História do Rock

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HISTORIA DO ROCK Por Simone Paula Marques Tinti O texto a seguir é parte de um Trabalho de Conclusão de Curso, portanto, possui algumas referências a livros, revistas e outras teses consultadas, de onde foram retiradas algumas citações. Algumas referências encontram-se entre parênteses, outras são indicadas pelo uso de aspas. “Rock’n’roll é tão fabuloso, as pessoas deviam começar a morrer por ele. (...) As pessoas simplesmente devem morrer pela música. As pessoas estão morrendo por tudo o mais, então por que não pela música? Morrer por ela. Não é bárbaro? Você não morreria por algo bárbaro? Talvez eu deva morrer. Além do mais, todos os grandes cantores de blues morreram. Mas a vida está ficando melhor agora. Não quero morrer. Quero?” - Lou Reed (ex-Velvet Underground) ROCK’N’ROLL – COMO TUDO COMEÇOU Como não poderia deixar de ser, a história do rock começa com um grito: o grito do negro, que veio para a América como escravo e influenciou a sociedade norte-americana com a sua musicalidade. Em fins de 1950, nos Estados Unidos, a chamada “geração silenciosa”, marcada pelo fim da Segunda Guerra Mundial, viu-se frente a um ritmo até então desconhecido, derivado da sonoridade de um povo marginalizado. O primeiro grito negro cortou os céus americanos como uma espécie de sonar, talvez a única maneira de fazer o reconhecimento do ambiente novo e hostil que o cercava. À medida que o escravo afundava na cultura local - representada, no plano

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HISTORIA DO ROCK

Por Simone Paula Marques Tinti

O texto a seguir é parte de um Trabalho de Conclusão de Curso, portanto, possui algumas referências a livros, revistas e outras teses consultadas, de onde foram retiradas algumas citações. Algumas referências encontram-se entre parênteses, outras são indicadas pelo uso de aspas.

“Rock’n’roll é tão fabuloso, as pessoas deviam começar a morrer por ele. (...) As pessoas simplesmente devem morrer pela música. As pessoas estão morrendo por tudo o mais, então por que não pela música? Morrer por ela. Não é bárbaro? Você não morreria por algo bárbaro? Talvez eu deva morrer. Além do mais, todos os grandes cantores de blues morreram. Mas a vida está ficando melhor agora. Não quero morrer. Quero?” - Lou Reed (ex-Velvet Underground)

ROCK’N’ROLL – COMO TUDO COMEÇOU

Como não poderia deixar de ser, a história do rock começa com um grito: o grito do negro, que veio para a América como escravo e influenciou a sociedade norte-americana com a sua musicalidade. Em fins de 1950, nos Estados Unidos, a chamada “geração silenciosa”, marcada pelo fim da Segunda Guerra Mundial, viu-se frente a um ritmo até então desconhecido, derivado da sonoridade de um povo marginalizado.

O primeiro grito negro cortou os céus americanos como uma espécie de sonar, talvez a única maneira de fazer o reconhecimento do ambiente novo e hostil que o cercava. À medida que o escravo afundava na cultura local - representada, no plano musical, pela tradição européia – o grito ia se alterando, assumia novas formas.(MUGGIATI, 1973, p. 8)

Antes de definir o rock, é preciso considerar o nascimento do blues - resultado da fusão entre a música negra e a européia. Este ritmo se encontra nas raízes musicais dos primeiros artistas de rock e sua denominação decorre da palavra “blue”, que em língua inglesa também significa “triste”, “melancólico”. Assim, essa nova música “doce-amarga” se transformou na principal base para a revolução sonora da década de 50.

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No entanto, é preciso enfatizar que, além do grito negro e das notas melancólicas do blues, a dança e, principalmente o som das guitarras elétricas, foram fatores essenciais para a caracterização do rock. Neste ponto é que se encontra uma variação do blues: o rhythm and blues.

O ‘rhythm and blues’ é a vertente negra do Rock. É ali que vamos buscar, quase que exclusivamente (e só digo quase por espírito científico), as origens corpóreas do Rock. Reprimidos pela sociedade ‘wasp (white, anglo-saxon and protestant)’, a mão-de-obra negra, desde os tempos da escravidão, se refugiava na música (os blues) e na dança para dar vazão, pelo corpo, ao protesto que as vias convencionais não permitiam. (CHACON, 1985, p. 24)

Caracterizado como uma versão mais agressiva do blues, o rhythm and blues se formou a partir da necessidade dos cantores em se fazer ouvir nos bares em que tocavam, já que os sons dos instrumentos elétricos exigiam um canto mais gritado (MUGGIATI, 1973). Ainda assim, para a consolidação da primeira forma do rock - o rock’n’roll - houve também a fusão com a música branca, a chamada country and western (música rural dos EUA). Chacon (1985) compara esse gênero ao blues, na medida em que representava o sofrimento dos pequenos camponeses, o lamento.

Os principais atingidos pela revolução sonora do rock’n’roll foram os jovens, inicialmente nos Estados Unidos e depois no mundo todo. Nos primeiros anos da década de 1950, estes jovens se encontravam em meio a disputas entre o capitalismo e o comunismo (a guerra da Coréia em 1950) e a uma valorização do consumismo, da modernização, fruto do progresso científico gerado no pós-guerra.

Nessa época, a tradicional sociedade norte-americana passou a ser contestada pelos jovens, os quais foram rotulados de rebeldes sem causa. Os filmes de Hollywood representavam a alienação jovem; o personagem de James Dean, no filme Juventude Transviada (1955), representava o comportamento adotado pela juventude: recusar o mundo sem no entanto chegar a uma visão crítica da realidade, divididos entre amor/pacifismo e violência/autodestruição. (MUGGIATI, 1973)

No entanto, mais do que o cinema, a música se firmou como o canalizador das idéias contestatórias dos jovens, frente à insatisfação com o sistema cultural, educacional e político. E o rock’n’roll era o ritmo que ditaria esse comportamento.

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...a vibração negra, sua voz grave e rouca, sua sexualidade transparente e seu som pesado agora alimentado pela guitarra elétrica, tudo isso parecia bem mais atrativo a milhões de jovens, inicialmente americanos mas logo por todo o mundo, que pareciam procurar seu próprio estilo de vida. (CHACON, 1985, p. 25)

O rock’n’roll, afinal, surgiu na América como um movimento da contracultura, visto que suas primeiras manifestações eram contrárias aos valores até então veiculados: “(...) figuravam convites à dança e ao amor (não necessariamente ao casamento), descrições de carros e de garotas, histórias de colégio e dramas da adolescência...”(MUGGIATI, 1985, p. 19-20)

Em 1954, Bill Haley and his Comets, com a música (We´re Gonna) Rock around the clock, levou os jovens a ingressarem nesse novo ritmo – que no início era apenas um modismo - a partir da expressão contida no título da música, ou seja, dançando sem parar (around the clock). Esta música, que lançou Bill Haley para o sucesso mundial, também fez parte do filme Blackboard Jungle (Sementes de Violência).

A denominação deste novo gênero, que revolucionou a maneira de fazer e ouvir música a partir de 1950, veio de um disc-jockey norte-americano, Alan Freed, que se inspirou em um velho blues: My daddy he rocks me with a steady roll (Meu homem me embala com um balanço legal). Ele foi um personagem importante para os primeiros momentos do rock, já que passou a divulgar ‘festinhas de rock’n’roll após o programa de música clássica que mantinha em uma rádio em Ohio. Tudo começou quando foi convidado por um amigo a visitar uma loja de discos em que viu vários jovens dançando ao som de uma música que até então ele nunca havia parado para ouvir: o rhythm and blues. (MUGGIATI, 1973, p. 36)

O rock é muito mais do que um tipo de música: ele se tornou uma maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de comportamento. O rock ´é´ e ´se define´ pelo seu público. Que, por não ser uniforme, por variar individual e coletivamente, exige do rock a mesma polimorfia (...)Mais polimorfo ainda porque seu mercado básico, o jovem, é dominado pelo sentimento da busca que dificulta o alcance ao porto da definição ( e da estagnação...) (CHACON, 1985, p. 18-19)

Assim, o ritmo dançante da música de Bill Haley contagiou os jovens e também levou muitos outros artistas a seguirem seus passos. Ele adaptou o ritmo do swing (ritmo dançante) ao som das guitarras elétricas e transformou (We´re Gonna)Rock around the clock no hino oficial do rock’n’roll. Depois de Haley, outros artistas da década de 50, como Chuck Berry, Little Richard, Buddy Holly e Jerry Lee Lewis também marcaram presença na história do rock’n’roll. A música do ex-trombadinha negro, Chuck Berry, foi inclusive inspiração para outros artistas que

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apareceram no cenário do rock anos mais tarde. Johnny B. Goode, de autoria de Berry, é até hoje ouvida e tocada por muitos amantes do rock em geral.

Um dos artistas mais importantes dos primeiros anos do rock’n’roll foi Elvis Presley. Como explica Chacon (1985), “só um símbolo sexual, devidamente municiado pelos melhores autores e ‘cantando e suando como um negro’ poderia transformar aquele modismo numa verdadeira revolução”. A sensualidade presente na voz rouca e na sua maneira de dançar, que transformaram Elvis numa superestrela do rock, tornou-o um exemplo clássico da influência negra sobre a sociedade branca norte-americana – aspectos para os quais Chacon (1985) chama a atenção. Além disso, sua história também tem pontos em comum com a de outros artistas: vidas atribuladas, envolvimento com drogas, relacionamentos desfeitos e um triste fim. Estes foram também alguns dos ingredientes das vidas de Jerry Lee Lewis, que teve muitos problemas com bebida e se casou várias vezes ou de Buddy Holly, que morreu ainda jovem em um desastre de avião.

O envolvimento com drogas e a vida atribulada dos artistas de rock ficaram marcados como algumas das características do gênero; a vida dos artistas citados acima demonstra que isso começou ainda nos primórdios do rock’n’roll.

“O Rei do Rock”

Elvis Aaron Presley nasceu em 8 de janeiro de 1935, em Tupelo, Mississipi, em um casebre de dois cômodos. Seu irmão gêmeo, Jesse Garon, morreu ao nascer. Talvez levada pelo sentimento dessa perda, a mãe de Elvis, Gladys, idolatrava o filho.

Desde criança, Elvis interessava-se pela música; aos oito anos ganhou da mãe sua primeira guitarra. Ele ia com seus pais à igreja freqüentemente e adorava música gospel, o que o fez entrar para um coral. Além da música que ouvia na igreja, Elvis tornou-se um ouvinte assíduo de rádios que tocavam blues e r&b(rhythm and blues).

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Em 1948, Elvis mudou-se com a família para Memphis, onde seu pai arranjou um emprego de caminhoneiro. Como não se preocupava muito com os estudos, Elvis contentava-se em garantir o mesmo emprego de seu pai, mas continuava a interessar-se por música.

No último ano escolar, o até então tímido Elvis Presley começou a chamar atenção. Ele levava o violão para a escola (chegou a ganhar um concurso de talentos) e adotou um estilo de cabelo diferente, mais comprido, além de usar roupas vistosas e multicoloridas. Foi quando conseguiu um emprego como chofer que percebeu a chance para uma reviravolta na sua vida:

Naquele verão, em seu novo emprego (...) para uma companhia de eletricidade, Elvis estacionou durante a hora do almoço diante do número 706 da Union Avenue, em Memphis. Pagou quatro dólares e saiu com o único exemplar do primeiro disco de Elvis Presley, um acetato de dez polegadas com uma canção em cada lado.” (MUGGIATI, 1985, p.30)

Este primeiro disco que gravou pela Sun Records não impressionou o dono da gravadora, Sam Phillips. Mas quando ele juntou-se ao guitarrista Scotty Moore e ao baixista Bill Black, uma brincadeira de estúdio chamou a atenção de Phillips, que os mandou continuar com a gravação. Essa brincadeira era a música That’s all Right (Mama), do bluesman negro Arthur “Big Boy” Crudup e virou o primeiro sucesso comercial de Elvis Presley. A partir daí iniciaram turnê pelos Estados Unidos.

A gravação de That’s all Righ (Mama) representou a “síntese da música blues e country que deu origem ao chamado ‘rockabilly’ (...) uma criação de Elvis Presley, que combinou o estilo vocal rouco e emocionado e a ênfase no ‘feeling’ rítmico do blues...” (Friedlander, 2002, p. 70) O guitarrista Scotty Moore também contribuiu para esse estilo, ao misturar o estilo country de tocar com a nota sustentada do blues.

O sucesso do rock’n’roll fez com que as grandes gravadoras procurassem novos artistas. A RCA, percebendo o efeito de Elvis nas platéias, pagou à Sun 35 mil dólares pelo último ano de seu contrato. Assim, Elvis Presley caiu nas mãos do “coronel” Tom Parker.

Como aponta Friedlander (2002), Elvis não era o mais talentoso instrumentista ou compositor, mas ele teve “o momento” e “a equipe”, o que fez toda a diferença. A brilhante capacidade de Tom Parker para divulgação e gerenciamento da carreira de Elvis foi essencial para sua transformação em “Rei do Rock”.

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Assim, seguiram-se centenas de discos, dezenas de filmes e longas turnês, embalados pela histeria das fãs que não resistiam à sensualidade de Elvis. Em 1956, ele gravou Heartbreak Hotel e I Want You, I Need You, I Love You. As duas músicas conquistaram o primeiro lugar das paradas de sucesso, sendo que no final deste ano, o domínio era literalmente seu. Don’t Be Cruel e Hound Dog formavam um compacto duplo que chegou ao primeiro lugar. Entretanto, gradativamente Elvis ia perdendo sua vida própria, sendo cada vez mais manipulado para fins comerciais.

No final dos anos 50, Elvis alistou-se no exército, quando teve seu cabelo – “um dos símbolos da masculinidade roqueira’ – cortado. “Impulsionado pela imagem de Elvis, ‘o patriota’, sua fama (...) aumentou, inclusive entre os adultos”. (id. p. 73)

Durante o período em que se alistou, Elvis perdeu a mãe, fato que muitos consideram nunca ter sido superado por ele. No início dos anos 60, enquanto o rock’n’roll seguia seu curso, Elvis resolveu gravar “baladas água com açúcar”, como It’s Now ou Never e Are You Lonesome Tonight?. Nesta época, ele não dominava mais as paradas, deixando até mesmo de apresentar-se em público e perdendo a postura de “roqueiro rebelde”.

Em 1968, Elvis volta aos palcos, mas estava exausto. A partir de 1970, seu comportamento autodestrutivo começou a preocupar alguns de seus amigos. Elvis havia engordado bastante (tinha que fazer dietas para apresentar-se em público) e estava usando tantas drogas, que chegou ao ponto de não conseguir levantar da cama em certos dias. O depoimento de um amigo constata que “seu corpo não funcionava mais como o de um ser humano normal. (...) Ele era uma farmácia ambulante”. (id. p. 75)

Essa fase também representou o isolamento de Elvis, que vivia fechado em sua mansão em Graceland. Em 16 de agosto de 1977, seu organismo esgotou-se, e ele morreu no banheiro de sua mansão, com pelo menos dez tipos de drogas circulando pelo seu corpo.

Até o final de sua carreira, Elvis Presley emplacou 107 canções de sucesso, o que representa um recorde – os Beatles ocupam o segundo lugar com a marca de 48 canções. Até hoje considerado por muitos o “Rei do Rock”, a importância de Elvis reside no fato de foi ele quem solidificou o rock como um estilo de música popular. Para a juventude de sua época, foi o representante da rebeldia, sexualidade e vitalidade.

A “Geração Beat”

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Em fins de 1950, o rock’n’roll já se apresentava como um produto inserido no sistema cultural. A postura de diversos setores da sociedade havia mudado em relação ao rock: se antes ele era maldito, condenado pelos setores mais conservadores, agora já fazia parte dos valores da sociedade em geral. Nessa época, o gênero sofreu um “esvaziamento”, provocado pela intensa comercialização dos discos de rock’n’roll e a divulgação de ritmos dançantes.

Essa ´comercialização´, esse abrandamento do fogo do rock, repercute entre os próprios artistas negros quando à prosperidade da Era de Eisenhower promove o aparecimento de uma classe média negra que se pretende ´respeitável´ e psicologicamente embranquecida. (MUGGIATI, 1973, p. 41)

Ao mesmo tempo em que o rock’n’roll se expandia, alguns músicos negros passaram a criar um tipo de música mais suave, até mesmo religiosa: “Era uma música sob medida para servir de pano de fundo sonoro à TV...”(id.)

Um dos presidentes dos Estados Unidos no final da década de 1950, Eisenhower foi um herói da Segunda Guerra; sob seu governo, o país era considerado o guardião da paz no mundo, apesar da entrada na Guerra do Vietnã. Esse acontecimento desencadeou muitas manifestações por parte dos jovens, que condenavam a guerra.

Por volta de 1960, um novo personagem surge no cenário do rock, movido pelo ideal de revolução e por forte sentimento político: Bob Dylan, o “apanhador nos campos de centeio”. Como compara Muggiati (1973), Dylan é a personificação de Holden Caulfield, o garoto desajustado do livro de J. D. Salinger – personagem considerado o ponto de ruptura no modelo juvenil americano da década de 50.

Paralelamente à música de Dylan, o movimento beatnik também movimentava a América, inclusive influenciando na composição das músicas e na postura dos jovens da época. A expressão beat, segundo Mugiatti (1985, p. 61), poderia representar “batida”, “ritmo” ou também “derrotado”, “cansado”, enquanto que nik relacionava-se a “esquerdismo”, “rebelião”. Jack Kerouac e Allen Ginsberg foram importantes representantes da estética beat.

A música de Dylan se encaixa em um novo “modelo” de rock que surgia no começo da década de 60: a canção de protesto. Junto com Joan Baez, uma cantora de ascendência mexicana, Dylan se tornou o porta-voz da juventude pela liberdade, contra a guerra do Vietnã e o preconceito racial. Em 1963, os dois estavam na Marcha dos Direitos Civis sobre Washington, ao lado do líder negro Martin Luther King.

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A música de Dylan e Baez era a chamada folk song. Ao som de violão, voz e gaita, eles se preocupavam com a poesia das letras; o importante, nesse caso, era a mensagem a ser transmitida. Uma das canções de Dylan de maior sucesso foi Blowin’ in the Wind; ele também publicou um livro de poemas, intitulado Tarantula, em 1966. Joan Baez teve uma de suas canções, Diamonds and Rust, regravada anos mais tarde por uma banda de heavy metal, Judas Priest.

No entanto, a influência de Bob Dylan (vaiado no Festival de Newport por se apresentar ao som de guitarra elétrica) e Joan Baez foi se dissolvendo a partir de 1965, como explica Chacon (1985):

...parece ter sido o ano da virada. O burburinho que vinha se formando no início da década, seja no sentido Rock, seja num sentido mais amplo, tomou contornos rápidos a partir daquele ano e tornou São Francisco a nova capital do mundo juvenil.

“DÁ LICENÇA, ME DEIXA BEIJAR O CÉU?”

Na década de 60, as roupas coloridas, cabelos compridos e o “flower power” tomaram conta da América, mais especificamente da Califórnia, com o movimento hippie. Movidos pelo slogan “paz e amor”, esses jovens que se entregaram à ideologia do pacifismo, do amor livre e das “viagens” de LSD representaram um movimento importante para a contracultura: “o movimento hippie vai construir suas comunidades em meio a um clima astrológico que previa (...)o advento de um novo mundo”(CHACON, 1985. p. 63). Eles esperavam pela “Era de Aquário” em meio à busca pelo prazer: “...não havia lugar para a injustiça social, a degradação da natureza e a opressão humana.”(MUGGIATI, 1985, p. 41)

Neste contexto, acontece o Festival de Monterey, em 1967, quando surge uma nova estrela que teria seu nome gravado na história do rock: Janis Joplin. Essa branca do Texas, que passou a adolescência ouvindo cantoras negras de blues como Bessie Smith e Billie Holliday, “aos 17 anos abandona a família para cantar em troca de bebida nos bares de beira de estrada, seguindo a trilha errante dos cantores de blues” (MUGGIATI, 1973, p. 45). A voz rouca de Janis e sua interpretação nos palcos a tornaram uma das cantoras mais sensuais de todos os tempos; uma de suas frases confirma essa característica, mas também demonstra a sua dor ao

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lidar com as pressões da carreira: “Faço amor no palco com 25 mil pessoas e depois vou para casa sozinha” (id., 1985, p. 13).

Outro importante artista que deixou seu nome marcado como um dos maiores guitarristas de rock foi Jimi Hendrix. Influência para muitos outros que vieram nas décadas seguintes, Hendrix inaugurou o virtuosismo nas canções de rock; o uso de tecnologia para a distorção de sons, apresentações de contorcionismos com a guitarra e o visual extravagante foram marcas registradas deste astro do rock.

Seu relacionamento quase sexual com a guitarra se assemelha à dança de acasalamento de uma espécie estranha, de uma raça interplanetária. Além das contorções corporais, Jimi joga com as distorções sonoras, arrancando notas incríveis da guitarra, envenenada por uma quantidade de novos recursos eletrônicos. (id., p. 17)

No início, Hendrix formou o The Jimi Hendrix Experience, mas sua carreira se consolidou realmente como artista solo, acompanhado, muitas vezes, por outros músicos. Uma de suas canções mais conhecidas, Hey Joe, conta a história de um marido que mata sua esposa; essa música, inclusive, foi regravada nos anos 90 por uma banda brasileira, O Rappa.

The Doors foi outro grupo que surgiu em 1967 e teve uma curta, porém marcante carreira. Jim Morrison, vocalista e líder da banda, mostrava grande sensualidade no palco. Um dos interesses de Morrison, que também havia estudado técnicas cinematográficas em Los Angeles, era o xamanismo, antiga religião asiática. No dicionário, xamã significa “sacerdote mágico, que entra em transe”, e essa descrição é adequada à postura de Jim Morrison. A música The end, do mesmo disco da clássica Light my Fire, foi incluída no filme Apocalipse Now, de Francis Ford Copolla.

Uma possível explicação para o nome The Doors a inspiração da banda no livro de Aldous Huxley, de 1954, The doors of perception, o qual se relacionava às sensações provocadas pelo uso de drogas. Como explica Muggiati (1973), artistas como Jim Morrison buscavam o efeito da sinestesia em suas canções – “o estímulo que atua sobre um canal sensorial parece evocar imagens de outro canal tão prontamente como se fossem sensações do mesmo ‘modo’”. Para isso, as drogas exerciam papel fundamental: “naqueles dias a vida ou corria muito rápida (como quando se rebobinava um filme) ou então tudo parava, no torpor das drogas (como em câmara lenta).” (id., 1985)

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Ainda houve muitos outros grupos que caracterizaram o rock de São Francisco, influenciado pela cultura dos hippies e, conseqüentemente, pelo psicodelismo. Entre eles, The Grateful Dead, Buffalo Springfield, The Byrds, The Mamas and Papas (autores da clássica California Dreamin’), Creedence Clearwater; mas um que merece destaque é o Jefferson Airplane.

Como explica Muggiati (1973), o grito de guerra do Jefferson Airplane, liderado pela vocalista e compositora Grace Slick, era Feed your head! (Alimente sua cabeça). Isso demonstra uma das características do rock desta época, que, além de ser chamado de acid rock (rock-ácido), também ficou conhecido como head-music (música de “cuca”, ou de “curtição”).

Entretanto, em 1970, as mortes de importantes representantes do acid rock abalaram a ligação entre a música e as drogas: Jimi Hendrix é sufocado com seu próprio vômito, depois de uma intoxicação de barbitúricos e Janis Joplin é encontrada em seu quarto, vítima de overdose de heroína. No ano seguinte, Jim Morrison morre devido a uma parada cardíaca. Os três formaram a chamada “Santíssima Trindade Trágica do Rock”, como compara Muggiati, e marcam uma época de transição - a partir de 1970, o rock sofre uma nova mutação.

A Invasão Inglesa

Antes da história continuar na América, é preciso se deslocar para a Inglaterra. Desde o início da década de 1960 o país apresentava uma movimentação no cenário do rock, bandas se apresentando nos pubs (bares) londrinos. Neste contexto, os jovens protestavam contra a corrida nuclear e o passado histórico do país justificava as manifestações desta geração: “...os ingleses tinham a II Guerra, o colonialismo, o espírito vitoriano e outras imagens e culpas da História que pareciam alimentar muito mais a produtividade musical...” (CHACON, 1985, p. 30) Musicalmente, era comum entre os artistas britânicos a referência ao skiffle, um ritmo de percussão baseado nos sons de instrumentos improvisados.

Assim como na América o consumo foi supervalorizado no início da história do rock’n’roll, este também o foi na Inglaterra a partir de 1960 e mais uma vez o cinema procurou retratar esses valores. Nesta época foram produzidos os filmes da série James Bond, em que o personagem é um espião perseguindo seus objetivos a qualquer custo.

A classe que ascendeu na Inglaterra foi a operária, que finalmente, sob a influência do blues, deu os primeiros passos para o surgimento de importantes grupos de rock. Inclusive, uma cidade operária – Liverpool - foi o berço de uma das principais bandas da história do rock – e talvez a principal: The Beatles.

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O Submarino Amarelo

No início de 1956, John Lennon formou o conjunto The Quarrymen, que nada mais era do que uma reunião informa de amigos. O grupo se estabilizaria em 1960, com Paul McCartney e George Harrison como guitarristas, Stu Sutcliffe no baixo e o baterista Pete Best.

Neste mesmo ano, The Quarrymen deixa de existir; em seu lugar, surge uma “banda profissional de rock’n’roll’, os Beatles. O nome foi uma combinação da palavra beetle (besouro) com uma expressão comum à época para o rock: música beat. A referência aos insetos foi uma homenagem ao grupo de Buddy Holly, chamado Crickets (grilos).

Em 1962, os Beatles foram tocar em Hamburgo, Alemanha, quando encontraram o baterista Ringo Starr, que tocava com os Hurricanes. Pouco tempo depois, ele substituiria Pete Best.

Finalmente em agosto deste mesmo ano, o grupo entraria nos estúdios de Abbey Road para a gravação do primeiro compacto da banda, com as músicas P.S. I Love You e Love me Do. Nesta época, Stu Sutcliffe havia deixado os Beatles e Paul tomou a posição de baixista do grupo.

Com o segundo single, Please Please Me, os Beatles alcançaram o topo das paradas britânicas. A esta altura, Brian Epstein já era o empresário da banda; sua disposição e talento em vender a imagem do grupo o transformaram no “quinto beatle”.

Em 1963, apenas um ano depois do primeiro lançamento dos Beattles, a Beatlemania eclodiu na Inglaterra. Brian Epstein e o produtor George Martin, da EMI, decidem partir com a banda para os Estados Unidos, cientes da popularidade do grupo. Em 1964, os Beatles conquistam a América com I Want to Hold Your Hand. A apresentação da banda no programa de televisão de Ed Sullivan – o mesmo que tinha lançado Elvis Presley – foi a alavanca para que a mídia norte-americana passasse a publicar matérias sobre os “Fab Four” (como eram conhecidos).

Ainda neste mesmo ano, os Beatles lançam seu primeiro filme, A Hard Day’s Night, em que representam a banda sendo perseguida por uma legião de fãs fanáticas. A trilha sonora do filme trouxe canções como Can’t Buy me Love e a romântica And I Love Her – a primeira de uma série de baladas de Paul McCartney.

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Durante os shows dos Beatles, quase não se ouvia suas músicas, devido à quantidade de garotas que gritavam histericamente pelos músicos. A partir de 1965, o grupo passou a se preocupar mais com as composições, deixando o amor romântico de lado e empenhando-se em explorar outros temas. O disco Rubber Soul, lançado neste mesmo ano, marca o amadurecimento da banda, visível na crítica social de Nowhere Man ou nas referências abstratas de Norwegian Wood, entre outras composições deste disco.

O ano de 1966 marca a primeira experiência dos Beatles com o LSD (até então, a maconha era a droga mais consumida). Revolver, lançado neste ano, confirmou a mudança de direção que apenas havia sido esboçada no álbum anterior. George Harrison aparece como um compositor importante, colocando suas referências à música indiana, como o som de cítara em Love to You. Neste disco, a dupla de compositores Lennon-McCartney praticamente se desfez, na medida em que o vocalista geralmente era o autor da canção que interpretava.

Junto com a mudança de rumo da banda, também veio a decisão de parar com as turnês. Com mais tempo livre, cada beatle resolveu se isolar por um tempo. Nesse meio tempo, John Lennon conheceu a artista plástica Yoko Ono, George Harrison viajou Índia, Paul McCartney voltou a estudar artes e Ringo Starr saiu de férias.

Em 1967, eles se reuniram novamente para a produção do álbum que mudaria definitivamente os padrões do rock’n’roll: o experimental Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

Apropriadamente chamado de cabaré alucinatório (...) o álbum dá a idéia de um concerto o vivo – o barulho de público e a faixa título introdutória são seguidas pelo resto das canções, por um refrão final de Sgt. Peppers, e o bis, ou epílogo, A Day in the Life. (FRIEDLANDER, 2002, p. 135)

Na verdade, este álbum foi concebido como a materialização de uma fantasia dos quatro integrantes da banda, que introduziram elementos artísticos inovadores em cada uma das canções. Ele foi composto como uma colagem, em que o trabalho do produtor George Martin foi fundamental para tornar possível as experimentações sonoras pretendidas pelos Beatles. Na música A Day in the Life, por exemplo,a banda quis introduzir no final uma nota audível somente pelos cachorros; realmente, fica a impressão de um espaço “vazio” quando se escuta esta música. A capa de Sgt Pepper’s também demonstra o experimentalismo pretendido pelo grupo; personagens admirados pelos Beatles, como Karl Marx, Jung, o Gordo e o Magro, William S. Burroughs, Aldous Huxley, amigos como Dylan, Sutcliffe e os Rolling Stones, povoam a colagem de um retrato acima de um jardim de maconha (imperceptível aos executivos da gravadora).

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Em agosto de 1967, os Beatles são atraídos pela meditação transcedental do guru indiano Maharishi Mahesh Yogi. Enquanto eles buscavam por uma regeneração espiritual, recebem a notícia de que Brian Epstein havia morrido, por excesso de remédios para dormir –esse fato foi como um presságio para a dissolução da banda poucos anos depois.

Com a perda de Brian Epstein – e influenciados pelos conselhos do Maharishi - os Beatles passaram a se preocupar com os negócios da banda pessoalmente. Com uma idéia de Paul, decidem lançar o filme The Magical Mistery Tour, sobre uma viagem psicodélica em um ônibus. No entanto, nem o filme, nem a trilha sonora tiveram sucesso; muitos críticos consideraram a empreitada uma “bomba promocional”. Alguns dos poucos números bem recebidos pela crítica foram I am the Walrus, Fool on the Hill e a canção título.

Em 1968, os Beatles se encontram novamente com o Maharishi; eles partem com uma comitiva para a Índia, mas não ficam por muito tempo. O interesse do guru indiano por autopromoção logo veio à tona, e os Beatles compuseram a canção Sexy Sadie, em alusão a essa decepção: “’Sexie Sadie, what have you done/You made a fool of everyone’ (Sexie Sadie, o que você fez/você fez todo mundo de idiota)”. (id., p. 138)

De volta para a Inglaterra, a banda resolveu se dedicar à expansão dos negócios da Apple, a empresa que haviam fundado em 1967 para cuidar do marketing dos Beatles. O primeiro projeto desta companhia foi um desenho animado baseado em uma composição de 1966, Yellow Submarine; o resultado se mostrou uma “festa colorida para olhos e ouvidos”.

Em novembro deste ano, o primeiro disco da Apple foi lançado; as trinta canções do White Album, como ficou conhecido, foram acomodadas em um álbum duplo. Depois do desastre de Magical Mistery Tour, este lançamento representou o melhor momento dos Beatles após a morte de Epstein. Helter Skelter, While my Guitar Gently Weeps, Ob-La-Di,Ob-La-Da, Blackbird e Piggies, entre outras, são algumas das canções deste disco, marcado por diversidades estilísticas. No entanto, apesar deste bom momento musical, internamente as coisas não andavam muito bem.

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Cada vez mais os integrantes dos Beatles se afastavam um dos outros, dedicando-se mais aos seus projetos individuais. Assim, após o lançamento de White Album, a tentativa de realizar um projeto grandioso para o ano de 1969 – batizado de Get Back - não deu certo. O projeto começou em janeiro, mas as gravações foram abandonadas no dia 30, quando os Beatles promoveram um show no telhado prédio da Apple. - a última apresentação dos Beatles. O compacto Get Back/Don’t Let Me Down, com os resquícios da gravação, foi lançado em abril deste ano, para agradar aos fãs.

O casamento de Lennon com Yoko Ono e MacCartney com a fotógrafa Linda Eastma, em março de 1969, foi sintomático do individualismo que se instaurou entre os membros da banda, já que refletia o desejo de cada um por interesses pessoais. Mesmo em meio a esse “clima de separação”, Abbey Road é lançado pela EMI, constituindo um fenômeno de vendas.

Quando Abbey Road chegou às lojas, os Beatles já não eram uma banda; cada integrante estava mais envolvido com seus projetos solo e haviam rejeitado a proposta de uma turnê norte-americana. Como a banda ainda precisava cumprir seu contrato com a EMI, algumas canções do antigo projeto Get Back foram transformadas no disco Let it Be, que nem sequer foi produzido por George Martin. Este disco continha apenas dez músicas e representou o “amargo” fim dos Beatles, que foi anunciado oficialmente em 1970.

Pedras que Rolam

Entretanto, não só do sucesso dos Beatles vivia a Inglaterra. Rolling Stones e The Who são exemplos de grupos que surgiram na década de 60 e que marcaram o rock em muitos sentidos.

O verso de uma canção de blues de Muddy Waters – rolling stones gather no moss (pedras que rolam não criam musgo) - dá o nome ao conjunto fundado pelo guitarrista Brian Jones. O vocalista, Mick Jagger, torna-se o líder da banda após a saída de Jones. A influência negra é uma das marcas do grupo, além da sensualidade e uma certa androginia, características da performance de Jagger.

O repertório dos Rolling Stones é um verdadeiro ‘erotikon’ e, se o grande tema de suas canções é a alienação, o assunto certamente é sexo. Não foi por acaso que um de seus maiores sucessos, a música que marcou seu estilo, se chamou ‘(I can´t get no) Satisfaction’, comentário cáustico sobre a impotência do homem moderno. Nos concertos, Mick Jagger costuma rebolar

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com a malícia de um travesti e manipula o microfone fálico com mil insinuações. (MUGGIATI, 1973, p. 94)

Em 1968, os Stones exploram o engajamento político na música Street Fighting Man, influenciados pelas manifestações políticas de massa que emergiam. A música, composta por Mick Jagger e Keith Richards, torna-se hino dos revolucionários e é censurada pela polícia de Chicago.

Diz a canção...: ‘Everywhere I hear the sound of marching, charging feet, boy/Comes summer here and the time is right for fighting in the streets, boy’. – ‘Por toda parte ouço o som de pés marchando, atacando, boy/O verão chegou e a hora é de lutar nas ruas, boy’. (...) E, no final, a canção dos Stones também tende para a solução individual em detrimento da política: ‘But what can a poor boy do/Except sing in a rock´n´roll band/Guess in sleepy London town there´s just no place for a street fighting man’. – ‘Mas que pode um garoto pobre fazer/Exceto cantar num grupo de rock’n’roll?/Pois na sonolenta cidade de Londres, não há lugar para um homem de briga-de-rua.’ (id., p. 25)

A música dos Stones é da mesma época de Revolution, dos Beatles. Esta última também foi composta a partir do contexto político-social de 1968, marcado principalmente pelas manifestações de maio deste mesmo ano. Os críticos passam a analisar Revolution e Street Fighting Man e a compará-las, sendo que consideram a primeira como uma “contra-revolução” e a segunda como a “verdadeira revolução”. Mas, tanto as últimas estrofes da música dos Stones quanto uma declaração de Jagger – “Eles devem pensar que ‘Street Fighting Man’ é capaz de promover uma revolução...Eu bem que gostaria que isso fosse verdade” (id.) – demonstram que a idéia dos críticos se baseia em suposições.

Outro grupo inglês desta época que merece destaque é o The Who. A banda torna-se um exemplo claro da busca pela sinestesia e a sensualidade nas músicas. Esses dois aspectos são visíveis na ópera-rock Tommy, composta pelo guitarrista Peter Towshend. A música conta a história de um menino que nasceu cego, surdo e mudo – imagem alusiva à repressão social dos indivíduos. Os pais do garoto o levam a médicos e até a milagreiros, até que um dia ele passa por uma experiência psicodélica e tem seus sentidos liberados. Já foram realizadas várias encenações para a apresentação da história de Tommy.

O refrão cantado por Roger Daltry em tom de súplica, ‘See me, feel me, touch me, heal me’ é um apelo em favor da abertura das percepções, do descondicionamento, da libertação dos sentidos. Nota-se na frase uma superposição dos diversos ‘modos’ sensoriais.” (MUGGIATI, 1973, p. 95)

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A performance do The Who foi o ponto que mais caracterizou o grupo inglês, um dos primeiros a destruir instrumentos no palco (não se esquecendo dos rituais de Hendrix com a guitarra). Este costume, que se tornou comum em muitas bandas de rock que despontariam anos depois, tem explicações antropológicas. Segundo estudiosos das manifestações culturais de antigas tribos, a raiz desta atitude dos artistas de rock está no potlatch.

O potlatch é uma prática das sociedades primitivas que consiste na troca ou destruição de bens pelos chefes do clã ou da tribo. O líder afirma com esse gesto sua independência, mostrando maior capacidade de retribuir do que de receber. (...) desafia assim os chefes de outras tribos a negarem, como ele, a riqueza, recolhendo desse ato de aparente autodestruição um prestígio político imenso, e reforçando sua imagem junto aos seus. (MUGGIATI, 1985, p. 100)

A destruição nos palcos era aceita pelo público, o que caracteriza uma nova forma de comunicação entre a banda e a platéia de seus shows. O grupo inglês passou a infundir uma nova atitude para o rock, que o tornou mais pesado e sofisticado – o que se convencionou chamar hard rock.

Sob esse novo contexto, registra-se o surgimento de guitarristas herdeiros do virtuosismo de Hendrix, como por exemplo Eric Clapton e Jimmy Page, ambos fortemente influenciado pelo blues.

Em fins de 1960, Clapton ingressou no Cream. Como o próprio nome indica (“creme”), a preocupação era com a elaboração instrumental, ou seja, muitas melodias e solos de guitarra bem trabalhados; o grupo alcançava os níveis sonoros de uma orquestra apenas com o som de estúdio. O Cream teve grande repercussão, sendo que em 1968, o LP Disraeli Gears era o mais vendido nos Estados Unidos.

Jimmy Page tocou incialmente com The Kinks e Joe Cocker. A convite de seu amigo, o também guitarrista Jeff Beck, integra o Yeardbirds (que posteriormente se transformaria no Led Zeppelin, nos anos 70). Essa banda caracterizou-se pela presença de grandes guitarristas (Eric Clapton também havia tocado neste grupo). Page influenciou muitos guitarristas que surgiram nas décadas seguintes e também se utilizava das escalas de blues para compor músicas de rock.

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Ainda antes da virada 1960/1970 se firmar como a época de novas revoluções musicais, acontece a sagração da contracultura: o festival de Woodstock, entre os dias 15 e 17 de agosto de 1969. Após os acontecimentos políticos de 1968, o festival representou a convergência cultural do movimento hippie. Em um grande campo aberto em White Lake, New York, cerca de 500 mil pessoas viveram três dias de “paz e música”, embaladas pelo som dos maiores artistas de rock da época.

O ingresso para um dia de Woodstock custava 7 dólares, mas a maioria do público quebrou as cercas e entrou sem pagar nada. Joan Baez, Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Who, Grateful Dead, Joe Cocker, Jefferson Airplane, Iron Butterfly, Creedence Clearwater, entre outros, se apresentaram a uma multidão que aguardava o sonho hippie ser concretizado. Na realidade, os que vivenciaram os três dias de festival, “saíram de lá sentindo-se ungidos de santidade, como seres privilegiados de outro planeta, superior”(MUGGIATI, 1985, p.45). O evento foi documentado em um filme de mais de três horas de duração, dirigido por Michael Wadleigh

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“O SONHO ACABOU”

Apesar de Woodstock representar a confirmação da ideologia hippie, quando a imprensa finalmente passou a se interessar pela contracultura, o ano de 1969 marca o fim da era em que se anunciava essa “sociedade utópica”. Os assassinatos da atriz Sharon Tate (mulher do diretor de cinema Roman Polanski) e do casal Labianca, cometidos por hippies fanáticos, seguidores da seita liderada por Charles Manson, abalaram o mundo e ajudaram a exterminar o movimento hippie nos Estados Unidos. ”Misturando Bíblia e Beatles em sua imaginação distorcida, Manson lhe dava uma interpretação altamente pessoal, em que se via como o agente de um novo Apocalipse.” (MUGGIATI, 1985, p. 49)

Tanto na casa de Sharon Tate quanto na casa dos Labianca, foram encontradas inscrições a sangue nas paredes. No último caso, as palavras PIGS e HELTER SKELTER foram escritas com o sangue das vítimas na porta da geladeira. As palavras são alusões a duas canções dos Beatles: Piggies e Helter Skelter.

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Além do caso Tate-Labianca, o ex-guitarrista do Rolling Stones, Brian Jones, morre em 1968; o acontecimento antecipou a perda da tríade Janis-Hendrix-Morrison, já citada. Esses fatos resultaram em um grande desfalque para a música, tornando o fim da década de 1960 uma sucessão de acontecimentos tristes para o rock.

O Festival de Altamont, que aconteceu em uma pista de corridas desativada a uns 60 quilômetros de São Francisco, vem engrossar a lista de tragédias da época. Trezentas mil pessoas, que esperavam para ver, entre outros, Rolling Stones e Jefferson Airplane, depararam-se com a falta de organização do festival, programado de última hora. Muita sujeira, drogas, doenças e quatro mortes foram os resultados de Altamont. O documentário da turnê americana dos Stones, Gimme Shelter, mostra a cena de um jovem negro que puxou um revólver e foi esfaqueado por membros do “Hell Angels” – os seguranças improvisados do evento.

Manson e Altamont atingiam em cheio as duas maiores entidades do rock, os Beatles e os Rolling Stones, e mostravam como a música podia ser perigosa e desencadear forças negativas e violentas entre um público imaturo e dominado por impulsos de destruição. Assim, o mundo e a contracultura ingressaram na feia realidade de 1970. (MUGGIATI, 1985, p. 50-52)

A década que se iniciava mostrava-se caracterizada por um forte individualismo, contrastando com o engajamento político e o sonho da comunidade alternativa, pregado pelos hippies. Como se não bastassem todas as mortes que ocorreram nesta época, também registrou-se o fim dos Beatles, em 1970.

Em fins de 1960, houve a confluência de várias novas tendências do rock, normalmente caracterizadas pela preocupação com a elaboração sonora das canções. "O ano de 1967 é marcado no 'rock' por uma verdadeira revolução conceitual, onde o vulgar é soterrado por um 'status' equivalente a qualquer revolução de outrora (...)o fato foi que o rock intelectualizou-se" (MONTANARI, 1988, p. 66).

O Rock como Forma de Arte

Um dos rótulos que surgiu ainda antes da virada da década de 70 foi o rock progressivo, fortemente influenciado pela música clássica e pelas inovações tecnológicas. O grupo de maior destaque nesta categoria é o inglês Pink Floyd, mas antes deles, o Alan Parsons Project apresentava uma nova proposta de rock, em que veiculavam pelo rádio os Contos de Mistério

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e Imaginação, de Edgar Allan Poe. O King Crimson também inovou neste sentido, ao lançar álbuns conceituais como In the Court of King Crimson e In the Wake of Poseidon.

Outro grupo que também contribuiu para o desenvolvimento do progressivo e deu o primeiro passo para a mistura entre o rock e a música erudita foi o Moody Blues. Em 1968, esta banda gravou com a Orquestra Sinfônica de Londres, inaugurando a composição de “poemas orquestrais”, em que se destacava o “forte clima descritivo das canções”.

A música erudita, nesta época, teve importância fundamental para as composições de rock. Muitos músicos se utilizavam da influência de compositores como Bach ou Mozart para a elaboração de canções, expandindo as fronteiras musicais. Rick Wakeman, do Yes, possuía formação em música clássica e a utilizou nas suas canções de rock.

Da junção do nome de dois bluesmen americanos, Pink Anderson e Floyd Council, surgiu na Inglaterra o grupo que se transformou em um ícone para o rock como forma de arte; o Pink Floyd se caracterizava pela preocupação com os efeitos especiais das apresentações ao vivo como complementação para sua música. Vários clássicos foram lançados pela banda, como The Dark Side of the Moon (1973) e The Wall (1979); este último rendeu também um filme homônimo, de 1984.

Outra conquista do Pink Floyd foi superar a barreira entre os sons perfeitos fabricados em condições ideais no estúdio e a música forçosamente problemática das apresentações ao vivo. Eles conseguiram isso completando seus espetáculos com efeitos visuais que realçassem o clima de sua música e, evidentemente, ampliando também a formação costumeira do grupo, um quarteto. (MUGGIATI, 1985, p. 62-63)

Uma das contribuições do progressivo foi a composição de “poemas tonais” para o rock, em climas sombrios, de pesadelo. Essa caracterização mais intimista para as canções contrastava com o clima de celebração do rock dos anos 60 (psicodelia). Outras bandas, como Genesis e Jethro Tull surgiram nesta época, inserindo-se no contexto das experimentações sonoras.

...o Rock parecia dominado pelo seu lado intelectual, pelo progressivo, pelo acadêmico, pelo auditivo. Não se deixara de dançar, mas sentar diante do aparelho de som e ESCUTAR tornara-se algo tão comum que o percentual de rockeiros dançantes diminuíra se comparado com o da época do rock’n’roll. (CHACON, 1985, p. 44)

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Nos Estados Unidos, 1967 foi o ano de um compositor que ampliou o cenário do rock : "um músico anarquista resolve desvencilhar suas farpas contra a mediocridade da vida consumista norte-americana. O nome dele é Frank Zappa...(MONTANARI, 1988, p. 66). As influências de Zappa iam desde a música eletrônica à erudita, o que era verificável nas fusões que realizava em suas músicas: "Zappa sacode o 'stablishment', ganhando rapidamente o rótulo de 'maldito'" (id.). As experimentações de Frank Zappa eram baseadas no uso de ruídos, técnicas de colagem, percussão; ao contrário dos músicos de rock que se iniciavam pelos blues, ele freqüentava aulas de música contemporânea.

Mas ainda havia muito mais para acontecer nos anos 70, que muitos, erroneamente, caracterizam como a “década em que nada aconteceu”. Outra vertente que modificou a sonoridade do rock foi o heavy-rock. Como argumenta Chacon (id., p. 39-40):

Na primeira vez que alguém distorceu uma guitarra inaugurou uma outra variante do Rock que representaria sua imagem esteriotipada aos frágeis ouvidos do não-iniciado: o heavy-rock (Rock pesado), ou rock-pauleira, como é mais conhecido, quebrava com as seqüências do Rock-tipo-Beatles e atendia a um mercado mais feroz e ansioso por um batida mais violenta...

O som das bandas de heavy metal existe para ser consumido, preferencialmente, nas apresentações ao vivo. As bandas se preocupam em tocar muito alto, o que já contribuiu para especulações de que o metal faria mal aos ouvidos; no entanto, isso não foi comprovado. O caso da surdez de Brian Wilson, dos Beach Boys, é um exemplo claro desta controvérsia, visto que o som da banda é relativamente calmo perto da sonoridade do metal. Vocais estridentes (ou guturais), preocupação com o visual da banda e performances ousadas nas apresentações ao vivo são outros aspectos do heavy metal.

Jimi Hendrix e o Cream foram grandes inspiradores para este sub-gênero do rock. Muggiati (1985, p. 89) explica que o heavy-rock foi um subproduto do acid rock, na medida que provocava no ouvinte uma “intoxicação sonora”. Por sua vez, o Iron Butterfly (“borboleta de ferro”) foi um grupo que influenciou a denominação das bandas de heavy metal, devido à referência “metálica” em seu nome.

Um importante crítico de rock, Lester Bangs (ex-editor da revista Cream) retirou o termo “heavy metal” de um romance de William Burroughs e o associou ao rock depois desta expressão ser incluída em uma música do Steppenwolf. Esta música, Born to be wild, remete ao som de um “trovão de metal pesado” e faz parte da trilha sonora do filme Easy Rider (Sem Destino), de 1969, que contribuiu para a disseminação do rock pesado.

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Além desta versão, existe uma outra, em que o termo “heavy metal” surgiu quando uma grande fábrica explodiu no mesmo dia de uma apresentação do Led Zeppelin.

Bandas inglesas como Black Sabbath e Deep Purple se firmaram como importantes representantes do heavy metal no início dos anos setenta. A primeira recebeu esta denominação derivada da influência “satanista” para os nomes das bandas de heavy metal. Outras que despontariam anos depois também se incluiriam nesta vertente, em que composições e visual sombrios são comuns.

A influência do Black Sabbath e do Deep Purple foi marcante para as décadas posteriores; muitas compilações e tributos às duas bandas foram lançados, mas o Purple continua em atividade, mesmo depois de muitas mudanças em sua formação original. O guitarrista Richie Blackmore, um dos fundadores do Deep Purple, (e atualmente em carreira-solo) foi um dos pioneiros na influência da música erudita nas canções de rock pesado - tradição que ser firmaria anos depois com grupos de heavy metal dos anos oitenta e noventa.

O Black Sabbath trouxe as primeiras imagens de “morte, demônios e ocultismo” às canções de rock, além de lançar vocalistas importantes, como Ozzy Osborne e Ronnie James Dio. Este último, que havia sido anteriormente vocalista do Elf (banda com inspiração no blues), depois ingressou no Rainbow, grupo de Richie Blackmore após a saída do Deep Purple. Inicialmente conhecido como Richie Blackmore’s Rainbow, este grupo com tendências ao hard rock lançou em 1976 um disco que se tornou clássico: Rainbow Rising. Considerado um dos maiores vocalista de metal, atualmente Dio se dedica à própria banda, firmando uma carreira pós-Sabbath bem sucedida.

Ozzy cantou com o Black Sabbath na primeira fase da banda; é da sua época clássicos como Iron Man e a homônima e sombria Black Sabbath. Após sair do Sabbath, em 1978, também se lançou com sua própria banda, continuando em atividade até hoje. A vida de Ozzy freqüentemente foi associada a histórias surpreendentes:

Célebre pelas imagens de mutilação de animais durante seus shows, Osbourne, como reza a lenda, teria tomado dolorosas injeções anti-rábicas depois de ter arrancado, com os dentes, a cabeça de um morcego jogado pela platéia. (FRIEDLANDER, 2002, p. 381)

Um grupo do final dos anos sessenta e que se destacou durante a década de 70 foi o Grun Funk Railroad. A inspiração para o nome da banda surgiu de um trocadilho com o nome de uma estrada de ferro chamada Grand Trunk and Western Railroad.

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Essa banda de Detroit não recebeu muito prestígio entre os críticos, mas agradou ao público. O Grun Funk abriu vários shows para o Led Zeppelin, em muitos casos, roubando a atenção da platéia. Entre os temas de suas músicas, sexo, política, religião e ecologia estavam entre os mais comuns. A inovação de suas músicas ficava por conta da utilização de instrumentos pouco comuns em grupos de rock, como violão, piano, alguns tipos de percussão e orquestra.

O grupo que realmente comandou as transformações na sonoridade do rock para essa época foi o Led Zeppelin. Em uma fusão do blues com o hard rock, construíram sua carreira como os maiores representantes do trinômio “sexo, drogas e rock’n’roll” nos anos 70.

Uma “Escada para o Céu”

O Led Zeppelin começa quando os Yeardbirds se desintegram. Em 1967, o guitarrista Jimmy Page foi deixado por seus companheiros com uma agenda de shows para cumprir e dívidas para pagar. Com a finalidade de resolver esse problema, Page sai à procura de integrantes para uma nova banda, os New Yeardbirds.

O primeiro a integrar o novo grupo é o baixista John Paul Jones, que mostra a Page uma matéria de jornal sobre Robert Plant – vocalista de uma banda chamada Hobbstweedle. A mesma dica foi dada pelo cantor Terry Reid, que anteriormente havia sido cogitado para a vaga. Page e Jones foram assistir a uma apresentação do Hobbstweedle e ficaram tomados pela presença de palco e pela voz de Robert Plant. Ele passou a integrar o New Yeardbirds em agosto de 1968. O baterista John Bonham foi o último a entrar para o grupo, a convite de Plant.

Após concluir a formação da banda, o New Yeardbirds saiu em turnê para cumprir a agenda do antigo grupo. Com o fim das apresentações, ainda neste mesmo ano gravaram um disco que recebeu o novo nome da banda: Led Zeppelin. Segundo o jornalista Sérgio Martins (Bizz, 1999), a denominação veio de Jimmy Page, que se lembrou de uma citação de Keith Moon (baterista do The Who) sobre a viagem em um “zeppelim de chumbo”.

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Sob contrato com a Atlantic Records, o Led Zeppelin iniciou uma turnê pelos Estados Unidos, um dia depois do Natal de 1968. Essa idéia partiu do empresário Peter Grant, também chamado de “o quinto zeppelin”.

Nos Estados Unidos, o Led Zeppelin conseguiu a popularidade que o seu primeiro disco não alcançou no Reino Unido. A onda de psicodelia ainda tomava conta do cenário do rock, e a sonoridade pesada da banda chamou a atenção do público rockeiro – que aprovaram a influência blueseira e os uivos do vocalista da banda. Canções como Good Times Bad Times e Communication Breakdown são composições deste primeiro disco.

Led Zeppelin II é lançado em 1969, alcançando o primeiro lugar nas paradas americanas. Thank You, canção de Plant para sua mulher na época, Maureen, o clássico do rock pauleira, Whola Lotta Love e Moby Dick, são destaques desse álbum.

Após o lançamento do segundo disco, o Led Zeppelin decide sair em turnê pelo Reino Unido, agora com sua carreira consolidada pelo sucesso nos Estados Unidos. Esse disco rendeu ao grupo o título de “melhor banda da Inglaterra” pela Melody Maker. O sucesso do Led Zeppelin provocou sua ascensão como legítimos de “rock stars”; as groupies (fãs fanáticas) disputavam a atenção dos músicos da banda e os negócios iam bem. O interesse de Jimmy Page pelo ocultismo, assim como seu vício em heroína, já eram conhecidos.

No entanto, antes da produção de Led Zeppelin III, os integrantes da banda encontraram-se cansados e resolveram se isolar para compor. Canções como Tangerine e Since I’ve benn Loving You são algumas das que estão neste disco.

Em 1973, o Led Zeppelin lança um álbum sem título e que passaria a ficar conhecido como “Quatro Símbolos’, entre outras denominações. Essa referência deve-se aos símbolos impressos na contracapa do álbum, relacionados a cada integrante da banda. Esse disco foi o de maior vendagem para o Led Zeppelin, rendendo mais de 16 milhões de cópias nos últimos 25 anos. A canção mais popular do grupo, Stairway to Heaven, faz parte deste álbum. Sobre essa música, Friedlander (2002, p. 339) comenta:

Page e Plant dividiram a música em dois níveis dinâmicos(...). El começava suavemente com a introdução do violão de Page e um longa citação de versos, aumentando gradualmente até explodirem em um rock completo (...) A letra obscura, cantada com a voz de um trovador

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piedoso, refletia o interesse de Page pelo folclore britânico e celta e seguia a busca de uma mítica dama por sua “escada para o céu ou nirvana espiritual’.

Em 1973, o grupo lança Houses of the Holy, marcado por canções funk e reggae (como em D’yer M’aker). Este álbum recebeu o primeiro lugar nas paradas do Estados Unidos e Inglaterra ao mesmo tempo. Entretanto, as apresentações do grupo são comprometidas depois do acidente de carro sofrido por Robert Plant. Assim, eles lançam o documentário The Song Remains the Same (1976), que mistura cenas do dia-a-dia dos integrantes com um show no Madison Square Garden.

Durante a turnê deste álbum, após a recuperação do acidente de Plant, seu filho, Karac, morre de um vírus desconhecido. Assim, a banda faz outra pausa e volta em 1979, com In Through the Outdoor, com a canção All my Love dedicada ao filho do vocalista. Um ano após esse lançamento, acontece a última turnê européia do Led Zeppelin; enquanto os integrantes da banda se preparavam para viajar aos Estados Unidos, John Bonham bebe além da conta e não consegue ensaiar.

No dia seguinte à embriaguez de Bonham, o baterista é encontrado morto, sufocado em seu próprio vômito (assim como aconteceu com Hendrix). Em dezembro desse mesmo ano, os integrantes remanescentes anunciam que sem Bonham, é impossível continuar com o Led Zeppelin.

O trovão setentista do Led Zeppelin quebrou as fronteiras do rock em sua época, estendendo sua influência para grupos que surgiram posteriormente: Aerosmith, Guns’n’Roses e Rage Against the Machine são alguns exemplos.

O Rock de “Plumas e Paetês”

Em meados de 1970, o heavy metal continuou a se expandir, inaugurando os anos 80 com uma profusão de bandas importantes para este sub-gênero do rock. Mas antes de se apresentar o cenário metal dos anos oitenta, é preciso destacar outras vertentes do rock que se desenvolveram ainda na década de 70.

Um movimento paralelo ao metal, muitas vezes mesclando-se a ele, e que marcou o início desta década foi o glitter rock, também conhecido como glam rock. Som pesado, muito brilho nas roupas e visual andrógino eram as características principais de grupos como T-Rex, Kiss e

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artistas como David Bowie e Alice Cooper. Este último, comumente chamado de “tia Alice”, foi o desencadeador da androginia no rock, antes esboçada por Mick Jagger e também seguida por Marc Bolan, do T-Rex.

Em outras palavras, algo como um rock de plumas e paetês em que os músicos apareciam fortemente maquilados ou até mesmo travestidos. Em Alice Cooper, o lado sexual era mais um recurso para agredir o público, pois Alice (nascido Vincent Furnier, filho de pastor) era ‘cria’ de Frank Zappa, o pai espiritual dos freaks de todo o mundo ... (MUGGIATI, 1985, p. 67-68)

Apesar de não se encaixarem especificamente neste gênero, os grupos ingleses Queen e Judas Priest, formados em 1970, eram adeptos do visual extravagante, aliando-o a uma pesada sonoridade.

Liderado por Fred Mercury, o Queen utilizava experimentações vocais e instrumentais em suas composições. A clássica Bohemian Raphsody é mais um exemplo da influência da música erudita no heavy metal, verificado na introdução e nas vocalizações desta música.

Bohemian Rhapsody foi lançada em 1975. Uma verdadeira ópera rock, no sentido mais literal das palavras. Taxada de experimentalista pela gravadora uma música como aquela dificilmente chegaria a ser um hit. Mais do que isso, porém, Bohemian Rhapsody se tornou no maior clássico da banda e seu primeiro single a chegar ao número 1. (WHIPLASH, dez/2002)

Esta era a época dos grandes concertos de rock e o Queen não fugia à regra; Fred Mercury desempenhava seu papel de frontman de maneira eficiente, devido ao seu carisma com o público. A partir de 1980, a banda acrescenta instrumentos eletrônicos e começa a se influenciar pela dance music, que se tornaria uma febre nesta década. No entanto, após quase duas décadas de existência, em 1991 a banda sofre a perda de Fred Mercury, que morre de complicações decorrentes da AIDS. O álbum Innuendo, lançado neste mesmo ano, marca a despedida do vocalista e líder da banda: "com menções depressivas e letras subjetivas, um Fred Mercury fraco insinua um difícil adeus, com músicas como The Show Must Go On (O Show Deve Continuar) e These are the Days of Our Lives (Esses São os Dias de Nossas Vidas)" (id.). A partir de 1992, várias coletâneas de tributo à banda foram lançadas, sendo que a última é de 1999.

Ainda hoje uma banda bem conceituada entre os apreciadores do gênero, o Judas Priest foi uma bandas precursoras do heavy metal moderno. As características que lhe conferiram esse título foram a adoção de roupas de couro e adereços de metal e "a união do peso e temática

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violenta criados pelo Black Sabbath à velocidade dos grupos como o Led Zeppelin” (id.). Além disso, a presença de dois guitarristas na banda - KK Downing e Glenn Tipton - se tornou uma das marcas das bandas de heavy metal que surgiriam posteriormente.

O auge da carreira internacional do Judas Priest se deu entre 1982 e 1984, com o lançamento dos álbums Screaming for Vengeance e Defender of the Faith, mas logo após essa fase, um fato marcou a imagem da banda. Um caso de suicídio de dois fãs foi amplamente explorado pela imprensa, que culpou o grupo pela morte dos dois garotos. Mesmo após ficar confirmado que as causas nada tinham a ver com a música do Judas Priest, esse caso se tornou corriqueiro com outras bandas e artistas de rock.

Após a boa fase, em 1986 a banda lançou o álbum Turbo, que não foi bem aceito pela crítica e pelo público, que não esperava pela fusão com instrumentos eletrônicos, marcante neste disco. O produto final se mostrou muito "comercial e forçado, marcando o ponto mais baixo na carreira da banda".

Em 1992, o vocalista Rob Halford (hoje em carreira solo) abandou o Judas Priest para montar o Fight; em seu lugar entrou Ripper Owens. O vocal de Ripper sempre foi associado ao de Halford, o que ajudou a não descaracterizar as músicas antigas da banda.

“POR QUE A GENTE NÃO CHAMA DE PUNK?”

Como explica o jornalista José Augusto Lemos (Bizz, ago1999), em fins de 1960 houve uma “reformulação visual”, seguida pelos jovens: “quem andava de jeans, camiseta e cabelos compridos, imediatamente passou a ser identificado como ‘hippie velho’”.

Nesta época, a movimentação política e (junto com ela) a violência faziam parte do cotidiano dos jovens, tanto na América quanto na Inglaterra. Como já foram citados, o movimento contra a guerra do Vietnã e a campanha contra a corrida nuclear, além do desemprego, denotavam o descontentamento da sociedade, em particular dos jovens.

A "violência gratuita" de cenas do filme A Clockwork Orange (Laranja Mecânica), de Stanley Kubrick, era repetida pela juventude nas ruas. Lemos (id.) relata que, banido das ilhas

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britânicas, o clássico de Kubrick também ditava a moda, sendo considerado um possível inspirador para a nova vertente que despontaria no cenário do rock: o punk. “(...)se havia uma coisa de que os ‘punks’ faziam questão de ser era contra a cultura. Nos dicionários, ‘punk’ quer dizer ‘droga’, ‘coisa sem valor’, ‘podre’, ‘doente’. (MUGGIATI, 1985, p. 69)

Bob Dylan e Joan Baez ainda tinham forte presença no cenário musical e político da América quando o primeiro embrião do punk apareceu em Nova Iorque. Artistas de renome, como Andy Warhol, faziam parte da vanguarda artística da cidade; logo surgiriam grupos de rock que movimentariam a cena musical.

Outro personagem dessa época, que circulou tanto no meio glitter quanto entre os que fundariam o punk, foi David Bowie. Tanto por isso quanto por seu visual extravagante, andrógino, o adjetivo mais associado a ele sempre foi "camaleônico". Sua incursão pelo meio musical também contou com a influência da eletrônica; mas a importância de Bowie ainda se estendeu para a fase pós-punk: ele foi o responsável pelo resgate de artistas importantes como Lou Reed (ex-Velvet Underground) e Iggy Pop (ex-Stooges).

O Velvet Undergroud (subterrâneo de veludo), foi uma das bandas que impulsionou outros grupos e artistas solo que passariam a caracterizar o punk. Esta banda surgiu em 1965, depois que Lou Reed mostrou ao guitarrista John Cale duas canções que havia composto: Heroin e Waiting for the man. Ele tocou as duas músicas ao violão e, como contou Cale (McNeil, McCain, 1997, p. 20), era diferente de tudo o que Dylan e Baez faziam:

Na primeira vez que Lou Reed tocou 'Heroin' pra mim, fiquei totalmente pasmo. A letra e a música eram tão obscenas e devastadoras. Mais que isso; as canções de Lou tinham tudo a ver com meu conceito de música. Nessas canções de Lou rolava um lance de assassinato do personagem. Ele tinha profunda identificação com os personagens que relatava. Era o 'Método' atuando na canção.

O primeiro empresário do Velvet Underground foi o escritor e colunista de rock Al Aronowitz, que o considerava um grupo de "marginais" e sua música, "inacessível". Apesar disso, levou-o a tocar no Café Bizarre, quando Andy Warhol conheceu a banda e se tornou o novo empresário. A partir daí, o Velvet passou a ficar conhecido pela vanguarda artística de Nova Iorque, composta por poetas, músicos, artistas plásticos e cineastas. Estes criticavam o movimento hippie não só em termos musicais, mas também visuais e em sua ideologia. As drogas e o sexo também faziam parte da cultura dos "pré-punks", mas a cannabis e o LSD foram substituídos pela heroína e anfetamina, enquanto que o sexo foi visto com uma liberdade ainda maior; muitos dos artistas da época se assumiam bissexuais.

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A cantora Nico (que também atuou em filmes de Fellini) fez parte do Velvet no primeiro disco da banda, mas havia muitos desentendimentos entre Reed e ela. Considerado o líder do Velvet, Reed sempre desejou seguir em carreira solo; após o lançamento desse primeiro disco, desmanchou a banda. Mas a transgressão de valores e a "crueza" de suas canções transformaram Lou Reed no "padrinho do punk", como comparam McNeil e McCan (id., ibid., p. 437). Nas palavras de Lou Reed: "O velho som era alcoólico. A tradição foi finalmente quebrada. A música é sexo, drogas e alegria. E a alegria é a piada que a música entende melhor. (id., p. 30)

Por volta de 1967, outra banda surgiu para complementar a cena "pré-punk" da América: os Stooges. Liderada por Iggy Pop, esta banda começou quando o mesmo decidiu fazer "seu próprio blues simples" e compôs a música I wanna be your dog. Além disso, outra influência definitiva para Iggy decidir fundar sua banda foi Jim Morrison; apesar de não gostar do som e da poesia dos Doors, ele admirava a postura sensual e misteriosa de Morrison. Assim, juntando a vontade de criar uma nova sonoridade para o rock à preocupação com o visual das banda nas apresentações ao vivo, os Stooges, marcaram o início de um movimento que culminaria com o punk rock. O primeiro guitarrista da banda, Ron Asheton, caracteriza a sonoridade da banda em sua primeira apresentação (id., p. 57):

A gente inventou alguns instrumentos que usou no primeiro show. A gente pegou um liquidificador com um pouco de água e colocou um microfone bem embaixo dele e ligou. Tocamos isto por uns quinze minutos antes de entrar no palco. Era um som incrível, especialmente saindo das caixas de som, todo desconjuntado. A gente tinha uma tábua de lavar roupa com microfones. Então Iggy calçava sapatos de golfe e subia na tábua de lavar e ficava meio que arrastando os pés por ali. A gente pôs microfones nos galões de sessenta litros de óleo (...) usou dois martelos como baquetas. Peguei emprestado até o aspirador de pó da minha mãe porque o som parecia o de um motor a jato. Sempre adorei aviões a jato.

A influência do glitter rock era visível nas caracterizações dos artistas da época. Para essa primeira apresentação, Iggy se vestiu com um "grande camisolão" que ia até os tornozelos, pintou a cara de branco, raspou as sobrancelhas e colocou uma peruca de folha de alumínio torcida. Scott Asheton, o baterista da banda, conta que veio daí o apelido Iggy Pop (id.):

Nós tínhamos um amigo chamado Jim Pop (...) que havia perdido quase todo o cabelo, incluindo as sobrancelhas. Por isso, (...) a gente começou a chamá-lo de Pop. (...) Iggy começou a suar e aí descobriu pra que servem as sobrancelhas. Perto do fim do show, os olhos dele estavam totalmente inchados por causa de todo aquele creme e purpurina.

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Contemporâneos dos Stooges o MC5 era uma banda marcada pelo radicalismo político. Musicalmente, este grupo não apresentava muita inovação (o que ficava por conta dos Stooges), mas seu surgimento foi importante para firmar o que viria a ser a característica de muitas bandas de punk rock: a crítica de oposição ao governo.

O MC5 tocou na convenção do Partido Democrata em Chicago, em 1968, mas foram expulsos do local por policiais. Na época, ele viviam em repúblicas estudantis que pareciam "comunas vikings", onde todos liam o Livro Vermelho de Mao Tse-Tung. Eles faziam parte do movimento dos Panteras Brancas, que, apesar da política de revolução, também cultivavam uma postura sexista, de submissão das mulheres.

Outros artistas que também contribuíram para a formação da identidade punk foram Patti Smith e os New York Dolls.

Inicialmente envolvida apenas com a poesia, Patti Smith foi uma das primeiras a circular por Nova Iorque com roupas e cortes de cabelo diferentes. Uma grande admiradora de Rimbaud, ela também poderia ser uma das precursoras da ideologia punk do it yourself (faça você mesmo), já que, em muitos casos, improvisava seus versos durante as apresentações de poesia.

O New York Dolls adaptou o exagero do visual e da androginia glitter até mesmo na sua denominação - dolls=bonecas, enquanto sua música minimalista ganhava cada vez mais admiradores. Eles passaram a fazer shows na Inglaterra, onde imprimiram um som contrário ao progressivo que dominava o cenário do rock na época.

Em 1975, Legs McNeill junta-se a dois amigos que tinham o projeto de fundar uma revista, a qual ele chamou Punk. Nas palavras do próprio autor, “‘punk’ pareceu ser o fio que conectava tudo que a gente gostava – bebedeira, antipatia, esperteza sem pretensão, absurdo, diversão, ironia e coisas com um apelo mais sombrio”.(id. p.222)

Assim, aquele estilo musical que se definia no cenário norte-americano desde 1971, recebeu um nome. E a partir do ano do surgimento da Punk, a banda que sintetizaria o movimento também despontou no cenário norte-americano: os Ramones.

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Rock em Três Minutos

O Ramones formou-se em 1974, em Nova York, quando as “canções de dois minutos e meio” de Joey (vocal), Johnny (guitarra) e Dee Dee (baixo) começaram a chamar atenção na emergente cena punk.

A denominação “Ramones” veio do baixista DeeDee, a partir de uma referência a Paul McCartney, que nos primeiros anos da carreira dos Beatles, usava o codinome “Ramon”. O mesmo costume foi adotado para os integrantes da banda, que recebiam o sobrenome Ramone.

Em 1976, com o baterista Tommy Ramone já incluído na banda, os Ramones ocupavam lugar de destaque no cenário musical, com canções como Beat on the Brat, Blitzkrieg Bop e Now I Wanna Sniff Some Glue. Assim, neste mesmo ano o grupo viajou à Inglaterra, injetando ao nascente movimento punk deste país o mesmo estímulo do cenário norte-americano. Ainda em 1976, Ramones Leave Home, o segundo álbum da banda, foi lançado.

A partir desta época, a banda fazia turnês incessantemente. Para os próximos lançamentos, o Ramones “suavizou” sua sonoridade. Músicas como Sheena is a Punk Rocker e Rockaway Beach foram incluídas em Rocket to Rússia, o terceiro álbum, de 1977 – em que também está presente a balada Here Today, Gone Tomorrow. Nesta época, Tommy deixou o grupo, preferindo a atividade de produtor dos Ramones.

Tommy foi substituído por Marc Ramone; seu primeiro disco com a banda, Road to Ruin, foi o primeiro a conter somente doze canções e durar mais de uma hora e meia. Este álbum não teve muita aceitação por parte do público, apesar dos esforços de divulgação – nem mesmo o lançamento simultâneo do filme Rock’n’Roll High School trouxe prestígio a esse disco.

Nos anos 80, os Ramones tentaram maior apelo comercial com o lançamento de End of the Century e Pleasant Dreams, mas essa tentativa mostrou-se ilusória. A energia dos anos 70 voltou no disco lançado em 1984, Too Tough to Die, O baterista Marky Ramone havia deixado

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o grupo nesta época, sendo substituído por Richie Ramone, mas em 1987, Marky retornou ao grupo.

Em 1989, os Ramones ganham grande exposição com a música Pet Sematary, trilha sonora de um filme de Stephen King. No entanto, essa mesma época marca uma das substituições mais significativas da banda: Dee Dee Ramone, o “punk mais verdadeiro” do grupo, sai para tocar com o Chinese Dragons. Em seu lugar, entrou C.J. Ramone; essa substituição trouxe uma “energia juvenil” ao som da banda, mas a saída de Dee Dee foi muito sentida pelos fãs e pelos próprios integrantes do Ramones.

Nos anos 90, a presença do Ramones no cenário do rock, assim como do punk rock em geral, foi sendo subjugada pela exposição de grupos representante de outros estilos. O derradeiro álbum, Adios Amigos, é de 1995.

O Ramones foi fundamental para definir os contornos do punk rock e seus descendentes, constituindo referência para vários grupos que despontaram no cenário do rock nas últimas décadas. Em 15 de abril de 2001, Joey Ramone morre em um quarto de hospital, depois de seis anos com um câncer linfático. Sua morte representou uma perda irreparável para o rock em geral.

Anarquia para o Rock’n’roll

A expansão do punk rock para a Inglaterra (vide o sucesso dos Dolls naquele país) provocou o surgimento de grupos como Sex Pistols e The Clash. Os primeiros surgiram em 1975, mas seu primeiro single, Anarchy em the U.K. foi lançado um ano depois, quando fecharam contrato com o maior selo da Inglaterra, a EMI.

Anarchy in the U.K. caracterizou-se pelo ataque à tradição a à autoridade, comuns na estética punk. Os integrantes da banda freqüentemente incitavam a platéia de seus shows, como pode ser exemplificado com a frase do vocalista Johnny Rotten a uma platéia em abril de 1976 : “‘Eu aposto que vocês não nos odeiam com a mesma intensidade com que nós odiamos vocês!’” (Friedlander, 2002, p. 356)

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The Clash começou em julho de 1976, depois que Joe Strummer viu uma apresentação dos Pistols e decidiu formar uma banda, que “transcendeu” a simplicidade e agressividade do punk. O Clash envolveu-se com o ativismo político, criticando o imperialismo e o racismo e influenciou-se por outros ritmos, como o reggae.

A Diluição do Punk

O caráter de adaptação do punk rock ao mainstream, no qual o Clash foi um dos representantes, formou uma nova tendência que tomou conta do cenário musical da década de 80: a new wave. Esta definição foi inventada pela imprensa, para designar a fusão do punk e a música pop, em que elementos de um e outro encontraram-se na sonoridade de um mesmo grupo (ou artista solo).

As letras destes grupos adotavam a atitude punk de crítica à sociedade, mas sem o elemento de choque. O visual e a performance de palco também foram resgatados do punk.

As bandas inglesas da primeira síntese da new wave foram o Police, o Jam, Billy Idol, Joe Jackson e o Pretenders (que contava com a cantora norte-americana Crissie Hynde). Um dos principais artistas desta onda, que influenciou outros posteriormente, foi Elvis Costello. Ele foi um dos que passaram a utilizar os sintetizadores em suas composições.

Programador de computadores, vivendo com mulher e filho no subúrbio, ele nutria aspirações artísticas e compunha com a ajuda de um Fender Jazzmaster. Descoberto por um caçador de talentos, se tornou da noite para o dia a nova atração do rock inglês (com o grupo The Attractions). (MUGGIATI, 1985, p. 87)

Nos Estados Unidos, a new wave também se desenvolveu, com os grupos Talking Heads, Cars, Devo, B-52 e o Blondie – o grupo da vocalista Debbie Harry e um dos mais representativos deste estilo. O Blondie, junto com o Pretenders, representou a ascensão feminina no rock.

Em 1980, a fusão punk-pop “estava apenas florescendo nas rádios; em poucos anos, entretanto, ela teria proliferado e invadido a mídia. O ingrediente-chave do sucesso da new wave era a ligação da música com o vídeo...” (FRIEDLANDER, 2002, p. 369) A institucionalização dessa dinâmica se deu com o nascimento da MTV, em 1981. Esse canal de televisão passou a divulgar videoclipes da mesma forma que as rádios executavam as músicas, sendo que o papel de apresentador, desempenhado pelos VJ’s, tomou o lugar dos DJ’s. Assim, com a MTV, a new

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wave encontrou um instrumento eficaz para sua divulgação, mas a música comercial logo tomou conta da programação do canal.

Antes de continuar descrevendo o cenário dos anos 80, é preciso voltar um pouco no tempo, quando a dance music surgiu (em meados de 1970) entre os menos radicais, que não se encaixavam na estética punk. Entre os ícones da época, estão grupos como os Bee Gees e o Abba, a primeira banda sueca a fazer sucesso fora do país. Outros artistas também passaram a fazer parte do cenário, como Diana Ross e Olívia Newton-John.

Entretanto, os mega astros Michael Jackson e Maddona foram os que realmente trouxeram ao pop uma verdadeira “força impulsionadora” para os anos 80, realizando a fusão da dance music com outros elementos que se relacionassem à dança, ao movimento.

Conhecido anteriormente, quando ainda era um astro infantil (integrante do Jackson 5), Michael gravou seu nome através da dança, os vídeos de suas apresentações ao vivo e também os rumores em torno de sua vida pessoal. O álbum Thriller, de 1982, foi o disco mais vendido da história da música, com mais de 40 milhões de cópias.

Thriller era um prato cheio para o mainstream do pop/rock: um talentoso compositor e contador de histórias; um dançarino perfeito e inovador, que criou um estilo de dança combinando imagens de hip hop, Broadway e discoteca (incluindo o moonwalk), músicas com batidas bem marcadas; uma composição de músicas rápidas e baladas; participações dos astros contemporâneos Paul McCartney (...) e Eddie Van Halen... (FRIEDLANDER, 2002, p. 378)

Enquanto Jackson refletia sua importância através da síntese entre “discoteca, funk e hip hop”, Maddona ascendeu nesta mesma época provocando polêmica com temas como “raça, sexismo, atividade sexual, orientação sexual e poder”. Ela também percebeu a força dos videoclipes como instrumento promocional para seus discos e passou a explorar imagens que provocavam discussões morais.

Maddona aparece em Like a Virgin em uma camisola branca nupcial, mas seus movimentos são eróticos. Quem é ela, virgem ou prostituta? É Marilyn Monroe? As roupas que ela veste nos shows são um mero modelito prostituta ou ela está redefinindo a moda e o poder sexual? (id. p. 379)

QUANTO MAIS ALTO MELHOR

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Enquanto astros do pop tomavam conta do cenário musical, o heavy metal também se expandiu, até chegar à virada 1980/90 com uma profusão de subgêneros. A junção do hard rock e o metal tradicional tornaram esse gênero o mais popular da década. No fim da década de 70, surgiram grandes grupos de metal inglês, que se firmariam pós-1980, como Iron Maiden, Samson, Def Leppard, Motorhead e Saxon - produtos da New Wave of British Heavy Metal, liderada pelo Judas Priest.

As bandas de heavy metal consistem geralmente em bateria, baixo e uma ou duas guitarras, mas a partir de 80, bandas como Van Halen ampliaram seu som com o uso de teclados e sintetizadores. Outra característica comum a essas bandas era a energia dos integrantes no palco, como pode ser verificado com os shows do Iron Maiden (donzela de ferro), que recebeu esse nome em alusão a um instrumento de tortura medieval. Depressão e juízo final, entre outros, são assuntos comuns nas canções da banda - o último disco, Brave New World, leva o nome da clássica obra de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, que constitui uma fantasia sobre a humanidade no futuro. O vocalista, Bruce Dickinson (que havia se separado do grupo em 1992 e voltou quase dez anos depois) também conta com uma bem-sucedida carreira solo. A alquimia figura entre seus temas favoritos, sendo que um de seus discos chama-se Chemical Wedding.

O Iron Maiden constitui uma das bandas mais queridas dos críticos de heavy metal em geral. Na época em que Dickinson deixou a banda, porém, o vocalista que o substituiu, Blaze Bailey, foi alvo de muitas críticas negativas, tanto por parte dos fãs quanto desses mesmos críticos. Atualmente, o Iron Maiden conta com três guitarristas em sua formação, já que o antigo guitarrista, Adrian Smith, voltou ao grupo junto com Bruce Dickinson.

O Def Leppard surgiu como um grupo de heavy metal, mas passou a utilizar efeitos especiais que o desligaram deste gênero, mudando seu estilo. Em meados da década de 80, o sucesso do Guns’n’Roses demonstrou a forte presença do metal; no início, o metal era um estilo “cult”, como compara Friedlander (2002), mas acabou por ampliar seu apelo, inserindo-se no mainstream.

A presença de palco de Axl Rose, vocalista do Guns’n’Roses, era marcante por seu estilo de cantar e se movimentar durante as apresentações ao vivo. Appetite for Destruction, de 1987, representou a mistura do hard rock com a emocionalidade do blues. Após a separação da banda, só restou Axl Rose da formação original. A apresentação do Guns no último Rock in Rio, em 2001, mostrou que ainda existem muitos fãs da antiga fase. Apesar de músicas como Sweet Child O’ Mine e Welcome to the Jungle agitarem a platéia, atualmente a presença do Guns’n’Roses é bem menor.

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Outro estilo do metal que despontou na década de 80 foi o speed metal. Segundo Friedlander, o exemplo mais bem sucedido dessa tendência foi o Metallica – banda que combinou um destacado trabalho de guitarra com execuções rápidas e sincronizadas. Com a profusão de estilos do heavy metal, entretanto, categorizar uma banda tornou-se tarefa difícil; muitos críticos e até mesmo fãs do Metallica poderiam classificar a banda como uma representante do thrash metal.

O speed metal também contou com a representatividade do guitarrista sueco Yngwie Malmsteen. Seus solos, marcados por velocidade e precisão, refletem a influência do guitarrista na música clássica; na juventude, Malmsteen estudou violão clássico e piano.

Um dos maiores expoentes para o thrash são os integrantes do Sepultura – banda brasileira de grande repercussão no exterior. Os vocais rosnados e o peso da guitarra e bateria caracterizam o som dessa banda, formada no início dos anos 80, influenciada por Black Sabbath e Venom. Quando Max Cavalera saiu da banda, em 1997 (para formar o Soulfly), um novo vocalista foi adicionado ao grupo – o norte-americano Derrick Green. Embora muitos ainda sintam a falta de Max, Derrick provou ser um bom substituto.

O heavy melódico foi outra vertente deste gênero que cresceu nos anos 80, expandindo-se na década seguinte, inclusive com a presença de bandas brasileiras – que se aproveitaram da aceitação do Sepultura no exterior para ampliar seu mercado.

Bandas como Helloween e Gamma Ray (Alemanha), Raphsody (Itália), Viper e Angra (Brasil) são algumas das representantes do metal melódico, caracterizado por músicas de melodias fortes, vocais de tons “operísticos” e virtuosismo com as guitarras. A influência erudita também é detectada em alguns desses grupos, como os brasileiros citados.

O Viper retrata o início da profusão do metal melódico no Brasil. O último disco com participação do vocalista André Matos, Theatre of Fate, é de 1986. Após esse álbum, Matos sai com a desculpa de estudar para ser maestro e forma o Angra – banda de grande repercussão no Brasil e no exterior. O Japão, principalmente, mostrou-se um bom mercado para os grupos de heavy metal melódico, especialmente para o Angra.

Apesar de encontrar-se alheio à música eletrônica, o heavy metal também sofreu a influência desta “febre” dos anos 90. Assim surgiu o chamado alternative metal de bandas como Korn,

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Soulfly e Limp Bizkit, que além das batidas eletrônicas, utilizam linhas vocais “sincopadas”, como o hip hop e guitarras heavy metal.

O Estilo Certo na Hora Certa

Como explica o jornalista André Barcinski, “no início dos anos 80, Nova York criou um monstro: o hardcore”. As bandas que despontaram nesse cenário eram ligadas a gravadoras independentes, fanzines e shows em clubes locais, quando passaram a ganhar atenção do público. As músicas caracterizavam-se por serem “simples”, contrárias ao virtuosismo do heavy metal – gênero de forte presença naquela década.

Bandas como Murphy’s Law, Sheer Terror e Agnostic Front são algumas que surgiram neste cenário. Esta última destacou-se como a pioneira do hardcore em Nova York, quando passou a lotar os clubes da cidade.

O Agnostic Front formou-se em 82, quando algumas bandas de Los Angeles e San Francisco (Black Flag e Dead Kennedys, respectivamente) já configuravam o cenário, influenciadas pelo punk. O som da banda caracterizava-se pela velocidade dos riffs. Em 1986, com o disco Cause For Alarm, o grupo inaugura o gênero crossover, que misturava thrash metal com hardcore.

Experiências pessoais e o retrato da vida de pessoas comuns são temas recorrentes ao Agnostic Front. Em 1992, o baixista Craig Setari afirmou que “acredita na música como instrumento de politização e de conscientização”, assim como os outros integrantes da banda.

O movimento hardcore, entretanto, não resistiu ao tempo; como destaca André Barcinski: “o tempo passou, o público se subdividiu em facções de gostos e tendências variadas”. A violência dos shows foi um dos fatores para que estes deixassem de ser agendados e muitas bandas acabarem. No entanto, em fins da década de 80, nasceu um novo gênero, derivado da cena hardcore, que viria a representar um fenômeno para os anos 90: o grunge.

Bandas como Mudhoney, Melvins, Tad, Soudgarden, L7 e a principal delas, Nirvana, representavam o chamado “som de Seattle”, já que esta cidade caracterizou-se como o “local de nascimento” de muitas bandas de rock nos anos 90. O Pearl Jam, ainda hoje em atividade, também derivou-se deste som.

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A gravadora Sub Pop foi a catalizadora da cena grunge, apesar de ter perdido grande parte das bandas para gravadoras maiores já em 1992. Um dos fundadores, Bruce Pavitt, credita o surgimento das bandas de Seattle “ao bom nível sócio-econômico dos garotos da cidade, sem muitos problemas para comprar instrumentos ou discos”. Além disso, Pavitt aponta a existência de vários clubes de hardcore, que tornaram possível a um público jovem tomar contato com grandes bandas.

Nas palavras de Barcinski, o Mudhoney tornou-se a banda mais tradicional de Seattle, “musicalmente falando”.

A banda entra no palco, toca uma música, pára, decide qual a próxima música e detona. Nada armado, nenhum resquício de showbizz. São quatro caras, se divertindo tanto quanto os outros cem, duzentos ou cinco mil à sua frente. (BARCINSKI, 1992, p. 114)

Uma das bandas que excursionou com o Nirvana, o Tad caracteriza-se pelo som “bem barulhento”. Os riffs são meio lentos, “meio Black Sabbath” e as músicas são repletas de microfonia. Em 1992, o Tad era a terceira banda que mais vendia discos pela Sub Pop – atrás do Nirvana e do Mudhoney .

Mesmo que as bandas citadas sejam importantes para o grunge, o Nirvana tornou-se o representante mais importante para esse estilo e, na opinião de muitos críticos, músicos e fãs, uma das maiores bandas que já existiram.

“ Fede a Espírito Adolescente”

Kurt Cobain e Krist Novoselic encontram-se em sua cidade natal – Aberdeen, Washington – em 1985, quando resolveram formar uma banda. Kurt tocava bateria e Krist tocava baixo; as guitarras ficavam por conta de algum amigo que aparecesse para tocar.

Considerado o líder do Nirvana, desde criança Kurt falava que seria um astro de rock. Seu interesse por música veio desde cedo; sua tia Mary havia lhe dado um disco dos Beatles e seu tio Chuch, sua primeira guitarra. Ele começou a ter aulas na adolescência, quando se interessava por heavy metal e aprendeu a tocar Stairway to Heaven (Led Zeppelin) e Black in

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Back (AC/DC). Embora não afirmasse nas entrevistas, o primeiro show de rock da vida de Kurt foi o de Sammy Hagar (ex- Van Halen).

Mas foram as raízes punks e hardcore que definiram o som do Nirvana. Em meados da década de 80, bandas como os Melvins e Sonic Youth, atraíam muitos fãs, sendo que Kurt Cobain tornou-se um deles.

Em 1987, Cobain e Novoselic juntaram-se a Chad Channing, que ficou com o posto de baterista; Kurt tornou-se vocalista e guitarrista da banda. Logo, eles passaram a apresentar-se em festas e clubes fora de Aberdeen. A gravadora Sub Pop interessou-se pelo som do Nirvana e os contratou; o primeiro disco, Bleach, saiu em 1989.

O nome original de Bleach era Too many humans; a mudança definitiva foi inspirada em um cartaz de prevenção à AIDS em San Francisco: “Bleach your works”, algo como “desinfete suas agulhas”. Este álbum foi produzido por apenas seiscentos dólares; os integrantes do Nirvana tinham muitos problemas para conseguir dinheiro, viviam arrumando empregos temporários ou vendendo objetos pessoais. Kurt, mais de uma vez, chegou a morar dentro do carro.

Ainda antes do lançamento do segundo disco, em 1991, Kurt já apresentava problema com as drogas, o que percorreria toda a trajetória do Nirvana. Segundo Kurt, a heroína (que havia experimentado um ano antes) o ajudava a fugir de suas dores de estômago, que o atormentavam.

Quando Nervermind foi lançado, Chad Channing já havia sido substituído por Dave Grohl, ex-baterista da Scream. Finalmente, Kurt e Krist haviam encontrado na fúria da bateria de Grohl, o elemento fundamental para fazer a “magia do Nirvana funcionar”. Este ano, Nevermind tirou

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o disco Dangerous, de Michael Jackson, do topo das paradas americanas, enquanto seguia-se a deterioração física e metal de Cobain,

Transformado em hino grunge, Smells like teen spirit, (na época veiculado incessantemente pela MTV), é uma das canções de Nevermind. Esta expressão significa “fede a espírito adolescente” e constava de uma pichação nas paredes do quarto de Cobain. Para essa composição, ele se inspirou em Tobi Vail, uma antiga namorada que usava um perfume chamado “Teen Spirit”.

Nesta época, o Nirvana já havia alcançado grande popularidade; eles eram chamados para muitas entrevistas e acabaram por realizar uma apresentação no programa “Saturday Night Live”. No entanto, quanto mais fãs do Nirvana surgiam (e quanto mais shows ele faziam), mais Kurt Cobain isolava-se em seu próprio mundo, induzido pelas drogas.

A gravação do terceiro álbum do Nirvana foi adiada, devido a problemas de saúde de Kurt; ele foi hospitalizado várias vezes com problemas crônicos de estômago. Em 1991, a banda havia assinado contrato com a Geffen Records, que lançou no ano seguinte Incesticide, uma compilação de lados B do grupo. Esse álbum serviu para aplacar a ansiedade dos fãs, que aguardavam por material novo do Nirvana.

Em 1993, finalmente é lançado In Utero, terceiro disco do Nirvana. Para as letras das canções desse álbum, Kurt inspirou-se em sua família, da qual já faziam parte Courtney (eles se casaram em 1992) e sua filha Frances. A música Heart-Shaped Box originou-se de uma caixa de papel de seda que Courtney havia lhe dado logo que se conheceram. Em setembro deste mesmo ano, o Nirvana seguiu por uma turnê de três meses pela América do Norte, além de gravar o MTV Acústico.

In Utero constitui o trabalho preferido de Novoselic, assim como o de muitos críticos. Imagens de nascimento, morte, sexualidade e vício são retratadas nas músicas desse disco. A letra de Milk It reflete alguns desses elementos: “Her milk is my shit/My shit is her milk” (“O leite dela é minha droga/ Minha droga é o leite dela”). Em outro verso desta canção, vem a alusão a um tema que passava pela cabeça de Kurt desde o colegial: “Look, on the bright side is suicide” (“Olhe, no lado bom está o suicídio”) (CROSS, 2002, p. 323)

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Depois do lançamento do terceiro disco, o Nirvana embarcou para uma turnê pela Europa no início de 1994, apesar de Cobain encontrar-se cansado das viagens - em Roma, ele tem uma overdose e as apresentações da banda são canceladas em fevereiro.

Ao voltar para os Estados Unidos, Kurt Cobain foi internado em um clínica de reabilitação em Los Angeles. Tentativas posteriores já haviam sido frustradas (como na época em que sua filha nasceu) e essa não foi diferente. No dia 1º de abril ele foge da clínica e se esconde na estufa de sua casa, em Seattle. Depois de uma semana sem que ninguém de sua família ou da banda soubesse do seu paradeiro, ele é encontrado morto, com a marca de um tiro de espingarda auto infligido contra o céu de sua boca. A autópsia encontrou altos níveis de tranqüilizantes e heroína no sangue de Kurt, que dificilmente o manteriam vivo mesmo que ele não tivesse atirado em si mesmo. “Kurt conseguira se matar duas vezes, usando dois métodos igualmente fatais.” (id. p. 411)

Neste dia, Courtney encontrava-se em tratamento para sua dependência química em uma clínica; mais tarde, ela leria partes do bilhete de suicídio para os fãs do Nirvana, que como ela, estavam inconsoláveis:

Faz muitos anos agora que não sinto entusiasmo ao ouvir ou fazer música, bem como ao ler e escrever. (...) Por exemplo, quando estamos nos bastidores e as luzes se apagam e o rugido maníaco da multidão começa, isso não me afeta do modo que afetava a Fred Mercury, que parecia amar, saborear o amor e a adoração da multidão. (...) Obrigado a todos do fundo do poço do meu nauseado e ardente estômago por suas cartas e preocupações nos últimos anos. (...) Não tenho mais a paixão e, portanto, lembrem-se, é melhor queimar do que se apagar aos poucos. (id. p. 403)

Krist também divulgaria uma mensagem para os fãs, em que pedia a todos que se lembrassem de Cobain pelo que ele sempre foi, “afetuoso, generoso e terno” e que guardassem a música do Nirvana: “nós a teremos para sempre conosco”.

Com o fim do Nirvana, após a morte de Kurt Cobain, Novoselic e Grohl partiram em carreiras separadas, sendo que Grohl tornou-se o mais bem sucedido, formando o Foo Fighters em 1995. O álbum de estréia do grupo foi um revigorante ponto de partida após os “torturados caminhos do Nirvana”.

A Inglaterra em Evidência

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No início da década de 90 desponta mais um novo gênero musical vindo do Reino Unido. O chamado britpop tem as bandas Blur e Oasis como representantes significativos, sendo que este último foi o desencadeador do movimento.

Em 1991, em Manchester, Inglaterra, surgia a banda Rain, formada por Liam Gallagher (vocal), Paul “Bonehead” Arthurs (guitarra), Paul “Guigs” McGuigan (baixo) e Tony McCarrol (bateria). Logo, o irmão mais velho de Liam, Noel Gallagher, entra na banda como vocalista e compositor, renomeando o grupo como Oasis.

Em 1994, eles lançam o primeiro disco, Definitely Maybe, pela Creation Records. A gravadora os contratou após um dos empresários assistir a uma apresentação do Oasis e impressionar-se com o grupo. Este primeiro disco logo ultrapassou um milhão de cópias fora do Reino Unido, entrando para a história como o disco de lançamento de um banda que mais rapidamente alcançou uma vendagem tão alta.

Assim, logo o Oasis tornou-se a banda inglesa mais popular dos anos 90, ganhando uma legião de fãs que lotavam seus shows. Nos Estados Unidos, conquistaram espaço com a veiculação pela MTV dos vídeos Live Forever e Supersonic.

A euforia inicial em torno do Oasis, entretanto, não deixou que tensões quase acabassem com a banda: os irmãos Gallagher passaram a brigar constantemente, o grupo começou a atacar o Blur pela imprensa e o baterista Tony McCarrol deixa a banda em 1995.

Mesmo após esse abalo, o ego dos Gallagher não pareceu abalar-se; o grupo ficou marcado por declarações arrogantes, em que se consideravam como “os melhores” (foi assim desde a primeira vez em que tocaram juntos).

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O segundo álbum, (What’s the Story) Morning Glory? de 1995, foi lançado quando passou a fase de turbulência, trazendo boas novas para o grupo. Neste disco, McCarrol já havia sido substituído por Alan White. ...Morning Glory? rapidamente alcançou o primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e tornou-se o segundo álbum mais vendido da história da música britânica. É deste disco a música Wonderwall, repetidamente veiculada pela MTV e pelas rádios. Ainda para reforçar a boa fase, o sucesso do segundo álbum rendeu disco de ouro em vários países.

Os próximos anos foram de grande produção para a banda: em 1997, é lançado Be Here Now e no ano seguinte, The Masterplan. O ano de 2000 trouxe dois álbuns: Standing on the Shoulder of Giants e o duplo Familiar to Millions.

O sucesso do Oasis foi único na Inglaterra, na medida em que foi a primeira banda a caracterizar o britpop. Impulsionados por essa onda, vários grupos ingleses despontaram no cenário, representando a força de um novo movimento.

Chega-se ao Fim da História?

Meados da década de 90 ainda iria trazer o rock alternativo- um desenvolvimento do brit pop. Nesta época, a Inglaterra firma-se como um terreno fértil para o nascimento de bandas deste estilo, que caracterizou-se por uma sonoridade intimista: músicas mais lentas (sem solos de guitarra ou bateria), letras depressivas e vocais monótonos. Elementos da música eletrônica também são encontrados em alguns grupos como Fatboy Slim, Prodigy e Moby.

O Radiohead lançou o aclamado disco Kid A, passando a figurar no cenário alternativo da Inglaterra como uma das bandas mais aclamadas pelos críticos.

Mas os Estados Unidos logo se juntaram à Inglaterra no desenvolvimento do rock alternativo. Uma banda de grande influência para o movimento foram os norte-americanos do Pavement, que surgiu no início da década de 90. O disco Slanted and Enchanted, de 1992, foi bem recebido tanto pelos fãs quanto pela imprensa.

Um procedimento comum no que diz respeito ao lançamento de bandas de rock alternativo, foi a alternância entre os Estados Unidos e a Inglaterra – o que continuou em fins de 1990. No início do novo século, despontou um novo movimento denominado por muitos de “novo rock”.

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Como destaca o jornalista e crítico musical Lúcio Ribeiro, algumas bandas são importantes personagens deste movimento: os suecos do The Hives, os norte-americanos Strokes e os australianos The Vines. Os primeiros influenciaram-se pelas guitarras “toscas’ do punk rock, até que em 1993 começam a se apresentar em bares europeus e chamam a atenção da imprensa inglesa.

Os Strokes foi aclamada por muitos como “a salvação do rock”; exageros à parte, a banda possui uma sonoridade básica e cru (com influência de Velvet Underground), além do visual e atitude típicos de Nova York. O carisma do grupo também é outro ponto a favor dos Strokes.

E assim, marcado principalmente pelo som das bandas de rock alternativo – e pela influência da música eletrônica - o rock inaugurou o século XXI.

História do Rock (2)

Surgimento

Resumidamente é uma combinação de elementos blues, boogie-woogie, jazz e rhythm and blues. Até os anos 50 era feito predominantemente por negros norte-americanos. Foi necessário criar um novo termo - rock'n'roll - e acrescentar o estilo country'n'western para despistar a sociedade branca e racista. O rock surge em meados de 1954 no sul dos Estados Unidos, quando um cantor branco com possante voz de negro entra num estúdio em Memphis chamado Sun Records para gravar acompanhado de um baixo, bateria e guitarra, que até hoje é a formação básica de uma banda de rock. O cantor era Elvis Presley e "That´s Alright, Mama" foi uma das músicas gravadas. Reza a lenda que alguém do estúdio perguntou com quem que Elvis se parecia e ele respondeu que não se parecia com ninguém. Outros elegem Chuck Berry ou até Bill Haley & His Comets como os inventores do rock. Mas isso não é provado, nunca saberemos quem foi a primeira banda de rock. A única certeza é que Elvis popularizou o rock e o tornou mais sexy, Bill Haley & His Comets foram uma das primeiras bandas de rock e Chuck Berry foi a base para todos os grandes guitarristas. Outros nomes importantes: B.B. King, Jerry Lee Lewis e Little Richard.

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Invasão Britânica

No início dos anos 60 o rock estava integrado ao sistema e seus ídolos mortos, como Buddy Holly, domesticados, como Elvis depois de servir o exército ou mesmo presos como Chuck Berry, mas no outro lado do Atlântico, na Inglaterra, apareceram os Beatles, que se formaram no final dos anos 50, mas só lançaram seu primeiro compacto - Love me do- em 1962, e depois os Rolling Stones formado em 1962 (primeiro álbum lançado em 1964). Esses grupos deram nova vida ao rock e mesmo o salvaram do imobilismo.

Bob Dylan e o Folk Rock

Bob Dylan era o mais talentoso compositor de folk music, e não usava guitarra elétrica, até que em 1965 aderiu ao rock´n´roll e nos seus discos Highway 61 Revisited de 1965 e Blonde on Blonde de 1966 influenciou o estilo com letras poéticas e uma mistura de folk, rock e de blues. Com Dylan as letras passaram a ser consideradas literatura e os beatnicks e a vanguarda artística começaram a se interessar pelo rock. O grupo Byrds então começou a tocar música de Dylan com a levada dos Beatles e foi a banda de maior sucesso do folk rock. Posteriormente apareceu a banda Crosby, Stills, Nash and Young, da qual saiu Neil Young, que começou com o folk rock e nunca o abandonou totalmente, mas seu uso da guitarra o tornou o precursor do grunge. Brian Wilson, o gênio por trás do grupo Beach Boys, estava decidido a fazer um disco inteiro conceitual, e não apenas uma colagem de singles, como era costume na época. Então, fizeram Pet Sounds, um dos mais lindos álbuns da história do rock

Os hippies e o Rock Psicodélico

Na Califórnia e depois em Londres começaram a surgir os hippies, que pregavam a paz e o amor e a livre experimentação das drogas para uma maior abertura da mente. Os jovens se vestiam com roupas coloridas, pregavam o amor livre e se interessavam pela filosofia indiana. Vários grupos compuseram canções sobre o uso de drogas, como os Beatles em Lucy in the sky with diamonds e os Byrds em Eight miles high. Na verdade, Lucy in the sky with diamonds gerou polêmica pois supostamente aludia o uso de drogas, mas John Lennon afirmou que a música foi escrita com base num desenho de mesmo nome feito pelo seu primeiro filho (Julian Lennon) e no livro Alice no País das Maravilhas. Nos Estados Unidos surgem o Grateful Dead, Janis Joplin e na Inglaterra o Pink Floyd, que em seus dois primeiros discos fez um rock psicodélico.

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Estilos do Rock

Década de 50: Rebeldes bem vestidos

Como dito anteriormente, uma mistura de jazz, woogie boogie, R&B e country, o rock and roll sempre causou problemas, porque misturava os pobres, os ricos e a classe média mais do que nenhum estilo anterior e representava a mente rebelde daqueles que eram jovens demais para ir à 2ª Guerra Mundial e viram famílias serem destruídas

Rockabilly: Conhecido como country-soul, foi o estilo de rock de Carl Perkins, Gene Vincent, Eddie Cochran, Johnny Burnette e Dorsey Burnette.

Country rock: é conhecido também como o lado “caipira” do rock. É bem parecido com o Rockabilly, e suas maiores estrelas foram Bill Halley, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash e Bob Luman.

High-School rock: Um estilo de rock racista. Ele veio para substituir a música negra, aproveitando suas batidas animadas e as melodias contagiantes. As grandes gravadoras lançaram cantores e cantoras brancas, todos eles bonitinhos e bem educados, quase sempre regravando sucessos dos negros.

Classic rock: Esse tipo de rock é uma mistura de vários outros tipos de músicas sejam elas rock’n roll ou não. Seus maiores representantes foram Elvis Presley, Chuck Berry, Bo Diddley.

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Década de 60: Drogas, genialidade e atitude.

Momento mais popular e prolífero do rock, trazia as idéias de quem tinha visto o rock surgir e de quem não havia conseguido sucesso na década anterior, o movimento anti-guerra e as drogas, combinados deram origem ao pensamento dessa década.

Psicodelismo/Acid rock: O acid rock, buscava reproduzir os efeitos da maconha e do LSD usando distorções, pedais de efeito, teclados, escalas hindus ou muito volume. Os seus

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principais nomes do acid rock foram os grupos The Doors, Jefferson Airplane, Grateful Dead, Love e Jimi Hendrix. No psicodelismo, pressupõe se que não seja necessário tomar ácido para fazer acid rock, bastando usar distorção e efeitos "viajantes".

Rock experimental: Um rock que misturava elementos de vários estilos musicais, associáveis ao rock ou não. Costuma ser confundido com o progressivo e/ou psicodélico, embora rock experimental seja a melhor denominação. Caracteriza-se pela complexidade musical, menor que a do rock progressivo, mas ainda assim elevada. Beatles(fase final), Iron Butterfly, Jimi Hendrix, Frank Zappa e vários outros encaixam-se nessa categoria.

Rock progressivo: Músicas de longa duração, desde os quatro minutos até os discos de uma única faixa; utilização e apropriação de elementos de vários estilos não comumente associados ao rock: a música folclórica (do país da banda em questão), o jazz, a música erudita, o blues, etc. Exemplos mais ilustres: Yes, Genesis, Emerson, Lake & Palmer, Pink Floyd, Marillion, King Crimson, Rush. Marcantes na evolução do rock nos anos 60 foram os festivais de música, como o de Woodstock em que se apresentaram nomes como Jimi Hendrix e Santana e o de Monterey, que teve a presença de Janis Joplin. No Brasil, essa evolução do rock surgiu com A Bolha em 1965.

Surf music: Com pegadas fortes e distorcidas, e com traço principal o reverb (eco). Muitas das bandas são apenas instrumentais, podendo haver apenas o contrabaixo, bateria e guitarra. Dois dos principais representantes do estilo são Dick Dale e Surfaris. Na atualidade, podemos considerar a banda Los Straitjackets, e no Brasil Retrofoguetes. É importante não confundir Surf music com Surf rock, onde temos os Beach Boys.

Ópera rock: Estilo de rock que conta histórias com muitos minutos. As óperas mais famosas incluem Tommy e Quadrophenia, do The Who, Arthur, do The Kinks, S.F. Sorrow, do The Pretty Things e The Wall, do Pink Floyd.

Garage rock: Para estes roqueiros, celebridade e muita grana importavam ainda menos que sofisticação musical, qualquer um pode fazer rock de garagem, basta ter instrumentos, saber três acordes ou marcar um 4/4 e uma garagem ou quarto. É também conhecido como proto-punk, já que o punk foi inspirado nesse estilo. O estilo é conhecido, basicamente, pelas composições "Wild Thing", da banda inglesa The Troggs, e "Leader of the Pack", das americanas The Shangri-Las.

Blues rock: Esse estilo de rock contém extrema influência de blues, Rolling Stones, Janis Joplin, Doors, Cream e The Who são os precursores. Deu origem ao hard rock. Considerado por muitos um estilo purista.

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Década de 70: Rebeldia, peso e salto alto

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No final da década de 60 houve um retorno a um rock mais direto e primitivo, como uma resposta daqueles que não gostavam da psicodelia, sendo que como resultado a psicodelia sumiu, deixando somente o seu "filho": o rock progressivo.

Hard rock: O estilo que marcou esta década combinava perfeitamente a modernidade do alcançada com o rock e o clássico, além de estilos como blues e jazz. As bandas conhecidas como a tríade que deram início ao movimento foram: Led Zeppelin (praticamente, o criador do hard rock) Black Sabbath e Deep Purple (para cujo estilo foi cunhado o termo heavy metal, para fins de definição), mas nomes como AC/DC, KISS, Queen, Rainbow, Whitesnake, Grand Funk Railroad, Blue Cheer, Aerosmith, Guns 'n Roses e Van Halen também acompanharam o estilo.

Glam rock: Rock com purpurina e salto alto, os nomes mais conhecidos internacionalmente são: New York Dolls, Gary Glitter, T-Rex, David Bowie, Roxy Music, Slade, Heart etc. No Brasil o grande representante do Glam Rock foi o grupo Secos & Molhados, que surgiu nos anos 70.

Punk rock: O punk rock foi o estilo que surgiu no final dos anos 70, quando o rock estava sofrendo um momento de impopularidade e as apresentações ao vivo não estavam fazendo muito sucesso. Pregava o jeito "eu não sei tocar mas vou aprender ao vivo mesmo" de fazer música, em direta oposição ao som extremamente esmerado do progressivo. Defendia a rebeldia e de certa forma herdou do rock a crítica social. Como principais nomes podem ser citados: Iggy Pop & The Stooges (os primeiros a delinear a sonoridade punk, ainda no final da década de 60),The Troggs, Sex Pistols, The Clash, Television, Ramones, Bad Religion, entre outros.

Década de 80: Peso, atitude e comercialização

Hair Metal: Nos anos 80 o hard rock "setentista" sofreu algumas evoluções e mudanças, bandas novas acrescentaram influências punk e glam na aparência e no visual, em alguns países esse estilo musical é chamado de hair metal. Bandas antigas também passaram a seguir o estilo, como Kiss e Van Halen. Exemplo de bandas novas: Poison, Bon Jovi, Mötley Crüe, Guns n' Roses, Mr. Big, Skid Row, Quiet Riot, Twisted Sister.

New wave: É um intermediário entre o pop e o punk. Recebeu também influências da disco music e dos ritmos jamaicanos reggae e ska. Seus principais nomes foram: B-52´s, Talking Heads, The Police, Duran Duran dentre outros

Heavy metal: Também conhecido como New Wave of British Heavy Metal, baseado no hard rock, já existiam músicas e bandas de heavy metal na década anterior, como Judas Priest e Motörhead, mas foi nos anos 80 que surgiram mais bandas tornando possível o heavy metal ser considerado mais que um pequeno ramo do hard rock; um estilo de rock à parte. Nessa década veio a se tornar um movimento contra o punk rock, primando pela qualidade musical e destreza de seus músicos. Entre os exemplos citam-se Iron Maiden, Judas Priest, Helloween,

Page 48: História do Rock

Motörhead, Saxon, King Diamond, Accept, Def Leppard, entre vários outros em suas subdivisões.

Thrash metal: O thrash metal é um estilo musical caracterizado por um ritmo acentuadamente mais rápido do que o heavy metal, porém usualmente com uma bateria mais estática, com menos repiques. As letras são usualmente gritadas pelos vocalistas, numa espécie de tentativa de se adequar aos temas violentos por elas retratadas. Entre os exemplos citam-se Metallica (primeiros trabalhos), Megadeth, Slayer, Sodom, Anthrax, Pantera e Sepultura.

Black metal:Influenciado pelo thrash metal (vide acima). O black metal é um sub-gênero do heavy metal com vocais guturais e os instrumentos muito mais pesados, suas músicas falam contra religiões monoteístas e falam sobre satanismo e paganismo. Entre os exemplos citam-se Venom (precursores do estilo), Mayhem, Burzum, Dimmu Borgir e Cradle of Filth.

Death metal: O death metal possui algumas semelhanças com o black metal mas é mais técnico e não critica com tanta intensidade as religiões, a maior parte de suas letras fala sobre morte, violência e niilismo. Entre os exemplos citam-se Death, Morbid Angel, Cannibal Corpse, Carcass e Napalm Death.

Gothic: Em música, chama-se de gótico, em geral, o rock lento, de predominancia de tons menores, que gera um clima de tensão nos ouvintes. Freqüentemente trata de passagens tristes e melancólicas em suas letras. Outra característica do gótico é o uso de aparatos de música eletrônica. Exemplos: Joy Division (considerados os precursores do estilo), The Cure, Bauhaus, Echo & The Bunnymen, Sisters of Mercy, Siouxsie & The Banshees.

Hardcore: Dead Kennedys, Discharge e Exploited são apenas alguns dos mais mundialmente queridos desta variante do punk, muito mais barulhenta e politicamente orientada (por isso denominada por alguns de "anarco-punk"). No Brasil Replicantes e Ratos de Porão são as mais conhecidas pelo grande público.

Rock brasileiro: Em outras décadas, artistas e bandas como Raul Seixas, Mutantes, Made In Brazil, Patrulha do Espaço, Secos e Molhados, Casa das Máquinas, O Terço e outros deixaram sua marca na história, porém foi na década de 80 que a cena brasileira do rock veio a experimentar seu maior período de popularidade e exposição na mídia. Neste período, surgiram centenas de bandas e artistas novos, como Legião Urbana, Ultraje à Rigor, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Ira!, Lobão, Engenheiros do Hawaii, Camisa de Vênus, Capital Inicial, Blitz, Lulu Santos e Kid Abelha.

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Década de 90: A rebeldia volta, mas morre

Britpop: algumas bandas inglesas, que por possuírem uma estética similar, embora sem representar um movimento unitário, costumam ser denominadas britpop. Entram nesta

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denominação grupos pop como Blur e Oasis assim como grupos menos comerciais como Pulp, Suede, The Stone Roses e Supergrass.

Grunge: este estilo se assemelha ao punk, mas o grunge tem um cuidado menor na polidez do som (daí o nome do estilo: grunge é um adjetivo em inglês que tem um significado próximo a "sujo") e letras relacionadas com depressão e angustia. Grandes nomes desse estilo foram: Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden, Mudhoney.

Neo-Psicodelismo: os ideais de paz e amor são retomados, mas sem a ingenuidade dos anos 60. Exemplo de bandas: Smashing Pumpkins, Cake, Black Crowes e R.E.M., entre outros.

Funk metal: Inspirado no balanço “funky” misturado a outras vertentes como o "Heavy Metal", o funk metal tomou forma nos anos 90, principalmente por causa de: Red Hot Chili Peppers, Living Colour, Faith No More e Rage Against the Machine.

Metal melódico/Prog Metal: Um estilo de heavy metal mais leve e cadenciado, bandas como Angra, Stratovarius, Nightwish, Dream Theater, Blind Guardian, Rhapsody e Evanescence são algumas das mais populares.

Indie-Rock: Bandas de garagem que participam do circuito "independente", fora do mainstream, como Radiohead, Pixies, The Strokes, White Stripes, Coldplay, Travis e Belle & Sebastian, além de algumas bandas britpop.

New metal: Também conhecido como nu-metal, é caracterizado por bandas que misturam passagens em estilo de rap ou de música eletrônica à sonoridade do rock pesado (analogamente ao Run DMC, nos anos 80). Por conta disso, é ignorado pelos entusiastas puristas de heavy metal. Bandas deste estilo incluem Korn, Static-x, Limp Bizkit, Adema e Slipknot. Alguns atribuem a origem do estilo ao funk metal.

Poppy punk: Estilo vindo da mistura entre o punk rock original, straight edge e grunge, cujas composições retratam, antes de tudo, a descompromissada vida adolescente, embora isto não seja uma constante. Grupos que se consagraram neste estilo incluem Green Day, Blink-182, NOFX e Offspring (estas duas bandas, as mais enraizadas no hardcore).

Década de 2000: A Predominância Indie

Com o Pop dominando as paradas, o rock parecia ter perdido a força, até que de Nova Iorque 5 garotos jovens, junkies e sujos aparecem com um EP com 3 musicas chamado The Modern Age. Com o surgimento desta banda, denominada The Strokes, o pop insosso e vago que predominou as paradas no final da década anterior dá lugar a algo mais consistente, que não depende de um único sucesso para vender um álbum, mas valoriza todas as músicas nele contidos. Mas não foram só os Strokes que viraram queridinhos da mídia: The Vines, Yeah Yeah Yeahs, Interpol e Libertines tambem foram chamados de "the next big thing" pelo fato de terem algo diferente em relação ao pop atual e terem um público que gosta deles mesmo sem nenhuma emissora os "empurrar goela abaixo". Franz Ferdinand (banda)Franz Ferdinand,

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Kaizer Chiefs, The Rakes, Bloc Party, Test Icicles, Arctic Monkeys e The Rapture também fazem parte deste movimento.

Paralelamente, o movimento emo explodiu entre 2003 e 2004. Gerado a partir do poppy-punk (estilo punk característico da década de 90 caracterizado, entre outros, por Green Day]] e Blink-182 e do straight edge (variação do punk criada pela banda Minor Threat), esse estilo se caracteriza pelas musicas emotivas, vocalista com voz desproporcional para a idade e um publico pré-adolescente pseudo-rebelde, o que reflete na imagem das bandas e artistas representativos do estilo, como CPM22 e ForFun no Brasil. Assim como o new metal em relação ao heavymetal tradicional, o estilo emo é consistentemente renegado por punks puristas, devido à noção de "atitude" pregada pelo emo, em alguns pontos oposta à original, por ser considerada "politicamente correta" demais.

It's only rock n' roll: por uma Sociologia do Rock

Prof. Dr. Cesar Beras

1. Introdução

Por que estudar o rock n' roll? Só para conhecer mais a historia do rock? Ver seu funcionamento dentro da indústria cultural? Ver sua relação com a problemática das drogas, do comportamento da juventude? Ver sua evolução enquanto estilo musical? Só para evidenciar sua importância? Ou talvez para focá-lo como um estilo de vida?

Não...isso, e muito mais, já existe e tem versões à disposição e à vontade para qualquer gosto.

Quando uma forma de expressão artística e cultural atinge efetivamente a sociedade e contribui na formação sociológica e histórica da época, é necessário um aprofundamento neste movimento para entendermos todo o contexto social envolvido e, a influência desse movimento na sociedade atualmente. O rock n' roll, apesar de ser um estilo musical, não pode ser visto apenas dessa maneira, já que foi muito mais abrangente que isto. O rock é uma manisfestação cultural em larga escala, que se estende através da sociedade em seus mais variados meios, desde da moda e da cultura popular, até a política e as questões mundiais. Devido à todo esse impacto na sociedade e a influência que ela exerce atualmente, nasce a necessidade da disciplina Sociologia do Rock, a fim de esclarecer à que ponto o rock influenciou e nos influencia até hoje.

1. Bases conceituais

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A preocupação central, então, ao se pensar uma Sociologia do rock, é a de pensar o rock enquanto um fenômeno social configuracional ou seja produto do padrão mutável da interpenetração de diversos sujeitos que conformam um efeito reticular estruturante.

Isto significa reconhecer três dimensões de uma configuração: ela tem como base a existência de uma sociedade conflituosa (I), onde os seres humanos, estão em constante luta entre si, para a afirmação de suas necessidades. As relações sociais são relações de poder (este entendido como a diminuição da interdependência de um ser humano pelo outro). Logo o rock seria visto como uma necessidade simbólica a ser satisfeita. Esta é uma primeira aproximação, a partir da compreensão de poder: Característica estrutural de uma relação, que a penetra totalmente; como característica estrutural que é, não é boa nem má. Pode mesmo ser boa e má. Dependemos dos outros; os outros dependem de nós. Na medida em que somos mais dirigidos pelos outros do que por nós, estes têm poder sobre nós, quer nos tenhamos tornado dependentes deles pela utilização que fazem da força bruta ou pela necessidade que tenhamos de ser amados, necessidade de dinheiro, de cura, de estatuto, de uma carreira ou simplesmente de estimulo (ELIAS, 1970, p. 101).

Enquanto configuração, é fruto não de uma estrutura social somente e muito menos fruto da pura ação social, mas, uma síntese possível da interassão entre diversos indivíduos. Logo é um fenômeno social no momento que representa um determinado produto polissêmico e multifacetado. Assim o rock seria visto como diversidade e não homogeneidade.

Simultaneamente enquanto configuração o fenômeno social é uma ação reticular ou seja não fruto de uma intencionalidade, mas o resultado de uma interação complexa em aberto: “Tensões que emergem dentro da rede humana”, as quais têm como característica central o fato de “as pessoas mudarem uma em relação às outras e através de sua relação mútua, de estarem continuamente moldando-se e remoldando-se em relação às outras [...]” (Elias, 1990, p. 29). Ou seja o rock esta sempre se modificando. Sendo que:

… as oportunidades entre as quais a pessoa assim se vê forçada a optar não são, em si mesmas, criadas por essa pessoa. São prescritas e limitadas pela estrutura específica de sua sociedade e pela natureza das funções que as pessoas exercem dentro dela e seja qual for a oportunidade que ela aproveite, seu ato entremeará com os de outra pessoas; desencadeará outra sequências de ações, cuja direção e resultado provisório não dependerão desse indivíduo, mas da distribuição do poder e da estrutura das tensões em toda essa rede humana móvel (ELIAS, 1990, p. 48).

Nesta perspectiva do rock como necessidade simbólica (relação de poder), algo heterogêneo e em constante modificação, pode-se dimensioná-lo enquanto elemento constitutivo de uma interação social constantemente conflituosa: um pressuposto normativo da perspectiva teórica de Elias é a necessidade de perceber o conflito como um elemento constitutivo dos processos de interação social. Isso implica em não partilhar visões que unilateralizam e isolam o conflito, transformando-o em uma leitura conceitual pragmática do bem contra o mal, ou que o tornem, essencialmente, o desestruturador do tecido social. Ao contrário, o conflito

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(visto como as situações de luta cotidiana por idéias, valores e/ou bens materiais) é uma força unificadora e configuracional da realidade.(Beras 2009)

Nesta perspectiva, Simmel (1983, p.122) concebe o conflito como uma forma de sociação:

Se toda interação entre homens é uma sociação, o conflito-afinal, uma das mais vividas interações e que, além disso, não pode ser exercida por um indivíduo apenas - deve certamente ser considerada uma sociação. E de fato os fatores de dissociação – ódio, inveja, necessidade, desejo – são as causas do conflito; esse irrompe devido a essas causas.

Novamente em Beras(2009):

Verifica-se que o conflito é uma forma de sociação e uma dimensão constitutiva da realidade “inter–humana”. É um elemento dinâmico constitutivo da sociedade. Para Simmel, a Sociologia é idêntica à Geometria quando se propõe a explorar as formas das relações sociais e não o seu conteúdo. Seu conceito de sociação baseia-se no reconhecimento de que a sociedade é “algo que acontece, que está acontecendo” (Moraes Filho, 1983, p.21).

Logo, buscaremos abordar o rock n' roll,em uma perspectiva sociológica, entendendo-o como uma configuração(relações simbólicas de poder, interpenetração heterogênea e em fluxo constante) ou seja uma sociação. Logo um elemento dinâmico constitutivo da sociedade. Assim objetivaremos em uma disciplina acadêmica:

Pensar a configuração do rock a partir da sociedade e de forma inversa a própria configuração da sociedade a partir do rock.

A disciplina de Sociologia do Rock tem por objetivo compreender como este gênero musical vem difundindo-se desde seus primeiros passos: sua pré-historia e o início na década de 50 até os dias de hoje, no mundo, na América Latina e no Brasil. Entende-lo como elemento que perpassa o contexto histórico, agrega-se a realidade, interfere diretamente na esfera política, social, econômica e cultural, assim como é afetado por ela.

Nesta perspectiva, completando o objetivo acima, um conceito que pode facilitar a linha de pesquisa pretendida, além do de configuração/sociação é o de intercessores, como instrumento que possibilite perceber a relação entre rock e sociedade como um ato criador. Experimentar, assim conhecer o rock não somente como fenômeno em si, rompendo com a análise histórica em si, e percebe-lo como um encontro entre a sociedade, a vida, a historia e a construção do conhecimento .

Além do contexto histórico que afeta o rock e como isso muda a cena para o rock enquanto arte, também veremos o rock como intercessor na história e na formação da sociedade. Perceber que:

“Pensar não é o exercício natural de uma faculdade. O pensamento não pensa sozinho e por si mesmo, como também não é perturbado por forças que lhe permaneceriam exteriores. Pensar depende necessariamente das forças que se apoderam do pensamento.”

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Assim intercessores são quaisquer encontros que fazem com que o pensamento saia de sua imobilidade natural, de seu estupor. Sem os intercessores não há criação. Sem eles não há pensamento:

O essencial são os intercessores. A criação são os intercessores. Podem ser pessoas – para um filósofo, artistas ou cientistas; para um cientista, filósofos ou artistas – mas também coisas, plantas, até animais, como em Castañeda. Fictícios ou reais, animados ou inanimados, é preciso fabricar seus próprios intercessores. (Deleuze, 1988, p. 156)

Enfim, perceber, a ênfase dada ao Rock como estilo de vida nas comunidades, como estruturantes de relações, e como o rock propõe as mudanças no modo de agir e atuar na sociedade.

3. Panorama Sociológico

Portanto, um primeiro desafio é o de estabelecer a conexão entre o processo de transformação da sociedade no seculo XX e o surgimento e desenvolvimento do rock n' roll- considerando sua pré-história - 1940, surgimento - 1950 e percurso até o século XXI, considerando três níveis: Mundo(EUA, Inglaterra), América Latina e Brasil.

De forma geral e muito sintética o século XX caracteriza-se por quatro fenômenos globais em sua parte ocidental:

1. O surgimento, desenvolvimento e colapso das experiencias socialistas comunistas entre 1917/Revolução Russa e 1989/Queda do Muro de Berlin. Isto configurou a politica internacional a partir da guerra fria e sua divisão geográfica bipolar, a constante ameaça de uma guerra nuclear e o embate ideológico forte e permanente que se expressa em todos os níveis, inclusive (talvez principalmente) o cultural. Temos neste período quatro décadas de rock n' roll: 1950, com Chucky Berry e Elvis, 1960 com os Beatles, Rolling Stones, Led, Floyd, e etc ,1970 com Ramones, Pistols e muito mais e 1980 com o indie pop(Pixies.etc) isto considerando somente em nível mundial.

2. A intensificação do processo de globalização da economia, principalmente a partir de 1970, com a disseminação do chip de computador e da bio-tecnologia (alto desenvolvimento técnico científico). Começamos a ter novas experiências de tempo e de espaço e uma tripla transformação no sistema capitalista: do modelo de acumulação rígido (Ford/Taylor) para um modelo de acumulação flexível (toytismo..) com base na crescente automatização e gerando o desemprego estrutural; a crise das formas de Welfare State e o surgimento de experiências neo-liberais incapazes de dar conta das crescentes contradições urbanas e a mudança do padrão de sociabilidade com base na família nuclear que implode por razões do aumento da complexidade do processo de sobrevivência e o simultâneo desemprego em massa levando ao aumento da individualidade enquanto individualismo competitivo. Era o surgimento do punk rock e a partir daí sua constante diversificação de 1980 até hoje.

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3. O acontecimento das duas guerras mundiais(1914 – 1918 e 1939 - 1945) que simultaneamente: reconfiguraram a geopolitica mundial , estabelecendo as bases da distribuição do poder no mudo tal como o conhecemos hoje (EUA, Europa - depois CEE, divisão centro-periferia..) e demonstrou para o mundo o quão terrível pode ser a ação humana racional: bomba atômica, campos de concentração nazistas, fascismo...)o ser humano matando intencionalmente outro ser humano. O rock surge na sequência destas guerras e vivencia um novo padrão de guerras no mundo: guerras nacionais por limites: Iugoslávia - Bósnia-Herzegovina, Sarajevo, por disputas de recursos: Iraque...

Políticas: Vietnã, além de diversas ditaduras civis e militares (na América latina em geral, na Africa).O mundo desde seu inicio caracteriza-se por a existência de algum tipo de guerra e o rock refletiu isto de diferentes maneiras.

4. A intensificação da cibercultura: Hoje as as crises financeiras globais – Desde a queda da bolsa de 1929 nos EUA até novamente a queda da bolsa em 2007, temos ciclicamente colapsos financeiros que apavoram e reconfiguram o mundo. A cada crise o sistema capitalista renova-se e reconfigura os padrões de consumo, as formas de cultura, as formas comunicação , as formas de sentir, experimentar e perceber o mundo. O rock n' roll dialoga com este quadro. Hoje é praticamente impossível imaginar as experiências de tempo e de espaço sem compreender a constituição potente da cibercultura. Imagine as comunicações sem o twitter, o orkut, myspace, facebook, messenger e etc. As pessoas se sociabilizam deforma cibernética diariamente....Este é o cenário em que o rock se desenvolve hoje...a própria vendagem de cds é algo em crise.

4. Breve panorama do rock n' roll

O rock enquanto gênero, surgiu nos Estados Unidos nos anos 50 (década de 1950). Inovador e diferente de tudo que já tinha ocorrido na música, o rock unia um ritmo rápido com pitadas de música negra do sul dos EUA e o country. Uma das características mais importantes do rock era o acompanhamento de guitarra elétrica, bateria e baixo. Com letras simples e um ritmo dançante, caiu rapidamente no gosto popular. Apareceu pela primeira vez num programa de rádio no estado de Ohio (EUA), no ano de 1951.

A rock na década de 1950 : primeiros passos

É a fase inicial deste estilo, ganhando a simpatia dos jovens que se identificavam com o estilo rebelde dos cantores e bandas. Surge nos EUA e espalha-se pelo mundo em pouco tempo.

No ano de 1954, Bill Haley lança o grande sucesso Shake, Rattle and Roll. No ano seguinte, surge no cenário musical o "rei do rock" Elvis Presley. Unindo diversos ritmos como a country music e o rhythm & blues. O roqueiro de maior sucesso até então, Elvis Presley, lançaria o

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disco, em 1956, Heartbreaker Hotel, atingindo vendas extraordinárias. Nesta década, outros roqueiros fizeram sucesso como, por exemplo, Chuck Berry e Little Richard.

O rock nos anos 60: rebeldia e transgressão

Esta fase marca a entrada no mundo do rock da banda de maior sucesso de todos os tempo : The Beatles. Os quatro jovens de Liverpool estouram nas paradas da Europa e Estados Unidos, em 1962, com a música Love me do. Os Beatles ganham o mundo e o sucesso aumentava a cada ano desta década.

A década de 1960 ficou conhecida como Anos Rebeldes, graças aos grandes movimentos pacifistas e manifestações contra a Guerra do Vietnã.

O rock ganha um caráter político de contestação nas letras de Bob Dylan. Outro grupo inglês começa a fazer grande sucesso : The Rolling Stones.

No final da década, em 1969, o Festival de Woodstock torna-se o símbolo deste período.

Sob o lema "paz e amor", meio milhão de jovens comparecem no concerto que contou com a presença de Jimi Hendrix e Janis Joplin.

Bandas de rock que fizeram sucesso nesta época : The Mamas & The Papas, Animals, The Who, Jefferson Airplane, Pink Floyd, The Beatles, Rolling Stones, The Doors.

O rock nos anos 70 : disco music, pop rock e punk rock

Nesta época o rock ganha uma cara mais popular com a massificação da música e o surgimento do videoclipe. Surge também uma batida mais forte e pesada no cenário do rock. É a vez do heavy metal de bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple. Por outro lado, surge uma batida dançante que toma conta das pistas de dança do mundo todo.

A dance music desponta com os sucessos de Frank Zappa, Creedence Clearwater, Captain Beefheart, Neil Young, Brian Ferry e David Bowie.

Bandas de rock com shows grandiosos aparecem nesta época : Pink Floyd, Genesis, Queen e Yes.

Anos 80 : um pouco de tudo no rock

A década de 1980 foi marcada pela convivência de vários estilos de rock. O new wave faz sucesso no ritmo dançante das seguintes bandas: Talking Heads, The Smith, The Police.

Surge em Nova York uma emissora de TV dedicada à música e que impulsiona ainda mais o rock. Esta emissora é a MTV, dedicada a mostrar videoclipes de bandas e cantores.

Começa a fazer sucesso a banda de rock irlandesa chamada U2 com letras de protesto e com forte caráter político.

Anos 90 : década de fusões e experimentações

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Esta década foi marcada por fusões de ritmos diferentes e do sucesso, em nível mundial, do rap e do reggae. Bandas como Red Hot Chili Peppers e Faith no More fundem o heavy metal e o funk, ganhando o gosto dos roqueiros e fazendo grande sucesso.

Surge o movimento grunge em Seattle, na California. O grupo Nirvana, liderado por Kurt Cobain, é o maior representante deste novo estilo, Soundgarden, Pearl Jam e Alice In Chains também fazem sucesso no cenário grunge deste período.

O rock britânico ganha novas bandas como, por exemplo, Oasis, Green Day e Supergrass.

O Rock no Brasil

O primeiro sucesso no cenário do rock brasileiro apareceu na voz de uma cantora. Celly Campello estourou nas rádios com os sucessos Banho de Lua e Estúpido Cupido, no começo da década de 1960. Em meados desta década, surge a Jovem Guarda com cantores como, por exemplo, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Com letras românticas e ritmo acelerado, começa fazer sucesso entre os jovens.

Na década de 1970, surge Raul Seixas e o grupo Secos e Molhados.

Na década seguinte, com temas mais urbanos e falando da vida cotidiana, surgem bandas como: Ultraje a Rigor, Legião Urbana, Titãs, Barão Vermelho, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii, Blitz e Os Paralamas do Sucesso.

6. Metodologia

Metodologia da janela do rock (roteiro de análise):

a metodologia é uma referencia sendo que para a montagem do programa da disciplina, o item contexto social é determinante e estruturante em relação aos outros

I. música (conjunto, enfase rítmica, estilo vocal, solo instrumental, estrutura harmônica)

II. letras (temas,tipo de mensagem – cultural,politica

III. histórico do artista(condição psicológica,historia musical e marcos importantes da carreira)

IV. Contexto social (cultura jovem e sua relação com a sociedade, movimentos políticos e culturais e a industria musical)

V. Atitude (performance x música)

7. Programa

Ementa: abordar o rock n' roll,em uma perspectiva sociológica, entendendo-o como uma configuração (relações simbólicas de poder, interpenetração heterogênea e em fluxo constante) Logo um elemento dinâmico constitutivo da sociedade. Assim objetivaremos em

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uma disciplina acadêmica: Pensar a configuração do rock a partir da sociedade e de forma inversa a própria configuração da sociedade a partir do rock. Desde sua pré historia e o início na década de 50 até os dias de hoje, no mudo, na América Latina e no Brasil. Entende-lo como elemento que perpassa o contexto histórico, agrega-se a realidade, interfere diretamente na esfera politica, social, econômica e cultural, assim como é afetado por ela. O rock na perspectiva de possíveis intercessores, como instrumento que possibilite perceber a relação entre rock e sociedade como um ato criador, como um encontro entre a sociedade , a vida, a historia e a construção do conhecimento.

I. Pré-história: Africa, Europa e EUA

• De Shakespeare aos EUA

• América latina e Brasil

II. O inicio: As primeiras gerações do rock: do pós guerra a contracultura musical

• 1954 – 1955 – a explosão do rock clássico - canções de amor e sexo.

• 1963-1964- invasão inglesa

III. A maturidade: deuses da guitarra, tecnologia, revitalização punk : A industria cultural e a globalização da economia

• 1967-1972-a era de ouro – rebelião

• 1968-1969-a explosão do hard rock

• 1975-1977 – a explosão do punk – canções de amor e sexo

IV . Diversificação: cd´s , video clipes e novos estilos : neoliberalismo e a queda do muro.

• 1980 – Novos estilos e geração MTV

• 1990 – Grunge e fim de século

V. Novas perspectivas? - Inicio do século XXI: os anos 10

• 2000 – o auge do Indie

• 2010 – e agora?

7. Conclusão

O rock é influenciado, então, por uma sucessão de fatos importantes anteriores à ele, que formam a sua base ideológica, e se concretiza como movimento na expressão dos eventos e dos sentimentos de seu tempo, influenciando e sendo influenciado pela mentalidade da época. Por isso a necessidade da criação desta disciplina. Devido a contribuição que o

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aprofundamento neste tema pode exercer no individuo, fazendo com que o mesmo consiga entender melhor a que época que vive, e os fatores culturais que afetaram à ele, o que o influenciou sua mentalidade, consequentemente e de que forma o rock altera sua vida e vice versa (intercessores).

A disciplina da Sociologia do Rock vem com o diferencial de informação de estruturação de conteúdo e conceitos ligados ao rock buscando ver sua influencia na sociedade e a da sociedade no rock.

Para tanto buscamos trazer diferenciais para apresentar as aulas e os conteúdos. Todas as aulas terão uma dinâmica para construção do conhecimento, isso irá incluir apresentação de slides para facilitar o entendimento e o fluir da aula. De acordo com os temas e com os assuntos, apresentaremos também referências diretas como músicas, letras, fotos e vídeos para a familiarização e assimilação de tal proposta.

Diferentemente das propostas já apresentadas, tratemos também um estudo paralelo com os acontecimentos que ocorreram na América Latina e no Brasil, de forma que possamos interligar os acontecimentos mundiais à estas esferas .

Além disto, apresentaremos também, na sua devida escala, um estudo sobre São Borja, visto que a cena local tem sua peculiaridade e seu comportamento.

Bibliografia

FRIEDLANDER. Paul. Rock and Roll – uma historia social. Rio de Janeiro. Editora Record, 2002

MOTA, Nelon. Noites tropicais: solos, improvisos e memórias musicais. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

MCCAIN, Gillian; MCNEIL, Legs. Mate-me por favor. Porto Alegre: L&PM, 1997.

BISKIND, Peter; BULLS, Raging; RIDERS, Easy. Como a geração sexo-drogas-e-rock'n'roll salvou Hollywod. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009.

Lista de sites de referência:

Diponível em: http://www.suapesquisa.com/rock/

Acesso em: 01/06/200

Page 59: História do Rock

Diponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rock

Acesso em: 01/06/200

Diponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rock_and_roll

Acesso em: 01/06/200

Diponível em: http://www.clubrock.com.br/news/historiadorock.htm

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Diponível em: http://maxmusic.sites.uol.com.br/metal/hisrock.htm

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Diponível em: http://alzeheimer.sites.uol.com.br/histock.htm

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Diponível em: http://www.paralerepensar.com.br/historia_do_rock.htm

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Diponível em: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en%7Cpt&u=http://www.icce.rug.nl/~soundscapes/DATABASES/TRA/The_Rock_Window.shtml

outubro

2004

Rock´n´roll: Um, dois, três, quatro!Aumente o som, saia pulando, fale palavrões: o rock’n’roll está completando 50 anos, mas ainda faz a cabeça dos jovens e chacoalha a sociedade

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por André Barcinski

Foram cinco décadas bem vividas. O rock’n’roll, quem diria, está fazendo 50 anos regados a sexo, a drogas e a ele próprio. Não pensem que foi uma vida fácil: entre tapas e beijos, o rock viveu um romance conturbado com a sociedade. Numa hora, era o queridinho de todos, para logo depois ser chutado e escorraçado como um cão sem dono.

Nesse meio século, o rock’n’roll foi celebrado por multidões, massacrado pela Igreja, explorado por publicitários, dissecado por historiadores, cooptado pela moda, malhado por puristas, dignificado pelos Beatles e maltratado por Bon Jovi e Simply Red. Passou por bons e maus bocados, e chegou a ser dado por morto algumas vezes. Mas, como fênix, sempre deu um jeito de reaparecer, resgatado das trevas por algum adolescente talentoso e entediado. É uma história e tanto.

Segundo historiadores, o marco zero do rock teria acontecido em julho de 1954, quando um caminhoneiro chamado Elvis Presley entrou no Sun Studios, em Memphis, e gravou “That’s Allright Mamma”.

Vamos deixar uma coisa bem clara: Elvis não inventou o rock. Antes dele, gente como Chuck Berry e Bill Halley já tocavam rock. Desde o fim dos anos 40, “rock’n’roll” era usado em letras de música como sinônimo de “dançar” ou “fazer amor”. Em 1952, o radialista Alan Freed – que depois viria a reivindicar a criação do termo – batizou seu programa de Moondog’s Rock and Roll Party.

Se não criou o rock’n’roll, Elvis ao menos pode ser considerado o mensageiro que apresentou o rock ao mundo. Era o homem certo no momento certo: bonito, talentoso e carismático. Mais importante: era branco e, por isso, aceitável para a América dos anos 50. “Eu agradeço a Deus por Elvis Presley”, disse o negro Little Richard, um dos grandes pioneiros do rock. “Ele abriu as portas para muitos de nós.”

A tarefa de Elvis não foi fácil: a sociedade norte-americana demorou bastante para aceitar aquele branco que cantava e dançava como um negro. Em uma de suas primeiras apresentações na TV, as câmeras o filmaram apenas da cintura para cima, sem mostrar aquele quadril que teimava em rebolar. Elvis, ao contrário de vários outros ídolos da época (como Pat Boone, por exemplo), nunca renegou a origem de sua música. “O que eu faço não é novidade”, disse. “Os negros vêm cantando e dançando dessa forma há muito tempo.”

Se a vida nos anos 50 não era moleza para um roqueiro branco como ele, o que dizer de artistas negros como Little Richard, Chuck Berry, Bo Diddley e Fats Domino? Num país de escolas segregadas, que ainda via negros serem linchados, o simples fato de um artista negro viajar para mostrar sua música assumia proporções épicas de heroísmo e bravura.

Uma história emblemática do período é a de Shelley “The Playboy” Stewart, um radialista negro que apresentava um programa de rock na estação WEDR, no Alabama. O programa de Stewart atraía um público predominantemente branco, que aprendera a gostar dos artistas “de cor” que o DJ tocava.

Page 61: História do Rock

No dia 14 de julho de 1960, Stewart estava apresentando um show na cidade de Bessemer, quando recebeu um aviso do dono do clube: a Ku Klux Klan, temida organização racista, havia mandado 80 homens para atacá-lo. Os encapuzados cercavam o clube e ameaçavam invadir o local. Sem perder a calma, Stewart avisou à platéia – formada por 800 brancos – que teria de parar o show. Foi aí que o inesperado aconteceu. “Os jovens que estavam no clube se rebelaram”, disse Stewart, anos depois. “Eles saíram correndo do local e atacaram a Klan, lutando por mim.” A simbologia do fato é forte demais: brancos lutando contra brancos, pelo direito de ouvir música negra.

Sim, o rock’n’roll é música negra. Como o blues, o samba e o hip hop, o rock nasceu da escravidão e tem suas origens na migração forçada de milhões de africanos, que foram tirados de suas aldeias e jogados em terras estranhas. Todos esses gêneros musicais têm duas características comuns, herdadas da África: a primeira é a predominância de uma base rítmica constante e repetitiva; a segunda é a utilização da música de uma forma emocional e espiritual. Nas colheitas de algodão dos Estados Unidos, os escravos cantavam para celebrar sua espiritualidade e seus ancestrais. Também cantavam sobre as mazelas da escravidão, estabelecendo assim uma relação direta entre sua música e a realidade social. O rock herdou essa capacidade de radiografar o presente.

Na época, a sociedade americana começava a abandonar preconceitos seculares. De uma certa forma, a explosão do rock simbolizou uma América nova, mais liberal, próspera e livre das dificuldades econômicas do pós-guerra. Adolescentes brancos começaram a curtir uma música antes relegada a salões de baile nos bairros negros e pobres.

Em 1956, “Blue Suede Shoes”, de Carl Perkins, tornou-se a primeira música a chegar ao topo das paradas de pop, rhythm’n’blues e country. O fato representou um marco não só para a música, mas para toda a sociedade americana. Pela primeira vez, brancos e negros estavam gostando da mesma coisa. Em 1959, outra canção, “The Twist”, de Chubby Checker, também uniu o país. O ativista e autor Eldridge Cleaver, fundador do grupo radical Panteras Negras, escreveu: “A canção conseguiu, de uma forma que a política, a religião e a lei nunca haviam sido capazes, escrever na alma e no coração o que a Suprema Corte só havia conseguido escrever em livros”.

O rock’n’roll não mudou a sociedade, mas serviu como espelho de mudanças e tendências. Claro que ninguém deixou de ser racista ao ouvir Elvis Presley cantando música “de negros”, mas o simples fato de Elvis aparecer em cadeia nacional, rebolando os quadris e celebrando uma cultura marginal, mostrava que o país estava mudando.

Paralelamente ao surgimento do rock, a sociedade norte-americana via o aparecimento de outro fenômeno, que se tornaria vital para a explosão do rock’n’roll: o adolescente.

Até meados do século 20, adolescentes tiveram uma vida dura nos Estados Unidos. O país havia passado por duas guerras mundiais e pela Grande Depressão; ser jovem por lá significava trabalhar duro e ajudar os pais a sustentar a casa.

Para a sociedade de consumo, o adolescente não existia. Não havia música ou filmes feitos especialmente para eles. Pais e filhos eram obrigados a gostar das mesmas coisas: as big bands

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de Tommy Dorsey e Benny Goodman, as baladas de Nat King Cole e Frank Sinatra, a cafonice de Pat Boone e Perry Como.

Depois da Segunda Guerra, tudo mudou: os Estados Unidos entraram numa fase de prosperidade, a economia cresceu e os adolescentes, que antes davam duro ajudando os pais, passaram a receber mesada. Isso criou um novo mercado, voltado unicamente para o jovem.

Hollywood logo entrou na onda, lançando filmes direcionados aos adolescentes. Dois deles, O Selvagem (1954) e Rebelde sem Causa (1955), revelaram Marlon Brando e James Dean interpretando jovens em conflito com a geração de seus pais. A rebeldia estava na moda. Daí surgiu Elvis Presley, dando voz a uma geração cansada da caretice dos pais.

A sociedade de consumo não demorou para perceber o potencial do filão jovem. Foi só aí que o rock explodiu na América. E tome filmes, revistas, livros, badulaques, calendários e todo tipo de bugiganga direcionada aos novos consumidores. Elvis, o rebelde, tornou-se uma figura tão familiar aos lares americanos quanto o presidente Eisenhower.

As gravadoras, que nunca gostaram de arriscar, trataram de diluir o rock em fórmulas açucaradas, bem ao gosto do público branco médio. O canastrão Pat Boone, por exemplo, gravou Tutti Frutti, mudando a letra (escrita por Little Richard, negro, homossexual e orgulhoso), para não chocar as boas moças da América. Foi um estouro. Era a tal coisa: “rock sim, mas limpinho, por favor”.

Apesar do sucesso, muita gente previa um fim rápido para o rock. O gênero era visto como uma moda passageira, a exemplo do calipso ou de tantas outras que tiveram seus 15 minutos de fama na América.

Para piorar, os roqueiros passavam por maus bocados no fim dos anos 50: Elvis Presley foi para o Exército, Chuck Berry ficou preso dois anos por ter atravessado uma fronteira estadual com uma prostituta menor de idade, Little Richard abandonou o rock e virou pastor depois de “ouvir o chamado de Deus” durante um vôo turbulento, Jerry Lee Lewis arruinou a carreira ao casar com uma prima de 13 anos, Buddy Holly morreu em um acidente de avião, que matou também Ritchie Valens (La Bamba) e Big Bopper (Chantilly Lace), e Eddie Cochran morreu em um acidente de carro. Quando o futuro do rock’n’roll parecia negro, surgiram os Beatles.

A influência dos Beatles é incalculável. Musicalmente, eles elevaram o rock a um nível até hoje inigualado, estabelecendo parâmetros e modelos para toda a música pop. Suas experimentações abriram novas possibilidades sonoras e ampliaram os horizontes musicais das gerações posteriores. Culturalmente, eles foram igualmente importantes: carismáticos, irreverentes e cheios de sex-appeal, eles surgiram no mundo como um sopro renovador, obliterando a caretice da década de 50 e inaugurando uma era mais livre e esperançosa – os anos 60.

O surgimento do rock e de seus primeiros ídolos – Elvis, Beatles, Rolling Stones – mudou a relação entre a música e o público. Até o rock aparecer, o “músico” – fosse produtor, instrumentista ou compositor – era visto como um profissional muito qualificado. Compositores de “música popular” eram sofisticados como Cole Porter e Irving Berlin; cantores eram Frank Sinatra e Bing Crosby.

Page 63: História do Rock

O rock democratizou a música pop. Subitamente, qualquer um podia subir em um palco e cantar. Elvis, um caipira ignorante, passou a freqüentar as paradas de sucesso ao lado de Sinatra e Nat King Cole (dá até para entender por que Sinatra, acostumado a trabalhar com músicos experientes, não aceitou o novo estilo: “rock’n’roll é a coisa mais brutal, feia e degenerada que eu já tive o desprazer de ouvir”, disse o “olhos azuis”).

Essa “democracia” do rock teve um efeito imediato: os artistas ficaram cada vez mais parecidos com seu público, tanto em idade quanto em classe social. Os jovens passaram a se identificar mais com seus ídolos, estabelecendo uma relação mais próxima com a música. O rock também passou a buscar na sociedade – especialmente nos jovens – os temas de suas canções. Essa troca fez do rock a música mais popular e culturalmente impactante do século 20.

Para muitos, esse estreitamento entre artista e público também causa um declínio gradual na qualidade da música. A cada ano, um número maior de pessoas sem treinamento musical tem acesso a tecnologias de composição e gravação. Hoje, aparelhos como samplers e placas de som permitem a qualquer um gravar um disco em casa. E popularização raramente é sinônimo de qualidade.

O fato é que nenhuma outra música esteve tão sintonizada com a realidade de seu tempo quanto o rock. Desde os anos 50, ele passou a ser um espelho da sociedade, refletindo a moda, o comportamento e as atitudes dos jovens. Isso fez do rock uma música com prazo de validade, ou seja, tão ligada no “hoje” que corre o risco de sair de moda rapidamente, junto com os temas abordados (para confirmar, basta assistir a qualquer videoclipe de dez anos atrás).

Isso cria situações interessantes: o que é “bacana” e “moderno” para uma geração torna-se ultrapassado para a próxima. Sendo um gênero que se alimenta sempre do novo, o rock’n’roll gera conflito entre seus fãs. Um movimento surge como resposta ao anterior e assim por diante, numa renovação incansável.

Esses conflitos, mais que interessantes, são necessários: sem eles, estaríamos condenados à eterna repetição. Foi a partir desses “rachas” que nasceram alguns dos movimentos mais influentes do rock, como o punk, basicamente uma reação ao comercialismo e à pompa do rock dos anos 70, que havia perdido a identificação com as gerações mais novas. Ao contrário do que ocorria antes do rock’n’roll, agora ficou fora de moda curtir a mesma música que os pais. Mas isso é cíclico, claro: com o passar dos anos, a indústria descobriu o potencial do saudosismo. Hoje, temos canais de televisão que vivem de reembalar artistas velhos como se fossem a última novidade. E veteranos – como o Aerosmith, por exemplo – que, graças a seus clipes na MTV, reinventam-se para um público que nem era nascido quando eles faziam sua melhor música.

Os Beatles são um bom exemplo da capacidade do rock de se adaptar a cada época. Para entender as mudanças ocorridas nos anos 60, basta olhar as fotos do grupo durante o período. Nos primeiros anos, vestidos com terninhos idênticos e cabelos bem penteados, os quatro eram a imagem perfeita do otimismo da era Kennedy. Depois, como todos, abandonaram a inocência: os cabelos cresceram e os sorrisos deram lugar ao cinismo, enquanto Kennedy era

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morto e a guerra começava no Vietnã. No fim da década, quando jovens faziam passeatas na Europa, Martin Luther King era assassinado e o conflito do Vietnã piorava, os Beatles buscaram consolo espiritual na Índia, renegando o comercialismo ocidental. A banda acabou melancolicamente, junto com uma década que começara cheia de promessas e que terminava em guerra e decepção.

Não foram os únicos roqueiros que se tornaram símbolos de uma era: Bob Dylan, Jimi Hendrix e Jim Morrison também viraram ícones dos anos 60, tanto quanto o símbolo da paz ou o rosto de Che Guevara. Sid Vicious é, até hoje, a imagem mais reconhecível da rebeldia punk. E basta um passeio por qualquer grande cidade para ver, a qualquer hora, jovens usando camisetas com o semblante triste de Kurt Cobain.

Esses rostos passaram a representar mais que a simples paixão por uma banda ou artista: tornaram-se símbolos de um estado de espírito e de um jeito de ser. A iconografia, claro, reduz tudo a seu nível mais rasteiro – e um artista como Kurt Cobain, autor de dezenas de músicas, acabou reduzido a garoto-propaganda do suicídio e da alienação adolescente. John Lennon foi assassinado e virou “marca”, transformado, como Gandhi, em símbolo de paz e amor. Logo ele, que nunca escondeu ter sido um pai ausente e que tratou Paul McCartney como um cachorro sarnento depois do fim dos Beatles. O rock simplifica tudo.

Talvez seja essa a razão de seu sucesso. Como bem disse Gene Simmons, do Kiss: “Eu não sou Shakespeare. Mas ganhei muita grana e transei com mais de 4 mil mulheres. Tenho certeza de que Shakespeare trocaria de lugar comigo a qualquer hora”. Quem duvida?

Os 50 discos que fizeram o rock·n·roll

Quer você goste, quer não, essas sãoas obras que romperam barreiras, criaram estilos e marcaram a história do rock

1. The King of Rock and Roll – The Complete 50s Masters - Elvis Presley, 1992

Elvis em sua melhor fase, antes de entrar para o Exército e voltar mansinho

2. Chuck Berry – Anthology - Chuck Berry, 2000

O verdadeiro criador do rock’n’roll e melhor compositor entre os pioneiros do gênero

3. The Essential Little Richard - Little Richard, 1985

O intérprete mais explosivo do início do rock revolucionou a música com seus gritos e sua vibração

4. The Classic Years - Motown, 2000

Uma das gravadoras mais influentes dos anos 60, meca da soul music norte-americana

5. Please Please Me - Beatles, 1963

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Eles chegaram como um sopro renovador e fizeram a trilha sonora perfeita para o otimismo do início dos anos 60

6. The Freewheelin’ Bob Dylan - Bob Dylan, 1963

O rock amadurece: pela primeira vez, as letras valem tanto quanto a música

7. Live at the Apollo - James Brown, 1963

O grito primal do funk, por seu maior intérprete

8. The Who Sings My Generation - The Who, 1965

Até então, ninguém havia feito um rock tão radical e barulhento; para muitos, o nascimento do punk

9. Blonde on Blonde - Bob Dylan, 1966

O atestado de maioridade de Dylan; depois disso, o rock não tinha mais desculpa para a ingenuidade

10. Pet Sounds - Beach Boys, 1966

Um sonho adolescente, embalado pelo pop mais perfeito e cristalino. “O maior disco da história”, segundo Paul McCartney

11. Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band - Beatles, 1967

Auge do experimentalismo do rock. Definiu sua geração e criou novos horizontes para o pop

12. Between the Buttons - Rolling Stones, 1967

Os rebeldes mostram que também têm coração

13. Are You Experienced? - Jimi Hendrix, 1967

Hendrix desfila todo seu arsenal: microfonia, psicodelia, distorção e um pé fincado na tradição do blues

14. The Velvet Underground and Nico - Velvet Underground, 1967

Inaugurou a melancolia no pop. Fez contraponto ao otimismo hippie

15. The Doors - The Doors, 1967

Pessimista e dark, embalado pela angústia existencial de Jim Morrison, na contramão do sonho hippie

16. We’re Only In It For the Money - Frank Zappa and the Mothers of Invention, 1968

Satiriza o hippismo e antecipa o fim do sonho

17. The Village Green Preservation Society - The Kinks, 1969

Page 66: História do Rock

Os Kinks enxergam além de guitarras barulhentas e fazem o seu Sargent Pepper’s

18. Kick out the Jams - MC5, 1969

Que paz e amor nada! Neste explosivo disco ao vivo, o MC5 pregava revolução, guitarras e amor livre

19. Live Dead - Grateful Dead, 1970

Longas explorações psicodélicas, no melhor momento de uma verdadeira instituição californiana

20. Black Sabbath - Black Sabbath, 1970

Para muitos, uma brincadeira de mau gosto. Para os fãs, um disco que sepultou a inocência dos anos 60 e inaugurou o heavy metal

21. Funhouse - Iggy Pop and the Stooges, 1970

Blues, John Coltrane e punk: a fórmula de Iggy Pop neste verdadeiro clássico do niilismo

22. Greatest Hits - Sly and the Family Stone, 1970

A música negra como arma de guerra: segundo Sly Stone, a revolução só se daria com o povo dançando nas ruas

23. Led ZepPelin IV - Led Zeppelin, 1971

Jimmy Page e sua gangue se escondem por trás do ocultismo e fazem um clássico do hard rock

24. Exile on Main Street - Rolling Stones, 1972

Os Stones esquecem a pose de maus e concentram-se no que sabem fazer melhor: música sublime

25. Ziggy Stardust - David Bowie, 1972

Uma ópera-rock sobre androginia e extraterrestres. Bowie cria um mundo de fantasia e sonho, que inspirou o punk e a new wave

26. Harvest - Neil Young, 1972

Obra-prima do country rock em uma época de cantores “sensíveis”, como James Taylor e Carole King

27. Transformer - Lou Reed , 1972

O subterrâneo nova-iorquino, com prostitutas, traficantes e bêbados, pela imaginação mórbida de Lou Reed

28. New York Dolls - New York Dolls, 1973

Page 67: História do Rock

Guitarras altas, batom e roupas de mulher: os New York Dolls confrontavam com bom humor a macheza do rock da época

29. The Dark Side of The Moon - Pink Floyd, 1973

Questionamentos sobre loucura e solidão, embalados pela música mais triste a chegar ao topo das paradas

30. Ramones - Ramones, 1976

Em contraponto ao rock “sério”, quatro desajustados cometem este pecado sonoro, sem solos nem pretensão. Nascia o punk

31. Never Mind the Bollocks - Sex Pistols, 1977

O conflito de gerações em forma de disco: “Somos feios, sujos e não gostamos do que está acontecendo”

32. Talking Heads: 77 - Talking Heads, 1977

O punk cresce e amadurece; o funk de branco do Talking Heads prova que há cabeças pensantes na geração 77

33. Parallel Lines - Blondie, 1978

O dia em que o punk e a new wave fizeram as pazes com o pop. Som comercial sem abdicar de seus ideais

34. Unknown Pleasures - Joy Division, 1979

Velvet Underground para as novas gerações: sombrio e mórbido, vê um mundo mais sem futuro que o do Sex Pistols

35. The Specials - The Specials, 1979

O punk inglês se mistura ao ska jamaicano, que havia anos habitava os bairros mais pobres da Inglaterra

36. Double Fantasy - John Lennon e Yoko Ono, 1980

Depois de passar anos fazendo discos políticos, Lennon e Yoko assumem a maturidade e gravam pelo simples prazer de criar

37. London Calling - The Clash, 1980

Está tudo aqui: rockabilly, reggae, ska, jazz. O grande disco que define o fim da adolescência no punk

38. Heaven Up Here - Echo and the Bunnymen, 1981

Grandioso demais para se encaixar em algum movimento musical, marca o amadurecimento do pós-punk

Page 68: História do Rock

39. Power, Corruption and Lies - New Order, 1983

O rock abraça a música eletrônica e prova que música “de computador” também pode ter coração

40. The Head on the Door - The Cure, 1985

O Cure embala a morbidez no pop mais acessível e leva a melancolia às massas

41. The Queen is Dead - The Smiths, 1986

O rock esquece os vencedores, celebrando os desajustados, tímidos e fracassados

42. Licensed to Ill - Beastie Boys, 1986

Três espertalhões juntam rap e heavy metal e criam música negra para jovens brancos

43. The Joshua Tree - U2, 1987

O U2 ressuscita o rock político – e os fãs, apolíticos, compram sem perceber a intenção

44. Daydream Nation - Sonic Youth, 1988

Os intelectuais da guitarra fazem uma perfeita radiografia de uma geração sonada pela MTV e pelo rock comercial

45. It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back - Public Enemy, 1988

Um libelo contra a manipulação da mídia, o “embranquecimento” da América de Reagan e o racismo

46. Out of Time - R.E.M., 1991

Rock de gente grande, com ambição e propósito, apesar do lustro pop e do imenso sucesso comercial

47. Metallica - Metallica, 1991

Representou, para a geração MTV, o que Black Sabbath foi para os jovens em 1970: a celebração da negação

48. Nevermind - Nirvana, 1991

O dia em que o punk encontrou a MTV: um disco que destruiu barreiras e que tornou obsoleto todo o rock vagabundo do fim dos anos 80

49. BloodSugarSexMagik - Red Hot Chili Peppers, 1991

Fãs de Korn e Limp Bizkit vão chiar, mas a verdade é que todo o funk metal e o nu metal começaram aqui

50. OK Computer - Radiohead, 1997

Page 69: História do Rock

Um disco gélido, cerebral e triste, sobre a dificuldade de comunicação no fim do século. Paradoxalmente, foi um sucesso

Frases

"Por que jovens gostam de rock? Ora, porque os pais não gostam, é claro!"

Chuck Berry

"Se você se lembra dos anos 60, é porque não estava lá."

Robin Willians

"Eu odeio o Pink Floyd."

Frase escrita na camisa de Johnny Rotten, dos Sex Pistols

"Eu sou uma garota material, vivendo num mundo material."

Madonna

"Meu sonho e viver num mundo onde Lenny Kavitz nõ seja chamado de ·rock·"

Mark Arm, Mudhoney

O berço do rock

O rock’n’roll nasceu da misturade cinco gêneros distintos da música americana. São eles

Northern Band Rock’n’Roll

Espécie de versão com guitarra e baixo do som das big bands de Kansas City. O maior nome do estilo era Bill Halley (Rock Around the Clock)

New Orleans Dance Blues

Gênero em que predominavam baladas, tendo o piano como instrumento principal. Little Richard e Fats Domino se destacavam

Memphis Country Rock

Também chamado de rockabilly, era basicamente música caipira branca, tocada com guitarra elétrica. A gravadora Sun, descobridora de Elvis, era a meca desse ritmo

Chicago Rhythm and Blues

Versão negra do rockabilly, que teve em Chuck Berry e Bo Diddley seus mestres

Grupos Vocais

Page 70: História do Rock

Sem instrumentos, usavam somente o gogó, em arranjos lindos. Frankie Lymon and the Teenagers era o grande sucesso

Fonte: The Sound of the City, de Charlie Gillett (Souvenir Press, EUA, 1971)

Os revolucionários

Dez nomes que mudaram o rock·n·roll

Chuck Berry

O primeiro grande compositor do rock criou riffs copiados até hoje (“Roll Over Beethoven”, “Maybellene”). Compôs rocks, blues e baladas e foi também o primeiro grande “fora-da-lei” do rock’n’roll, tendo sido preso várias vezes quando adolescente (e outras várias vezes depois)

Beatles

Lançaram, entre 1965 e 67, três álbuns – Rubber Soul, Revolver e Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band – que elevaram o rock a um nível artístico nunca visto. Daí experimentaram de tudo: música indiana, fitas rodadas de trás para a frente, sons de pássaros, LSD... E o rock nunca mais foi o mesmo

Bob Dylan

O primeiro grande letrista do rock. Cantor folk, chocou a platéia ao subir no palco com uma banda de rock, em 1965. Muitos previram um fracasso quando lançou Like a Rolling Stone: a música tinha seis minutos de duração, o triplo da média das canções do rádio. Foi seu primeiro grande sucesso

Brian Wilson

Mesmo surdo de um ouvido e abalado para sempre por causa dos socos que levava do pai, o líder dos Beach Boys compôs alguns dos momentos mais sublimes da música pop. Queria superar os Beatles, que considerava os únicos capazes de rivalizar com seu talento

Rolling Stones

Eram o contraponto mal comportado à simpatia dos Beatles. Foram os primeiros a subir no palco com as roupas que usavam no dia-a-dia, sem os “uniformes” usados pelas bandas – um choque na época. Resgataram o blues de Muddy Waters e Willie Dixon e exploraram a psicodelia e a música soul

Phil Spector

O mais influente produtor musical dos EUA nos anos 60. Aos 18 anos já tinha uma música no Top 10. Revolucionou as gravações com sua técnica de gravar vários instrumentos na mesma faixa, para criar uma sonoridade densa e poderosa

Jimi Hendrix

Page 71: História do Rock

Revolucionou a guitarra e tornou-se o músico mais influente e inovador de sua geração. Seu estilo único unia o blues a distorção e microfonia. Quão bom ele era? Eric Clapton responde: “Uma vez, Jimi subiu conosco no palco e tocou Killing Floor, de Howlin’ Wolf, que eu nunca consegui tocar direito. Todo mundo ficou de boca aberta”

David Bowie

O “camaleão” do rock fez de tudo: foi menestrel hippie (anos 60), inventou o glam rock, influenciou o punk e a new wave e embrenhou-se por sons eletrônicos (anos 70). Fez dance music e trilhas para o cinema (80). Sua capacidade de se reinventar não tem paralelo no pop

Sex Pistols

Em 1976, o rock vivia uma fase tediosa, com artistas milionários tocando em estádios. Em oposição a eles, grupos como Sex Pistols, Ramones e The Clash criaram o punk, uma música crua e direta. Estouraram na Inglaterra e provaram que não era preciso ser bonito e comportado para chegar ao topo das paradas

Kurt Cobain

Conseguiu, como ninguém, capturar em música o espírito da geração MTV, marcada pelo tédio e pela paralisia em face do domínio corporativo. O Nirvana foi um caso raro de banda alternativa que fez imenso sucesso comercial e abriu caminho para dezenas de outras

10 grandes momentos do rock

Benjamin Franklin “descobre” a eletricidade (junho de 1752)

O velho Ben soltou uma pipa no meio de uma tempestade e mudou o mundo

Elvis grava um disco para a mãe (4 de janeiro de 1954)

Um caminhoneiro pobre entra nos estúdios da gravadora Sun, em Memphis, e grava um acetato para dar de presente à mãe. Meses depois, quando precisou de um cantor para gravar um compacto, o dono da Sun, Sam Phillips, lembrou-se do rapaz, Elvis. Nascia o rock’n’roll

Morte de Buddy Holly (3 de fevereiro de 1959)

Buddy Holly, Ritchie Valens e Big Bopper morrem num desastre de avião, depois de um show. Foi a primeira grande tragédia do rock, um evento que ficou marcado como “o dia em que a música morreu”

Beatles aparecem no programa de Ed Sullivan (9 de fevereiro de 1964)

Mais de 50 mil fãs brigaram pelos 703 ingressos disponíveis no estúdio da CBS. Os Beatles cantaram cinco músicas e foram vistos por 73 milhões de americanos. Nascia a Beatlemania

Beatles encontram Bob Dylan (28 de agosto de 1964)

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Num hotel de Nova York, o quarteto de Liverpool foi apresentado ao maior bardo do rock e, pela primeira vez, fumaram maconha. O encontro motivou o grupo a abandonar as canções adolescentes. Ali começou a fase psicodélica dos Beatles

Woodstock: lama e paz (15 a 17 de agosto de 1969)

O auge do sonho hippie: meio milhão de pessoas se reuniram para celebrar a paz e o amor, sem policiais ou chuveiros para atrapalhar. Foram três dias de lama, drogas e muito rock’n’roll, ao som de The Who, Jimi Hendrix, Santana, Joe Cocker, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin, Grateful Dead e muitos outros

Altamont: violência e morte (6 de dezembro de 1969)

O fim do sonho hippie: concebido pelos Rolling Stones, o festival de Altamont terminou em tragédia quando uma gangue de motoqueiros da facção Hell’s Angels, contratada para fazer a segurança do evento, matou a pauladas um jovem negro. Outras três pessoas morreram na noite: duas atropeladas enquanto dormiam e uma terceira afogada

Sex Pistols xingam a Rainha DA INGLATERRA (maio de 1977)

Em uma esperta jogada de marketing, os Pistols lançaram o compacto “God Save the Queen” a tempo de esculhambar as comemorações do Jubileu da Rainha. O disco foi banido das rádios do país, mas tornou-se o segundo mais vendido

Estréia da MTV (1 de agosto de 1981)

Antes da MTV, o principal meio de divulgação para artistas era o rádio. Logo as gravadoras perceberam o potencial do novo canal e passaram a investir mais em clipes. A imagem de uma banda passou a ser tão importante quanto sua música. Surge a “geração MTV” com estrelas como Madonna, Duran Duran, Prince e Michael Jackson

Michael Jackson compra o catálogo dos Beatles e Elvis Presley (setembro de 1985)

Hoje, ninguém pode usar uma música dos Beatles ou de Elvis sem pedir licença a um homem que pendura o próprio filho de uma janela e que admite ter feito vodu contra Steven Spielberg

Para saber mais

Na livraria:

The Sound of the City - The Rise of Rock and Roll - Charlie Gillett, Da Capo Press, EUA, 1970

The People’s Music - Ian MacDonald, Pimlico Books, Reino Unido, 2003

Consumo e Música: o rock como fator de influência no comportamento do consumidor.

Page 73: História do Rock

O presente artigo visa mostrar a influência que o estilo musical rock tem sobre o consumo de vários produtos, usando como objeto de estudo uma loja especializada em artigos de rock em Juazeiro do Norte. Analisa-se como esses consumidores seguimentam essa fatia de mercado e sua importância econômica

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Por Noélia Marques

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Introdução

O consumo atinge recordes em todo o mundo, após o advento do capitalismo consumir se tornou a palavra de ordem determinante na sociedade, seja pelo status, pelo poder ou pelo simples desejo de comprar.

Um indivíduo ao comprar, pagar e consumir um produto passa por um processo que envolve várias situações, como influências externas e internas, papéis de compra, necessidades, pois cada indivíduo age diferente do outro e por isso também se tornam consumidores diferentes.

Diversos fatores podem influenciar a compra; como a necessidade, a moda, o capital, e entre tantos fatores aborda-se neste trabalho a influencia que o estilo musical rock tem no consumo de vários produtos de diferentes seguimentos.

A relevância desse tema se dá principalmente pelo grande mercado que esse setor movimenta, tanto em produtos quanto no mercado fonográfico que levanta milhões de reais em festivais com shows de estrelas do rock nacionais e internacionais. Este artigo tem como problemática saber o porquê dos consumidores escolherem produtos relacionados ao rock para consumir.

Page 74: História do Rock

A escolha pelo tema aqui apresentado parte do interesse pelo estilo musical, e pela curiosidade, enquanto pesquisa, de entender o que leva as pessoas que unidas pelo mesmo gosto musical fazem dele muito mais que um simples hobby, mas um estilo de vida que determina suas amizades, os locais a serem freqüentados, os interesses sociais e todo o tipo de consumo como artigos de fonografia, vestuário, calçados e acessórios, maquiagem, skate entre outros.

O objetivo geral abordado é mostrar como o rock influencia o consumo de diversos produtos, e os específicos são analisar como esses consumidores fazem suas escolhas de compra, verificar a razão desta escolha e qual o diferencial nas compras.

2 CONSUMO

Como afirma Nunes (2009, p.1): "O termo consumo designa o ato econômico que permite concretizar a satisfação de determinada necessidade através da utilização de determinado bem."

A aquisição e o uso de determinados bens transcendem a dimensão de um simples ato econômico. Por meio das escolhas que fazemos, o consumo transforma-se em um processo de construção de significados que nos situa social e culturalmente.

A finalidade do consumo é então uma de suas principais distinções. Neste sentindo podemos distinguir o consumo final e intermediário. No consumo final, ou direto, temos as famílias, utilizando bens para satisfazer suas necessidades imediatas. O consumo intermediário é efetuado pelas empresas que necessitam modificar aquele bem para o consumo final. Assim já se faz mais uma distinção, quanto ao ato de consumir: quando é efetuado pelo Estado ou outra instituição pública, diz-se consumo público; no caso de ser efetuado por uma família diz-se consumo privado.

O consumo ainda trás outro tipo de distinção, quanto à natureza das necessidades satisfeitas: se forem necessidades primárias (associadas à própria sobrevivência), designa-se por consumo básico ou essencial; se forem outro tipo de necessidades (geralmente associadas a luxo), designa-se por consumo supérfluo. "O comportamento de consumo pode ser simplificado como o comportamento que os consumidores mostram quando estão procurando, comprando, usando, avaliando e determinando produtos, serviços e idéias". (Vieira, 2002, p.3).

Page 75: História do Rock

Nas últimas décadas, principalmente após a revolução industrial, consumir se tornou a mola propulsora do mundo. Todos os dias milhares e milhares de produtos dos mais variados seguimentos saem das fábricas do mundo inteiro, logo após vão parar nas prateleiras para que as pessoas comprem, formando um circulo vicioso. Assim se mantém o sistema capitalista, através do consumo (e crescente), que não requer muito esforço, pois o consumo parece fazer parte da natureza humana.

Tudo fica ainda mais claro quando se alia a essa tendência a propaganda que parece fazer despertar desejos que algumas pessoas nem sabiam ter, introduzindo no íntimo do ser necessidades, vontades que fazem com que elas trabalhem mais, para ganhar mais dinheiro, para comprar mais coisas, que daqui a alguns meses se tornarão obsoletas por verem mais propagandas de um novo produto que elas ainda não têm. E aí o círculo começa novamente.

2.1 CONSUMISMO E CONSUMERISMO

O consumo faz parte da rotina humana e é necessário para que haja o desenvolvimento econômico. Porém quando esse consumo torna-se irracional, exagerado e impulsivo, perigoso para o consumidor passa a denominar-se consumismo.

Isso ocorre porque o indivíduo passa a não medir as conseqüências de seus atos, como vê-se na crise ambiental em que o homem usufrui dos recursos naturais sem nenhuma contensão, o que causa a crítica a esse sistema e a valorização do consumo sustentável.

Já o consumerismo prega totalmente o oposto do consumismo, um consumo racional, consciente, sem exageros. Nele também se baseia os princípios do consumo sustentável, pela preocupação nas gerações futuras, pelo planeta e sociedade que deixarão para seus filhos e netos.

2.2 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

O estudo do comportamento do consumidor surgiu como campo de estudo na década de 60, mais precisamente em 1968. Sua origem intelectual, contudo, é muito mais antiga. Thorstein Veblen, por exemplo, falou sobre exageros de consumo em 1899. Nos primeiros anos do século XX, os escritores começaram a debater de que maneira os anúncios poderiam utilizar

Page 76: História do Rock

princípios psicológicos. Na década de 50, idéias oriundas da psicologia freudiana foram popularizadas por pesquisadores da motivação e usadas por anunciantes. Entretanto, apenas com o surgimento do conceito de marketing na mesma década, foi reconhecida a necessidade de estudar o comportamento do consumidor. Segundo Las Casas (2010, p.181): "Comportamento do consumidor é uma atividade mental e física exercida pelos consumidores ou por empresas que resultam em decisão e ação para o pagamento, compra e uso de produtos e serviços".

Escritores como Newman, Katona, Ferbera, visavam identificar as variáveis que rodeavam o consumidor, como suas atitudes inconstantes perante diferentes produtos, como eles reagem a persuasão e os estímulos externos do mercado.

Por exemplo, no verão de 1999, a coqueluche entre as mulheres conservadoras da alta sociedade era usar no dedo do pé anéis de ouro, platina ou diamantes, feitos sob encomenda. Um analista descreveu essa febre como a mais nova encarnação do look hippie chic. Mowen (2002. p.3)

Além de investigar compras, o estudo do comportamento do consumidor é essencial para a tomada de decisão gerencial. A cirurgia plástica é uma área comercial, uma indústria. Para obterem sucesso no empreendimento, os médicos devem vender um produto e o marketing vai depender da boa compreensão da vontade do cliente. Compreendendo seus clientes essas clínicas podem desenvolver seu produto, ou seja, alternativas de cirurgia plástica, desde cirurgia facial, lipoaspiração, implante de silicone e etc. Assim essas empresas devem apelar para as necessidades de seus clientes, como numa propaganda para homens, enfatizar a concorrência contra rivais mais jovens e saber também onde localizar seu empreendimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mercado das plásticas é mais bem sucedido no litoral do que no interior.

O comportamento do consumidor pode ser definido como estudo das atitudes de quem compra e do processo de aquisição e troca de bens, serviços e idéias. Vários conceitos podem ser apresentados desta definição. Em um processo de troca, o consumidor está sempre em uma das extremidades do processo, que se dará entre duas partes. Por exemplo, um cantor comercializa seu talento por dinheiro dos fãs, seus consumidores finais. Mas, além disso, os sentimentos de reconhecimento, status e fama também pode ser trocado entre as partes.

Assim, a troca funciona como elemento fundamental no comportamento do consumidor. O processo de troca envolve uma série de fases, começando pela aquisição, passando pelo consumo e finalizando com a disposição do produto ou serviço.

Page 77: História do Rock

Grande parte das pesquisas sobre o comportamento do consumidor se concentra na aquisição. Os pesquisadores analisam o que motiva os consumidores a decidirem pela aquisição de determinado produto ou serviço. Muitas são as influências que afetam um indivíduo, pois todos são motivados por necessidades e desejos. Segundo McCarthy e Perreault (1997. p.114) "Necessidades são as forças básicas que motivam uma pessoa a fazer algo. Desejos são as 'necessidades' aprendidas durante a vida de uma pessoa." Quando a necessidade não é satisfeita ela pode levar a um impulso. Um exemplo é que a necessidade de água pode levar ao impulso da sede, pois o impulso é um estímulo forte que encoraja a ação, para reduzir a necessidade.

Alguns psicólogos argumentam que uma pessoa pode ter várias razões ao mesmo tempo para adquirir um produto ou serviço. McCarthy e Perreault apresentam uma hierarquia similar a das cinco necessidades de Maslow, denominada hierarquia FSSP (necessidades fisiológicas, de segurança, sociais e psicológicas).

A teoria motivacional sugere que as pessoas nunca atingem a satisfação completa. Tão logo as necessidades de nível mais baixo sejam satisfeitas, as de nível mais alto tornam-se assim dominantes. Isso explica porque os esforços do marketing que focam nos consumidores mais ricos, buscam atingir as necessidades de nível mais elevado. Isso, no entanto pode ser uma armadilha para empresas que se situam em partes do mundo em que muitas das necessidades básicas não estejam satisfeitas. De fato, a maioria dos consumidores busca atingir a um conjunto de necessidades, em vez de apenas a uma ou a outra em seqüência.

Certamente, as empresas devem tentar satisfazer as diferentes necessidades, porém descobrir os anseios específicos do consumidor pode exigir cuidadosa análise.

Considera-se por exemplo, o descascador de vegetais mais simples. Os gerentes de marketing da OXO International perceberam que muitas pessoas, principalmente as crianças e os adultos mais velhos, enfrentavam problemas para segurar a manivela do descascador. A OXO providenciou uma manivela maior para atender a essa necessidade. Também revestiu a peça com borracha antiaderente. Ela torna a limpeza mais conveniente e a manivela mais segura quando está molhada. A manivela atraentemente desenhada também torna os consumidores mais satisfeitos na cozinha e causa boa impressão nas visitas. Muito embora a OXO tenha passado a cobrar pelo descascador um preço superior a qualquer outro utensílio da cozinha, o aparelho passou a vender muito bem porque apela para várias necessidades dos consumidores. McCarthy e Perreault (1997.p.118)

Page 78: História do Rock

Neste exemplo, ver-se claramente como o apelo de atender a várias necessidades do consumidor, por mais simples que sejam, pode ter um satisfatório desempenho, mesmo que o valor agregado a determinado produto seja superior o consumidor enxerga mais as vantagens obtidas do que o preço pago por ele.

Saber como os consumidores fazem sua escolha é uma busca constante dos pesquisadores. Nos dias de hoje, os consumidores enfrentam grande variedade de produtos, marcas, preços e fornecedores. Os consumidores estimam qual oferta agregará mais valor, e sua satisfação e probabilidade de recompensa depende dessa expectativa de valor ser ou não ser suprida.

Os consumidores selecionam várias formas de suprir suas necessidades em função das várias formas de percepção - como os clientes coletam e interpretam as informações que lhes cercam, e isso varia de indivíduo para indivíduo. Nem sempre eles percebem os inúmeros anúncios e estímulos ao qual são expostos todos os dias, porque aplicam a eles processos seletivos como o da exposição seletiva - olhos e mentes procuram e percebem apenas as informações que lhes interessam. A percepção seletiva – selecionam ou modificam idéias, mensagens e informações que conflitam com atitudes e crenças previamente aprendidas. Na retenção seletiva – lembram apenas o que desejam lembrar. Esses processos seletivos ajudam a entender o porquê de determinada propaganda não afeta algumas pessoas. Elas simplesmente a ignoram. Por exemplo, os revendedores dos pneus Michelin anunciam nos jornais quase semanalmente. O consumidor não percebe enquanto não precisar de pneus novos (MCCARTHY & PERREAULT, 1997). As necessidades influenciam o que vai lhes afetar.

2.3 CONSUMIDORES E SEU COMPORTAMENTO DE COMPRA

O comportamento de consumo pode ser simplificado como o comportamento que os consumidores mostram quando estão procurando, comprando, usando, avaliando e determinando produtos, serviços e idéias.

Las Casas (2010, p.181) mostra um exemplo que descreve muito bem o comportamento de compra de um indivíduo que deseja adquirir um tênis da Nike. O jovem estava em casa assistindo a um programa de TV, quando recebeu o estímulo do comercial de TV sobre o lançamento de um tênis e lembrou-se da necessidade de adquirir o produto. Perguntou ao pai sobre a possibilidade de comprar o tênis e esse por sua vez pediu a autorização da mãe, que autoriza o pai a dar o dinheiro ao filho para que ele compre o produto. Essa família no momento da compra recebeu a influência de diferentes papéis desempenhados. O comercial foi o iniciador do processo, a mãe a influenciadora e a decisora, o comprador foi o pai e o usuário foi o filho.

Page 79: História do Rock

Assim, como no exemplo acima, os consumidores podem desempenhar vários papéis no ato da compra, como o iniciador – quem dá início ao processo de compra, pode ser uma pessoa ou qualquer estímulo interno e externo que desencadeie a compra. Pode ser também o influenciador – quem influencia a decisão de compra, pode ser qualquer fonte que tenha credibilidade e influência na decisão de compra. Existe também o decisor – é quem realmente tem o poder da decisão de compra, mesmo que não seja ele o comprador. O comprador – aquele que realmente faz a compra do produto, mesmo que não seja o influenciador nem o decisor. E por último existe o usuário – pessoa que irá consumir o produto e que não precisa necessariamente participar de nenhuma etapa anterior.

Da mesma forma que existem papéis na decisão de compra, há também os passos para a tomada dessa decisão, que tem início com a identificação das necessidades. Muitas vezes essa identificação ocorre quando as expectativas do consumidor não são atendidas pelo produto e eles optam por comprar novamente. As características dos clientes também interferem no processo, bem como a motivação para a compra, estímulos provocados pelas variáveis culturais, sociais, econômicas também despertam necessidades.

Logo após a identificação das necessidades ocorre a busca de informações que tem como principal fonte a propaganda. Os comerciais têm um papel muito importante para os consumidores, fator este que tem determinado o grande crescimento da publicidade no Brasil e no mundo. Mas além da propaganda, os consumidores buscam essas informações internamente também, em memórias e experiências passadas com a aquisição de certos produtos, se este o satisfez anteriormente, ele não precisará recorrer as informações externas para decidir, como a propaganda, vendedores, amigos e etc.

O próximo passo é a avaliação das alternativas, quando o consumidor passa a comparar as opções para saber qual o melhor negócio na hora da compra. Além das características do produto outros fatores ganham relevância na decisão, como o preço, as formas de pagamento, a marca do produto, a experiência já obtida em compras anteriores, a origem do produto, todos são critérios diferentes que podem determinar a compra de acordo com a situação.

A decisão de compra é o próximo passo, mas ainda não garante a efetivação da compra, pois ainda pode ocorrer o adiamento ou demora no fechamento do pedido. Os clientes podem adiar a compra por possibilidade de perder o emprego, de comprar de um amigo a preço mais barato, esperar uma promoção entre outros.

Page 80: História do Rock

O pós-compra, os clientes tendem a entrar num estágio de ansiedade por não terem certeza se fizeram a escolha certa, esse comportamento é chamado de dissonância cognitiva. Assim, quando os consumidores passam por esse estágio, procuram avaliar os benefícios que tiveram na compra, analisando fatores que reforcem sua decisão e evitem comentários negativos.

Outros fatores também devem ser considerados como influenciadores da compra como as influências externas que envolvem variáveis ambientais, culturais, sociais, familiares e de classe sociais. As influencias internas na escolha são a personalidade, motivação, percepção, atitudes e aprendizagem.

3 A HISTÓRIA DO ROCK

Para descrever a história do rock, deve-se falar dos primórdios da sociedade norte-americana, cheia de jovens insatisfeitos com as disputas entre comunistas e capitalistas, guerra, valorização do consumismo e ascensão da globalização. Assim nasceu o rock, uma mistura de blues e jazz com country dos Estados Unidos, que logo caiu nas graças dos jovens do mundo inteiro que contestavam o cenário cultural, político e educacional.

...a vibração negra, sua voz grave e rouca, sua sexualidade transparente e seu som pesado agora alimentado pela guitarra elétrica, tudo isso parecia bem mais atrativo a milhões de jovens, inicialmente americanos mas logo por todo o mundo, que pareciam procurar seu próprio estilo de vida. (TINTIN apud CHACON, 1985. p. 25)

Nesse cenário pós-guerra e de revolução em que os jovens ansiavam por liberdade, o rock surge como uma alternativa, um grito de alerta na sociedade, mostrando-a que a juventude estava ali ansiando por mudanças, cansada de rótulos e fórmulas prontas e sedentas pelo novo. Nos anos 50 o rock and roll veio como uma batida diferente, ousada e pegajosa, repassada através da música feita por Elvis Presley considerado pai do rock, precursor do estilo. Logo após vieram bandas e artistas como Jimi Hendrix, Kiss, Rolling Stones, Ramones, Beatles, Nirvana, Gun's Roses, entre outros que expandiram o rock pelo mundo todo se tornando lendas para os amantes desse ritmo.

Assim além da música o rock passou a ditar mudanças no comportamento de jovens da época, roupas de couro, gel nos cabelos, botas e um ar de rebeldia acentuavam a idéia de nova geração e mudava totalmente os rumos de um mercado consumidor tão tradicional, que apenas derivava produtos da época anterior, o repúdio ao consumismo e a cultura tradicional criou um novo mercado onde a moda era não seguir a moda e fazer seu próprio estilo.

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3.1 AS DIVISÕES DE ESTILOS

Surgindo nesse clima de ideologias, protesto e ânsia pela liberdade, o rock criou suas próprias divisões dentro do gênero, cada uma com suas particularidades e características diferentes, marcadas pelo momento histórico, personalidade e comportamento de seus seguidores.

Logo após a explosão Presley, grupos como The Beatles e Rolling Stones ditaram o rock da época. As pessoas começaram a direcionar seu estilo a roupas de couro, botas, um estilo descolado e bastante ousado pra época. Aí já se via que o rock era bem mais que um simples som, ele ditava o comportamento de toda uma geração.

Na década de 60 o mundo viu surgir os hippies, que pregavam a paz, o amor e o livre uso das drogas. Com eles surgiu também um novo estilo para se vestir e se comportar, os jovens usavam roupas coloridas e se interessavam pela filosofia indiana, a moda mudou bastante e os produtos consumidos já não eram os mesmos. Foi nessa década também que surgiram o rock progressivo com os marcantes festivais de música, tendo como principal o Woodstock.

No final dos anos 60 e início dos anos 70 o rock primitivo retornou em resposta aqueles que não gostavam do psicodelismo, dando passagem para o hardrock que se definia perfeitamente com a modernidade alavancada pelo rock clássico. Desse estilo surgiram verdadeiras lendas como Led Zeppelin, Van Halen e Guns'n'Roses.

Mais adiante surgiu o Heavy Metal juntamente com Kiss, Queem, AC/DC, Iron Maiden entre outros. Essas bandas fizeram surgir um estilo bastante marcante, talvez um dos mais característicos do rock, jaquetas, calças de couro apertadas com a predominância da cor preta, botas de salto, munhequeiras, cabelos longos e esvoaçantes fizeram com que os metaleiros fossem reconhecidos onde andassem e fazendo com que se formasse um grupo de consumidores específico, logo só compraria jaquetas e calças de couro, botas e munhequeiras aqueles adeptos ao estilo e que em busca de se diferenciar da sociedade, de aparecer e se destacar dentro dela bem como encontrar uma nova forma de identidade ao se inserir em uma "tribo", mudaria sua forma de consumo usando o rock como referência.

Eis que aparece o Punk Rock, segundo Grande, 2006 p.132: "Representando essencialmente o protesto, o punk rock caracteriza-se por estabelecer letras, som, comportamento e ideologia bastante contestadores." Bandas como Ramones, Sex Pistols e The Clash extravasaram as vertentes do punk pelo mundo em músicas de aproximadamente 3 minutos com ataques à

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tradição a à autoridade, comuns na estética punk. Na década de 1970 os punks passam a usar tecidos puídos, rasgados e a subverter o uso de materiais considerados nobres, como os xadrezes que identificavam clãs familiares desde o século III. Entram em cena os jeans rasgados, as camisetas e a estampa xadrez. A mistura do metal com o punk deu origem a inúmeros herdeiros desses clãs musicais.

Esses são apenas alguns dos principais estilos que subdividem o rock, mas vale à pena mencionar ainda o grunge, funk rock, pop rock e outras demais adaptações que acompanham o metal.

3.2 O CONSUMO DO ROCK

O comércio envolvendo música vem ganhando evidência nos últimos anos seja na compra de instrumentos musicais, ou em produtos relacionados às bandas como: cd´s, dvd´s, camisetas, casacos e acessórios.

Visando atingir os objetivos propostos, vai-se abordar agora a forma de influência do estilo rock na vida e no comportamento das pessoas, características que atingem diretamente a forma de consumo desse determinado grupo.

Desde o início dos anos 50, nos primórdios de seu surgimento, o rock se mostrou como uma válvula de escape da sociedade para aqueles que estavam à procura da batida perfeita, algo novo, capaz de transformar culturas estabelecidas, modificar todos os conceitos, inventando um novo geito de fazer e ouvir música, se vestir, se comportar. E assim foi.

Surgia então uma verdadeira revolução social, jovens com gel no cabelo, jaquetas de couro, estilo rebelde começavam a pensar e a agir diferente, inspirados em seus ídolos recém lançados, fato este que apenas foi se modificando com o tempo, com novos ídolos, novos estilos de rock, pensamentos e momentos históricos. Percebe-se aí a influência que o rock tem sobre seus adeptos, pois tira o indivíduo da grande massa e o insere em um seleto e determinado grupo, com características próprias, desejos e postura social diferentes de todo o restante da sociedade, e finalmente os torna consumidores diferentes.

Diferentes porque o mercado do rock, roupas e acessórios tem seu público alvo bem definido, pois em sua grande maioria, só compra artigos de rock quem é adepto ao estilo pois não basta apenas gostar de uma ou outra banda, isso não causa tanta influência. Para se tornar um

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consumidor desse mercado é preciso aderir, incorporar, tornar a música bem mais que um gosto, mas um estilo de vida.

Rock é muito mais do que um tipo de música: ele se tornou uma maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de comportamento. O rock ´é´ e ´se define´ pelo seu público. Que, por não ser uniforme, por variar individual e coletivamente, exige do rock a mesma polimorfia (...)Mais polimorfo ainda porque seu mercado básico, o jovem, é dominado pelo sentimento da busca que dificulta o alcance ao porto da definição ( e da estagnação...) (TINTI apud CHACON, 1985, p. 18-19)

De acordo com a pirâmide das necessidades de Maslow, este tipo de consumo está relacionado às necessidades sociais, satisfação pessoal, status e aceitação, pois envolve mais do que simplesmente possuir determinado produto, mas o que vem junto com ele como a inclusão na "tribo", reconhecimento da sociedade como um rockeiro, diferenciação dos demais.

Para decidir no processo de compra, esses indivíduos sofrem diversas influências externas como o ambiente, as oscilações econômicas que afetam esta como qualquer outra classe de consumidores; a cultura que determina o comportamento de determinado seguimento, como o rock, e assim desenvolver produtos para esse público alvo; influências sociais, como pertencer a um determinado grupo, pois as pessoas têm tendência a comprar produtos semelhantes aos outros do grupo a que participam, entre outros.

As influencias internas desses consumidores partem da sua personalidade, que tendem a comprar produtos que enfatizem essa personalidade forte, desafiadora, extravagante; assim como a motivação da compra, desenvolvida pela necessidade de status no grupo, aceitação.

4 METODOLOGIA

Saber como os consumidores fazem sua escolha é uma busca constante dos pesquisadores. Nos dias de hoje, os consumidores enfrentam grande variedade de produtos, marcas, preços e fornecedores.

Para entender melhor como acontece esse processo, o presente artigo tem como base uma pesquisa bibliográfica utilizando-se do método dedutivo, uma vez que parte-se inicialmente de teorias para que se chegue a conclusões particulares. Como afirma Andrade (2006 pág.121) "A

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dedução é o caminho das consequências, pois uma cadeia de raciocínio em conexão descendente, isto é, do geral para o particular, leva à conclusão".

Através da pesquisa bibliográfica analisou-se inicialmente a teoria do consumo, passando pelo comportamento do consumidor e suas motivações de compra. Em seguida fez-se um estudo sobre a história do rock, seus momentos e características, para que então se compreenda melhor os consumidores desse estilo, que tem características tão singulares.

A pesquisa tem cunho descritivo-exploratório, pois visa o melhor conhecimento acerca do tema, para que se abram novas possibilidades de estudo, e utiliza-se de um estudo de caso, através de um questionário quanti-qualitativo aplicado a uma loja de artigos de rock em Juazeiro do Norte.

O questionário foi aplicado ao proprietário da loja, que detém o conhecimento necessário para melhor compreensão do tema proposto, com dados importantes para que se possa entender o perfil dos consumidores do rock, complementando assim todo o referencial teórico aqui descrito com a análise de tais dados. Foi aplicado um questionário com os consumidores da loja para uma melhor percepção do tema proposto.

A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a março do ano de 2011, na cidade de Juazeiro do Norte, foi entrevistado o proprietário da loja de produtos de rock e 20 clientes da referida loja.

5 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

A seguinte pesquisa foi realizada em uma loja de artigos de rock na cidade de Juazeiro do Norte. De cunho exploratório, o estudo de caso foi aplicado através de um questionário com o proprietário da loja e com os clientes, traçando assim um perfil da organização e do mercado da região.

5.1 QUESTIONÁRIO NÃO ESTRUTURADO APLICADO A EMPRESA

Para melhor compreensão do tema aqui proposto, optou-se também pela aplicação de um questionário não estruturado com o proprietário da empresa.

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Perguntado sobre quanto tempo atua no mercado, respondeu que a loja possui cerca de 18 anos de existência e que vem se firmando mais a cada dia no mercado. Segundo ele, a razão de ter optado por um negócio nesse ramo foi unir o gosto pelo estilo musical com o trabalho, profissão.

O tipo de produto mais procurado pelos clientes em sua loja são as roupas, tendo como maioria as camisas de bandas e personagens afins. Foi perguntado também sobre o que mais influencia o cliente no momento da decisão de compra, tendo como resposta o atendimento, ele acredita que se o seu cliente sai satisfeito com o tratamento que recebe em sua loja certamente irá voltar posteriormente.

Sobre o que leva seus clientes a escolherem produtos de rock, ele respondeu que é o fato de querer reforçar sua identidade, mostrar sua personalidade, o estilo a que aderiu. Segundo proprietário da loja o estilo que tem maior predominância entre seus clientes é o Heavy Metal.

Perguntado sobre a avaliação que ele faz sobre o cenário do rock, o mercado na região em que ele atua, foi considerado muito difundido pois apesar de não ser um estilo que domina a grande massa, sua evolução através dos anos é bastante nítida e hoje consolida-se pela quantidade de adeptos da região.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo, ao longo de seu desenvolvimento, tornou-se bem mais que um trabalho, mas um desafio, pela complexidade do tema e pelas poucas referências encontradas já que é um assunto pouco abordado em trabalhos acadêmicos, daí a boa oportunidade de trazer um assunto diferente, inovador e que sirva de base para outras pesquisas não só tendo o consumo do rock como tema, mas abordando outros assuntos de mesmo cunho desafiador.

Assim, foi traçado o perfil dos consumidores que estão na faixa etária de 19 a 26 anos, moram na cidade de Juazeiro do Norte, são em maioria do sexo masculino, e tem como grau de instrução o ensino médio. A problemática do artigo foi solucionada, o motivo dos consumidores escolherem produtos de rock para consumir está relacionado à satisfação pessoal, necessidade de auto-afirmação de personalidade, busca por uma identidade própria, pois os consumidores de forma geral compram bem mais que produtos, compram satisfação, buscam sentir-se únicos, especiais ao adquirirem determinado produto, e o rock traz isso de

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uma forma muito mais forte, já que lida com um mercado consumidor bem mais seletivo, bem mais restrito.

Os objetivos foram alcançados, pois o rock influencia muito o consumo, uma vez que existe um seguimento de mercado inteiro dedicado apenas a esses consumidores, assim só compra determinados artigos aqueles adeptos ao estilo, como CDs, camisas de bandas, roupas características, sapatos e etc.

Os consumidores fazem suas escolhas de compra através da seleção de preferências e da identificação de referências artísticas como bandas, por exemplo, isso porque necessitam de aceitação do grupo ao qual desejam participar, então se espelham nos demais, aprendem a cultura do grupo e passam assim a pertencer à mesma classe consumidora, como, aliás, acontece em qualquer outro grupo social.

O principal diferencial encontrado para as compras desses consumidores está no preço, uma vez que se aplica a lei da demanda e oferta, como os seus produtos fazem parte de um mercado mais restrito, não são consumidos pela grande massa, adquirem um custo maior que é repassado ao consumidor final, assim a busca por produtos de qualidade que tenham um preço mais acessível está no topo como diferencial na hora da compra, cabe então as empresas o desafio de baixar os custos de seus produtos, mantendo a qualidade, para obter esse diferencial competitivo.

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