História em movimento vol. 02

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SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA O MUNDO MODERNO E A REINALDO SERIACOPI GISLANE AZEVEDO em MOVIMENTO História história • ENsiNO MÉDiO • MaNual DO prOfEssOr

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1. SOCIEDADE CONTEMPORNEA O MUNDO MODERNO E A Reinaldo Seriacopi Gislane azevedo em MoVIMENTOHistria histria ENSINO MDIO Manual do professor 2. 2- edio So Paulo, 2013 SOCIEDADE CONTEMPORNEA O MUNDO MODERNO E A Reinaldo SeRiacopi GiSlane azevedo em 2MOVIMENTOHistria Gislane azevedo Mestre em Histria Social pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Professora universitria, pesquisadora e ex-professora de Histria dos ensinos Fundamental e Mdio nas redes privada e pblica. Coautora da coleo Telris (Editora tica), para alunos do Ensino Fundamental II. Reinaldo seRiaCoPi Bacharel em Lngua Portuguesa pela Faculdade de Filosoa, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo e em Jornalismo pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS-SP). Editor especializado na rea de Histria. Coautor da coleo Telris (Editora tica), para alunos do Ensino Fundamental II. histria ENsiNO MDiO MaNual DO prOfEssOr 3. Diretoria editorial: Anglica Pizzutto Pozzani Gerncia de produo editorial: Hlia de Jesus Gonsaga Editoria de Cincias Humanas e suas Tecnologias: Heloisa Pimentel e Deborah DAlmeida Leanza Editoras: Deborah DAlmeida Leanza; Priscila DAlmeida Manfrinati e Mirna Acras Abed M. Imperatore (estag.) Superviso de arte e produo: Srgio Yutaka Editor de arte: Andr Gomes Vitale Diagramador: Walmir S. Santos Superviso de criao: Didier Moraes Design grfico: Homem de Melo & Troia Design (capa) Tyago Bonifcio da Silva (miolo) Reviso: Rosngela Muricy (coord.), Sandra Regina de Souza (prep.), Ana Curci, Ctia de Almeida, Lus M. Ba Nova, Sheila Folgueral, Vanessa de Paula Santos e Gabriela Macedo de Andrade (estag.) Superviso de iconografia: Slvio Kligin Pesquisador iconogrfico: Carlos Luvizari e Evelyn Torrecilla Cartografia: Allmaps, Juliana Medeiros de Albuquerque, Maps World e Mrcio Santos de Souza Tratamento de imagem: Cesar Wolf e Fernanda Crevin Foto da capa: Zig Koch/Liga Ambientalista, Curitiba, Brasil. Direitos desta edio cedidos Editora tica S.A. Av. Otaviano Alves de Lima, 4400 6o andar e andar intermedirio ala A Freguesia do CEP 02909-900 So Paulo SP Tel.: 4003-3061 www.atica.com.br/[email protected] Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Azevedo, Gislane Campos Histria em movimento / Gislane Campos Azevedo, Reinaldo Seriacopi. 2. ed. So Paulo:tica, 2013. Contedo: v. 1. Dos primeiros humanos ao Estado moderno v. 2. O mundo moderno e a sociedade contempornea v. 3. Do sculo XIX aos dias de hoje. Bibliografia. 1. Histria (Ensino mdio) I. Seriacopi, Reinaldo. II.Ttulo. 1302432CDD907 ndice para catlogo sistemtico: 1. Histria : Ensino mdio 907 2013 ISBN 978 8508 16307-6 (AL) ISBN 978 8508 16308-3 (PR) Cdigo da obra CL 712773 Uma publicao 2 Verso digital Diretoria de tecnologia de educao: Ana Teresa Ralston Gerncia de desenvolvimento digital: Mrio Matsukura Gerncia de inovao: Guilherme Molina Coordenadores de tecnologia de educao: Daniella Barreto e Luiz Fernando Caprioli Pedroso Editores de tecnologia de educao: Cristiane Buranello e Juliano Reginato Editora de contedo digital: Deborah DAlmeida Leanza Editores assistentes de tecnologia de educao: Aline Oliveira Bagdanavicius, Drielly Galvo Sales da Silva, Jos Victor de Abreu e Michelle Yara Urcci Gonalves Assistentes de produo de tecnologia de educao: Alexandre Marques, Gabriel Kujawski Japiassu, Joo Daniel Martins Bueno, Paula Pelisson Petri, Rodrigo Ferreira Silva e Saulo Andr Moura Ladeira Desenvolvimento dos objetos digitais: Agncia GR8, Atmica Studio, Cricket Design, Daccord e Mdias Educativas Desenvolvimento do livro digital: Digital Pages HMOV_v2_PNLD2015_002_digital.indd 2 16/07/2013 09:12 4. Digo adeus iluso mas no ao mundo. Mas no vida, meu reduto e meu reino. Do salrio injusto, da punio injusta, da humilhao, da tortura, do terror, retiramos algo e com ele construmos um artefato um poema uma bandeira Ferreira Gullar Observe ao seu redor: praticamente tudo o que est nossa volta e que utilizamos em nossa es- cola, casa ou trabalho foi construdo por seres humanos. Pense tambm no sistema poltico que rege nossa sociedade, nas leis que regulam nossas relaes e em tudo aquilo que consideramos justo ou injusto, certo ou errado: todos esses princpios e valores tambm foram estabelecidos por pessoas ao longo do tempo. Estudar Histria no apenas conhecer e entender os caminhos trilhados pelos seres hu- manos no passado. Graas a esse estudo, podemos fazer uma leitura crtica de nosso presente e compreender como e por que nossa sociedade encontra-se hoje constituda da maneira que a conhecemos e no de outra forma. Com base nessa viso, procuramos elaborar um livro que, ao tratar de assuntos do passado, tivesse como ponto de partida o presente. Ao adotar essa proposta, voc ver como a Histria est intimamente relacionada com aspectos centrais do mundo contemporneo e de nossa vida, constituindo um assunto extremamente interessante e instigante. O texto central do livro complementado por boxes e sees. Alguns contm escritos de autores clssicos; outros, abordagens historiogrcas recentes. Na seo No mundo das letras, aprofundamos o dilogo entre Literatura e Histria. Na seo Eu tambm posso participar dis- cutimos, com base em contextos histricos especcos, quanto os atos de cada um de ns pode interferir no destino da humanidade. Uma terceira seo, intitulada Olho vivo e voltada para o trabalho com imagens, oferece uma ampla leitura das informaes contidas em pinturas, escul- turas e outros materiais iconogrcos. Na seo Patrimnio e diversidade, entramos em contato com os aspectos histricos e culturais de cada um dos estados brasileiros. Todos os volumes desta coleo esto permeados por imagens, mapas, documentos e ativi- dades reexivas que procuram enfatizar a permanente relao entre passado e presente. Acreditamos que dessa maneira estamos lhe oferecendo instrumentos para interpretar e anali- sar criticamente a realidade de nosso mundo. Voc ver que a Histria exerce um papel privilegiado no processo de consolidao da cidadania e na construo de um mundo mais solidrio, fraterno e tolerante. Os autores 3 Apresentao 3 HMOV_v2_PNLD2015_003_Apresentacao.indd 3 3/20/13 4:19 PM 5. Captulo 1 Civilizaes americanas..............................................................................................10 1. Os maias...............................................................................................................................11 2. Os astecas ............................................................................................................................12 3. O Imprio Inca......................................................................................................................14 Captulo 2 Pindorama e seus habitantes ...................................................................................19 1. Uma constelao de povos ..................................................................................................20 2. Uma aldeia Tupi ...................................................................................................................20 Captulo 3 A conquista espanhola...............................................................................................27 1. Ouro e sangue: a conquista espanhola ...............................................................................28 2. Os astecas subjugados.........................................................................................................28 3. A sujeio dos incas.............................................................................................................29 Captulo 4 Portugal e sua colnia na Amrica..........................................................................35 1. A chegada de Cabral ...........................................................................................................36 2. A ameaa francesa...............................................................................................................38 3. So Vicente e o comeo da colonizao..............................................................................38 4. As capitanias hereditrias ....................................................................................................39 5. As capitanias em xeque .......................................................................................................41 Captulo 5 O Governo-Geral .........................................................................................................44 1. O lento m das capitanias hereditrias................................................................................45 2. Os jesutas em ao .............................................................................................................46 Fechando a unidade ......................................................................................................................52 Captulo 6 O trco negreiro........................................................................................................56 1. A escravido na frica .........................................................................................................57 2. O trco em grande escala..................................................................................................59 Captulo 7 Escravido e resistncia .............................................................................................63 Bantos e sudaneses..................................................................................................................64 Captulo 8 Acar e escravido na colnia portuguesa .........................................................74 O poder do acar ...................................................................................................................75 Captulo 9 O avano da colonizao...........................................................................................80 1. A Frana Antrtica ...............................................................................................................81 2. A Frana Equinocial..............................................................................................................83 3. A conquista do Serto .........................................................................................................83 Sumrio 4 Diversidade cultural O trabalho Unidade 1 Unidade 2 8 54 HMOV_v2_PNLD2015_004a007_Sumario.indd 4 3/20/13 4:21 PM 6. Captulo 12 Iluminismo ................................................................................................................106 1. Filosoa das Luzes..............................................................................................................107 2. Precursores do Iluminismo .................................................................................................107 3. Academias e sales............................................................................................................110 4. Os dspotas esclarecidos....................................................................................................111 5. O liberalismo econmico ...................................................................................................111 Captulo 13 A Revoluo Industrial...........................................................................................113 1. O surgimento da manufatura ............................................................................................114 2. A burguesia inglesa............................................................................................................114 3. O socialismo e a luta contra o capitalismo ........................................................................118 Captulo 14 A independncia dos Estados Unidos ................................................................121 1. Ingleses na Amrica do Norte............................................................................................122 2. As Treze Colnias...............................................................................................................122 3. Rumo independncia ......................................................................................................125 Captulo 15 A Revoluo Francesa ............................................................................................128 1. Os trs estados...............................................................................................................129 2. A queda da Bastilha...........................................................................................................130 3. A primeira Constituio francesa.......................................................................................130 4. Da monarquia repblica..................................................................................................131 5. O Terror ..............................................................................................................................131 6. O Diretrio .........................................................................................................................134 Captulo 16 A Frana imperial ....................................................................................................137 1. Napoleo no poder............................................................................................................138 2. Um imperador para a Frana .............................................................................................138 3. O m de uma era...............................................................................................................142 Captulo 17 A independncia da Amrica espanhola ...........................................................144 1. A servio da Espanha .........................................................................................................145 2. A organizao social ..........................................................................................................145 3. Amrica hispnica em guerra ............................................................................................146 4. O caudilhismo ....................................................................................................................147 Captulo 18 Ouro e diamante na colnia portuguesa...........................................................149 1. A corrida pelo ouro............................................................................................................150 2. A Guerra dos Emboabas....................................................................................................150 3. Regulamentao e controle de riqueza .............................................................................151 4. Depois do ouro: diamante .................................................................................................154 Captulo 10 O Nordeste sob domnio holands .......................................................................89 1. A Unio Ibrica.....................................................................................................................90 2. A Insurreio Pernambucana ...............................................................................................93 Captulo 11 Os bandeirantes ........................................................................................................95 1. Desbravando o Serto..........................................................................................................96 2. Em busca de ouro ................................................................................................................97 Fechando a unidade ....................................................................................................................103 5 A luta pela cidadaniaUnidade 3 104 Sumrio HMOV_v2_PNLD2015_004a007_Sumario.indd 5 3/20/13 4:21 PM 7. Captulo 21 De colnia a sede do Imprio Portugus...........................................................178 1. O Brasil no comeo do sculo XIX .....................................................................................179 2. A vinda da famlia real .......................................................................................................179 3. A abertura dos portos........................................................................................................181 Captulo 22 O Brasil torna-se independente...........................................................................186 1. Impostos altos e gastos da Corte elevados........................................................................187 2. Elevao a Reino Unido......................................................................................................187 3. Revoluo pernambucana..................................................................................................187 4. A Revoluo do Porto ........................................................................................................188 5. A Independncia................................................................................................................188 Captulo 23 O Primeiro Reinado (1822-1831)..........................................................................194 1. A empolgao toma conta das ruas..................................................................................195 2. A Confederao do Equador .............................................................................................196 3. A abdicao de dom Pedro I..............................................................................................197 Captulo 24 As Regncias (1831-1840)......................................................................................200 1. A Regncia Trina Provisria ................................................................................................201 2. A Regncia Trina Permanente............................................................................................201 3. A Regncia Una..................................................................................................................203 4. O Golpe da Maioridade .....................................................................................................203 Captulo 25 Rebelies provinciais..............................................................................................206 1. beira do vulco...............................................................................................................207 2. Cabanada (Pernambuco e Alagoas, 1832-1835) ..............................................................208 3. A Cabanagem (Gro-Par, 1835-1840).............................................................................208 4. A Revolta dos Mals (Bahia, 1835) ....................................................................................209 5. A Guerra dos Farrapos (Rio Grande do Sul, 1835-1845)...................................................209 6. A Sabinada (Bahia, 1837-1838).........................................................................................211 7. A Balaiada (Maranho, 1838-1842) ..................................................................................212 Fechando a unidade ....................................................................................................................216 6 Unidade 4 176Poltica e participao Captulo 19 Insatisfao na colnia portuguesa....................................................................159 1. Monoplio portugus........................................................................................................160 2. Revolta dos Beckman (1684) .............................................................................................160 3. A Guerra dos Mascates (1710-1712).................................................................................161 4. Revolta de Vila Rica (1720) ................................................................................................163 Captulo 20 O sonho da emancipao......................................................................................166 1. Inuncia iluminista ...........................................................................................................167 2. A Incondncia Mineira (1789) .........................................................................................167 3. A Conjurao Baiana (1798)..............................................................................................169 Fechando a unidade ....................................................................................................................174 HMOV_v2_PNLD2015_004a007_Sumario.indd 6 3/20/13 4:21 PM 8. GLOSSRIO....................................................................................................................................282 SUGESTES DE FILMES E DE LEITURAS COMPLEMENTARES..............................................285 BIBLIOGRAFIA BSICA ................................................................................................................285 NDICE REMISSIVO .......................................................................................................................287 Captulo 26 A Europa no sculo XIX .........................................................................................220 1. As revolues do sculo XIX ..............................................................................................221 2. A segunda onda.................................................................................................................221 3. A terceira onda ou A Primavera dos Povos....................................................................221 4. A formao da Itlia...........................................................................................................222 5. A unicao alem.............................................................................................................226 Captulo 27 Estados Unidos: a escravido em xeque............................................................230 1. O avano para o Oeste ......................................................................................................231 2. Escravistas versus antiescravistas........................................................................................231 3. A Guerra de Secesso (1861-1865)...................................................................................232 4. A expanso econmica......................................................................................................233 Captulo 28 O imperialismo e o neocolonialismo ..................................................................236 1. Uma nova Revoluo Industrial..........................................................................................237 2. A ao imperialista.............................................................................................................238 3. A frica em pedaos..........................................................................................................241 4. Os europeus na sia ..........................................................................................................243 5. O Japo entra em cena......................................................................................................244 Captulo 29 O Brasil sob dom Pedro II......................................................................................247 1. Um governo centralizado...................................................................................................248 2. A ambio civilizatria...................................................................................................248 3. A Guerra do Paraguai (1864-1870)...................................................................................249 Captulo 30 Caf, uma nova riqueza.........................................................................................255 1. Da Etipia para o Brasil......................................................................................................256 2. A economia desloca-se do Nordeste para o Sudeste.........................................................256 3. Rumo ao Oeste paulista.....................................................................................................257 Captulo 31 Liberdade e excluso..............................................................................................263 1. O m do trco negreiro ...................................................................................................264 2. Abolio lenta e gradual....................................................................................................265 3. O m da escravido ...........................................................................................................269 Captulo 32 A Proclamao da Repblica.................................................................................273 1. Ideias republicanas.............................................................................................................274 2. A Campanha Republicana .................................................................................................275 3. O m do Imprio................................................................................................................275 Fechando a unidade ....................................................................................................................280 7 Unidade 5 218Terra e meio ambiente Sumrio HMOV_v2_PNLD2015_004a007_Sumario.indd 7 3/20/13 4:21 PM 9. 8 haroldoPaloJr./Acervodofotgrafo Diversidade cultural Unidade 1 Olhe ao seu redor: os seres humanos so diferentes uns dos ou- tros. Existem pessoas altas e baixas, de olhos puxados ou arre- dondados, com os mais variados tons de pele, etc. As diferen- as, porm, no se limitam a caractersticas fsicas. As pessoas tambm tm hbitos, costumes, crenas religiosas, vises de mundo distintos. Mesmo dentro de um pas, as diferenas existem. No Brasil, por exem- plo, nordestinos, sulistas e nortistas tm tradies e hbitos culturais bem diversos. A esse conjunto de diferenas damos o nome de diversidade cul- tural; trata-se de uma das maiores riquezas das sociedades humanas. Essa pluralidade resultado do acmulo de experincias e de proces- sos de aprendizagem vericados ao longo do tempo. Grandes con- quistas da humanidade resultam da troca de experincias entre povos de culturas diversas. Em 2001, a Unesco aprovou a Declarao Univer- sal sobre a Diversidade Cultural, na qual considera essa diversidade pa- trimnio da humanidade. No entanto, muitas pessoas insistem em ver o mundo de acordo com a sua prpria cultura apenas, e consideram seu modo de vida como o mais correto. Para elas, hbitos e costumes diferentes dos seus consti- tuem prticas absurdas, engraadas e at imorais. Essa atitude chama- da de etnocentrismo e pode culminar em guerras e at em extermnio de um povo pelo outro. Nesta unidade, veremos como o desrespeito dos europeus pela cultura dos povos que viviam no continente americano no sculo XVI provocou um dos maiores genocdios da histria da humanidade. Civi- lizaes inteiras foram extintas e muito do conhecimento desses povos desapareceu para sempre. HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 8 3/20/13 4:22 PM 10. 9 COMEO DE CONVERSA 1. O que voc entende por cultura? Cite exemplos de diferentes manifestaes culturais que voc conhece. 2. Como voc costuma reagir diante de culturas e valores muito diferentes dos seus? Indgenas da etnia Kalapalo celebram o ritual Kuarup na Aldeia Aiha, em Querncia (MT). Foto de 2009. DelfimMartins/PulsarImagens Indgenas da etnia Ashaninka, Acre. Foto de 2005. HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 9 3/20/13 4:22 PM 11. 10 Voc j imaginou como os astronautas se alimentam quando esto no espao? As refeies deles so muito parecidas com as nossas. Isso porque a Nasa, agncia espacial norte-americana, submete os alimentos a um processo de desidratao conhecido como liolizao, que permite preservar qualquer tipo de alimento por muitos anos. Essa tcnica formada por duas etapas. Primeiramente, o alimento congelado, para que a gua que se encontra em suas clulas passe do estado lquido para o slido. Em seguida, o alimento congelado aquecido e submetido a baixa presso de ar. Com isso, a gua, que estava em estado slido, muda imediatamente para o estado gasoso. Os produtos liolizados no sofrem alteraes de aroma, de sabor, nem do teor de vitaminas, sais minerais e protenas. Como so porosos, basta adicionar um pouco de gua para que se reidratem e sejam consumidos. A tcnica utilizada pela Nasa bastante antiga. Os povos incas, que viveram na Amrica do Sul h mais de 500 anos, praticavam a liolizao dos alimentos para garantir o sustento de sua populao. nasa/Reuters/Latinstock herv hughes/hemis/Corbis/Latinstock As palavras destacadas nesta cor esto no Glossrio, pgina 282. Objetivos do captulo n Conhecer a variedade e a complexidade social, cultural e tecnolgica de algumas civilizaes pr-colombianas. n Ampliar a compreenso sobre o conceito de diversidade cultural, tanto no passado quanto no presente. n Desenvolver uma viso crtica sobre as sociedades pr-colombianas, valorizando sua diversidade e complexidade. Civilizaes americanas Captulo 1 Neste captulo vamos conhecer mais sobre os incas e outros povos americanos (tambm chamados de pr-colombianos), que viviam na Amrica antes da chegada dos primeiros europeus. Astronauta Akihiko Hoshide prepara-se para comer uma refeio desidratada na cozinha do nibus espacial Discovery. Foto liberada pela Nasa em junho de 2008. HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 10 3/20/13 4:22 PM 12. 11Civilizaes americanas Captulo 1 Os maias Na regio hoje conhecida como Amrica Central e na pennsula de Yucatn, no sul do Mxico atual, floresceu uma cultura das mais singulares: a civiliza- o maia. Surgida por volta de 1800 a.C., essa socie- dade perduraria por mais de 3 mil anos, chegando a ocupar uma rea de quase 500 mil quilmetros qua- drados (veja o mapa ao lado). A civilizao maia atingiu o apogeu entre 250 e 900 d.C., conquistando grandes avanos cientficos, tecnolgicos, sociais e artsticos. As cidades cresceram. Algumas chegaram a abrigar at 60 mil pessoas, como Tikal, na atual Guatemala. Outros impor- tantes centros urbanos eram Ux- mal, na pennsula de Yucatn, onde foi construdo um grande conjunto cerimonial, e Edzn (no Mxico atual), famosa por seu sis- tema de canais para a captao de gua pluvial. Cada centro urbano se constitua em cidade-Estado autnoma, com um governo pr- prio, sem que houvesse um poder centralizado para toda a socieda- de maia. As atividades comerciais eram relativamente in- tensas. Usando sementes de cacau como moeda, os maias comercializavam com outros povos produtos como obsidiana, jade, peles, baunilha, tecidos, sal, etc. A observao dos astros tornou-se atividade sig- nificativa. Como resultado de seus estudos, os astr- nomos maias mediram com preciso o ciclo do Sol, da Lua e de Vnus e desenvolveram dois calendrios: um ritual, de 260 dias, e outro civil, de 365 dias. Alm disso, criaram seu prprio zodaco, de 13 signos. Nesse perodo, os maias instituram um sistema numrico que inclua o nmero zero e inventaram o mais avanado sistema de escrita da Amrica pr- -colombiana. Essa escrita, de caracteres hieroglficos, encontrada em cdices, monumentos e estelas. A arte ganhou impulso, destacando-se os objetos de cermica, as esculturas de barro ou de jade e as pin- turas murais que retratam diversos aspectos da vida religiosa da populao. 1 Sociedade e religio A sociedade maia encontrava-se rigidamen- te hierarquizada. No topo da pirmide social fica- vam o chefe de Estado e seus familiares. Conhecido como halach-uinic, ele acumulava as funes de l- der civil, militar e religioso. Cada cidade-Estado ti- nha seu prprio halach-uinic. Abaixo dele vinha a nobreza, que ocupava os principais cargos adminis- trativos, religiosos e militares. Dessa camada social faziam parte tambm os grandes comerciantes. Em A M R I C A C E N T R A L Palenque Edzn Tikal Golfo do Mxico Mar do Caribe Chichn Itz Uxmal OCEANO PACFICO OCEANO ATLNTICO PENNSULA DE YUCATN Limites da sociedade maia 90 18 SOCIEDADE MAIA NO SCULO XV Fonte: GRAND atlas historique. Paris: Larousse, 2006. 0 100 QUILMeTRoS eSCALA seguida, encontravam-se os guerreiros, artistas e ar- tesos. Na camada inferior situavam-se os campo- neses e a populao pobre. Na base da pirmide es- tavam os escravos, em geral prisioneiros de guerra. A religio desempenhava papel preponderante en- tre os maias. Politestas, eles costumavam fazer oferen- das e sacrifcios humanos a seus diversos deuses, entre os quais sobressaam Itzam Na, que simbolizava o cu e a terra, Ixchel, deusa da Lua, e Chaac, divindade da chu- va. Em homenagem a esses e a outros deuses, os maias ergueram diversos templos e santurios religiosos. Por volta de 900, a pennsula de Yucatn come- ou a sofrer invases de outros povos, entre os quais os toltecas. Quando os espanhis chegaram, no fi- nal do sculo XV, as cidades maias encontravam-se abandonadas e seu povo, disperso. Fatores como a escassez de alimentos, o desmatamento, alteraes climticas e guerras so apontados como algumas das razes do colapso da sociedade maia. HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 11 3/20/13 4:22 PM 13. 12 Unidade 1 Diversidade cultural Orlando Sierra/Agncia France-Presse Rapaz guatemalteco sopra uma concha para anunciar o incio do Terceiro Congresso de Educao Maia, realizado em agosto de 2002 no stio arqueolgico de Zaculeu, em Huhuetenango, no oeste da Guatemala. Ao fundo, pode-se ver uma pirmide maia. Esse colapso, entretanto, no signi- ficou a extino do povo maia. Seus des- cendentes vivem atualmente nos territ- rios ocupados pela antiga sociedade maia. So cerca de 4 a 5 milhes de pessoas, a maioria das quais formada por campone- ses. Apesar da destruio de suas cidades, as comunidades maias lutam ainda hoje por conservar suas antigas crenas e tra- dies (veja a foto ao lado). Os astecas Por volta do sculo XII, os astecas que se auto- denominavam mexicas eram um dos tantos povos nmades, caadores e guerreiros que viviam no norte do Mxico atual. Em razo das difceis condies climticas da re- gio, os mexicas marcharam para o Sul em busca de melhores terras. Iniciada por volta de 1168, a migra- o s terminou em 1325, aproximadamente, quan- 2 do eles se instalaram em uma ilha no lago Texcoco, no planalto central do Mxico atual. Ao chegarem, foram subjugados pelos tepanecas, que j viviam na regio juntamente com outros povos. Como a ilha no era grande o suficiente para to- dos, os astecas construram ao redor ilhas artificiais conhecidas como chinampas. Da juno das chinam- pas com a ilha central surgiria a cidade de Tenochti- tln, que seria mais tarde capital asteca e, sculos de- pois, do prprio Mxico, com o nome de Cidade do Mxico (veja o mapa abaixo). A sujeio aos tepanecas du- rou aproximadamente um sculo, perodo no qual os mexicas assimi- laram os conhecimentos tcnicos, cientficos, militares e polticos tan- to de seus dominadores quanto de outros povos da regio. No decorrer desse processo, os astecas se constituram em so- ciedade mais complexa, dotada de uma monarquia hierrquica. Em 1428, liderados por Itzcatl, eles se rebelaram contra os tepanecas, libertando-se do jugo. A partir de ento, passaram a dominar os po- vos das regies circunvizinhas. OCEANO PACFICO OCEANO ATLNTICO Golfo do Mxico Imprio asteca Auncia Inuncia Tenochtitln Lago Chalco 20 N 90 O LagoTexcoco A M R I C A D O N O R T E A M R I C A C E N T R A L IMPRIO ASTECA NO SCULO XVI Fonte: GRAND atlas historique. Paris: Larousse, 2006. 0 150 QUILMETROS ESCALA OCEANO ATLNTICO Golfo do Mxico Imprio asteca Auncia Inuncia ln 90 O goTexcoco A M R I C A C E N T R A L HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 12 26/03/2013 08:34 14. 13Civilizaes americanas Captulo 1 Estrutura social O governo asteca era exercido por um monarca eleito entre a nobreza hereditria. Comandante su- premo do exrcito, ele governava com o apoio de um conselho constitudo por chefes militares. Estes lti- mos, juntamente com os altos funcionrios pblicos e os religiosos, compunham a nobreza. Abaixo dessa aristocracia, estavam os grandes negociantes, conhecidos como pochtecas. Apenas eles podiam chegar at a regio do golfo do Mxico e costa do Pacfico para vender seus produtos er- vas medicinais, joias, perfumes, etc. Ao retornarem, traziam consigo pedras preciosas, peles de jaguar e puma e plumas de quetzal, uma ave rara das flores- tas. Como moeda, utilizavam sementes de cacau. Abaixo dos pochtecas vinham os artesos, gru- po numeroso e respeitado, responsvel pela confec- o das roupas e adornos do soberano e da nobreza, assim como de objetos religiosos. A camada social a seguir era a dos camponeses, que cultivavam as ter- ras cedidas pelos nobres. Ali, eles plantavam milho, feijo, abbora, tomate e batata. Nas pocas em que o trabalho nos campos diminua, participavam das construes pblicas. O ltimo degrau da pirmide social era ocupa- do pelos escravos, geralmente indigentes, prisionei- ros de guerra ou pessoas que no haviam conseguido quitar suas dvidas. A cidade de Tenochtitln A economia asteca tinha por base a agricultura, mas o comrcio e o artesanato eram igualmente im- portantes. Alm dessas fontes de renda, o Estado dis- punha dos tributos periodicamente pagos pelos po- vos subjugados. Graas a essas riquezas, Tenochtitln passou por profundas reformas urbansticas, com a ampliao do permetro urbano e a abertura de ca- nais fluviais navegveis. Ao mesmo tempo, engenheiros e trabalhadores astecas construram aquedutos de pedra destinados ao transporte de gua potvel, alm de pirmides e templos religiosos, uma vez que a religio desempe- nhava papel primordial no dia a dia da populao. MuseoDelTemploMayor/gianniDagliorti/ TheArtArchive/Afp Representao do deus asteca da chuva, Tlaloc, em vaso de cermica policromado encontrado no Mxico atual, com datao provvel do sculo XV. O vaso faz parte do acervo do Museu Templo Maior, na Cidade do Mxico. Foto de 2009. g.Dagliorti/DeA/Album/Latinstock Recortes de uma pgina do Pequeno livro das ervas medicinais dos ndios, descrevendo as propriedades medicinais de vrias plantas usadas pelos astecas. O livro foi traduzido da lngua asteca para o latim por JuanBadiano, por isso tambm conhecido como Manuscrito Badianus. O manuscrito, de 1552, esteve durante alguns sculos na Europa e foi devolvido pelo papa Joo Paulo II ao Mxico e est agora na biblioteca do Instituto Nacional de Antropologia e Histria, na Cidade do Mxico. At 1521, ano em que Tenochtitln foi conquis- tada pelos espanhis (tema abordado no captulo 3), a civilizao asteca constituiu um verdadeiro imprio que abarcava quase todo o centro do atual territ- rio mexicano, estendendo-se do Pacfico at o Gol- fo do Mxico. Cerca de 15 milhes de pessoas, espalhadas pe- los campos e por 500 cidades, viviam no interior des- se imprio. Em 1500, somente Tenochtitln tinha aproximadamente 200 mil habitantes, quase cinco vezes mais do que Londres, a maior cidade europeia da poca. HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 13 3/20/13 4:22 PM 15. 14 Unidade 1 Diversidade cultural Educao e religio Particular importncia tinha a educao. Pratica- mente todas as crianas estudavam e a vida escolar era uma das formas pelas quais os alunos aprendiam os valores religiosos e morais da sociedade asteca. Os professores tambm os ensinavam a ter uma preo- cupao com o bem-estar da comunidade como um todo (leia a seo Eu tambm posso participar, na pgina seguinte). Os filhos de nobres e de gran- des comerciantes tinham aulas em escolas reservadas apenas para eles, as calmecac; as demais crianas es- tudavam em instituies conhecidas como telpoch- calli, que se espalhavam por todo o territrio asteca. Os astecas utilizavam uma escrita pictogrfica e hieroglfica. Graas a ela, podemos hoje conhecer e estudar vrios aspectos de sua cultura. Tambm de- senvolveram um calendrio de 365 dias, divididos em 18 meses de 20 dias, mais cinco dias dedicados aos ri- tuais de sacrifcio em homenagem a suas divindades. Os astecas acreditavam em diversos deuses. Para eles, os deuses praticavam boas aes quando recebiam presentes e homenagens. Por isso, ofere- ciam-lhes sacrifcios, at mesmo humanos. A divin- dade asteca mais importante era Huitzlopochtli, deus da guerra e do Sol. Todos os anos, cerca de 10 mil a 20 mil pes- soas eram mortas em rituais religiosos realizados no topo das pirmides. Em situaes de calamidade, como uma seca ou uma guerra, os astecas chegavam a imolar esse nmero de pessoas de uma nica vez. Os sacrificados assumiam um carter quase divino, pois eram vistos como mensageiros enviados aos deuses. O Imprio Inca Os incas, no sculo XII, eram apenas um dos di- versos povos que viviam na Amrica do Sul. No final desse sculo, eles abandonaram a regio e se esta- beleceram no vale do Cuzco, em uma depresso da cordilheira dos Andes. Ali, viveram inicialmente subordinados a grupos falantes da lngua quchua. No incio do sculo XIV, j haviam se tornado o mais importante grupo de uma federao de povos andinos. Com um exrcito bem organizado, apoiado na prestao de servio militar obrigatrio, conquistaram pouco a pouco novos ter- ritrios. Em menos de cem anos, seus antigos aliados da federao haviam sido subjugados. Era o incio do Imprio Inca. 3 Em seu perodo de maior esplendor, no sculo XVI, o Imprio Inca estendia-se por uma rea de mais de 1 milho de quilmetros quadrados englobando territrios hoje pertencentes ao Peru, Equador, Bol- via, Colmbia, Chile e Argentina , na qual viviam cerca de 10 milhes de pessoas. A cidade de Cuzco que significa umbigo do mundo era seu centro poltico, religioso e cultural. Terrao em degraus para o cultivo agrcola construdo pelos incas nas proximidades de Cuzco, no Peru atual, e ainda hoje em uso, em foto de 2006. RoberthardingPictureLibrary/Superstock/grupoKeystone AMRICA DO SUL A N D E S Machu Picchu Chan Chan Quito Cuenca Cuzco Lago Titicaca Tucumn Extenso do Imprio Inca em 1525 Estradas OCEANO PACFICO Tumbes Cajamarca Trpico de Capricrnio Equador 60 O IMPRIO INCA NO SCULO XVI Fonte: GRAND atlas historique. Paris: Larousse, 2006. 0 440 QUILMeTRoS eSCALA HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 14 3/20/13 4:22 PM 16. 15Civilizaes americanas Captulo 1 Em nome da coletividade Para os astecas, as aulas tinham por objeti- vo transformar os jovens em excelentes sditos, evitar que eles vivessem na ociosidade e trein- -los para a guerra. Nas calmecac eram inscritos jovens destina- dos a se tornar sacerdotes ou altos funcionrios do governo. Eles recebiam aulas de poesia, re- trica e astrologia; aprendiam o ciclo dos calen- drios, tinham aulas sobre interpretao dos so- nhos e entoavam cantos religiosos e cantos que relatavam a histria de seu povo. Nas telpochcalli, onde estudava a maioria dos jovens, a meta principal era formar guerreiros. Embora os alunos tivessem aulas de religio, can- to e dana, a maior parte de seu tempo era dedi- cada a aprender o uso das armas, as tcnicas b- licas e a assimilar a disciplina militar. Os estudantes das telpochcalli trabalhavam no cultivo das terras coletivas e na realizao de obras pblicas, como reparos em valetas e canais e na construo de novas casas ou templos. Alm disso, os alunos eram responsveis pela conserva- o e limpeza de suas prprias escolas. Essas tarefas mostram uma preocupao em garantir a qualidade de vida da populao por meio da preservao do patrimnio pblico. Cha- mamos hoje de patrimnio pblico os bens que pertencem coletividade, ou seja, no so pro- priedade de uma determinada pessoa, empresa ou entidade especfica. Ruas, estradas, praas, monumentos, meios de transporte coletivo, esco- las, universidades e hospitais pblicos, etc. per- tencem sociedade e beneficiam todas as pes- soas que deles fazem uso. Muitas vezes observamos que nem todas as pessoas tm a preocupao de zelar por sua con- servao e manuteno. comum encontrarmos pessoas que jogam lixo ou entulho nas ruas, dani- ficam trens e metrs, quebram os bancos de pra- as, depredam monumentos, etc. Quem faz isso prejudica os outros e a si prprio. Mas essa situa- o pode ser mudada se em nosso dia a dia colo- carmos em prtica atitudes que ajudem a preser- var o patrimnio pblico. Veja algumas a seguir: No danifique e no permita que outras pes- soas danifiquem um patrimnio pblico. Pre- serv-lo uma responsabilidade de cada um de ns. Cuide bem das instalaes de sua escola. Assim como voc, outros alunos estudam ou vo estu- dar no futuro nesse mesmo espao. No deprede nibus, trens ou metrs. Milhares de pessoas dependem dos transportes pblicos para se deslocarem de um lugar para o outro. Quando visitar um parque, praa, biblioteca ou museu, respeite as regras e normas do local. Fontes: SOUSTELLE, Jacques. Os astecas na vspera da conquista espanhola. So Paulo: Companhia das Letras, 1990; BORDIN, Reginaldo Aliandro e MELO, Jos Joaquim Pereira. O telpochcalli e a educao do guerreiro asteca. Disponvel em: ; MELO, Jos Joaquim Pereira. A educao no imprio dos preferidos do sol. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2012. Sua comunidade Rena-se com seus colegas de grupo e, jun- tos, faam uma lista citando trs patrimnios p- blicos de sua cidade. Em seguida, descrevam o estado de preservao de cada um deles, apon- tando aspectos positivos e negativos. Para ter- minar, elaborem um texto propondo medidas e atitudes para garantir a preservao dos patri- mnios selecionados. Eu tambm posso participar Moradores de Candangolndia, nos arredores de Braslia, participam do projeto Mos que Ajudam para limpar e fazer reparos em escola pblica durante o feriado de 12 de outubro de 2009. RenatoArajo/AgnciaBrasil HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 15 3/20/13 4:22 PM 17. 16 Unidade 1 Diversidade cultural A origem do Imprio O Imprio Inca chegou a reunir cerca de cem povos distintos. Todos eles encontravam-se subor- dinados a um soberano, o Sapa Inca (nico Inca) ou Intip Cori (filho do Sol). Adorado como verdadeiro deus, o Inca exercia o poder com a ajuda de um conselho formado por pessoas de sua famlia. Seus parentes ainda ocupavam os cargos mais elevados da administrao pblica, como os de juiz, general e sacerdote. A maioria da populao era formada por lavra- dores, pois a produo agrcola era a base da vida econmica. Ao casar-se, cada lavrador recebia um lote de terra no qual cultivava principalmente milho, batata-doce, abacate, quinoa, amendoim e batata. Os camponeses eram obrigados a trabalhar nas obras pblicas e nas terras do Inca e prestar servio militar. As aldeias, chamadas de ayllu, constituam a comunidade bsica da sociedade. Nelas viviam os camponeses e suas famlias. Alm dos lotes indivi- duais, havia terras de uso coletivo, nas quais os cam- poneses criavam a alpaca mamfero do qual obti- nham l para a fabricao de tecidos e a lhama, utilizada principalmente como meio de transporte de carga. Esses animais tambm eram aproveitados como alimento. Tcnicos do governo dirigiam-se com frequn- cia a essas aldeias para ensinar aos moradores os melhores processos de criao de animais e para orient-los a respeito do preparo da terra e de ou- tros afazeres, como o plantio, a irrigao, a co- lheita e a conservao de alimentos. Para garantir o sustento da populao no inverno, muitos g- neros alimentcios eram desidratados e estocados. Parte da colheita era usada como pagamento de impostos. Engenharia inca O abastecimento das diversas regies do Imprio era feito por meio de um sistema de estradas que li- gava o territrio inca de norte a sul e de leste a oeste. Essas estradas totalizavam de 30 mil a 50 mil quil- metros de extenso. Ao longo delas havia postos de correio sepa- rados uns dos outros por alguns quilmetros. Em cada posto havia um mensageiro, conhecido como chaski. Quando ele recebia uma mensagem, corria ao posto mais prximo e a retransmitia ao chaski de planto. Este, por sua vez, passava o comuni- cado ao mensageiro do posto seguinte depois de correr at ele, e assim sucessivamente at o desti- no final. Alm de estradas, os en- genheiros e trabalhadores in- cas tambm ergueram cida- des, templos e palcios. Eles desenvolveram uma tcnica que permitia a superposio e o encaixe de grandes blocos de pedras sem a utilizao de nenhum tipo de argamassa. As cidades mais desenvolvidas contavam ainda com sistemas de gua encanada e esgoto. Algumas dessas obras re- sistiram ao do tempo, ao vandalismo e aos terremotos e ainda esto de p. Um dos exemplos mais significativos Machu Picchu, cidade encrava- da no alto de uma montanha no Peru e considerada o prin- cipal conjunto arquitetnico pr-colombiano do continente americano. Antes da chegada dos europeus, os nativos da Amrica desconheciam o cavalo e o boi. Porm, outras cinco espcies animais haviam sido domesticadas. Uma dessas espcies era a lhama, animal da famlia do camelo, muito utilizada pelos incas no Peru e na Bolvia atuais. Na foto, lhama diante das runas de Machu Picchu, no Peru, em 2007. Photos.com/Jupiter HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 16 3/20/13 4:22 PM 18. 17Civilizaes americanas Captulo 1 Os quipos Os incas no desenvolveram uma escrita formal. Para questes de contabilidade, porm, eles criaram os quipos, sistema no qual as informaes eram re- gistradas por meio de feixes de cordas de tamanhos e cores diferentes e com diversos ns. Os quipos per- mitiam aos funcionrios do Imprio armazenar infor- maes relativas s safras agrcolas, ao pagamento de impostos, etc. Os incas se destacaram principalmente por seus trabalhos de cermica, tecelagem e ourivesaria. Seus artfices tinham grande experincia na manipulao da Povos da Amrica do Norte Enquanto astecas e incas criaram sociedades complexas e Estados altamente centralizados, a Amrica do Norte era ocupada por grupos nma- des e seminmades que viviam principalmente da caa ao biso, da pesca e, em alguns casos, da agricultura de queimadas. Por volta do sculo XVI, habitavam a regio povos como os apaches, sioux, navajos, co- manches, moicanos, iro- queses e outros. Juntos, eles totalizavam cerca de 10 milhes de pessoas, divididas em dezenas de grupos lingusticos e cen- tenas de aldeias. De modo geral, os in- dgenas norte-americanos no conheciam os metais e praticavam trabalhos bastante rsticos de cer- mica e tecelagem. Como moradia, usavam princi- palmente tendas de peles em forma de cones. Em al- guns lugares, como no Ca- nad atual, erguiam casas de troncos; j no sudeste dos atuais Estados Uni- dos, chegaram a construir aldeias com edificaes de tijolos de argila crua secada ao sol (adobe). De olho no mundo Rena-se com seu grupo de colegas e, juntos, faam uma pesquisa de imagens sobre a atual si- tuao dos indgenas do Canad ou dos Estados Unidos. Selecionem uma dessas imagens, pro- duzam um cartaz e faam uma legenda. Depois, montem uma exposio de cartazes na escola, di- vulgando as diferentes etnias indgenas dessa re- gio da Amrica do Norte. sso...Enquanto DavidZalubowski/AssociatedPress A conquista da Amrica do Norte pelos europeus foi marcada pela violncia e pelo extermnio dos seus antigos habitantes. Na foto, nativos do povo cheyenne renem-se diante da Assembleia Legislativa do Colorado, nos Estados Unidos, para homenagear 150 indgenas mortos pela milcia do estado, em novembro de 1864. Denver, capital do Colorado, novembro de 2000. prata, sabiam fazer ligas de cobre e trabalhavam com a platina, ainda desconhecida na Europa. Com o ouro confeccionavam adornos, esttuas e dolos religiosos. O ouro tambm foi empregado na decorao de mui- tos palcios e templos, principalmente os de Cuzco. Politestas, os incas mumificavam seus mortos e acreditavam que todas as divindades haviam sido criadas por um deus chamado Wiraqocha. No entan- to, entre os muitos deuses de seu panteo, o Sol Inti era a divindade de maior importncia e a mais cul- tuada. O imperador era considerado como o nico filho do Sol. HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 17 3/20/13 4:22 PM 19. 18 Unidade 1 Diversidade cultural 1. A civilizao maia se estabeleceu na pennsu- la de Yucatn (na Amrica Central), por volta de 1800 a.C. Quais foram as conquistas cien- tcas e tecnolgicas dessa civilizao durante seu perodo de maior esplendor, entre 250 e 900 d.C.? 2. Escreva um texto sobre a importncia de Teno- chtitln como centro da sociedade asteca. 3. Organize um quadro comparando a estrutura so- cial dos maias e a dos astecas. 4. A educao era uma prtica extremamente va- lorizada pelos astecas. Por isso quase todas as crianas estudavam. Explique como funcionava o sistema educacional asteca. 5. Os incas construram um grande imprio na regio andina da Amrica do Sul a partir do sculo XIV, sub- jugando os outros povos da regio. Qual era a or- ganizao poltica e administrativa do Imprio Inca? 6. O domnio dos incas sobre os demais povos dependia no apenas do controle poltico e administrativo, mas tambm de outras aes dos agentes do Imprio sobre os territrios habitados por esses povos. Descreva como funcionava o abastecimento, o transporte e as comunicaes no vasto territrio sob do- mnio inca. 7. Em linhas gerais, quais eram as caractersticas das religies asteca e inca? Organizando as ideias Ateno: no escreva no livro. Responda sempre no caderno. Mundo virtual n Panoramas.dk Visitas virtuais a diferentes cidades do mundo. Oferece viso em 360 da antiga cidade maia de Chichn Itz, no atual Mxico. Disponvel em: . Acesso em: 8 nov. 2012. Um dos aspectos mais importantes das culturas andinas era a produo de tecidos, como o man- to reproduzido na fotograa ao lado. Feitos de al- godo ou l de alpaca, esses tecidos serviam no apenas de vestimentas, mas tinham tambm funo religiosa e indicavam a posio social de quem os utilizava. Observe a imagem do manto paraca e faa as atividades propostas. Interpretando dOCUMeNTOs 1. Faa uma descrio da imagem desenhada no manto paraca e procure identicar os diversos elementos que compem esse manto. 2. O desenho do manto de um ser humano ou de um ser mitolgico-religioso? Justique sua respos- ta com base nos elementos da prpria imagem. 3. Com base nas informaes do captulo sobre as diversas religies pr-colombianas, procure ex- plicar os possveis signicados da gura estam- pada no tecido. Os paracas viveram no territrio do atual Peru entre os sculos IX a.C. e II d.C. Na imagem, um manto confeccionado por artesos paracas. Foto de 2006. ALVA,W.;LonghenA,M.GrandesCivilizaesdoPassado:PeruAntigo.Barcelona:edicionesFolio,2006. HMOV_v2_PNLD2015_008a018_U01_C01.indd 18 3/20/13 4:22 PM 20. 19 No comeo, o mundo era habitado apenas pelos homens-ona. At que surgiu Arcome, esprito criador dos seres humanos. Os homens-ona perseguiram Arcome que, ao fugir, caiu vrias vezes. As quedas foram marcadas por pedras. Nelas, Arcome, transmitiu seus conhecimentos aos indgenas, entre os quais os saberes tradicionais da pesca. Segundo a lenda, as pedras que marcaram as quedas de Arcome encontram-se na cachoeira do Iauaret, no alto rio Negro, na regio hoje conhecida como Amaznia. Elas so consideradas sagradas pelos Tariano e pelos Tukano, povos indgenas que vivem s margens do rio Uaups, numa regio fronteiria entre o Brasil e a Colmbia. Desde 2007 a cachoeira do Iauaret considerada patrimnio cultural imaterial Cachoeira do Iauaret no alto rio Negro, regio Amaznica, 2008. Apesar do nome, no se trata propriamente de uma queda-dgua, mas de uma corredeira (trecho de rio no qual as guas correm com maior rapidez em razo da inclinao do terreno). Os povos indgenas Tukano e Tariano a consideram um lugar sagrado. Vincent Carelli/Acervo do fotgrafo Edson Grandisoli/Pulsar Imagens Captulo 2 Pindorama e seus habitantes Objetivos do captulo n Conhecer a histria e a diversidade cultural dos povos indgenas brasileiros. n Identificar algumas manifestaes do patrimnio cultural imaterial relacionadas s sociedades indgenas. n Compreender alguns fatores que afetam diretamente a sobrevivncia das sociedades indgenas atuais, como os conflitos pela posse de terras. pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Iphan) do Brasil, uma vez que para os 4 mil ndios que vivem na regio ela conserva os segredos e a histria da origem do mundo. Os Tariano e os Tukano so dois dos mais de duzentos povos indgenas do Brasil. Neste captulo conheceremos alguns aspectos das sociedades indgenas de hoje e das que existiam antes de 1500 no que viria a ser o atual territrio brasileiro. HMOV_v2_PNLD2015_019a026_U01_C02.indd 19 3/20/13 4:22 PM 21. 20 Unidade 1 Diversidade cultural Uma constelao de povos A falta de dados mais precisos impede afirmar com certeza quantas pessoas habitavam o atual terri- trio brasileiro poca da chegada dos portugueses. As cifras variam de 1 milho a at 8,5 milhes. Se- gundo alguns especialistas, no sculo XVI esses nati- vos dividiam-se em mais de mil povos, com crenas, hbitos, costumes e formas de organizao especfi- cos. Eles falavam cerca de 1300 lnguas distintas, a maioria delas agrupadas em dois troncos lingusticos principais, o tupi e o macro-j. Entre os principais povos Tupi encontravam-se os Guarani, os Tupinamb, os Tabajara, os Carij e os Ta- moio. Esses povos ocupavam praticamente toda a atual costa brasileira, desde o Cear at o Rio Grande do Sul. J os do tronco lingustico macro-j encontravam-se predominantemente nos cerrados, como ocorria com os Bororo e os Caraj, por exemplo. Os Tupi costuma- vam chamar todas essas populaes de tapuias, palavra genrica e de sentido pejorativo usada para designar os povos que falavam lnguas diferentes da deles. A maioria dos colonizadores que aqui chegaram a partir de 1500 viveu no litoral em razo das dificulda- des de avanar em direo ao interior. Assim, a maior parte das informaes a respeito das sociedades ind- genas daquele perodo refere-se sobretudo aos Tupi, com os quais os portugueses travaram maior contato. Eram eles que chamavam o territrio em que viviam de Pindorama, que quer dizer Terra das Palmeiras. A quantidade de relatos sobre os povos indge- nas do interior bem menor. Entre eles, podemos ci- tar os do padre capuchinho francs Martinho de Nan- tes, que, no sculo XVII, viveu entre os Cariri, no atual territrio paraibano, e o do viajante holands Joan Nieuhof (1618-1672), que tambm no sculo XVII co- nheceu os ndios Tarairi, no Serto nordestino. Por meio de textos como esses possvel recu- perar informaes valiosas a respeito dos hbitos e costumes de alguns povos indgenas do interior. Um trabalho de resgate mais consistente da vida e do co- tidiano dos povos indgenas, no entanto, s comeou a se verificar a partir do final do sculo XIX, quando alguns especialistas iniciaram pesquisas etnolgicas com os povos nativos. Porm, nessa poca, muitas etnias j estavam extintas e outras se encontravam em vias de extino. 1 Hoje, vivem no Brasil cerca de duzentos povos in- dgenas, cada qual com seus hbitos e costumes pr- prios (ver seo Passado presente a seguir). Na seo Patrimnio e diversidade, na pgina 21, conheceremos os Wajpi, povo que vive no estado do Amap e rea- liza uma pintura corporal reconhecida mundialmente. Uma aldeia Tupi Apesar de contarem com muitos hbitos e cos- tumes em comum, os povos Tupi tinham particulari- dades que os diferenciavam uns dos outros. Por isso, embora muitas das informaes a seguir sejam gene- ralizaes, elas nos do uma ideia das principais ca- ractersticas desses grupos. Entretanto, isso no quer dizer que todos os povos Tupi agissem rigorosamente da maneira aqui descrita. Os povos Tupi viviam em pequenas aldeias. At onde se sabe, a organizao das aldeias seguia um modelo comum: de quatro a sete malocas distribu- das em um grande crculo. Feitas de madeira e cober- tas por folhas de palmeira, as malocas eram grandes habitaes coletivas sem divises internas, que abri- gavam de trinta a cem pessoas cada. Na parte central do crculo formado pelas ma- locas havia um terreiro conhecido como ocara. Era o espao principal da aldeia, pois nele aconteciam as cerimnias religiosas, festas e rituais. Tambm eram realizadas ali reunies nas quais se discutiam ques- tes de interesse da comunidade. 2 Gravura de Hans Staden, de cerca de 1556, que ilustra aagricultura e os costumes dos ndios tupi em publicao deseu dirio de viagem. Akg-Images/Album/Latinstock HMOV_v2_PNLD2015_019a026_U01_C02.indd 20 3/20/13 4:22 PM 22. 21Pindorama e seus habitantes Captulo 2 Entre os diversos povos indgenas que vivem hoje no territrio brasileiro, um deles alcanou recentemente destaque internacional: os Wajpi, do Amap. Pertencentes ao tronco lingustico dos Tupi, os Wajpi ganharam projeo por manterem viva a arte kusiwa, ou seja, o tradicional costume de pintar os prprios corpos. Usando urucum e suco de jenipapo para obter as cores vermelha e preta com as quais pintam o corpo, os Wajpi desenvolveram uma linguagem grfica prpria. Por meio dela representam aspectos de sua mitologia e o mundo que os cerca. O domnio da tcnica de pintura com kusiwa um conhecimento que os mais velhos transmitem aos mais jovens, gerao aps gerao. Hoje, os Wajpi lutam para que esse saber no seja abandonado e desaparea para sempre. Em 2001, a importncia da arte kusiwa foi reconhecida internacionalmente. Naquele ano, a Unesco, rgo da Organizao das Naes Unidas (ONU), definiu essa forma de expresso dos indgenas Wajpi como uma obra-prima do patrimnio oral e imaterial da humanidade. At 2008, apenas noventa manifestaes culturais do mundo inteiro haviam obtido reconhecimento semelhante. Os Wajpi so apenas um dos muitos povos indgenas que vivem no Amap. Alm deles, so encontrados grupos de outras etnias, como os Galibi, Karipuna, Palikur e Galibi-Marworno. Todos esses povos vivem em terras demarcadas. Com isso, os povos indgenas do Amap tm suas terras asseguradas por lei. Situado na regio Norte, o Amap cortado pela linha imaginria do equador bem na altura de sua capital, Macap. Nessa cidade, encontra-se o Forte So Jos de Macap, construdo entre 1764 e 1782 com mo de obra formada por africanos e indgenas escravizados. Localizado na margem esquerda do rio Amazonas, a maior fortaleza projetada pelos portugueses em terras brasileiras no perodo colonial e tinha por objetivo impedir invases pelo rio Amazonas. Tombado pelo patrimnio histrico em 1950, o forte foi reaberto ao pblico em 2006, depois de ter passado mais de uma dcada fechado para escavaes arqueolgicas e obras de restaurao. Patrimnio e diversidade Amap Os Wajpi e a kusiwa AntnioMilena/Arquivodaeditora Capital do Amap, Macap vista aqui em foto area de 1999. No primeiro plano, debruado sobre as guas do Rio Amazonas, ergue-se o forte de So Jos de Macap. HMOV_v2_PNLD2015_019a026_U01_C02.indd 21 3/20/13 4:22 PM 23. 22 Unidade 1 Diversidade cultural A diversidade indgena Estima-se que existam hoje no mundo pelo menos 5 mil povos indgenas, somando cerca de 350 milhes de pessoas. No Brasil, de acordo com o censo de 2010, os indgenas somam 817 mil indivduos, ou seja, 0,4% da populao brasileira. A maioria dos povos indgenas do Brasil (52%) no tem mais do que quinhentos integrantes. Apenas trs deles, os Ticuna, os Guarani e os Kaingang, contam com mais de 25 mil pessoas. Tamanha variedade de povos faz com que o Brasil seja um dos pases com maior diversidade tnica e cultural do planeta. Estima-se que sejam faladas pelo menos 170 lnguas indgenas no ter- ritrio brasileiro. Esse nmero, em um passado re- cente, j foi maior, uma vez que diversos povos, como os Pancarar (BA), os Xoc (CE), os Tupini- quim (ES), os Krenak (MG), os Carapot (AL), os Cambeba (AM) e muitos outros deixaram de falar seu idioma original, adotando o portugus ou a lngua de algum outro povo indgena com o qual travaram contato. Hbitos e costumes tambm variam de um povo para outro. Um grande nmero de socieda- des indgenas, por exemplo, constri aldeias dis- pondo suas casas em crculos, como os Bororo (MT) e os Timbira (MA). Outros constroem suas aldeias dispondo as casas em forma de U, como os Xavante (MT), os Asurini (PA) e os Suru (PA). J os Karaj (GO, MT, PA e TO) e os Munduruku (AM, MT e PA) erguem suas residncias em filas paralelas umas s outras. O modo pelo qual as decises so tomadas nas aldeias varia conforme a etnia. Os chefes Xavan- te e Canela (MA), por exemplo, tomam suas deci- ses com o auxlio de um conselho. J nas aldeias Krah (TO) o chefe escolhe um indivduo de sua confiana para assessor-lo e substitu-lo em sua ausncia; alm disso, cada aldeia tem dois auxi- liares: um deles cuida das atividades da aldeia durante a estao seca e o outro, durante a esta- o chuvosa. Fontes: MELATTI, Julio Cezar. ndios do Brasil. So Paulo: Edusp, 2007; MUNDURUKU, Daniel. Coisas de ndio. So Paulo: Callis, 1999; FERNANDES, Joana. ndio esse nosso desconhecido. Cuiab: Editora da UFMT, 1993; Instituto Socioambiental. Povos indgenas do Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 6 nov. 2012. De olho no mundo Atualmente, diversas naes indgenas tm pro- duzido experincias em vdeo, nas quais os pr- prios indgenas aprendem a manipular uma c- mera e contar uma histria. Juntamente com seus colegas de grupo, faa uma pesquisa na internet, selecione alguns vdeos e organize uma pequena mostra desses lmes para a classe ou para a escola. Passado Presente Indgenas de uma aldeia do Acre que nunca tiveram contato com os brancos disparam flechas contra o avio do qual foi tirada esta foto, em maio de 2008. No Brasil, 46 povos nunca tiveram contato com no indgenas. Funai/Reuters A pessoa mais respeitada da aldeia era o paj, que desempenhava as funes de mdico e sacerdote. O lder da aldeia Tupi era chamado de morubixa- ba. Ele no impunha ordens ou determinaes ao gru- po. Seu papel era servir de conselheiro, intermedian- do as relaes entre as pessoas para evitar conflitos. Quando havia questes importantes a serem resolvi- das, como declarar guerra a uma aldeia vizinha, forma- va-se um conselho composto dos chefes das grandes famlias, cujas decises eram adotadas coletivamente. A base material sobre a qual se apoiavam as so- ciedades indgenas em geral, antes da chegada dos portugueses, era a apropriao coletiva da natureza. A terra, a floresta, a gua, os animais pertenciam a todos, no existindo a figura da propriedade privada da terra ou de qualquer outro recurso natural. HMOV_v2_PNLD2015_019a026_U01_C02.indd 22 3/20/13 4:22 PM 24. 23Pindorama e seus habitantes Captulo 2 A ausncia de propriedade privada, aliada ine- xistncia de um poder poltico forte e centralizado, imprimiu s comunidades indgenas um carter alta- mente igualitrio. Ou seja, de modo geral, no existiam privilgios, nem di- viso de classes, nem desigualdades sociais. FbioRodriguesPozzebom/ABR Crianas indgenas da etnia Kayap com pinturas corporais. Belm, capital do estado do Par, janeiro de 2009. ta e da fabricao de utenslios domsticos. Os bens assim produzidos pertenciam a toda a comunidade. Tanto as armas como os objetos de uso dirio eram feitos de pedra, osso, madeira ou barro. Os que viviam junto aos rios e ao mar tinham na pesca um de seus principais meios de subsistn- cia. Aqueles instalados no meio da floresta pratica- vam mais a caa. Alguns povos das plancies dedicavam-se tam- bm agricultura, plantando milho, mandioca, ab- bora, inhame, batata-doce. Um dos alimentos mais importantes, a mandioca tornou-se comestvel gra- as ao fato de os ndios terem descoberto como extrair o veneno existente em sua raiz. Esse vene- no era utilizado na ponta das flechas para torn-las ainda mais mortais. Extrado o veneno, a mandioca era transformada em farinha seca, tapioca, beiju e outras iguarias. Em 2008, uma pesquisa desenvolvi- da pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) constatou que a domesticao da man- dioca ocorreu h mais de 8 mil anos, tendo comea- do na regio amaznica, em rea hoje pertencente aos estados do Acre, Rondnia e Mato Grosso. Quando o solo se esgotava, o grupo que ocupa- va a regio abandonava a aldeia e se estabelecia em outro lugar (veja a seo Passado presente, a seguir). A diviso sexual do trabalho A diviso do trabalho era feita de acordo com o sexo e a idade. Geralmente, atividades como der- rubar rvores, caar, pescar, preparar a terra para o plantio, construir malocas, armas e canoas ficavam a cargo dos homens. Alm de cozinhar, as mulheres cuidavam das crianas, da coleta de frutos, da plantao, da colhei- A luta pela terra Segundo a Constituio brasileira, as terras onde os povos indgenas se encontram perten- cem Unio, mas os ndios detm o direito de usufruto desses territrios. A garantia desse di- reito se consolida aps um longo processo no qual agentes do governo federal identificam o territ- rio e demarcam seus limites. Com a homologao do processo pela Presidncia da Repblica, as ter- ras so registradas em cartrio. Atualmente, exis- tem 685 terras indgenas (TIs), ocupando 13,3% do territrio brasileiro, mas nem todas foram ain- da registradas em cartrio. A Constituio probe que as terras indgenas sejam ocupadas por terceiros. Afinal, delas que os ndios retiram seu sustento por meio da caa, da pesca, do cultivo de alimentos, etc. Por essa ra- zo, para os povos indgenas extremamente im- portante que os recursos ambientais de seus terri- trios sejam preservados. Nesse aspecto, porm, a Constituio nem sempre respeitada. O territrio dos Xacriab, em Minas Gerais, por exemplo, foi demarcado numa rea de transio do cerrado para a caatin- ga, numa regio desprovida de nascentes e que chega a enfrentar at oito meses de seca por ano. Em outros lugares, as terras indgenas so cons- tantemente invadidas* por madeireiras interessa- das na derrubada das r- vores ou por garimpeiros em busca de ouro e dia- mantes. Esse processo de invaso se acentuou nas l- timas dcadas em razo da grande valorizao das chamadas commodities agrcolas. Com essa valorizao, diversas reas indgenas pas- saram a ser ocupadas por agricultores que derru- Passado Presente * Veja o filme Serras da desordem, de Andrea Tonacci, 2005. HMOV_v2_PNLD2015_019a026_U01_C02.indd 23 3/20/13 4:22 PM 25. 24 Unidade 1 Diversidade cultural bam as matas para plantar produtos como soja e arroz. Embora essa disputa pela terra dos ndios ocorra em diversos lugares do Brasil, na regio Norte que esse processo mais acentuado. Em Roraima, indgenas da reserva Raposa Serra do Sol conseguiram, em 2009, aps longa batalha judicial, a expulso dos invasores de sua terra, em um caso de gran- de repercusso no Brasil e no exterior. Fontes: FAUSTO Boris e FAUSTO, Carlos. Surto anti-indgena. O Estado de S. Paulo, 28 abr. 2008; GESISKY, Jaime. Esperana nas aldeias xacriabs. Cincia Hoje, jan.-fev., 2008; Comendo a Amaznia. Disponvel em: . Acesso em: 6 nov. 2012. Costumes indgenas Muitas aldeias estabeleciam alianas com aldeias vizinhas, fosse por meio de casamentos ou de acor- dos informais. Mas nem sempre imperavam relaes amisto- sas entre as aldeias. No eram raras as guerras entre elas. Um dos desdobramentos desses conflitos era a captura de inimigos e a rea- lizao de rituais antropo- fgicos, nos quais os prisio- neiros eram devorados por seus captores. A antropofagia* tinha sempre um significado ri- tual para os indgenas, mas havia algumas diferen- as de conotao de grupo para grupo. Os Tupi, por exemplo, comiam seus inimigos como forma de ho- menage-los, pois acreditavam que ao faz-lo assi- milavam sua fora e valentia. J para diversos povos indgenas que viviam no interior, ingerir a carne de um familiar morto por causas naturais transferia para aqueles que a consumiam suas virtudes e qualidades. No sculo XVI, muitos europeus viram na antro- pofagia dos indgenas americanos um sinal de barba- rismo e passaram a julgar as populaes do continen- te como incapazes de se autogovernar. Esse foi um dos argumentos usados para justificar a colonizao da Amrica. AlanMarques/FolhaImagem Os aborgines australianos Por volta de 1788, ano em que os europeus chegaram Austrlia atual, viviam ali de 500 mil a 700 mil aborgines (de- nominao atribuda aos povos nativos australianos), dividi- dos em aproximadamente quinhentos grupos que falavam cer- ca de 250 lnguas diferentes. Cada povo tinha seu territrio e suas prprias regras. Todos, porm, eram nmades ou semi- nmades. Viviam principalmente da caa e da coleta, embora tivessem conhecimentos de agricultura. As trocas comerciais eram relativamente intensas. Com a chegada dos europeus, eclodi- ram conitos* pela posse das terras, que provocaram o extermnio de grande par- te da populao aborgine. Em 1900, ela estava reduzida a apenas 50 mil pessoas. Graas a uma elevada taxa de natalidade, o nmero de aborgi- nes voltou a crescer, totalizando hoje cerca de 350 mil pessoas. sso...Enquanto * Veja o filme Onde sonham as formigas verdes, de Werner Herzog, 1984. Jovens aborgines australianos danam no Festival Laura de Dana Aborgine, realizado na pennsula do Cabo de York, na Austrlia, em junho de 2011. A celebrao cultural, que acontece bienalmente, sagrada para a comunidade autctone. Mark Kolbe/Tourism Queensland/Getty Images * Veja os filmes Hans Staden, de Luiz Alberto Pereira, 1998, e Como era gostoso o meu francs, de Nelson Pereira dos Santos, 1972. Na sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Braslia, a advogada indgena Jonia Batista Carvalho, do povo Wapichana, prepara-se para defender a demarcao contnua das terras da reserva Raposa Serra do Sol, situada no estado de Roraima. Braslia, 27 ago. 2008. HMOV_v2_PNLD2015_019a026_U01_C02.indd 24 3/20/13 4:22 PM 26. 25Pindorama e seus habitantes Captulo 2 O que voc vai ver e ler a seguir so duas repre- sentaes dos ndios brasileiros produzidas por euro- peus no sculo XVII. A primeira a tela Dana Tapuia, do pintor holands Albert Eckhout (1610-1666). Ta- puia era o termo utilizado pelos Tupi para designar in- distintamente todos os povos que no pertencessem sua etnia. Hoje sabemos que os ndios representa- dos nesse quadro pertenciam na verdade ao povo Tarairi, que vivia no Serto nordestino. A segunda representao uma descrio desse mesmo povo feita por Elias Herckmans (1596-1644), gegrafo holands que governou a Capitania da Paraba entre 1636 e 1639, sob as ordens da Com- panhia das ndias Ocidentais, durante o perodo de dominao holandesa naquela regio (sobre o as- sunto, leia o captulo 10). Observe a imagem abaixo, leia o documento escrito e reita sobre eles tendo em mente as questes propostas. Interpretando DOCUMENTOS 1. Em linhas gerais, como estava organizada a vida so- cial e poltica em uma aldeia Tupi no sculo XVI? 2. Por que podemos armar que as sociedades ind- genas eram, de modo geral, igualitrias quan- do os portugueses chegaram ao territrio hoje conhecido como Brasil? 3. Nas sociedades indgenas do sculo XVI ha- via uma diviso de trabalho muito clara. De que modo era realizada essa diviso e quais eram suas caractersticas? 4. Quais eram as fontes de alimentao mais impor- tantes das sociedades indgenas do atual territ- rio brasileiro no sculo XVI? 5. Diversos povos indgenas realizavam rituais an- tropofgicos, nos quais comiam prisioneiros de guerra ou familiares mortos. Que signicados ti- nham esses rituais? 6. Atualmente, estima-se que existam no Brasil entre 450 mil e 700 mil indgenas, divididos entre povos de etnias diversas. Essa variedade de etnias carac- teriza o Brasil como um dos pases de maior diver- sidade cultural do planeta. Dena pelo menos trs aspectos da vida social e poltica que exempli- cam as diferenas entre os povos indgenas. 7. A Constituio brasileira estabelece que as ter- ras ocupadas tradicionalmente pelos povos in- dgenas pertencem Unio e apenas eles tm direito ao usufruto dessas terras, que consti- tuem cerca de 13,3% do territrio brasileiro. Apesar disso, vm ocorrendo conitos em torno de terras indgenas envolvendo o Estado, gru- pos indgenas e vrios interesses econmicos. Faa uma sntese descritiva desses conitos. Organizando aS iDEiaS Documento 1 Dana Tapuia, quadro (leo sobre tela) do pintor holands Albert Eckhout, executado por volta de 1641. Tambm conhecida como Dana dos Tarairi, a obra encontra-se hoje no Museu de Copenhague, na Dinamarca. AlbertEckhout/MuseudeCopenhague,Dinamarca HMOV_v2_PNLD2015_019a026_U01_C02.indd 25 3/20/13 4:22 PM 27. 26 Unidade 1 Diversidade cultural Mundo virtual n Biblioteca Digital Mundial Site com documentos de diferentes lugares e perodos histricos. Destacamos o acervo latino-americano. Disponvel em: . Acesso em: 8 nov. 2012. n Museu do ndio Desenvolve trabalhos de pesquisa e divulgao das culturas indgenas brasileiras em parceria com as diversas etnias. No site do museu possvel encontrar fotografias, vdeos e textos sobre o tema. Disponvel em: . Acesso em: 5 nov. 2012. Os indgenas representam hoje cerca de 0,4% da populao brasileira e ocupam uma rea que corresponde a 13,3% do territrio nacional. So cerca de 1 milho de quilmetros quadrados, rea equivalente ao dobro da Frana. Rena-se com seu grupo de colegas e, juntos, debatam as seguintes questes: qual a importncia de re- servar grandes extenses de terra para essas co- munidades? Como isso se choca com os interes- ses de grupos econmicos e de comunidades no indgenas? Se essas reservas fossem reduzidas, a cultura indgena estaria ameaada? Tendo em mente essas questes e a reexo do grupo, montem uma pequena cena teatral que dramatize a situao. Sob orientao do profes- sor, apresentem a cena classe. Hora DE REFLETiR Documento 2 Esse povo robusto de corpo, de grande esta- tura, a ossatura grossa e forte, a cabea grande e larga; [...] Andam inteiramente nus, exceto em algu- mas ocasies de festa, ou quando vo guerra, por- que ento geralmente cobrem o corpo de penas de arara [...], de maracans [aves da famlia dos papa- gaios], papagaios e periquitos. [...] Como esse povo anda nu [...], no se pode distin- guir o rei e os maiores senhores pela excelncia dos vestidos. Mas somente pelo cabelo e pelas unhas dos dedos. O cabelo do rei cortado na cabea como uma coroa, e em ambos os polegares ele traz as unhas compridas, o que, exceto ele, ningum mais pode trazer. Os seus amigos e capites tm as unhas compridas em todos os dedos, exceto nos polegares, cujas unhas cortam rente para no min- guar [reduzir] a honra do rei. HERCKMANS, Elias. Descrio geral da Capitania da Paraba. In: MEDEIROS, Manuel Batista de. Capitania holandesa da Paraba numa viso do sculo XVII. Joo Pessoa: Unip, 2003. p. 212-214. 1. Faa uma descrio do quadro Dana Tapuia, identicando as aes dos Tarairi representados e os objetos pintados na cena. 2. Que aspectos da descrio no texto de Herckmans se aproximam da representao de Eckhout e que aspectos divergem do quadro? 3. Com base nos dois documentos, levante uma hi- ptese para explicar por que os ndios estariam danando da forma representada no quadro. 4. Os autores dos dois documentos registraram suas impresses (escritas ou pictricas) sobre os Tarairi. Naturalmente, ao fazerem seus re- gistros os autores imprimiram a eles seus pr- prios valores e pontos de vista preconcebidos. Assinale aspectos de ambas as obras que evi- denciam esse olhar europeu preconcebido so- bre os indgenas. HMOV_v2_PNLD2015_019a026_U01_C02.indd 26 3/20/13 4:22 PM 28. 27 Todos os anos, nos meses de agosto e setembro, milhares de pessoas vo s ruas da cidade de Carhuamayo, na provncia de Junn, no Peru, para assistir tradicional Festa Patronal. Trata-se de uma celebrao realizada h mais de um sculo, marcada por apresentaes de danas e msicas tradicionais, corridas de touros, cerimnias religiosas e outros eventos. Um dos pontos altos da festividade a encenao de uma pea de teatro ambientada no incio do sculo XVI. Essa histria tem base, principalmente, nas narrativas orais. Descreve o encontro entre o imperador inca Atahualpa e um grupo de conquistadores espanhis. O pice da pea ocorre com a representao da captura e da morte do imperador inca. A tenso observada no encontro entre Atahualpa e os espanhis no co. Festa Patronal de Carhuamayo, na provncia de Junin, Peru. Foto de 2011. Carhuamayo.com/Arquivodaeditora Captulo 3 A conquista espanhola Objetivos do captulo n Identificar a expanso do cristianismo e a explorao de metais preciosos como alguns dos principais fatores que motivaram a colonizao espanhola no continente americano. n Compreender as principais causas do extermnio de grande parte da populao indgena. n Conhecer as estratgias de resistncia dos povos nativos ao domnio espanhol. n Ampliar a compreenso em torno de conceitos como etnocentrismo e da diversidade cultural. Diego Rivera/Corbis/Latinstock/Foto: Charles and Losette Lenars O encontro entre a populao indgena, que vivia no continente americano, e os espanhis, que desembarcaram no continente a partir de 1492, foi extremamente violento e culminou em guerras e mortes. Neste captulo veremos como foi a chegada dos espanhis na Amrica e quais foram os impactos da conquista para os povos indgenas. HMOV_v2_PNLD2015_027a034_U01_C03.indd 27 3/20/13 4:23 PM 29. 28 Unidade 1 Diversidade cultural Ouro e sangue: a conquista espanhola A notcia de que os ndios de Hispaniola onde Cristvo Colombo desembarcara em 1492 usavam adereos de ouro provocou alvoroo entre os espa- nhis. Motivados pelo desejo de enriquecimento f- cil, muitos deles se deslocaram para l: em fins de 1493, tinha incio a explorao aurfera na regio. A Igreja catlica tambm enviou religiosos com o obje- tivo de converter os nativos f crist. Ao chegar a Hispaniola, os espanhis no pou- param seus habitantes. Os que no foram extermina- dos passaram condio de escravos, sendo obriga- dos a trabalhar na extrao de ouro. Parte da populao indgena morreu ao entrar em contato com doenas levadas pelos europeus e contra as quais no tinha anticorpos. Segundo alguns pesquisadores, essas doenas foram um dos princi- pais responsveis pela mortandade da populao as- teca, que diminuiu de cerca de 25 milhes de pessoas em 1518 para 700 mil em 1623. Com o esgotamento do ouro de Hispaniola, as atenes dos espanhis se voltaram para outras ilhas prximas. A partir de 1502, Hispaniola tornou- -se prioritariamente um centro administrativo e pon- to de abastecimento dos exploradores que partiam para outras regies em busca de ouro. Os espanhis implantaram um sistema de colo- nizao conhecido como encomienda. Esse modelo de explorao consistia em conceder a um colono o direito de escravizar certo nmero de indgenas para faz-los trabalhar na explorao de ouro, na agricul- tura ou em servios domsticos. Em troca, o colono deveria pagar um tributo metrpole e cristianizar os nativos sob seu controle. 1 Os astecas subjugados Entre os espanhis que chegaram a Hispaniola em 1504 estava um jovem de apenas 19 anos chama- do Hernn Cortez. Quinze anos depois, em fevereiro de 1519, Cortez atravessaria o golfo do Mxico para conquistar o territrio asteca. Levava consigo mais de 600 homens, 32 cavalos e dez canhes e sua princi- pal motivao era o ouro que se dizia existir nas cida- des dos antigos mexicas. Ao desembarcarem em territrio hoje perten- cente ao Mxico, em abril do mesmo ano, Cortez e seus homens tiveram o primeiro contato com os aste- cas. Eram emissrios do imperador Montezuma. Segundo uma antiga profecia asteca, naquele ano deveria chegar regio o deus Quetzalctl, a ser- pente emplumada. Por isso, no comeo os astecas pensaram que os espanhis eram deuses e os presen- tearam com ouro. Por meio de intrpretes, Cortez descobriu a exis- tncia de um grande nmero de povos subjugados pelos astecas. Muitos deles estavam descontentes com os altos tributos que lhes eram cobrados e pelo fato de os astecas sacrificarem seus principais guerrei- ros em rituais religiosos (sobre os tributos, veja a se- o Olho vivo, na pgina 30). Conforme avanava em direo cidade de Te- nochtitln, Cortez procurava conquistar a confiana dos povos subjugados, prometendo-lhes a liberdade. Obteve assim o apoio de muitos deles. No dia 8 de novembro de 1519, Cortez e seus homens se encontraram pela primeira vez com Mon- tezuma. Embora j desconfiasse que eles no eram deuses, o imperador lhes deu boa acolhida. Seis dias depois, Cortez aprisionou o governante asteca. 2 Representao do encontro de Hernn Cortez com o governante asteca Montezuma em miniatura do manuscrito Historia de los indios, de Diego Durn, 1579. direita, Cortez recebe presentes de Montezuma. DiegoDurn,1579/BibliotecaNacional,Madri/TheBridgemanArtLibrary HMOV_v2_PNLD2015_027a034_U01_C03.indd 28 3/20/13 4:23 PM 30. 29A conquista espanhola Captulo 3 Posteriormente, em 30 de maio de 1521, Cortez, fren- te de suas tropas e de aproxima- damente 80 mil indgenas alia- dos, sitia Tenochtitln. A cidade resistiu durante trs meses, mas acabou ocupada e arrasada pe- los invasores. O territrio aste- ca passou ento para o dom- nio espanhol sob o nome de Nova Espanha (veja o mapa ao lado com as colnias espanholas na Amrica). A partir de 1523, Cortez passou a ter como objetivo a conquista do territrio maia, lo- calizado em reas hoje perten- centes a Guatemala, Honduras e Mxico (veja o captulo 1). Em 1547, depois de sucessivas guer- ras, os espanhis conquistaram o territrio maia e dizimaram sua populao. A sujeio dos incas Em 1519, os espanhis fundaram na Amrica Central a cidade do Panam, que logo se tornaria uma de suas sedes administrativas. Trs anos depois, o governador da regio entregou a Francisco Pizarro a chefia de uma expedio que deveria rumar para o Sul, em direo ao Imprio Inca, onde, segundo infor- maes recebidas, haveria muito ouro. Pizarro faria trs incurses na Amrica do Sul. A primeira (1524) fracassou na costa da Colmbia a- tual, vtima de ataques dos indgenas e da falta de gua e comida. Na segunda (1526-1528), o aven- tureiro chegou at a cidade de Tumbes, no litoral do atual Peru, onde ele e seus homens encontra- ram excelentes estradas, casas de pedra e templos decorados com peas de ouro e prata de excelen- te acabamento. 3 OCEANO ATLNTICO OCEANO PACFICO VICE-REINO DA NOVA ESPANHA (1535) VICE-REINO DE NOVA GRANADA (1717) VICE-REINO DO RIO DA PRATA (1776) VICE-REINO DO PERU (1543) CAPITANIA-GERAL DA FLRIDA CAPITANIA-GERAL DE CUBA CAPITANIA-GERAL DA VENEZUELA CAPITANIA-GERAL DA GUATEMALA CAPITANIA-GERAL DO CHILE GUIANAS Trpico de Cncer Equador 60 O Trpico de Capricrnio 0 COLNIAS ESPANHOLAS NA AMRICA 0 920 QUILMETROS ESCALA 1840 Fonte: WORLD History Atlas: Mapping the Human Journey. London: Dorling Kindersley, 2005. A invaso do Imprio Entre 1528 e 1529, Pizarro deu incio sua ter- ceira expedio em busca do Imprio Inca. Ao chegar em Tumbes, encontrou a cidade completamente de- serta: grande parte da populao havia sido dizimada por uma doena que deixava marcas na pele: era varola, transmitida aos nativos pelos espanhis da se- gunda expedio. At mesmo o imperador Huayana Cpac falecera vtima da epidemia. Sua morte deixa- ra o Imprio Inca em guerra, provocada pela disputa do poder entre seus dois filhos, Atahualpa e Huascar. Ao saber dessas notcias, Pizarro seguiu para Ca- jamarca, cidade a 2750 metros acima do nvel do mar, onde estava Atahualpa. O encontro entre ambos ocorreu no dia 16 de novembro de 1532. O inca se fazia acompanhar de um exrcito de cerca de 80 mil guerreiros. Pizarro contava com 168 homens apenas. HMOV_v2_PNLD2015_027a034_U01_C03.indd 29 3/20/13 4:23 PM 31. 30 Unidade 1 Diversidade cultural As imagens reproduzidas nesta seo so uma das principais fontes de informao a respeito dos astecas. Trata-se de uma pgina do Cdice Mendoza. Escrita entre 1541 e 1542, a obra tinha por objetivo manter o rei da Espanha, Carlos I, informado sobre os aste- cas. O cdice tem esse nome por ter sido encomendado pelo primeiro Vice-Rei da Nova Es- panha (nome pelo qual os espanhis passaram a chamar o atual territrio mexicano), dom Antonio de Mendoza. O Cdice Mendoza que hoje se encontra na biblioteca da Universidade de Oxford, na Inglaterra foi elaborado com os pictogramas da escrita asteca; ao lado deles, os espanhis escreveram sua traduo. A obra est dividida em trs partes: na primeira so contadas as origens de Tenochtitln, e a histria de seus governantes e de suas respectivas conquistas. A segunda parte relaciona as cidades que deveriam pagar tributos a Tenochtitln e informa qual o tipo de imposto a ser pago e em que quantidade. Na ltima parte, temos relatos da vida cotidiana dos astecas. Os tributos variavam de acordo com a regio, mas de modo geral eram produtos txteis, roupas de guerreiros, alimentos e matrias-primas, como podemos ver nas imagens. Olho vivo Os astecas e seus impostos Mantas de algodo com motivos especcos. Entre os astecas, o nmero de mantas que cada indivduo podia portar era estabelecido por lei. Nesta coluna esto os nomes das cidades que pagavam impostos aos astecas. No Cdice Mendoza h uma lista de 326 cidades. BETANCOURT, Luz Maria Mohar. La escritura en el Mxico antiguo. Ciudad de Mxico: Plaza y Valds, 1990; RAMOS, Laura Bety Zagoya. Anlisis de los trajes de guerreros y escudos representados en el Cdice Mendocino. Disponvel em: . Acesso em: 7 jan. 2010. Traje guerreiro composto de uma vestimenta, um cocar e um escudo enfeitado com plumas de quetzal, ave tpica da Amrica Central. O traje identicava o nvel hierrquico do guerreiro. Este o Quetzalpatzactli, reservado elite. Colar de chalchihuite, uma espcie de jade verde. HMOV_v2_PNLD2015_027a034_U01_C03.indd 30 3/20/13 4:23 PM 32. 31A conquista espanhola Captulo 3 Feixes de plumas de quetzal. O uso de plumas estava vinculado ao culto religioso e assinalava posies na hierarquia social: apenas nobres, reis, guerreiros e sacerdotes podiam usar roupas de algodo cobertas com plumas. Numeral pictogrco: cada polegar equivalia a uma unidade. Numeral pictogrco: cada bandeira equivalia a 20 unidades. Pea feita de plumas ricas. Usado como pagamento de tributos, o ouro em p era medido em xcaras. Traduo para o espanhol da escrita asteca. Entre os astecas havia pelo menos doze diferentes tipos de trajes guerreiros. Este conhecido como tozcololl, uma divisa que se levava amarrada s costas enfeitada com penas de quetzal. Huipi