dificuldades de se manterem.

Os Estados germânicos

Nas terras conquistadas dos romanos, os invasores bárbaros fundaram diversos reinos independentes, entre os quais cabe destacar:

Reino dos anglo-saxões, atual Inglaterra;

Reino dos Francos, atual França e parte da atual Alemanha;

Reino dos Visigodos, na Península Ibérica;

Reino dos Suevos, na Galícia, atual Portugal;

Reino dos Vândalos, no norte da África;

Reino dos Ostrogodos, na Península Itálica.

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Os germanos assimilaram alguns traços da cultura romana, como pode ser observado na organização de seus reinos e na adoção do latim como língua oficial.

Apesar de adotarem o latim como idioma oficial, existiam entre romanos e germânicos muitas diferenças que levaram os reinos a não ter durabilidade. Apenas o reino Franco não foi efêmero. Os reinos romano-germânicos enfrentaram os seguintes obstáculos, segundo Joana Neves: “o desconhecimento pelos germanos da noção de Estado; as diferentes tendências religiosas entre os germanos e os romanos; a partilha de terras entre os vencidos e os vencedores”. No entanto, apesar desses obstáculos, alguns elementos contribuíram para fusão dos reinos romano-germânicos. Os chefes germanos, copiando os romanos, criaram códigos de leis e mantiveram as instituições romanas; alguns reinos converteram-se progressivamente ao catolicismo e aceitaram a autoridade da Igreja Católica.

As razões foram diversas: falta de organização política, pois não tinham experiência administrativa, crise econômica, com as invasões o comércio diminuiu significativamente por causa dos riscos que representava, as cidades decadentes estavam destruídas e abandonadas e finalmente as diferenças culturais, principalmente a língua.

Os povos germanos não se organizavam em Estado nem cidades. A tribo e a família eram as células básicas de sua organização política. A convivência social não se regia pelo conceito de cidadania, mas de parentesco. Desta forma, ao sedentarizarem, cada tribo ocupando uma determinada região do Império Romano, eles vieram a substituir um Estado organizado e relativamente urbanizado. Como não tinham instituições próprias para desempenhar a tarefa, adotaram as que estavam à mão.

O Reino dos Francos

Nos séculos IV e V, muitos povos bárbaros singraram a Europa em ondas migratórias. Os francos eram um dos menos numerosos. No entanto, logo após a onda migratória, fixaram definitivamente em uma região. E é dos francos que deriva as realizações políticas mais duradouras: a criação de duas nações modernas – a França e a Alemanha. Os francos ocuparam a Gália (atual França) e formaram o mais poderoso reino da Europa Ocidental, na Alta Idade Média. Este Estado se formou e expandiu sob o governo de duas dinastias: a merovíngia, cujo nome vem de Meroveu, líder dos francos na primeira metade do século V, na luta contra os hunos; e a dinastia carolíngia, que teve como principal governante Carlos Magno.

Os Reis Merovíngios (481 a 751)

Meroveu dá nome à primeira dinastia dos soberanos francos: Merovíngia. Clóvis, neto de Meroveu, conseguiu unificar os francos, conquistou a Gália e outras regiões ocupadas por povos bárbaros e venceu os romanos. Casado com uma princesa católica Clotilde, em 496 converteu-se ao cristianismo, na mesma ocasião foram batizados três mil dos seus guerreiros. A conversão de Clóvis trouxe-lhe o apoio do clero e dos cristãos que habitavam a Gália. Formou-se uma espécie de aliança entre Clóvis e a Igreja, muito importante para fortalecer a autoridade do rei e também para garantir à Igreja novos adeptos e apoio militar.

Batismo de Clóvis, rei dos francos.

Após a morte de Clóvis, a autoridade real se enfraqueceu, tanto pelo crescimento do poder dos proprietários de terra (feudalização), quanto pela incompetência dos seus sucessores (reis indolentes), envolvidas em disputas políticas e intrigas palacianas.

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Enquanto esses reis se descuidavam de suas funções, os majordomus, prefeitos do palácio, foram se assenhoreando do poder real e desempenhando o papel que seria do rei. As funções governamentais ficam nas mãos do prefeito (ou mordomos) do paço, que foi aumentando as suas atribuições até chegar a ser um verdadeiro rei. No século VII, um dos principais majordomus, Pepino de Heristal, torna o cargo hereditário e exclusivo da família Heristal passando-o para seu filho Carlos Martel. Carlos Martel notabilizou-se ao barrar a expansão dos muçulmanos sobre a Europa, vencendo-os na Batalha de Poitiers, em 732 (também chamada de Tours). A partir desse episódio Carlos Martel passa a ser chamado de salvador da cristandade. Em 751 o filho de Carlos Martel, Pepino, o breve, estimulado pelo Papa destronou o último rei merovíngio e assumiu o poder, sendo aclamado como rei. Estava começando a dinastia carolíngia. Pouco tempo depois, o rei franco pode demonstrar sua gratidão ao Papado. Atravessa os Alpes, derrota os Lombardo, apodera-se de Ravena e doa ao Papa. Esta foi a origem do poder temporal (territorial) dos Papas: Os Estados Pontifícios (ou Patrimônio de São Pedro).

Reconstituição de uma casa franca.

Os Reis Carolíngios (751 a 987)

O sucessor de Pepino foi Carlos Magno, que assumiu em 768. Em seu governo, expandiu os domínios francos, conquistando vários territórios, o que lhe trouxe grande prestígio e poder e o fortalecimento da aliança com a Igreja. No natal do ano 800, o Papa Leão II corou-o com o título de imperador do Sacro Império Romano Germânico, reeditando o sonho de um império e de uma cristandade unificada sob um único governo cristão. A restauração do Império Romano do Ocidente não dava, a Carlos Magno, vantagens materiais, mas significava um notável prestígio. O Novo imperador de Roma era de raça germânica. Isso simbolizava as profundas modificações que se processavam na Idade Média da Europa Ocidental: um rei franco, de ascendência germânica, lutava contra bárbaros germanos, tentava civilizá-los impunha-lhes o cristianismo e acabava sendo coroado imperador em Roma, a velha capital do Império.

A coroação de Carlos Magno pelo papa Leão III.

Após as suas conquistas, o império de Carlos Magno abrangia os atuais países da França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suíça, Áustria, Hungria, Iugoslávia, Itália e parte da Espanha. Consagrou-se como a figura mais importante da época medieval. “A organização administrativa do Império Carolíngio era (..) personalizada. O território estava dividido em centenas de condados, de extensão variável, cada um deles dirigido por um conde, nomeado pelo imperador. O conde representava o poder central em tudo, publicando as leis e zelando pela sua execução, estabelecendo impostos, dirigindo trabalhos públicos, distribuindo justiça, alistando e comandando os contingentes militares, recebendo juramentos de fidelidade dirigidos ao imperador. Em troca recebiam uma porcentagem das taxas de justiça e

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sobretudo terras entregues pelo soberano. Na tentativa de fiscalizar estes amplos poderes dos condes, o imperador contava com os missi dominici (“enviados do senhor”), que aos pares (um leigo e um clérico) visitavam os condados e elaboravam relatórios a respeito. Nas regiões fronteiriças, o representante do imperador recebia poderes especiais sob o título de marquês. Nesses locais, a tendência autonomista tornava-se ainda maior, havendo apenas um frágil vínculo com o império. (...) Como resultado disso tudo, o imperador carolíngio detinha somente um dos monopólios anteriormente gozados pelo imperador romano, o de cunhagem de moedas. Procurando contrabalançar o vasto poder dos nobres, era obrigatório o julgamento de fidelidade ao imperador por parte de todo habitante masculino desde os doze anos de idade”. (FRANCO JUNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo, Brasiliense, 2001.). Duas vezes ao ano eram realizadas assembléias na residência imperial: uma de guerreiros e outra dos principais senhores do reino. A realização destas assembléias facilitou o conhecimento dos problemas e dificuldades do império e permitiu a elaboração de numerosas leis e ordenanças – as capitulares – que regulavam todas as atividades dos súditos, unificando leis e costumes, e melhorando a administração.

O império de Carlos Magno

Carlos Magno também promoveu grande desenvolvimento cultural (Renascimento Carolíngio), fazendo-se cercar de sábios e intelectuais, abrindo escolas e mosteiros, estimulando a ação dos copistas e protegendo os artistas. Com isso, contribuiu para a preservação do rico acervo cultural da Antiguidade Clássica. “Por isso, Jacques Le Goff escreveu: „O Renascimento Carolíngio, em vez de semear, entesourou.‟ A preocupação dominante não consistia em compor textos originais, mas em reproduzir, copiar. Mesmo assim esse esforço tem grande mérito: ao copiarem pacientemente manuscritos antigos, os monges conservavam obras preciosas da literatura latina, que de outro modo teriam sido perdidas. Igrejas e mosteiros reuniram razoável número de livros e documentos, tornando-se repositórios de cultura e verdadeira fonte de saber dos séculos seguintes”. (RIBEIRO, Daniel Valle. A cristandade do ocidente medieval. São Paulo. Atual, 1998)

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A fragmentação do Império Carolíngio

Com a morte de Carlos Magno, assumiu seu filho Luís, o piedoso, que conseguiu ainda manter a unidade do Império. Mas, os sucessores de Luís, Carlos, o calvo, Lotário e Luís, o germânico, promoveu uma desgastante guerra, na disputa pelo poder, só resolvida após várias batalhas, com a assinatura do Tratado de Verdum (843), que dividiu o Império em três, destruindo a última tentativa real de unidade imperial na Europa Ocidental. Carlos, o calvo ficou com a parte ocidental do Império (atual França); Luís, germânico herdou a parte oriental (atual Alemanha); e Lotário herdou a parte central, do mar do Norte até a Itália.

Lentamente os reis carolíngios foram perdendo os seus poderes sobre estas regiões, dando lugar a um crescente fortalecimento do poder da nobreza (feudalização).

Texto Complementar

OS HUNOS Os hunos eram povos originários do Extremo Oriente (Ásia), que no início do século V, sob o comando de Átila, investiram sobre os germanos causando muito pânico e destruição. Eram povos nômades, que viviam da caça, criação de cavalos e pilhagens. O texto abaixo pode esclarecer melhor sobre como eram e como viviam esses grupos: “Segundo o historiador Aminiano Marcelino, oficial do exército romano, assim era a vida dos hunos quando de seus entrada na Europa, ao final do século IV: „Quando ainda muito jovens, fazem-lhes com um ferro profundos ferimentos no rosto, a fim de que as cicatrizes que nele se formarem impeçam a saída do primeiro pêlo: envelhecem desfigurados e sem barba. Todos eles têm, aliás, os membros vigorosos e o pescoço grosso: têm aspecto extraordinário e tão curvados que poderão ser tomados por animais de dois pés ou por esses pilares grosseiramente esculpidos em figuras humanas que se vêem nas bordas das pontes. Não têm eles necessidade do fogo nem de comidas temperadas, mas vivem de raízes selvagens e de toda a espécie de carne que comem meio crua, depois de tê-la aquecido levemente sentando-se em cima durante algum tempo quando estão a cavalo. Não têm casas, não se encontra entre eles nem mesmo uma cabana coberta de caniço. Vestem-se de pano ou peles de ratos dos campos; têm apenas uma única roupa e não tiram a túnica senão quando cai em farrapos. Cobrem a cabeça com pequenos bonés caídos, e as pernas com peles de bode. São colados a seus cavalos, que são, na verdade, robustos mas feios; não existe nenhum dentre eles que não possa passar a noite e o dia sobre a montaria; é a cavalo que bebem, comem e, abaixando-se sobre o pescoço estreito do animal, dormem. Nenhum cultiva a terra nem toca mesmo um arado. Sem morada fixa, sem casas, erram por todos os lados e parecem sempre fugir com as suas carriolas. Como animais desprovidos de razão. Ignoram inteiramente o que é o bem e o que é o mal; não têm religião, nem superstição, nada iguala a sua paixão pelo ouro.” (MELLO, Leonel I. A. e COSTA, Luís C. A. História antiga e medieval da comunidade primitiva ao estado moderno.

São Paulo, Editora Scipione, 1993. p. 195)

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O IMPÉRIO ROMANO NO ORIENTE OU BIZANTINO

Introdução e Localização Geográfica

Em 329, Constantino fundou uma nova capital para o Império Romano Constantinopla, no mesmo local onde outrora fora a antiga colônia grega de Bizâncio. “Bizâncio era uma antiga polis grega, ou cidade-estado, às margens do Bósforo, jamais de grande importância na antiguidade. Mas isso mudou quando o Imperador Constantino o Grande (306-37), a restabeleceu como a nova capital imperial e a rebatizou como Constantinopla – a cidade de Constantino – em sua própria homenagem. Devia servir como uma nova Roma, a partir da qual o Imperador podia inspecionar as mais vulneráveis fronteiras do império, que se estendiam ao longo do Danúbio e do Eufrates”. (ANGOLD) Quando Teodósio subiu ao trono cinqüenta anos mais tarde (379), oficializou o Cristianismo e colocou o paganismo fora da lei. Antes de morrer, Teodósio dividiu o Império Romano em duas partes, uma no ocidente, com capital em Roma, outra no oriente com capital em Constantinopla. Que deixou como herança para seus dois

filhos – Honório e Arcádio.

(Fonte: Bizâncio – A ponte da Antiguidade para a Idade Média, Imago, P. 15)

(Fonte: Bizâncio – A ponte da Antiguidade para a Idade Média, Imago, P. 14) Constantinopla foi fundada num ponto estratégico, na passagem do mar Egeu para o mar Negro, junto ao estreito de Bósforo. Estava protegida por muralhas e pelas águas dos mares. Era um centro comercial com um grande porto, para qual convergiam rotas comerciais que ligavam o Extremo Oriente e o Ocidente europeu. Durante muitos séculos, controlou o comércio de produtos de luxo (tecidos finos, marfim, pedras preciosas), especiarias (cravo, canela, pimenta, gengibre, noz-moscada). No final do século V, as invasões dos povos bárbaros haviam destruído e

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fragmentado o império ocidental, enquanto no oriente o poder manteve-se centralizado.

Economia e sociedade bizantina

O Império Bizantino estruturou e desenvolveu uma intensa atividade comercial marítima e terrestre, tornando-se, por isso, a mais rica e urbanizada região medieval da Europa. A produção agrícola estava baseada nos latifúndios dominados por uma aristocracia (dinatas), pelo Estado, e, principalmente pelas igrejas e mosteiros.

Lentamente as pequenas propriedades foram sendo absorvidas pelo Estado e a aristocracia concentrou ainda mais a propriedade rural. O trabalho nessas terras era exercido por camponeses e em algumas áreas por escravos. Apesar da produção superior ao Ocidente, não havia grandes excedentes agrícolas, dificultando ainda mais a vida dos camponeses.

O Império explorava grandes minas de metais preciosos, e armas e tecidos de sua fabricação tinham grande procura. O governo apoiava o comércio exterior e as oficinas de artesanato mantidas em Constantinopla.

A prosperidade do Império Bizantino até o século IX deveu-se a principalmente ao comércio. Três fatores concorreram para esse desenvolvimento: a localização geográfica (ponto de união entre Europa e Ásia); os excelentes portos do Mediterrâneo e a forte marinha bizantina, que assegurava a paz para a efetivação das relações comerciais. Tais características tornaram Constantinopla o “grande empório do mundo”.

É possível perceber, que a sociedade bizantina estava divida da seguinte forma:

Uma aristocracia rural e urbana, composta por latifundiários, grandes comerciantes, altos funcionários do Estado, membros da Igreja e cortes;

Artesãos e pequenos comerciantes;

Camponeses livres e escravos.

(Justiniano e seu séqüito, em um mosaico da igreja de São Vital, em Ravena. Fonte: História das Civilizações, Volume II, Abril, P. 39)

É preciso ressaltar que o Estado Bizantino, com sua grande estrutura administrativa, dirigia toda a economia por meio de regulamentações, leis protecionistas e tributárias, chegando até a monopolizar alguns setores. Além disso, o Estado era extremamente centralizado e com características religiosas, pois o imperador era a manifestação humana de Deus. A Igreja, quase sempre obedecia às ordens do imperador. Uma grande burocracia controlava todas as atividades da sociedade. O governo, por exemplo,

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fixava o preço de cada produto, o salário de cada trabalhador e controlava as profissões, que geralmente passava de pai para filho. A produção de cereais também era controlada pelas autoridades. A imensa maioria da população vivia miseravelmente.

O governo Justiniano

O reinado mais importante desde império foi o de Justiniano (527-565), no século VI. Durante o seu reinado Império Bizantino atingiu seu apogeu, com o fortalecimento do poder imperial e a expansão das fronteiras.

No plano político organizou o Corpus Juris Civilis (o corpo do direito civil), ou o Código Justiniano. Dividido em:

Código – reunião de leis e Constituições romanas desde o reinado de Adriano até o de Justiniano;

Institutas – princípios fundamentais do Direito Romano, que servia de manual aos estudantes;

Digesto – compilação das doutrinas fundamentais dos jurisconsultos romanos;

Novelas – leis publicadas no governo de Justiniano.

Página tirada dos Digesta. Fonte: História das Civilizações, Editora Abril, P. 38)

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(Miniatura do século XIII que ilustra uma página do Corpus Júris Civilis. Fonte: História

das Civilizações, Editora Abril, P. 38)

Este código de Direito serviu de base para inúmeros códigos civis de outras nações nos séculos seguintes. Além disso, o Estado assumiu diversos empreendimentos econômicos, expandindo sua máquina burocrática. Mandou construir a Igreja de Santa Sofia, em Constantinopla, fortificações militares, termas para banhos, hospitais, palácios e um aqueduto para o abastecimento de água da capital.

Internamente enfrentou a Revolta de Nika, que contou com a participação de grande parte da população de Constatinopla, que estava descontente com os pesados tributos e a forma agressiva como eles eram cobrados. A revolta se iniciou no hipódromo da cidade e após oito dias de luta, os rebeldes foram derrotados pelo general Belisário, quer matou mais de 30 mil pessoas.

Exerceu uma autoridade despótica, controlando tanto a vida política como religiosa no império, dando a seu poder um caráter quase sagrado. A preocupação com a questão religiosa marcou o reinado de Justiniano, que passou a exercer forte influência sobre a Igreja, instituindo o "cesaropapismo" e combateu todas as manifestações, consideradas como heresias, que pudessem dividir a Igreja e afetar seu poder.

“Justiniano era profundamente desagradável, enganador, ingrato, desconfiado e mesquinho. Mas era também ambicioso, empreendedor e valente, e acreditava apaixonadamente no império como guardião da civilização e da verdadeira religião”. (ROBERTS)

Justiniano empreendeu uma política expansionista cujo objetivo era recuperar o antigo império do ocidente e realizou importante conquista no norte da África, derrotando os Vândalos e posteriormente os Ostrogodos na Península Itálica e por último, parte da Espanha após derrotar os Visigodos.

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Logo após ter sido parcialmente reconstruída, a unidade do império viu-se ameaçada por uma série de acontecimentos que prejudicaram sua consolidação e sobrevivência. A fim de anexar o Ocidente ao Oriente, Justiniano enfraquecera as fronteiras orientais e setentrionais do território bizantino, expondo-o às ofensivas persas e a novas invasões bárbaras.

Diante de tantos problemas a estrutura sócio-econômica do Império do Oriente começou a se fragmentar, em meio ao tumulto provocado pelas divergências entre as diferentes classes. As mais pobres viviam em situação econômica deplorável, motivada pelas más colheitas, pelos freqüentes ataques dos bárbaros e por sucessivos surtos de epidemias.

Justiniano morreu a 14 de novembro de 565, com seu antigo prestígio já abalado. Seu longo reinado, porém, representou muito mais do que uma simples restauração do poder imperial, constituindo um grandioso epílogo de toda uma época: depois de sua morte, o Império Romano universal deixou de existir como realidade política, sobrevivendo apenas como um sonho político-religioso, acalentado pelos governantes dos séculos posteriores.

Do século VII ao X o Império Bizantino perdeu progressivamente os territórios conquistados e sofreu forte investida de outros povos - germânicos, búlgaros e persas. A recuperação e fortalecimento do Império ocorreram durante o reinado de Basílio II, que derrotou os búlgaros, no entanto, nesse mesmo século XI novas invasões ocorreram, destacando-se os turcos seldjúcidas do Oriente Médio a partir de 1071.

(Fonte: Bizâncio - A ponte da Antiguidade para a Idade Média, Imago, P. 13)

A Quarta cruzada foi responsável pela desagregação do império 1204 a 1261, durante esse período grande parte do território bizantino ficou sob domínio dos mercadores de Veneza.

(As muralhas de Constantinopla, construídas em 412 sob Teodósio II. Resistiram a todos os inimigos até 1204. Fonte: Bizâncio - A ponte da Antiguidade para a Idade Média, Imago.)

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No século XIV começa a invasão dos turcos Otomanos: em 1354 se estabelecem em Galípoli; em 1362 ocupam Adrianópolis; em 1422 sitiam Constantinopla sem sucesso, em 1430 dominam Tessalônica e em 1453 tomam Constantinopla sob o comando do Sultão Maomé II.

A Igreja Ortodoxa Bizantina

É interessante notar que este vasto Império teve como elemento unificador à religião cristã ortodoxa. A igreja recebia o nome de ortodoxa que tem o sentido de rigorosa ou que não se desvia do caminho, que é correta. Além da unidade de valores e costumes, era ela que dava autoridade ao imperador. A Igreja Católica Bizantina assumiu características próprias ao absorver elementos das diversas culturas e religiões orientais que fazia parte do Império. Com o tempo, surgiram correntes internas que questionavam alguns dogmas cristãos – heresias: Como os monofisistas defendiam que Cristo possuía apenas a natureza divina espiritual negando que Cristo fosse possuidor da natureza humana. O Concílio Ecumênico da Calcedônia, reunido em 451, aprovou a tese do Papa Leão I estabelecendo que Cristo tinha duas naturezas (a humana e a divina) em uma só pessoa. Para não desagradar o Papa, Justiniano procurou conciliar a heresia monofisista com a ortodoxia defendida pela Igreja; E a iconoclastia que teve inicio com uma lei do imperador Leão III, investido ao

mesmo tempo das funções de rei e sacerdote, proibindo o uso e culto de imagens sagradas, ordenando a sua destruição. Os seus seguidores passaram a quebrar as estátuas de santos das igrejas. Como na Igreja oriental as imagens eram chamadas de ícones, a heresia tomou esse nome. O Movimento Iconoclasta chegou a causar sérios problemas políticos no final do século VIII. Os conflitos que se estenderam por cerca de três séculos, terminariam provocando o rompimento definitivo dos laços que uniam as Igrejas do Ocidente e do Oriente, com o Cisma de 1054. A divergência entre a Igreja do Ocidente, comandada pelo papa em Roma, e o patriarca, autoridade máxima no Oriente, agravaram-se a tal ponto que em 1054 ocorreu os rompimentos entre as Igrejas. Esse episódio ficou conhecido como o Cisma do Oriente, dividindo a Igreja Cristã em Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega.

(Sta. Irene, Istambul – interior. Construída no século VI sob Justiniano, foi reconstruída depois de um terremoto em 740 pelo iconoclasta Constantino V. Observem a cruz

iconoclasta na abside. Fonte: Bizâncio – A ponte da Antiguidade para a Idade Média, Imago.)

“Embora o Império Oriental tenha durado tanto tempo e sofrido tantas mudanças, as pessoas que nele viviam freqüentemente fingiram que nada mudara. Os seus imperadores continuaram até o fim a se chamar de Augusti. A essência religiosa não mudou: permaneceu cristã, e isto de um modo especial, dentro da tradição ortodoxa. Desta tradição derivam não apenas as Igrejas atuais da Grécia e do Chipre, mas também as da Rússia, da Bulgária e de outras terras eslavas. (...) a „ortodoxia‟ (...) foi em muitos aspectos diferentes da cristandade católica que dominaria a Europa Ocidental. Nenhum clérigo ortodoxo tinha autoridade comparável à do Papa romano, por exemplo; o Patriarca de Constantinopla reconhecido líder oriental desde o século VII, era na verdade indicado pelo imperador e, em contrapartida, dava a benção da Igreja à coroação imperial.” (ROBERTS)

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Cultura Bizantina

A arte Bizantina teve seu centro de difusão a partir da cidade de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, e desenvolveu-se a princípio incorporando características provenientes de regiões orientais, como a Ásia Menor e a Síria. A aceitação do cristianismo a partir do reinado de Constantino e sua oficialização por Teodósio procuraram fazer com que a religião tivesse um importante papel como difusor didático da fé ao mesmo tempo em que serviria para demonstrar a grandeza do Imperador que mantinha seu caráter sagrado e governava em nome de Deus. O apogeu da cultura bizantina ocorreu durante o reinado de Justiniano (526 - 565), considerada como a Idade de Ouro do império.

Justiniano (Fonte: http://www.historianet.com.br/main/conteudos.asp?conteudo=78)

Arquitetura

O grande destaque da arquitetura foi a construção de Igrejas, facilmente compreendido dado o caráter teocrático do Império Bizantino. A necessidade de construir Igrejas espaçosas e monumentais determinou a utilização de cúpulas sustentadas por colunas, onde haviam os capitéis, trabalhados e decorados com revestimento de ouro, destacando-se a influência grega. A Igreja de Santa Sofia é o mais grandioso exemplo dessa arquitetura, onde trabalharam mais de dez mil homens durante quase seis anos. Por fora o templo era muito simples, porém internamente apresentava grande suntuosidade, utilizando-se de mosaicos com formas geométricas, de cenas do Evangelho.

Na cidade italiana de Ravena, conquistada pelos bizantinos, desenvolveu-se um estilo sincrético, fundindo elementos latinos e orientais, onde se destacam as Igrejas de Santo Apolinário e São Vital, destacando-se esta última onde existe uma cúpula central sustentadas por colunas e os mosaicos como elementos decorativos.

Igreja de Santa Sofia Igreja de Santa Sofia (Fonte: http://www.historianet.com.br/main/conteudos.asp?conteudo=78)

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Pintura e Escultura

A pintura bizantina não teve grande desenvolvimento, pois assim como a escultura sofreu forte obstáculo devido ao movimento iconoclasta .

Encontramos três elementos distintos:

Os ícones, pinturas em painéis portáteis, com a imagem da Virgem Maria, de cristo ou de santos;

As miniaturas, pinturas usadas nas ilustrações dos livros, portanto vinculadas com a temática da obra;

E os afrescos, técnica de pintura mural onde a tinta era aplicada no revestimento das paredes, ainda úmida, garantindo sua fixação.

(Ícone de Cristo de Sta. Catarina, Sinai. Datando de fins do século VI. Fonte: Bizâncio - A

ponte da Antiguidade para a Idade Média, Imago.)

Mosaicos

O Mosaico foi uma forma de expressão artística importante no Império Bizantino, principalmente durante seu apogeu, no reinado de Justiniano, consistindo na formação de uma figura com pequenos pedaços de pedras colocadas sobre o cimento fresco de uma parede. A arte do mosaico serviu para retratar o Imperador ou a imperatriz, destacando-se ainda a figura dos profetas.

(Fonte:

http://www.historianet.com.br/main/conteudos.asp? conteudo=78)

(Detalhe do arco triunfal da Igreja de São Vital, em Ravena. História das civilizações, Ed. Abril, P 35.)

(Detalhe da cúpula do Batistério dos Arianos,

Ravena. História das civilizações, Ed. Abril, P 35)

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Literatura

A literatura bizantina também se baseava nos clássicos gregos; não conseguindo ultrapassá-los, assumiu, por isso, características imitativas. A literatura religiosa escapou desses padrões devido aos seus temas e suas características próprias. A História foi muito importante para o desenvolvimento e criatividade da literatura. Partindo da tradição grega clássica de grandes historiadores, os bizantinos procuraram alcançar uma maior objetividade mediante um tratamento mais rigoroso com a documentação histórica. Da grande produção e divulgação das obras históricas surgem trabalhos com temas mais amplos e variados, relacionados com a vida cotidiana do Império; ao chegar nas ruas, popularizando-se, essas obras acaba gerando um novo estilo: as crônicas. A educação também se dividia em leiga e religiosa. Durante o Império de Justiniano passou a ser exigência que todos os professores universitários fossem cristãos. Os estudos começavam nas "escolas", entres os 5 e 6 anos. O primeiro contato com as letras era seguido pela gramática e posteriormente pela retórica. Aos 18 anos podia-se ingressar na universidade, onde eram ministrados conhecimentos gerais de filosofia, matemática, geometria, música e astronomia. A base dos estudos universitários eram os clássicos gregos. Durante o Império Bizantino quase nada foi realizado no sentido de ultrapassar o conhecimento produzido pelos “gregos antigos”.

(Fonte: www.imperiobizantino.hpg.ig.com.br/Ciencia_e_Educacao/9/interna_hpg7.html)

Textos Complementares

As Festas em Bizâncio

Nas festas públicas religiosas, em Bizâncio, podia-se encontrar o confronto entre dois mundos: o mundo oficial do imperador, da corte e da Igreja; e o mundo dos homens comuns que ainda adoravam os deuses pagãos. O imperador romano do Oriente ostentava seu poder em cerimônias públicas imponentes, com a participação dos patriarcas e dos monges. Nessas ocasiões, a religião oficial – o cristianismo – confundia-se com o poder imperial. Em muitas das pinturas e mosaicos da época evidencia-se claramente esse vínculo entre a Igreja e o Estado. Nas imagens, Cristo aparece geralmente como um rei em seu trono e Maria como rainha, vestidos ricamente e com expressões de seres inatingíveis, como o imperador portava-se nas cerimônias; os apóstolos e os santos apresentam-se como figuras solenes, representando claramente os patriarcas que rodeavam o soberano e lhe prestavam homenagem; e os anjos assemelham-se aos clérigos que costumavam seguir em procissões, como nas festas oficiais. As festas pagãs, que aconteciam sem nenhuma solenidade, eram proibidas pela Igreja. Entretanto, o povo revivia periodicamente as tradições culturais greco-romanas. Eram freqüentes os carnavais ligados aos cultos de Dionísio, antigo deus romano, que, na sociedade cristianizada, descera ao nível dos demônios, pois só os demônios gostavam de rir. Os homens e as mulheres saíam às ruas mascarados, dançando e rindo, divertindo-se livremente como seus antigos antepassados comemoravam a renovação da vida no período das colheitas.

(COTRIM - História da Consciência do Mundo, pág. 120/121)

O MUNDO ÁRABE

Os árabes foram um elemento difusor de cultura. Serviram como ponte entre as civilizações romana e helenística e o Oriente. Foram unidos por um reformador religioso, Maomé, o fundador do Islamismo. De suas bases na desértica península arábica, partiram para conquistar boa parte do mundo conhecido.

Localização Geográfica

A Arábia é uma vasta península, cujos 5/6 são desertos inabitáveis. A península compreendida entre o mar Vermelho, o oceano Índico e o golfo Pérsico, coexistiram por mais de milênio, duas civilizações árabes profundamente distintas, embora fossem originárias da mesma estirpe semítica e estivesse em contato permanente uma com a outra. Na região sul, vivia um povo que dedicava à agricultura e ao comércio, atividades favorecidas pelos solos férteis, por boas condições climáticas e pela proximidade do mar. Aberta ao contínuo contato com outras civilizações, essa área tornou-se bem mais próspera e culta. Ao norte, no grande deserto, viviam os beduínos, grupos nômades que, devido às condições naturais adversas, eram

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obrigados a garantir seu sustento apenas com base no pastoreio e no saque as populações sedentárias vizinhas.

(Fonte: Historia Geral: Antiga e Medieval, Joana Neves e Elza Nadai, Saraiva, P. 281)

Arábia Pré-Islâmica

Os árabes não formavam um Estado estavam organizados em tribos lideradas por um xeque. As rivalidades entre as tribos eram constantes principalmente pelo controle dos oásis. Antes de Maomé, os árabes eram politeístas e praticava a idolatria. Adorava mais de 360 divindades. Todos os ídolos estavam reunidos em Meca no templo de nome Caaba inclusive uma grande pedra, “que teria sido enviada milagrosamente pelo céu”. Os comerciantes de Meca eram responsáveis pela guarda do templo. A visitação a Caaba constituía um ato de solidariedade religiosa entre todos os árabes, inclusive os beduínos. “Com o avanço comercial de Meca, uma elite substituiu gradualmente o poder de um só líder, esta elite era constituída pelas famílias, ou clãs, de comerciantes ricos, ou chefes de cada uma dessas famílias compunham o conselho dos Coraixitas, que governava Meca. Estas famílias possuíam as melhores casas, ou seja, as mais centrais e, portanto, mais próxima a Caaba e ao poço que havia em sua frente. Os Coraixitas mais pobres viviam no subúrbio, ou seja, nas regiões mais afastadas do centro. Além dos Coraixitas, detentores de maior status na cidade, havia também os membros de outras etnias, como os próprios Khozâ’a, e outros povos que migraram para a cidade em conseqüência de sua prosperidade, esta devida à Caaba, dessa forma, a Caaba era, para Meca, muito mais do que um lugar de culto religioso, era mesmo a fonte de poder e razão de existência da cidade.”

(Adaptado, GIORDANI, Mário Curtis. História do Mundo Árabe Medieval

A religiosidade desse povo compreendia o culto de divindades da natureza e de ídolos, sendo dominada pelo terror dos espíritos malignos. As fortes influências exercidas pelas religiões hebraica e cristã terminaram fazendo com que os beduínos não permanecessem totalmente fechados a idéia de uma divindade suprema, onipotente e inteligente – Alá. Os principais pregadores dessas idéias eram os cristãos monofistas que haviam fugido de seus países de origem; os hebreus, muito numerosos, sobretudo em Yatrib; e os eremitas que viviam no deserto. Foram todos esses elementos, na realidade, que prepararam o terreno para a implantação do islamismo, sendo finalmente por ele absorvido.

Arábia Islâmica

O islamismo foi fundado por Maomé. Nascido por volta do ano 570 em Meca recebeu seu chamado quando tinha cerca de 40 anos. “Maomé começou a refletir sobre os caminhos de Deus para o homem. Certo dia, ao meditar numa caverna fora de Meca, ouviu uma voz dizer-lhe que escrevesse a sua visão da Palavra de Deus. Nos 22 anos seguintes, ele falou profeticamente. O que seus seguidores escreveram enquanto ele falava só foi reunido após sua morte, mas se tornou um dos grandes livros religiosos da História mundial: o Alcorão. Como judeus e cristãos consideram um tesouro as suas Escrituras, os muçulmanos também teriam o seu próprio Livro.” (ROBERTS) Maomé que conhecia os princípios do judaísmo e do cristianismo recebeu do arcanjo Gabriel a missão de propagar a vontade de Deus (Alá) que lhe fora revelada. Para Maomé Alá passou a ser único, eterno, exclusivo, e sem qualquer semelhança com o homem ou quaisquer criaturas visíveis e invisíveis, que tudo sabia e julgava de acordo com a sua justiça infalível. Perseguido e ameaçado de morte, Maomé foge de Meca em 622. Essa data é chamada de Hégira (“fuga”) e assinala o início da era maometana. Maomé refugia-se em Medina.

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A partir da Hégira, Maomé transforma sua pregação em guerra santa. Após oito anos de luta, em 630, entra vitorioso em Meca, onde mata seus principais inimigos e destrói os ídolos. A Caaba foi preservada. Meca foi designada a cidade sagrada dos muçulmanos. Dois anos mais tarde, quando Maomé morreu, a Arábia, graças à religião, estava unida politicamente.

Os Pilares do Islamismo

O Alcorão (ou Corão) estabeleceu as bases do que hoje se chama “islamismo”, um conjunto de princípios que unem uma irmandade de crentes atualmente mundial. A palavra “islamismo” significa “submissão” ou “entrega”. Segundo Roberts: “Os muçulmanos acreditam que os grandes profetas de Israel, e também Jesus, foram verdadeiros profetas, ensinava Maomé, mas ele viera para garantir que era o último profeta, por meio de quem Deus enviou a Sua última mensagem à humanidade. Esta mensagem estabelecia um credo e um código de comportamento para atender as necessidades do próprio povo de Maomé, mas provou ser muito aceitável para outros”.

O mais antigo exemplar do Al Corão do mundo. A vida e os costumes Árabes passaram, desde Maomé, a serem ditados pelo Alcorão. Porém, o próprio Maomé dizia que: "É uma blasfêmia atribuir este Alcorão a outro, que não Deus. Ele é a confirmação do que o procedeu e a elucidação do Livro incontestável do Senhor dos mundos". Segundo o Alcorão, todos os Muçulmanos têm cinco obrigações básicas:

orar diariamente com a cabeça voltada para Meca;

o zakat, doar esmolas aos pobres;

jejuar no mês do Ramadã (mês lunar, do calendário Árabe,

sagrado);

peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida (dessa obrigação

estão livres aqueles que dispuserem de recursos; difundir a fé (essa obrigação deu origem à Jihad, ou Guerra Santa,

pois se tratava da guerra, com a bênção divina, contra aquele que não aceitassem a fé Islâmica).

Dentro dessas cinco obrigações, pode-se constatar pelo menos duas que foram incluídas pelo profeta: jejuar no Ramadã e difundir a fé. A primeira é explicada devido ao fato deste mês ser o mês das secas e, conseqüentemente, da fome, dessa forma, se o Muçulmano estiver jejuando, ele não acreditará que está passando fome por condições que lhe são inatingíveis, mas sim por vontade própria. Já a difusão da fé é uma preocupação do profeta para que, com sua morte, a religião não se estagnasse.

(Adaptado de GIORDANI, Mário Curtis. História do Mundo Árabe Medieval ).

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Peregrinos dão sete voltas ao redor da Caaba, que já foi reconstruída inúmeras vezes

A Grande Mesquita de Meca, com a Caaba ao centro

A expansão árabe

No ano de 630 Maomé e seus seguidores ocuparam a cidade de Meca, destruíram os ídolos da Caaba, símbolos do politeísmo, e assim fundou-se o Islão – Estado Teocrático dos crentes. Esse fato é considerado como a unificação política e religiosa dos povos árabes, agora comandados pelo Califa. O Expansionismo árabe iniciou-se logo após a morte de Maomé tanto em direção ao oriente como ao ocidente. As conquistas islâmicas se ampliaram sob os califas Omíadas (661 - 750) e foram preservadas pelos Abássidas (750 - 1258), apesar das diversas divisões políticas, iniciadas com a fundação do Emirado de Córdova em 756. As causas da rápida expansão muçulmana foram: Crescimento demográfico com a necessidade de novas terras para o cultivo;

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Interesses em dominar rotas de comércio; Enfraquecimento dos Impérios Persa e Bizantino; Descentralização política na Europa Ocidental; A Guerra Santa com a promessa da salvação para os infiéis que morressem nas guerras contra os pagãos.

Na Europa, o expansionismo muçulmano foi contido pelos Francos, na famosa Batalha de Poitiers em 732. Durante a Dinastia dos Abássidas o comércio árabe atingiu grande extensão, destacando-se o comércio de especiarias com as Índias, as várias rotas de contato com Constantinopla e as várias rotas do norte africano pelo interior, realizado por caravanas, que traziam ouro para a cidade de Ceuta, objeto de interesse português no século XV.

Apesar da centralização política e religiosa, a história do império árabe caracterizou-se por várias disputas pelo poder e conseqüentemente por divisões, de onde inclusive nasceram as duas seitas mais importantes do Islamismo: sunitas e xiitas.

A Cultura Islâmica O Islamismo é a religião formulada por Maomé e que se propagou a partir da Arábia desde o século VII. Apesar de considerada uma religião sincrética, formada a partir de elementos cristãos e judaicos, na verdade temos uma religião original, que procurou responder aos anseios dos povos daquela região, incorporando principalmente elementos da cultura dos povos beduínos e algumas característica de outras religiões. Na arte, percebemos tanto as influências dos povos pré-islâmicos, como também de uma nova cultura, forjada com a construção de importantes dinastias, poderosas e vinculadas diretamente ao elemento religioso. A produção artesanal de tapetes é uma característica anterior a religião, enquanto a construção de grandes templos – Mesquitas – é posterior as conquistas justificadas pela fé.

Tapetes Os tapetes e tecidos desde sempre tiveram um papel muito importante na cultura e na religião islâmicas. Para começar, como povos nômades, esses eram os únicos materiais utilizados para decorar o interior das tendas. À medida que foram se tornando sedentários, as sedas, brocados e tapetes passaram a decorar palácios e castelos, além de cumprir uma função fundamental nas mesquitas, já que o muçulmano, ao rezar, não deve ficar em contato com a terra.

Diferentemente da tecedura dos tecidos, a do tapete constitui uma unidade em si mesma. Os fabricados antes do século XVI chamam-se arcaicos e possuem uma trama de 80 000 nós por metro quadrado. Os mais valiosos são de origem persa e têm 40 000 nós por decímetro quadrado. As oficinas mais importantes foram as de Shiraz, Tabriz e lsfahan, no Oriente, e Palermo, no Ocidente. Entre os desenhos mais clássicos estão os de utensílios, de motivos florais, de caça, com animais e plantas, e os geométricos, de decoração.

(Tapete. Enciclopédia Multimídia da Arte Universal).

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Arquitetura

As mesquitas (locais de oração) foram construídas entre os séculos Vl e Vlll, seguindo o modelo da casa de Maomé em Medina: uma planta quadrangular, com um pátio voltado para o sul e duas galerias com teto de palha e colunas de tronco de palmeira. A área de oração era coberta, enquanto no pátio estavam as fontes para as abluções. A casa de Maomé era local de reuniões para oração, centro político, hospital e refúgio para os mais pobres.Essas funções foram herdadas por mesquitas e alguns edifícios públicos.

No entanto, a arquitetura sagrada não manteve a simplicidade e a rusticidade dos materiais da casa do profeta. Persistiu a preocupação com a preservação de certas formas geométricas, como o quadrado e o cubo.

Outro exemplo de Mesquita Otomana. Vista geral da Mesquita Sumaimaniye, em Istambul, construída entre 1550 e 1557

A cúpula de pendentes, que permite cobrir o quadrado com um círculo, foi um dos sistemas mais utilizados na construção de mesquitas, embora não tenha existido um modelo comum. As numerosas variações locais mantiveram a distribuição dos ambientes, mas nem sempre conservaram sua forma. As mesquitas transferiram depois parte de suas funções aos edifícios públicos: por exemplo, as escolas de teologia, semelhantes àquelas na forma. A construção de palácios, castelos e demais edifícios públicos merece um capítulo à parte.

(Taj Mahal. Enciclopédia Multimídia da Arte Universal)

As residências dos emires constituíram uma arquitetura de segunda classe em relação às mesquitas. Seus palácios eram planejados num estilo semelhante, pensados como um microcosmo e constituíam o hábitat privativo do governante. O aposento mais importante era o diwan ou sala do trono. Outra das construções mais originais e representativas do lslã foi o minarete, uma espécie de torre cilíndrica ou octogonal situada no exterior da mesquita a uma altura significativa, para que a voz do almuadem ou muezim pudesse chegar até todos os fiéis, convidando-os à oração.

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(Pátio dos Leões. Enciclopédia Multimídia da Arte Universal)

Pintura e Gráfica

As obras de pintura islâmica são representadas por afrescos e miniaturas. Das primeiras, muito pouco chegou até nossos dias em bom estado de conservação. Elas eram geralmente usadas para decorar paredes de palácios ou de edifícios públicos e representavam cenas de caça e da vida cotidiana da corte. Seu estilo era semelhante ao da pintura helênica, embora, segundo o lugar, sofresse uma grande influência indiana, bizantina e inclusive chinesa.

(Ascensão de Maomé. Enciclopédia Multimídia da Arte Universal)

Estreitamente ligada à pintura, encontra-se a arte dos mosaicistas. No início, as representações eram completamente figurativas, semelhantes às antigas, mas paulatinamente foram se abstraindo, até se transformarem em folhas e flores misturadas com letras desenhadas artisticamente, o que é conhecido como arabesco.

(Detalhe do Corão. Enciclopédia Multimídia da Arte Universal)

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Legados

Os primeiros a revolucionaram a matemática. Seguramente a forma mais perfeita de representação numérica já inventada. Além de contarem com a noção do zero, noção inexistente nos algarismos romanos utilizados até então, contavam com dez símbolos (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9), proporcionando uma escrita muito mais simples dos números do que os sete símbolos romanos (I, V, X, L, C, D e M). A pólvora, talvez tenha sido a mais impressionante e importante contribuição tecnológica do mundo Islâmico para o mundo. Aliás, se pensarmos sobre a importância da pólvora na História da Humanidade, veremos que, talvez, ao lado do fogo e da roda, ela seja a invenção mais revolucionária de todos os tempos. A pólvora não foi inventada, em si, pelos Árabes, mas sim pelos Chineses. Estes a utilizavam desde tempos muito remotos como fogos de artifício, mas os Árabes, ao

compreenderem suas propriedades foram os primeiros a pensar numa utilização bélica para ela. Isso deve ter ocorrido no final do século XIII, tanto que, em meados do século XIV, o Império Otomano formava o primeiro corpo de Janízaros (soldados armados com arcabuzes, armas de fogo rudimentares que, segundo consta disparavam de tudo, desde pedras até flechas. Ao que parece, o chumbo só passou a ser utilizado como munição por volta do século XV) da História. Por fim, pode-se considerar a Bússola e o Astrolábio que, assim como a pólvora, não foram invenções dos Árabes, mas dos Chineses. Estes foram transmitidos aos Europeus pelos Árabes e revolucionaram a navegação. É verdade que o Astrolábio já havia sido inventado pelos Gregos na Antiguidade, porém, foi, como outras coisas, esquecido e os Chineses, apesar de posteriormente, tiveram a mesma idéia que os Gregos antigos haviam tido e inventaram um aparelho semelhante, que foi passado aos Árabes. Estes, por sua vez, o aprimoraram e tornaram-no indispensável à sua navegação.

(Adaptado de GIORDANI, Mário Curtis. História do Mundo Árabe Medieval)

:: E N T E N D A ::

Muçulmano: O que segue o islamismo. “Aquele que se submete a Deus”, em árabe. Nem todo muçulmano é árabe e nem todo árabe é muçulmano. Afeganistão, Paquistão e Indonésia são majoritariamente islâmicos e não são árabes.

Sunitas: Os que aceitaram a sucessão estabelecida após a morte de Muhammad e seguem a “sunnat annabi” (tradição do profeta). São mais de 85% dos muçulmanos. Arábia Saudita, Síria, Egito e Indonésia são países com maioria sunita.

Xiitas: (de “shiaat Ali”, partido de Ali). Discordam dos sunitas e para eles, a linhagem sucessória devia ser formada por descendentes do profeta – Ali era primo e genro de Muhammad (casado com Fátima) e devia ter sido o primeiro califa. O xiismo é majoritário no Irã.

Jihad: “Esforço” na causa de Deus para difusão e proteção do islamismo. Ficou caracterizado como "guerra santa" na imprensa.

Allah: Deus, em árabe.

Califa: Sucessor de Muhammad e, mais tarde, chefe político.

Fatwa: Decreto religioso.

Hajj: Peregrinação a Meca (Arábia Saudita) que todo muçulmano apto deve fazer pelo menos uma vez.

Imã: Autoridade religiosa.

Xeque: (de “shaikh”, senhor). Líder religioso, mestre espiritual.

(Fonte: A Folha de São Paulo, 23 de setembro de 2001).

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A Alta Idade Média (séc. V - X)

• Este período é caracterizado pela ruralização, culminando na formação do feudalismo; • A economia era de subsistência e sustentava-se no trabalho servil; • A sociedade era estamental, sem mobilidade vertical e estava hierarquizada em ordens: o clero (reza), os nobres (guerra), servos (trabalho). • Influenciados pelo cristianismo acreditavam que o reino da Terra fora concebido por Deus. Assim, a Igreja, detentora da salvação, impôs uma ordem política fundada no imperador, com poderes temporais, e no papa, com poderes espirituais. • A cultura mesclava a religiosidade cristã com o espírito guerreiro feudal, numa época marcada por invasões, constituindo-se na identidade da Europa Ocidental. Expressou, ainda, o teocentrismo na filosofia de Santo Agostinho, a religiosidade na arquitetura do estilo românico.

Formação do Feudalismo

A formação do feudalismo, desenvolveu-se num longo período, que engloba a crise do Império Romano a partir do século III, a formação dos Reinos Bárbaros e a desagregação do Império Carolíngio no século IX.

Origens

A Crise Romana A partir do século III a crise do Império romano tornou-se intensa e

manifestou-se principalmente nas cidades, através das lutas sociais, da retração do comércio e das invasões bárbaras. Esses elementos estimularam um processo de ruralização, envolvendo tanto as elites como a massa plebéia, determinando o desenvolvimento de uma nova estrutura sócio econômica, baseada nas Vilas e no colonato. As transformações da estrutura produtiva desenvolveram-se principalmente nos séculos IV e V e ocorreram também mesmo nas regiões onde se fixaram os povos bárbaros, que, de uma forma geral, tenderam a se organizar seguindo a nova tendência do Império, com uma economia rural, aprofundando o processo de fragmentação.

Gravura que retrata o trabalho do camponês no feudo

Em meio à crise, as Vilas tenderam a se transformar no núcleo básico da

economia. A grande propriedade rural passou a diversificar a produção de gêneros agrícolas, além da criação de animais e da produção artesanal, deixando de produzir para o mercado, atendendo suas próprias necessidades.

FEUDALISMO

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Foi dentro deste contexto que se desenvolveu o colonato, novo sistema de trabalho, que atendia aos interesses dos grandes proprietários rurais. Substituindo o trabalho escravo, pela plebe, que migrava para as áreas rurais trabalhando em troca de proteção. A clientela, existente na Roma Antiga onde um plebeu ligava-se a um patrício em busca de proteção e em troca prestava serviços e fornecia rendas ao seu protetor. Passa a caracterizar a relação de dependência que o servo tinha com o senhor durante o Feudalismo. As Invasões Bárbaras

Os povos "bárbaros", ao ocuparem parte das terras do Império Romano, contribuíram com o processo de ruralização e com a fragmentação do poder. A aliança das tribos, assim como a aliança de Clóvis com a Igreja Católica impulsionou o processo de conquistas territoriais, que se estendeu até o século IX e foi responsável pela consolidação do “beneficium”, que transformaria a elite militar

em elite agrária. O “Beneficium” era uma instituição bárbara, a partir da qual o chefe tribal concedia certos benefícios a seus subordinados, em troca de serviços e principalmente de fidelidade. Em um período de crise generalizada, marcada pela retração do comércio, da economia monetária e pela ruralização, a terra tornou-se o bem mais valioso e passou a ser doada pelos reis a seus principais comandantes. Os bárbaros germânicos também deixaram a instituição do comitatus. Instituição pela qual os guerreiros ligavam-se voluntaria-mente em torno de um líder militar, ao qual devia total obediência.

Cavaleiro medieval

A SOCIEDADE FEUDAL: RELAÇÕES FEUDO-

VASSÁLICAS E RELAÇÕES DE SERVIDÃO

Relações Servis – Servidão As transformações pelas quais o escravo e o trabalhador livre passaram em fins da Antigüidade acabaram por criar um tipo intermediário, o colonus romano, antepassado direto do servo feudal. Da mesma forma, o latifúndio romano acabou, com o decorrer dos séculos, por gerar a típica unidade de produção feudal, o senhorio. Cada senhorio estava dividido em três partes, todo trabalhado e explorado (ainda que não exclusivamente) pelos servos. A reserva senhorial (ou domínio),

com cerca de 30% de área total do senhorio era cultivada alguns dias por semana pelos servos em função da obrigação conhecida por corvéia. Todo o resultado

desse trabalho cabia ao senhor, sem qualquer tipo de pagamento ao produtor. Os lotes sevis (mansi) dos camponeses ocupavam no conjunto de 40% a 50%

do senhorio. Cada família cultivava o seu lote, de 2 a 3 hectares, dele tirando sua subsistência e pagando ao senhor pelo usufruto da terra uma fixa conhecida por

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censo. O servo devia uma parte do que produzia (talha), um pequeno valor anual para marcar sua condição de dependência (chevage), uma taxa para se casar com pessoa de outra condição social ou submetida a outro senhor (formariage), um presente ao senhor para poder transmitir o lote hereditariamente a seu filho (mão-morta). Assim como os demais habitantes do senhorio, o servo também pagava as chamadas banalidades, para poder utilizar o moinho, o forno e o lagar,

monopolizados pelo senhor. E havia ainda o manso comum.

Como já citado, a servidão teve um dupla origem: escravos que haviam recebido casa e terra para cultivar – já que com a tendência à auto-suficiência desinteressava um senhor fiscalizar e alimentar bandos de escravos geralmente pouco produtivos – e colonos (e demais homens livres) submetidos sob espontânea vontade ou não, ao poder dos grandes proprietários rurais. Em ambos os casos a condição servil era transmitida hereditariamente. Segundo Hilário Franco Jr: “(…) Nessa sociedade politicamente dividida, é claro que não havia um conjunto uniforme de leis, e sim usos e costumes jurídicos próprios de cada local. Vejamos o exemplo a seguir (...): „Neste manso reside Guichard, bom camponês, que deve: na Páscoa, um cordeiro; na ceifa, seis moedas; na colheita, uma refeição e um sesteiro cerca de 40 litros de aveia; na vindima, doze moedas; no Natal, doze moedas, três pães e meio sesteiro de vinho; no começo da Quaresma, um capão; no meio da Quaresma, seis moedas‟.”

Contrato Feudo-vassálico – Relações de Suserania e Vassalagem

O contrato feudo-vassálico estava bem de acordo com dois importantes elementos da época: os laços familiares nas relações sociais e a complementaridade das funções sociais. O vassalo, filho simbólico, geralmente mais jovem e vigoroso, precisava de terra e camponeses; o senhor feudal pai simbólico, geralmente mais rico e experiente, precisava de guerreiros. Portanto, “mutualidade, mas numa organização hierárquica” segundo o historiador Duby.

(Sinete do Século XIII, mostrando um vassalo rendendo homenagem a seu senhor. Fonte:

História das Civilizações, Volume II, Abril, P. 175)

Ao incentivarem a difusão dos laços vassálicos, os monarcas da dinastia carolíngia (séculos VIII-IX) pensavam reforçar seu poder: como eles tinham muitos vassalos, que por sua vez estabeleciam seus próprios vassalos, o rei acreditou que essa era uma boa forma de estender seu controle a todos os escalões da sociedade. O resultado, contudo, foi oposto. Muitas vezes esses vínculos levavam o vassalo a defender os interesses de seu senhor e não os do rei. O contrato feudo-vassálico era criado por três atos, realizados diante de testemunhas e algumas vezes registrados por escrito. O primeiro ato era a homenagem, pela qual um indivíduo (o futuro vassalo) se ajoelhava diante de outro (que se tornava seu senhor feudal), colocava suas mãos na dele e se reconhecia como “seu homem”. O segundo ato, logo a seguir, era o juramento de fidelidade: depois de se pôr em pé, o vassalo jurava sobre a Bíblia ou relíquias de santos. Muitas vezes, especialmente na França, a fidelidade era selada pelo osculum, beijo trocado entre ambos. O terceiro ato era o da investidura, pelo qual o senhor entregava ao vassalo um objeto (ramo, punhado de terra ou outros), que simbolizava o feudo então concedido.

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As obrigações recíprocas eram: 1) Por parte do vassalo – não prejudicar seu senhor de forma alguma,

prestar serviço militar (regulamentado por número de dias), ajuda econômica em caso de: pagamento de resgate do senhor em caso de aprisionamento, pagamento da cerimônia da filha mais velha do senhor e o pagamento da partida do senhor para as Cruzadas (termos que poderiam variar segundo a região). 2) Por parte do senhor (ou suserano) – não prejudicar seu vassalo de

maneira alguma, fornecer proteção (militar e judicial) e sustento (alojando e alimentando o vassalo no castelo ou fornecendo feudos – imóveis, direitos ou bens – para retirar sustento em caso de necessidade). Como o contrato feudo-vassálico implicava em direitos e obrigações recíprocos, o rompimento do acordo por uma das partes era considerado felonia (“traição”). Disso decorria a quebra da fidelidade e o confisco do feudo. Se nada disso ocorresse, o pacto seria vitalício, sendo rompido apenas pela morte de uma das partes. O feudo então retornava ao senhor ou a seu herdeiro, pois o vassalo gozava apenas do usufruto temporário daquele bem. Contudo, o interesse do novo senhor em manter os vassalos que tinham sido de seu pai e o interesse dos filhos dos vassalos falecidos em continuar ligados a um senhor foram aos poucos criando uma tendência à hereditariedade do feudo. A morte de uma das partes levava à necessidade de se renovar o contrato feudo-vassálico. Caso o vassalo não tivesse herdeiro, a terra enfeudada retornava ao senhor, que podia conservá-la ou concedê-la a outra pessoa. No entanto, o feudo era indiviso para transmissão hereditária, mas podia ser várias vezes subdividido, ou “subfeudado” para o estabelecimento de novos contrato feudo-vassálicos gerando uma cadeia de relações vassálicas em que quase todos os membros da aristocracia eram ao mesmo tempo senhor e vassalo, porém, valendo apenas a relação direta. Consta que o rei era suserano, ou seja, “senhor dos senhores”. Isso implicava uma relação bilateral entre ele e seus vassalos.

A VIDA URBANA: COMÉRCIO E MANUFATURA

A Economia feudal possuía base agrária, ou seja, a agricultura era a atividade responsável por gerar a riqueza social naquele momento. Ao mesmo tempo, outras atividades se desenvolviam, em menor escala, no sentido de complementar a primeira e suprir necessidades básicas e imediatas de parcela da sociedade. A pecuária, a mineração, a produção artesanal e mesmo o comércio eram atividades que existiam, de forma secundária.

(Relevos medievais representando trabalhadores rurais colhendo frutas e debulhando

cereais. Fonte: História das Civilizações, Volume II, Abril, P. 174)

Como a agricultura era a atividade mais importante, a terra era o meio de produção fundamental. Ter terra significava a possibilidade de possuir, por isso preservou-se a caráter estamental da sociedade.

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Os proprietários rurais eram denominados Senhores Feudais, enquanto que os trabalhadores camponeses eram denominados servos. O feudo era a unidade produtiva básica. Imaginar o feudo é algo complexo, pois ele podia apresentar muitas variações, desde vastas regiões onde encontramos vilas e cidades em seu interior, como grandes "fazendas" ou mesmo pequenas porções de terra. Para tentarmos perceber o desenvolvimento socioeconômico do período, o melhor é imaginarmos o feudo como uma grande propriedade rural. Esse sistema se caracteriza pela exploração do trabalho servil, responsável por toda a produção. O servo não é considerado um escravo, porém não é um trabalhador livre. O que determina a condição servil é seu vínculo com a terra, ou seja, o servo esta preso a terra. Ao receber um lote de terra para viver e trabalhar, e ao receber (teoricamente) proteção, o servo esta forçado a trabalhar sempre para o mesmo senhor feudal, não podendo abandonar a terra. Tradicionalmente a economia foi considerada natural, de subsistência e desmonetarizada. Natural por que se baseava em trocas diretas, produtos por produto e diretamente entre os produtores, não havendo, portanto um grupo de intermediários (comerciantes); de subsistência por que produzia em quantidade e variedade pequena, além de não contar com a mentalidade de lucro, que exigiria a produção de excedentes; desmonetarizada por não se utilizar qualquer tipo de moeda, sendo que havia a troca de produto por produto.

(Fonte: História Geral, Cláudio Vicentino, Scipione, P. 108)

“O comércio sempre existiu, apesar de irregular e de intensidade muito variável. Algumas mercadorias eram necessárias em todos os feudos mas encontradas apenas em algumas regiões, como o sal ou mesmo o ferro. Além desse comércio de produtos considerados fundamentais, havia o comércio com o oriente, de especiarias ou mesmo de tecidos, consumidos por uma parcela da nobreza (senhores feudais) e pelo alto clero. Apesar de bastante restrito, esse comércio já era realizado pelos venezianos.” (AQUINO) Mesmo o servo participava de um pequeno comércio, ao levar produtos excedentes agrícolas para a feira da cidade, onde obtinha artesanato urbano, promovendo uma tímida integração entre campo e cidade. “A pequena produtividade fazia com que qualquer acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano (guerras, trabalho inadequado ou insuficiente) provocasse períodos de escassez” (AQUINO) .Nesse sentido havia uma tendência a auto suficiência, uma preocupação por parte dos senhores feudais em possuir uma estrutura que pudesse provê-lo nessas situações.

A Sociedade

A sociedade feudal era composta por duas classes sociais básicas: senhores e servos. A estrutura social praticamente não permitia mobilidade, sendo, portanto que a condição de um indivíduo era determinada pelo nascimento, ou seja, quem nasce servo será sempre servo. Utilizando os conceitos predominantes hoje, podemos

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dizer que, o trabalho, o esforço, a competência e etc, eram características que não podiam alterar a condição social de um homem. O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses que produziam a riqueza social. Porém podiam existir outras situações: a mais importante era o clérigo.

O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião, de formação social, moral e ideológica. No entanto esse papel do clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua vez é formado por membros da nobreza feudal. Originariamente o clero não é uma classe social, pois seus membros ou são de origem senhorial (alto clero) ou servil (baixo clero). (Fonte: História Geral, Cláudio Vicentino, Scipione, P. 109)

A maioria dos livros de história retrata a divisão desta sociedade segundo as palavras do Bispo Adalberon de Laon: "na sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham, onde todos formam um conjunto inseparável e o trabalho de uns permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros." Para o bispo, o conjunto de servos é "uma raça de infelizes que nada podem obter sem sofrimento". Percebe-se o discurso da Igreja como uma tentativa de interpretar a situação social e ao mesmo tempo justificá-la, preservando-a. Nesta sociedade, cada camada tem sua função e, portanto deve obedecê-la como vontade divina.

(Miniatura estraída do Breviário de Alarico, do séc. XI, onde aparecem as principais

figuras da sociedade feudal: no alto, o soberano e o bispo; embaixo o duque e o conde. Fonte: História das Civilizações, Volume II, Abril, P. 175)

O Poder Político

No mundo feudal não existiu uma estrutura de poder centralizada. Não existe a noção de Estado ou mesmo de nação. Portanto consideramos o poder como localizado, ou seja, existente em cada feudo. Apesar da autonomia na administração da justiça em cada feudo, existiam dois elementos limitadores do poder senhorial: O primeiro é a própria ordem vassálica, onde o vassalo deve fidelidade a seu suserano; O segundo é a influência da Igreja Católica, única instituição centralizada, que ditava as normas de comportamento social na época, fazendo com que as leis obedecessem aos costumes e à "vontade de Deus". Dessa forma a vida quase não possuía variação de um feudo para outro. É importante visualizar a figura do rei durante o feudalismo, como suserano-mor, no entanto sem poder efetivo devido a própria relação de suserania e a tendência á auto-suficiência econômica.

(Miniatura do século XV, alusiva à precária situação dos soberanos medievais. Fonte:

História das Civilizações, Vol. II, Abril, P. 177)